BLOGS
COM O FERRAM ENTA DE
ENSINO-APRENDIZAGEM DE
DIPLOM ÁTICA E TIPOLOGIA DOCUM ENTAL:
UM A ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA CONSTRUÇÃO DE
CONHECIM ENTO
1André Porto Ancona Lopez
Dout or em História pela Universidade de São Paulo, Brasil. Professor da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, Brasil.
E-mail: apalopez@gmail.com
Rodrigo Fortes de Ávila
M est re em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, Brasil. E-mail: rodfortes@gmail.com
Rosamaria Gonçalves de M ello
Bacharela em Arquivologia pela Universidade de Brasília, Brasil. E-mail: rosamariamello@gmail.com.
Thays Rodrigues dos Santos
Bacharela em Arquivologia pela Universidade de Brasília, Brasil. E-mail: t hays.rodrigues14@yahoo.com.br
Resumo
Os conceit os da Diplom ática vêm sendo revisit ados e apresent am um a nova configuração dentro do debat e cont em porâneo das t ecnologias de inform ação e com unicação (TICs), porém continuam a ser t rat ados de m aneira tradicional no universo do ensino de Arquivologia. O artigo busca m ost rar um a t ent at iva de t ransform ação do paradigm a t radicional a part ir da m odificação de um a disciplina at ravés da const rução de um a ferram ent a de ensino que t em como base os elem ent os da com unicação 2.0 e a novas TICs. A disciplina Diplom át ica e Tipologia Docum ent al (DTD), m inist rada na Universidade de Brasília (UnB), iniciou, no 1º sem est re de 2009, o uso de blogs com o um m ecanism o de int eração professor–aluno e aluno-aluno. O corpo discent e t em a oport unidade de post ar em seus blogs os t rabalhos feit os em sala ou fora dela, além de com ent ar os t rabalhos dos outros grupos e discut ir sobre os m ais variados t em as relacionados com a Arquivologia e sua aplicabilidade a diversas áreas, analisando filmes e report agens at uais sob a ót ica da Diplom át ica, aproxim ando a disciplina ao dia-a-dia dos alunos. Os blogs perm it em a quebra das front eiras físicas, am pliando o am bient e de discussão, no qual os alunos podem opinar, discordar, relat ar experiências e t er acesso a out ras font es de pesquisa, const ruindo conhecim ent o em rede.
Palavras-chave: Diplom át ica e Tipologia Docum ent al. Blog. Am bient e de Ensino. Ensino de Arquivologia.
1
1 INTRODUÇÃO: UM PROBLEM A PEDAGÓGICO E INFORM ACIONAL
A t ransform ação do ant igo paradigm a de form ação universit ária só é possível de ocorrer se o uso das novas prát icas e da t ecnologia est iver associado a um a post ura de const rução de conhecim ent o pelo próprio aluno, com o sujeit o de seu aprendizado. As t ecnologias de inform ação e com unicação (TICs) possibilit am a real t ransform ação do m odelo de com unicação vert ical da aula t radicional desde que haja a perspect iva de rom per com o m odelo da com unicação de um para m uit os e se busque const ruir um am bient e que favoreça o crescim ent o cognit ivo do aluno. É necessário que se t enha em m ent e que o conjunt o das ações didát icas deve ser considerado com o um a est rat égia de pensam ent o, com o um m ét odo que auxilie a gest ão e const rução do conhecim ent o dos alunos. Concorrem para o êxit o dessa ação não apenas a m udança de conceit os relat ivos à form ação acadêm ica, m as t am bém o uso adequado das ferram ent as t ecnológicas, feit o a part ir da const rução prévia de um m odelo inform acional a ser desenvolvido. Trat a-se de definir que t ipo de inform ação será ut ilizada nas novas TICs e que com port am ent o ela deverá t er em função dos objet ivos de ensino e da dinâm ica desejada para o ensino-aprendizagem .
