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Universidade Federal do ABC. Evolução dos Conceitos Matemáticos

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(1)

Bacharelado em Ciˆencia e Tecnologia

Evolu¸c˜

ao dos Conceitos Matem´

aticos

Daniel Miranda

Roque Caiero

2008 - terceiro trimestre

Question´ario II

M´etodo de exaust˜ao, simbolismo alg´ebrico e prim´ordios do c´alculo

Exerc´ıcio 1 Objetivando estudar algumas caracter´ısticas do denominado m´etodo de exaust˜ao, considere o enunciado da Proposi¸c˜ao XII, 2, Elementos de Euclides:

C´ırculos est˜ao entre um para o outro como os quadrados sobre os diˆametros. Segue de modo aproximado a respectiva demonstra¸c˜ao conforme os Elementos:

C´ırculos est˜ao para si assim como os quadrados dos diˆametros destes c´ırculos. Sejam os c´ırculos ABCD, EF GH e seus respectivos diˆametros BD e F H. Afirmamos que, assim como o c´ırculo ABCD est´a para o c´ırculo EF GH, o quadrado de BD est´a para o quadrado de F H.

Figura 1:

Pois, se o quadrado de BD n˜ao est´a para o quadrado de F H assim como o c´ırculo ABCD est´a para o c´ırculo EF GH, e como o quadrado de BD est´a para o quadrado de F H, ent˜ao o c´ırculo ABCD est´a para alguma ´area menor do que o c´ırculo EF GH, ou uma maior. Primeiro, suponhamos que est´a para uma ´area menor S. Inscrevamos o quadrado EF GH no c´ırculo

EF GH; vemos que o quadrado inscrito ´e maior do que a metade do c´ırculo EF GH, al´em disso,

se tra¸camos tangentes ao c´ırculo pelos pontos E, F , G, H, o quadrado EF GH ´e a metade do quadrado que circunscreve o c´ırculo, e o c´ırculo ´e menor do que o quadrado circunscrito; ent˜ao, o quadrado inscrito EF GH ´e maior do que a metade do c´ırculo EF GH. Dividamos ao meio os arcos de circunferˆencias EF , F G, GH, HE nos pontos K, L, M , N , e sejam os segmentos EK,

KF , F L, LG, GM , M H, HN , N E; portanto, cada um dos triˆangulos EKF , F LG, GM H, HN E ´e tamb´em maior do que a metade do segmento do c´ırculo no qual est´a inscrito; al´em

disso, se tra¸camos tangentes ao c´ırculo nos pontos K, L, M , N e completamos os paralelogramos sobre os segmentos de retas EF , F G, GH, HE, cada um dos triˆangulos EKF , F LG, GM H,

(2)

HN E ser´a a metade do paralelogramo que o cont´em, enquanto que o segmento do c´ırculo em

quest˜ao ´e menor do que o parale1ogramo; ent˜ao, cada um dos triˆangulos EKF , F LG, GM H,

HN E ´e maior do que a metade do segmento de c´ırculo que os circunscreve. Assim, utilizando

esse processo de bisse¸c˜ao dos arcos de circunferˆencias restantes e ligando os pontos obtidos por segmentos de retas, continuamente, deixamos alguns segmentos do c´ırculo que ser˜ao menores do que a diferen¸ca entre o c´ırculo EF GH e a ´area S. Pois provou-se no primeiro teorema do d´ecimo livro que se temos duas grandezas distintas, e da maior subtrairmos uma outra, maior do que sua metade, e desta que restou subtrairmos uma outra maior do que sua metade e assim sucessivamente, obteremos alguma grandeza que ser´a menor do que a menor grandeza em quest˜ao. Sejam deixados setores como descrevemos, e sejam os setores do c´ırculo EF GH subtendidos por

EK, KF , F L, LG, GM , M H, HN , N E menores do que a diferen¸ca entre o c´ırculo EF GH

e a ´area S. Logo, o pol´ıgono EKF LGM HN restante ´e maior do que a ´area S. Inscrevamos tamb´em no c´ırculo ABCD o pol´ıgono AOBP CQDR semelhante ao pol´ıgono EKF LGM HN ; como o quadrado de BD est´a para o quadrado de F H, ent˜ao o pol´ıgono AOBP CQDR est´a para o pol´ıgono EKF LGM HN (proposi¸c˜ao XII, 1). Mas o quadrado de BD est´a para o quadrado de

F H, ent˜ao tamb´em o c´ırculo ABCD est´a para a ´area S; assim tamb´em, como o c´ırculo ABCD

est´a para a ´area S, o pol´ıgono AOBP CQDR est´a para o pol´ıgono EKF LM HN (proposi¸c˜ao V, 11). Logo, como o c´ırculo ABCD est´a para o pol´ıgono inscrito nele, ent˜ao a ´area S est´a para o pol´ıgono EKF LGM HN (proposi¸c˜ao V, 16). Contudo, o c´ırculo ABCD ´e maior do que o pol´ıgono inscrito nele, portanto a ´area S ´e maior do que o pol´ıgono EKF LGM HN . A ´area S verifica-se tamb´em menor. Logo, ´e imposs´ıvel. Portanto, como o quadrado de BD est´a para o quadrado de F H; e, ent˜ao o c´ırculo ABCD n˜ao est´a para nenhuma ´area menor do que o c´ırculo

EF GH. Analogamente, podemos provar que o c´ırculo EF GH n˜ao est´a para nenhuma ´area

menor do que o c´ırculo ABCD e tampouco o quadrado de F H est´a para o quadrado de BD. Afirmamos que o c´ırculo ABCD n˜ao est´a para qualquer ´area maior do que o c´ırculo EF GH e o quadrado de BD n˜ao est´a para o quadrado de F H. Pois, se poss´ıvel, suponhamos que ele ???? assim esteja relacionado a uma ´area maior, S. Logo, inversamente, como o quadrado de

