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OS INSTRUMENTOS MUSICAIS COMO FORMA DE EXPRESSÃO DA

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Academic year: 2021

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S INSTRUMENTOS MUSICAIS COMO FORMA DE EXPRESSÃODA SONORIDADE INTERNA

AUTORA: ANA PAULA CHIZZOLINI CERVELLINI4

“Integrar a música à terapia é integrar o corpo, porque a música é feita, dita, tocada e cantada como manifestação corporal”.(FREGTMAN, 1989, p.17)

“A música sempre foi uma constante na vida do homem e por isso mesmo ela é tão antiga quanto a humanidade”. (LEINIG, 1977, p.13) Os povos primitivos já faziam uso de uma linguagem musical, onde os sons eram produzidos pela voz e instrumentos, aliados ao movimento corporal (dança). Desde os tempos antigos a música era aplicada com a finalidade de curar, por curandeiros e depois por médicos. E, ao longo da História, a música foi sendo deixada de lado em seu uso terapêutico, e foi passando por um aprimoramento estético cada vez maior até chegar à música eletrônica. Os instrumentos musicais da humanidade acompanharam esta evolução, que varia de acordo com cada cultura do país onde estão inseridos.

O século 20 é marcado pelo desenvolvimento tecnológico, onde as mudanças passam a acontecer em ritmo cada vez mais acelerado. Neste contexto, a Musicoterapia ressurge nos Estados Unidos, a partir do trabalho de músicos profissionais com pacientes neuróticos da Primeira Guerra Mundial. Os resultados positivos destas experiências atraíram o interesse de alguns médicos e então se passou a considerar necessário um treinamento específico para tornar o músico um terapeuta.

A Federação Mundial de Musicoterapia a definiu como

“a utilização da música e/ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo, em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e desenvolver ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração intra e interpessoal e conseqüentemente uma melhor qualidade de vida”. (RUUD.In_BRUSCIA, 2000, p.286)

No presente trabalho será dado ênfase na utilização dos instrumentos musicais no contexto terapêutico e, principalmente, no método de Musicoterapia do psiquiatra argentino Rolando Benenzon intitulado: “Não-verbal”. Este é considerado um método 4 Ana Paula Chizzolini Cervellini é musicoterapeuta (CPMT 176/06) graduada pela Faculdade

de Artes do Paraná e aluna do Curso de Formação em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano. Atua na área de Dependência Química e Clínica.

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ativo, com a utilização de instrumentos musicais (e também o movimento e a voz) como forma de expressão e de objeto intermediário entre paciente e terapeuta.

No início do trabalho, o musicoterapeuta faz uma entrevista inicial com cada paciente, preenchendo uma ficha musicoterapêutica com informações a respeito do histórico musical deste, bem como, de sua cultura, meio ambiente. Partindo do Princípio de Iso, formulado pelo mesmo teórico, cada indivíduo possui um Iso, que significa Identidade Sonora. Esta identidade se forma a partir de suas vivências musicais desde o nascimento e ao longo da vida, tem influência da família, sociedade e cultura onde o indivíduo está inserido, bem como do meio-ambiente. Estas informações são de grande importância para uma melhor análise e interação frente às expressões musicais do paciente. Durante as sessões a “fala” (verbal) não é utilizada e o musicoterapeuta participa como elemento de continência, deixando o grupo ou paciente livre para se expressar da forma como quiser e intervindo musicalmente somente quando for necessário. Não há um tempo determinado de duração, sendo o mínimo 40 minutos.

Dentro deste contexto, o instrumento musical é definido como: “todo elemento capaz de produzir um som audível ou capaz de produzir um movimento que possa ser vivenciado como mensagem, como meio de comunicação...”. (BENENZON, 1988, p.72)

Benenzon (1988, p.72) classifica os instrumentos utilizados em Musicoterapia em: instrumentos corporais, instrumentos criados, instrumentos musicais propriamente ditos e instrumentos eletrônicos.

Os instrumentos corporais foram os primeiros a ser utilizados pelo homem, desde a pré-história. O corpo humano é um dos instrumentos mais completos em termos de possibilidades sonoras, englobando fenômenos sonoros internos como a respiração ou as batidas do coração, a voz, percussão através de batidas leves, estalos, etc... Como recurso terapêutico, a utilização do corpo pode ter a finalidade de promover efeitos regressivos (no caso de sons internos);o auto conhecimento e sensibilização através do toque, entre outros...

Os instrumentos criados surgiram na humanidade quando os homens começaram a explorar possibilidades de produzir som em objetos externos, como extensão do próprio corpo. Na Musicoterapia, podem ser fabricados ou improvisados pelos pacientes ou pelo terapeuta, com materiais que se encontram presentes na vida cotidiana do paciente. Assim, procura-se estimular a criatividade e estabelecer um vínculo terapêutico maior, uma vez que o instrumento criado converte-se mais rapidamente em objeto intermediário por estar intimamente ligado ao ISO do paciente.