No caso em quest ão, o blog de Diplom ática e Tipologia Docum ent al (DTD), a const rução do m odelo e a aplicação prát ica foram sendo const r uídos concom it ant em ent e, o que exigiu um a grande adapt abilidade da ferram enta, além de um a curva de aprendizado significat iva, que possibilit ou m oldar os recursos t ecnológicos aos requisit os didát icos da disciplina. Se as TICs são cada vez m ais usadas cot idianam ent e para os mais diversos fins, sendo um dos principais m eios para o relacionament o int erpessoal, elas não podem ser ignoradas no âm bit o educacional. Nesse cenário, a ut ilização apenas de m eios t radicionais de ensino leva à falt a de int eresse dos est udant es e, geralm ent e, associa-se à inadequação dos cont eúdos e est rat égias de ensino às realidades individuais, com prom et endo a qualidade da form ação. A sim ples at ualização das ferram ent as (com o, por exem plo, a t roca do quadro negr o pelo dat a-show ), sem o redim ensionam ent o das est rat égias não cont ribui para a m elhoria da sit uação. No universo da Arquivologia a m udança de post ura é ainda m ais necessária, post o que as TICs est ão ocasionando alt erações subst anciais na percepção, conceit uação e ocorrência dos objet os prim ordiais da área de conhecim ent o: o docum ent o, suas relações adm inist rat ivas e a recuperação da inform ação. Assim , um novo “ desenho” didát ico para a form ação de arquivist as e para a produção de conhecim ent o arquivíst ico é cada vez m ais prem ent e e necessária.
2 DIPLOM ÁTICA: UM A CIÊNCIA “VELHA” CADA VEZ M AIS ATUAL
docum ent os at uais. Surge, ent ão, a Diplom át ica Arquivíst ica Cont em porânea (cf. GUIM ARAES; TOGNOLLI, 2007). Nesse cont ext o, o conceit o de Tipologia Docum ent al, passa a ser am pliado para a Diplom át ica Arquivíst ica, que busca m ediar a análise do docum ent o diplom át ico em um cont ext o arquivíst ico (cf. DURANTI, 1996). O foco da análise docum ent al assum e a crít ica sobre o conjunt o dos regist ros orgânicos, objet o da Arquivologia, dest acando a função adm inist rat iva com o geradora do regist ro orgânico (cf. LOPEZ, 1999).
Na passagem da Diplom át ica t radicional para a cont em porânea a própria noção de docum ent o é rediscut ida e am pliada. Percebe-se que o m esm o m ét odo para a avaliação form al e crít ica dos docum ent os m edievais pode ser ut ilizado para a análise dos regist ros cont em porâneos, desde que arquivist icam ent e cont ext ualizados. Nessa direção, Heloísa Bellot t o (2004, p. 52) apont a que o conceit o de Tipologia Docum ent al t om ado pela arquivíst ica “ é a am pliação da Diplom át ica na direção da gênese docum ent al e de sua cont ext ualização nas at ribuições, com pet ências, funções e at ividades da ent idade geradora ou acum uladora” . A aplicação dos princípios da Diplom át ica pode ser efet ivada em qualquer docum ent o, seja ele arquivíst ico ou não. Esse é um dos pont os levant ados com o essenciais para a discussão da disciplina no cont ext o cont em porâneo, porque ela é adapt ável à m ult iplicidade de regist ros da at ualidade (dado que seu inst rum ent al pode ser aplicado a t odo e qualquer tipo de docum ent o) e, ainda, porque a aproxim a do debat e t ecnológico.
Sob t al ót ica apresent a-se o desafio de aum ent ar a capacidade de aprendizagem dos alunos dessa disciplina no ensino universit ário. Se a Diplom át ica se renovou e foi capaz de se readapt ar à discussão m oderna, qual deve ser a m elhor m aneira de debat ê-la em am bient es que t êm por finalidade o ensino dessa disciplina? Com o os professores da disciplina podem apresent ar a Diplom át ica com um viés cont em porâneo? Com o desat relar o ensino da disciplina ao im aginário da análise dos docum ent os em poeirados da época m edieval? Ou seja, o desafio perpassa a seguint e inquiet ação: com o revisit ar a Diplom át ica em t erm os de m et odologia de aprendizagem ?
