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GOVERNANÇA E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM ESTUDO COM EMPRESAS DO SETOR DE ALIMENTOS NO CANADÁ E SEUS STAKEHOLDERS

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA

DIEGO SAMPAIO VASCONCELOS RAMALHO LIMA

GOVERNANÇA E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM ESTUDO COM EMPRESAS DO SETOR DE

ALIMENTOS NO CANADÁ E SEUS STAKEHOLDERS

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DIEGO SAMPAIO VASCONCELOS RAMALHO LIMA

GOVERNANÇA E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM ESTUDO COM EMPRESAS DO SETOR DE

ALIMENTOS NO CANADÁ E SEUS STAKEHOLDERS

Dissertação submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria-Acadêmico da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração e Controladoria.

Área de concentração: Gestão Organizacional. Orientadora: Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu.

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Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

L697g Lima, Diego Sampaio Vasconcelos Ramalho.

GOVERNANÇA E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS : UM ESTUDO COM EMPRESAS DO SETOR DE ALIMENTOS NO CANADÁ E SEUS STAKEHOLDERS / Diego Sampaio Vasconcelos Ramalho Lima. – 2018.

93 f. : il. color.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade,Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria, Fortaleza, 2018. Orientação: Profa. Dra. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu.

1. Canadá. 2. mudanças climáticas. 3. governança dos recursos hídricos. 4. gestão dos recursos hídricos. I. Título.

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DIEGO SAMPAIO VASCONCELOS RAMALHO LIMA

GOVERNANÇA E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM ESTUDO COM EMPRESAS DO SETOR DE

ALIMENTOS NO CANADÁ E SEUS STAKEHOLDERS

Dissertação submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria-Acadêmico da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração e Controladoria. Área de concentração: Gestão Organizacional.

A citação de qualquer trecho desta qualificação de dissertação é permitida desde que feita de acordo com as normas da ética científica.

Aprovado em: ___/___/______

Dissertação apresentada à Banca Examinadora:

____________________________________________________ Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará

_________________________________________ Prof. Dr. José Carlos Lázaro da Silva Filho

Universidade Federal do Ceará

_________________________________________ Prof. Dr. José Milton de Sousa Filho

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“O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido (...)”

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AGRADECIMENTOS

Depois de quase 2 anos e meio, finalmente chega ao fim um ciclo de muito aprendizado, compartilhamento de informação, crescimento pessoal e profissional, alegrias, tristezas e conquistas. Foram momentos inesquecíveis na minha vida. Um ciclo que se fecha, significa outros que serão abertos. E, um caminho trilhado, nunca é feito sozinho, por isso gostaria de agradecer a quem teve um pedacinho de contribuição para a consecução desse trabalho.

Primeiramente, agradeço imensamente a Deus, por mais uma etapa concluída, pois Ele é quem nos dá força para seguir em frente.

Agradeço muito à minha família, por todo o apoio ao longo do processo. Pelos momentos em que estava desesperado com tanta coisa para fazer, e me deram o suporte necessário. Minha mãe Wládia, meu pai Adriano, irmão Renan, avó Francy, todos os meus tios e primos, meu muito obrigado por tudo. Agradeço à minha namorada Thais e sua família por me acolherem tão bem e ajudar nesse período. Agradeço aos amigos que já tinha e que fiz pelos corredores do PPAC.

À minha orientadora Profa. Mônica Abreu, pela paciência na condução e pelos ensinamentos transmitidos, que me permitiram crescer tanto pessoal como profissionalmente. À banca examinadora, Prof. José Carlos e Prof. Milton, pelas contribuições no trabalho. Aos servidores do PPAC, pela prestação de serviços.

À CAPES pelo incentivo à pesquisa através do financiamento da bolsa auxílio. Ao CNPq pelo auxílio com o recurso na pesquisa realizada no Canadá. À Ryerson University e aos Prof. Maurice Mazzerole e Anil Verma pela recepção na Universidade e auxílios na pesquisa.

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“A água de boa qualidade é como a saúde ou a

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RESUMO

A pesquisa constrói um framework de avaliação da percepção dos riscos da mudança climática sobre a governança e a gestão dos recursos hídricos em empresas do setor de alimentos do Canadá e seus stakeholders. A mudança climática e suas consequentes alterações nos recursos hídricos afetam diretamente as indústrias e, de um modo mais específico, as empresas do setor de alimentos. O uso de água nessa indústria é alto e a disponibilidade de água limpa é uma necessidade. O setor de alimentos canadense é o segundo maior do país em termos de valor de produção e é diretamente afetado por essas questões climáticas e hídricas. No entanto, nem sempre existe a percepção de riscos associadas às mudanças climáticas e alteração nos recursos hídricos. Essa percepção afeta diretamente o ambiente institucional e os mecanismos de governança dos recursos hídricos e consequentemente a gestão dos recursos hídricos nas empresas e na cidade. Assim, analisando empresas do setor de alimentos do Canadá e seus stakeholders, desenvolve-se uma pesquisa exploratória, descritiva e qualitativa. A pesquisa foi conduzida por meio de entrevistas semi-estruturadas com dezesseis atores do contexto canadense, que trazem um entendimento das questões em estudo. Esses atores são as empresas e seus stakeholders: governo, academia, agências, associação de empresas e ONG. Os dados foram analisados através de uma análise de conteúdo. Os resultados da pesquisa evidenciam a fraca influência da percepção de riscos da mudança climática na Governança e Gestão dos Recursos Hídricos. Os mecanismos de governança hídrica não são estruturados pela preocupação com as mudanças climáticas e alterações nos recursos hídricos. As capacidades institucionais precisam ser mais desenvolvidas e estabelecidas. A gestão dos recursos hídricos nas empresas está mais voltada para as águas residuais e as empresas se preocupam mais com os custos e com a conformidade. Os resultados contribuem para o entendimento das questões-chave que permeiam a governança e gestão hídrica em um contexto de abundância de recursos.

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ABSTRACT

The research builds a framework for assessing climate change risk perception on water resource governance and water management in Canada's food businesses and stakeholders. Climate change and its consequent changes in water resources directly affect industries and, more specifically, food companies. The use of water in this industry is high and the availability of clean water is a necessity. The Canadian food industry is the second largest in the country in terms of production value and is directly affected by these climate and water issues. However, there is not always a perception of risks associated with climate change and changes in water resources. This perception directly affects the institutional environment and mechanisms of governance of water resources and consequently the management of water resources in companies and in the city. Thus, by analyzing food companies in Canada and its stakeholders, an exploratory, descriptive and qualitative research is developed. The research was conducted through semi-structured interviews with sixteen actors from the Canadian context, who bring an understanding of the issues under study. These actors are the companies and their stakeholders: government, academia, agencies, business associations and NGOs. The data were analyzed through a content analysis. The results of the research show the poor influence of the perception of climate change risks in the Governance and Management of Water Resources. The mechanisms of water governance are not structured by concern with climate change and changes in water resources. Institutional capacities need to be further developed and established. Management of water resources in enterprises is more concerned with wastewater and companies are more concerned with costs and with compliance. The results contribute to the understanding of the key issues that permeate governance and water management in a context of abundance of resources.

