A indústria
tem remédio
Beatriz Cardoso,
do RioO Brasil parece ter encontrado o ‘remédio’ para um setor que viveu maus momentos, com fechamento de laboratórios e aumento da capacidade ociosa de plantas instaladas, nos anos 1980 e 1990 : a cadeia produtiva farmoquí-
mica-farmacêutica brasileira, responsável pela produção de medicamentos, ‘bem’ de con- sumo que tem uma demanda permanente.
De acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico do chamado Plano de Aceleração do Crescimento na área de
Saúde — o PAC da Saúde, lan-
çado em 2008 —, indicou que
o déficit do balanço comercial
do setor é um problema grave,
pois as importações respondem
por uma parcela expressiva dos
gastos com saúde, que repre-
sentam hoje mais de 8% do
Produto Interno Bruto (PIB).
Atualmente, o déficit comer- cial é de quase US$ 3,5 bilhões, uma vez que as importações projetadas em 2008 seriam de quase US$ 4,5 bilhões e as vendas para o exterior, segundo avaliação de entidades do setor, devem ficar acima de US$ 1 bilhão, mantidos os níveis observados nos oito primeiros meses do ano.
Neste quadro, os farmoquí- micos têm um peso significa- tivo, já que o Brasil importa cerca de 80% de sua demanda por estes insumos (princípios ativos fundamentais na com- posição de medicamentos). No entanto, esta dependência vem diminuindo.
Mais além do aspecto so- cial — a produção de remédios e a saúde da população —, o setor vem mostrando que é
possível avançar desde que haja uma política industrial definida e regras claras que assegurem a isonomia no tratamento das empresas que disputam fatias do mercado.
Nono maior mercado de fármacos e medicamentos no ranking mundial da IMS He- alth, consultoria internacional que acompanha o desempenho e os números de mais de três mil companhias deste setor nos quatro cantos do planeta, o Brasil dá sinais inequívocos de que quer voltar a ocupar sétima posição. E com empresas nacio- nais posicionadas como líderes e exportadoras qualificadas.
Em 2007, a indústria brasi- leira de medicamentos, como um todo, movimentou algo em torno de R$ 23,6 bilhões.
Pelas projeções do Ministério da Saúde (MS) e de entidades do setor, este volume pode ter chegado a R$ 30 bilhões em 2008, o que representaria um crescimento de quase 30%.
Embora a participação direta do SUS no mercado total seja de 30%, outros fatores pesaram neste crescimento: um deles é o genérico, que hoje responde por 14% do faturamento do mercado total e 16% do volume de vendas.
Para o secretário de Ciên- cia e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, é perceptível as mudanças que vêm ocorrendo. No último encontro realizado pela Asso-
ciação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), no final do ano passado, o secretário afirmou que, mes- mo diante da crise financeira internacional, o cenário para este ano é favorável graças ao desempenho positivo do setor de fármacos e medicamentos em 2008.
Lei dos genéricos
Guimarães lembrou que, no mundo inteiro, a articulação estreita entre o Estado e a iniciativa privada para o desen- volvimento de segmentos-chave da economia, como o chamado complexo econômico-industrial da saúde, é o grande motor do desenvolvimento. E que isso começa a ser visto no Brasil, onde o setor público, por meio dos laboratórios oficiais, está se reorganizando segundo as no- vas diretrizes do Ministério da Saúde e vem fortalecendo seu papel tradicional de fabricação de medicamentos essenciais, mas que não são de interesse comercial do setor privado.
Ao mesmo tempo, a indús- tria brasileira já mostrou sinais inequívocos de que pretende posicionar-se definitivamente na liderança do mercado far- macêutico nacional, onde, até a bem pouco tempo, predomi- navam os grandes laboratórios multinacionais. Na visão de Guimarães, esta evolução, que foi alavancada por uma série de
O Brasil importa cerca de 80%
de sua demanda
por princípios ativos
fundamentais
na composição
de medicamentos,
os chamados
farmoquímicos
medidas nos últimos dez anos, como a Lei do Genérico, vem estimulando os grupos estran- geiros a retomar não somente investimentos como também projetos de pesquisa e desen- volvimento em suas plantas brasileiras.
É justamente a dimensão do mercado doméstico brasileiro que o torna tão atrativo para a indústria mundial: não somente para as empresas que têm plan- tas industriais no país, como os laboratórios internacionais, farmoquímicos e farmacêu- ticos, que vendem desde os princípios ativos (o chamado
‘coração’ do remédio, os insu- mos farmacêuticos ativos/IFAs) e adjuvantes farmacotécnicos (insumos farmacêuticos não ativos ou excipientes) até os medicamentos acabados.
Não é à toa que dos 20 maio- res grupos farmacêuticos do mundo listados pela IMS Heal- th, a maioria tem plantas indus- triais no Brasil, como a Pfizer (primeira do ranking da IMS Health), Sanofis-Aventi, Ro- che, Merck, Novartis, Squibb, Schering Plough entre outras.
Além de buscarem aumentar sua participação neste mercado, hoje essas empresas vêem o país como uma importante platafor- ma exportadora para a região sul-americana e até mesmo para outros continentes.
Esta estratégia se deve a mudanças profundas ocorri- das no mercado brasileiro na última década, principalmente
Medicamentos
Exportações (US$ milhões FOB)
Posição NCM 2005 2006 2007 2008*
3002 19,6 14,2 27,0 23,5
3003 2,4 4,3 8,3 8,3
3004 308,9 437,6 510,0 490,3
3006 9,3 13,5 19,2 40,3
Total 340,2 469,6 564,6 562,4
Importações (US$ milhões FOB)
Posição NCM 2005 2006 2007 2008*
3002 484,3 656,5 751,4 846,3
3003 62,7 82,8 73,7 59,2
3004 1.322,3 1.715,4 2.256,8 1988,6
3006 38,9 35,8 34,2 38,2
Total 21.908,7 2.490,5 3.116,1 2.932,3
Na posição 3002 estão, basicamente, os derivados de sangue e as vacinas, retirando-se destas as de uso veterinário. Na posição 3006 foi considerado apenas o código 3006.60.00 (preparações químicas contraceptivas à base de hormônio ou de espermicidas). NCM – Nomenclatura Comum do MERCOSUL.
Farmoquímicos e Adjuvantes Farmacotécnicos
(US$ milhões FOB)