3 BLOGS: UM A ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM
O t erm o est rat égia, em sua definição, aplica-se ao desenvolvim ent o de m ecanism os que o professor se ut iliza em sala de aula para facilitar a aprendizagem dos alunos. Os blogs possibilit am que os t rabalhos desenvolvidos pelo corpo discent e possam ser com part ilhados e út eis aos novos aprendizes. Nesse sent ido podem ser considerados com o um a ferrament a ligada t am bém à gest ão do conhecim ent o da própria turm a, na m edida em que vai regist rando passo a passo os debat es, dúvidas, conclusões e avanços da com pet ência dos alunos quant o aos t ópicos da disciplina. Prom ove t am bém a im port ant e t arefa de com part ilham ent o da inform ação ao circular os novos conheciment os que vão sendo const ruídos, dia-a-dia, pelos alunos, quer em grupo, quer individualm ent e. O processo de avaliação cont inuada das at ividades de ensino de algum m odo t em a capacidade de m apear o progresso de cada aluno quant o à const rução de seu próprio conhecim ent o. A ferram ent a desenvolvida t orna tal processo recuperável, gerenciável e, por t ais m ot ivos, passível de ser indut or de novos conhecim ent os para as t urm as subsequent es. Trabalhos de sala relevant es não m ais se perdem nos regist ros de acom panham ent o das t urm as do professor, que t inham o inevit ável dest ino acúm ulo poeirent o at é o seu esquecim ent o e dest ruição. O processo de crescim ent o individual, em qualquer área de conhecim ent o, se dá t am bém pelo acúm ulo de t est es, hipót eses e t rabalhos; o acesso aos regist ros ant eriores desse m esm o processo pode represent ar um valioso pont o de part ida para o desenvolvim ent o de novos conceit os. Os
blogs, assim com o as dem ais redes sociais da w eb 2.0, podem facilit ar o debat e e a int eração
acesso a um a rede am pla de inform ações pode gerar a capacidade de desenvolvim ent o de novos conhecim ent os nos alunos (cf. GUTIERREZ, 2004). Os blogs discent es de sem est res ant eriores podem ser im port ant es com o pont os de part ida para novos quest ionam ent os e para a geração de conhecim ent os.
A ferrament a blog auxilia t rabalhar com o aluno a ideia de “ com o aprender” , no sent ido de que o próprio corpo discent e vai desenvolvendo seus t rabalhos com o passar do t em po (cf. ABREU; M ASETTO, 1999). Nesse sent ido, o aluno, além de t er a opor t unidade de m anejar com andos próprios do am bient e Web, vai se deparar com as dificuldades im post as pela análise t ipológica dos novos suport es docum ent ais. Por isso a im port ância de se ut ilizar as m et as diárias subt raídas do plano de ensino da disciplina ofert ada. Dessa m aneira, os discent es vão alim ent ando os blogs de m aneira nat ural, perm it indo averiguar cont inuam ent e o grau de com preensão dos graduandos e acom panhando o desenvolvim ent o cognit ivo deles em Diplom át ica e Tipologia Docum ent al.
As discussões ocorridas dent ro da sala de aula t êm cont inuidade nos blogs discent es, após o t érm ino dos encont ros, aproveit ando o am bient e de discussão on line e am pliando a reflexão para além da sala aula. Assim , os pont os de r eflexão são t rabalhados dent ro e fora do am bient e acadêm ico, m uit as vezes geram quest ionam ent os correlacionados á disciplina, por exem plo, em t erm os de aplicação profissional dos conceit os nos est ágios os quais os alunos exercem at ividades ext racurriculares. O blog passou a ser um im port ant e m ecanism o de rápido feedback e um a ferram ent a de m onit oram ent o do nível de aprendizagem das t urm as. Isso possibilit a a ret roaliment ação das aulas, com ret om adas de pont os cruciais que ant es não haviam sido bem absorvidos, t ornando-se um a variável essencial á avaliação do grau de conhecim ent o do corpo discent e, além de indicar os pont os que precisam ser reforçados.
O objet ivo m ais im port ant e e que m arca a nossa experiência de t rabalho com os blogs é a possibilidade de const rução do sent ido de independência no processo de aprendizagem do aluno (Cf. FREIRE, 2002). Esse laborat ório de t rabalho on line possibilit a o aprendizado de conceit os diplom át icos, o exercício do m anejo das novas t ecnologias de com unicação em rede, bem com o o desenvolvim ent o cognit ivo do corpo discent e em níveis de criação de post agens. Os alunos podem ir além da expressão de suas ideias por palavras ut ilizando charges, film es, t eses e dissert ações, e m uit as out ras m aneiras de apresent ação da inform ação. Isso perm it e a t roca de m at eriais cont em porâneos relevant es à área e o acesso a inform ações de um m odo não cont em plado pelas ferram ent as t radicionais de ensino.
