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Neuropsicologia Forense - Antônio de Pádua Serafim - 2015

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(2)

SBNp

sociedade brasileira de

Neuropsicologia

AArtmed é a editora oficial da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia

NEUROPSICOLOGIA

(3)

Catalogacáo na publicacáo: Poliana Sanchez de Arauja - CRB 10/2094

CDU 159.91:612.8 l. Neuropsicologia. l. Serafim, Antonio de Pádua. II. Saffi, Fabiana. Editado também como livro impresso em 2015.

ISBN 978-85-8271-182-8

N495 Neuropsicologia forense [recurso eletrónico] /Organizadores,

(4)

2015 versáo impressa desta obra: 2015

Antonio de Pádua Serafim

Fabiana Saffi

(orgs.)

NEUROPSICDLOGIA

FORENSE

(5)

SÁOPAUW

Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilháo 5 Cond. Espace Center - Vila Anastácio

05095-035 Sao Paulo SP

Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444-www.grupoa.com.br

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

É proibida a duplícacáo ou reproducáo <leste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónico, mecánico, gravacáo,

fotocópia, distribuicáo na Web e outros), sem permissáo expressa da Editora. Reservados todos os direitos de publicacáo

a

Artmed Editora Ltda.

Av. Jerónimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340- Porto Alegre, RS

Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 Imagem de capa

©dreamstime.com / Gines Valera Marin, 2012: Brain icon set Ilustracóes

Gilnei da Costa Cunha Preparacáo do original Antonio Augusto da Roza

Leitura final Camila Wisnieski Heck

Projeto e editoracáo

Bookabout- Roberto Carlos Moreira Vieira Gerente editorial

Letícia Bispo de Lima Colaboraram nesta edicáo:

Coordenadora editorial Cláudia Bittencourt Assistente editorial PaolaAraújo de Oliveira Capa Márcio Monticelli © Artmed Editora Ltda, 2015

(6)

cologia e Neuropsicologia do IPq-FMUSP. Neu- ropsicóloga pesquisadora do Projeto Transtomos do Espectro Obsessivo-compulsivo (PROTOC). Secretária executiva da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp, 2013-2015).

Carolina Farias da Silva Bernardo. Psicóloga. Aperfeicoamento em Psicologia Jurídica Práti- ca Pericial no NUFOR/IPq-HCFMUSP, Impac- tos da Violencia na Saúde, coordenado pela Es- cola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (EAD/ENSP) e pela FIOCRUZ, Transtornos do Controle do Imp.ulso no.Ambulatório de 'Irans- tornos do Impulso (AMITI), HCFMUSP. Espe- cialista em Terapia Cognitiva. Professora adjunta do Centro de Terapia Cognitiva Veda. Psicóloga colaboradora do NUFOR e do Ai.'vlITI, IPq- -HCFMUSP.

Cristiana Castanho de Almeida Rocca. Psicó- loga. Mestre e Doutora em Ciencias pela USP. Professora colaboradora na FMUSP. Psicóloga Aires Evandro José Ribeiro. Psicólogo. Especia-

lista em Neuropsicologia pe1o IPq- HCFMUSP. Aline Lavorato Gaeta. Psiquiatra. Médica pre- ceptora do Programa de Suporte ao Aluno e Re- sidente do HCFMUSP.

Ana Jo Jennings Moraes. Psicóloga. Aprimo- randa do Servico de Neuropsicologia Hospitalar do IPq-HCFMUSP. Aperfeicoamento em Psico- logia Jurídica: Prática Pericial,

Anna Cecilia Santos Chaves. Advogada. Espe- cialista em Ciencias Crirninais pela Universida- de Cándido Mendes (UCAM). Doutoranda em Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia na Faculdade de Direito do Largo de Sao Fran- cisco da USP. Bolsista de Doutorado Direto da FAPESP. Membro do NUFOR/IPq-HCFMUSP. Carina Chaubet D'Alcant&. Psicóloga. Especialis- ta em Neuropsicologia. Mestre em Ciencias pela FMUSP. Psicóloga supervisora do Servico de Psi-

Antonio de Pádua Serafim. Psicólogo. Doutor em Ciencias pela Faculdade de Medicina da Uní- versidade de Sao Paulo (FMUSP). Coordenador do Núcleo Forense e Diretor do Servico de Psico- logia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Me- dicina da Universidade de Sao Paulo (IPq-HCFMUSP). Professor colaborador do Departamento de Psiquiatría da FMUSP. Professor titular do Programa de Pós-graduacáo em Psicologia da Saú- de da Universidade Metodista de Sao Paulo (UMESP). Orientador do Programa de Pós-gradua- t¡:ao em Neurociencias e Comportamento do Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Pau- 1o (IPUSP). Pesquisador do GT-ANPEPP Tecnologia Social e Inovacáo: Intervencóes Psicológicas e

Práticas Forenses contra Violencia.

Fabiana Saffi. Psicóloga. Especialista em Psicologia Hospitalar em Avaliacáo Psicológica e Neuropsi- cológica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (HCEMUSP). Especialista em Psicología Jurídica pelo Conselho Federal de Psicología ( CFP). Mestre em Ciencias pela Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (FMUSP). Psicóloga supervi- sora no Servíco de Psicologia e Neuropsicologia e no Ambulatório do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR), Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clí- nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (IPq-HCFMUSP).

(7)

Psicogeriatria do Laboratório de Neurociencias (LIM-27) da FMUSP.

Juliana Emy Yokomizo. Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia e em Psicologia Hospitalar pelo IPq-HCFMUSP. Pós-graduanda na FMUSP. Psicóloga supervisora do Servico de Psicologia e Neuropsicologia do IPq-HCFMUSP.

Leandro F. Malloy-Diniz. Neuropsicólogo. Dou- tor em Farmacologia Bioquímica e Molecu- lar pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFMG. Coordenador do Labora- tório de Investigacóes em Neurociencias Clíni- cas do Instituto Nacional de Ciencia e Tecno- logia de Medicina Molecular (INCT-MM) da UFMG. Presidente da SBNp (2011-2015).

Luciana de Carvalho Monteiro. Psicóloga. Espe- cialista em Avaliacáo Psicológica e Neuropsíco- lógica pelo IPq-HCFMUSP. Mestre em Ciencias pela FMUSP. Psicóloga colaboradora do Servi- 90 de Psicología e Neuropsicologia do Centro de Reabilitacáo e Hospital-Dia (CHRD) e do Pro- jeto de Déficit de Atencáo e Hiperatividade em Adultos (PRODATH) do IPq-HCFMUSP.

Maria Fernanda F. Achá. Psicóloga. Mestre em Ciencias pela FMUSP. Neuropsicóloga do Hos- pital Israelita Albert Einstein. Pesquisadora co- laboradora do NUFOR/IPq-HCFMUSP.

Maria lnes Falcao. Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia pelo CFP. Psicóloga superviso- ra concursada do Servico de Psicologia e Neu- ropsicologia do IPq-HCFMUSP. Professora do Curso de Especializacáo em Neuropsicologia no Contexto Hospitalar do Servico de Psicolo- gia/IPq-HCFMUSP, e no Curso de Graduacáo de Psicologia da Universidade Paulista (UNIP). Professora e membro da Sociedade Rorschach de Sao Paulo e Ger-A<;oes - Pesquisas e Acóes em Gerontologia.

Marianne Abt. Psicóloga. Especialista em Neu- ropsicologia pelo IPq-HCMFUSP.

