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Palavras chave: uva fresca, competitividade, comercialização

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Academic year: 2021

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Caracterização do mercado e fatores que interferem na competitividade da uva fresca no estado de São Paulo.

Maura Seiko Tsutsui Esperancini José Matheus Yalenti Perosa Priscilla Rocha

Resumo: A uva fresca é um dos produtos com maior potencial para ampliação de

consumo no mercado interno, ainda não aproveitado. Os objetivos deste trabalho foram caracterizar o mercado atacadista de uva no ETSP-CEAGESP, principal canal de comercialização da fruta, diagnosticar os principais problemas ao longo deste sistema de comercialização e identificar as janelas estratégicas de participação no mercado interno e externo, analisando a sazonalidade dos preços e da produção das principais variedades consumidas no Brasil e importadas. Para isto foram aplicados questionários de cunho qualitativo aos principais agentes da cadeia, produtores, empresas de transporte, permissionários, varejistas e consumidores. Os índices de sazonalidade foram obtidos pelo método da média geométrica móvel centralizada para o período de 94-99. Os resultados obtidos permitem concluir que existe forte concentração na comercialização do atacado, que se manifesta no sistema de venda e na transparência na formação de preços. Em relação aos problemas na cadeia destacam-se a qualidade do produto, derivados de questões técnicas (pragas e doenças) e de mercado (colheita antecipada, embalagens e transporte inadequados, etc.), inexistência de contratos e de confiança entre os agentes econômicos e dificuldade na transmissão e implementação das exigências dos consumidores até o produtor. As informações sobre a sazonalidade apontam para diferentes níveis de correlação entre a oferta e a formação dos preços, e para algumas variedades, o componente da demanda é importante, assim como a presença de produtos substitutos em determinadas épocas do ano. Identificou-se a possibilidade de aumentar a competitividade da fruta nacional, a partir de mudanças ao longo de toda a cadeia, focando a atenção dos agentes envolvidos na qualidade, preços e períodos de oferta das principais variedades, nacionais e importadas.

Palavras chave: uva fresca, competitividade, comercialização

Introdução

A uva é uma das frutas mais consumidas e comercializadas no mundo, ao lado da laranja, maçã, banana, pêssego, pêra e abacaxi. A maior parte da uva é transformada em vinho e suco

(Hidalgo, 1999).

Na maioria dos países produtores ela é cultivada em pequenas e médias propriedades e, em virtude da intensidade de uso de mão-de-obra, apresenta economias de escala na produção relativamente limitadas. Utiliza-se, em geral, mão-de-obra familiar e tratos culturais especializados, e alta flexibilidade de custos frente à variações de preços.

Embora a produção continue sujeita às limitações climáticas, salvo em regiões onde se pratica a irrigação, verifica-se uma tendência à ampliação da oferta de frutas frescas para além dos períodos tradicionais de safra. Isto, em razão da maior distribuição das regiões produtoras do mundo, em especial pelo crescimento da produção de frutas de clima temperado no hemisfério

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Sul e dos avanços da tecnologia de conservação, que estendem o tempo de armazenagem das frutas. A mudança tecnológica tem como efeito a redução das chamadas janelas estratégicas de comercialização de produtos de clima temperado de contra estação, quando a produção do hemisfério Sul abastece os países do Norte na entressafra.

O Brasil produz cerca de 998.545t de uva numa área de 61382ha. A produção de uvas de mesa pode ser dividida em dois grupos: o de uvas finas, onde se destacam as variedades como Itália, Rubi, Benitaka, e o de uvas rústicas de mesa, com destaque para a variedade Niagara Rosada. Do total da área plantada com uvas de mesa, cerca de 47% são de uvas rústicas e 53% de uvas finas de mesa (Pereira & Nachtigal, 1997).

O Brasil tem ocupado espaço no mercado mundial, no período de setembro a fevereiro, embora não seja um dos principais exportadores da fruta. No período que vai de setembro a novembro os principais concorrentes brasileiros são os países do hemisfério Norte. De dezembro a fevereiro passa a concorrer também com Argentina e Uruguai e em março e abril com a fruta chilena.

