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Raquel Quadros Velloso. Simulação Numérica de Problemas de Acoplamento Fluidomecânico em Meios Porosos Utilizando o Método dos Elementos Discretos

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Simula¸

ao Num´

erica de Problemas de

Acoplamento Fluidomecˆ

anico em Meios

Porosos Utilizando o M´

etodo dos Elementos

Discretos

Tese de Doutorado

Tese apresentada ao Programa de P´os–gradua¸c˜ao em Engenharia Civil da PUC–Rio como requisito parcial para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Doutor em Engenharia Civil

Orientador: Prof. Eur´ıpedes do Amaral Vargas Jr.

Rio de Janeiro Maio de 2010 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

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Simula¸

ao Num´

erica de Problemas de

Acoplamento Fluidomecˆ

anico em Meios

Porosos Utilizando o M´

etodo dos Elementos

Discretos

Tese apresentada como requisito parcial para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Doutor pelo Programa de P´os–gradua¸c˜ao em Engenharia Civil da PUC–Rio. Aprovada pela Comiss¸c˜ao Examinadora abaixo assinada.

Prof. Eur´ıpedes do Amaral Vargas Jr. Orientador Departamento de Engenharia Civil — PUC–Rio

Dr. Antˆonio Cl´audio Soares

CENPES/Petrobras

Dr. Armando Prestes Departamento de Engenharia Civil/PUC–Rio

Dr. Luis Carlos Baralho Bianco Chevron Energy Technology Company

Prof. M´arcio da Silveira Carvalho

Departamento de Engenharia Mecˆanica/PUC–Rio

Prof. Jos´e Eugenio Leal

Coordenador Setorial do Centro T´ecnico Cient´ıfico — PUC–Rio

Rio de Janeiro, 28 de Maio de 2010

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

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Raquel Quadros Velloso

Ficha Catalogr´afica

Velloso, Raquel Q.

Simula¸c˜ao Num´erica de Problemas de Acoplamento Flui-domecˆanico em Meios Porosos Utilizando o M´etodo dos Elementos Discretos / Raquel Quadros Velloso; orientador: Eur´ıpedes do Amaral Vargas Jr.. — 2010.

94 f: il. (color.) ; 30 cm

1. Tese (doutorado) - Pontif´ıcia Universidade Cat´olica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil, 2010

Inclui bibliografia.

1. Engenharia Civil – Teses. 2. M´etodo dos Elementos Dis-cretos. 3. M´etodo de Lattice-Boltzmann. 4. Dano Mecˆanico de Forma¸c˜ao. 5. Produ¸c˜ao de S´olidos. I. Vargas Jr., Eur´ıpedes do Amaral. II. Pontif´ıcia Universidade Cat´olica do Rio de Ja-neiro. Departamento de Engenharia Civil. III. T´ıtulo.

CDD: 624 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

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Agrade¸co ao Vargas pela orienta¸c˜ao, apoio e incentivo sem os quais eu n˜ao teria conclu´ıdo este trabalho.

Agrade¸co `a minha m˜ae que sempre faz tudo ficar mais f´acil e ao meu pai por ter financiado meus estudos por tanto tempo.

Agrade¸co `a Flavia, ao Jo˜ao, ao Eduardo, `a Tatiana, ao F´abio, `a Vanessa, ao Maur´ıcio, ao Bˆe, ao Bruno e `a Tessa que compreenderam e suportaram minha preocupa¸c˜ao e meu mau humor durante este longo per´ıodo. E `a tia Elisa que eu sei que mesmo de longe est´a sempre torcendo e rezando por mim. Agrade¸co ao Antˆonio Claudio Soares que sempre incentivou meu trabalho desde antes do mestrado, ao Silvestre pelas conversas e por sempre ter (e emprestar) todos os livros que algu´em precise, e ao Luis Arnaldo pelas discuss˜oes sobre o DEM.

Agrade¸co `a Rita e `a F´atima do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio por terem sempre ajudado e resolvido, com simpatia e bom humor, meus problemas burocr´aticos na PUC-Rio.

Agrade¸co ao CNPq pelo suporte financeiro.

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Velloso, Raquel Q.; Vargas Jr., Eur´ıpedes do Amaral. Simula¸c˜ao

Num´erica de Problemas de Acoplamento Fluidomecˆanico

em Meios Porosos Utilizando o M´etodo dos Elementos

Dis-cretos. Rio de Janeiro, 2010. 94p. Tese de Doutorado — Depar-tamento de Engenharia Civil, Pontif´ıcia Universidade Cat´olica do Rio de Janeiro.

Esta pesquisa ´e motivada, principalmente, por problemas da geomecˆanica do petr´oleo como produ¸c˜ao de s´olidos em po¸cos produtores e dano mecˆanico de forma¸c˜ao. Produ¸c˜ao de s´olidos ´e o fenˆomeno onde part´ıculas s´olidas s˜ao produzidas juntamente com os fluidos de um reservat´orio de forma¸c˜ao ge-ralmente pouco ou n˜ao consolidada, podendo tamb´em ocorrer em forma¸c˜oes mais resistentes. Dano de forma¸c˜ao ´e o termo usado para identificar a redu¸c˜ao da permeabilidade por diversos processos que ocorrem nas forma¸c˜oes geol´ogicas, e que reduzem a produtividade e injetividade de po¸cos de sistemas de produ¸c˜ao de ´oleo e g´as. Neste trabalho desenvolveu-se uma ferramenta num´erica com acoplamento fluidomecˆanico (mono e bif´asico) para ser utilizada em an´alises destes problemas na microescala (poro e gr˜ao). Utilizou-se o m´etodo dos elementos discretos (DEM) para a simula¸c˜ao do movimento e intera¸c˜ao das part´ıculas s´olidas e o m´etodo de lattice-Boltzmann (LBM) para a simula¸c˜ao do fluxo nos poros do meio geol´ogico. A principal diferen¸ca desta ferramenta num´erica em rela¸c˜ao a trabalhos ante-riores que acoplam o DEM com o LBM (DEM-LBM) est´a na implementa¸c˜ao da formula¸c˜ao do LBM incompress´ıvel sugerida por (He e Luo, 1997) permi-tindo a aplica¸c˜ao de gradientes de press˜ao sensivelmente maiores do que na formula¸c˜ao convencional, o que ´e importante para as simula¸c˜oes de produ¸c˜ao de s´olidos. A ferramenta desenvolvida pode ser vista como um laborat´orio virtual para testar/verificar leis constitutivas, e que aliada a dados experi-mentais poder´a melhorar o entendimento de mecanismos b´asicos envolvidos nos processos de dano mecˆanico de forma¸c˜ao e de produ¸c˜ao de s´olidos. O pro-grama computacional implementado foi verificado atrav´es de compara¸c˜oes com solu¸c˜oes anal´ıticas ou resultados publicados na literatura. Simula¸c˜oes relacionadas `as aplica¸c˜oes de interesse foram realizadas.

Palavras–chave

M´etodo dos Elementos Discretos; M´etodo de Lattice-Boltzmann; Dano Mecˆanico de Forma¸c˜ao; Produ¸c˜ao de S´olidos.

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Velloso, Raquel Q.; Vargas Jr., Eur´ıpedes do Amaral (Advisor). Numerical Analysis of Fluid Mechanical Coupling in Po-rous Media Using the Discrete Element Method. Rio de Janeiro, 2010. 94p. DSc Thesis — Departamento de Engenharia Civil, Pontif´ıcia Universidade Cat´olica do Rio de Janeiro.

The present research was mainly motivated by petroleum geomechanics pro-blems such as solids production and formation damage. Solids production is related to phenomena whereby solid particles are produced together with fluids from reservoir rocks having little or no consolidation although it is re-ported that those phenomena have already happened to more resistant ma-terials. Formation damage is the term used in order to identify permeability reduction occurring for various processes and which reduce productivity and injectivity of wells in oil and gas production systems. In the present work, a numerical tool considering fluidmechanical coupling (one and two phase flow) was developed for analyses in the microscale (pores and grains). The DEM (Discrete Element Method) was used for the simulation of motion and interaction of solid particles and the lattice Boltzmann method (LBM) for the simulation of flow inside pores of the geological media. The main diffe-rence between the developed tool and the ones developed in previous works that couple DEM with LBM is the introduction of incompressible LBM as suggested by (He e Luo, 1997), one that allows the application of pressure gradients considerably larger than the conventional formulation which is im-portant for the simulation of solids production. The developed tool can be viewed as a virtual laboratory for testing and verification of constitutive laws which together with experimental data may improve the understanding of basic phenomena involved in formation damage and solids production. The numerical implementation was verified through comparisons with analyti-cal solutions and other results from the literature. Simulations related to practical applications were carried out and discussed.

Keywords

Discrete Element Method; Lattice-Boltzmann Method; Formation Da-mage; Solid Production.

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1 Introdu¸c˜ao 12

1.1 Motiva¸c˜ao e Objetivo 12

1.2 Organiza¸c˜ao 14

2 Metodologia 15

2.1 Introdu¸c˜ao 15

2.2 M´etodo dos Elementos Discretos 18

2.3 M´etodo de Lattice-Boltzmann 24 2.4 Acoplamento Fluidomecˆanico 38 3 Implementa¸c˜ao 41 4 Resultados 43 4.1 Introdu¸c˜ao 43 4.2 Verifica¸c˜oes 44

4.3 Rela¸c˜ao Tens˜ao - Deforma¸c˜ao - Permeabilidade 52

4.4 Produ¸c˜ao de S´olidos 62

4.5 For¸ca Capilar 72

5 Conclus˜oes 79

Referˆencias Bibliogr´aficas 82

A Velocidades e Coeficientes das Redes D2Q9 e D3Q19 91

B Condi¸c˜ao de Contorno de Press˜ao Prescrita 93

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2.1 Ciclo de c´alculo do DEM 19