Marina von Zuben de Arruda Camargo. Psicó- loga. Especialista em Neuropsicologia pelo Ins- tituto Neurológico de Sao Paulo. Mestre em Neurociencia e Comportamento pelo IPUSP. Docente dos cursos de Especializacáo em Neu- ropsicologia e Extensáo em Reabilitacáo Cog- supervisora no Servico de Psicologia e Neuro-

psicologia do IPq-FMUSP.

Cristiane Ferreira dos Santos. Psicóloga. Aper- feicoamento em Pericia Psicológica no NUFOR/ IPq-HCFMUSP. Psicóloga colaboradora no aten- dimento e avaliacáo no NUFOR/IPq-HCFMUSP. Daniel Martins de Barros. Psiquiatra. Bacha- rel em Filosofia. Doutor em Ciencias pela USP. Professor colaborador do Departamento de Psi-

quiatria da FMUSP.

Daniela Pacheco. Psicóloga clínica. Especialista em Terapias Cognitivas pelo HCFMUSP. Psicóloga colaboradora do Ambulatório de Saúde Mental da Mulher (ProMulher) do IPq-HCFMUSP.

tverton Duarte. Psicólogo, neuropsicólogo. For-

macáo em Neuropsicologia Clínica e de Pesquisa pelo Servico de Psicologia e Neuropsicologia do IPq-HCFMUSP. Mestre em Ciencias pelo Depar- tamento de Psiquiatria do IPq--HCFMUSP. Pro- fessor no Centro Universitário Sao Camilo de Sao Paulo. Colaborador no Servico de Psicologia e Neuropsicologia do IPq-HCFMUSP.

Flávia Celestino Seifarth de Freitas. Advogada. Especialista em Processo Civil pela Pontificia Universidade Católica (PUC). Diretora jurídica da Associacáo Brasileira de Alzheimer (ABRAz) Regional Sao Paulo.

Geraldo Busatto Filho. Psiquiatra. PhD em Psi- quiatria pela Universidade de Londres, Inglater- ra. Professor titular do Departamento de Psi- quiatria da FMUSP. Coordenador do Núcleo de Apoio

a

Pesquisa em Neurociencia Aplicada (NAPNA) da USP.

Gra!(a Maria Ramos de Oliveira. Psicóloga. Es-

pecialista em Psicologia Hospitalar pelo CFP. Especialista em Psicologia Psicodinámíca pelo Sedes-Sapientae. Psicóloga supervisora do Ser- vico de Psicologia e Neuropsicologia do IPq- -HCFMUSP. Psicóloga colaboradora do Projeto Esquizofrenia (PROJESQ) no IPq-HCFMUSP. lvan Aprahamian. Geriatra. Mestre em Geron-

tologia pela Universidade Estadual de Cam- pinas (Unicamp). Doutor em Psiquiatria pela USP. Professor colaborador e docente da Pós- -graduacáo do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Professor adjunto da Faculdade de Me- dicina de Iundiaí, Coordenador do Programa de

Vi •

AUTORES

(8)

IPq-HCFMUSP. Neuropsicóloga do Ambula- tório de Transtornos de Identidade de Género e Orientacáo Sexual (AMTIGOS) do NUFOR/ IPq-HCFMUSP.

Priscila Dib Gon!falves. Psicóloga. Psicóloga supervisora do Servico de Psicologia e Neurop- sicologia do IPq-HCFMUSP. Pesquisadora do Programa Interdisciplinar de Estudos de Alcool e Drogas (GREA) do IPq-HCFMUSP. Pesquisa- dora do Laboratório de Neuroimagem em Psi- quiatria (LIM-21) do IPq-HCFMUSP.

Roberto Augusto de Carvalho Campos. Neu- rocirurgiao. Mestre e Doutor em Medicina pe- la Universidade Federal de Sao Paulo (Unifesp) - Escola Paulista de Medicina (EPM). Professor doutor da Faculdade de Direito da USP.

Tánia

Maria Alves. Psiquiatra. Mestre e Douto- ra em Psiquiatria pela USP.

Vanessa Flaborea Favaro. Psiquiatra. Assisten- te do HCFMUSP.

AUTORES •

Vi i

nitiva do Instituto Neurológico de Sao Paulo.

Pesquisadora do Laboratório de Neurociencias (LIM-27) do IPq-HCFMUSP.

Mery Candido de Oliveira. Psicóloga clínica e forense. Especialista em Adultos e Adolescen- tes pelo Instituto Sedes Sapientiae. Mestre em Ciencia pela USP. Supervisora de Alunos pela Federacáo Brasileira de Psicodrama (FEBRAP). Coordenadora do Programa de Atendimento a Vítimas de Violencia e Agressores do NUFOR/ IPq-HCFMUSP. Supervisora da Psicoterapia na Pundacáo Casa.

Monica Kayo. Psiquiatra. Mestre em Ciencias pelaFMUSP.

Natali Maia Marques. Psicóloga. Especialista em Avaliacáo Psicológica e Neuropsicológica pelo Servico de Psicologia e Neuropsicologia do IPq- -HCFMUSP. Mestranda no Programa de pós- -graduacáo de Neurociencia e Comportamen- to do IPUSP. Psicóloga supervisora no NUFOR/

(9)

realizando um trabalho pioneiro tanto

e

rn

termos de producáo de conhecimento co- mo no investimento na forrnacáo de recur- sos humanos da área.

Os capítulos, escritos por profissio- nais de diversas áreas de atuacáo relacio- nadas

a

neuropsicologia forense, estáo or-

ganizados em cinco partes. Na primeira delas, Fundamentos, os autores caracteri- zam a neuropsicologia forense em termos de seus fundamen tos, aplicacóes principais, sua história e sua

r

e

la

c

ñ

o

com outras áreas. Na segunda parte,

Pu

n

cáes

neuropsicol

é

gi

-

cas e aplicar-aes forenses,

sao apresentados capítulos sobre a relacáo entre diferentes módulos cognitivos e a prática da neuro- psicología forense. Essa estrategia didática permite ao neuropsicólogo a compreensáo das implicacñes forenses de alteracóes em diferentes domínios da cognicño. Na tercei-

ra parte, A11a

li

aréío ne

urop

sico

l

ágíca forense

:

q

u

adros

ne

urops

i

quiátr

i

co

s,

os autores ex- ploram as interfaces entre neuropsicolo- gia e psiquiatría COITI énfase na prática da avaliacáo neuropsicológica. Nas duas últi- mas partes do

li

vro, Avali

a.rao ne

u

rops

i

co-

lógica forense ern

sit

u

acñes e

s

peci

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cas e

As-

pectos éticos e pe

r

iciais,

é dada

é

n

fase

a

tr

es

quest6es fundamentáis da prática forense: a simulacáo de déficits cognitivos, a avaliacáo de menores infratores e a producáo/rnane- jo de documentos periciais. Consideramos que o percurso escolhido pelos organiza- dores oferece ao leitor um texto capaz de conciliar a apresentacáo de conceitos intro-

O crescimento da Neuropsicologia no Bra- sil nas últimas décadas é

n

otá

v

el

.

Além do

es

p

aco

conquistado aos poucos em cur-

sos de graduacáo, proliferaram os cursos de

es

p

ec

i

a

liz

ac

á

o e

de formacáo continua- da. Para atender as demandas da capaci- tacáo básica,

v

á

rio

s

títulos generalistas fo- rarn lancados nos últimos anos, facilitando o acesso ao conhecimento inlrodutório

a

neuropsicologia, estimulando a busca por formacác na área. No entanto, com o au- mento continuo do número de neuropsi- cólogos e interessados pela área, aumentou tambérn a demanda de

li

v

r

os

direcionados a temas mais específicos e coro maior apro- fundamento.