Dada a extensão geográfica, a tecnologia de produção, particularmente em algumas áreas tradicionais da região sul, e das novas áreas irrigadas da região nordeste, a possibilidade de o Brasil entrar nos mercados do hemisfério norte em períodos mais extensos e com maior volume de exportação são grandes. Para tanto, são necessárias pesquisas visando a obtenção de variedades demandadas por esses mercados (Vieira et al, 2002), bem como ações a serem implementadas ao longo da cadeia produtiva visando maior competitividade.

A cadeia produtiva da uva fresca apresenta sérias deficiências, o que vem limitando o aproveitamento deste potencial, tanto em termos de consumo interno, quanto de exportação.

Objetivos

Os objetivos do presente estudo são os seguintes:

‰ Caracterização do principal sistema de comercialização da fruta fresca, cujo canal principal é o Entreposto Terminal de São Paulo da Companhia de Abastecimento Geral de São Paulo - ETSP-CEAGESP.

‰ Diagnóstico dos principais problemas que afetam a comercialização da uva fresca levantados pelos diversos agentes da cadeia (produtores, atacadistas, varejistas e consumidores).

‰ Identificar as janelas estratégicas de participação no mercado interno e externo, analisando a sazonalidade dos preços e da produção das principais variedades consumidas no Brasil e importadas.

Material e Métodos

Para a caracterização do principal mercado atacadista foram levantadas informações de origem e participação das diversas regiões no total comercializado. Foram selecionadas as principais variedades, tendo como critério a quantidade comercializada e a regularidade de oferta. A estrutura do mercado atacadista de uva também foi analisada, estabelecendo-se a concentração da comercialização num grupo restrito de permissionários. O procedimento para essa análise foi o levantamento de informações através das notas fiscais emitidas. Foram levantados também os sistemas de venda presentes nesse mercado.

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Para diagnosticar os principais problemas atinentes aos focos de ineficiência do principal canal de escoamento da fruta fresca no estado de São Paulo, foram realizadas entrevistas junto aos produtores de uva fina e de uva rústica, junto aos permissionários que comercializam o produto, aos técnicos dos principais instrumentos varejistas e finalmente junto aos consumidores. Neste questionário procurou-se avaliar as principais características dos sistemas de comercialização, bem como os principais problemas enfrentados pelos agentes da cadeia no sistema de comercialização de uva fresca, que tem como canal principal de escoamento o ETSP-CEAGESP.

Os dados secundários de preços e quantidade comercializada, utilizados para análise da sazonalidade do mercado, foram coletados e organizados pela equipe do Programa de Oferta de Produtos Diferenciados do Departamento Econômico da CEAGESP.

A sazonalidade de preços e quantidades foi determinada pelo método da média geométrica móvel centralizada (HOFFMAN, 1980) para as seguintes variedades: importadas (Red Globe, Thompson e Moscatel), uvas finas (Itália, Rubi e Benitaka) e uva rústica (Niagara), principais variedades comercializadas na CEAGESP em termos de quantidade e regularidade. As demais variedades comercializadas têm oferta mais pontual, restrita ou irregular.

Resultados e Discussão

Características da Comercialização no atacado

No período de janeiro a março, o mercado de uva fina de mesa é abastecido principalmente pelas regiões de Botucatu, Campinas, Itapetininga e Sorocaba. O Paraná abastece o mercado de abril a julho, e as regiões de Dracena, Campinas, Jales, e Nordeste, no período que vai de agosto a dezembro.

Para a uva rústica, as principais regiões supridoras são Campinas, Sorocaba e Itapetininga, no período que vai de novembro a julho, e as regiões de Jales e Dracena de agosto a outubro. As uvas importadas abastecem o mercado principalmente no período de menor entrada, de abril a julho.