2.2 Representa¸c˜ao gr´afica do modelo de contato entre part´ıculas. `A

esquerda na dire¸c˜ao normal e `a direita na dire¸c˜ao cisalhante. 21

2.3 Nota¸c˜ao usada para descrever os contatos 22

2.4 Rede D2Q9 - duas dimens˜oes, nove velocidades 28

2.5 Dom´ınio Peri´odico 31

2.6 Condi¸c˜ao de Contorno Peri´odico 31

2.7 Componentes da press˜ao nas proximidades da interface. 35

2.8 Etapa de cria¸c˜ao da tens˜ao interfacial no RKLBM. As cores azul e vermelha representam as duas fases e o cinza uma combina¸c˜ao das

duas. 36

2.9 Etapa de redistribui¸c˜ao das cores no RKLBM. 37

2.10 Molhabilidade dos s´olidos no RKLBM. 38

2.11 Exemplo de campo de fra¸c˜ao de s´olidos 39

3.1 Esquema de acoplamento fluidomecˆanico 42

4.1 Perfil de velocidade - LBM convencional - ∆P = 16.7P a 45

4.2 Perfil de velocidade - LBM incompress´ıvel - ∆P = 16.7P a 45

4.3 Perfil de velocidade - LBM incompress´ıvel - ∆P = 167P a 46

4.4 Geometria e condi¸c˜oes de contorno do exemplo bidimensional para

a verifica¸c˜ao da determina¸c˜ao da for¸ca de arraste 47

4.5 Compara¸c˜ao entre os resultados obtidos com o LBM incompress´ıvel

e os resultados apresentados por Richou et al. (2004) 47

4.6 Compara¸c˜ao entre a solu¸c˜ao anal´ıtica e a solu¸c˜ao num´erica para a

for¸ca de arraste numa esfera 48

4.7 Condi¸c˜ao de regime permanente para R = 0.36mm. O gr´afico `a

direita mostra o perfil de press˜ao na reta que passa pelo centro da

bolha y = 0.8mm. 49

4.8 LBM bif´asico - Verifica¸c˜ao da lei de Laplace 49

4.9 Condi¸c˜ao inicial para a simula¸c˜ao de ˆangulos de contatos est´aticos. 50

4.10 Diferentes ˆangulos de contato simulados com o LBM bif´asico 50

4.11 Fluxo bif´asico em um tubo 3D. `A esquerda o esquema da simula¸c˜ao.

`

A direita a curva de permeabilidade relativa. As linhas representam

a solu¸c˜ao anal´ıtica e os pontos os resultados do LBM. 52

4.12 Metodologia para a obten¸c˜ao das rela¸c˜oes σ × ǫ × k utilizando o

DEM e o LBM 53

4.13 Amostra sint´etica 54

4.14 Curvas tens˜ao-deforma¸c˜ao do arenito Rio Bonito (Barroso, 2002)

e da amostra sint´etica (DEM) - Ensaios CTC 55

4.15 Curvas tens˜ao-deforma¸c˜ao da amostra sint´etica (DEM) para a

simula¸c˜ao de deforma¸c˜ao uniaxial 56

4.16 Estrutura porosa (em azul) utilizada nas simula¸c˜oes de fluxo. 57

4.17 Porosidade nas se¸c˜oes tranversais ao fluxo em cada uma das dire¸c˜oes. 58

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de fluxo. 59 4.19 Curvas tens˜ao-deforma¸c˜ao para a simula¸c˜ao de deforma¸c˜ao uniaxial

e a varia¸c˜ao da permeabilidade. Os marcadores indicam os est´agios

onde foram realizadas as simula¸c˜oes de fluxo. 60

4.20 Curvas de permeabilidade relativa para a amostra sint´etica para 2

est´agios de tens˜ao diferentes. 61

4.21 Distribui¸c˜ao dos fluidos na estrutura porosa para diversas

sa-tura¸c˜oes, para o estado de tens˜ao ET0 61

4.22 Distribui¸c˜ao dos fluidos na estrutura porosa para diversas

sa-tura¸c˜oes, para o estado de tens˜ao ET1 62

4.23 Comportamento tens˜ao-deforma¸c˜ao, simulado com o DEM, do

material granular usado nas simula¸c˜oes de produ¸c˜ao de s´olidos 63

4.24 Regi˜ao de simula¸c˜ao 64

4.25 Geometria e condi¸c˜ao de contorno para as simula¸c˜oes de produ¸c˜ao

de s´olidos 65

4.26 Curvas de produ¸c˜ao de s´olidos (σc em MPa, ∆P/L em MPa/m) 66

4.27 Posi¸c˜ao das part´ıculas. t = 0 67

4.28 Posi¸c˜ao das part´ıculas. t = 0.062s 67

4.29 Posi¸c˜ao das part´ıculas. t = 0.124s 68

4.30 Posi¸c˜ao das part´ıculas. t = 0.186s 68

4.31 Posi¸c˜ao das part´ıculas. t = 0.248s 69

4.32 Cimenta¸c˜ao entre part´ıculas no tempo t = 0.248s. Os pontos azuis

mostram as cimenta¸c˜oes entre gr˜aos que permaneceram intactas 70

4.33 Campo de velocidades (em m/s). t = 0.248s 71

4.34 Campo de press˜oes (em Pa). t = 0.248s 71

4.35 Geometria de duas placas paralelas e o menisco entre elas. 73

4.36 Condi¸c˜ao inicial para as simula¸c˜oes de for¸ca capilar entre placas pa-ralelas. Os s´olidos est˜ao representados em cinza, o fluido molhante

em vermelho e o fluido n˜ao molhante azul. 73

4.37 Condi¸c˜ao de equil´ıbrio para as simula¸c˜oes de for¸ca capilar entre placas paralelas. Os s´olidos est˜ao representados em cinza, o fluido

molhante em vermelho e o fluido n˜ao molhante em azul. 74

4.38 Geometria da simula¸c˜ao de um menisco entre duas part´ıculas

circulares. 75

4.39 Corte no menisco e as for¸ca atuantes. A for¸ca resultante do primeiro

termo da soma ´e nula. 75

4.40 Configura¸c˜oes dos meniscos na condi¸c˜ao de regime permanente. 76

4.41 Varia¸c˜ao da for¸ca capilar com o ˆangulo de molhado. A linha se

refere `a eq. (4.18) e os pontos aos valores obtidos numericamente. 76

4.42 Varia¸c˜ao da for¸ca capilar com o deslocamento da part´ıcula. A linha vermelha representa a for¸ca calculada atrav´es da eq. (4.18) e a

linha azul o resultado da simula¸c˜ao com RKLBM. 78

A.1 Dire¸c˜ao das velocidades discretas da rede D2Q9 91

A.2 Dire¸c˜ao das velocidades discretas da rede D3Q19 92

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4.1 Parˆametros da simula¸c˜ao de fluxo entre duas placas paralelas. 44

4.2 Parˆametros da simula¸c˜ao da for¸ca transferida para uma part´ıcula

s´olida. 46

4.3 Parˆametros da simula¸c˜ao da lei de Laplace. 49

4.4 Dados para a contru¸c˜ao da amostra sint´etica 54

4.5 Parˆametros micromecˆanicos do material sint´etico 55

4.6 Parˆametros para as simula¸c˜oes de fluxo 56

4.7 Valores de permeabilidade absoluta (em darcy) 58

4.8 Parˆametros micromecˆanicos do material 63

4.9 Parˆametros geomecˆanicos macrosc´opicos do material 63

4.10 Parˆametros de fluxo das simula¸c˜oes 64

4.11 Dados para a simula¸c˜ao das placas paralelas. 73

4.12 For¸ca capilar entre duas placas paralelas. 74

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1.1

Motiva¸c˜ao e Objetivo

Esta pesquisa ´e motivada, principalmente, pelos problemas de produ¸c˜ao de s´olidos em po¸cos produtores de petr´oleo e de dano mecˆanico de forma¸c˜ao. Produ¸c˜ao de s´olidos ´e o fenˆomeno onde part´ıculas s´olidas s˜ao produzidas juntamente com os fluidos de um reservat´orio de forma¸c˜ao geralmente pouco ou n˜ao consolidada, podendo tamb´em ocorrer em forma¸c˜oes mais resistentes.

H´a um grande n´umero de problemas que surgem com a produ¸c˜ao de s´olidos

excessiva tais como a instabilidade do po¸co, dano nos equipamentos de sub-superf´ıcie e de sub-superf´ıcie, subsidˆencia da sub-superf´ıcie, e ainda o problema ambiental da disposi¸c˜ao dos s´olidos produzidos. Em alguns casos, a produ¸c˜ao de s´olidos pode levar `a perda do po¸co causando grandes danos econˆomicos e ambientais (Bianco, 1999, Wang et al, 2004).

Os diferentes processos envolvidos na produ¸c˜ao de s´olidos est˜ao associa-dos `a deforma¸c˜ao e ruptura da rocha, `a intera¸c˜ao rocha-fluido, e ao transporte de fluidos e s´olidos. A produ¸c˜ao de s´olidos pode ser descrita por dois mecanis-mos (Vardoulakis et al., 1996):

1. Instabilidades mecˆanicas e ruptura localizada da rocha na vizinhan¸ca do po¸co devido a concentra¸c˜oes de tens˜ao;

2. Instabilidades hidromecˆanicas devido a eros˜ao, que se manifestam na desagrega¸c˜ao e transporte das part´ıculas, causadas pela a¸c˜ao das for¸cas de percola¸c˜ao.

Estes dois mecanismos s˜ao acoplados, pois a concentra¸c˜ao de tens˜oes leva `a ruptura localizada que aumenta a quantidade de part´ıculas desagregadas da matriz rochosa que s˜ao transportadas pelo fluxo de fluido. Por outro lado, o carreamento das part´ıculas aumenta a porosidade da rocha causando o reajuste das for¸cas intergranulares levando ao aumento da zona rompida da rocha.

Os modelos que tratam da previs˜ao da taxa de produ¸c˜ao de s´olidos e do volume produzido s˜ao geralmente modelos baseados na

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mecˆanica do cont´ınuo com acoplamento fluidomecˆanico que incorporam o fenˆomeno de eros˜ao (Vardoulakis et al., 1996, Papamichos, 2001, Wang, 2003, Detournay et al., 2006). Para a solu¸c˜ao deste problema ´e necess´ario o estabe-lecimento de uma rela¸c˜ao constitutiva para a perda de massa s´olida da matriz rochosa. Diversas rela¸c˜oes constitutivas para a eros˜ao tˆem sido propostas para o estudo de produ¸c˜ao de s´olidos na tentativa de reproduzir ensaios de laborat´orio. Estas rela¸c˜oes s˜ao inspiradas nas teorias de filtra¸c˜ao de finos atrav´es de uma matriz s´olida grosseira. Al´em da lei constitutiva da eros˜ao (que relaciona o processo de eros˜ao ao fluxo nos poros) s˜ao necess´arias tamb´em rela¸c˜oes que descrevam a influˆencia dos processos mecˆanicos (deforma¸c˜ao e ruptura) na eros˜ao, da eros˜ao nos processos mecˆanicos, e da eros˜ao no fluxo.