F H est´a para o quadrado de DB, ent˜ao a ´area S est´a para o c´ırculo ABCD; assim tamb´em,

como o quadrado de F H est´a para o quadrado de DB, ent˜ao o c´ırculo EF GH est´a para alguma ´area menor do que a do c´ırculo ABCD (proposi¸c˜ao V, 11), que demonstramos n˜ao ser poss´ıvel. Portanto, como o quadrado de BD est´a para o quadrado de F H; e, ent˜ao, o c´ırculo ABCD n˜ao est´a para nenhuma ´area maior do que o c´ırculo EF GH. Provamos que nenhum relaciona-se com uma ´area menor do que o c´ırculo EF GH, conclu´ımos que o quadrado de BD est´a para o quadrado de F H, logo o c´ırculo ABCD est´a para o c´ırculo EF GH. Ent˜ao, ....

Quanto ao argumento dedutivo para a Proposi¸c˜ao XII, 2, levando em aten¸c˜ao sistema de

defini¸c˜oes, postulados e axiomas dos Elementos:

a) Explicite o esquema l´ogico do argumento dedutivo utilizado (ou demonstra¸c˜ao)

b) Elabore uma an´alise dos motivos l´ogico-matem´aticos (e.g., quais as limita¸c˜oes da demons-tra¸c˜ao, impossibilidades de realizar uma prova direta) e das condi¸c˜oes para o recurso ao chamado m´etodo da exaust˜ao e, tamb´em, m´etodo de redu¸c˜ao ao absurdo.

c) N˜ao raro, afirma-se que o m´etodo da exaust˜ao tem a redu¸c˜ao ao absurdo como caracter´ıstica

intr´ınseca, portanto parte constituinte do pr´oprio m´etodo da exaust˜ao. Elabore uma an´alise

cr´ıtica da afirma¸c˜ao precedente. Nesta a an´alise leve em aten¸c˜ao a possibilidade gen´erica de estudar e comparar magnitudes correspondentes a pol´ıgonos por meio da decomposi¸c˜ao em triˆangulos e a utiliza¸c˜ao do m´etodo da exaust˜ao.

d) Identifique algumas das caracter´ısticas da chamada ´algebra geom´etrica grega e, em especial, destaque:

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1. a concep¸c˜ao de n´umero e de rela¸c˜oes entre n´umeros; 2. a linguagem e seu poder expressivo;

3. o status dos esquemas pict´oricos (ou diagramas).

Exerc´ıcio 2 Habitualmente, o conte´udo da proposi¸c˜ao IX, 14, dos Elementos de Euclides, ´e reconhecida como o teorema fundamental da aritm´etica. Nas palavras dos Elementos tem-se:

Se um n´umero ´e o menor que ´e medido por n´umeros primos, este n´umero n˜ao ser´a medido por qualquer outro n´umero primo exceto aqueles n´umeros primos que o medem originalmente.

A prova segue-se.

Seja o n´umero A o menor n´umero que ´e medido pelos n´umeros primos B, C e D; Diz-se que

A n˜ao ´e medido por qualquer n´umero primo exceto B, C e D. Sup˜oe-se que seja poss´ıvel A ser medido por um n´umero primo E; e E n˜ao ´e o mesmo que qualquer dos n´umeros primos B, C e D. Com efeito, E mede A, ent˜ao seja a medida de acordo com F ; logo, E pela multiplica¸c˜ao de F resulta A. E A ´e medido pelos n´umeros primos B, C e D. Contudo, se dois n´umeros pela multiplica¸c˜ao de um por outro resultam em algum n´umero, e qualquer n´umero primo mede o produto, ent˜ao este n´umero primo mede algum daqueles n´umeros originais [proposi¸c˜ao, VII, 30]. Ent˜ao, B, C e D medem um dos dois n´umeros E ou F . E, logo, n˜ao medem E. Portanto, B, C e D medem F , o qual ´e menor que A; contudo, ´e imposs´ıvel para o n´umero A, por suposi¸c˜ao A ´e o menor n´umero medido por B, C e D. Portanto, nenhum n´umero primo mede A exceto B, C e D.

Levando em aten¸c˜ao uma formula¸c˜ao do teorema fundamental da aritm´etica no contexto

conceitual e l´ogico da matem´atica atual e a vers˜ao contida nos Elementos, estabele¸ca uma an´alise

destacando os seguintes aspectos:

a) Explicite os termos conceituais presentes em cada formula¸c˜ao; e identifique aqueles termos primitivos.

b) Quanto `as axiom´aticas, identifique as diferen¸cas e, sobretudo, quanto `a concep¸c˜ao de n´umero. Por exemplo, a natureza interpretativa, em termos intuitivos, entre as duas provas (e, de fato, teoremas) seriam diferentes e, se for o caso, em qual sentido? Qual a distin¸c˜ao em termos de conceitos matem´aticos e fundamentos? De outro lado, se em ambos os casos ´e poss´ıvel reconhecer o mesmo conte´udo, ent˜ao qual a continuidade, qual a permanˆencia, e.g., de car´ater

matem´atico?

c) Em ambos os casos, os sistemas l´ogicos n˜ao s˜ao explicitados. Podemos admitir que os sistemas l´ogicos subjacentes `as duas provas tenham caracter´ısticas em comum de sorte a consider´a-los no uso da quest˜ao como bastante pr´oximos. Descreva a estrutura das provas, por exemplo, uso de redu¸c˜ao ao absurdo, propriedade do terceiro exclu´ıdo.

d) O significado de realizar aritm´etica restrito a um sistema conceitual de geometria1 e a uma concep¸c˜ao de prova (e, logo, de rigor) correspondente ao sistema conceitual de geometria.