4 O BLOG DTD/ UNB (“BLOG-M ÃE”)
A ideia de criar um blog para auxiliar a disciplina de DTD foi viabilizada no final de m aio de 2009 pela equipe de m onit ores daquele sem est re. Teve com o ant ecedent e o exem plo bem sucedido da ut ilização dest e t ipo de recurso com o inst rum ent o didát ico na disciplina de Bioquímica Clínica e Aplicada pelos alunos de m edicina e nut rição da UnB, feit a pelo professor M arcelo Herm es no blog de seus t ut ores de Bioquímica. Esse pont o reflet e a im port ância dos diálogos orient ados por áreas dist int as no cam po de at uação profissional, m as que se conect am no que se referem à discussão da m et odologia de ensino; além de evidenciar um diálogo int erno dent ro da própria universidade.
assunt os relacionados à Arquivologia e à Diplom át ica Cont em porânea. Os desafios, inicialm ent e propost os apenas pelo professor, passaram , event ualm ent e, a ser form ulados por alguns grupos de alunos. Em t ext o ant erior (LOPEZ; ÁVILA, 2011) expusem os com det alhes a evolução dos procedim ent os e da arquit et ura da inform ação do “ Blog-m ãe” nos prim eiros sem est res.
A prim eira post agem foi em 25 de m aio de 2009, e de lá at é aqui já superou a m arca de 260 post agens e cont a com m ais de 1600 com ent ários. Em 18 de m arço de 2010 foi inst alado um cont ador de acessos, que regist rou em 30 de set em bro de 2011 m ais de 85 mil e 500 páginas visualizadas, correspondent es a m ais de 34 m il e cem visit as. Nos últ im os 365 dias t ivem os mais de 23 m il e 200 visit ant es, que consult aram m ais de 58 mil e cem páginas. Tais núm eros m ost ram que o alcance da ferram ent a vem sendo am pliado ao longo do t em po. Por ser um blog ancorado em uma disciplina os acessos são m ajorit ariam ent e nacionais (95,6%) e de Brasília (64,6%), porém dem onst ram , m esm o assim um a abrangência significat iva além dos limit es regionais do corpo discent e, com acessos const ant es em 57 países, com dest aque, além do Brasil, a Port ugal, Est ados Unidos, Espanha, Angola, Argent ina e M éxico. Os 56 países est rangeiros que se conect aram ao “ Blog-m ãe” apresent am um a int eressant e diversidade de locais de acesso, correspondendo a 275 diferent es cidades (Figura 1).
Em bora em t erm os globais a superação das barreiras nacionais seja inferior a 5% dos acessos (há um ano esse núm ero est ava abaixo de 2%), dent ro do Brasil os núm eros dem onst ram um a significat iva dispersão t errit orial dos acessos pelo país, chegando a 362 cidades. É possível not ar um a concent ração dos acessos ext ernos à Brasília em cidades de t radição de discussão arquivíst ica e/ ou em sedes e redondezas de cidades com cursos de Arquivologia e/ ou significat ivas para a área. Os núm eros m ost ram que os acessos fora de Brasília correspondem a m ais de 1/ 3, com im port ant e presença de Rio de Janeiro, São Paulo (que não t em curso de Arquivologia, porém t em larga t radição na área), Belo Horizont e, Fort aleza (que não t em curso de Arquivologia), Salvador, João Pessoa e Port o Alegre, além de out ras cidades, com o pode ser vist o na represent ação geográfica da Figura 2.
Os dados colet ados evidenciam que, apesar de o t rabalho com blogs, com o inst rum ent o de ensino, ser relat ivament e recent e (28 m eses), em com paração a out ras ferram ent as t radicionais de ensino, e a cont agem de acesso t er sido em preendida t ardiament e (10 m eses depois), ele vem cum prindo eficazm ent e o objet ivo de am pliar as discussões sobre DTD e auxiliando no processo de aprendizagem . M uit as vezes as post agens são elaboradas com a int enção de alcançar, diret a ou indiret am ent e, o público ext erno, com t em as correlat os à aula e/ ou com plem ent ares à Diplom át ica. Algum as vezes o publico ext erno colabora com reflexões e post agens.