Os municípios que apresentam a maior produção de uva fina de mesa no estado de São Paulo são os de São Miguel Arcanjo (18.900t), Pilar do Sul (14.280t), Jales e Palmeira D´Oeste (em torno de 5.500t cada um). Na uva rústica, os principais municípios produtores são Louveira (87.800t), Jundiaí (16.000t), Indaiatuba e Porto Feliz (7.550 t cada)

As variedades mais comercializadas na Ceagesp são apresentadas no quadro a seguir: Quadro 1. Variedades mais comercializadas no ETSP-CEAGESP, 1993-1998

Uvas Finas Itália, Rubi, Benitaka, Brasil, Quioro, Centenial, Benifuji, Red Globe

Uvas Rústicas Niagara, Isabel

Uvas Importadas Red Globe, Thompson, Moscatel, Almeria, Christmas Rose, Ribier, Emperor

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Existem outras variedades comercializadas, em menor volume, mas as citadas anteriormente são encontradas com relativa facilidade em qualquer época do ano e produzidas em todas as regiões do Estado de São Paulo e do Brasil, salvo a Rubi, que não é produzida no Nordeste. As frutas importadas são encontradas durante o ano, utilizando-se câmaras frias para armazenagem.

A formação dos preços de uva fresca é influenciada por diversos parâmetros. Existe forte correlação na formação de preços entre uva fina e uva rústica: o consumidor tem como parâmetro de compra que as uvas rústicas são mais doces que as uvas finas, sendo a uva Niagara a principal concorrente das uvas finas. A formação de preços de uva fresca leva em conta também outros parâmetros, como quantidade de cada variedade, volume importado, oferta e qualidade de outras frutas. Neste sentido observa-se que alguns permissionários deixam de trabalhar com o produto em condições de aumento de oferta, melhoria de qualidade e preços mais atrativos de outras frutas.

Foi observada também uma forte concentração na comercialização de uva no atacado. Os dados do quadro 2 foram coletados a partir de notas fiscais de entrada, o que, em alguns casos apresentam erros de preenchimento, tanto por parte do produtor quanto do permissionário. No entanto eles permitem a construção de indicadores do grau de concentração da comercialização de uva no atacado.

No ETSP existem cerca de 20 permissionários trabalhando com uva importada, 20 com uva rústica e 21 com uva fina de mesa. Este número varia com a época do ano e com a região produtora.

Quadro 2. Concentração da comercialização de uva, por tipo, em 1999. Produto C4

(%)

C8 (%)

Volume comerciali- zado dos 4 principais

permissionários (t) Volume comercializado dos 8 principais permissionários(t) Uvas importadas 56,9 82,1 1901 2745 Uva Fina 45,7 70,9 3225 4997 Uva Rústica 43,9 73,4 978 1511 Fonte: CEAGESP- Departamento Econômico

A participação de cada permissionário na venda da uva varia mês a mês, mas existe forte concentração da comercialização em poucos permissionários, que são, em última instância os formadores de preços do produto. Para uva fina, por exemplo, cerca de 46% do total comercializado está concentrado em apenas 4 permissionários e cerca de 71% nos 8 principais atacadistas.

O sistema de venda predominante no mercado atacadista do ETSP é o de consignação, sistema pelo qual do preço formado no mercado são descontados 17,5% de comissão do permissionário, 2,2% de INSS, o valor do frete, da embalagem e da descarga. Poucos produtores, com marca mais consolidada no mercado devido à alta qualidade vendem no sistema de preço feito, ou seja, o preço combinado na saída do produto do campo e o comprador arca com os custos de comercialização.

No caso de uvas importadas a alta do dólar afeta o volume comercializado, mas existe um mercado garantido, uma vez que as variedades importadas não são produzidas no Brasil, ou são

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produzidas em quantidade insuficiente e/ou apresentam qualidade distinta do similar importado. É o caso da Thompson (sem semente) e a Moscatel (bastante doce). No caso da Red Globe nacional, boa parte da produção é direcionada à exportação, não configurando concorrência no mercado interno com a variedade importada.

Há casos de produtores que estão deixando as regiões tradicionais de produção para conseguir entrar no mercado nas épocas em que ocorrem as janelas estratégicas e aproveitar os períodos em que a oferta é reduzida e os preços mais remuneradores.