1A quest˜ao reporta-se ao discurso l´ogico-te´orico dos Elementos e geometria significa estritamente

geometria expressada e representada nos Elementos, quanto ao conte´udo conceitual, `a forma de conceber e expressar fatos matem´aticos e, por fim, quanto ao modo de justific´a-los segundo um padr˜ao de rigor e inteligibilidade aceitos. Recordamos que o padr˜ao de rigor, a inteligibilidade e os m´etodos de justifica¸c˜ao, em certo sentido, condicionam a matem´atica de uma ´epoca. N˜ao obstante, n˜ao a limitam e tampouco a determinam seja como pr´atica e descoberta e tampouco seja como um corpo estabelecido e como constru¸c˜ao social e intelectual.

(4)

Exerc´ıcio 3 Nos Elementos de Euclides, destaca-se um axioma, ora designado A-I.5: O todo

´e maior que as partes. A afirma¸c˜ao deste axioma imp˜oe-se ao sistema conceitual da geometria

euclidiana e, por conseguinte ao m´etodo de exaust˜ao e sua aplica¸c˜ao. De fato, o conte´udo do axi-oma A-I.5 parece sobretudo intuitivo e correto quanto aos objetos, `as circunstˆancias e `as rela¸c˜oes do mundo concreto e da matem´atica. Esta ´ultima, seja referida a interpreta¸c˜oes e significados intuitivos ou seja concebida como dom´ınio abstrato. Sabemos que a matem´atica greco-helˆenica tinha preocupa¸c˜oes conceituais e l´ogicas a respeito da no¸c˜ao de infinito e, logo, finito. N˜ao obs-tante, de um ponto de vista heur´ıstico utilizassem aparentemente alguma concep¸c˜ao operacional e informal de infinito, por exemplo, associado a express˜oes indefinidamente, sem fim, subtra¸c˜oes

sucessivas de sorte que o segmento de linha (i.e., magnitude) restante ´e menor (i.e., ´e medido em magnitude) que um determinado segmento de linha dado, adi¸c˜ao sucessiva sem fim de magnitudes menores.

H´a um decurso hist´orico, consideremos o ´ultimo quartel do s´eculo XVI e o s´eculo XVII, o contexto e momento conceitual dos prim´ordios do c´alculo, no sentido a saber: desenvolvimento de um simbolismo e no¸c˜oes de opera¸c˜oes e rela¸c˜oes de car´ater alg´ebrico e m´etodos que utiliza-vam as no¸c˜oes de indivis´ıveis, infinitesimais, infinitos. Naquele contexto e momento conceitual, aparentemente, aceitava-se impl´ıcita ou explicitamente a concep¸c˜ao que o Todo ´e maior que as

partes e, associado, que n˜ao h´a uma distin¸c˜ao l´ogica e conceitual entre considerar o finito e o

infinito face `a matem´atica praticada. Incorrendo eventualmente em abuso e informalidade, po-demos considerar para as circunstˆancias da quest˜ao que todo significa tamb´em totalidade, e.g., referida a uma cole¸c˜ao. Interroga-se:

a) Considere os denominados paradoxos de Zen˜ao de Elea, quais o conte´udo e o car´ater dos paradoxos? Por exemplo, considerando que o movimento f´ısico concreto, cotidiano, n˜ao ´e uma mera ilus˜ao, qual o sentido dos paradoxos?

b) Grosso modo, a filosofia e a matem´atica greco-helˆenica tˆem dois conceitos de infinito, deno-minados potencial (ou em potˆencia) e atual (ou completo). Exponha os conceitos de modo a torn´a-los distintos e elabore uma correspondˆencia com os paradoxos de Zen˜ao.

c) Esclare¸ca a rela¸c˜ao entre o chamado m´etodo de exaust˜ao e o axioma A-I.5. Esclare¸ca, se for o caso de existir, qual rela¸c˜ao h´a entre os conceitos de infinito e o m´etodo de exaust˜ao? d) Levando em conta o denominado m´etodo do indivis´ıveis de B. Cavalieri, se houver, explicite

a distin¸c˜ao entre este m´etodo e o m´etodo da exaust˜ao. Com efeito, quanto ao m´etodo dos

indivis´ıveis – e, de fato, outros similares –, identifique quais conceitos de infinitos est˜ao em

uso. Sobretudo, elucide se os conceitos de infinitos relativamente `a utiliza¸c˜ao operacional atendem ao axioma A-I.5 e se n˜ao h´a distin¸c˜ao entre a concep¸c˜ao de opera¸c˜oes em termos de finito e infinito.

e) No final do s´eculo XIX e in´ıcio do s´eculo XX, a matem´atica experimenta um contexto e momento conceitual extremo quanto ao rigor e a elucida¸c˜ao de alguns temas. H´a destaca-das modifica¸c˜oes seja em termos de conceitos e seja em termos de m´etodo. Os esfor¸cos de fundamentar e de estabelecer o conceito de n´umero real, e.g., relativamente ao c´alculo e a

´algebra, permitem que a preocupa¸c˜ao a respeito do infinito ofere¸ca resultados insuspeitos. Entre alguns desses resultados, descobrem-se teoremas da teoria de conjuntos e, em especial, alguns que contradizem o axioma O todo ´e maior que a partes. Resultados que evidenciam a sutileza em conceber e utilizar o infinito em dom´ınios abstratos, em perceber que a intui¸c˜ao intelectual e conceitual do finito e dos dom´ınios concretos pode relevar-se equivocada em outros dom´ınios do pensamento.