Todos estes mecanismos que acoplam os processos mecˆanico, de fluxo, e de eros˜ao s˜ao mecanismos na escala microsc´opica, pois a desagrega¸c˜ao de uma part´ıcula da matriz rochosa e seu transporte atrav´es dos poros ´e melhor descrito no n´ıvel da part´ıcula e do poro. Um melhor entendimento destes mecanismos fundamentais pode auxiliar no aprimoramento destas rela¸c˜oes constitutivas necess´arias para a simula¸c˜ao de previs˜ao da produ¸c˜ao de s´olidos.

Um outro problema da geomecˆanica do petr´oleo que tamb´em est´a rela-cionado a mecanismos que ocorrem na escala do poro ´e o dano de forma¸c˜ao. Dano de forma¸c˜ao ´e o termo usado para identificar a redu¸c˜ao da permeabilidade por diversos processos que ocorrem nas forma¸c˜oes geol´ogicas, e que reduzem a produtividade e injetividade de po¸cos de sistemas de produ¸c˜ao de ´oleo e g´as. Estes processos est˜ao relacionados `a incompatibilidade fluido-fluido e rocha-fluido, e invas˜ao e migra¸c˜ao de finos, entre outros (Civan, 2007). Um processo relevante, pouco abordado na literatura, que tamb´em causa a diminui¸c˜ao da permeabilidade ´e o chamado dano mecˆanico da forma¸c˜ao (Soares, 2007).

Duas condi¸c˜oes podem induzir a danos mecˆanicos nas forma¸c˜oes rochosas. A primeira ocorre na perfura¸c˜ao do po¸co que altera o estado de tens˜oes no seu entorno. Esta mudan¸ca do estado de tens˜oes causa uma deforma¸c˜ao na rocha que pode induzir a uma perda significativa da permeabilidade. A outra condi¸c˜ao ocorre durante a produ¸c˜ao, que provoca uma queda de poropress˜ao, aumentando a tens˜ao efetiva o que consequentemente produz deforma¸c˜oes na rocha reduzindo a sua permeabilidade. O conhecimento destas rela¸c˜oes tens˜ao-deforma¸c˜ao-permeabilidade de uma rocha produtora de petr´oleo pode ser uma informa¸c˜ao importante para a ado¸c˜ao de uma pol´ıtica de explota¸c˜ao adequada a fim de se obter um maior fator de recupera¸c˜ao final de hidrocarbonetos de um campo (Soares, 2007).

O objetivo desta tese ´e desenvolver uma ferramenta num´erica com aco-plamento fluidomecˆanico (mono e bif´asico) para problemas na escala do poro e

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da part´ıcula s´olida. Esta ferramenta pode ser vista como um laborat´orio virtual para testar/verificar leis constitutivas, e que aliada a dados experimentais po-der´a melhorar o entendimento de mecanismos b´asicos envolvidos nos processos de dano mecˆanico de forma¸c˜ao e de produ¸c˜ao de s´olidos.

1.2

Organiza¸c˜ao

Este documento est´a organizado da seguinte maneira. O Cap´ıtulo 2 des-creve os m´etodos utilizados no sistema fluidomecˆanico acoplado. S˜ao apresen-tados o m´etodo do Elemento Discreto, utilizado na simula¸c˜ao dos processos mecˆanicos, o m´etodo de lattice-Boltzmann para a simula¸c˜ao do fluxo mono e bif´asico no n´ıvel do poro, e o esquema de acoplamento entre estes dois m´etodos. No Cap´ıtulo 3 s˜ao apresentadas as principais caracter´ısticas da implementa¸c˜ao da ferramenta num´erica, enquanto que no Cap´ıtulo 4 s˜ao apresentados os re-sultados das simula¸c˜oes realizadas. Foram realizadas simula¸c˜oes de verifica¸c˜ao dos m´etodos e da implementa¸c˜ao e simula¸c˜oes relacionadas aos problemas de dano de forma¸c˜ao e produ¸c˜ao de s´olidos. E finalmente no Cap´ıtulo 5 s˜ao dis-cutidos os resultados obtidos e apresenta-se as conclus˜oes e as sugest˜oes para futuros desenvolvimentos e aplica¸c˜oes da ferramenta num´erica desenvolvida.

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2.1

Introdu¸c˜ao

A modelagem num´erica na escala da part´ıcula e do poro pode ser uma

ferramenta ´util no estudo dos mecanismos fundamentais de fenˆomenos como

o dano de forma¸c˜ao e a produ¸c˜ao de s´olidos. Esta modelagem pode ser feita atrav´es do acoplamento de um m´etodo que trate do movimento das part´ıculas e a intera¸c˜ao entre elas, com um m´etodo que considere o fluxo de fluidos nos poros deste sistema de part´ıculas. Para a simula¸c˜ao do movimento e intera¸c˜ao das part´ıculas o m´etodo dos elementos discretos (Discrete Element Method -DEM) (Cundall e Strack, 1979) ´e amplamente empregado para estudo de solos e rochas.

O acoplamento do fluxo com um modelo discreto de part´ıculas pode ser feito de diversas formas. A maneira mais simplificada utiliza um mo-delo de fluxo baseado na lei de Darcy para um meio poroso cont´ınuo su-perposto a um modelo de part´ıculas discretas. Algumas implementa¸c˜oes deste acoplamento foram utilizadas para o estudo de produ¸c˜ao de areia ou de fraturamento hidr´aulico (O’Connor et al, 1997, Dorfmann et al., 1997, Preece et al., 1999, Bruno et al., 2001, Li et al, 2006). Uma outra abordagem resolve as equa¸c˜oes de Navier-Stokes atrav´es de uma t´ecnica de m´edia lo-cal desenvolvida por Anderson e Jackson (Anderson e Jackson, 1967). Neste m´etodo as vari´aveis de fluxo s˜ao resolvidas numa c´elula que cont´em v´arias part´ıculas s´olidas e as intera¸c˜oes fluido-part´ıculas s˜ao consideradas atrav´es de rela¸c˜oes semi-emp´ıricas. Este m´etodo tem sido aplicado em estudos de flui-diza¸c˜ao (Xu e Yu, 1997, Di Renzo e Di Maio, 2007).

A principal caracter´ıstica destas duas abordagens ´e que o movimento das part´ıculas e o fluxo nos poros s˜ao tratados em escalas diferentes. Enquanto que a parte mecˆanica ´e considerada no n´ıvel da part´ıcula de forma discreta, o fluxo ´e tratado numa escala macrosc´opica considerando um meio poroso cont´ınuo. Desta forma os detalhes do fluxo nos poros e sua influˆencia no movimento das part´ıculas s˜ao desconsiderados.

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O fluxo nos poros pode ser simulado numa rede de poros (Blunt e King, 1991). Uma rede de poros ´e uma representa¸c˜ao simplificada do meio poroso constitu´ıda de poros conectados por condutos. As maiores dificuldades relacionadas a rede de poros s˜ao a cria¸c˜ao da geometria da rede de poros (poros-condutos) a partir da geometria real do meio poroso, e a determina¸c˜ao dos parˆametros de condutˆancia necess´arios para a simula¸c˜ao de fluxo na rede de poros. Li (Li, 2002) estudou a varia¸c˜ao da permeabilidade absoluta com o estado de tens˜oes usando um modelo de part´ıculas acoplado a uma rede de poros.

A simula¸c˜ao do fluxo nos poros com sua real geometria exige a solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Navier-Stokes neste dom´ınio. Hu (Hu, 1996) e Maury (Maury, 1999) apresentaram simula¸c˜oes de acoplamento de movimento de part´ıculas e fluxo de fluido utilizando o m´etodo dos elementos finitos, para problemas a duas dimens˜oes, com fra¸c˜ao de s´olidos baixa, e sem intera¸c˜ao entre part´ıculas. Esta abordagem parece ser pouco eficiente visto que ´e necess´ario que a malha seja refeita ao longo da simula¸c˜ao devido o movimento das part´ıculas. A t´ecnica da fronteira imersa (Fogelson e Peskin, 1988, Hofler, 2000) e o m´etodo do dom´ınio fict´ıcio (Glowinski et al., 1999) n˜ao apresentam esta des-vantagem e parecem ser m´etodos eficientes para o estudo de acoplamento de fluxo monof´asico com o movimento de part´ıculas s´olidas.

Um m´etodo alternativo para a solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Navier-Stokes ´e o m´etodo de lattice-Boltzmann (McNamara e Zanetti, 1988, Qian et al, 1992). Este m´etodo tem sido utilizado em simula¸c˜oes de fluxo em geometrias comple-xas e tem se mostrado mais eficiente computacionalmente, nestas condi¸c˜oes, do que os m´etodos tradicionais (Bernsdorf et al., 1999, Geller et al., 2006). Nourgaliev et al. (Nourgaliev et al., 2003) sugerem que o m´etodo de lattice-Boltzmann (Lattice-lattice-Boltzmann Method - LBM) pertence `a classe dos resol-vedores (“solvers”) pseudocompress´ıveis das equa¸c˜oes de Navier-Stokes para fluxo incompress´ıvel e, como tal, o LBM possui as vantagens (simplicidade do algor´ıtimo e a ausˆencia da solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Poisson) e as desvantagens (intervalo de tempo pequeno e compressibilidade artificial) caracter´ısticas da classe. Segundo Nourgaliev et al. (Nourgaliev et al., 2003), o LBM seria com-putacionalmente compar´avel ao m´etodo de “compressibilidade artificial”para

fluxos em geometrias complexas com n´umero de Reynolds alto e moderado,

e superior em fluxos com n´umero de Reynolds baixo, como fluxo em meios

porosos.