Como outros produtos do setor de FLV, a demanda cai significativamente em períodos de férias ou feriados prolongados. Embora não tenha sido quantificada, há indicações de que o consumo é elástico em relação à renda, fenômeno identificado pelos permissionários.

Foram identificados produtores tradicionais que conseguiram estabelecer uma confiança no produto, garantida pela qualidade, e o preço alcança cotação até 40% mais elevada, graças à consolidação da marca do produtor.

Diagnóstico dos principais problemas na cadeia produtiva da uva fresca

A viticultura é uma das atividades que oferece melhor remuneração, pois mesmo em pequenas áreas pode-se obter elevados retornos financeiros. Verificou-se, por outro lado, que poucos produtores fazem uma gestão de custos, fundamental na formação de preços deste mercado, onde o produtor dificilmente sabe a priori o preço a ser recebido pelo produto.

Muitos problemas referentes à qualidade da uva ocorrem na produção, pós-colheita, transporte e descarga do produto. Foi analisado o caso da uva na região de Jales e identificou-se que os principais problemas de qualidade são engaço seco, botritis, sachê cortado ao meio, cachos molhados, uvas imaturas, presença de resíduos, bagas rachadas, coloração não característica da variedade, bagas fermentadas, coroinha, degrana, chocolate, bagas aguadas, casca dura e grande variação de tamanho da baga e estágio de maturação. Estes problemas acarretam sérios problemas de qualidade do produto e impacto nos preços.

Um dos problemas detectados na comercialização de uva á a presença de lotes de baixa qualidade principalmente no início da safra. Uma das razões apontadas é o hábito do produtor em tentar colocar rapidamente o produto no mercado, não respeitando a maturação fisiológica da fruta, que nesta situação apresenta baixo teor de sólidos solúveis, a chamada uva azeda. Este hábito tem impacto importante no mercado, pois quem adquire um produto deste tipo, demora para consumir o produto novamente.

No caso da uva Rubi, particularmente, que necessita de condições específicas para obter a coloração típica da variedade (noites frias e dias quentes), o problema é o cultivo em regiões não indicadas para o cultivo, o que prejudica a qualidade do produto e reduz a competitividade. Por outro lado, a oferta de uva importada, com melhor aparência, e em algumas épocas do ano, com preços semelhantes ao do produto nacional, tem levado a uma pressão para a melhoria da uva nacional.

Embora os produtores estejam adotando a caixa de papelão, paletizável, muitos produtores entregam o produto nas conhecidas caixas M, que é retornável e utilizada para o transporte de manga. O grande problema deste tipo de transporte é o custo, pois o caminhão retorna com as caixas vazias impossibilitando o transporte de outros produtos. Quando a caixa é retornável o custo aumenta em torno de 50%.

Outro problema detectado é a condição de transporte do produto, que é recolhido no campo em caminhonetes não lonadas, levados para a firma transportadora e acomodados no caminhão que os leva até a CEAGESP, onde o produto é descarregado. Como não existe um

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sistema de descarga normatizado, os acordos entre carregadores são verbais. Em muitos casos, isto acarreta filas de espera, pois se os carregadores acertados para a descarga estão ocupados, o produto fica na fila de espera, mesmo que haja outros trabalhadores ociosos. Muitas vezes esta espera se dá no sol ou chuva, provocando queda na qualidade do produto. Também existem fortes resistências a acatar as orientações do encarregado do transporte, que geralmente é funcionário de empresas terceirizadas de transporte.

A forma de descarga também não é a mais adequada, pois muitas vezes o produto é jogado dentro do box, gerando grande volume de produtos com amassamento, o que provoca rápida deterioração. Além disso, a lona protetora é retirada de uma vez para o descarregamento expondo o produto ao sol e à chuva, quando o recomendado é a retirada da lona aos poucos, protegendo o produto no caminhão. O custo do descarregamento é relativamente elevado, pois iguala-se ao custo do frete, R$ 0,13 por caixa.