Figura 1 - Represent ação geográfica dos acessos por países ao “ Blog-m ãe”
Figura 2 - Represent ação geográfica dos acessos nacionais ao “ Blog-m ãe” (os percent uais de acesso incluem as cidades estrangeiras)
Font e:adapt ado de Google Analytics report (ht t p:/ / diplomat icaetipologia.blogspot .com / )
5 ATIVIDADES DE ENSINO E APRENDIZAGEM POR M EIO DO “BLOG-M ÃE”
reproduzi-las nos blogs de seus respect ivos grupos. Nos sem est res seguint es houve a inclusão de at ividades direcionadas no “ Blog-m ãe” , com necessária a visit a aos blogs discent es. O ideal buscado foi a const rução de um am bient e colaborat ivo de int egração em oposição a post uras com pet it ivas ou om issas por part e dos alunos. Dessa m aneira, a classe passou a observar os t rabalhos dos out ros grupos, cont ribuindo para a m elhoria do próprio aprendizado. Do diálogo cont ínuo (presencial e virt ual) acerca do funcionam ent o da dinâm ica da aula e das at ividades
on line, surgem , const ant em ent e sugest ões para m udanças na est rut ura do am bient e. A flexibilidade da ferram ent a e de suas pot encialidades para t odas as part es envolvidas no processo de ensino-aprendizagem (alunos, m onit ores, t ut ores e professor) obriga a um const ant e repensar colet ivo sobre as est rat égias de ensino e suas efet ividades.
Dent re as at ividades desenvolvidas pela equipe de m onit ores e t ut ores, dest acam-se a proposição de desafios, nos quais são propost as t aref as e reflexões sobre filmes, report agens, ent re out ros, t razendo as quest ões t eóricas da Diplom át ica para exem plos da vida cot idiana, int eligíveis para t odos (alunos e visit ant es ext ernos). Em um a oport unidade, um ex-aluno da disciplina, de t urm a ant erior á prát ica com blogs, ent rou em cont at o com o professor responsável para propor um desafio para a classe, que foi t ransform ado em at ividade de aula, com a presença do proponent e, com o palest rant e convidado. O int eressant e é que t al at ividade foi som ent e um a m aneira de m ant er os alunos focados durant e a greve dos professores da UnB, ocorrida no início do prim eiro sem est re de 2010, porém aquilo que era provisório, além de se t ornar const ant e, inspirou diversos grupos a proporem desafios. Out ro fat or relevant e é o fat o de essa ferram ent a auxiliar na busca de t ext os que ajudam a am pliar os horizont es da disciplina, colaborando para a form ação profissional e int elect ual dos alunos, além de m ant er o regist ro e acesso aos blogs e t rabalhos das t urm as ant eriores. Além de auxiliar na discussão de dúvidas, possibilit a o int ercâm bio com pessoas da com unidade em geral, at ravés de com ent ários. Tal int erligação com a sociedade não seria possível num a m et odologia de ensino t radicional.
Em um prim eiro m om ent o os alunos da disciplina criam blogs com assunt os de seu int eresse. Logo após, passam a fazer post agens no âm bit o do assunt o que escolheram e, t am bém , são direcionados pela equipe para m ant er os blogs at ualizados e não “ fugirem do t em a/ foco” em relação à disciplina. Diant e da escolha dos t em as é im port ant e dest acar a experiência ao longo dos sem est res, na qual no prim eiro e segundo períodos os alunos escolhiam os t em as. Já no t erceiro sem est re o professor opt ou por sugerir t em as, com o m aneira de mant er o foco na disciplina, que são discut idos e negociados em classe. Os t em as são os m ais abrangent es possíveis e neles os alunos exercit am quest ões cot idianas relacionadas aos arquivos e à Diplom át ica Cont emporânea, com o pode ser vist o em um pequeno recort e dos grupos que m ais se dest acaram ao longo dos sem est res: docum ent os de academ ia de ginást ica; análise diplom át ica em mesa de bar, docum ent os ligados à m oda, docum ent os relacionados aos cães, docum ent os de sex-shop, fot ografias e docum ent os de fot ógrafo, fundo arquivíst ico de com panhia de t eat ro, docum ent os de concessionárias de veículos, docum ent os, arquivos de em presas jor nalíst icas, docum ent os do m ovim ent o escot eiro, docum ent os de em presa de t at uagem , docum ent os sobre clonagem hum ana e falsificações, docum ent os de um serial killer, segurança da inform ação sob o prism a das t eorias arquivíst icas. Tal diversidade só é viável de ser t rabalhada se os alunos observarem cont inuam ent e o que os dem ais grupos est ão fazendo e se isso for t rabalhados em sala de aula.
