PROGRAMA PROJOVEM CAMPO – SABERES DA TERRA: AÇÕES
DE EDUCAÇÃO DO CAMPO NOS MUNICÍPIOS PARAENSES.
Autores: Maria Celeste Gomes de Farias. Mestre em Educação SEDUC/CECAF – celechar@hotmail.com Hellen do Socorro de Araújo Silva. Mestre em Educação SEDUC/CECAF haraujosilva@hotmail.com.br Lucélia Leite Ferreira. Mestranda em Agricultura Familiar SEDUC/CECAF –lucelia.leite@hotmail.com Darinêz da Conceição. Doutoranda em Educação UFPA darynez@yahoo.com.br Mayra da Silva Corrêa. Mestranda em Educação SEDUC/CECAF maysilcor@yahoo.com.br Selma Pena. Doutora UFPA/ICED selmacpena@gmail.com O presente relato visa fazer uma exposição das ações desenvolvidas pelo Programa Projovem Campo – Saberes da Terra nos municípios de Breves e São Sebastião da Boa Vista na Região do Marajó e Augusto Correa no Nordeste Paraense. Ministério da Educação por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) que integra a Coordenação Nacional de Educação do Campo criou a Primeira versão do Programa[1] Saberes da Terra que foi implementada em vários Estados do Brasil. Destinado a fazer formação em nível de Ensino Fundamental integrada com Qualificação Social e Profissional de jovens agricultores na faixa etária de 15 a 29 anos que vivem e trabalham no campo. Atualmente o Programa encontrase na sua segunda versão (2008 – 2010) e denominase Projovem Campo Saberes da Terra e atende jovens de 18 a 29 anos que não concluíram o ensino fundamental. O Programa visa ampliar o acesso da educação a essa parcela da população historicamente excluída do processo educacional, respeitando as características, necessidades e pluralidade de gênero, étnicoracial, cultural, geracional, política, econômica, territorial e produtiva dos povos do campo[2] (MEC, 2009). O Programa atende prioritariamente jovens trabalhadores agricultores nos municípios que fazem parte do Programa Territórios[3] da Cidadania.
No Estado do Pará a Edição 2008 do Projovem Campo Saberes da Terra vem sendo coordenado pela Secretaria de Estado de Educação/SEDUC por meio da Coordenação de Educação do Campo, das Águas e das Florestas/CECAF responsável pela gestão administrativa e pedagógica e pelo Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA que é a Instituição de Ensino Superior responsável em promover a formação continuada em nível de especialização (para os que já possuem a graduação) e aperfeiçoamento (para os que possuem ensino médio) aos educadores que atuam diretamente com os alunos em sala de aula. O Programa conta também com a parceria de diversas instituições que fazem parte do Fórum Paraense de Educação do Campo.
O PROGRAMA TEM COMO OBJETIVOS
1. Formar Jovens Agricultores/as, na faixa etária de 18 a 29 anos, em nível de ensino fundamental e qualificação social e profissional inicial para atuar junto às suas comunidades, no que se refere à diversificação das atividades da agricultura familiar;
2. Qualificar jovens agricultores/as social e ambientalmente, a fim de valorizar e fortalecer o modo de organização social do campo e buscar a melhoria da qualidade de vida das famílias camponesas, potencializando assim a pluralidade e diversidade de seus saberes e dos conhecimentos técnicos e científicos;
3. Priorizar, no processo de formação dos educandos/as do campo um currículo integrado baseado nos princípios da sustentabilidade, do trabalho e suas formas de organização e gestão como eixo estruturante dos itinerários formativos;
4. Fortalecer o desenvolvimento de propostas pedagógicas e metodologias de estudo/trabalho adequadas à educação de jovens e adultos no campo, instigando educadores a participarem ativamente do processo de ensino/aprendizagem;
5. Viabilizar itinerários formativos que articulem teoria e prática como componentes indissociáveis; 6. Fomentar por meio do processo de ensino aprendizagem o desenvolvimento de práticas que potencialize a agricultura familiar dos sujeitos do campo. Fortalecendo a diversidade de suas identidades, culturas, etnias e gênero; 7. Oportunizar formação continuada a educadores/as do campo em metodologias e princípios políticos pedagógicos voltados às especificidades locais e regionais. PRINCÍPIOS CURRICULARES E METODOLÓGICOS Dentre os vários pressupostos políticos pedagógicos do Programa Saberes da Terra a educação dos jovens do campo como direito, o reconhecimento, a valorização e legitimação das diferenças culturais e étnicoraciais. Além da educação como estratégias de fortalecimento e desenvolvimento sustentável.