Os instrumentos musicais propriamente ditos englobam todos os instrumentos fabricados pelo homem ao longo do processo evolutivo da humanidade que possui utilidade sonora ou musical e que favoreça a vinculação com a Musicoterapia. Para isso eles devem ser de simples manejo, fácil deslocamento (a fim de permitir que a expressão corporal possa ocorrer de maneira livre), de possibilidades sonoras inteligíveis e claras, e que sua presença sirva como estímulo para tornar-se um objeto intermediário.

Já os instrumentos eletrônicos, que são aqueles onde um mecanismo elétrico substitui a ação mecânica, não são muito indicados neste modelo de Musicoterapia uma vez que não propiciam um vínculo terapêutico direto onde terapeuta e paciente estejam ativos, a não ser através de movimentos corporais como a dança.

Existe todo um simbolismo que envolve cada instrumento e engloba a forma, a textura, a temperatura, a qualidade e a maneira de se tocar. Dentro da sessão, cabe ao terapeuta reconhecer e se comunicar a partir desta leitura, tendo como base os dados da entrevista inicial e relação terapêutica.

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A Psicologia Corporal foi desenvolvida por W. Reich; sua metodologia visa desbloquear couraças musculares no corpo – visto por ele como o inconsciente – dos indivíduos. Lowen, cliente e mais tarde aluno de Reich, tomou parte neste trabalho e conduziu-o de uma forma diferente para criar a sua “Bioenergética”. Ambos visam o desbloqueio das couraças musculares, a diferença é que Reich pensa as energias humanas como predominantemente sexuais enquanto Lowen acredita que são energias advindas do coração e do amor do homem.

Assim, a proposta do presente trabalho é fazer uma relação direta e complementar entre a leitura feita pela Musicoterapia e a leitura corporal da Bioenergética: uma leitura da energia através dos sons amplificados pelos instrumentos musicais.

“Quando um corpo vibrante emite som, há energia posta em movimento. Ele emite energia. Os corpos e os instrumentos de música constituem emissores de energia”. (FREGTMAN, 1989, p.56)

“... o som se revela como portador de energia e os instrumentos como objetos amplificadores da energia do paciente”. (FREGTMAN, 1989, p.57)

O corpo emite energia, a sua energia interna, e o instrumento musical se torna um amplificador, um elemento que dá voz a essa expressão, tornando-a audível e possibilitando uma comunicação.

“A quantidade de energia que um indivíduo possui e como ele a usa irá determinar e refletir em sua personalidade” (LOWEN, 1982, p.41)

Então, através da energia sonora do paciente expressa pelo instrumento musical, torna-se possível perceber a personalidade do paciente. A forma como ele usa sua energia e como ele se coloca perante o mundo. Também a forma como ele se relaciona com as outras pessoas fica audível dentro deste contexto.

“Em termos humanos, tocar é um contato de sensibilidades entre pessoas”. (LOWEN, 1982, p.80)

O contato musical feito a partir dos instrumentos musicais, do movimento e da voz propõe uma interação diferenciada entre terapeuta e paciente, que depende da energia sonora (ou não/silêncio) colocada em movimento. A forma como cada paciente toca um instrumento musical externaliza sua energia e sonoridade interna, afetando os outros e se deixando afetar. Fazendo contato.

Segundo o Dicionário Silveira Bueno, a palavra tocar significa: “pôr a mão em; apalpar; ter contato com; atingir com um golpe; fazer soar; tirar sons de; executar; anunciar; fazer ouvir(um som); comover; sensibilizar; atingir; chegar a; experimentar; provar...” (p.663) A palavra tocar aplica-se tanto ao toque corporal quanto ao instrumental, com relações, contatos e conseqüências muito semelhantes.

“... ainda que o toque não necessite ser diretamente físico, é uma coisa do corpo. Quando recebo um toque, ele atinge meu corpo. O toque também é recíproco. Quando envio uma mensagem (...), também recebo uma mensagem de volta.”(LEVY, 1990, p.89) Da mesma maneira que um terapeuta corporal afeta seu paciente com um toque, o musicoterapeuta afeta seu paciente ao tocar um outro instrumento pois o som chega ao outro pelos ouvidos, pela pele, por energia sonora, e assim provoca reações fisiológica que mobilizam reações emocionais. Num grupo, todos estão se afetando e sendo afetados e dessa forma a qualidade do contato e de interação é audível na produção sonora.

“A vibração sonora possibilita uma massagem de dentro para fora. A sensação interna dessas estruturas ressonantes estimuladas evoca lembranças, facilita o emergir de sentimentos.” (CHAGAS, In: http://planeta.terra.com.br/saude/corpomente/)

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“O instrumento musical é um mediador na comunicação, um enlace transacional fundamental com o mundo exterior. Esse modo comunicacional sonoro funciona num nível subcortical, mais ligado com o inconsciente, não intelectualizado e racionalizado, que expressa simbolicamente tensões emocionais de forma direta e espontânea”. (FREGTMAN, 1989, p.52) Assim como o corpo expressa de modo mais fiel o que o indivíduo sente e sua história de vida, a expressão sonora pelo instrumento musical funciona da mesma forma. Assim, espera-se que o instrumento sirva como objeto intermediário, criando canais de comunicação ou fluidificando aqueles que se encontram rígidos ou estereotipados.