qualidade do cont eúdo; clareza dos assunt os t rat ados pelo grupo. Algum as at ividades propost as pelos grupos são encam padas pelo professor que direciona t oda a classe para um
blog específico, a fim de t rabalhar aquela proposição. Desde o início do uso dos blogs em DTD
os alunos t êm t am bém a oport unidade de discut ir sist em at icament e os t em as afet os à disciplina fora das aulas presenciais. Isso é m uit o significat ivo, pois aum ent a a com unicação ent re professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno. O int ercam bio de inform ações passa, ent ão, a ser m enos dependent e da figura do professor. O fat o de haver m onit ores e t ut ores que auxiliam em t odas as at ividades de aula, com fort e foco na com unicação ent re o “ Blog-m ãe” o os blogs discent es t aBlog-m béBlog-m favorece o processo. A equipe Blog-m onit ora as at ividades e induz a part icipação at iva dos alunos, t ant o nas aulas quant o em relação à ferram ent a de aprendizagem.
Nas at ividades de t rabalho t eórico a ferram ent a t em desem penhado um papel at ivo no debat e, além de auxiliar na fixação de cont eúdos, com pergunt as e respost as sobre os t ext os de aula. Tam bém foi desenvolvido um processo específico para increm ent ar o t rabalho com t ext os de nat ureza t eórica, em um a prát ica int egrada e cooperat iva de t odas as par t es envolvidas: o “ Post -m ot ivação” . Nesse processo a leitura e discussão dos t ext os em aula são ant ecedidas por at ividades no “ Blog-m ãe” (podendo haver ou não am pliação para os grupos discent es), que requerem a leit ura do m at erial bibliográfico, que será, post eriorm ent e ret om ado em aula. Em um segundo m om ent o a discussão ocorrida em sala é desdobrada par a os blogs discent es. Para t ant o, um a nova at ividade é propost a, denom inada “ Post -desafio” , com vist as à fixação dos conceit os em sit uação-problem a de ordem prát ica, art iculada à discussão t eórica dos t ext os. Esse m ét odo est á exem plificado na figura 4 adiant e.
Figura 3: Processo de t rabalho com text os em DTD
O prim eiro pont o (1) reflet e a leit ura do t ext o da bibliografia por part e dos alunos. Em seguida, a equipe da disciplina fica encarregada de est im ula a discussão virt ual com t oda a classe no “ Blog-m ãe” (2). Os com ent ários individuais realizados na post agem (3), às vezes feit os sob a t écnica “ Ciranda, cirandinha” (ver a frente), serão ut ilizados pelo professor com o subsídio para as discussões que ocorrerão no encont ro presencial da disciplina (4). Cabe enfat izar que nest e pont o já se obt ém um excelent e nível de ret orno quant o à part icipação dos alunos na leit ura do t ext o. Além disso, em sala, os com ent ários individuais feit os no “ Blog-m ãe” podeBlog-m ser Blog-mais beBlog-m expost os oralBlog-m ent e pelos aut ores. ObservaBlog-m os que alguns alunos apont aram dificuldade de em it ir opiniões escrit as no am bient e virt ual, enquant o que out ros não gost am de m anifest aram -se oralm ent e. Tal procedim ent o auxilia na part icipação de am bos os casos. O acesso, em aula, aos com ent ários feit os no “ Post -m ot ivação” t am bém auxilia a dirim ir possíveis dúvidas quant o à int erpret ação dos t ext os t eóricos (5). Encerrado o encont ro presencial, a equipe de DTD já t em em mãos os elem ent os preponderant es, que vieram à t ona no desenvolver da aula, para const ruir um “ Post -desafio” (6) no “ Blog-m ãe” . É im port ant e ressalt ar que est a post agem condiz com a observação da análise de debat e dos docum ent os cont em porâneos. A próxim a et apa inclui a respost a (7) ao desafio propost o às equipes, que será post ada por cada grupo em seus respect ivos blogs. A equipe m onit ora as respost as dadas e a part ir daí faz-se um a avaliação da m elhor “ análise/ respost a” , que poderá ser referenciada no “ Blog-m ãe” com um a post agem especial (8), ou apenas verbalizada na aula seguint e. O processo pode ser replicado várias vezes durant e a disciplina, sem pre que o t rabalho com novos t ext os dem andar m aior profundidade analít ica.