Os princípios curriculares que ancoram o Programa Projovem Campo – Saberes da Terra prima pela Flexibilidade no que diz respeito a produção do conhecimento; interdisciplinaridade a favor de conhecimentos integrados; pluralidade de Saberes e Linguagens que incorporam os modos e elementos econômicos, sociais, culturais, ambientais, as lutas e memória coletiva dos povos do campo; o Trabalho Como Principio Educativo entendido por natureza a atividade constitutiva do processo de humanização de homens e mulheres; Pesquisa como princípio educativo em que a indagação, inquirição, a busca de informação, que instiga os sujeitos a problematizarem a realidade e investigarem é condição imperiosa em formação de base interdisciplinar; Práxis onde a indissociabilidade teoria e prática como eixo articulador do currículo é indispensável na perspectiva de formação de educandos/as comprometidos com as lutas do seu tempo ( BELÉM, 2009).
A metodologia do Programa Projovem Campo Saberes da Terra é no modelo de alternância que consiste em processo educativo no qual o aluno alterna períodos de aprendizagem na família com períodos na escola. Nessa sistemática o tempo escolar e o tempo comunidade são interligados por
meio de instrumentos pedagógicos específicos capazes de construir uma harmonia entre as comunidades e a ação pedagógica. No tempo escola o aluno estuda em tempo integral e geralmente fica em regime de internato. Já o tempo comunidade é destinado a estudos e pesquisas da realidade local que devem servir como base para o processo pedagógico no período de tempo escola. A educação por alternância está amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/96 que versa no art.23 as diferentes formas de organização da Educação Básica.
A educação básica poderá organizarse em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos nãoseriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar § 2º. O calendário escolar deverá adequarse às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei. (Art. 23º). Reconhecendo as especificidades da Educação do Campo a LDB estabelece no seu Art. 28º que:
Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias a sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II organização escolar própria incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III adequação ao trabalho na zona rural.
A simultaneidade entre trabalho e escolarização possibilita a permanência dos estudantes na escola o que torna a adequação do calendário escolar um fator determinante para o acesso e progressão dos estudantes no sistema educacional. Dessa forma o art. 39 expõe que a educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional. Ainda art. 40 a LDB expõe que a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
A Resolução 01/2002 do CNE/CEB que instituiu as Diretrizes Operacionais para as Escolas de Educação Básica do Campo no artigo 2° expõe um conjunto de princípios e de procedimentos que visam a adequar o projeto institucional das escolas do campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Ensino Médio, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, a educação Indígena, a Educação Profissional de Nível Técnico e a formação de professores em Nível Médio na modalidade normal.
A referida Resolução no artigo 3º expõe que o poder público, considerando a magnitude da importância da educação escolar para o exercício da cidadania plena e para o desenvolvimento de um país, cujo paradigma tenha como referências: a justiça social, a solidariedade e o diálogo entre todos, independentemente de sua inserção em áreas urbanas ou rurais, deverão garantir a universalização do acesso da população do campo à Educação Básica e à Educação Profissional de Nível Técnico.
o objetivo de construir políticas públicas que garantam o direito de trabalhar e estudar no campo satisfatoriamente, o que significa construir um paradigma solidário e sustentável nas relações entre a educação e os demais aspectos culturais e produtivos dos povos do campo. Como fica evidente no Art. 2º, § Único ao apresentar uma compreensão da Educação do Campo que vincula a identidade da escola à valorização da vida camponesa:
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua realidade, ancorandose na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país.