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1. Levando em conta a cole¸c˜ao, ou totalidade, dos n´umeros naturais, de modo bastante intuitivo espera-se que o n´umero de n´umeros naturais seja maior que o n´umero de

n´umeros pares. Com efeito, parece razo´avel e intuitivo que uma parte da totalidade ´e menor que a totalidade; ou seja, em palavras informais, a parte ´e menor que o todo. Contudo, n˜ao ´e o caso. Descreva as cole¸c˜oes em termos da teoria de conjuntos ingˆenua e prove a proposi¸c˜ao que existem quantos n´umeros pares quantos n´umeros naturais.

2. Explicite a no¸c˜ao de infinito associada ao resultado imediatamente precedente.

3. Sabemos que ´e comum empregarmos express˜oes similares a tender para o infinito, t˜ao

grande quanto se desejar, t˜ao pequeno quanto se desejar. H´a alguma diferen¸ca entre a

referˆencia ao conceito de infinito nestas express˜oes e ao conceito de infinito relativo a uma totalidade, ou cole¸c˜ao (e.g., o conjunto dos n´umeros naturais)?

Exerc´ıcio 4 Nos Elementos, a Proposi¸c˜ao 20, Livro IX, em palavras informais, enuncia que o n´umero de n´umeros primos ´e infinito. Vejamos a proposi¸c˜ao e sua correspondente prova:

N´umeros primos s˜ao mais que qualquer assinalada multitude2 de n´umeros primos.

Sejam A, B e C os n´umeros primos da multitude assinalada, dizemos que existem mais n´umeros primos que A, B e C. Consideremos o menor n´umero primo medido por A, B e C, designado DE. Seja DF a unidade adicionada a DE. Ent˜ao, EF ou ´e um n´umero primo ou n˜ao ´e um n´umero primo. Primeiramente, sup˜oe-se que EF seja um n´umero primo, ent˜ao os n´umeros primos A, B, C e EF descobrem-se mais que A, B e C. De outro lado, sup˜oe-se que EF n˜ao seja um n´umero primo. Logo, ´e medido por algum n´umero primo [proposi¸c˜ao 31, Livro VII]. Seja

EF medido pelo n´umero primo G; e G ´e distinto de quaisquer n´umeros primos A, B e C. Osumeros A, B e C medem DE, ent˜ao G mede tamb´em DE; e G mede EF . Portanto, G ´e um n´umero distinto dos n´umeros primos A, B e C e, por hip´otese, ´e primo. Portanto, descobrem-se que os n´umeros primos A, B, C e G s˜ao mais que os n´umeros primos assinalados na multitude de A, B e C.

Indagamos:

a) Descreva a estrutura da prova referente `a Proposi¸c˜ao 20, Livro IX apresentada por Euclides. b) Nos Elementos n˜ao h´a men¸c˜ao `a no¸c˜ao de infinito, por conseguinte em qual sentido pode

asseverar-se que a Proposi¸c˜ao 20, Livro IX enuncia que existem infinitos n´umeros primos? c) Consideramos os contextos conceituais e l´ogicos da matem´atica dos Elementos e o atual, as

correspondentes vers˜oes da proposi¸c˜ao asseveram a existˆencia de n´umeros primos relativa-mente ao respectivo contexto. Estabele¸ca uma compara¸c˜ao conceitual e de m´etodo entre as duas vers˜oes, por exemplo, destacando s´o termos conceituais utilizados, as axiom´aticas, a no¸c˜ao de n´umero, os modelos.

d) Asseverar que existem infinitos n´umeros primos seria equivalente a afirmar que existe algum n´umero primo?

A seguir esclarecemos parcial e minimamente o sentido de contexto conceitual e l´ogico da

matem´atica atual. Implicitamente, adotamos uma linguagem formal apropriada (e.g., s´ımbolos

de vari´aveis, de igualdade, de conectivos, de constantes, de predicados) e um sistema l´ogico cl´assico (e.g., as regras de inferˆencia, a caracteriza¸c˜ao da nega¸c˜ao). A caracteriza¸c˜ao da igualdade segue-se:

2Em termos dos Elementos, a express˜ao multitude pode ser entendida como uma cole¸c˜ao de unidades,

ou n´umeros; ou, tamb´em, uma quantidade de unidades, ou a partir da no¸c˜ao que um n´umero ´e uma cole¸c˜ao de unidades.

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ig1 ∀x(x = x)

ig2 x = y → (α[x, x] → α[x, y]), em que a f´ormula α[x, y] ´e obtida a partir da f´ormula α[x, x]

pela substitui¸c˜ao de alguns ocorrˆencias da vari´avel x por y, tal que a substitui¸c˜ao n˜ao origina confus˜ao de vari´aveis.

ig3 ∀x∀y((x = y) → (y = x))

ig4 ∀x∀y∀z((x = y) → ((y = z) → (x = z))) A nega¸c˜ao da igualdade x = y denota-se x 6= y.

Os axiomas pr´oprios da teoria da aritm´etica dos n´umeros naturais, e.g., termos primitivos c e s, seguem: ar1 c 6= sx ar2 (x = y) → (sx = sy) ar3 (sx = sy) → (x = y) ar4 x + c = x ar5 x + sy = s(x + y) ar6 x.c = c

ar7 x.(sy) = (x.y) + x

ar8 para qualquer f´ormula α[x], α[c] → (∀x(α[x] → α[sx]) → ∀xα[x]) Vejamos uma apresenta¸c˜ao informal para ilustrar a axiom´atica precedente: inar1 0 ´e um n´umero natural.

inar2 Se x ´e um n´umero natural, existe um outro n´umero denotado por sx, chamado o sucessor de x, por exemplo, s0 ´e 1.

inar3 para qualquer x, 0 6= sx. inar4 Se sx = sy, ent˜ao x = y.

inar5 Se Q ´e uma propriedade que pode, ou n˜ao pode, manter-se para os n´umeros naturais e se 1. 0 tem a propriedade Q e

2. qualquer n´umero natural x tem a propriedade Q, ent˜ao sx tem a propriedade Q, ent˜ao todos os n´umeros naturais tˆem a propriedade Q.