Uma vantagem do LBM ´e sua capacidade de simular fluido bif´asico em geometrias complexas, e ele tem sido muito utilizado em simula¸c˜oes de fluxo mono e bif´asico em meios porosos como solos e rochas. Sua

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principal aplica¸c˜ao nesta ´area tem sido a determina¸c˜ao de permea-bilidades absoluta e relativa de rochas (Gunstensen e Rothman, 1993,

Ferreol e Rothman, 1995, Martys e Chen, 1996, Olson e Rothman, 1997,

Hazlett et al., 1998, Keehm, 2003, Kutay et al., 2006, Ramstad et al, 2009). A determina¸c˜ao de rela¸c˜oes satura¸c˜ao x press˜ao capilar temb´em tem sido es-tudada com este m´etodo (Pan, 2004, Schaap et al., 2006, Porter et al., 2009). Ladd (Ladd, 1994) propˆos a aplica¸c˜ao do LBM na an´alise de part´ıculas sus-pensas em fluido acoplando o LBM ao movimento de part´ıculas s´olidas que n˜ao interagem entre si. Cook e Noble (Cook e Noble, 2004) acoplaram o LBM ao m´etodo dos elementos discretos para estudo de eros˜ao de leito a duas dimens˜oes. Boutt et al. (Boutt et al., 2007) aplicaram o sistema acoplado LBDEM `a modelagem do problema de fraturamento hidr´aulico natural.

Dadas as caracter´ısticas dos problemas de interesse neste trabalho (fluxo mono e bif´asico no meio poroso - geometria complexa - e acoplamento de movimentos das part´ıculas com o fluxo), a literatura parece indicar que o LBM ´e, atualmente, o m´etodo mais adequado para se atingir os objetivos pretendidos.

Um problema associado ao LBM convencional na solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Navier-Stokes para fluidos incompress´ıveis ´e o efeito de compressibilidade (He e Luo, 1997). Este efeito se torna relevante principalmente quando se utiliza a condi¸c˜ao de diferencial de press˜ao imposta nos contornos, que ´e a condi¸c˜ao de contorno adequada a estudos de produ¸c˜ao de s´olidos, por exemplo. Neste trabalho ser´a utilizada a formula¸c˜ao proposta por He e Luo (He e Luo, 1997), acoplada ao DEM, que reduz o efeito de compressibilidade no LBM, o que permite a aplica¸c˜ao de diferenciais de press˜ao maiores do que o LBM convencional.

Um aspecto que parece ser relevante no processo de produ¸c˜ao de s´olidos e que tem sido pouco abordado na simula¸c˜ao na microescala ´e a for¸ca capilar entre gr˜aos. Gili e Alonso (Gili e Alonso, 2002) criaram um modelo acoplado utilizando o DEM e uma rede de poros onde a for¸ca capilar ´e calculada

a partir da geometria estabelecida do menisco entre duas esferas. Iba˜nez

(Iba˜nez, 2008) utilizou uma abordagem semelhante para estudos relacionados

a solos residuais. Estes dois trabalhos tratam de dom´ınios bidimensionais e tˆem sua aplica¸c˜ao voltada a estudos de solos n˜ao saturados. Grof et al. (Grof et al., 2009) usaram uma solu¸c˜ao aproximada para a for¸ca capilar entre duas esferas numa simula¸c˜ao acoplada utilizando o DEM e a solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Navier-Stokes no regime permanente pelo m´etodo dos volumes finitos num dom´ınio tridimensional.

Neste cap´ıtulo s˜ao apresentados os m´etodos utilizados do

desenvolvi-PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

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mento do sistema fluidomecˆanico acoplado. Inicialmente ser´a descrito o m´etodo dos elementos discretos que trata da movimenta¸c˜ao e intera¸c˜ao das part´ıculas s´olidas, em seguida ser´a apresentado o m´etodo de lattice-Boltzmann que resolve o fluxo mono e bif´asico que ocorre nos poros do meio geol´ogico, e finalmente ser´a apresentado o esquema de acoplamento entre estes dois m´etodos.

2.2

M´etodo dos Elementos Discretos

O movimento e a intera¸c˜ao entre part´ıculas s´olidas s˜ao modelados, neste trabalho, utilizando o m´etodo dos elementos discretos (Discrete Element Method - DEM). O DEM foi introduzido por Cundall (Cundall, 1971) para a an´alise de problemas de mecˆanica das rochas e depois aplicado a materiais granulares por Cundall e Strack (Cundall e Strack, 1979).

No DEM, a intera¸c˜ao entre as part´ıculas s´olidas (discos em 2D e esferas em 3D) ´e tratada como um processo dinˆamico. As for¸cas dos contatos e desloca-mentos de um conjunto de part´ıculas s˜ao determinados pelo acompanhamento dos movimentos de part´ıculas individuais. Os movimentos s˜ao resultados da

propaga¸c˜ao, atrav´es de um sistema de part´ıculas, dos dist´urbios causados por

um movimento ou for¸ca impostos `as paredes ou part´ıculas. Este ´e um processo

dinˆamico onde a velocidade de propaga¸c˜ao do dist´urbio depende das

proprie-dades f´ısicas do sistema discreto. Admite-se que este comportamento dinˆamico pode ser solucionado desde que se escolha um intervalo de tempo t˜ao pequeno

de forma que o dist´urbio em uma part´ıcula n˜ao se propague al´em das part´ıculas

vizinhas imediatas. Desta forma, em qualquer tempo as for¸cas resultantes em cada part´ıcula podem ser determinadas exclusivamente a partir da intera¸c˜ao desta part´ıcula com as part´ıculas que fazem contato com ela. Como a

veloci-dade de propaga¸c˜ao do dist´urbio ´e fun¸c˜ao das propriedades f´ısicas do sistema

discreto, o intervalo de tempo deve ser escolhido para satisfazer esta condi¸c˜ao. O uso de um esquema num´erico expl´ıcito, no lugar de um impl´ıcito,

torna poss´ıvel a simula¸c˜ao do comportamento n˜ao-linear de um grande n´umero

de part´ıculas sem a exigˆencia de mem´oria excessiva ou a necessidade de um procedimento iterativo. Os c´alculos do DEM alternam a aplica¸c˜ao da lei de Newton `as part´ıculas e a lei for¸ca-deslocamento nos contatos (fig. (2.1)).

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(19)

Figura 2.1: Ciclo de c´alculo do DEM

A segunda lei de Newton do movimento ´e usada para descrever o movimento de uma part´ıcula individual. A equa¸c˜ao que governa o movimento translacional de uma part´ıcula ´e:

mdv dt = Fa+ nc X j=1 Fc,j+ mg (2.1)

onde m e v s˜ao, respectivamente, a massa e a velocidade da part´ıcula, e nc ´e o

n´umero de contatos da part´ıcula. As for¸cas envolvidas s˜ao a for¸ca aplicada Fa

(que pode ser, por exemplo, a for¸ca de fluxo), a for¸ca gravitacional mg, e as

for¸cas nos contatos entre esta part´ıcula e as que fazem contato com ela, Fc,j.

A equa¸c˜ao que governa o movimento rotacional da part´ıcula ´e:

Idω dt = Ta+ nc X j=1 Tc,j (2.2)

onde ω e I s˜ao, respectivamente, a velocidade angular e o momento de in´ercia

da part´ıcula, Tc,j ´e o torque gerado pelas for¸cas de contato entre esta part´ıcula

e as que fazem contato com ela, e Ta ´e o torque aplicado na part´ıcula. As

equa¸c˜oes do movimento (2.1) e (2.2) s˜ao integradas usando um procedimento de diferen¸cas finitas centrais. A velocidade translacional, v, e a velocidade angular, ω, s˜ao calculadas no centro do intervalo de tempo, enquanto que acelera¸c˜oes, deslocamento, for¸ca e momento s˜ao calculadas nos seus extremos. Desta forma calcula-se as velocidades no tempo (t + ∆t/2):

v(t+∆t/2) = v(t−∆t/2)+ F t m + g  ∆t (2.3) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(20)

ω(t+∆t/2) = ω(t−∆t/2)+T t

I ∆t (2.4)

sendo F e T a for¸ca e torque resultantes (devidos `as for¸cas aplicadas e `as for¸cas dos contatos). E com as velocidades obt´em-se a posi¸c˜ao do centr´oide e a rota¸c˜ao da part´ıcula:

x(t+∆t) = xt+ v(t+∆t/2)∆t (2.5)

θ(t+∆t)= θt+ ω(t+∆t/2)∆t (2.6)

Sistemas dinˆamicos naturais cont´em algum grau de amortecimento das vibra¸c˜oes que ocorrem, caso contr´ario o sistema ia oscilar indefinidamente quando submetido a carregamentos. V´arios tipos de amortecimentos s˜ao pro-postos para a solu¸c˜ao de problemas pelo DEM. Detalhes sobre estes tipos de amortecimentos utilizados no DEM s˜ao apresentados e discutidos por Figueiredo (Figueiredo, 1991) e no manual do software comercial PFC2D (Itasca, 2002). Para os problemas quasi-est´aticos, como os abordados neste tra-balho, o amortecimento local n˜ao-viscoso ´e indicado (Itasca, 2002). No amor-tecimento local um termo de amoramor-tecimento ´e adicionado `as equa¸c˜oes de mo-vimento (eqs. (2.1) e (2.2)) de forma que as velocidades passam a ser dadas por: v(t+∆t/2) = v(t−∆t/2)+ F t m + g + Fdt m  ∆t (2.7) ω(t+∆t/2) = ω(t−∆t/2)+ T t I + Tdt I  ∆t (2.8)

onde as for¸cas de amortecimento, Fd e Td, s˜ao expressas como:

Fd= −α|F|sign(v) (2.9)

Td= −α|T|sign(ω) (2.10)

onde α ´e o coeficiente de amortecimento local.

O comportamento geral de um material ´e simulado no DEM atrav´es de modelos constitutivos (lei for¸ca-deslocamento) simples associados a cada contato. Com o modelo constitutivo ´e calculada a for¸ca de contato entre duas part´ıculas e entre uma part´ıcula e uma parede. A figura (2.2) mostra uma

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(21)

representa¸c˜ao gr´afica de um modelo constitutivo de rigidez linear el´astico com escorregamento.

Figura 2.2: Representa¸c˜ao gr´afica do modelo de contato entre part´ıculas. `A

esquerda na dire¸c˜ao normal e `a direita na dire¸c˜ao cisalhante.