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LISTA DE FIGURAS

Figura:1: Províncias canadenses ... 35

Figura 2: Impactos dos negócios relacionados a mudanças na hidrologia e nos recursos hídricos impulsionados pelas mudanças climáticas...39

Figura 3: Framework de pesquisa...41

Figura 4: Empresas de alimentos na Grande Toronto marcadas em vermelho...46

Figura 5: Empresas pesquisadas e sua localização na cidade ... 46

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Atores entrevistados……….…47

Quadro 2: Principais citações sobre setor de alimentos ... 53

Quadro 3: Principais citações sobre mudança climática e a (não) percepção de riscos ... 55

Quadro 4: Principais citações sobre disponibilidade e fornecimento de recursos hídricos ... 59

Quadro 5: Principais citações sobre adaptação ao risco ... 61

Quadro 6: Principais citações sobre governança dos recursos hídricos ... 64

Quadro 7: Principais citações sobre construção de capacidades institucionais ... 66

Quadro 8: Principais citações sobre gestão dos recursos hídricos ... 71

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LISTA DE SIGLAS

ANA - Agência Nacional de Águas CDP - Carbon Disclosure Project

COP - Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática

GIRH - Gestão Integrada de Recursos Hídricos GWP - Global Water Partnership

IPCC - Intergovernamental Panel of Climate Change MOECC - Ministry of Environment and Climate Change

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCWA - Ontario Clean Water Agency

OMAFRA - Ontario Ministry of Agriculture, Food and Rural Affairs RFRK - Real Food for Real Kids Company

RUW - Ryerson Urban Water

UNDP - United Nations Development Programme

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 Pergunta de Pesquisa ... 17

1.2 Objetivo Geral ... 17

1.3 Objetivos Específicos ... 17

1.4 Justificativa ... 17

1.5 Estrutura do trabalho ... 18

2 REVISÃO DA LITERATURA ... 20

2.1 Impacto das mudanças climáticas e alterações nos recursos hídricos ... 20

2.1.1 Estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas ... 24

2.2. Governança dos Recursos Hídricos ... 26

2.2.1 Capacidades Institucionais: conhecimento, relacionamento e mobilização ... 31

2.2.2 Governança dos Recursos Hídricos no Canadá ... 33

2.3 Gestão dos Recursos Hídricos ... 37

2.4 Pressão dos stakeholders para desenvolvimento de estratégias climáticas organizacionais ... 40

2.5 Proposta de Framework de pesquisa ... 41

3 METODOLOGIA ... 44

3.1 Caracterização da pesquisa ... 44

3.2 Caracterização do setor de estudo ... 44

3.3 Caracterização e escolha das empresas entrevistadas e seus stakeholders ... 47

3.3.1 Empresas ... 48

3.3.2 Stakeholders ... 49

3.4 Instrumento de coleta de dados ... 52

3.5 Análise dos dados coletados ... 52

4 RESULTADOS... 53

4.1 O setor de alimentos na visão das empresas e dos seus stakeholders ... 53

4.2 Mudança climática e a (não) percepção de riscos ... 55

4.3 Disponibilidade e fornecimento de recursos hídricos ... 58

4.4 Estratégias de adaptação ao risco da mudança climática ... 61

4.5 A fraca governança dos Recursos Hídricos ... 63

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4.6 Gestão dos Recursos Hídricos ... 70

4.7 Lições aprendidas ... 75

5 DISCUSSÕES ... 77

6 CONCLUSÃO ... 81

REFERÊNCIAS ... 83

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1 INTRODUÇÃO

Mudança climática refere-se a qualquer tipo de transformação nas propriedades do clima, seja por sua dinâmica natural ou por interferência humana (IPCC, 2014). De acordo com Hoffman et al. (2009), as mudanças climáticas podem ser sintetizadas nos seguintes aspectos: são globais em suas causas e consequências; possuem impactos persistentes que se desenvolvem ao longo do tempo; geram incertezas que impedem a quantificação precisa de seus impactos econômicos; e ainda ocasionam um risco grave de grandes mudanças irreversíveis com efeitos econômicos não marginais.

A mudança climática é um fenômeno global (ORESKES, 2004; MEEHL et al., 2007). Essa globalização se dá pelo desafio em termos de sustentabilidade dos sistemas de produção e consumo, gerando problemas a longo prazo e um dano irreversível (ABREU; FREITAS; REBOUÇAS, 2017).

A mudança climática pode ou não ser percebida como um risco. A percepção dos riscos associados às mudanças climáticas é um fator chave para o apoio às medidas de política climática (FRONDEL; SIMORA; SOMMER, 2017). Em virtude das mudanças climáticas serem amplamente percebidas como sendo um problema temporal e espacialmente distante (LORENZONI; HULME, 2009), os riscos relacionados podem ser subestimados.

A mudança climática gera incertezas, e assim, um risco. O risco está associado à

incerteza, ou mais precisamente ao “efeito da incerteza sobre os objetivos” (NBR ISO 31000,

2011, p 1), sendo que o efeito é definido como um desvio em relação ao planejado. A incerteza e, portanto, o risco associado, decorre da impossibilidade de prever o futuro no momento da tomada de decisão. Assim,

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As incertezas relacionadas aos recursos hídricos, como a desertificação, a seca, as inundações e os ecossistemas em colapso, aumentam a complexidade na disponibilidade de recursos para as empresas. Assim, as mudanças climáticas representam grandes riscos que influenciam as expectativas dos decisores sobre os futuros estados da água no planeta (WINN et al., 2011).

O uso excessivo de recursos hídricos resulta em uma redução significativa da capacidade de ecossistemas de água doce em sustentar serviços ambientais em muitas partes do mundo (VÖRÖSMARTY et al., 2005). De acordo com Naiman e Dudgeon (2011), os ecossistemas de água doce parecem ser os ecossistemas mais ameaçados do mundo. Como as pressões sobre os recursos hídricos provavelmente se intensificarão em um futuro próximo, espera-se que os ecossistemas de água doce enfrentem uma maior deterioração nas escalas locais e regionais, sendo isso muito irreversível (MALMQVIST; RUNDLE, 2002).

Assim, tem havido uma necessidade crescente para que as ações sejam tomadas no nível organizacional para mitigar os efeitos desse desafio ambiental. Não só os governos e gestores públicos enfrentam esse desafio (GIDDENS, 2009), mas também as empresas se deparam com grandes incertezas em suas operações e quais efeitos e riscos provavelmente terão de enfrentar (LASH; WELLINGTON, 2007).

As alterações nos recursos hídricos afetam diretamente as indústrias e, de um modo mais específico, as empresas do setor de alimentos. O uso de água nessa indústria é alto e a disponibilidade de água limpa é uma necessidade. Algumas das maiores ameaças à indústria incluem a poluição da água, as inundações e secas, e a qualidade da água abaixo do padrão. O setor é adversamente afetado pelas mudanças climáticas e pela poluição da água, já que a água é um ingrediente básico e essencial no processo de produção de alimentos. A água é utilizada para ferver, cozinhar, arrefecer, limpar, transportar e como ingrediente (VALTA et al, 2015).

A fim de combater as ameaças aos recursos hídricos, faz-se necessário métodos de gerenciamento dos recursos hídricos. A gestão dos recursos hídricos é um campo interdisciplinar e multissetorial (GRIGG, 2015), abrange as atividades de análise e monitoramento, desenvolvimento e implementação de medidas para manter o estado de um recurso hídrico dentro de limites desejáveis (PAHL-WOSTL et al., 2012).

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relacionam e estabelecem mecanismos formais e informais de deliberação. Nesse contexto, a governança dos recursos hídricos se insere como o sistema que estabelece as regras segundo as quais a gestão dos recursos hídricos opera (PAHL-WOSTL et al., 2012), levando em conta os diferentes atores e redes que ajudam a formular e implementar a política de recursos hídricos.

A Global Water Partnership (GWP) define a governança dos recursos hídricos como a gama de sistemas políticos, sociais, econômicos e administrativos existentes para desenvolver e gerenciar recursos hídricos e a prestação de serviços de água em diferentes níveis da sociedade (ROGERS; HALL, 2003). Pesquisas anteriores forneceram pouca evidência empírica do nível de sucesso de diferentes estratégias de governança de recursos (KENWARD et al., 2011).

Nesse sentido, faz-se necessário compreender os aspectos que tornam a governança da água algo fundamental para o bom funcionamento do sistema. Através das capacidades institucionais - que são construídas por meio da governança - pode-se verificar quais aspectos são relevantes na busca de uma maior colaboração e adaptação por partes dos atores envolvidos (PAHL-WOSTL et al., 2012).