A retomada da série "Temas em Neu- ropsicologia" no ano de 2013 teve, entre seus principais propósitos, fomentar a pu- blicacño de livros capazes de apresentar aos neuropsicólogos brasileiros o "estado da arte" em áreas específicas de aplicacáo da neuropsicologia. O primeiro livro da série,

Neuropsicolegia geriátrica,

mostrou o quáo acertado foi

esse

direcionamento.

Mantendo a

es

tr

a

t

é

gi

a

do enfoque em áreas especificas, apresentamos o segundo livro da série Temas em Neuropsicologia,

Neuropsicologia

forense

.

Organizado pelos doutores Antonio de Pádua Serafim e Fa- biana Saffi, este Iivro propóe um aprofun- damento em questóes teóricas e metodoló- gicas das

apli

c

a

cóes

da neuropsicologia as

pr

á

ri

cas

jur

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dicas

.

Os autores sao

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(10)

Prof

.

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.

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F

ernand

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Mall

oy-

Diniz

Presidente da Sociedade Brasileira de

Neuropsicologia (SBNp)

(2011-2013; 2013-2015)

Dese

j

amos a todos urna

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oa leitu

r

a.

sileira de Neurops

i

c

o

logia (SBNp) e a Art

-

med Editora, cump

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irá o papel de f

o

rne-

cer a pos

s

ibilidade de aprofundamento em

urna das áreas de maio

r

cre

s

cimento na

neuropsicologia brasileira

.

dutórios e o ap

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ofundament

o

em vá

r

ias de

suas aplicacóes.

Estamos convictos de que e

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ta obra,

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(11)

Cássio M. C.

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niversi

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P

au

lo

cia forense, para embasar os capítulos se- guintes, que abordam as nocóes básicas do direito, a pericia ern saúde mental e a .im­ portáncia, nesse contexto, das estruturas cerebrais envolvidas. Em seguida, o livro descreve as funcoes neuropsicológicas e su- as implicacóes forenses, para depois abor- dar com profundidade, em quinze capítu- los, a avaliacáo neuropsicológica forense dos princípais transtornos .neuropsiquiá-

trices, Nas duas últimas secóes do livro sao apresentados aspectos da avaliacáo neurop- sicológica forense em situacóes específicas, como a simulacáo de déficits cognitivos e os jovens infratores, e, por

fim,

os aspectos éticos em pericias neuropsiquiátricas.

Saúdo os colegas Antonio de

P

á

du

a

Serafim e Fabiana Saffi, assim como todos os autores dos capítulos, pela iniciativa de produzir um livro tao oportuno e necessá- rio. 'Ienho plena conviccáo de que esta obra será, em breve, considerada urna referencia, podendo auxiliar muitos colegas a produ- zir laudos periciais mais consistentes, pre- cisos

e

úteis, que poderse auxiliar decisiva- mente na resolucáo de inúmeros processos judiciais.

A Neuropsicologia e a Psiquiatría Foren- ses tém recebido mais atencáo nos últimos anos, provavelmente pelo grande número de situacñes nas quais os profissionais des-

s

a

s

áreas

t

é

m

sido chamados a atuar, bem como pelo grande número de colegas que estáo atuando como peritos judiciais. In- felizmente, ainda ternos poucos livros téc- nicos publicados sobre o terna, e cada vez mais existe a necessidade de embasar os métodos e as conclusóes apresentadas nos processos judiciais em conhecimentos téc- nicos consistentes e atuais.

R

ece

bi

,

com muita

sa

ti

sfac

á

o

,

o con- vite para prefaciar este livro sobre Neuro-

p

sico

l

o

gía

Forense, organizado pelos profes- sores Antonio de Pádua Serafim e Fabiana

Saffi

,

porque sei que seus autores sao colegas que se dedicarn

bastante tempo, de for- ma

s

é

ria

e

coerente, a produzir laudos e ava- liacóes judiciais, sempre preocupados como rigor académico e coma importancia decisi- va dessas

av

ali

ac

ó

es

técnicas sobre a resolu- yao dos processos judiciais.

O Iivro, rnuito bem organizado em quatro

sec

ó

es,

inicia abordando os aspec- tos históricos da neuropsicologia clínica e forense,

e

as características da neurocién-

(12)

parte

2

Fun

~

éíe

s

neuropsicológica

s

e

í

mplicac

ñ

e

s

forense

s

6

Atengao 71

Luciana de Carvalho Monteiro, Fabiana Saffi

7

Memória 78

Mery Candido de Oliveira, Antonio de Pádua Serafim

8

Pensamento 88

Marla Pernanda F. Achá, Vmtessa Flnborea Pavaro

9

Inteligencia 97

Natal! Mala Marques, Maria Pernanda F. Achá, Marianne Abt

10

Linguagem 104

Pabiana Saffi, Maria Inés Palcüo

11

Emo~

a

o 113

Ana fó [enning: Moraes, Antonio de Pádua Serafiru

12

Funcoes executivas 121

Antonio de Pádua Serafim, Aires Evandro fose Ribeiro, Leandro F. Malíoy-Diniz par te

3

Avalia~ao neuropsicológica forense: quadros neuropsiquiátricos

13

Esquizofrenia 133

Gra.¡:a Maria Ramos de Olive ira, Tá11ia Maria Al ves, Pabiana Saffi

parte

1

Fundamento

s

1

Aspectos históricos da neuropsicologia clínica e forense 17 Antonio de Pádua Serafim, Éverton Duarte, Maria Pernanda F. Ac/1á

2

Neurociencias forenses 26

Daniel Martms de Barros, Aline Lavorato Gaeta, Geralda Busatto Pilho

3 No~lies básicas do direito. orientaebes para a perícia ern saúde mental 34 Anna Cecilia Santos Clmves, Roberto Augusto de Carvalho Campos

4

A perfcia em saúde mental 46

Antonio de Pádu« Serafim, Pabiana Saffi

5

Estruturas cerebrais 57

Marina vo11 Zuben de Arruda Camargo, Ivan Aprahamian

Sumário

(13)

Indice 285

parte

5

Aspectos éticos em perícias

30

O contato como periciando, os procedimentos e os documentos forenses 277 Pabiana Saffi, Natali Maia Marques, Antonio de Pádua Serafim

parte

4

Avalia~ao neuropsicológica forense em situa~oes específicas

2

8

Simula~ao de déficits cognitivos 261

Antonio de Pádua Serafim, Daniela Pacheco

29

Jovens infratores 269

Natali Maia Marques, Mery Gandido de Oliveira

14

Psicoses orgánicas 145

Monica Kayo, Fabiana Saffi

15

Transtorno de déficit de

atenc

á

o/h:

peratividade em adultos 155 Luciana de Carvalho Monteiro, Antonio de Pádua Serafim

16

Quadros depressivos 162

Pabiana Saffi, Antonio de Pádua Serafim

17

Transtorno bipolar 170

Cristiana Castanho de Almeida Rocca, Fabiana Saffi

18

Ansiedad e generalizada 181

Carina Chaubet D'Alcante, Fabiana Saffi

19 Transtorno obsessivo­compulsivo 189

Carina Chaubet D'Alcante, Antonio de Pádua Serafim

20

Transtorno de estresse pós­traumático 197

Mery Gandido de Oliveira; Natali Maia Marques

21

Retardo mental 205

Natali Maia Marques, Cristiane Perreira dos Santos

2

.