Outro problema é que muitas vezes o produto unitizado é descarregado manualmente, o que inutiliza todo o trabalho anterior de paletização e unitização da carga.

Dado o custo do frete, muitos produtores vendem diretamente aos compradores, sem contratos formais, pagando preços mais elevados e isentando o produtor do custo do frete. Embora atrativa, esta forma de venda implica em riscos bastante elevados, pois foi detectada elevada inadimplência nesta forma de comercialização.

Este sistema de comercialização no atacado enseja comportamentos oportunistas por parte dos agentes. No levantamento dos principais problemas destacados por cada um dos agentes, a falta de confiança é citado por todos, conforme mostra o quadro 3:

Quadro 3: principais problemas destacados pelos agentes da cadeia

PRODUTOR ATACADO VAREJO CONSUMIDOR 1. Inadimplência 2. Preços baixos 3. Falta de confiança 1. Má apresentação do produto 2. Falta de qualidade 3. Dificuldade em

passar para o produtor as exigências do mercado consumidor 4. Falta de confiança 1. Má apresentação do produto 2. Falta de qualidade 3. Mistura do produto 4. Falta de confiança 1. Má apresentação do produto 2. Falta de qualidade 3. Mistura do produto 4. Falta de confiança

Fonte: CEAGESP – Departamento Econômico

Verifica-se que as relações entre os agentes não são pautadas pela confiança e, na ausência de contratos formais, enseja a ocorrência de comportamentos oportunistas, tanto por parte do permissionário, na formação de preços, quanto do produtor na qualidade do produto. Como o produtor não tem confiança no permissionário quando da determinação dos preços, o produtor se permite o mesmo tipo de comportamento ao não atentar para a qualidade, classificação, padronização e embalagem do produto. Este fenômeno se estende ao longo da cadeia nas relações entre atacadistas e varejistas, e varejistas e consumidores.

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Sazonalidade dos preços e quantidades ofertadas no mercado da uva Variedades Importadas

As uvas importadas ocupam espaço no mercado em períodos semelhantes, ou seja na entressafra da produção brasileira, que vai de fevereiro a agosto. Os resultados do padrão de variação estacional de preços para as variedades importadas (Red Globe, Moscatel e Thompson) são apresentados a seguir:

Quadro 4. Padrão de variação estacional de preços e quantidade da uva Moscatel importada no período de 1994 /1999

Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade Mês Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo Mar 108,9 113,3 117,8 319,4 547,8 939,6

Abr 90,1 100,6 112,4 389,7 819,8 1724,4

Mai 84,4 92,9 102,2 398,8 868,9 1893,4

Jun 73,8 86,5 101,3 213,0 438,1 901,1

Jul 103,7 109,2 115,0 200,6 332,1 549,62

Fonte: Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

A uva moscatel entra no mercado paulista em todos os meses do ano, concentrando-se num período restrito, de março a julho, com pico de entrada em maio e junho, embora apresentem elevada irregularidade nos volumes importados. É uma variedade bastante valorizada por ter altos teores de açúcar e atende a um segmento específico de mercados, com preços médios superiores às demais variedades.

Quadro 5. Padrão de variação estacional de preços e quantidades da uva Thompson importada no período de 1994 /1999

Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade Mês Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo Jan 90,0 97,3 105,2 34,9 113,8 370,8 Fev 74,2 81,3 89,2 93,4 198,7 422,8 Mar 64,9 67,2 69,5 66,3 193,3 563,5 Abr 58,3 63,1 68,3 260,3 453,8 791,0 Mai 52,2 60,5 70,0 309,4 458,7 680,1 Jun 54,2 62,2 71,4 210,9 297,7 420,2 Jul 48,5 58,4 70,2 159,4 227,3 324,1 Ago 55,6 119,8 258,1 11,4 53,6 242,2 Set 115,5 180,9 283,4 4,1 13,9 46,7

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Out 127,9 180,5 254,8 16,0 40,1 100,2 Nov 145,2 185,5 237,0 16,9 23,1 31,7 Dez 148,8 187,0 235,1 9,9 23,9 54,5 Fonte: Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

Em relação à Moscatel, a uva Thompson apresenta-se no mercado com volumes significativos num período mais extenso, de fevereiro a julho, com a oferta concentrada nos meses de abril e maio. A partir de julho, a comercialização cai drasticamente com acentuada elevação de preços, apresentando correlação entre preços e quantidades ofertadas.