O caso em estudo será o setor de alimentos da cidade de Toronto, no Canadá. No país, o setor é a segunda maior indústria manufatureira em termos de valor de produção e é o maior comprador de produtos agrícolas canadenses. Em 2017, a indústria empregou 300 mil canadenses. Atualmente, opera mais de 6.000 instalações de fabricação em áreas urbanas e rurais em todas as regiões do país. É o principal contribuinte para o PIB no setor manufatureiro - aproximadamente US$ 28 bilhões por ano (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

Em Toronto, que se situa na província de Ontario, o setor de alimentos é um dos mais importantes, com receitas anuais de US$ 17,75 bilhões (FCPC, 2017). Toronto é a cidade da província que domina a indústria, com mais da metade de todo o processamento de alimentos na província ocorrendo dentro da região da Grande Toronto (MUNICÍPIO DE TORONTO, 2017).

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gira em torno dos mesmos. Consequentemente, verifica-se também práticas de gestão dos recursos hídricos por parte dessas empresas, a fim de minimizar seu uso e seus custos.

1.1 Pergunta de Pesquisa

Em que extensão a percepção dos riscos da mudança climática influencia a governança e a gestão dos recursos hídricos em empresas do setor de alimentos do Canadá?

1.2 Objetivo Geral

Construir um framework de avaliação da percepção dos riscos da mudança climática sobre a governança e a gestão dos recursos hídricos em empresas do setor de alimentos do Canadá.

1.3 Objetivos Específicos

Para a consecução deste objetivo, foram definidos os seguintes objetivos específicos:

1. Avaliar o tipo de risco percebido pelas empresas e as estratégias climáticas;

2. Identificar a influência dos stakeholders na governança dos recursos hídricos;

3. Avaliar a construção de capacidades institucionais de conhecimento, relacionamento e mobilização nas empresas e seus stakeholders;

4. Identificar as práticas de gestão dos recursos hídricos nas empresas do setor de alimentos no Canadá.

1.4 Justificativa

O Canadá é considerado um país rico em água doce: em média anual, os rios do Canadá descarregam cerca de 9% do suprimento mundial de água renovável, enquanto o país tem menos de 1% da população mundial. O Canadá possui cerca de 20% do total de recursos de água doce do mundo, no entanto, menos da metade dessa água - cerca de 7% da oferta global - é renovável. A maior parte é água fóssil retida em lagos, aquíferos subterrâneos e geleiras. Os Grandes Lagos compõem a maior área de superfície de água doce encontrada em qualquer lugar do mundo (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

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climáticas. Existe a necessidade de um plano abordando um quadro maior da alocação de água durante os períodos de escassez hídrica nas províncias mais atingidas, como Saskatchewan (HURLBERT et al. 2009).

Os recursos hídricos do Canadá são menos seguros do que as visões convencionais poderiam sugerir. A abordagem altamente descentralizada do Canadá para a governança dos recursos hídricos cria desafios de integração, coordenação e disponibilidade de dados (BAKKER; COOK, 2011).

No Canadá, existe uma infinidade de organizações de água no nível federal, provincial e municipal. Essa complexidade cria confusão não só entre as partes interessadas, como o público em geral e comunidades local, mas também entre os próprios funcionários do governo. (HULBERT; DIAZ, 2013). Assim, há uma necessidade urgente de estabelecer papéis claros e coordenar as atividades da multiplicidade de agências que fazem parte da governança, evitando uma crescente fragmentação da gestão dos recursos hídricos (BAKKER; COOK, 2011).

Cada vez mais as mudanças climáticas afetam a indústria de alimentos. Essas mudanças afetam os recursos hídricos, ocasionando, por exemplo: aumento da precipitação anual média do Canadá desde 1948; abastecimento de água sendo influenciado pela cobertura de neve (GOVERNO DO CANADÁ. 2017). Consequentemente, as indústrias precisam estar atentas e se prevenir para que essas mudanças não impactem tanto em seus negócios.

Nesse sentido, ressalta-se a importância de estudar como as empresas e seus stakeholders percebem os riscos da mudança climática e alterações nos recursos hídricos, e como a governança e gestão hídrica é estabelecida. Destaca-se também a relevância do estudo no tocante às contribuições acadêmicas para a área de governança e gestão dos recursos hídricos.

1.5 Estrutura do trabalho

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O capítulo dois aborda a revisão da literatura do estudo. Neste capítulo são apresentados os conceitos chave para a compreensão das implicações das mudanças climáticas para as empresas e seus stakeholders. Primeiramente, a questão das mudanças climáticas e as consequentes alteração nos recursos hídricos são discutidas. Posteriormente, a questão da governança hídrica e construção de capacidades são discutidas. Por fim, a gestão dos recursos hídricos também é discutida, identificando as práticas nas empresas.

A discussão teórica apresentada no capítulo dois visa a aplicação de um framework de pesquisa que é apresentado no final do capítulo. Recorda-se que o objetivo desta dissertação é construir um framework de avaliação da percepção dos riscos da mudança climática sobre a governança e a gestão dos recursos hídricos em empresas do setor de alimentos do Canadá e seus stakeholders. Dessa forma, a aplicação visa ajustes para a construção de um novo framework.

O capítulo três apresenta como o estudo empírico foi desenhado para atingir os objetivos propostos, através da metodologia da pesquisa. Dessa forma, é apresentada a caracterização da pesquisa, instrumento de coleta de dados, escolha dos entrevistados e análise dos dados coletados.

O capítulo quatro corresponde aos resultados encontrados na pesquisa. Nesse sentido, são apresentados os achados da pesquisa, de acordo com cada item estabelecido no roteiro de entrevistas, como: mudanças climáticas e percepção dos riscos, governança dos recursos hídricos e gestão dos recursos hídricos. As principais citações sobre cada item são apresentadas ao longo de cada tópico.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Esta seção tem como objetivo apresentar os principais conceitos e definições que embasem teoricamente o estudo. A primeira seção aborda o impacto das mudanças climática e alterações nos recursos hídricos e possui uma subseção com as estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A segunda seção trata da governança dos recursos hídricos e é dividida em duas subseções, capacidades institucionais: conhecimento, relacionamento e mobilização, e governança dos recursos hídricos no Canadá. A terceira seção aborda a gestão dos recursos hídricos. A quarta traz a pressão dos stakeholders para desenvolvimento de estratégias climáticas organizacionais. Por fim, a quinta seção apresenta a proposta de framework de pesquisa.

2.1 Impacto das mudanças climáticas e alterações nos recursos hídricos

O órgão internacional Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC (2014) foi criado em 1988 pela World Meteorological Organization (WMO) e pelo United Nations Environment Programme (UNEP) com a finalidade de avaliar e fornecer uma base científica equilibrada e rigorosa aos tomadores de decisão dos governos de todos os níveis. De acordo com o IPCC (2014), as mudanças climáticas se referem a qualquer tipo de transformação nas propriedades do clima, seja devido a sua dinâmica natural ou em razão da interferência humana.

É evidente a influência das emissões antropogênicas de gases do efeito estufa sobre o aquecimento do sistema climático. Associado à conversão direta dos recursos naturais em sistemas dominados pelo homem, como a agricultura e as cidades, aumenta o risco de eventos extremos e mesmo catastróficos, ameaçando minar os serviços ecológicos de que os seres humanos e todas as outras espécies dependem (FARLEY; VOINOV, 2016).

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Nations Conference on the Human Environment, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, as questões ambientais têm lentamente marcado presença na agenda política internacional.

Para Kolk e Pinkse (2007), a United Nations Conference on Environment and Development (UNCED), realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Rio 92, foi fundamental para o crescimento e desenvolvimento da ideia do desenvolvimento sustentável como um modelo de crescimento econômico e social aliado à preservação ambiental e ao equilíbrio climático em todo o planeta.