Algumas defini¸c˜oes e propriedades m´ınimas s˜ao necess´arias para a caracteriza¸c˜ao da no¸c˜ao de n´umero primo e a demonstra¸c˜ao, a saber:

i. sejam x, y naturais, diz-se que y divide x, denotado y|x, quando existe um n´umero natural

z tal que y.z = x;

ii. para todo x, 0|x se, e s´o se, x = 0; iii. para todo x, 0.x = 0;

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v. y ≥ 2, todo x pode ser escrito de modo ´unico na forma

x = rn.yn+ rn−1.yn−1+ ... + r1.y + r0,

em que n ≥ 0, r 6= 0, para todo i, 0 ≤ i ≤ n tem-se que 0 ≤ ri < y;

vi. um n´umero natural x denomina-se primo se, e s´o se, tem exatamente dois divisores 1 e x; vii. todo n´umero natural x, com x > 1 pode ser escrito como produto de n´umeros primos.

Conhece-se a caracteriza¸c˜ao da rela¸c˜ao de igualdade. Todavia, as rela¸c˜oes menor que ou igual

a e maior que ou igual a n˜ao se descobrem definidas.

n.1. Elabore uma caracteriza¸c˜ao para cada uma das duas rela¸c˜oes designadas respectivamente

< e ≤, menor que e menor que ou igual a;

n.2. Selecione uma entre as duas, ent˜ao, conforme a escolha, prove as propriedades de irrefle-xividade, assimetria e transitividade.

n.3. Seja um arbitr´ario x, prove que existe um ´unico c, tal que c 6= sx e x + c = x. n.4. Prove que ssc + ssc = ssssc.

n.5. Sejam x e y quaisquer, prove que x + y = y + x.

Exerc´ıcio 5 Pierre de Fermat, em certo sentido, manteve-se pr´oximo ao modo de provar

geo-m´etrico e criticava aqueles autores que se distanciam deste estilo de prova e deste padr˜ao de

rigor e clareza. Fermat n˜ao utiliza expl´ıcita e diretamente quaisquer no¸c˜oes de indivis´ıveis e

infinit´esimos. N˜ao obstante, aparentemente, n˜ao se esquiva da utiliza¸c˜ao de alguma no¸c˜ao de infinito. Examinemos a quadratura de hip´erboles infinitas utilizando uma cole¸c˜ao de retˆangulos

inscritos cujas ´areas relacionam-se por uma progress˜ao geom´etrica (i.e., propor¸c˜ao continuada).

Figura 2:

Dada uma progress˜ao geom´etrica cujos termos decrescem indefinidamente, a diferen¸ca entre dois termos consecutivos desta progress˜ao est´a para o menor deles assim como o maior est´a para a soma de todos os termos seguintes. Utilizando este resultado, discutiremos o problema da quadratura de hip´erboles: definamos hip´erboles como curvas tendendo ao infinito, as quais, como DSEF , possuem a seguinte propriedade. Sejam RA e AC ass´ıntotas que podem ser estendidas indefinidamente; tracemos as EG, HI, N O, M P , RS, etc. paralelas `as ass´ıntotas. Temos uma raz˜ao igual entre uma dada potˆencia de AH e a mesma potˆencia de AG por um

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lado, e uma potˆencia de EG (a mesma ou diferente da precedente) e a mesma potˆencia de

HI por outro. Por potˆencias, dizemos n˜ao apenas quadrados, cubos, quartas potˆencias, etc.,

expoentes 2, 3, 4, etc., mas tamb´em ra´ızes simples com expoente unit´ario. Afirmamos que todas essas hip´erboles infinitas, exceto a de Apolˆonio3, ou a primeira, s˜ao quadr´aveis pelo m´etodo de progress˜ao geom´etrica, segundo um procedimento uniforme e geral. Consideremos, por exemplo, as hip´erboles definidas pelas propriedades AH2

AG2 = EGHI e AO 2

HI2 = N OHI, etc. Dizemos que a ´area indefinida da regi˜ao limitada pela curva ES, pela ass´ıntota GOR e com base EG ´e igual a uma certa ´area retil´ınea. Consideremos uma progress˜ao geom´etrica com termos decrescentes. Seja

AG o primeiro termo, AH o segundo, AO o terceiro, etc. Suponhamos que esses termos estejam

suficientemente pr´oximos entre si, de tal modo que possamos usar o m´etodo de Arquimedes de acordo com Diofanto, isto ´e, aproximar o paralelogramo retil´ıneo GE × GH ao quadril´atero

GHIE; e, tamb´em, devemos supor que os primeiros intervalos GH, HO, OM , etc., dos termos

consecutivos s˜ao suficientemente pr´oximos de tal modo que possamos usar o m´etodo de exaust˜ao de Arquimedes, inscrevendo e circunscrevendo pol´ıgonos. ´E suficiente fazer esta observa¸c˜ao uma vez e n˜ao precisamos repeti-l´a e insistir muito sobre um precedente bem conhecido dos matem´aticos. Com efeito, temos AG

AH = AHAO = AMAO, ent˜ao AHAG = GHHO = OMHO, para os intervalos.

Entretanto, para os paralelogramos:

EG×GH

HI×HO = ON ×OMHI×HO.

Na realidade, a raz˜ao

EG×GH HI×HO

dos paralelogramos consiste das raz˜oes EG

HI e GHHO, mas como indicamos GHHO =AHAG; e, logo, a

raz˜ao

EG×GH HI×HO

pode ser decomposta nas raz˜oes EG

HI e AHAG. Por outro lado, por constru¸c˜ao, EGHI = AH 2 AG2 ou AO

AG, por causa da proporcionalidade dos termos. Portanto, a raz˜ao EG×GH

HI×HO

decomp˜oe-se nas raz˜oes AO

AG eGHAG; eAHAO decomp˜oe-se nas mesmas raz˜oes. Consequentemente,

encontramos

EG×GH

HI×HO = AOAH = AHAG.