2

Aspectos neuropsicológicos e médico­legais na doen~a de Alzheimer. 210 Maria Fernanda F. Achá, Plávia Celestino Seifarth de Freitas, Juliana Emy Yokomizo

23

Aspectos neuropsicológicos e médico­legais na doen~a de Parkinson 217 Juliana Emy Yokomizo, Plávia Celestino Seifarth de Freitas, Maria Fernanda F. Achá

24

Traumatismo craniencefálico 224

Ana Jo Jennings Moraes, Antonio de Pádua Serafim

25

Dependencia química: alcoolismo, maconha, cocaína e

crack

233

Priscila Dib Gonralves, Antonio de Pádua. Serafim

26

Transtornos da personalidade 241

Antonio de Pádua Serafim, Natali Maia Marques

27

Transtornos do controle de impulsos 249

Carolina Parias da Silva Bernardo, Antonio de Pádua Serafim

(14)
(15)

Platáo ( 428 a.C.) descreveu a rnedu-

la como urna das partes mais importantes do corpo, considerando-a urna extensáo

do cérebro, Alcmeón de Crotona, 110 século

V, na Grécia Antiga, julgava que o cérebro era o

ó

rg

á

o

responsável pela sensacáo e pe-

lo pensamento, afirmando que, para cada sensacáo, havia uma localizacáo específica no cérebro (Feinberg & Farah, 1997). U1n

século depois, Hipócrates ressaltava que o cérebro era responsável, pela inteligen-

cia, pela sensacáo e pela ernocáo, e disso-

ciava os quadros epilépticos das possessóes demoníacas.

J

á

Galeno (129 d.C.) explica-

va que a sensacáo era a mudanca qualitati-

va de um órgáo dos sentidos, e a percepcáo

se

configurava como o estado de conscien-

cia dessa mudanca (Kristensen et al., 2001).

A p

artil" do século

XVIII,

o estudo en-

tre mente e cérebro se desenvolve no esca-

po das Iocalizacóes. Inicia-se um processo de identificar regióes cerebrais com deter-

minadas funcóes. Nesse recorte da historia, podemos destacar as explicacóes de David Hartley, em 1777, que já apontava que aba-

se da sensacáo e do movimento era a subs-

tancia branca do cérebro e do cerebelo. Essa descricáo preconiza as concepcóes localiza-

cionistas, intensamente difundidas no sé-

culo XIX. O fato de que tuna acáo violenta possa nao

ter relacáo com tuna disfuncáo cerebral e a possibilidade de que urna alegacáo de am- nésia seja apenas urna simulacáo de déficit cognitivo visando a explicar UD1 desvio de dinheiro sao exemplcs de contextos da in­

terface entre a saúde mental

e a ju

stica.

A investigacáo do funcionamento ce- rebral e da expressáo do comportamen-

to faz parte de urn contexto de questiona- mentes que aproxima, ao longo da história, a psicología, a neurología e, mais recente- mente, a neuropsicologia. Essa aproxima- c;:ao se deu no fim do século XIX, na Alema- .nha, a partil" da obra

Prin

ci

pi

os

d

a

p

s

i

co

l

ogi

a

fi

sio

l

ógic

a

,

de Wundt, estabelecendo um conceito que perdurou por

m

u

ito

tempo e que dizia respeito ao corpo de pesquisas realizadas ern laboratorio (Kristensen, Al-

meida, &Gomes, 2001).

O percurso histórico do surgimento da neuropsicologia tem inicio comos estu- dos dos antigos egípcíos, que, ernbora acre- ditassem que o coracáo e o diafragma fos- sem os centros vitais,

j

á

faziam rnencóes a alteracñes comportamentais resultantes de Iesñes no cránio.

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS

ANTONIO DE PÁDUA SERAFIM ÉVERTON DUARTE

MARIA FERNANDA F. ACHÁ

Aspectos históricos da

(16)

Fonte: Luria (1981).

Responsável por programar, regu­

lar e verificar a atividade mental. Composta pelas partes anteriores do cérebro (lobo frontal).

Responsável por receber, proces­ sar e armazenar as inforrnacóes. Compéie­se das partes posteriores do cérebro (lobo parietal, occipital e tempora ll.

Responsável por regular o tónus cortical, a vigilia e os estados mentais. É composta pela for­ ma9ao reticular e pelo tronco encefálico.

UNIDADE 1 UNIDADE 11 UNIDADE 111

O que rege esse dinamismo cerebral é

a integracáo entre unidades cerebrais fun-

cionais (Tab. 1.1). Luria (1981) elaborou a teoría do sistema funcional, fazendo urna revisáo dos termos "funcao" "Iocalizacáo" e

. . . o estudo dos distúrbios cognitivos e emocionais, bern corno o estudo dos distúrbios de personalidade provocados por lesóes do cérebro, que é o órgáo do pensamento e, portanto, a sede da consciencia.

esquerdo. Embora tais pacientes nao apre-

sentassem alteracóes na fala expressiva, as lesóes resultavam na perda da capacidade de compreendé-la (Benedet, 1986).

A neuropsicologia, assirn, é de fato re-

conhecida nos meados do século XX, com os trabalhos de Alexander Romanovich Lu-

ria, que desenvolveu diversas técnicas para estudar o comportamento dos individuos acometidos por lesoes cerebrais (Crawford, Parker, & McKinlay, 1994).

Para Luria (1981), o sistema nervoso central, além da organizacao em rede, parti-

cipa de forma ativa na regulacáo das funcóes superiores (percepcáo, memória, gnosias,

praxias), visto que essas funcóes se orga- nizam como sistemas complexos, resulta- do de urna acáo e interacáo dinámica de

di

­

versas regíóes cerebrais interligadas entre si. Autores mais recentes, como Gil (2002, p.l ), definem a neuropsicologia como

TABELA 1.1

Unidades cerebraís funcionais

Franz Josef Gall (século XIX) estabe-

leceu a díferenca entre a substancia bran-

ca e a cinzenta, descrevendo a ligacao dos quadros de afasia com lesóes de lobo fron-

tal. Gall identificou 27 faculdades humanas relacionadas a áreas cerebrais, criando, as-

sim, a teoría geral da localizacáo cerebral,

ou frenología (Brett, 1953).

Embora os conceitos localizacionistas tenham perdurado por todo o século XIX, em 1820, Flourens contradiz as concepcóes de Gall, ressaltando que o cérebro funcionava como um todo e nao dependia de urna única

regí

á

o

ou área específica (Walsh, 1994).

As conceituacóes de Flourens acer-

ca do funcionamento cerebral integra-

do podem ser consideradas como o início das concepcóes associacionistas, que dis-

correm sobre urna organizacáo cerebral hierarquicamente organizada e interati-

va. Paul Broca, na metade do século XIX, descreve o quadro clínico de um paciente que apresentava perda da capacidade da fa- la em funcáo de urna lesáo na regiáo fron- tal do hemisfério esquerdo, corroborando a dificuldade em pronunciar palavras, em-

bora mantivesse preservada a compreen-

sao dos significados. As descrícóes de Bro-

ca sobre os centros cerebrais da linguagem foram observadas paralelamente por Wer-

nicke, que, urna década mais tarde, apre-

sentou casos de pacientes com lesóes no terco posterior do giro temporal superior

(17)

Fonle: Luria (1981).