Nesse cenário, foi adotada a United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC), um tratado internacional que, subsidiado pela ciência atestada e proporcionada pelo IPCC, visa estabilizar as concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera afim de impedir que interfiram de forma prejudicial e permanente no sistema climático do planeta.

Todo ano, desde 1995, os países signatários da UNFCCC realizam a United Nations Climate Change Conference, também conhecida como Conferência das Partes (COP), para lidar com os assuntos das mudanças climáticas. Durante a COP 3, em 1997, os países-membros discutiram e negociaram o Protocolo de Quioto, que propunha a redução de 5,2% de suas emissões em relação aos níveis de 1990, a ser implementada no período de 2008 a 2012.

Embora muitos países tenham ratificado o tratado, eles não estabeleceram as estratégias e nem como os governos nacionais pretendiam alcançar suas metas. Além disso, alguns países rejeitaram o tratado, como os Estados Unidos e o Canadá, ou foram desobrigados de atingir as metas propostas, como a China e a Índia.

Após tentativas fracassadas de reunir todos os países para combater as mudanças climáticas, a COP 21, em 2015, obteve de seus 195 países-membros a ratificação do Acordo de Paris. Este acordo tem como objetivo principal manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, buscando ainda esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

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Esse enfrentamento das mudanças climáticas é captado na literatura pelos conceitos de mitigação e adaptação. A mitigação se refere a ações que reduzem a exposição a mudanças e a própria necessidade de adaptação, que diz respeito a ajustes que pessoas e instituições tomam a partir da mudança atual ou prevista (NELSON; ADGER; BROWN, 2007; GASBARRO; RIZZI; FREY, 2016).

Embora essas sejam conquistas das discussões internacionais acerca do clima ao longo de várias décadas, ainda não se sabe se as metas serão distribuídas equitativamente entre os países ou como serão implementadas as propostas nacionais pretendidas. Além disso, não há garantias de que as metas estabelecidas permitirão evitar limiares sócio-ecológicos críticos e irreversíveis e de que as atuais estratégias, de fato, colocarão o mundo no caminho certo para alcançar os objetivos traçados (GASBARRO; RIZZI; FREY, 2016).

Observa-se diferentes tipos de respostas em relação ao clima, trazendo resultados diversos para países e instituições. Griffiths, Haigh e Rassias (2007) apontam que, nos países que se comprometeram com o Protocolo de Quioto, estabeleceu-se, de modo geral, um ambiente de diálogo e predisposição para a ação que se traduziu em estratégias setoriais e corporativas. Nas nações em que não houve esse compromisso, as ações foram deixadas para iniciativas voluntárias no contexto de disputas entre uma pluralidade de partes interessadas da indústria e do meio ambiente.

Slawinski et al. (2017) constataram que os 50 maiores emissores corporativos que se reportam ao Carbon Disclosure Project (CDP) aumentaram suas emissões de gases de efeito estufa entre 2009 e 2013. Os autores adotam, de modo semelhante, o conceito de inação, buscando explicar por que as empresas insistem em evitar incertezas e focar no curto prazo perante os desafios impostos pelas mudanças climáticas.

Observa-se também as dimensões das mudanças físicas relacionadas ao clima, destacando sua novidade em comparação com outros choques ambientais, e sugere-se a necessidade de interpretar os fenômenos de acordo com uma nova estrutura conceitual para estudar as respostas organizacionais a eventos climáticos extremos (LINNENLUECKE; GRIFFITHS, 2010; WINN et al., 2011).

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compreensão do papel intraorganizacional às pressões externas (TUSHMAN; ROMANELLI, 1985; WEICK et al., 2005).

As mudanças climáticas afetam também os conflitos pelo uso da água. O ciclo hidrológico está diretamente vinculado às mudanças de temperatura da atmosfera e, com o seu aquecimento, esperam-se, entre outras consequências, mudanças nos padrões da precipitação, o que poderá tornar mais frequentes os eventos hidrológicos críticos, secas e enchentes (ANA, 2010).

As alterações climáticas têm um papel relevante no ciclo hidrológico e na quantidade e qualidade da água. Essas alterações podem promover mudanças na disponibilidade de água e na saúde da população humana. De um modo geral e com alterações em continentes e regiões, Tundisi (2008) afirma que os problemas fundamentais que devem ser estudados para promover soluções são os extremos hidrológicos, a contaminação e as economias regionais e nacionais.

Ao longo das últimas décadas, a crescente consciência da água como recurso limitado e a preocupação com os problemas resultantes da rápida urbanização e com os riscos de escassez hídrica, conduziram a uma reformulação do modelo tradicional de gestão de recursos hídricos (VIEIRA; RIBEIRO, 2005).

Atualmente estamos em um ponto crucial em relação à qualidade e distribuição água no planeta. A água, que durante milhões de anos apoiou usos múltiplos em todas as formas de vida, experimentou, nas últimas décadas, crescentes pressões. Chegamos ao ponto em que sua capacidade de continuar apoiando a expansão das necessidades econômicas e sociais está seriamente questionada (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

Aumentam os riscos e as incertezas sobre a disponibilidade hídrica e as condições impostas aos múltiplos usos da água, o que afeta mais severamente as comunidades mais pobres (DINAR et al., 2016). Há cenários que projetam mais chuvas em algumas regiões do planeta, enquanto outros projetam o oposto. Algumas bacias hidrográficas podem realmente receber mais água, aliviando potencialmente a escassez e a competição entre os usuários do recurso, enquanto outras terão menor precipitação (OCDE, 2011).

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alimentos, energia e outros usos humanos e para sustentar os ecossistemas terrestres devido a temperaturas mais altas e a mudanças nas condições climáticas em curso (WWAP, 2017).

Mudanças na precipitação ou no derretimento da neve e do gelo estão alterando os sistemas hidrológicos e afetando os recursos hídricos em termos de quantidade e qualidade (IPCC, 2014). A escassez de água já atinge mais de 40% da população global e tende a aumentar, 35% não têm acesso à água tratada, 43% não conta com serviços adequados de saneamento básico, 10 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água e mais de 260 bacias hidrográficas são compartilhadas por dois ou mais países em todo o mundo, a maioria sem acordos legais ou institucionais adequados (WWAP, 2017).

Ademais, a água é um recurso natural que perpassa e sustenta todas as demais funções dos ecossistemas e, consequentemente, todas as atividades sociais e econômicas (WWAP, 2017). Por conseguinte, os eventos hidrológicos extremos, as mudanças nos padrões pluviais e a contaminação da água exigirão cada vez mais dos estudiosos dos mais diversos campos do conhecimento um olhar atento e um compromisso com a oferta de meios de resposta efetivos.

2.1.1 Estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas

Existem várias definições comumente usadas para expressar a combinação de mudanças climáticas com a estratégia de negócios (ABREU; FREITAS; REBOUÇAS, 2017). A estratégia corporativa de mudança climática é definida como uma seleção do escopo e nível de atividade de gerenciamento de carbono (LEE, 2012). Weinhofer e Hoffmann (2010) definiram como um padrão de atividades associado a gestão de emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa. Também pode ser visto como um conjunto de metas e planos que visam reduzir as emissões de gases e abordar mudanças em processos, mercados e políticas públicas (SPRENGEL; BUSCH, 2011).

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tipologia modelo combinando a consciência da empresa com suas vulnerabilidades a mudanças físicas relacionadas ao clima.

Os impactos das mudanças físicas induzidas pelo clima em nível corporativo podem se referir a diferentes tipos de efeitos negativos em relação à cadeia de valor de uma empresa: impactos primários, ou seja, impactos nas atividades e ativos internos de uma empresa e impactos secundários, ou seja, impactos nos fornecedores, infra-estruturas estratégicas, serviços de apoio e padrões de consumo do cliente (WEINHOFER; BUSCH, 2013). Alguns estudiosos distinguem entre impactos diretos - aqueles sobre atividades de negócios - e impactos indiretos - mudanças nas demandas, regulamentos e regras das instituições financeiras (HERTIN et al., 2003).