O Artigo 7 da Resolução CNE/CEB nº 1 de 03/04/2002 responsabiliza os respectivos sistemas de ensino, por meio de seus órgãos normativos, regulamentares as estratégias específicas de atendimento escolar do campo e a flexibilização da organização do calendário escolar, salvaguardando, nos diversos espaços pedagógicos e tempos de aprendizagem, os princípios da política da igualdade.
No caso especifico do Estado do Pará temos o Reconhecimento da Pedagogia da Alternância no Estado do Pará por meio do PARECER: Nº 605/2008CEE/PA em 01/01/2009 que apresenta um diagnóstico da implantação da educação por alternância em escolas da educação básica em diversos municípios paraense como o atendimento nos Centros Familiares de Formação por Alternância CEFFAS.
Ainda no contexto do Estado do Pará a Resolução de n° 01 de 2010 do Conselho Estadual de Educação – CEE que regulamenta a Educação Básica expõe no Capítulo IX as normas para a Educação do Campo nas escolas estaduais e garanti a organização pelo modelo de alternância ao expor:
Art. 96. A oferta de Educação Básica para a população rural, em suas variadas formas de produção da vida – agricultores familiares, extrativistas, pescadores Artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas e outros – no Sistema Estadual de Ensino do Pará deverá ser promovida mediante à implementação das adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região do Estado, especialmente:
I. conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos no meio rural; II. organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III. adequação à natureza do trabalho no meio rural. § 1º Será permitida a organização de experiências pedagógicas, admitindose, para a Educação do Campo, a utilização de metodologias e duração diferenciadas, desde que aprovadas pelo Conselho Estadual de Educação.
§ 2º Fica assegurada, no Sistema Estadual de Ensino do Pará, a possibilidade de implementação de propostas pedagógicas fundamentadas na metodologia da Pedagogia da Alternância, nos termos da regulamentação expedida pelo Conselho Estadual de Educação, bem como das normas nacionais em vigor. Pela referida Resolução a identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorandose na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. Dessa forma, a concepção metodológica do Programa
Saberes da Terra procura atender os princípios e as especificidades dos saberes dos povos do campo. Baseado na flexibilidade de organização dos tempos e espaços de aprendizagem que a legislação educacional possibilita o Programa Projovem Campo/ Saberes da Terra é composto por um total de 2.400 horas, das quais 1.800 são destinadas ao Tempo Escola – TE e 600 ao Tempo Comunidade TC. A carga horária é distribuída pelos 5 Eixos Temáticos (Agricultura familiar: identidade, cultura, gênero e etnia; Sistema de Produção e Processo de Trabalho no Campo; Cidadania, organização social e Políticas Públicas, Econômica Solidária e Desenvolvimento sustentável e solidário com Enfoque territorial) todos permeados pelo Eixo Articulador Agricultura Familiar e Sustentabilidade na Amazônia. É importante destacar que todos os Eixos Temáticos são perpassados pelas Áreas de Conhecimentos como fica evidente no Quadro 01 abaixo: Quadro 01 – Desenho Curricular e Organização do Tempo Eixo Articulador Eixos Temáticos Áreas do Conhecimento Tempo Escola (TE) Tempo Comuni dade (TC) CH Total AGRICULTURA FAMILIAR E SUSTENTABILIDADE NA AMAZONIA Agricultura familiar: identidade, cultura, gênero e etnia Linguagem, Códigos e suas tecnologias, ciências humanas, Ciências da Natureza e Matemáticas, Ciências Agrárias 400h 100h 500h Sistema de Produção e Processo de Trabalho no Campo 500h 250h 750h Cidadania, organização social e Políticas Públicas 400h 100h 500h Economica Solidária 200h 50h 250h Desenvolvimento sustentável e solidário com Enfoque territorial 300h 100h 400h Carga Horária Total 1.800h 600h 2.400h Fonte: Projeto ProJovem Campo –Saberes da Terra Belém/Pará/2009. Referendado no modelo da pedagogia da alternância o Programa possui o Caderno de Percurso Formativo (ME, 2008) que apresenta os elementos metodológicos de organização dos espaços formativos (Tempo Escola e Tempo Comunidade) que consiste em três passos básicos:
a) o Plano de Pesquisa que deve ser construído no tempo escola e consiste em um roteiro com questões de pesquisa relacionadas aos conhecimentos da realidade e saberes locais e envolve a organização da pesquisa e por a aplicação da pesquisa no período de tempo comunidade
Escola e contempla diversos processos pedagógicos referenciados na pesquisa como princípio educativo. Destacamse a sistematização da pesquisa, realização das Jornadas Pedagógicas e a produção de sínteses.