Entretanto, da mesma forma que na comunicação verbal, existem expressões nos instrumentos que não são auto-expressivas, embora sejam espontâneas e inconscientes, e mostram o estado de bloqueio do paciente. Isso fica mais evidente quando o paciente já aprendeu a tocar algum instrumento e faz “performances” que soam desconexas e empobrecidas.

“A vida emocional de um indivíduo depende da motilidade do seu corpo, que por sua vez é uma função do fluxo de excitação através dele. Os distúrbios nesse fluxo ocorrem em forma bloqueios, que se manifestam em áreas onde a motilidade do corpo é reduzida”. (LOWEN, 1982, p.47)

Considerando que é preciso movimento para se expressar através dos instrumentos, se torna mais evidente a motilidade do corpo e os distúrbios no fluxo de energia.

Lowen (1982) fala a respeito de uma linguagem corporal que engloba sinais e expressões que transmitem informações sobre o indivíduo. Essa linguagem tem sua origem no coração e na transmissão do sentimento de amor. “Sem amor a si próprio, aos demais, a natureza e ao universo, o individuo é frio, alienado e desanimado. Dos nossos corações flui o calor que nos une ao mundo em que vivemos” (LOWEN, 1982, p. 77).

Na visão da Bioenergética a energia vital – do amor – flui do coração em direção à periferia do corpo. No caminho esta energia poderá passar e ser expressa ou bloqueada por canais específicos de comunicação; são eles: boca e garganta, braços e mãos e cintura e pelve. Ao tocar um instrumento, o individuo poderá estar expressando tanto a energia que flui de seu coração como os bloqueios que porventura, ele possui em si.

Os bloqueios da boca e garganta que se manifestam em tensões nesta região que fazem a voz expressar angústia, choro reprimido, sofrimentos, dores e prazeres não-expressos o que muitas vezes se percebe numa voz fraca, chorosa ou agressiva. O mesmo ocorre na passagem do ar para tocar um instrumento de sopro.

Os bloqueios nos braços e mãos aparecem em tensões desde a região dos ombros até os músculos da mão. Dependendo do tipo de toque que o individuo aplica no instrumento fica visível tanto bloqueios no corpo quanto no som. Por exemplo: uma pessoa com tensão nesta região irá forçar incrivelmente o ombro e o pescoço para segurar o violino e poderá retirar deste um som fraco ou agressivo dependendo do tipo de bloqueio existente na mão que segura o arco. Um outro exemplo é quando existe uma desconexão entre os braços\mãos e o corpo, onde a pessoa toca um ritmo contagiante no chocalho, pandeiro ou atabaque e não movimenta o resto do corpo.

Os bloqueios na cintura e pelve relacionam-se com uma desconexão da metade superior e inferior do corpo e também no contato com o chão e podem ser observadas não tanto pela sonoridade expressa pelo instrumento, mas pelo movimento que vem aliado a isto.

“Quando cantamos ou tocamos um instrumento, somos chamados a conectar nossos ouvidos com nossas mentes, nossos olhos com nossas mãos, nossos pensamentos com nossos sentimentos, nossas fantasias inconscientes com nossas intenções

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conscientes, nossas crenças com nossas ações; nossos mundos internos com o mundo externo e a nos conectarmos aos outros.”(SAKAI, 2004, p.4)

A Musicoterapia surge como uma alternativa não só de leitura desses bloqueios, mas também como ferramenta que possibilita auto-conhecimento, auto-percepção, desbloqueio de tensões, a auto-expressividade e mudanças.

Para este fim, “procura-se ‘ensinar’ o paciente a conhecer os seus próprios sons, a ligá-los, articulá-los, buscando conseguir que os diferencie e possa dar nome aos afetos com que carrega cada um deles, entendendo que essa produção sonora pode relacionar-se com os seus conflitos”. (FREGTMAN, 1989, p.59)

Referências Bibliográficas:

BENENZON, R. Teoria da Musicoterapia. 2 ed. São Paulo: Summus, 1988. BRUSCIA, K.E. Definindo Musicoterapia. 2 ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.

CHAGAS, M. Considerações acerca da utilização da música em terapia. In:

http://planeta.terra.com.br/saude/corpomente/. Acesso em: abril de 2006. FREGTMAN, C.D. Corpo, Música e Terapia. São Paulo: Cultrix, 1989. LEINIG, C.E. Tratado de Musicoterapia. São Paulo: Sobral, 1977.

LEVY, R.B. Só posso tocar você agora! São Paulo: Ed. Brasiliense, 1990. LOWEN, A. Bioenergética.São Paulo: Summus, 1982.

SAKAI, F.A. Cantando as histórias que corporificamos.In: Convenção Brasil Latino América, Congresso Brasileiro e Encontro Paranaense de Psicoterapias Corporais. 1., 4., 9. Foz do Iguaçu: Anais... Centro Reichiano, 2004. CD-ROM.

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