Essa multiplicidade de aspectos determina novos desafios na gestão corporativa que estão sujeitos a diferentes interpretações. Segundo alguns autores, o comportamento adaptativo parece ser determinado por recursos internos específicos e por condições externas (isto é, ambientes institucional e de mercado), envolvendo certa dificuldade na predição e generalização (BERKHOUT, 2012; BERKHOUT et al., 2006).

A adaptação corporativa também pode ser vista como o resultado de medidas implementadas pelas empresas para responder às mudanças físicas induzidas pelo clima (ADGER et al., 2005). Essas medidas podem ser implementadas simultaneamente e com diferentes objetivos (HOFFMAN et al., 2009).

Segundo Linnenluecke, Griffiths e Winn (2013), a resposta à mudança física induzida pelo clima envolveria a implementação de ajustes antecipatórios para impactos observados ou esperados de extremos climáticos e maior variabilidade climática, bem como a melhoria da resiliência organizacional, de modo a estar preparada para absorver o impacto de uma mudança proveniente de um evento climático extremo. Além disso, as empresas geralmente também estão engajadas na resposta, recuperação, planejamento e mitigação de desastres (incluindo os impulsionados pelas mudanças climáticas) por razões instrumentais e éticas (JOHNSON et al., 2011).

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ou menos proativas, tais como esperar e observar, avaliar, reduzir o risco, compartilhar o risco ou diversificar.

Medidas de adaptação à incerteza ecológica também podem depender da força da pressão institucional (TASHMAN; RIVERA, 2015). De uma perspectiva institucional, as organizações operam um quadro de normas sociais, valores e crenças sobre o que é considerado comportamento aceitável e adequado (DIMAGGIO; POWELL, 1991). A teoria institucional poderia explicar como as empresas e as partes interessadas chegam a um consenso sobre questões de mudança climática e práticas que poderiam ser desenvolvidas (LEE, 2012).

O relacionamento das estratégias corporativas climáticas está ligado ao contexto institucional. À medida que o contexto institucional se modifica, as estratégias podem se alterar também. Assim, contexto institucional e as organizações estão inter-relacionadas (ABREU; CUNHA; BARLOW, 2015). As organizações não reagem diretamente a todas as pressões ditadas pelo campo organizacional, nem agem de forma completamente autônoma sem a influência da pressão externa (HOFFMAN, 2011).

O contexto institucional fornece arranjos institucionais onde a governança se estabelece. Portanto, é necessário compreender o funcionamento da governança dos recursos hídricos, a fim de verificar como se estabelece as relações, como são definidas as responsabilidades, quais instâncias têm poder e como se dá o desenho institucional.

2.2. Governança dos Recursos Hídricos

A fim de entender a governança, faz-se necessário compreender as instituições e o contexto institucional. O estudo das instituições possui uma longa história nos estudos organizacionais, sendo os estudos de Phillip Selznick (1949; 1971) os precursores. Ao diferenciar a caracterização de organização e instituição, Selznick (1971) cita que uma

organização poderia ser descrita como “[...] um instrumento técnico para a mobilização das energias humanas, visando uma finalidade já estabelecida [...]” (SELZNICK, 1971, p. 5), sendo

indiferentes os fatores sociais em suas ações.

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institucionalização refletiria um processo em que “[...] passam a simbolizar as aspirações da comunidade, o seu senso de identidade” (SELZNICK, 1971, p. 17).

Outros estudiosos, Meyer e Rowan (1977), explicam a questão da homogeneidade na realidade organizacional. A homogeneidade era resultante da conformação das organizações ao adotar mitos e práticas institucionalizados no ambiente. Para eles, as organizações alteram suas estruturas formais com o objetivo de ganhar legitimidade, adaptando-se de acordo com os mitos institucionalizados no ambiente, evitando assim o risco de serem rotuladas de negligentes, irracionais, ou mesmo, desnecessárias. As mudanças estruturais não ocorreriam nas organizações devido a questões de eficiência ou necessidade de enfrentamento da concorrência, mas antes, devido a processos que as tornam mais semelhantes sem torná-las mais eficazes do que eram (DIMAGGIO; POWELL, 1983).

Assim, o processo de institucionalização é definido como “[...] os modos pelos quais processos sociais, obrigações ou atualidades passam a ter um status de regra no pensamento e

na ação social” (MEYER; ROWAN, 1977, p. 341). Em outras palavras, a institucionalização

surge como resultado do processo de homogeneização dos campos organizacionais por meio de mecanismos isomórficos: coercitivos, miméticos e normativos (DIMAGGIO; POWELL, 1983).

As instituições não são apenas organizações discretas (por exemplo, agências governamentais), mas, em geral, conjuntos de regras, processos ou práticas que prescrevem papéis comportamentais para atores, restringem a atividade e moldam as expectativas (KEOHANE, 1988). As instituições são duráveis; são fontes de autoridade (formais ou informais) que estruturam interações repetidas de indivíduos, empresas, grupos da sociedade civil, governos e outras entidades.

Dessa forma, uma variedade de condições institucionais influencia as decisões corporativas no contexto das mudanças climáticas e alterações dos recursos hídricos. Tal comportamento é mais provável ocorrer na medida em que as empresas são monitoradas por uma regulação estatal forte, auto-regulamentação industrial coletiva, ONGs e outras organizações independentes. Esses atores podem se engajar no diálogo e criar pressão sobre as empresas (CAMPBELL, 2007).

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pública e a presença de organizações não-governamentais e outras organizações independentes para monitorar as empresas. (ABREU; CUNHA; BARLOW, 2015).

Neste cenário de mudanças climáticas, empresas, indústrias e empresas reguladoras terão um papel central no apoio às respostas da sociedade às mudanças climáticas. Os atores têm que reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), por exemplo, e apoiar respostas que permitam ajustes no gerenciamento e resposta aos impactos físicos reais e esperados e aos riscos do clima (LINNENLUECKE; GRIFFITHS; WINN, 2013). No âmbito dos recursos hídricos, deve-se atentar para as questões de escassez, abastecimento e infraestrutura hídricas.

A capacidade da empresa de se adaptar à incerteza ecológica também pode depender com a força da pressão institucional (TASHMAN; RIVERA, 2015). De uma perspectiva institucional, as organizações operam um quadro de normas sociais, valores e crenças sobre o que é considerado comportamento aceitável e adequado (DIMAGGIO; POWELL, 1991). A teoria institucional poderia explicar como as empresas e as partes interessadas chegam a um consenso sobre questões de mudança climática e práticas que poderiam ser desenvolvidas (LEE, 2012).

Os atores presentes no contexto e que criam a dinâmica institucional fazem parte de todo o processo decisório de determinada área. Quando se fala em recursos hídricos, existe todo um emaranhado de instituições e organizações responsáveis por esse aspecto. Assim, adentra-se no que adentra-se chama de governança dos recursos hídricos. Antes de definir, descrever e explicar os aspectos inerentes à governança dos recursos hídricos, é necessário determinar algumas representações da governança em si.

A governança representa uma maneira diferente e potencialmente promissora de ver como as pessoas se conduzem e se coordenam (WEBB, 2005). Ela pode ser tida como "a soma das muitas maneiras pelas quais indivíduos e instituições públicas e privadas gerenciam seus

assuntos comuns” (COMISSION ON GLOBAL GOVERNANCE, 1995). Ao envolver toda a

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A governança assume formas estruturais distintas em diferentes contextos. Pode ser organizada como uma estrutura federativa ou centralizada. Pode ter diferentes níveis de integração e participação da sociedade civil nos processos de tomada de decisão e pode variar de regimes altamente autoritários a plenamente democráticos. Essa diversidade de estruturas de governança se deve a uma variedade de circunstâncias históricas e inclui visões de mundo, perspectivas que moldam estruturas organizacionais, processos e direção (HURLBERT; DIAZ, 2013).