• Baseando­se na observacáo de urna rnudanca de

comportamento da pessoa, sem urna etiologia

identificável

• A pessoa nao tem fatores de risco conhecidos para lesáo cerebral

• O diagnóstico é considerado

a partir da exclusáo de outros diag­ nósticos

• Sao pessoas sem história neuroló­ gica ou psiquiátrica

• Nestes quadros, as rnudancas de comportamento podem ser síntomas de urna determinada pato logia

• E ndocri nopati as • Alteracóes

metabólicas • Doencas renais • Entre outras • Doencas

• Traumatismos eran i encefálicos • Hidrocefalia

• Doenca de Alzheimer • Doenca de Parkinson • Esclerose múltipla

PESSOAS COM LESAO PESSOAS COM FATOR DE RISCO SUSPEITA DE DOEN~A OU CEREBRAL CONHECIDA PARA LESAO OU DISFUN~AO CEREBRAL TRAUMATISMO CEREBRAL

TABELA 1.2

Principais quadros que sugerem a necessidade de avalia~ao neuropsicológica

cundário, sem que esta possa ser detectada por meio de exarnes clínicos, urna vez que o tecido cortical nao está comprometido.

A

avaliacáo

é realizada por testes or- ganizados em baterías que fornecem infor-

macóes diagnósticas e permitem confirmar - ou nao - as hipóteses iniciais sobre o pa-

ciente. A partir dos resultados do exame neuropsicológico é

poss

í

vel

delimitar quais

funcóes

cerebrais estáo afetadas e quais es-

tao preservadas (Groth-Marnat, 2000). Nesse contexto, a análise neuropsi- cológica fornece urna lente através da qual podem ser observadas a natureza e a

dina

­

mica dos processos cognitivos e afetívo- -emocíonais em sua relacáo com o cére-

bro. Ainda segundo Lezak e colaboradores (2006), o processo de investigacáo neuro-

psicológica engloba a funcáo cerebral infe-

rida a partir da manifestacáo do cornpor-

tarnento.

As

principais rnanifestacóes cornpor-

tarnentais que sugerem a necessidade de urna avaliacáo neuropsicológica podem ser organizadas em tres grupos distintos (Tab.

1.2).

NEUROPSICOLOGIA FORENSE •

19

"síntoma" O termo "funcao" foi substituí-

do por "sistema funcional", que se refere a um conjunto de áreas que trabalham juntas para desempenhar um objetivo final.

As contribuicées de Luria (1981) acerca das tres unidades funcionais nao só

representaram um modelo para o enten-

dimento do funcionamento cerebral co- mo também colaborararn para o desenvol-

vimento de mecanismos de avaliacáo das possíveis

disfuncóes

cerebrais. Entre os ins- trumentos para investigar tais alteracóes, destaca-se a

avaliacáo

neuropsicológica. Segundo Lezak, Howieson e Loring (2006), essa técnica é urna importante ferramenta

para a compreensáo da relacáo entre cére- bro e comportamento e das consequéncías psicossociais de urna

poss

í

vel les

á

o

ou dis-

funcáo cerebral.

A avaliacáo neuropsicológica tem co- mo objetivo estudar a

expressáo

das

dis

­

funcóes cerebrais sobre o comportamento,

podendo essas

disfunc

ó

es

resultar de le-

sóes

ou doencas degenerativas, ou ligar-se a quadros psiquiátricos e doencas que tém a disfuncáo neurológica como resultado se-

(18)

A crescente violencia urbana e o afastamen- to do trabalho por doencas incapacitantes, por exemplo, tém exigido cada vez mais a participacáo do psicólogo no esclarecer dos fatos. Responder a questóes relacionadas a saúde mental e a justíca requer da psicolo- gía urna cornpreensáo multifatorial de to- dos os processos envolvidos.

O desenvolvimento da psiquiatría e da psicología contribuiu de forma intensa pa- ra que os

órgáos

da justica utilizem conhe- cimentos especializados no que

diz respeito

aos processos que regem a vida humana, a saúde psíquica e, nas duas últimas décadas, a neuropsicologia ( Gierowski, 2006).

De acordo com o

Online Etymology

Dictionary,

da American Psychological

As­

sociation (c2011-2013), a palavra "forense" vem do latim

forum

,

que faz alusáo ao Fo- rum Romano, a praca principal onde eram realizados os julgamentos do Império. Tra- dicionalmente, o uso do termo "forense" denota a interseccáo entre a ciencia (medi- cina, antropología, psicología) e o sistema jurídico.

Urna das primeiras ideias de psico- logía forense surge no fim de 1800, com o psicólogo alernáo Hugo Münsterberg, considerado por muitos o precursor da psicología forense. Münsterberg argu- mentava que a psicología deveria ser apli- cada a lei. Entretanto, apenas em 2001 a APA reconheceu a psicología forense co- mo urna especializacáo no ámbito do es- tudo da psicología. Seu crescimento se dá sobretudo por pesquisar e dissecar o corn- portamento humano diretamente ligado aos crimes seríais. No tocante a neuropsi- cologia forense, a história é mais recente (Hom, 2003).

A NEUROPSICOLOGIA FORENSE

Esses apontamentos convergem com as notificacóes de vários autores quanto a ampliacáo da aplicacáo da avaliacáo neu- ropsicológíca nos últimos anos, relaciona- dos principalmente ao córtex pré-frontal e as funcóes executivas (Müller, Baker, & Yeung, 2013).

Para Müller e colaboradores (2013), a relevancia do estudo do córtex pré-fron- tal se dá em

funcao

de ele ocupar cerca de um terco da massa total do córtex, além de manter relacóes múltiplas majoritariamen- te recíprocas com inúmeras outras estrutu- ras encefálicas, como conex6es com regióes de associacáo dos córtices parietal, tempo- ral e occipital, bem como com diversas es- truturas subcorticais, em especial o tálamo, além de conter as únicas representacóes corticais de inforrnacóes provenientes do sistema límbico.

Os instrumentos neuropsicológicos, portanto, se configuram como ferramentas cujo objetivo é avaliar um conjunto de ha- bilidades e competencias cognitivas como atencáo, memória, linguagem, funcóes exe- cutivas, aprendizagem, praxia construtiva e potencial intelectual, seja no contexto clíni- co, seja no forense.

Func;ao

~

1

Input

receptiva Memória e

~ Armazenamento

aprendizagem das i ntorrnacñes Pensamento

1

~

das i ntormacñes Processamento

Func;oes

~

1

Output executivas

De c.erta maneira, com base em

Lezak

e colaboradores (2006), os déficits cognitivos podem ocorrer em quatro diferentes funcóes:

20 •

SERAFIM & SAFFI (ORGS.)

(19)

Na área forense, a

avaliac

á

o

neuro- psicológica se insere na fase pericial. A pala - vra "pericia" vem do latim

perior

,

que quer dizer experimentar, saber por experiencia. Consiste em aporte especializado que pres- supóe um conhecimento técnico/científico específico que contribua no esclarecimento de algum ponto considerado imprescindí- vel para o procedimento processual.

De maneira geral, a perícia conver- ge da compreensáo psicológica e neuropsi- cológica de um caso para responder a urna questáo legal expressa pelo juiz ou por ou- tro agente (jurídico ou participante do ca- so), fundamentada nos quesitos elaborados pelo agente solicitante, cabendo ao psicó- logo perito investigar urna ampla faixa do funcionamento mental do indivíduo sub- metido

a

perícia (o periciando).

Por pericia entende-se, na prática, a aplicacáo dos métodos e técnicas da ínves-

tigac

á

o

psicológica e neuropsicológica com a finalidade de subsidiar urna acáo judicial toda vez que se instalarem dúvidas relativas

a

"saúde" psicológica do periciando. Dito de outro modo, seu resultado final é levar conhecimento técnico ao juiz, produzindo prava para

auxiliá

-

Io

em seu livre conven- cimento, bem como fornecer ao processo a documentacáo técnica do fato, o que é feíto via documentos legais - no caso em apreco, o laudo (Serafim & Saffi, 2012).