Quadro 6 - Padrão de variação estacional de preços da uva Red Globe importada no período de 1994 / 1999

Mês Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo Jan 114,8 125,0 136,2 94,3 114,8 139,7 Fev 69,4 86,9 108,9 73,3 155,8 330,7 Mar 68,1 83,3 102,0 244,9 257,7 271,2 Abr 70,5 79,4 89,6 411,1 451,7 496,3 Mai 71,2 75,4 79,9 401,4 450,3 504,9 Jun 71,7 79,0 87,1 131,5 263,3 527,1 Jul 78,9 84,2 89,9 72,8 158,9 346,8 Ago 80,1 114,2 162,8 44,5 53,3 63,9 Set 76,6 108,1 152,5 28,5 29,1 29,8 Out 96,3 114,6 136,4 21,7 29,8 40,8 Nov 114,6 125,0 136,3 19,6 24,9 31,7 Dez 108,7 156,7 226,0 20,6 22,0 23,5 Fonte: Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

A uva Red Globe apresenta comercialização mais significativa de março a julho, com picos em abril e maio, meses em que se verificam os menores preços. A partir de julho, o volume de comercialização cai em função da entrada da uva nacional.

Para as uvas importadas, de uma forma geral, verifica-se forte correlação entre preços e volume de comercialização, ocupando o mercado na entressafra nacional, indicando que o principal fator de formação de preços das variedades importadas é o volume de importação do produto na ETSP-CEAGESP.

Uvas finas nacionais

Para as uvas nacionais a correlação entre o padrão de variação estacional de preços e quantidades não é tão claro, em função do grande volume de entrada de produtos, não só de

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diversas variedades de uvas finas, como também de outras frutas, que começam a entrar no mercado em agosto. Apesar da safra de uvas finas começar em agosto, com maiores volumes de entrada, os preços apresentam um padrão de comportamento crescente até dezembro, indicando forte componente da demanda na formação dos preços.

Quadro 7. Padrão de variação estacional de preços e quantidade da uva Benitaka nacional, no período de 1994 / 1999.

Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade

Mês Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo

Jan. 80,0 89,9 101,1 67,1 88,9 117,9 Fev. 80,7 84,4 88,2 82,0 83,1 83,9 Mar 82,0 102,7 128,6 51,0 65,6 84,3 Abr 85,1 104,4 127,9 66,4 67,6 68,7 Mai 86,5 96,8 108,3 58,5 60,0 61,6 Jun 83,0 87,3 91,8 69,2 75,1 81,5 Jul 93,2 96,1 99,1 58,3 92,8 147,8 Ago 83,7 92,9 103,1 114,8 127,6 141,7 Set 97,6 107,3 118,0 118,6 130,9 144,6 Out 116,8 116,9 117,0 120,4 147,9 167,4 Nov 125,5 126,6 127,7 106,6 154,2 223,1 Dez 71,7 102,7 147,1 117,3 199,2 189,7

Fonte: Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

Das uvas finas analisadas, a uva rubi, apresenta uma correlação mais clara entre preços e quantidades, possivelmente por ser um produto que exige condições específicas de produção que só são atendidas em determinadas regiões, atendendo a segmentos específicos do mercado e os preços são determinados pela oferta do produto.

Quadro 8. Padrão de variação estacional de preços e quantidade da uva Rubi nacional, no período de 1994 / 1999.

Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade

Mês Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo

Jan 82,1 95,0 110,1 92,2 111,3 154,3

Fev 78,3 89,1 101,4 90,7 116,5 149,7

Mar 83,1 94,2 106,9 90,7 120,0 158,7

Abr 97,5 106,5 116,3 55,6 70,6 89,5

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Jun 65,2 77,3 91,6 42,0 59,1 83,1 Jul 83,7 93,4 104,1 57,4 79,9 111,2 Ago 90,0 103,1 118,1 135,2 157,3 182,8 Set 104,2 113,3 123,3 114,9 151,4 199,4 Out 103,7 124,3 149,1 74,75 105,4 148,7 Nov 106,0 126,8 151,8 54,7 76,3 106,4 Dez 82,0 99,5 120,6 102,6 159,1 246,9

Fonte: Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

Quadro 9. Padrão de variação estacional de preços e quantidade da uva Itália nacional, no período de 1994 / 1999.

Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade

Mês Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo

Jan 81,0 94,9 111,1 108,1 125,6 146,0 Fev 73,7 82,1 91,5 114,2 132,6 153,8 Mar 80,7 91,6 104,0 100,6 127,1 160,6 Abr 93,5 107,1 122,7 54,7 71,9 94,6 Mai 72,1 88,4 108,4 58,7 69,3 82,1 Jun 66,5 78,7 93,0 41,7 72,5 125,8 Jul 92,4 98,5 105,0 42,8 65,6 100,7 Ago 90,6 109,6 132,6 83,27 99,6 119,1 Set 101,9 116,3 132,7 95,6 106,7 119,0 Out 102,2 119,9 140,7 94,2 114,5 139,1 Nov 108,1 121,8 137,2 78,5 102,7 134,5 Dez 83,7 102,6 125,7 126,7 159,4 200,5

Fonte: Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

A uva Itália e a uva Benitaka são as que apresentam relação menos clara entre preço e quantidade, pois a partir de agosto, quando entram volumes crescentes do produtos, os preços apresentam-se crescentes neste mesmo período. Isto pode ser explicado pelo fato de que outros fatores, que não a oferta, interferem na comercialização como a qualidade do produto, a demanda e a concorrência com outras frutas.

Particularmente, a uva Itália deve sofrer este processo com mais intensidade, pois é dentre as variedades analisadas, a que apresenta o menor preço médio, atingindo públicos consumidores mais amplos e portanto mais sensíveis aos preços e à concorrência com outras frutas.

Deve-se atentar para o fato de que neste período o consumo é crescente em função das altas temperaturas, mas a qualidade também é um fator interveniente, pois a entrada de uvas de menor qualidade logo no início da safra pode alterar as decisões de aquisição da fruta.

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Uva rústica

A uva Niagara é a principal variedade de uva rústica e começa a entrar no mercado em dezembro, entre o final da safra de uvas finas e a entrada das uvas importadas. Porém, neste caso, a comercialização concentra-se em dezembro e janeiro, que é o período de maior concorrência entre uvas finas e uvas rústicas.

Quadro 10. Padrão de variação estacional de preços e quantidade da uva Niagara nacional, no período de 1994 / 1999.

Índices Sazonais – Preços Índices Sazonais – Quantidade

Mês Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo

jan 53,9 63,5 74,8 178,2 300,8 5077,6 fev 53,8 64,8 78,1 2161,6 439,8 894,9 mar 87,0 92,1 97,6 1221,3 183,9 277,0 abr 62,7 78,6 98,3 165,1 781,4 369,8 mai 49,8 69,4 96,7 1277,2 192,9 291,3 jun 61,6 82,0 109,1 761,8 115,2 174,1 jul 79,3 102,7 133,1 469,8 77,8 128,8 ago 128,0 141,4 156,2 134,3 24,9 463,6 set 127,6 169,9 226,3 47,2 7,5 11,8 out 127,3 189,8 283,1 114,7 151,3 20,0 nov 119,9 152,7 194,6 240,3 580,4 140,2 dez 67,9 82,6 100,4 1364,9 1861,1 2537,8

Fonte: : Elaborado a partir de dados do ETSP- CEAGESP

Os resultados de sazonalidade permitem inferir que as uvas finas importadas consolidaram seu espaço no mercado brasileiro, no período da entressafra nacional. Apesar de apresentarem preços médios superiores ao produto nacional, as variedades importadas tem se mantido no mercado, em função da excelência da qualidade e da oferta de um produto valorizado e diferenciado, como a uva Thompson, sem semente.