O vetor da for¸ca de contato Fc pode ser decomposto nas componentes

normal e cisalhante:

Fc = FN

c + FSc (2.11)

A for¸ca normal ´e dada por:

FNc = KNUNn (2.12)

onde KN ´e a rigidez normal do contato, n ´e o vetor normal ao plano de contato

e UN ´e a sobreposi¸c˜ao entre as duas entidades (fig.(2.3)):

UN =

(

R1+ R2− d se contato entre part´ıculas 1 e 2

R1− d se contato entre part´ıcula e parede

(2.13)

A for¸ca cisalhante ´e calculada de forma incremental. Quando um contato ´e formado, a for¸ca cisalhante de contato ´e nula, e subsequentes deslocamentos cisalhantes resultam em incrementos desta for¸ca:

∆FSc = kSvcS∆t (2.14)

sendo vS

c a velocidade relativa cisalhante no contato e kS ´e a rigidez cisalhante

do contato. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(22)

Figura 2.3: Nota¸c˜ao usada para descrever os contatos

O modelo de cimenta¸c˜ao entre part´ıculas adotado neste trabalho ´e

definido por trˆes parˆametros: a resistˆencia `a compress˜ao, σcC, a resistˆencia

`a tra¸c˜ao, σcT, e a resistˆencia ao cisalhamento, τc. Se as for¸cas normal de

compress˜ao, tra¸c˜ao ou de cisalhamento excederem as for¸cas resistentes dadas por: FC r = σcC(R1+ R2)2 FT r = σcT(R1+ R2)2 FS r = τc(R1+ R2)2 (2.15)

a cimenta¸c˜ao no contato ´e rompida tornando-se inativa. Quando a ruptura ´e por compress˜ao ocorre tamb´em a quebra dos gr˜aos. Este processo de quebra de gr˜aos tem sido modelado de diversas maneiras no DEM. Holt et al. (Holt et al., 2008) usaram o conceito de superpart´ıculas onde um gr˜ao pode ser formado por diversos elementos discretos e a resistˆencia da cimenta¸c˜ao entre contatos destes elementos ´e maior do que entre as superpart´ıculas. Esta ´e uma abordagem interessante, principalmente por permitir a cria¸c˜ao de gr˜aos s´olidos de formas diversas, entretanto o seu custo computacional ´e muito

grande devido o grande n´umero de part´ıculas necess´arias para a forma¸c˜ao de

um gr˜ao. A quebra de gr˜aos foi simulada por Iba˜nez (Iba˜nez, 2008) utilizando

uma abordagem inspirada no ensaio brasileiro. Quando a resistˆencia `a tra¸c˜ao da part´ıcula ´e alcan¸cada, devido as for¸cas de compress˜ao geradas pelas part´ıculas vizinhas, esta se quebra em duas de forma que a massa seja conservada . De maneiras mais simplificadas Marketos e Bolton (Marketos e Bolton, 2007) e Wang et al. (Wang et al., 2008) tamb´em implementaram a quebra de gr˜aos. A abordagem utilizada neste trabalho se assemelha a descrita por Wang et al. (Wang et al., 2008), na qual quando a resitˆencia `a compress˜ao de um contato ´e alcan¸cada a cimenta¸c˜ao ´e rompida e os raios das part´ıculas que formavam este contato s˜ao diminuidos por uma fra¸c˜ao (1% do raio da part´ıcula). Esta diminui¸c˜ao de raio representa a fra¸c˜ao da part´ıcula que ´e esmigalhada pelo

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(23)

processo de quebra.

O modelo de escorregamento ´e definido pelo coeficiente de atrito no contato, µ, e somente ´e ativo se a cimenta¸c˜ao no contato estiver inativa. Neste caso n˜ao ´e permitida a for¸ca de tra¸c˜ao no contato, ent˜ao:

se UN < 0

ent˜ao FN

c = FSc = 0 (2.16)

O modelo de escorregamento limita a for¸ca cisalhante a um valor m´aximo:

FmaxS = µ|FNc | (2.17)

E se |FS

c| > FmaxS o escorregamento pode ocorrer, fazendo:

FSc = FSc F S max |FS c| (2.18)

As equa¸c˜oes de movimento s˜ao integradas usando um esquema de dife-ren¸cas finitas centrais. A solu¸c˜ao destas equa¸c˜oes s´o ´e est´avel se o intervalo de tempo n˜ao exceder um intervalo de tempo cr´ıtico. Uma forma simplificada de encontrar este intervalo de tempo cr´ıtico ´e considerar um sistema massa-mola unidimensional descrito por uma massa m e uma mola de rigidez k. O movi-mento desta massa ´e governado pela equa¸c˜ao −kx = mx. O intervalo cr´ıtico correspondente ao esquema de diferen¸cas finitas de segunda ordem para esta equa¸c˜ao ´e dada por (Bathe e Wilson, 1976):

∆tcrit = 2 r m k  (2.19)

Entretanto, como nas simula¸c˜oes realizadas com o DEM est˜ao presentes

v´arias part´ıculas, calcula-se o ∆tcrit para cada part´ıcula e adota-se o menor

valor entre eles. E para considerar a intera¸c˜ao entre as v´arias part´ıculas,

o que torna o sistema mais r´ıgido, aplica-se um fator, geralmente tf rac =

0.1 (Figueiredo, 1991), para se chegar ao intervalo de tempo utilizado nas simula¸c˜oes:

∆t = tf rac∆tmincrit (2.20)

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(24)

2.3

M´etodo de Lattice-Boltzmann

2.3.1

Hist´orico

O m´etodo de lattice-Boltzmann (LBM) tem sua origem no modelo de lattice-Gas (Frisch et al., 1986). O lattice-Gas ´e constru´ıdo como um modelo molecular dinˆamico fict´ıcio simplificado onde o espa¸co, o tempo e velocidades das part´ıculas s˜ao discretos. O modelo de lattice-Gas consiste em uma rede regular com part´ıculas residindo nos n´os. Um conjunto de vari´aveis Booleanas

ni(x, t) (i = 1, ..., b) que descrevem a ocupa¸c˜ao da part´ıcula ´e definido para a

rede, onde b ´e o n´umero de dire¸c˜oes de velocidade da part´ıcula em cada n´o. A

partir de uma configura¸c˜ao inicial, a evolu¸c˜ao das part´ıculas `a cada intervalo de tempo envolve duas etapas: a propaga¸c˜ao, onde cada part´ıcula se move para o n´o mais pr´oximo na dire¸c˜ao de sua velocidade; e a colis˜ao, que ocorre quando duas part´ıculas chegam no mesmo n´o e mudam sua velocidade de acordo com regras simples de colis˜ao que conservam massa e quantidade de movimento. Apesar de simples este modelo ´e capaz de reproduzir o comportamento macrosc´opico do fluxo (Rothman e Zaleski, 2004). Entretanto, os modelos de lattice-Gas apresentam algumas desvantagens, tais como ru´ıdo estat´ıstico, e alguns comportamentos f´ısicos indesej´aveis (Qian et al, 1992).

Para resolver as dificuldades dos modelos de lattice-Gas surgiram os m´etodos de lattice-Boltzmann. O primeiro foi proposto por McNamara e Za-netti (McNamara e ZaZa-netti, 1988) que usaram a popula¸c˜ao m´edia de part´ıculas

no lugar das vari´aveis Booleanas (ni passa a ser uma vari´avel real

en-tre 0 e 1 no lugar de 0 ou 1). Este procedimento eliminou o ru´ıdo es-tat´ıstico. Uma simplifica¸c˜ao importante no LBM foi proposta por Higuera e Jim´enez (Higuera e Jimenez, 1989) que linearizaram o operador de colis˜ao assumindo que a distribui¸c˜ao ´e pr´oxima ao estado de equil´ıbrio local. Em 1990, Qian (Qian, 1990) sugeriu uma vers˜ao mais simples do operador de

colis˜ao que utiliza um ´unico tempo de relaxa¸c˜ao. O LBM proposto por

Qian (1990) se tornou o mais utilizado pela sua simplicidade e eficiˆencia (Succi, 2001, Chen e Doolen, 1998).

2.3.2

Fluxo Monof´asico

O fluxo macrosc´opico ´e resultado da intera¸c˜ao de v´arias part´ıculas (mol´eculas) no n´ıvel microsc´opico. Considerando, no tempo t, um pequeno vo-lume dx na vizinhan¸ca da posi¸c˜ao x pode-se definir as vari´aveis macrosc´opicas

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(25)

do fluxo (velocidade de fluxo, u e densidade do fluido, ρ) em x e t de acordo com (Chen, 1993): ρ(x, t)dx = mn(x, t) (2.21) u(x, t) = 1 n(x, t) n(x,t) X i=1 vi (2.22)

onde m ´e a massa da part´ıcula (adotando aqui a mesma massa para todas

as part´ıculas), n(x,t) ´e o n´umero de part´ıculas (∼ 1023) no volume dx no

tempo t, e vi ´e a velocidade da part´ıcula. Das eq. (2.21) e (2.22)

percebe-se que as vari´aveis macrosc´opicas do fluxo podem percebe-ser expressas como m´edias no volume dx. Logo, conhecendo-se a dinˆamica destas part´ıculas, que pode ser descrita pelas equa¸c˜oes cl´assicas de Newton, poderia-se conhecer o fluxo no

n´ıvel macrosc´opico. Entretanto este c´alculo ´e impratic´avel por causa do n´umero

t˜ao grande de part´ıculas interagindo. Por´em as quantidades f´ısicas observ´aveis tais como velocidade e densidade s˜ao resultado de uma m´edia estat´ıstica da

dinˆamica de um grande n´umero de part´ıculas (Succi, 2001).

Desta forma, ao inv´es de seguir o movimento de cada uma destas part´ıculas pode-se agrup´a-las de acordo com suas posi¸c˜oes e velocidades. As poss´ıveis velocidades de uma part´ıcula formam um espa¸co de velocidade, e uma velocidade particular define um ponto neste espa¸co. O produto direto dos espa¸cos de posi¸c˜ao e velocidade ´e chamado de espa¸co fase. Pode-se dividir o espa¸co fase em pequenos volumes dxdv. Uma part´ıcula num volume centrado em (x, v) tem sua posi¸c˜ao na vizinhan¸ca de x e sua velocidade na vizinhan¸ca de

v. A partir disto define-se como f (x, v, t)dxdv o n´umero prov´avel de part´ıculas

na posi¸c˜ao x, no tempo t, com a velocidade v. A quantidade f (x, v, t) ´e conhecida como fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao. As vari´aveis macrosc´opicas do fluido s˜ao relacionadas a f (x, v, t) por:

ρ(x, t) = m Z

f (x, v, t)dv (2.23)

u(x, t) = R vf(x, v, t)dv

R f(x, v, t)dv (2.24)

onde tomou-se o limite dxdv → 0. Com as eqs. (2.23) e (2.24) as vari´aveis macrosc´opicas do fluido podem ser calculadas se f (x, v, t) ´e conhecido.