Ressalta-se que o procedimento da pe- rícia <leve ser fundamentado nos quesitos ela- borados pelo agente jurídico

(j

uiz,

promotor, procurador, delegado, advogado ), cabendo ao perito investigar urna ampla

faixa

de fun­ cionamento mental do individuo envolvido em as:ao judicial de qualquer natureza (civil, trabalhista, criminal, etc.), por meio do exa- me de sua personalidade e de suas funcóes cognitivas (Serafim & Saffi, 2012).

NEUROPSICOLOGIA FORENSE •

21

O campo da neuropsicologia forense

é relativamente novo, entretanto está evo- luindo de maneira crescente e rápida. Ape- sar de já haver vários programas de treina- mento formal, requisitos de licenciamento ou organízacóes profissionais dedicadas es- pecificamente

a

neuropsicologia forense tanto nos Estados Unidos como na Euro- pa, ainda há a necessidade de maior padro- nizacáo dessa prática, bem como de textos de referencia (Hom, 2003).

Ainda de acordo com Hom (2003), o termo "neuropsicologia forense" represen- ta urna subespecialidade da neuropsicolo- gia clínica, que diretarnente aplica práticas e principios neuropsicológicos a questóes que dizem respeito as dúvidas jurídicas e

a

tomada de

decis

á

o.

Profissionais de neuro- psicologia forense sao treinados como neu- ropsicólogos clínicos e, posteriormente, especializam-se na

aplícacao

de seus conhe- cimentos e habilidades no ámbito forense.

Diferentemente do que acorre na neu- ropsicologia clínica, que define a existen-

cia

ou nao de urna dísfuncáo das

funcoes

cognitivas, a neuropsicologia forense de- ve responder a urna questáo legal, isto

é,

se determinada dísfuncáo afeta ou nao a ca- pacidade de entendimento e de autodeter- minacáo da pessoa (Hom, 2003).

Enquanto na clínica busca-se ajudar o paciente, na assisténcia forense procura- -se descobrir a verdade dos fatos. Destaca- -se, ainda, que a avaliacáo neuropsicológica forense

tarnb

é

m

se distingue da área clíni- ca pelo fato de o solicitante ser urna terceí- ra parte, a cornunicacáo dos resultados se dar entre perito e solicitante, e a avaliacáo ser restrita a quesitos elaborados capazes de responder a determinada questao legal (Se- rafim & Saffi, 2012; Serafirn, Saffi, & Rigo- natti, 2010).

(20)

Em seu estudo de revisáo, Naudts e Hodgins (2006) consideraram correlatos neurobiológicos e comportarnento antisso-

cial na esquizofrenia. De maneira geral, es-

ses autores concluíram que poucos estudos térn sido realizados e que as amostras nao sao expressivas, o que dificulta a confirma-

yáo de hipóteses.

Analisando as funcóes executivas de 33 pacientes com história de violencia e 49 nao violentos, Fullam e Dolan (2008) nao evidenciaram díferencas significativas entre os grupos no desempenho da tare-

fa neuropsicológica. No entanto, conside-

raram que, quanto menor o quociente de inteligencia (QI), maior a associacáo com a violencia. Esses autores considerarn tam-

bém que a associacáo entre déficits neuro-

psicológicos e violencia em pacientes com esquizofrenia é limitada, e os resultados, in-

consistentes.

Em outro estudo foi investigado o his- tórico de violencia e os aspectos neuropsi-

cológicos de 301 pessoas com relato de pri-

meiro surto psicótico (Hodgins et

al., 2011).

Nesse estudo, 33,9% dos homens e 10% das mullieres tinham um registro de condena- cóes criminais; 19,9°/o dos homens e 4,60/o das mullieres tinham sido condenados por pelo menos um crime violento. Os pacientes infratores apresentaram os menores escores quanto

as

vari

á

veis

neuropsicológicas (me-

mória de trabalho,

funcóes

executivas e QI). Os autores consideram que intervencóes pontuais nos servicos de saúde para pacien-

tes de primeiro surto psicótico podem redu-

zir a ocorréncía, como também a reinciden-

cia, de comportamentos violentos.

Urna segunda vertente de estudos re- ferentes

a

avaliacáo neuropsicológica para

verificacáo

de dano cognitivo em pacien-

tes psiquiátricos forenses engloba as conse-

quéncias do transtorno de estresse pós-

-traumático (TEPT) e os pacientes com lesóes cerebrais.

Bastert e Schlafke (2011) avaliaram 125 pacientes com disfuncóes cerebrais orgáni-

Autores como Denney e Sullivan (2008) enfatizam que a utilizacáo da avalia- c;áo neuropsicológica no contexto forense é capaz de colaborar para a compreensáo da conduta humana, seja ela delituosa ou nao, no escopo da participacao das instancias bio-

lógica, psíquica, social e cultural como mo-

duladoras da express

á

o

do comporta.mento. Para isso, duas importantes linhas de estudo tém sido utilizadas. A primeira

diz

respeito

a

avaliacáo neuropsicológica para verificacáo de dano cognitivo em pacientes psiquiátricos forenses. Nestor, Kimble, Berman e Haycock (2002) analisararn 26 condenados por homi-

cídio com transtornos mentais, internos de um hospital forense de seguranca máxima, em relacáo a

funcóes

como memória, inte-

ligencia, atencáo,

funcóes

executivas e habi-

lidades académicas. Os resultados produzi-

ram dois subgrupos distintos: um definido por alta incidencia de psicose e baíxo nivel de psicopatía e um por baixa incidencia de psi- cose e alto nivel de psicopatía - cada subgru-

po correspondendo a diferencas neuropsíco- lógicas distintas em habilidades íntelectuais, dificuldades de aprendizagem e inteligencia social. Apesar dos resultados, os autores res-

saltam a necessidade de estudos com amos-

tras maiores para melhor entendirnento e confiabilidade de medidas neuropsicológicas com essa populacáo.

Já Bentall e Taylor (2006), em estudo de

revisáo,

investigaram as implicacóes do delirio paranoico no contexto neuropsico- lógico com repercussóes forenses. O quadro de paranoia nao tem sido consistentemen- te associado a nenhuma anormalidade neu-

ropsicológica especifica. Entretanto, os au-

tores destacam tres aspectos do pensamento paranoico que necessitarn de urna investiga-

crao mais aprofundada: a paranoia que pro-

duz motivacóes e experiencias perceptivas anómalas e distorcáo no raciocinio; a asso-

ciacáo da paranoia com diminuícáo da ca-

pacidade auditiva; e, por fim, a possibilidade de que exista urna forte associacáo negativa entre paranoia e autoestima.

(21)

Os conceitos localizacionistas,

a priori,

nao devem ser considerados como ideias ou con-

cepcóes simplesmente descartáveis. Open-

samento "localizacionista" possibilitou, ao longo da história, a construcáo das bases da neuropsicologia no campo

das

neurocien-

cias, visto que seu debate deu lugar, grada-

tivamente,

a

concepcáo

de urna organizacáo do sistema nervoso central pautada no fun­

cionamento integrado das várias

regi

ó

es

ce-

rebrais. Considerar as descricóes de David Hartley, Gall, Flourens, Broca, Wernicke e Luria representa tracar a linha da construcáo

CONSIDERACÜES FINAIS

da capacidade civil, da responsabilidade pe- nal e do risco de violencia. Kloppel (2009) destacou a relac

á

o

entre

disfuncóes

neuro-

cognitivas e risco de violencia, bem como reincidencia.

Al

é

rn

dos quadros psicóticos,

os estudos tém investigado a participacáo de áreas cerebrais específicas com urna va-

riedade de disfuncóes cognitivas e que se apresentam como variáveis de risco para violencia, como disfuncáo dos lobos fron-

tal, orbitofrontal/frontal/frontotemporal e/ ou

regióes

subcorticais do sistema límbico.