As uvas finas enfrentam maior concorrência no período da safra, entre as variedades tradicionais e outras menos conhecidas como a Quioro e Centennial, além da concorrência com outras frutas. Mais no final da safra essa concorrência se verifica com as uvas rústicas, como Niagara e Isabel. Apesar disso, mesmo na época da safra, as variedades finas mantiveram um padrão ligeiramente crescente de preços.

Conclusões

A competitividade da uva no mercado interno e externo é delimitada por uma série de parâmetros que se estabelecem ao longo da cadeia produtiva. A presença de pontos fracos na esfera da produção, conformando restrições à aquisição de competitividade, estão fortemente

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relacionados à estrutura de comercialização e características do mercado consumidor, de tal sorte que a análise desses parâmetros necessitam o conhecimento, caracterização e inter-relação dos agentes econômicos que atuam ao longo da cadeia.

Nesse sentido, a análise da estrutura do mercado atacadista de uva fresca mostra que algumas características podem se colocar como obstáculos na aquisição de competitividade da cadeia. Dentre essas destaca-se:

‰ Forte concentração na comercialização do atacado, com respectivo poder de mercado. Embora os dados mostrem uma correlação entre a formação dos preços e a oferta, esse poder de mercado se manifesta no sistema de venda e na transparência com que se estabelecem as perdas havidas e o preço de mercado formado. Essa relação é base para existência de comportamentos oportunistas que acabam por inviabilizar programas de melhoria e expansão do mercado, influindo na competitividade.

Em relação ao diagnóstico de problemas na cadeia que afetam o processo de comercialização, destacam-se:

‰ Na esfera da produção, foram observados problemas com a qualidade do produto, derivados de questões técnicas (pragas e doenças) e de mercado (colheita antecipada, embalagens e transporte inadequados, etc.).

‰ Inexistência de contratos e de confiança entre os agentes econômicos, ensejando comportamentos oportunistas ao longo da cadeia.

‰ Dificuldade na transmissão e implementação das exigências dos consumidores até o produtor.

Esses fatores apontam para uma rigidez da cadeia produtiva no mais importante canal de comercialização, para atender mudanças de mercado e, por conseguinte, reduzindo a capacidade de competir no longo prazo.

As informações sobre a sazonalidade apontam para diferentes níveis de correlação entre a oferta e a formação dos preços, sendo que, para algumas variedades, o componente da demanda é importante, assim como a presença de produtos substitutos em determinadas épocas do ano.

Da análise da sazonalidade da uva importada e nacional, observa-se a possibilidade de participar de janelas de mercado. Essa participação pode se verificar com a uva nacional, produzida fora do período de maior oferta em São Paulo.

A uva importada ocupa segmentos de mercado com menor participação do produto nacional (uva sem semente, por exemplo). No entanto, dado que há uma forte correlação entre aumento da importação de uva com a redução da oferta doméstica, o deslocamento do período da oferta interna seria importante.

As considerações precedentes apontam para a necessidade de mudanças ao longo de toda a cadeia, focando a atenção dos agentes envolvidos nos diversos segmentos existentes. A participação em janelas de mercado, interno e com concorrência do produto importado, necessita mudanças na esfera da produção e na distribuição da uva.

Referências Bibliográficas

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PEREIRA, F.M. ; NACHTIGAL, J.C. A cultura da videira no Brasil. In: FORO

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VEIRA, C. R. Y. I.; PANTANO, S. C.; PEROSA, J. M. Y., BRIZOLA, R. M. O .e SILVA, C.S. S.. Competitividade da uva brasileira no mercado internacional. In: XVII Congresso Brasileiro de Fruticultura: os novos desafios da fruticultura brasileira, Belém-Anais ... Belém - PA, 2002. HOFFMANN, R. Estatística para economistas, São Paulo, Pioneira. 1980.

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