A int egração ent re os alunos, independent em ent e dos grupos, é feit a t am bém pelo exercício denom inado “ Ciranda, cirandinha” , no qual é feit a um a propost a de at ividade no “ Blog-m ãe” , cuja resolução se dará por m eio de com ent ários individuais no m esm o local da post agem . O prim eiro respondent e é convidado a analisar o problema “ oficial” colocado no
blog e propor uma cont inuação. O segundo respondent e deve remet er-se ao aluno ant erior e
propor um desdobram ent o para o aluno subseqüent e e assim sucessivam ent e. Em sala, em um m om ent o post erior, as respost as e pergunt as são am plam ent e debat idas. Um a versão colet iva sim ilar é a “ Hist ória sem fim ” , na qual se exercit a t am bém a redação. Um a sit uação problem a, associada a algum docum ent o específico é colocada pelo “ Blog-m ãe” . Ao prim eiro grupo cabe const it uir um a narrat iva na qual as caract eríst icas e inform ações do docum ent o inicial t enham im port ância. O docum ent o deverá ainda ser objet o de análise diplom át ica e t ipológica. A at ividade se encerra com a cont inuação da narrat iva e a apresent ação de um novo docum ent o a ser t rabalhado pelo grupo subseqüent e. Cada grupo publica sua parcela da hist ória no próprio blog, o que induz o const ant e acesso dos alunos aos am bient es virt uais de t rabalho dos out ros grupos.
6 DADOS DE INTERESSE A PARTICIPAÇÃO DISCENTE
Gráficos 1-4 - Aspect os referent es à aut o-avaliação discent e de fev. 2009
Fonte: adapt ado de Lopez e Ávila (2010)
Pudem os observar houve um aum ent o no nível de com prom et im ent o dos alunos ao ut ilizarem os blogs na disciplina. Tal aum ent o verificou-se não apenas dent ro do desenvolvim ent o sem est ral das t urm as, t endo havido, progressivam ent e, um a part icipação crescent e dos alunos do prim eiro semest re para os dem ais conform e indica a evolução do núm ero de post agens realizadas, conform e indica o gr áfico 5.
Gráfico 5 - Evolução do núm ero de post agens ao longo da disciplina de DTD Font e: os aut ores a part ir de dados do “ Blog-m ãe” e dos blogs discent es
e 38 post s por grupo, m esm o com proporções m ais baixas no prim eiro sem est re do projet o do
blog de DTD, conform e se pode not ar no gráfico adiant e.