A governança dos recursos hídricos, mais especificamente, é um campo acadêmico de rápido crescimento que tem sido desenvolvido em grande parte nos últimos 10 a 15 anos. O número de publicações sobre o tema passou de cerca de 20 no ano 2000 para mais de 600 no ano de 2016. Esse crescimento da ênfase na governança dos recursos hídricos pode ser indicado como um sinal de uma mudança de paradigma na comunidade de pesquisa que se move do foco técnico e de engenharia para uma compreensão mais ampla da dimensão humana na gestão da água (PAHL-WOSTL, 2017).

Diante do exposto, define-se a governança dos recursos hídricos como sendo a gama de sistemas políticos, sociais, econômicos e administrativos que desenvolvem, gerenciam e distribuem os recursos hídricos (ROGERS; HALL, 2003). A governança dos recursos hídricos envolve organizações públicas e da sociedade civil e inclui normas, programas, regulamentos e leis relevantes para a gestão dos recursos hídricos (HALL, 2005).

A governança dos recursos hídricos é definida por Pinto-Coelho e Havens (2015) como sendo um sistema político, social, econômico e administrativo configurado para influenciar, direta ou indiretamente, os usos, o desenvolvimento e a gestão integrada dos recursos hídricos, bem como garantir a prestação de serviços e produtos diretamente ligados a recursos para a sociedade. O sistema de governança dos recursos hídricos não está isolado de todas as outras esferas administrativas do país onde está sendo implementado.

De acordo com os autores acima citados, que estão em consonância com a perspectiva do United Nations Development Programme (UNDP), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, segundo o qual os aspectos centrais da governança dos recursos hídricos são:

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integrada e em harmonia com as atividades econômicas a serem atendidas, dentro das limitações naturais de cada uma dessas bacias hidrográficas.

ii. O sistema deve agir de acordo com políticas públicas bem definidas que, por sua vez, devem se basear em instituições cuja conduta esteja ancorada com base jurídica apropriada.

iii. Definição clara dos papéis de cada uma das agências ambientais, sem sobreposição de funções, com a garantia total da participação da sociedade civil e do setor privado, com a definição de papéis de cada um desses segmentos (direitos de propriedade, subsídios, acessos etc.). Alguns exemplos de questões sensíveis são: diálogo intersetorial (entre governo, ONGs e empresas); resolução de conflitos gerados por diferentes usos da água; o papel das mulheres em relação aos recursos hídricos; barreiras burocráticas; padrões de qualidade da água e indicadores ambientais; preço dos serviços ligados a diferentes usos (irrigação, fornecimento etc.); e acesso a crédito ou incentivos fiscais (aquicultura, saneamento etc.).

É relevante distinguir entre governança e gestão dos recursos hídricos. A governança dos recursos hídricos se refere formalmente ao conjunto de sistemas administrativos, com foco principal em instituições formais (leis e políticas oficiais) e instituições informais (relações e práticas de poder), bem como em estruturas organizacionais e eficiência. O gerenciamento dos recursos hídricos abrange as atividades operacionais para o cumprimento de metas específicas, como alinhamento de recursos hídricos e abastecimento de água, consumo e reciclagem.

Os quadros institucionais e políticos que promovem a transparência, a responsabilização e a coordenação fazem parte da boa governança dos recursos hídricos. A entrega de água ou a instalação de serviços de água melhorados fazem parte da gestão dos recursos hídricos (OCDE, 2011). A Global Water Partnership (GWP), Parceria Global da Água, propõe dois grandes conjuntos de princípios que sustentam a governança efetiva dos recursos hídricos (ROGERS; HALL, 2003):

i. Essas abordagens devem ser transparentes, inclusivas, equitativas, coerentes e integrativas;

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Moench et al (2003) definem a governança dos recursos hídricos como o conjunto de sistemas que controlam a tomada de decisões em relação ao desenvolvimento e ao gerenciamento de recursos hídricos. É mais sobre a forma como as decisões são tomadas do que sobre as próprias decisões. Abrange o modo como os papéis e as responsabilidades são exercidos na gestão da água e engloba amplamente as instituições formais e informais pelas quais a autoridade é exercida (OCDE, 2011). Ela estabelece as regras sob as quais a gestão opera levando em conta os diferentes atores e redes que ajudam a formular e implementar a política da água (PAHL-WOSTL et al, 2012).

A governança dos recursos hídricos é muitas vezes um reflexo da cultura, do status legal, do sistema político e da organização territorial do país. A água é uma questão complexa, importante para todos os setores, permeando todos os agentes econômicos, combinando valores sociais e interesses privados, bem como a formulação de políticas e decisões intrinsecamente ligadas a debates acalorados (OCDE, 2015).

De acordo com Bucknall (2006), a boa governança é um aspecto essencial da gestão efetiva dos recursos hídricos. A boa governança dos recursos hídricos é caracterizada como participativa, orientada para o consenso, responsável, transparente, responsiva, efetiva e eficiente, equitativa e inclusiva, seguindo o Estado de direito (UNDP, 1997).

Muitos problemas no campo da gestão dos recursos hídricos são mais associados com falhas na governança do que nos recursos propriamente ditos (BAKKER et al., 2008; ROGERS; HALL, 2003) e exigem grandes reformas, levando em consideração os fatores contextuais (PAHL-WOSTL et al., 2012).

Dessa forma, percebe-se que a dinâmica institucional e a governança dos recursos hídricos são aspectos fundamentais para as instituições. As instituições devem desenvolver capacidades para atuar dentro dessa dinâmica e sob os mecanismos de governança.

2.2.1 Capacidades Institucionais: conhecimento, relacionamento e mobilização

É fundamental que as instituições desenvolvam capacidades institucionais para gerenciar melhor os recursos hídricos e atuar junto aos atores presentes no contexto institucional. Assim, define-se primeiramente o que vem a ser uma capacidade e posteriormente quais são essas capacidades. Em termos gerais, capacidade pode ser definida como a

“habilidade de desempenhar funções, resolver problemas e estabelecer e alcançar objetivos”

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A capacidade institucional geralmente implica um foco mais amplo de empoderamento, capital social e um ambiente favorável, bem como a cultura, os valores e as relações de poder que influenciam a todos (SEGNESTAM et al., 2002). Assim, a capacidade institucional representa um "ambiente propício" mais amplo, que constitui a base sobre a qual indivíduos e organizações interagem.

Healey (1995) afirmam que em diversas publicações sugere-se que a confiança entre os participantes seja construída sobre uma história comum ou em relacionamentos pré-existentes. Para o autor, existem três tipos de capacidades institucionais: capacidade de relacionamento, capacidade de conhecimento e capacidade de mobilização.

A capacidade de relacionamento refere-se à rede de relações que serve para reduzir os custos de transação entre as empresas através do aumento da confiança e compreensão mútua; a capacidade de conhecimento diz respeito à capacidade de adquirir e utilizar informações que permitam às empresas e outros atores moldarem suas trocas de tal forma a reduzir o impacto ambiental; e a capacidade de mobilização, é a capacidade dos atores mobilizarem as empresas e outros atores a desenvolverem conexões (HEALEY, 1995).

As capacidades institucionais são abordadas por muitos estudiosos (KLIJN; KOPPENJAN, 2012; EMERSON; GERLAK, 2014; HEAD; ALFORD, 2015; TERMEER et al. 2015, 2016; BAIRD; PLUMMER; BODIN, 2016), mas em geral eles as dividem em capacidades colaborativas e adaptativas. Quando tratam de capacidades colaborativas, eles abordam as três já citadas, relacionamento, conhecimento e mobilização.