c) Partilha de Saberes consiste no diálogo dos educandos e educadores com as famílias e com a comunidade, na perspectiva de compartilhar os saberes científicos adquiridos e potencializar a melhoria da qualidade das relações sociais e produtivas no campo. A Estrutura do Percurso Formativo do Programa Saberes da Terra encontrase sistematizado abaixo no Quadro nº 02. Quadro nº 02: Síntese do Percurso Formativo do Programa do Projovem Campo Saberes da Terra. Componentes Formativos Atividades Tempo Formativo Plano de Pesquisa Definição das questões de Pesquisa Tempo Escola Organização da Pesquisa Tempo Escola Realização da Pesquisa Tempo Comunidade Círculo de Diálogos Sistematização da Pesquisa Tempo Escola Realização das Jornadas Pedagógicas Tempo Escola Produção de Sínteses Tempo Escola Partilha de Saberes Comunicação dos resultados da pesquisa por meio de atividades variadas Tempo Comunidade Fonte: Cadernos Pedagógicos do Projovem Campo – Saberes da Terra (Percurso Formativo).
Público Envolvido:
O Programa encontrase na fase de conclusão da segunda versão (Edição 2008) e atende jovens de 18 a 29 anos que não concluíram o ensino fundamental. Tal Programa visa ampliar o acesso da educação a essa parcela da população do campo historicamente excluída do processo educacional, respeitando as características, necessidades e pluralidade de gênero, étnico racial, cultural, política, econômica, territorial e produtiva dos povos do campo (MEC, 2009). Atende, prioritariamente, jovens trabalhadores agricultores dos municípios que fazem parte do Programa Territórios[4] da Cidadania. Os educadores que atuam em sala de aula participam de formação continuada – Especialização em Educação com as Instituições Formadoras – Universidade Federal do Pará/ Instituto de Ciência da Educação e Instituto Federal de Ciência e Tecnologia – IFPA. Como mostra o quadro abaixo:No que se refere à segunda versão do Programa, são atendidos cerca de 36 municípios paraenses nas diversas Regiões de Integração. Atendendo um total de 2.100 alunos e aproximadamente de 300 educadores.como fica evidente no Quadro 03 abaixo:
Quadro 03: Municípios Atendidos pelo Programa Projovem Campo Saberes da Terra REGIÃO DE INTEGRAÇÃO MUNICÍPIOS Baixo Amazonas Juruti e Santarém Xingu ( Altamira) Altamira, Medicilândia e Porto de Móz Lago do Tucuruí Itupiranga Marajó Breves, Chaves,Ponta de Pedras, Portel,São Sebastião da Boa Vista Rio Caeté Bragança, Augusto Correa , Salinópolis, Primavera, Santa Luzia do Pará, Viseu Carajás Eldorado dos Carajás, Marabá e São Domingos do Araguaia Rio Guamá Igarapé Açu, Inhangapi, Magalhães Barata, Marapanim, Santa Izabel do Pará e Vigia Tocantins Cametá, Igarapé Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju e Tailândia Rio Capim Concórdia do Pará, Mãe do Rio, Tomé Açu e Ipixuna do Pará Fonte: SEDUC/CECAF
Desenvolvimento:
No acompanhamento pedagógico realizado pela equipe de Técnicos da Secretaria de Estado de Educação por meio da Coordenação de Educação do Campo, das Águas e das Florestas – SEDUC/CECAF podemos perceber avanços e experiências inovadoras do Programa nos Municípios de Breves, São Sebastião e Augusto Correa, que evidenciam como os elementos e princípios políticos, pedagógicos curriculares e metodológicos do Programa vem sendo construídos através da prática de alunos e educadores.O Programa Projovem Campo Saberes da Terra em Breves:
Na apropriação da metodologia tivemos a oportunidade de refletir sobre a concepção metodológica que embasa o Programa a partir do diálogo juntos aos educadores e alunos, acreditamos que através de suas falas os educadores demonstram domínio e competência nas ações que desenvolvem. Os mesmos pontuam que os Eixos Temáticos do Programa são trabalhados juntos aos alunos, possibilitam momentos diferenciados de troca de experiências, saberes e produção de conhecimentos necessários as atividades diárias em que os jovens estão inseridos.