Gráfico 6 - Evolução do núm ero médio de post agens por aluno e por grupo
ao longo da disciplina de DTD
Font e: os aut ores a part ir de dados do “ Blog-m ãe” e dos blogs discent es
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objet ivo m ais im port ant e e que m arcou a nossa experiência de t rabalho com os
blogs foi à possibilidade de const rução do sent ido de independência no processo de
aprendizagem do aluno. Esse pont o é essencial, pois, ao const r uir a sua própria ideia, sob o seu próprio am bient e de aprendizagem e refletir sobre os seus quest ionam ent os, o aprendiz est á se t ornando apt o a aplicar os conhecim ent os em fut uros am bient es profissionais. Além disso, os aprendizes desenvolvem a sua capacidade cognit iva com o m anejo das m at érias-prim as escolhidas de acordo com seu pont o de vist a e com im plicações prát icas no cot idiano. Como bem colocam Abreu e M aset t o (1999) o aprendizado e a const rução de com pet ências só são possíveis com a conjunção de conhecim ent os (que podem ser const ruídos em sala de aula e com m at erial de apoio), habilidades (que devem t ranscender os exercícios repet it ivos, t ão ut ilizados no ensino t radicional) e at it udes (a capacidade de ut ilizar a com pet ência em sit uações reais, quando necessário). A at ividade com blogs t em buscado balancear, na m edida do possível, t ais elem ent os, buscando auxiliar aos alunos t erem aut onom ia. É im port ant e ainda dest acar que com pet ências relacionadas às TICs são cada dia m ais dem andas aos profissionais de arquivo e o exercício de const rução de um blog, com o um am bient e de debat e e/ ou apresent ação inst it ucional (o grupo de t rabalho em classe) auxilia em t al capacit ação.
com preensão de fraudes, docum ent os falsos, equívocos do est ado em função de hom ônim os, perda de regist ros de óbit o, aposent adoria e t ant as out ras sit uações corriqueiras.
Diant e dos dados apresent ados podem os responder ao quest ionam ent o feit o no início dest e t rabalho se as TICs, int egradas á m et odologia de ensino, podem auxiliar a revist ar a Diplom át ica. A respost a é posit iva. Os alunos se sent em sat isfeit os e m ot ivados ao ut ilizarem os blogs na disciplina. A abrangência do t rabalho com blogs, não apenas inova nas relações de com unicação ent re os sujeit os envolvidos no processo, porém perm it e ainda um a int eressant e int erat ividade com novos elem ent os e um a infinidade de m eios a disponíveis para que o ensino seja m ais at rat ivo e o aprendizado m ais eficaz. Assim com o a Diplom ática e os arquivos do século XXI deverão, necessariam ent e, se defront ar com o desafio dos docum ent os digit ais e das novas TICs, os m ét odos de ensino de Arquivologia deverão buscar novos cam inhos. Os
blogs e as redes sociais são elem ent os vit ais para que essa t ransform ação possa ocorrer, t ransform ando as t radicionais ações docent es e discent es em at ividades desafiadoras, ut eis, recom pensadoras e at rat ivas.
AGRADECIM ENTOS
Agradecem os a Alan Curcino Pedreira da Silva e a Alessandra Araújo pelas sugest ões que ajudaram no processo de t ransform ação daquele t ext o inicial, apresent ado no IV Congresso Nacional de Arquivologia, nest e art igo, exim indo-os de qualquer responsabilidade por event uais problem as que ainda possam ser verificados.
BLOGS AS A TOOL FOR TEACHING-LEARNING DIPLOM ATICS AND DOCUM ENTARY TYPOLOGY: TEACHING STRATEGY FOR CONSTRUCTION OF KNOW LEDGE
Abstract
The concept s of Diplomat ics are been review ed and present a new configurat ion on t he cont emporaneous debat e about the informat ion and communicat ion t echnologies (ICT), but remain to be t reat ed on a t radit ional manner on t he Archival Science t eaching universe. The art icle seeks to show an effort of t ransformation of the t radit ional paradigm from t he renovat ion of a discipline through the const ruct ion of a t eaching tool based on t he element s of the communicat ion 2.0 and the new ICT. The discipline Diplomatics and Documentary Typology (DDT), delivered on t he University of Brasília (UnB), st art ed, on the 1st semest er of 2009, t he blog use as a mechanism of t eacherstudent and st udent -st udent int eract ion. The undergraduat e body has t he opport unit y to po-st on t heir blogs t he w orks made into t he classroom or out side it , and also t o comment ot her groups works and t o discuss various issues relat ed wit h Archival Science and it s appliance to diverse areas, by analyzing films and daily new s wit h a focus, w hich approaches the discipline to the st udent s day-by-day. The blogs allow t he breaking of physical boundaries, broaden t he environment of discussion, in w hich t he st udent s can opine, disagree, relat e experiences and have access to other sources of research, const itut ing net know ledge.
Keyw ords: Diplomat ics and Documentary Typology. Blog. Learning environment . Archival Science t eaching.
REFERÊNCIAS
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