Já as capacidades adaptativas se referem à capacidade de um sistema de governança de recursos em primeiro lugar alterar processos e, se necessário, transformar elementos estruturais para lidar melhor com mudanças experimentadas ou esperadas no ambiente social ou natural (PAHL-WOSTL et al., 2010). Os autores as dividem em:

i. Reflexividade: capacidade de apreciar e lidar com problemas não estruturados e múltiplas realidades;

ii. Resiliência: capacidade de adaptar com flexibilidade o curso da resposta a mudanças frequentes e incertas sem perda de identidade;

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iv. Revitalização: capacidade de desbloquear estagnações e reviver processos políticos;

v. Reescalonamento: abordar as incompatibilidades entre a escala de um problema e a escala em que ele é governado, reformulando responsabilidades, inclusões e exclusões de atores e, portanto, posições de poder.

As capacidades adaptativas são adquiridas na medida em que os atores presentes no contexto de governança tomam consciência da necessidade de desenvolvê-las. Ressalta-se que para adquirir capacidades de adaptação, demanda-se um ambiente e um contexto em que haja um problema evidente em que se necessite adaptação e o contexto da governança dos recursos hídricos é adequando para essa situação (PAHL-WOSTL et al., 2010).

2.2.2 Governança dos Recursos Hídricos no Canadá

Quando se trata da governança dos recursos hídricos no Canadá, tem-se a participação de diferentes esferas do governo. O governo federal tem jurisdição relacionada à pesca, navegação, terras federais e relações internacionais, incluindo responsabilidades relacionadas ao gerenciamento de águas fronteiriças compartilhadas com os Estados Unidos (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

Quanto à política da água, o Canadá está entre os países que lideram o esforço ambiental global em direção ao desenvolvimento sustentável (GOVERNO DO CANADÁ, 2017). Reconhecendo a necessidade de uma melhor gestão ambiental, o governo federal aprovou a Lei da Água do Canadá em 1970 e criou o Departamento do Meio Ambiente em 1971, confiando a sua Diretoria de Águas Interiores a liderança nacional para a gestão de água doce.

O governo federal também tem responsabilidades significativas para a agricultura, a saúde e o meio ambiente e desempenha um papel significativo no apoio à pesquisa e à tecnologia aquáticas, além de assegurar que políticas e normas nacionais estejam em vigor sobre questões ambientais e relacionadas à saúde.

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Todos esses interesses foram amplamente consultados durante a Pesquisa de 1984/85 sobre a Política Federal da Água, que conduziu audiências em todo o Canadá para o desenvolvimento de uma política federal de recursos hídricos. Guiado pelas conclusões do Inquérito, o governo lançou sua Política Federal da Água em 1987, que, desde então, tem dado foco às atividades relacionadas à água de todos os departamentos federais e que continuará a fornecer uma estrutura de ação nos próximos anos à medida que evolua à luz de novas questões e preocupações (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

A Política Federal da Água, a primeira do gênero no Canadá, foi formulada após vários anos de intensa consulta, tanto dentro como fora do governo. Aborda a gestão dos recursos hídricos, equilibrando os usos da água com os requisitos das muitas inter-relações dentro do ecossistema.

A política leva em conta as necessidades de todos os canadenses em seu objetivo geral: incentivar o uso de água doce de maneira eficiente e equitativa, de acordo com as necessidades sociais, econômicas e ambientais das gerações atuais e futuras.

Para gerenciar os recursos hídricos do Canadá, o governo federal definiu dois objetivos principais:

● Proteger e melhorar a qualidade do recurso hídrico; ● Promover a gestão inteligente e eficiente do uso da água.

O governo federal canadense transmite poder do governo federal para as províncias na gestão dos recursos hídricos. As províncias são as principais gestoras de recursos hídricos no Canadá. A Constituição garante a elas jurisdição na água para beber, tratamento municipal, esgoto e uso da água (incluindo o uso industrial e na agricultura).

Já no nível de província, os poderes legislativos provinciais incluem, mas não estão restritos, a áreas de regulação de fluxo, autorização do desenvolvimento do uso da água, abastecimento de água, controle de poluição e desenvolvimento de energia térmica e hidrelétrica. Nos termos da Lei da Constituição (1867), as províncias são "proprietárias" dos recursos hídricos e têm amplas responsabilidades em sua administração diária. A Figura 1 mostra as províncias canadenses.

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qualidade da água e da poluição recaem sobre as autoridades da cidade ou em níveis comunitários. Duas questões aqui são cruciais: as permissões de água e o controle da qualidade da água (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

Assim, no Canadá, a responsabilidade pela gestão da água é compartilhada pelos governos federal, provincial e municipal. Essa responsabilidade compartilhada exige uma estreita cooperação e colaboração entre todos os níveis de governo e o público em geral.

Figura:1: Províncias canadenses

Fonte: Governo do Canadá (2017)

No tocante às responsabilidades jurisdicionais, o Canadá é uma federação. Como em muitas áreas da vida canadense, isso significa que diferentes níveis de governo têm diferentes funções jurisdicionais relacionadas à gestão de recursos hídricos, enquanto também há muitas áreas de comprometimento compartilhado.

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determinada área ou bacia hidrográfica. A maioria dos principais usos da água no Canadá é permitida ou licenciada pelas autoridades provinciais de gestão de recursos hídricos.

Na prática, todas as ordens do governo, comunidades, setor privado e canadenses individuais têm responsabilidades e tomam decisões todos os dias que influenciam a saúde e a sustentabilidade dos recursos de água doce. No que diz respeito aos arranjos domésticos, os governos canadenses criaram instituições para se concentrarem em questões específicas sobre a água que têm implicações para mais de uma província ou território. Por exemplo, o Conselho de Recursos Hídricos das Províncias da Pradaria administra um acordo para a repartição equitativa dos rios da Pradaria que correm para o leste e para a consideração dos problemas de qualidade da água (GOVERNO DO CANADÁ, 2017).

Quanto aos acordos federais provinciais, a Lei da Água do Canadá (R.S.C., 1985, c. C-11) exige uma consulta conjunta entre os governos federal e provincial em questões relacionadas aos recursos hídricos. Projetos conjuntos envolvem a regulamentação, repartição, monitoramento ou pesquisa de recursos hídricos e o pré-planejamento, planejamento ou implementação de programas de recursos hídricos sustentáveis.

Acordos para programas específicos de recursos hídricos permitem que os governos participantes contribuam com financiamento, informações e conhecimento em índices acordados. Para atividades em andamento, como os acordos de pesquisa de quantidade de água com cada província, a divisão de custos está de acordo com a necessidade de cada parte.

De acordo com Bakker e Cook (2011), o fato de o Canadá ser uma federação altamente descentralizada tem importantes implicações para a governança ambiental. A água não é exceção. Sob a constituição canadense, pescarias, navegação, terras federais e águas internacionais são responsabilidades federais. Recursos hídricos e abastecimento de água são responsabilidades provinciais. O fornecimento de água é, por sua vez, geralmente gerenciado pelo município e, como resultado, é mais descentralizado do que outros setores de serviços públicos. A água está, portanto, sujeita à fragmentação jurisdicional, territorial e escalar criando uma série de lacunas de governança, sobreposições e desafios.

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questões são universais, dado que a água é um recurso de fluxo polivalente que transgride constantemente as fronteiras políticas, cuja autoridade é continuamente negociada entre diferentes usuários, setores e escalas de governança. Isso levanta a questão de como melhor abordar a fragmentação que é tão característica da governança da água.

As políticas de água e legislação nas províncias canadense são notáveis pelo seu grau de diversidade. Verticalmente, há fragmentação interjurisdicional entre os governos federal e provincial. Horizontalmente, há fragmentação em todas as províncias. Fragmentação é definida como a alocação de responsabilidade pela governança da água entre múltiplos atores e/ou agências, com relativamente pouca ou nenhuma coordenação (HILL et al., 2008).