Outro elemento que os educadores destacam são os conhecimentos articulados na perspectiva do “currículo integrado”, pois acreditam que, quando o trabalho da escola se articula com a história de vida dos sujeitos, este gera uma aprendizagem potencializadora de transformação da sociedade.
Ainda durante a conversa, uma professora destaca a seguinte situação:
[...] quando eu trabalhada minha disciplina de forma isolada nem eu mesma compreendia o que eu lecionava e dizia aos meus alunos e quando passei a trabalhar os assuntos junto com os outros conhecimentos das outras disciplinas, ficou mais claro para mim entender os assuntos que trabalhava.
( Professora A)
Fonte: Pesquisa de campo – SEDUC/CECAF – 2011Sala de Aula na Comunidade Jupatituba – Breves
A fala dos jovens com relação ao Programa é unanime no direcionamento de oportunidades e aprendizagens comprometidas com a transformação da realidade que estão inseridos. Diante disso destacamse alguns depoimentos [...] foi com a metodologia dos saberes da terra que hoje posso
trabalhar na minha terra de forma correta e sem prejudicar o meio ambiente. (jovem agricultora 1).
Fonte: Pesquisa de campo – SEDUC/CECAF – 2011. Sala de aula na Comunidade Jupatituba – Breves
Os alunos ressaltam também os benefícios do Programa no que diz respeito aos conhecimentos construídos para a forma correta de plantar e criar para a sua subsistência como fica evidente [...]
antes, quando eu não sabia plantar e nem fazer criação, sempre faltava alimentos para meus filhos e hoje não falta”.(jovem agricultora 2). Fonte: SEDUC/CECAF – 2011. Alunos de Breves mostrando os conhecimentos produzidos Os alunos relatam as inúmeras dificuldades encontradas, como a falta de material para desenvolver a parte da formação social profissional na agricultura familiar. Como evidencia o relato [...] agente
aprende muita coisa boa para aplicar na nossa comunidade, mas às vezes agente deixa de aprender porque não tem material para a aula. (jovem agricultor 3).
Fonte: SEDUC/CECAF – 2011. Ações de agricultura familiar e Alunos no momento de troca de saberes – Breves
Percebemos nas falas a possibilidade de real mudança a partir da metodologia do Programa que se direciona ao contexto de vida dos jovens agricultores. A coordenadora avalia o Programa como uma metodologia que atende as necessidades dos jovens, proporciona aos professores um trabalho coletivo. Segue falando que apesar dos elementos significativos, não se pode deixar de mencionar que as dificuldades são presentes a todo instante: falta de materiais agrícolas (botas, enxada, luvas), insuficiência de recurso para pagar os barqueiros e falta de estrutura adequada para os professores que para ministrar as aulas precisam se deslocar da cidade para as comunidades. Ações do Programa Projovem Campo – Saberes da Terra em Augusto Correa: No Município de Augusto Correa o Programa atende 4 turmas com aproximadamente 120 alunos e todos os educadores que atuam no Programa diretamente em sala de aula passaram pela formação junto a instituição formadora.
Por ocasião do Monitoramento Pedagógico realizado pela Equipe de Técnicos da SEDUC/CECAF podemos evidenciar várias situações que expressam o desafio de alunos e educadores na construção da educação do campo. A foto abaixo retrata atividades do Tempo Comunidade no processo de plantação e colheita de pepino pela aluna do Programa no Município de Augusto Correa.