A

investigacáo

neuropsicológica na área penal se destaca em termos de quan-

tidade quando comparada com a inves-

tigac

á

o

da capacidade civil ou a

avaliacáo

de risco e se distribuí pelos estudos de cri-

minosos sexuais, antissociais e psicopatas

(Greene & Cahill, 2012; Kruger &

Schiffer

,

2011).

Autores como Heilbronner e colabo-

radores (2010) discutem a

diferenca

entre a avaliacáo neuropsicológica clínica e a fo-

rense, seja na área penal, seja na civil. Eles escrevem a partir da perspectiva de que o carpo de profissionais de neuropsicologia, em sua maioria, é eminentemente clínico e

com pouca experiencia em matéria penal, o que é preocupante para essa atuacáo.

NEUROPSICOLOGIA FORENSE •

23

cas com urna bateria neuropsicológica para avaliar as funcóes executivas. Os resultados demonstraram que, embora esses pacientes apresentem desempenho cognitivo abai- xo da média quando comparados a pessoas sem disfuncóes orgánicas, as diferencas nao sao tao acentuadas como se esperava. Os autores ainda enfatizam que esses resul- tados sao sugestivos de que tais pacientes possam se beneficiar de programas de rea-

bilitacáo neuropsicológica.

Pensando ainda em termos de pro-

cessos

de tratamento de pacientes forenses com retardo mental ou disfuncao cerebral orgánica, Bastert,

Schlafke,

Pein, Kupke e Fegert (2012) estudaram 15 pacientes por meio de exames de neuroimagem e avalia-

¡¡:ao neuropsicológica. Os resultados suge-

rem mais prejuízos nas capacidades execu- tivas. Além disso, faz-se necessário agrupar os pacientes por tipo de lesáo cerebral, com o objetivo de definir com mais qualidade as acóes de intervencóes,

Por

fim,

Bailie, King, Kinney e Nitch (2012) investigaram o comprometimen-

to cognitivo de 260 pacientes internos de um hospital psiquiátrico forense. Os prin- cipais resultados demonstraram que 35,80/o da amostra apresentaram escores abaixo da

m

é

día

em um teste que media a capacidade de repeticáo.

Além

disso, 65% dos partici- pantes relataram história de atraso de de-

senvolvimento, menos de 12 anos de ensino ou dificuldades de aprendizagem. Metade da amostra relatou ao menos um fator de ris- co neurológico (p. ex., história de trauma- tismo craniano com perda de consciencia). No entanto, os fatores de riscos neurológi- cos, de certa forma, nao influenciaram o de- sempenho no teste de autorrelato para fato-

res de riscos neuropsicológicos. De acordo com Bailie e colaboradores (2012), esses re- sultados corroboram a relevancia dos servi- cos neuropsicológicos em hospitais psiquiá-

tricos forenses como f arma de intervencáo. A segunda linha de estudo engloba a

avaliacáo

neuropsicológica para

verificacáo

(22)

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REFERENCIAS

de urna ciencia f

o

cada na investi

g

acáo do

funcionamento mais elem

e

ntar ao func

io

-

namento mais complexo do sistema nervoso

central peculia

r

as neurociencias.

Nao se discute que a util

iz

acáo da ava-

l

i

acá

o

neuropsicológica é capaz de colabo-

rar para a c

o

mpreensá

o

da conduta huma-

na, seja ela delituosa ou nao, no

e

scopo da

participacáo das instancias biológica, psí-

q

ui

c

a, s

o

cial e cultural como modulado-

r

as da exp

re

ssáo do comportamento. Alérn

d

i

sso, examinado

r

es fo

r

ens

e

s em g

er

al con-

cordam quanto ao c

r

escimento da a

v

al

i

a-

~o neuropsicológica e suas contr

i

buicóe

s

para o processo judicial. Sua co

n

s

o

lidacáo

e seu reconhec

i

mento na prática foren

s

e se

constroem por um process

o

temporal con-

tínuo fundamentado por meio de estudos,

da pesquisa científica e de urna conduta

humanitár

i

a e ética na busca d

o

fat

o

r ne

x

o

causal de dete

r

minado fenómeno.

O

de

s

en-

volvimento de pesquisas nessa área ainda

p

r

ecisa ser ampliado, assim com

o

a estru-

turacá

o

de centros formadores de n

e

uro-

ps

i

cólogos

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(24)

A mentira é presenca constante na vida hu- mana.

pesquisas que mostram que .as

DETEC~AO DE MENTIRAS USANDO

MÉTODOS DE NEUROCIENCIAS

A cada avance científico, novas ques- toes

bioéticas

e legais surgem para a socie- dade, que ainda se ve perdida <liante da ava- lanche de conhecimento. E, de forma geral, as grandes questóes podem ser divididas em dois grupos de técnicas: aquelas que mo- nitoram a atividade cerebral (como a .neu- roimagem e a genética) e aquelas que ama- nipulam (como a psicofarmacologia e os tratamentos biológicos) (Garland, 2004). Como tudo em ciencia, as técnicas em si nao slio éticas nem antiéticas, mas as consequén- cias legais de seu uso mais moderno ainda precisam ser plenamente compreendidas.

Para tratar dessas questóes, em vez de um arrazoado de novidades tecnológicas - que se quedaría desatualizado em pouco tempo-, optamos por nos aprofundar, oes- te capítulo, em dois temas: os noves méto- dos de deteccáo de mentiras e as implica- cóes éticas e legais das formas de ampliar a cognicáo humana. Pretendemos, com isso, revelar urna maneira de raciocinar sobre o tema, que é amplo demais para caber em

um único capítulo.

DAN 1 EL MARTI NS DE BARROS ALINE LAVORATO GAETA GERALDO BUSATTO FILHO

Neurociencias forenses

a humanidade experimentou urna conjun- tura nova de esf orcos na compreensáo do.

funcionamento desse

órgáo,

com cientis- tas e pesquisadores encarando de maneira conjunta o desafio de alcancar urna maior compreensáo do encéfalo como um todo - estrutural e funcionalmente.

Já antes

dess

é

período e, mais enfa- ticamente, em décadas mais recentes, di- ferentes campos das neurociencias vém gerando novas informacóes sobre a fisiopa- tologia dos transtornos neuropsiquiátricos e o funcionamento cerebral na normalida- de, abarcando desde a macroscopia cere- bral até mecanismos moleculares.

Do ponto de vista da psiquiatría fo- rense, um dos grandes desafios atuais é a mudanca de paradigma trazida por tais avances das neurociencias para o universo jurídico (Barros, 2008).

A fim de aumentar a consciencia públi- ca com relacáo aos beneficios a serem obtidos pela pesquisa sobre o cérebro, o Congresso dos Estados Unidos da Amé- rica designou a década iniciada em 1 ~ de janeiro de 1990 como a "Década do Cérebro". (Project on the Deeade of the Brain, 1990, traducáo nossa)

Desde o momento em que o entáo presi- dente norte-americano George Bush (pai) declarou que

(25)

Quando falamos de neurociencias fo- renses na atualidade, urna das tecnologías que vem sendo estudada para a identifica-

yao de mentirosos é a ressonáncía magnéti-

ca funcional (RMf) (Farah et al., 2014), por meio do chamado "efeito BOLD"

(Blood

Oxygenation Level Dependent factors).

