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A FAMÍLIA URBANA. Dolores Pereira Ribeiro

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Academic year: 2021

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A FAMÍLIA URBANA

Dolores Pereira Ribeiro

A história social reveste-se na atualidade do viver coti-diano. Sendo assim, o tema família é retomado através do viver diário dos seus membros e das representações que fazem sobre a própria existência.

A família é o primeiro grupo social no qual o indivíduo se insere e por vezes amadurece, absorvendo valores e habilidades necessárias para a vida em sociedade. A “experiência humana”1 é responsável pela interiorização de valores, dentro dela os homens e mulheres não são apenas indivíduos livres, “mas pessoas que experimentam suas situações e relações e em seguida tratam essa experiência em sua consciência e cultura”2.

Consciência e cultura manifestam-se no modo de vida, que ao ser abordado faz com que o sujeito histórico torne-se portador de valores próprios, tradições e uma visão de mundo.

Para um estudo das famílias urbanas é necessário expli-car o como das coisas e não apenas o porquê, como as famílias

1 THOMPSON, E. P. A miséria da teoria. p. 182. 2

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3 DURHAM, Eunice. A família operaráia: consciência e ideologia. p.

201-213.

vivem e não apenas as razões de viverem de uma determinada forma.

Necessário se faz, para estudar a família urbana, cons-truir uma metodologia própria de análise e modelos adequados ao caso brasileiro. Surgem difi culdades concei tuais quando se utiliza uma concepção única de família como modelo português transplantado, pois a generalização promove a exclusão de outras formas de organização entre os diferentes segmentos de uma mesma sociedade.

O estudo das famílias urbanas é capaz de apreender o viver diário e as formas como esse viver se transporta para o imaginário, acabando por orientar ações futuras. Não existe um modelo pré-estabelecido, não existe uniformidade, o que encontramos na cidade é um grupo de pessoas, unidas por laços sangüíneos e sociais, que se auto-denomina família.

Escrevendo sobre a família em nossa sociedade, Eunice Durham3 afi rma que os brasileiros não só são apegados à família, como também preferem divisão sexual do trabalho nos moldes tradicionais, com a subordinação da mulher ao homem e a res-trição de suas atividades ao espaço doméstico.

A partir da defi nição das próprias necessidades, a família elabora um plano para consumir. As estratégias uti li zadas podem ser as mais variadas, como a inserção de um membro da família no mercado de trabalho ou a execu ção de atividades auxiliares,

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que não produzem mercadorias, mas possibilitam a utilização de produtos adquiridos.

O cotidiano das famílias urbanas é permeado de elemen-tos que, a princípio, seriam contraditórios, mas que, em uma análise mais apurada, são complementares. Um exemplo disto são as formas como as vidas pública e privada se interpenetram.

O conceito de público possui um caráter mais amplo que o político. O espaço público é aquele onde ações humanas são vistas e ouvidas por todos, são os locais onde as experiências se coletivizam a partir da solidarização. Em oposição ao público, surge um espaço mais reservado, o privado.

A família foi sendo privatizada ao longo dos últimos dois séculos. O processo iniciou-se com a sua confi nação em um espaço físico mais reservado pelas modifi cações na arquitetura, com a retirada do trabalho do espaço doméstico e a intervenção de profi ssionais da saúde e assistentes sociais.

Atualmente, família e doméstico pertencem ao domínio privado. Contudo, a família é um coletivo, é o espaço público dos seus membros, local onde as ações indivi duais são vistas e ouvidas por todos. A verdadeira privacidade só existe na indivi-dualidade, e as mudanças caminham no sentido da privatização do privado.

O cotidiano das famílias urbanas corresponde ao viver diário dos seus membros. Composto pelo trabalho e vida fami-liar, é o local onde se desenvolve um modo de vida. Distribui-se nas diferentes esferas que compõem as vidas pública e privada.

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Identificando as várias atividades dos membros das famílias urbanas, podemos agrupá-las em três conjuntos, ou esferas, espaços de ação que adquirem áreas de interseção entre o público e o privado.

A vida privada se desenvolve num espaço próprio, retirado da publicidade do mundo, é o espaço doméstico que possui uma conexão com o público através da dependên cia existente face às esferas do trabalho e troca de produtos.

Ultrapassando os limites da casa, existe uma redonde-za onde se encontram os bens e serviços necessários à sobre-vivência, é um coletivo próximo, um espaço público reconhe-cível, que José Magnani3 designou como sendo o “pedaço”.

Para além do pedaço, encontramos a última esfera do cotidiano, que corresponde ao espaço da cidade.

Reconstruir a trajetória das famílias urbanas não se limi-ta à identifi cação dos elementos que compõem seu cotidiano, pois é preciso entendê-lo como o viver diário, portador de um dinamismo que surge do movimento interno e externo de cada uma das esferas.

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BIBLIOGRAFIA

DURHAM, Eunice. Família operária: consciência e ideo logia. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro : IUPERJ/Cam-pus, 23(2), p. 201-213, 1980.

MAGNANI, José R. C. Festa no pedaço. São Paulo : Brasilien-se, 1984.

THOMPSON, Eduard P. A miséria da teoria. Rio de Janeiro : Zahar, 1981.

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