Do mesmo modo provamos que

HI×HO

N O×M O = AHAO.

Contudo, as retas AO, AH, AG, que formam as raz˜oes dos paralelogramos, definem, por constru¸c˜ao, uma progress˜ao geom´etrica. Ent˜ao, os infinitos paralelogramos EG×GH, HI ×HO,

N O × OM , etc formar˜ao uma progress˜ao aritm´etica cuja raz˜ao ser´a AHAG. Portanto, de acordo com o teorema b´asico do nosso m´etodo, GH, a diferen¸ca entre dois termos consecutivos estar´a para o menor termo AG, assim como o primeiro termo da progress˜ao, a saber: o paralelogramo

GE × GH, estar´a para a soma de todos os outros paralelogramos. De acordo com Arquimedes,

esta soma ´e a figura infinita limitada por HI, a ass´ıntota HR e a curva estendida infinitamente,

IN D. Se multiplicamos os dois termos por EG, obtemos

GH

AG = EG×GHEG×AG,

em que EG × GH est´a para a ´area infinita cuja base ´e HI assim como EG × GH est´a para

EG×AG. Portanto, o paralelogramo EG×AG ´e adequado `a figura em quest˜ao; se acrescentarmos

a ambos os lados o paralelogramo EG × GH, o qual, devido ao n´umero infinito de subdivis˜oes, desaparecer´a, chegamos `a conclus˜ao de que ser´a f´acil confirmar por meio de uma demonstra¸c˜ao mais longa utilizando os argumentos de Arquimedes, a saber, que para este tipo de hip´erbole o

3A chamada hip´erbole de Apolˆonio ´e a hip´erbole retangular, y a =

b

x. Tamb´em, notamos que a

(9)

paralelogramo AE ´e equivalente ´a ´area limitada pela base EG, a ass´ıntota GR e a curva ED estendida infinitamente. N˜ao ´e dif´ıcil estender esta ideia a todas as hip´erboles definidas acima, exceto para aquela que j´a mencionamos.

a) Elabore uma an´alise da prova oferecida por Fermat de modo a destacar sua estrutura, os termos e procedimentos que a entrela¸cam conceitual e metodologicamente com os prim´ordios

do c´alculo diferencial e integral, por exemplo, as no¸c˜oes utilizadas, o modo de proceder, os

fundamentos conceituais.

b) Conquanto os argumento de Fermat apresentem-se de modo geom´etrico, a concep¸c˜ao do problema e a prova precedente relevam-se estritamente geom´etricos? Por exemplo, h´a a necessidade de uns configura¸c˜ao geom´etrica, i.e., uma curva e argumentos acerca da curva? Justifique a resposta.

c) De acordo com a resposta imediatamente anterior, caracterize os objetos e as rela¸c˜oes ma-tem´aticos que se descobrem intrincados no problema e na prova, e.g., seriam t˜ao-somente geom´etricos em termos dos Elementos?

d) Nos prim´ordios do c´alculo, n˜ao existe o conceito de fun¸c˜ao, utilizam-se as no¸c˜oes amb´ıguas de

equa¸c˜ao, inc´ognita, raiz desconhecida, quantidade vari´avel; e, com efeito, estuda a varia¸c˜ao

de vari´aveis e sua dependˆencia. Elucide a no¸c˜ao de equa¸c˜ao, por exemplo, seria uma rela¸c˜ao geom´etrica, uma f´ormula, uma cole¸c˜ao de n´umeros? Qual o sentido de vari´avel e equa¸c˜ao no problema e na prova de Fermat?

e) Se for o caso de Fermat empregar alguma no¸c˜ao de infinito, ent˜ao esclare¸ca a no¸c˜ao utilizada. f) No contexto da matem´atica contemporˆanea, elabore um esquema de prova relativo `a prova de Fermat, de sorte a indicar o uso da no¸c˜ao de fun¸c˜ao, limite de fun¸c˜ao, continuidade, integral. De um ponto de vista alg´ebrico, i.e., utilizando uma linguagem e operadores como se fosse uma geometria alg´ebrica, elabore um esquema detalhado da prova.

g) Uma prova per se, suposta correta em um sentido suficiente para a quest˜ao, pode legitimar conceitos matem´aticos4(e.g., acerca de objetos, rela¸c˜oes)? Uma prova, suposta correta, pode ser fundamento de si pr´opria? E, ent˜ao, dos conceitos matem´aticos que a elaboram? Se a resposta for em um sentido negativo, tente identificar alguns pressupostos que deveriam ser aceitos e justificados para legitimar a prova.

Exerc´ıcio 6 Indagamos, de qual modo distinguir se um objeto, ou uma rela¸c˜ao matem´atica ´e leg´ıtima? Na verdade, se houver sentido, qual a no¸c˜ao de legitimidade matem´atica? Seriam as imagens mentais de colheres, dedos, fadas e drag˜oes, el´etrons e genes entidades matem´aticas de igual modo que fun¸c˜oes, rela¸c˜oes de ordem, espa¸cos topol´ogicos, conjuntos, um n´umero natural? Exerc´ıcio 7 Na ilustra¸c˜ao a seguir, pode compreender-se algumas dificuldade relativas aos prim´ordios do c´alculo. Considere aproximadamente, fluente pode ser entendido como a va-ria¸c˜ao da quantidade x (i.e., vari´aveis que aumentam ou diminuem com o tempo); e, tamb´em, a no¸c˜ao de flux˜ao a varia¸c˜ao da quantidade associada a x relativa a varia¸c˜ao da quantidade x (ou a varia¸c˜ao da quantidade x relativa `a varia¸c˜ao do tempo). Notamos que podemos entender

o como um per´ıodo de tempo infinitamente pequeno. Vejamos um exemplo de aplica¸c˜ao acerca

do m´etodo das flux˜oes tomado a I. Newton:

4Necessitamos admitir uma circunstˆancia estranha, a corre¸c˜ao da prova (e, logo, a identifica¸c˜ao de

teoremas) poderia acontecer relativo a uma sistema l´ogico, tal que esta l´ogica seria neutra epistˆemica, metodol´ogica e ontologicamente quanto aos objetos, `as rela¸c˜oes e aos fatos matem´aticos pr´oprios.