O fracasso de sucessivos governos federais para assegurar uma capacidade nacional colocou o legado de água doce canadense em perigo. Embora ações estejam ocorrendo no nível local e algumas províncias tomaram a iniciativa de incentivar a gestão hídrica local, a falta de compromisso federal está prejudicando a eficácia e sustentabilidade da governança hídrica no Canadá (MORRIS, et al., 2007).

A governança dos recursos hídricos é composta por diversos atores do contexto institucional. As empresas fazem parte desse contexto e devem se relacionar com todas as esferas do governo, principalmente com o governo municipal e provincial. Além desse relacionamento externo e do relacionamento em torno da questão hídrica, as empresas devem cuidar dos recursos hídricos internamente, adotando práticas de gestão.

2.3 Gestão dos Recursos Hídricos

A gestão dos recursos hídricos é definida como uma atividade analítica e criativa para a formulação de princípios e diretrizes, o preparo de documentos orientadores e normativos, a estruturação de sistemas gerenciais e a tomada de decisões que objetiva promover o inventário, o uso, o controle e a proteção dos recursos hídricos (LANNA, 1999). A gestão dos recursos hídricos, em sentido amplo, é a forma pela qual se busca equacionar e resolver as questões de escassez hídrica, através de procedimentos integrados de planejamento e administração (BARTH, 1999).

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ambiente. Eles caracterizam ainda a gestão hídrica como sendo parte integrante da sustentabilidade econômica, ecológica e sócio-política. Trata-se, portanto, de uma atividade complexa e que requer coordenação de diversas instituições e de interesses dos stakeholders.

O conceito de Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH) (Integrated Water Resource Management – IWRM) tem sido bastante difundido no cenário internacional na atualidade. Esse conceito não é novo (BISWAS, 2008) e há mais de 35 definições na literatura. Porém, a mais difundida é a utilizada pelo Global Water Partnership (GWP): “a GIRH é um processo que promove o desenvolvimento e a gestão coordenados da água, terra e recursos relacionados, a fim de maximizar o bem-estar econômico e social resultante, de maneira equitativa sem comprometer a sustentabilidade de ecossistemas vitais” (JONCH-CLAUSEN et al. 2000, p. 22).

Gasbarro et al. (2016) lista uma série de práticas de gestão hídrica para lidar com riscos e oportunidades das mudanças climáticas, a seguir: redução no consumo de água; redução da dependência da empresa ao recurso hídricos; monitoramento do clima, previsão do clima, monitoramento dos recursos naturais, monitoramento da demanda; uso de tabelas inteligentes integradas (smart grids); aumento do suprimento de água e investimento de capital para a robustez das redes de armazenamento de água; projeto de recuperação de drenagem; desenvolvimento de novos produtos que se adaptem à novas condições climáticas; desenvolvimento de políticas e regulação; engajamento de stakeholders; financiamento de pesquisas; relocação de instalações; compartilhamento e transferência de riscos; planos emergenciais.

A pesquisa de Gasbarro et al. (2016) focava nas empresas de energia e as medidas de adaptação utilizadas. O framework dividia os eventos extremos climáticos das mudanças nos recursos hídricos e cada um era relacionado com a estrutura organizacional - composta por processos produtivos, instalações, força de trabalho e distribuição – e com a estrutura institucional – composta de cadeia de suprimentos, tecnologia, demanda, competição, segurança, regulação e sociocultural (Figura 2).

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contexto institucional com os elementos a ele pertencente (cadeia de suprimentos, tecnologia, demanda, competição, segurança, regulação e sócio-cultural.

O estudo de Gasbarro et al (2016) verificou que as medidas de adaptação climática são classificadas de acordo com a percepção das mudanças físicas como risco e/ou como oportunidade e a prevalência de impactos previstos nas estruturas organizacionais e/ou institucionais. O estudo destaca a importância de uma empresa não apenas estar ciente de uma mudança física específica induzida pelo local onde a empresa ou seus fornecedores operam, mas também realizar uma avaliação de vulnerabilidade para identificar e implementar medidas de adaptação.

Figura 2: Impactos dos negócios relacionados a mudanças na hidrologia e nos recursos hídricos impulsionados pelas mudanças climáticas

Fonte: Traduzido de Gasbarro et al (2016)

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2.4 Pressão dos stakeholders para desenvolvimento de estratégias climáticas organizacionais

As organizações são compostas por uma série de atores que interagem dentro e fora dos seus limites físicos que, tomados em conjunto no contexto administrativo, são denominados de stakeholders (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009). Há uma quantidade incontável de partes interessadas envolvidas com a organização (MIANABADI et al., 2011). As definições de stakeholders denotam a complexidade dos indivíduos que ativa ou passivamente estão envolvidos com a empresa e seu negócio.

Para Freeman (1984), stakeholders são todos os indivíduos, grupo de indivíduos ou outra organização que tenham a capacidade de interferir ou sofrer interferência pelas atividades de uma determinada organização. Barbieri e Cajazeira (2009) afirmam que stakeholder é

“alguém que possui direitos em uma empresa ou que nela participa ativamente envolvido de

alguma forma”. Alguns exemplos de stakeholders são: governo, associações, organizações-não governamentais, mídia, academia e o público em geral.

Em seus papéis de investidores, poluidores, inovadores, experts, produtores, lobistas e empregadores, as corporações configuram-se como atores centrais na questão da mudança climática (JONES; LEVY, 2007). Assim, as empresas estão sujeitas a diferentes pressões de stakeholders e atuam em contextos institucionais diversos, levando à adoção de diferentes estratégias climáticas (KOLK; VAN TULDER, 2010).

Os principais fatores que possuem o potencial de forçar as empresas a assumirem ações de resposta às mudanças climáticas são os regulamentos governamentais e as pressões dos stakeholders (CUNHA, ABREU, CRUZ, 2014). Reinhardt (2007) destaca que as empresas precisam avançar em direção às difíceis decisões decorrentes da mudança climática. Okereke (2007) defende a mudança da preocupação externa e periférica para uma preocupação interna de incorporação das mudanças climáticas como um aspecto claro da gestão empresarial estratégica.

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ambientalmente conscientes, maior a necessidade de investir em ações que melhorem sua imagem. (PINKSE; KOLK, 2009).

Dessa forma, verifica-se que os stakeholders exercem pressão nas empresas, seja em virtude do cumprimento de regulamentações das metas climáticas, ou por conta de uma boa imagem corporativa frente aos desafios da mudança climática, as empresas são pressionadas a adotar estratégias climáticas.

2.5 Proposta de Framework de pesquisa

Tendo sido construído todos os elementos de pesquisa, apresenta-se o framework utilizado na pesquisa. O framework é uma adaptação do utilizado por Gasbarro et al. (2016). Na proposta de framework desta pesquisa, como pode ser verificado na Figura 3, as mudanças climáticas e as alterações nos recursos hídricos impactam tanto a gestão de recursos hídricos como a dinâmica institucional e a governança dos recursos hídricos.

A gestão de recursos hídricos é composta pelos elementos de tratamento da água; reciclagem, reutilização e reaproveitamento da água; e tratamento de efluentes. A governança dos recursos hídricos é composta pelas capacidades institucionais e os aspectos trazidos por Ansell e Gash (2008) quando trata do processo de governança colaborativa, que são: condições iniciais, processos colaborativos, liderança facilitadora, desenho institucional e resultados.

Figura 3: Framework de pesquisa

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Figura 2: Impactos dos negócios relacionados a mudanças na hidrologia e nos recursos  hídricos impulsionados pelas mudanças climáticas
Figura 3: Framework de pesquisa
Figura 4: Empresas de alimentos na Grande Toronto marcadas em vermelho
Figura 6: Framework de governança e gestão dos recursos hídricos frente à percepção de  riscos das mudanças climáticas

Referências

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