Tal efeito vem da constatacáo de que a varia-

yao na proporcáo entre hemoglobina com e sem oxigénio é detectável como variacóes

de sinal por meio dos aparelhos de resso-

náncia nuclear magnética; e, urna vez que existe maior necessidade de sangue nas re- gíóes do cérebro que estáo mais ativas, o aumento de flux.o sanguíneo amplia a pro-

porcáo de hemoglobina com oxigénio, per-

mitindo a identificacáo das áreas mais ou menos ativas do encéfalo (Norris, 2006). Os estudos sugerem que existam regióes cerebrais mais importantes para controlar o comportamento, inibindo o impulso na-

tural de contar a verdade, como os

c

ó

rti

-

ces pre-frontal dorsolateral e ventromedial,

o lobo parietal inferior, a ínsula anterior e o córtex frontal medial superior. Esses dados emergem de metanálises de diversas pes-

quisas que buscaram identificar as áreas do cérebro mais ligadas

a

mentira, controlan-

do com outras tarefas cognitivas exigindo participacáo das funcoes executivas ( Chrís-

tVan Essen, Watson, Brubaker, & McDer- mott, 2009; Farah, et

al.,

2014). Os resul-

tados, evidentemente, nao sao categóricos ao apontar um "lobo da mentira': mas indi-

cam a existencia de

regi

ó

es

que apresenta- ram maior correlacáo como ato de mentir: a memória de trabalho apresenta

relacao

com os córtices pré-frontal dorsolateral e parie-

tal posterior, enquanto outras áreas, como o córtex pré-frontal ventromedial, a ínsula an-

terior e o córtex cingulado anterior, sao mais ligadas aos diversos desafios cognitivos de controle (Christ, et al., 2009).

O uso da RMf nos tribunais, contudo, pode estar mais longe do que imaginamos. Apesar de já existirem, nos Estados Unidos, empresas especializadas para a venda desse

NEUROPSICOLOGIA FORENSE •

27

pessoas chegam a mentir até 80% do tem-

po em conversas informais e que a rnaio-

ria mente empelo menos 1 de cada 4 diálo-

gos que durem mais de 10 minutos (Smith,

2005). Embora modificar a verdade como

intuito

de prejudicar alguém e obter vanta-

gem seja condenável, o fato é que a maioria dessas mentiras cotidianas serve de llame social, mantendo aparéncias e as relacóes humanas. Desde muito cedo, adquirimos a nocáo de que a mentira para beneficio pró- prio é condenável, mas pode - e <leve - ser tolerada se feita em prol do grupo. Um es- tudo com enancas de 7, 9 e 11 anos colo-

co u-as em situacóes nas quais poderiam mentir ou falar a verdade; no segundo ca- so, contudo, prejudicariam a classe inteira. Os resultados mostraram que, aos 7 anos,

7,2

%

mentiram; aos 9 anos,

16,70/o;

e, por

fim,

29,7% das criancas de 11 anos decidí- ram mentir pelo grupo (Fu, Evans, Wang, & Lee, 2008). O mesmo estudo mostrou que, assirn como aceitamos melhor a men- tira altruísta, conforme envelhecemos, con-

denamos mais a mentira egoísta.

Apesar dessa

func

á

o

social, contudo, as grandes mentiras que ocorrem em pro- cessos judiciais podem ser bastante preju-

diciais para a sociedade como um todo, e,

por isso, toda nova tecnología que surge é aventada como urna nova forma de se ten- tar detectar o perjúrio.

Os beduínos árabes, por exemplo, re-

solviam conflitos entre as versees de duas testemunhas para um mesmo fato utilizan- do a psicofisiologia: elas tinham que contar suas versees e em seguida lamber um ferro quente. Aquela que queimasse a língua seria a mentirosa, pois a ansiedade faria sua bo- ca secar por medo de ser descoberta (Kleín-

muntz & Szuck, 1984). Contudo, da simples observacáo do comportamento

a

utilizacáo de instrumentos mais sofisticados para re- gistrar alteracóes psicofisiológicas, nenhu-

ma técnica ainda se provou suficientemen- te precisa na deteccáo da calúnia (Farah, Hutchinson, Phelps, & Wagner, 2014).

(26)

Hoje, existem diversos tipos de recur- sos modificadores da atividade cerebral, e muitos ainda estáo em desenvolvimen- to com o intuito de aprimorar ou recu- perar habilidades preexistentes motoras, cognitivas e afetivas, os quais incluem fár- macos, psicofármacos, substancias naturais

PARADIGMAS PARA MODIFICACAO

DA ATIVIDADE CEREBRAL

É claro que mesmo esses critérios nao sao infaliveis, mas

constituem um cami- nho no sentido de incorporar com critério e seguranca os avances das neurociencias nos tribunais.

1.

Teste empírico: é mandatório que a téc-

nica seja testável, segundo os padrees científicos vigentes.

2

.

Publicacñes científicas: ela já <leve ter sido alvo de publicacao em revistas científicas, passando pelo processo de revisáo por pares.

3. Conhecimento das taxas de erro: <leve haver ínformacóes conhecidas sobre níveis de sígnificáncia, graus de certe- za, acurácia e precisáo, etc.

4.

Padronizacáo e controles-para ser uti- lizada, a nova tecnologia <leve já serpa- dronizada e controlável.

5. Aceita pela comunidade científica - embora sempre possa haver contro- vérsia, de forma geral, a comunidade científica <leve já reconhecer a técnica. hoje em día, urna padronizacáo de crité- rios para determinar se é ou nao adrnissível urna nova tecnologia nos tribunais, conhe- cida como "Padráo Daubert". Essa norma tem cinco pontos, que buscam cercar a no- va técnica do maior grau de certeza possível antes que as provas produzidas por ela te- nharn efeito legal (Garland, 2004). Os cin- co pontos sao:

servico com fins legais, ainda restam diver- sas dúvidas cercando essas técnicas.

Para exemplliicar com estudos espe- cíficos, em um dos experimentos que ava- liavam o papel da neuroimagem no dis- cernimento de inf ormacóes verdadeiras de falas, 16 voluntários tiveram de avaliar 210 imagens de faces, cada urna durante 4 se- gundos. Urna hora depois, era pedido que vissem 400 fotografiase distinguissem en- tre aquelas que já tinham e que nao tinham visto ( antigas vs. novas). As imagens cere- brais recrutadas nessa atividade erarn ana- lisadas por computador, com um

software

que tentava separar o padráo cerebral ati- vado na situacáo "antiga" e na situacáo "no- va". E, de fato, o programa permitiu distin- guir, apenas com base na regiáo do cérebro ativa, se os voluntários estavam vendo urna face familiar ou nova, abrindo a possibili- dade de objetivamente avaliar as memó- rias dos sujeitos e distinguir memórias ver- dadeiras de histórias inventadas. O grande problema para o uso prático de técnicas co- mo essa, contudo, é o nível de significan- cia. Para a ciencia, o fato de o experimen- to permitir a diferenciacáo correta entre 75 e 950/o das vezes é suficiente para dizer que

a técnica funciona. Isso porque o grau es- tatístico de acerto, maior do que o espera- do pelo acaso, permite afirmar que o estu- do deu certo. Porém, em termos jurídicos, é complicado utilizar com tranquilidade urna "prova" que sabidarnente tem até 25% de chance de estar errada (Rissman, Greely, & Wagner, 2010).

A metanálise de Farah e colaboradores (2014) ainda conclui que, mesmo que con- sigamos superar os desafios técnicos, os de cunho ético permanecem, já que, nos Esta- dos Unidos, as pessoas podem alegar ques- t6es de privacidade, nao se submetendo ao exarne. Questáo semelhante pode ser en- frentada no Brasil, já que ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Para tentar superar esses obstáculos, a suprema corte norte-americana utiliza,

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