Fonte: SEDUC/CECAF – 2011. Projovem Campo Saberes da Terra Augusto Correa
A respeito desta atividade os educandos expressam que [...] eu não sabia muito bem o que plantar, mas o professor ensinou pra gente que cada lugar dá pra uma coisa diferente, e hoje os meus vizinhos já estão com inveja das plantas aqui de casa, das colheitas que faço (Jovem
Agricultor 1).
O programa trabalha dentro da proposta da Pedagogia da Alternância, intercalando tempos e espaços de estudos e práticas entre o espaço da escola (Tempo Escola TE) e o espaço da comunidade, da própria propriedade, na interação com seus familiares e demais sujeitos da comunidade (Tempo Comunidade TC).
Nesse Município, a alternância acontece com atividades do TE aos finais de semana (sábado e domingo em tempo integral) e as atividades do TC na parte da manhã ou tarde durante dois ou três dias da semana, contendo as atividades práticas acompanhada com o técnico agrícola.
As atividades práticas acompanhadas junto do técnico agrícola e dos demais educadores se caracteriza o diferencial do Programa no Município, tendo sido de fundamental importância para cotidiano dos educandos, pois foram as aulas práticas que trouxeram para estes alunos novas perspectivas de vida com a possibilidade de alimentação para as suas famílias até mesmo de produção.
Essas atividades estão voltadas essencialmente ao cultivo de pequena produção de legumes, verduras e hortaliças na propriedade dos próprios educandos para o consumo próprio e de sua família. Conforme demonstra o relato dos educandos essas atividades permitem não só o enriquecimento e a melhoria na qualidade das refeições, como trouxe a eles a possibilidade de produzir para a troca ou a comercialização em pequenas quantidades dessas verduras.
Como registram os entrevistados:
[...] meu pedaço de terra é pequeno e nunca tinha pensado em plantar nada aqui, agora com o Saberes da Terra temos o que comer, temos alimentos aqui mesmo no quintal. Hoje aqui no meu quintal além de ter verdura pra gente comer, dá até pra vender aqui na porta e ganhar um dinheirinho pra mim e pros meus filhos (Jovem Agricultor 3).
Fonte: SEDUC/CECAF – 2011. Projovem Campo Saberes da Terra Augusto Correa.
Como instrumento de aula os educadores usam “laboratórios” para as atividades práticas. Esses laboratórios no geral são propriedades, terreno de um dos alunos onde o profissional das ciências agrárias toma como espaço para que os educandos aprendam técnicas de plantio e manuseio do solo, para só então esses educandos começarem a colocar em prática o que aprenderam em suas próprias terras. Os alunos destacam as dificuldades para conseguir participar do Programa devido as suas atividades cotidianas, mas esclarecem que esse é uma oportunidade que tem possibilitado mudanças em suas vidas, conforme relato abaixo:
Enfrentamos muitas dificuldades para estar na escola, passamos a semana trabalhando e no fim de semana temos que trazer nossos filhos para passar o dia todo estudando com a gente, mas o esse programa veio dar a oportunidade que não tive antes, principalmente por isso não vou desistir, tem mudado nossa vida. (Jovem Agricultor 4).
Percebemos que a chegada do Projovem Campo nas comunidades do município de Augusto Correa veio trazer aos sujeitos do campo além da perspectiva de continuidade de sua escolarização a viabilidade de dar vida nova a terra, terra essa que muitas vezes, por falta de conhecimento e/ou incentivo não era cultiva, levando esses sujeitos a irem buscar formas de subsistências a sua família em outras atividades e em outros lugares.
Ações do Programa Projovem Campo – Saberes de São Sebastião da Boa Vista.
No Município de São Sebastião da Boa Vista o Programa atende 2 turmas com cerca de 60 alunos e o Tempo Escola acontecem no espaço de Centro Comunitário cedido pelo comunidade para o que o Programa possa acontecer na realidade dos alunos que vivem nessa comunidade.
Fonte: SEDUC/CECAF – 2011. Frente do Centro Comunitário.