(10)

Suponhamos que a quantidade x flua uniformemente. Encontre a flux˜ao de xn. No mesmo

intervalo de tempo em que a quantidade x torna-se x + o pelo fluxo, a quantidade xn torna-se

(x + o)n, quer dizer, pelo m´etodo das s´eries infinitas

xn+ noxn−1+nn−n

2 ooxn−2+, ... e os aumentos o e noxn−1+nn−n

2 ooxn−2+ ... est˜ao relacionados entre si como 1 e nxn−1+ +nn−n

2 ooxn−2+ ....

Fa¸ca aqueles aumentos desaparecerem e a sua ´ultima raz˜ao ser´a de 1 a nxn−1; portanto, a

flux˜ao da quantidade x est´a relacionada `a flux˜ao da quantidade xn como 1 a nxn−1.

Por meio de argumentos semelhantes e pelo m´etodo das primeiras e das ´ultimas raz˜oes podemos obter, qualquer que seja o caso, as flux˜oes de linhas, sejam elas retil´ıneas ou curvadas como tamb´em as flux˜oes de ´areas, de ˆangulos e de outras quantidades. Assim, formar um c´alculo de quantidades finitas e investigar, consequentemente, as primeiras e as ´ultimas raz˜oes das quantidades finitas que nascem ou desaparecem est´a de acordo com a geometria dos antigos; estava querendo mostrar que no m´etodo das flux˜oes n˜ao h´a necessidade de introduzir figuras infinitamente pequenas `a geometria. Esta an´alise pode ser executada em figuras quaisquer, sejam elas finitas ou infinitamente pequenas, desde que possam ser imaginadas semelhantes a figuras ´ınfimas; tamb´em em figuras que podem ser consideradas infinitamente pequenas, mas vocˆe deve pro ce der com cuidado.

Encontrar os fluentes a partir das flux˜oes ´e o problema mais dif´ıcil e o primeiro passo da sua solu¸c˜ao ´e equivalente `a Quadratura de curvas[...]

No contexto conceitual do texto precedente, um incremento pequeno significa nascente, ou seja chegar a existir e as raz˜oes das flux˜oes seriam muito parecidas com a raz˜ao dos incrementos. As flux˜oes de quantidades est˜ao relacionadas como as primeiras raz˜oes de quantidades finitas

nascentes, e.g., ˙x ˙

y, ou como as raz˜oes ´ultimas de quantidades ´ınfimas (ou evanescentes).

Interroga-se:

a) H´a a percep¸c˜ao de uma dificuldade, quando os incrementos pequenos (ou aumentos pequenos) s˜ao iguais a zero, ent˜ao os incrementos n˜ao tˆem uma raz˜ao; e, no interior de um intervalo de

tempo (de valores de uma quantidade) finito, embora muito pequeno, a raz˜ao dos incrementos

n˜ao pode ser igual `a raz˜ao das flux˜oes. Destaque e esclare¸ca o problema relativo `a concep¸c˜ao newtoniana das primeiras e ´ultimas raz˜oes.

b) Em 1734, G. Berkeley enuncia diversas cr´ıticas ao chamado novo m´etodo, i.e., o c´alculo em seus prim´ordios de infinit´esimos, quantidades infinitamente pequenas distintas de zero,

incrementos nascentes, flux˜oes. Destacamos duas cita¸c˜oes:

Se com o objetivo de demonstrar uma proposi¸c˜ao qualquer sup˜oe-se um certo ponto, devido ao qual outros determinados pontos s˜ao atingidos; e se o ponto suposto for depois destru´ıdo ou rejeitado por uma suposi¸c˜ao contr´aria. Neste caso, todos os outros pontos atingidos por meio deste e em consequˆencia deste tamb´em devem ser destru´ıdos e rejeitados, de forma a n˜ao serem mais supostos e tampouco aplicados `a demonstra¸c˜ao.

Indagamos, com efeito, no m´etodo o ´e considerado primeiramente diferente de zero e, a partir de certo est´agio da prova, considera-se igual a zero ou, simplesmente, pode aplicar alguma opera¸c˜ao de desaparecimento de valores para vari´aveis e varia¸c˜oes de vari´aveis. Qual a natureza de um poss´ıvel justificativa para o procedimento adotado e qual a natureza da cr´ıtica de Berkeley?

Na segunda cita¸c˜ao, G. Berkeley menciona o denominado duplo erro presente no m´etodo, em palavras breves, a suposi¸c˜ao de um valor diferente de zero e a ado¸c˜ao do valor zero para uma vari´avel. De um lado, uma pr´atica associada `as no¸c˜oes vagas e amb´ıguas de infinit´esimos,

(11)

greco-helˆenica e a no¸c˜ao de conhecimento. Esta ´ultima concebida em termos de proposi¸c˜oes acreditadas e aceitas como verdadeiras, tal que h´a uma justifica¸c˜ao para aceit´a-las como verdadeiras e, de fato, s˜ao verdadeiras.