Como o n´umero total de part´ıculas deve ser conservado, as part´ıculas

que originalmente ocupam o volume dxdv centrado em (x, v) v˜ao ocupar um

volume dx′

dv′

centrado em (x′

, v′

) no tempo t + ∆t. Ent˜ao tem-se:

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f (x′

, v′

, t + ∆t)dx′

dv′

= f (x, v, t)dxdv (2.25)

Considerando que as part´ıculas n˜ao interagem e que a dimens˜ao do volume

n˜ao varia (dxdv = dx′

dv′

), a eq.(2.25) fica reduzida a:

f (x′ , v′ , t+ ∆t) = f (x, v, t) (2.26) onde: x′ = x + v∆t (2.27) v′ = v + F m∆t (2.28)

sendo F uma for¸ca externa. Por causa de colis˜oes que ocorrem, algumas part´ıculas originalmente no volume dxdv podem ser exclu´ıdas antes de alcan¸car o novo volume, e algumas part´ıculas originalmente fora podem ser inclu´ıdas neste volume. Ent˜ao a eq. (2.26) deve ser modificada por um termo adicional,

δc (varia¸c˜ao da fun¸c˜ao distribui¸c˜ao por unidade de tempo), que considera as

varia¸c˜oes em f devido as colis˜oes:

f (x′

, v′

, t + ∆t) = f (x, v, t) + δc(x, v, t)∆t (2.29)

Fazendo ∆t → 0, a eq. (2.29) pode ser escrita como a seguinte equa¸c˜ao diferencial:  ∂ ∂t+ v · ∇x+ F m · ∇v  f (x, v, t) = δc(x, v, t) (2.30)

A eq. (2.30) ´e a forma geral da equa¸c˜ao de Boltzmann. Da solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Boltzmann pode-se obter as quantidades macrosc´opicas do fluido a partir

das eq. (2.23) e (2.24). O termo de colis˜ao da eq. (2.30), δc, deve ser consistente

com as leis b´asicas de conserva¸c˜ao (massa e quantidade de movimento) e

depende da dinˆamica detalhada das part´ıculas. No geral, a forma de δc ´e

complexa e leva a equa¸c˜ao de Boltzmann a uma forma integro-diferencial n˜ao-linear (Salinas, 1997). A forma mais simples (mas ainda assim complexa) de

δc foi dada por Boltzmann para um g´as diluto onde part´ıculas sofrem somente

colis˜oes el´asticas de curto alcance.

Portanto, a solu¸c˜ao direta da equa¸c˜ao de Boltzmann n˜ao ´e um meio eficiente de analisar o fluxo de fluidos. Um problema ´e que o termo de colis˜ao

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tem que ser definido explicitamente para determinar inteiramente a equa¸c˜ao de Boltzmann. Um outro problema ´e que a fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao ´e uma fun¸c˜ao de x e v, enquanto que as vari´aveis macrosc´opicas s˜ao fun¸c˜oes somente de x. Ap´os resolver a equa¸c˜ao para f (x, v, t) ainda ´e necess´aria a integra¸c˜ao em v para se obter as vari´aveis macrosc´opicas pelas eq. (2.23) e (2.24) .

Considerando que grande parte dos detalhes das intera¸c˜oes entre as part´ıculas n˜ao influencia significantemente os valores das vari´aveis ma-crosc´opicas, express˜oes mais simples para o termo de colis˜ao foram propostas. O operador de colis˜ao deve ser tal que as condi¸c˜oes de conserva¸c˜ao de massa e quantidade de movimento sejam satisfeitas. O modelo de colis˜ao mais co-nhecido e muito adotado ´e o modelo de aproxima¸c˜ao BGK sendo expresso por (Bhatnagar et al., 1953, Wolf-Gladrow, 2000):

δc =

1

τ (f

eq(x, v, t) − f (x, v, t)) (2.31)

onde τ ´e o tempo de colis˜ao e feq ´e a fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao de equil´ıbrio. A

aproxima¸c˜ao BGK expressa o fato de que as colis˜oes tendem a relaxar a fun¸c˜ao distribui¸c˜ao para um valor de equil´ıbrio (Bhatnagar et al., 1953). Esta fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao de equil´ıbrio ´e a de Maxwell-Boltzmann, visto que a equa¸c˜ao de Boltzmann (2.30) no estado de equil´ıbrio, que corresponde ao limite t → ∞, deve recuperar a distribui¸c˜ao de Maxwell-Boltzmann (Salinas, 1997).

Simplificando o termo de colis˜ao atrav´es da ado¸c˜ao da aproxima¸c˜ao BGK, a parte de velocidade do espa¸co fase pode ser considerada a principal causa da ineficiˆencia na solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Boltzmann. Para reduzir a sua dimens˜ao, considera-se um sistema artificial no qual as part´ıculas podem residir somente nos n´os de uma rede (discretiza¸c˜ao do espa¸co) e seus movimentos se d˜ao de um n´o para outro em intervalos de tempo definidos (discretiza¸c˜ao do tempo). A dire¸c˜ao da velocidade ´e determinada pela dire¸c˜ao das liga¸c˜oes que conectam um n´o a outro (fig.(2.4)) e a magnitude da velocidade ´e dada pela distˆancia entre cada par de n´os da rede dividida pelo intervalo de tempo (discretiza¸c˜ao da velocidade). Consequentemente, a dimens˜ao do espa¸co fase associado a uma rede (“lattice”) ´e significantemente menor do que no espa¸co fase cont´ınuo.

Uma vez que o espa¸co fase discreto ´e definido, pode-se construir a equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann para a evolu¸c˜ao de f (x, v, t). Como em uma rede s´o h´a

um n´umero discreto de valores de velocidades pode-se substituir v por um

conjunto de valores poss´ıveis de vα (α = 1,...,b; onde b ´e o n´umero total de

valores de velocidades) e escrever a fun¸c˜ao distribui¸c˜ao discreta como fα(x, t).

Nem todas as configura¸c˜oes de rede s˜ao capazes de reproduzir o fluxo

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(28)

macrosc´opico. A rede deve apresentar simetria suficiente para isto. A rede mais utilizada em duas dimens˜oes ´e denominada D2Q9 (2 dimens˜oes, 9 velocidades, sendo uma das velocidades nula) (fig. (2.4)), e para trˆes dimens˜oes s˜ao muito utilizadas as redes D3Q15 e D3Q19 (Wolf-Gladrow, 2000).

Figura 2.4: Rede D2Q9 - duas dimens˜oes, nove velocidades

Os diversos m´etodos de lattice-Boltzmann (que utilizam a discretizac˜ao de velocidades) se diferenciam pelo tipo de modelo de colis˜ao que adotam. O LBM que utiliza a aproxima¸c˜ao de BGK, tamb´em conhecido como LBGK, ´e um dos mais utilizados pela sua simplicidade e eficiˆencia (Succi, 2001). A equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann, similar `a eq. (2.29), utilizando a aproxima¸c˜ao de BGK ´e dada por:

fα(x + vα∆t, t + ∆t) = fα(x, t) − ∆t τ (fα(x, t) − f eq α (x, t)) (2.32) sendo feq

α a fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao discreta de equil´ıbrio. A fun¸c˜ao de

distri-bui¸c˜ao discreta de equil´ıbrio deve ser fun¸c˜ao das vari´aveis macrosc´opicas, u e ρ, locais. Para as redes D2Q9 e D3Q19 ela ´e definida como (Qian et al, 1992, Wolf-Gladrow, 2000): fαeq(x, t) = wαρ " 1 + 3(vα· u) c2 + 9 2 (vα· u)2 c4 − 3 2 u2 c2 # (2.33)

onde vα s˜ao as velocidades da rede e wα s˜ao coeficientes que dependem da

rede, e est˜ao presentados no apˆendice A, e c = ∆x∆t, sendo ∆x o espa¸camento

da rede e ∆t o intervalo de tempo.

Impondo condi¸c˜oes iniciais e de contorno, a equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann ´e resolvida e as vari´aveis macrosc´opicas do fluxo de fluido podem ser obtidas

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(29)

com as seguintes express˜oes: ρ(x, t) = m b X α=1 fα(x, t) (2.34) u(x, t) = m ρ(x, t) b X α=1 vαfα(x, t) (2.35)

Diferente da equa¸c˜ao original de Boltzmann, a equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann envolve somente coordenadas espaciais, e o somat´orio em relac˜ao a velocidade ´e feito de forma trivial.

Para se determinar o comportamento macrosc´opico do LBM utiliza-se o procedimento de Chapman-Enskog (ou procedimento multi-escala) (Wolf-Gladrow, 2000). Com este procedimento obt´em-se as equa¸c˜oes de con-serva¸c˜ao de massa e de quantidade de movimento:

∇ · u = 0 (2.36)

∂u

∂t + u · ∇u = −∇P + ν∇

2u (2.37)

onde P = p/ρ, sendo p a press˜ao e ν a viscosidade cinem´atica do fluido. As equa¸c˜oes acima s˜ao as equa¸c˜oes de Navier-Stokes para fluido incompress´ıvel, entretanto duas condi¸c˜oes s˜ao consideradas para se chegar a estas equa¸c˜oes pelo procedimento multi-escala. A primeira diz que as varia¸c˜oes de densidade

devem ser pequenas, ∆ρ/ρ ≪ 1, e a outra que o n´umero de Mach tamb´em

deve ser baixo, M a ≪ 1. O n´umero de Mach ´e definido por:

M a = umax

cs

(2.38)

onde umax ´e a velocidade de fluxo m´axima e cs a “pseudo-velocidade do som

no fluido”(Nourgaliev et al., 2003), que para as redes D2Q9 e D13Q19 ´e dada por(Qian et al, 1992, Wolf-Gladrow, 2000):

cs=

r

c2

3 (2.39)

A press˜ao ´e expressa por (Qian et al, 1992, Wolf-Gladrow, 2000):

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(30)

p = ρc2s (2.40)

que ´e a equa¸c˜ao de estado de um g´as ideal, e que ´e tamb´em adequada para l´ıquido se as flutua¸c˜oes de densidade s˜ao pequenas, de forma que

∆p = c2

s∆ρ (Ladd e Verberg, 2001). A viscosidade cinem´atica ´e definida como

(Qian et al, 1992, Wolf-Gladrow, 2000):

ν = c 2 3∆t(τ ∗ − 0.5) (2.41) onde τ∗

= ∆tτ ´e o tempo de colis˜ao adimensional. Atrav´es da equ. (2.41)

determina-se o tempo de colis˜ao adimensional em fun¸c˜ao da viscosidade do fluido.

A solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann ´e geralmente obtida em duas etapas: Colis˜ao: fα′(x, t) = fα(x, t) − 1 τ∗ (fα(x, t) − f eq α (x, t)) (2.42) Propaga¸c˜ao: fα(x + vα∆t, t + ∆t) = f ′ α(x, t) (2.43) onde f′

α ´e a fun¸c˜ao distribui¸c˜ao p´os-colis˜ao. A etapa de colis˜ao redistribui as

part´ıculas no n´o devido o efeito de colis˜ao, e a etapa de propaga¸c˜ao propaga as

part´ıculas para os n´os vizinhos. A solu¸c˜ao do esquema ´e est´avel para τ∗

> 0.5 (Wolf-Gladrow, 2000, Nourgaliev et al., 2003). Esta condi¸c˜ao tamb´em garante uma viscosidade positiva (eq. (2.41)).

Um aspecto importante no estudo do fluxo no meio poroso ´e o tratamento da condi¸c˜ao de contorno nos s´olidos do meio poroso. Na simula¸c˜ao do fluxo, a presen¸ca do s´olido em repouso ´e representada pela condi¸c˜ao de contorno de n˜ao-escorregamento (“no-slip condition”) que especifica que o fluido n˜ao penetra o contorno e tem velocidade nula junto ao s´olido. No LBM esta condi¸c˜ao ´e obtida com a condi¸c˜ao “bounce-back”que determina que as part´ıculas de fluido que encontram uma superf´ıcie s´olida s˜ao refletidas na dire¸c˜ao da qual vieram (Verberg et al, 2000). A etapa de propaga¸c˜ao para o tratamento dos s´olidos ´e modificada da seguinte forma:

Propaga¸c˜ao: fα(x + vα∆t, t + ∆t) = ( f′ α(x, t) se x ´e fluido f−′α(x + vα∆t, t) se x ´e s´olido (2.44) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(31)

onde −α ´e definido de forma que vα = −vα. A condi¸c˜ao do tipo “bounce-back”considera que a parede s´olida est´a localizada em x + 0.5v∆t. Para considerar a parede s´olida num ponto qualquer entre x e x + v∆t Bouzidi et al. (Bouzidi et al, 2001) sugerem esquemas de interpola¸c˜ao.

As condi¸c˜oes de contorno, relevantes para os objetivos deste trabalho, s˜ao as do tipo peri´odico, press˜ao prescrita e velocidade prescrita. O m´etodo para a imposi¸c˜ao das condi¸c˜oes de contorno de press˜ao e velocidade adotado neste trabalho ´e o sugerido por Zou e He (Zou e He, 1997). O apˆendice B apresenta as equa¸c˜oes referentes `a condi¸c˜ao de contorno de press˜ao prescrita. A condi¸c˜ao de contorno peri´odico simula a situa¸c˜ao apresentada na figura (2.5), ou seja, ´e simulada uma regi˜ao de um dom´ınio que se repete na dire¸c˜ao da condi¸c˜ao de contorno peri´odico. No LBM esta condi¸c˜ao de contorno ´e implementada fazendo com que, na etapa de propaga¸c˜ao, as part´ıculas de fluido que saem por um lado entrem pelo lado oposto, como mostrado na figura (2.6).

Figura 2.5: Dom´ınio Peri´odico

Figura 2.6: Condi¸c˜ao de Contorno Peri´odico

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(32)

2.3.3

LBM incompress´ıvel

Para simular corretamente a equa¸c˜ao de Navier-Stokes incompress´ıvel

com o LBM, deve-se garantir que o n´umero de Mach e a varia¸c˜ao de densidade

sejam pequenos. Entretanto, a ´unica maneira de impor um gradiente de

press˜ao para gerar o fluxo no LBM ´e mantendo um gradiente de densidade no sistema, porque a press˜ao n˜ao ´e uma vari´avel independente (no LBM), sendo dada pela equa¸c˜ao de estado de g´as ideal (eq. (2.40)). Desta forma, a hip´otese de densidade constante n˜ao ´e mais v´alida e a magnitude da varia¸c˜ao de densidade pode ser significativa. Isto, inevitavelmente, trar´a erros nas simula¸c˜oes das equa¸c˜oes de Navier-Stokes incompress´ıvel pelo LBM. He e Luo (He e Luo, 1997) propuseram um LBM para a equa¸c˜ao de Navier-Stokes incompress´ıvel (identificado neste trabalho como LBM incompress´ıvel) cuja id´eia b´asica ´e eliminar explicitamente o efeito de compressibilidade, desprezando os termos de ordem elevadas de M a na fun¸c˜ao distribui¸c˜ao de equil´ıbrio (eq.(2.33)). Ser˜ao apresentadas neste trabalho as equa¸c˜oes do LBM incompress´ıvel. Detalhes sobre a dedu¸c˜ao e validade do m´etodo s˜ao descritas por He e Luo (He e Luo, 1997). A equa¸c˜ao de evolu¸c˜ao do LBM incompress´ıvel ´e dada por:

pα(x + vα∆t, t + ∆t) = pα(x, t) −

1

τ∗ (pα(x, t) − p

eq

α(x, t)) (2.45)

sendo que a fun¸c˜ao distribui¸c˜ao de press˜ao foi definida como:

pα ≡ c2sfα (2.46)

e a fun¸c˜ao distribui¸c˜ao de press˜ao no equilibrio ´e:

peqα(x, t) = wα ( p + p0 " 3(vα· u) c2 + 9 2 (vα· u)2 c4 − 3 2 u2 c2 #) (2.47)

onde p0 = c2sρ0 e ρ0 ´e a densidade de referˆencia. As vari´aveis macrosc´opicas

s˜ao dadas por:

p(x, t) = b X α=1 pα(x, t) (2.48) p0u(x, t) = b X α=1 vαpα(x, t) (2.49) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(33)

Atrav´es do procedimento de Chapman-Enskog, as equa¸c˜oes deduzidas a partir do LBM incompress´ıvel s˜ao (He e Luo, 1997):

1 c2 s ∂P ∂t + ∇ · u = 0 (2.50) ∂u ∂t + u · ∇u = −∇P + ν∇ 2u (2.51)

onde P = p/ρ0. Deve-se observar que as equa¸c˜oes acima s˜ao as mesmas

usadas no m´etodo de “pseudo-compressibilidade”para a solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Navier-Stokes (Nourgaliev et al., 2003, He e Luo, 1997).

Duas condi¸c˜oes devem ser satisfeitas para um fluido ser considerado incompress´ıvel (Landau e Lifshitz, 1959, He e Luo, 1997). A primeira ´e que a velocidade de fluxo deve ser pequena em rela¸c˜ao `a velocidade do som no fluido,

ou seja o n´umero de Mach deve ser baixo:

M a ≪ 1 (2.52)

Na pr´atica, usualmente, a condi¸c˜ao M a < 0.15 ´e mantida no LBM. Esta condi¸c˜ao ´e suficiente somente para o regime permanente. Para o fluxo tran-siente outra condi¸c˜ao deve ser satisfeita. Considerando T e L como o tempo

e o comprimento caracter´ısticos do problema, o tempo L/cs que um sinal

so-noro leva para percorrer a distˆancia L deve ser pequeno comparada com o tempo T que o fluxo varia consideravelmente, de forma que a propaga¸c˜ao de intera¸c˜oes (por ondas de press˜ao ou flutua¸c˜oes de densidade) no fluido possa ser considerada instantˆanea. Esta condi¸c˜ao pode ser espressa como:

T ≫ L

cs

(2.53)

Logo, para satisfazer esta condi¸c˜ao a varia¸c˜ao temporal da press˜ao n˜ao deve ser muito r´apida. No LBM incompress´ıvel a varia¸c˜ao de press˜ao (ou varia¸c˜ao de

densidade) no espa¸co fica limitada pela condi¸c˜ao de n´umero de Mach pequenos

somente, e n˜ao mais pela condi¸c˜ao ∆ρ/ρ ≪ 1 que precisa ser satisfeita no LBM convencional. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(34)

2.3.4

Fluxo Bif´asico

Existem algumas formula¸c˜oes para o LBM multif´asico, entre elas as mais utilizadas em meios porosos s˜ao a proposta por Gunstensen e Rothman (Gunstensen e Rothman, 1991) e a proposta por Shan e Chen (Shan e Chen, 1993). O primeiro m´etodo ´e baseado no modelo de lattice gas de Rothman e Keller (Rothman e Keller, 1988) e ser´a identificado neste tra-balho como RKLBM. No RKLBM s˜ao atribu´ıdas cores `as fun¸c˜oes de distri-bui¸c˜ao para distinguir entre as diferentes fases e ´e inclu´ıda uma perturba¸c˜ao na fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao que cria a tens˜ao interfacial, separando as duas fases. No m´etodo proposto por Shan e Chen (SCLBM) ´e introduzida uma for¸ca de intera¸c˜ao n˜ao-local entre as diferentes fases de n´os vizinhos. No SCLBM, ape-sar da quantidade de movimento se conservar globalmente, n˜ao h´a conserva¸c˜ao de quantidade de movimento local em cada n´o da rede por causa da inclus˜ao destas for¸cas de intera¸c˜ao. Neste trabalho ser´a utilizado o RKLBM como des-crito por Rothman e Zaleski (Rothman e Zaleski, 2004) com as modifica¸c˜oes sugeridas por Latva-Kokko e Rothman (Latva-Kokko e Rothman, 2005).