As condições físicas do espaço onde acontecem as aulas não favorecem o desenvolvimento das atividades, pois muitas vezes esse espaço é divido com outras atividades realizadas pela comunidade, apesar disso os alunos relatam que: Mesmo não tendo bolsa para estudar e venho assim mesmo por que tenho aprendido muitas coisas importes que tem me ajudado também nas atividades do meu
dia a dia. Aqui faz muito calor, mas não podemos desistir dos estudos por conta disso (Jovem
Fonte: SEDUC/CECAF – 2011 Sala de Aula
A organização do calendário das atividades do TE e TC tem sido um dos elementos que tem viabilizado a participação e permanência dos educandos nas turmas do programa, uma vez que respeitas a especificidades e as necessidades do cotidiano desses alunos, como eles próprios esclarecem:
Ninguém nunca tinha pensado em uma escola que permite a gente trabalhar durante a semana e estudar no fim de semana, por isso mesmo cansado eu não vou deixar de vir. Essa é uma oportunidade que não podemos perder, nunca pensei que iria poder dar continuidade aos meus estudos e ainda aprender mais sobre o meu trabalho (Jovem Agricultor 2).
Além das aulas através de alternâncias, as aulas acontecem de acordo com o proposto pelo currículo integrado. A proposta de currículo integrado tem sido o elemento de interação entre os professores dizem que: Realizamos nossos planejamentos em conjunto, selecionamos textos e outros materiais que possam ser trabalhados nas diversas áreas do conhecimento, na hora da aula sempre tem mais de um professor em sala.” (Educadora 1) Diante disso os alunos dizem que: Nunca nem um professor trabalhou assim com a gente, sempre relacionando os conteúdos com alguma coisa que a gente já conhece, outro dia o técnico agrícola tava pegando o assunto do professor de matemática pra gente entender o que estávamos fazendo lá na terra. Eles perguntam sobre o que a gente faz, só agora alguns assuntos da escola fazem sentido. Outro dia percebi que os professores não trabalham como na outra escola.” (Jovem Agricultor 3).
Um dos elementos estruturantes e diferenciadores das atividades do programa Projovem Campo é o dialogo com os Arcos Ocupacionais. Cada município através da pesquisa de campo faz o levantamento das principais atividades econômicas (agrícola, agropecuária, etc) praticadas naquele município, afunilando para o levantamento das atividades especificas de cada comunidade onde funciona as turmas do programa.
O levantamento dos arcos ocupacionais é o elemento que possibilita a construção dos Projetos Agroecológicos que são desenvolvidos durante o percurso formativo do programa. Esses projetos construídos de acordo com a realidade de cada comunidade, mesmo que pertencentes a um mesmo município. Serve como instrumento norteador principalmente das atividades do TC.
Pautados nos arcos ocupacionais da região as atividades práticas vem sendo direcionadas de a melhoria e o potencial dessas práticas, conforme relato abaixo:
Trabalhamos em 2 comunidades que possuem arcos ocupacionais diferentes, assim em uma venho focando o trabalho para as atividades horta e sistema de produção bovina, já a outra turma tem necessidades diferentes, por isso temos trabalho sobretudo com o sistema de pesca e criação de aves ( Educadora 2).
O relato abaixo de um dos educandos reforça a fala da professora sobre o trabalho com os arcos ocupacionais.
aqui, assim percebemos que dá pra fazer criação mesmo numa área pequena. Eu pensei que não poda aprender mais sobre a atividade da pesca, mas aqui no saberes da terra tenho visto que ainda temos muito a aprender e isso tem me ajudado muito e me incentivado. (Jovem Agricultor 4).
Fonte: SEDUC/CECAF – 2011 Cartaz com o levantamento da cultura local
Diante do exposto podemos perceber que o respeito a realidade dos educandos, com organização de um calendário que consiga atender suas demandas de trabalho com a necessidade de estudar, assim como a proposta de trabalho através do currículo integrado sobretudo aos arcos ocupacionais da comunidade tem sido elementos fundamentais para a que os alunos permaneçam motivados a continuar e permanecer na escola.