Se tiv´essemos cometido somente um erro, n˜ao chegar´ıamos `a verdadeira solu¸c˜ao pra o pro-blema. Entretanto, em virtude de um duplo erro, chegamos `a verdade, embora n˜ao `a ciˆencia. Pois, quando procedemos cegamente e chegamos `a verdade sem saber como, ou por quais meios, n˜ao chegamos `a ciˆencia.

Interroga-se:

b.1. Para G. Berkeley o m´etodo n˜ao descobre uma justifica¸c˜ao em termos matem´aticos para que os resultados alcan¸cados possam ser considerados ciˆencia (ou conhecimento)? b.2. Qual a natureza da justifica¸c˜ao em matem´atica?

b.3. Sup˜oe-se aceita a cr´ıtica de Berkeley, ent˜ao, qual o significado epistˆemico e matem´atico relativo aos resultados alcan¸cados e procedimentos desenvolvidos?

b.4. H´a legitimidade dos conceitos utilizados no m´etodo, i.e., seriam conceitos matem´aticos, poder-se-ia considerar em algum sentido que existiriam os objetos matem´aticos, as

rela¸c˜oes matem´aticas reportadas na linguagem e no novo m´etodo? Justifique a

res-posta.

Exerc´ıcio 8 A seguir apresentamos minimamente uma axiom´atica dos n´umeros reais R no

con-texto conceitual e l´ogico da matem´atica atual. Implicitamente, adotamos uma linguagem formal

apropriada (e.g., s´ımbolos de vari´aveis, de igualdade, de conectivos, de constantes, de predicados) e um sistema l´ogico cl´assico (e.g., as regras de inferˆencia, a caracteriza¸c˜ao da nega¸c˜ao).

Os reais podem ser definidos como um conjunto munido de trˆes opera¸c˜oes, denotadas por + , ◦ e <satisfazendo Axiomas de Corpo a) ∀x, y, z : (x + y) + z = x + (y + z) b) ∀x, y : x + y = y + x c) ∃0 ∈ K, ∀x : x + 0 = x d) ∀x, ∃(−x) : x + (−x) = 0 e) ∀x, y, z : (x ◦ y) ◦ z = x ◦ (y ◦ z) f) ∀x, y : x ◦ y = y ◦ x g) ∀x, ∃1 ∈ K, 1 6= 0, ∃x : x ◦ 1 = x h) ∀x, ∃x−1: x ◦ x−1= 1 i) ∀x, y, z : x ◦ (y + z) = x ◦ y + x ◦ z Axiomas de Ordem

Existe uma rela¸c˜ao de ordem > on R satisfazendo a) ∀a ∈ R : a 6= 0 → a > 0 ou 0 > a

b) ∀ a, b ∈ R, a, b > 0 → a + b > 0 c) ∀ a, b ∈ R : a, b > 0 → a.b > 0

(12)

d) ∀a, b, c ∈ R : a > b → a + c > b + c

Seja A ⊆ R. Dizemos b ∈ R ´e uma ”cota superior” para A se :∀s ∈ A : s ≤ b Dizemos que s ´e o ”supremo” de A se s ´e cota superior de A, e se b ´e outra cota superior para A ent˜ao s ≤ b. Mais formalmente: :(∀a ∈ A : a ≤ s) e (∀b ∈ R : ((∀a ∈ A : a ≤ b) =⇒ (s ≤ b))) Se existir, o supremo de um conjunto A s˜ao indicadas sup A .

Axioma de Completude

Se S ⊆ R ´e n˜ao-vazio e tem uma cota superior, ent˜ao S tem supremo. Dentro desse contexto

a) Prove que 1 > 0.

b) Prove a propriedade arquimediana: Dado x, y ∈ R, ent˜ao existe um n´umero real n tal que

nx > y.

c) Prove que se x ∈ R tem a propriedade que 0 < x < b para todo n´umero real positivo b ent˜ao

x = 0. O que essa proposi¸c˜ao implica sobre a existˆencia de infinit´esimos nessa axiom´atica dos

n´umeros reais?

d) Defina formalmente a afirma¸c˜ao que a fun¸c˜ao f (x) tende a L quando x tende a a, ou seja limx→af (x) = L.

e) Defina formalmente limx→∞f (x) = L

f) Prove usando o princ´ıpio de Arquimedes que limn→∞n1 = 0

g) Defina formalmente o que significa a derivada de uma fun¸c˜ao f num ponto a. Compare essa derivada com a derivada de Newton. Quais as principais semelhan¸cas e as diferen¸cas entre as duas em rela¸c˜ao a utiliza¸c˜ao do infinito potencial e atual, em rela¸c˜ao a ideias intuitivas envolvidas?

h) Como o principio de Exaust˜ao pode ser enunciado, neste contexto, como uma propriedade dos n´umeros reais?

i) Prove o Teorema Fundamental do C´alculo.

Exerc´ıcio 9 Elabore uma teoria de infinit´esimos, explicitando (intuitivamente ou formalmente) quais curvas pertencem ao seu dom´ınio de estudo (que deve ao menos incluir as rela¸c˜oes polino-miais) e criando justificativas para as propriedades que atribuir aos infinit´esimos. De posse desse arcabou¸co conceitual:

a) Defina nessa teoria o conceito de derivada de uma curva num ponto e calcule a derivada de

xn.

b) Defina nessa teoria a ´area sobre uma curva e calcule a ´area entre xn e o eixo x entre 0 a 1.

c) Crie uma demonstra¸c˜ao/justificativa para a validade do Teorema fundamental do c´alculo nessa teoria.

d) Apresente cr´ıticas a sua teoria de infinit´esimos.

e) Compare a demonstra¸c˜ao anterior do TFC com a demonstra¸c˜ao do TFC apresentada no exerc´ıcio anterior. Podemos dizer que esses dois teoremas fundamentais do c´alculo s˜ao o mesmo teorema? Como podemos comparar o conhecimento dessas duas teorias do c´alculo?

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