No RKLBM em cada n´o da rede ´e poss´ıvel existir dois tipos de part´ıculas

de fluido: as vermelhas e as azuis. Assim define-se rα(x, t) como fun¸c˜ao

distribui¸c˜ao de part´ıculas vermelhas e bα(x, t) como fun¸c˜ao distribui¸c˜ao de

part´ıculas azuis, de forma que fα(x, t) = rα(x, t) + bα(x, t). A id´eia principal

do m´etodo ´e separar a evolu¸c˜ao da fun¸c˜ao distribui¸c˜ao em quatro etapas:

(i) Colis˜ao

Semelhante ao fluxo monof´asico a etapa de colis˜ao ´e dada por:

f′ α(x, t) = fα(x, t) − 1 τ∗ (fα(x, t) − f eq α (x, t)) (2.54)

(ii) Cria¸c˜ao da tens˜ao interfacial

A etapa de cria¸c˜ao da tens˜ao interfacial ´e baseada na defini¸c˜ao mecˆanica da tens˜ao interfacial (Rowlinson e Widom, 1982):

γ =

Z ∞

−∞

[pN − pT(z)] dz (2.55)

sendo pN a componente da press˜ao normal `a interface e pT a componente

tangencial pr´oxima `a interface, que inclui a tens˜ao interfacial o que a torna

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(35)

diferente da componente normal (fig. (2.7)).

Figura 2.7: Componentes da press˜ao nas proximidades da interface. Inicialmente ´e calculado o gradiente de cor local (fig. (2.8)), que ´e um vetor normal `a interface entre as duas fases:

g(x, t) = b X i=1 vi c b X j=1 [rj(x + vi∆t, t) − bj(x + vi∆t, t)] (2.56)

Conhecido o gradiente de cor local, modifica-se as distribui¸c˜oes no n´o com a seguinte equa¸c˜ao (fig. (2.8)):

f′′ α(x, t) = f ′ α(x, t) + 36wαA|g|  (vα· g)2 c2|g|2 − 1 2  (2.57)

A equa¸c˜ao acima ´e v´alida para a rede D3Q19 e A ´e o parˆametro que regula a magnitude da tens˜ao interfacial. Este termo de perturba¸c˜ao ´e escolhido de forma que se remova massa da popula¸c˜ao que se move paralelamente `a interface e adicione massa `a popula¸c˜ao que se move na dire¸c˜ao normal `a interface (de forma que a massa e a quantidade de movimento no n´o se conserve), criando desta forma a tens˜ao interfacial. A partir da defini¸c˜ao mecˆanica da tens˜ao interfacial (eq. (2.55)) e do tipo de rede utilizada, determina-se o parˆametro A que regula a tens˜ao interfacial (Rothman e Zaleski, 2004). Para a rede D3Q19 o parˆametro A ´e dado por:

A = γ ∆t 3 172ρτ∗ ∆x3 (2.58) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(36)

Figura 2.8: Etapa de cria¸c˜ao da tens˜ao interfacial no RKLBM. As cores azul e vermelha representam as duas fases e o cinza uma combina¸c˜ao das duas.

(iii) Redistribui¸c˜ao das cores

Para minimizar a difus˜ao de uma cor na outra, as cores s˜ao redistribu´ıdas para que ocorra a separa¸c˜ao das fases. Nesta etapa adotou-se o m´etodo proposto por Latva-Kokko e Rothman (Latva-Kokko e Rothman, 2005):

r′′ α(x, t) = ρr(x, t) ρr(x, t) + ρb(x, t) f′′ α(x, t) + ∆α (2.59) b′′ α(x, t) = ρb(x, t) ρr(x, t) + ρb(x, t) f′′ α(x, t) − ∆α (2.60)

onde ρr(x, t), ρb(x, t) e ∆α s˜ao definidos por:

ρr(x, t) = b X α=1 rα(x, t) (2.61) ρb(x, t) = b X α=1 bα(x, t) (2.62) ∆α = β ρr(x, t)ρb(x, t) (ρr(x, t) + ρb(x, t))2 f 0eqαcosϕα (2.63)

sendo β o parˆametro que fornece a tendˆencia das duas fases se separarem, ϕα

´e o ˆangulo entre o gradiente de cor g e a dire¸c˜ao da velocidade vα, e f 0eqα ´e

dada pela eq. (2.33) considerando a velocidade de fluxo u nula. Estas equa¸c˜oes fazem com que, no n´o, as part´ıculas vermelhas se agrupem na dire¸c˜ao dos n´os vizinhos cuja concentra¸c˜ao de part´ıculas vermelhas seja maior, e o mesmo ocorra com as part´ıculas azuis, conservando as massas totais de cada cor no

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(37)

n´o e a massa total em cada dire¸c˜ao (fig. (2.9)).

Figura 2.9: Etapa de redistribui¸c˜ao das cores no RKLBM.

(iiii) Propaga¸c˜ao

E finalmente, ´e feita a etapa de propaga¸c˜ao das fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao para os n´os vizinhos:

rα(x + vα∆t, t + ∆t) = r ′′ α(x, t) (2.64) bα(x + vα∆t, t + ∆t) = b ′′ α(x, t) (2.65) Molhabilidade

A molhabilidade do fluido no s´olido ´e controlada por um ´unico parˆametro

p que mede a fra¸c˜ao de part´ıculas vermelhas nos n´os s´olidos. No ´ınicio da

simula¸c˜ao ´e atribu´ıda uma cor (ou seja valores de ρr e ρb que s˜ao mantidos

constantes durante a simula¸c˜ao) nos s´olidos com o objetivo de se calcular o gradiente de cor local nos n´os vizinhos aos s´olidos. Se o fluido vermelho ´e completamente molhante p = 1, se ´e parcialmente molhante 1 < p < 0, e se os dois fluidos tˆem a mesma molhabilidade p = 0 (fig. (2.10)). Latva-Kokko e Rothman (Latva-Kokko e Rothman, 2005) demonstram que p = cosθ, sendo θ o ˆangulo de contato. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

(38)

Figura 2.10: Molhabilidade dos s´olidos no RKLBM.

2.4

Acoplamento Fluidomecˆanico

O acoplamento do fluxo calculado pelo LBM com o movimento de part´ıculas s´olidas foi proposto inicialmente por Ladd (Ladd, 1994) com o objetivo de estudar part´ıculas em suspens˜ao. No trabalho desenvolvido por Ladd o contato entre part´ıculas n˜ao ´e modelado, assim como no trabalho de Aidun e Lu (Aidun e Lu, 1995) que sugeriram uma abordagem alterna-tiva ao m´etodo de Ladd. Cook e Noble (Cook e Noble, 2004) implementa-ram um sistema bidimensional acoplando o DEM ao LBM utilizando, para tratar o acoplamento fluidomecˆanico, o esquema de fronteiras m´oveis imer-sas (“immersed moving boundary scheme”) proposto por Noble e Torczynsky (Noble e Torczynsky, 1998). O acoplamento do fluxo de fluido com o movi-mento das part´ıculas s´olidas envolve duas etapas, no que se refere ao fluxo:

1. Defini¸c˜ao da condi¸c˜ao de contorno imposta ao fluido pelas part´ıculas s´olidas em movimento;

2. C´alculo da for¸ca de arraste de fluxo nas part´ıculas s´olidas.

Em rela¸c˜ao ao movimento das part´ıculas, o efeito do fluxo ´e incorporado atrav´es da for¸ca e torque aplicados nas part´ıculas que aparecem nas equa¸c˜oes de movimento (eqs. (2.1) e (2.2)), respectivamente.

Para simular as intera¸c˜oes hidrodinˆamicas entre as part´ıculas s´olidas e o fluxo de fluido a equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann deve ser modificada para incorporar a condi¸c˜ao de contorno do s´olido em movimento. A condi¸c˜ao de contorno na superf´ıcie s´olida ´e a condi¸c˜ao de n˜ao-escorregamento (“no-slip”), ou seja, o s´olido ´e imperme´avel e o fluido adjacente `a superf´ıcie s´olida se move na mesma velocidade do s´olido. Neste trabalho ser´a usado o esquema proposto por Noble e Torczynsky (Noble e Torczynsky, 1998), que modifica a equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann para for¸car a condi¸c˜ao de n˜ao-escorregamento nos n´os da rede cobertos pelas part´ıculas, juntamente com o LBM incompress´ıvel. A equa¸c˜ao de lattice-Boltzmann incompress´ıvel (eq. (2.45)) se torna:

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(39)

pα(x + vα∆t, t + ∆t) = pα(x, t) − 1

τ∗(1 − B) (pα(x, t) − p

eq

α(x, t)) + BΩsα (2.66)

sendo B uma fun¸c˜ao-peso dada por:

B(x, t) = ε(x, t)(τ

− 0.5)

1 − ε(x, t) + (τ∗

− 0.5) (2.67)

onde ε ´e a fra¸c˜ao de s´olido, definida pela fra¸c˜ao do volume da c´elula ocupada pela part´ıcula s´olida (fig. (2.11)). Observa-se que para as c´elulas onde n˜ao h´a s´olidos (B = 0) a eq. (2.66) rep˜oe a eq. (2.45).

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9

Figura 2.11: Exemplo de campo de fra¸c˜ao de s´olidos

Na eq. (2.66), Ωs

α´e o termo adicional de colis˜ao que modifica as fun¸c˜oes de

distribui¸c˜ao de press˜ao para tratar dos obst´aculos s´olidos. Este termo adicional ´e baseado no conceito de “bounce-back”da parte de n˜ao-equil´ıbrio da fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao e ´e dado por (Noble e Torczynsky, 1998):

Ωsα(x, t) = p−α(x, t) − pα(x, t) + p

eq

−α(p, vp) − p

eq

−α(x, t) (2.68)

onde vp ´e a velocidade da part´ıcula na posi¸c˜ao x, no tempo t, e −α representa

a dire¸c˜ao contr´aria `a dire¸c˜ao α.

A for¸ca que ´e transferida para um s´olido pode ser calculada a partir da varia¸c˜ao da quantidade de movimento que ocorre por causa da colis˜ao das part´ıculas do fluido com o s´olido, sendo dada ent˜ao por:

∆q = ∆x 3 c2 s b X α=1 (BΩsα) vα (2.69)

Logo, a for¸ca de fluxo exercida numa part´ıcula ´e dada por:

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(40)

Ff = − np X n=1 ∆qn ∆t = − ∆x3 c2 s∆t np X n=1 Bn b X α=1 Ωsαvα (2.70)

sendo np o n´umero de n´os cobertos pela part´ıcula. O torque em rela¸c˜ao ao

centro de massa da part´ıcula, xp, ´e dado por:

Tf = − ∆x3 c2 s∆t np X n=1 " Bn b X α=1 Ωsαvα× (xn− xp) # (2.71) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410749/CA

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