Impactos:
O Programa vem contribuindo para o fortalecimento de políticas públicas de Educação do Campo e de Juventude que oportunizem a jovens agricultores (as) familiares excluídos do sistema formal de ensino a escolarização em Ensino Fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, integrado à qualificação social e profissional. Promover a certificação dos educandos nos municípios partícipes do Programa. Além de realizar a formação de educadores por meio da metodologia da alternância. Contribuir para o fortalecimento de políticas públicas da educação do campo no Estado do Pará.
Devemos ressaltar como ponto positivo do Programa a rede de parcerias que os municípios vêm construindo com instituições como: EMBRAPA, EMATER, Secretaria de Agricultura, SENAR, Secretaria de Meio Ambiente, para o desenvolvimento das atividades. Essas instituições têm contribuído com as atividades através de palestras, oficinas, doação de sementes.
No que tange ao andamento o Programa estar em fase de conclusão da Edição 2008, e, apesar das grandes dificuldades de acompanhamento, por parte da equipe de Coordenação do Estado, da falta de maiores investimentos financeiros, humanos e matérias, é possível avaliarmos que o Projovem Campo Saberes da Terra no Pará, procedeu à formação com sucesso, devido, principalmente, ao compromisso de educadores, coordenadores de turmas que mais uma vez mostraram seu compromisso com a educação do campo.
Outra importante contribuição do Programa é na formação dos educadores que participação do Curso de Especialização para os que têm nível superior e de aperfeiçoamento para os possuem
magistério normal. A formação é ofertada pela Instituição formadora que no caso da Edição 2008 é o IFPA em 5 pólos de formação, quais seja: Altamira, Abaetetuba, Belém, Castanhal e Marabá.
Referências
BELÉM. Projeto Projovem Campo Saberes da Terra Belém/Pará Programa Nacional de Educação de Jovens Integrada com Qualificação Social e Profissional para Agricultores (as) Familiares. Belém, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Projeto Base – Projovem Campo Saberes da Terra. Brasília, 2009.
. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização. Cadernos Pedagógicos do Projovem Campo – Saberes da Terra ( Percurso Formativo), Brasília, 2008. ______ . Ministério da Educação. Diretrizes operacionais para a educação básica nas escolas do campo. Resolução CNE/CEB N. 1, de 3 de Abril de 2002. MEC, Brasília, 2003.
, Lei n° 9.394/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
CALDART, Roseli Salete. Por Uma Educação Básica do Campo – A Escola do Campo em Movimento. Vol. 032007.
_________, Roseli. Por uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção. In: ARROYO, Miguel, CALDART, Roseli e MOLINA, Mônica C. (organizadores) Por Uma Educação do Campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
PARÁ. Conselho Estadual de Educação – CEE. RESOLUÇÃO N° 001 Dispõe sobre a regulamentação e a consolidação das normas estaduais e nacionais aplicáveis à Educação Básica no Sistema Estadual de Ensino do Pará. 2010
PARÁ. Conselho Estadual de Educação – CEE. PARECER: Nº 604/2008 que regulamenta os Dias letivos
para a aplicação da Pedagogia de Alternância nos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAS) no Estado do Pará. [1] Programa Saberes da Terra foi iniciado em dezembro de 2005 em 12 Unidades da Federação (BA, PB, PE, MA, PI, RO, TO, PA, MG, MS, PR e SC) em colaboração com secretarias estaduais de educação, representações estaduais da União Nacional dos Dirigentes Municipais em Educação – UNDIME, Associação de Municípios Cantuquiriguaçu, entidades e movimentos sociais do campo integrantes dos comitês e fóruns estaduais de Educação do Campo.
[2]
Estão sendo considerados povos do campo: agricultores/as familiares, assalariados, assentados ou em processo de assentamento, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas, remanescentes de quilombos, entre outros povos que lutam pela afirmação dos seus direitos do campo no diversos biomas do território nacional
[3]
O Programa Territórios da Cidadania foi criado em 2008 e tem como objetivos promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. http://www.territoriosdacidadania.gov.br
[4] O Programa Territórios da Cidadania foi criado em 2008 e tem como objetivos promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável.
http://www.territoriosdacidadania.gov.br