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A indústria. tem remédio

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A indústria

tem remédio

Beatriz Cardoso,

do Rio

O Brasil parece ter encontrado o ‘remédio’ para um setor que viveu maus momentos, com fechamento de laboratórios e aumento da capacidade ociosa de plantas instaladas, nos anos 1980 e 1990 : a cadeia produtiva farmoquí-

mica-farmacêutica brasileira, responsável pela produção de medicamentos, ‘bem’ de con- sumo que tem uma demanda permanente.

De acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico do chamado Plano de Aceleração do Crescimento na área de

Saúde — o PAC da Saúde, lan-

çado em 2008 —, indicou que

o déficit do balanço comercial

do setor é um problema grave,

pois as importações respondem

por uma parcela expressiva dos

gastos com saúde, que repre-

sentam hoje mais de 8% do

Produto Interno Bruto (PIB).

(2)

Atualmente, o déficit comer- cial é de quase US$ 3,5 bilhões, uma vez que as importações projetadas em 2008 seriam de quase US$ 4,5 bilhões e as vendas para o exterior, segundo avaliação de entidades do setor, devem ficar acima de US$ 1 bilhão, mantidos os níveis observados nos oito primeiros meses do ano.

Neste quadro, os farmoquí- micos têm um peso significa- tivo, já que o Brasil importa cerca de 80% de sua demanda por estes insumos (princípios ativos fundamentais na com- posição de medicamentos). No entanto, esta dependência vem diminuindo.

Mais além do aspecto so- cial — a produção de remédios e a saúde da população —, o setor vem mostrando que é

possível avançar desde que haja uma política industrial definida e regras claras que assegurem a isonomia no tratamento das empresas que disputam fatias do mercado.

Nono maior mercado de fármacos e medicamentos no ranking mundial da IMS He- alth, consultoria internacional que acompanha o desempenho e os números de mais de três mil companhias deste setor nos quatro cantos do planeta, o Brasil dá sinais inequívocos de que quer voltar a ocupar sétima posição. E com empresas nacio- nais posicionadas como líderes e exportadoras qualificadas.

Em 2007, a indústria brasi- leira de medicamentos, como um todo, movimentou algo em torno de R$ 23,6 bilhões.

Pelas projeções do Ministério da Saúde (MS) e de entidades do setor, este volume pode ter chegado a R$ 30 bilhões em 2008, o que representaria um crescimento de quase 30%.

Embora a participação direta do SUS no mercado total seja de 30%, outros fatores pesaram neste crescimento: um deles é o genérico, que hoje responde por 14% do faturamento do mercado total e 16% do volume de vendas.

Para o secretário de Ciên- cia e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, é perceptível as mudanças que vêm ocorrendo. No último encontro realizado pela Asso-

ciação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), no final do ano passado, o secretário afirmou que, mes- mo diante da crise financeira internacional, o cenário para este ano é favorável graças ao desempenho positivo do setor de fármacos e medicamentos em 2008.

Lei dos genéricos

Guimarães lembrou que, no mundo inteiro, a articulação estreita entre o Estado e a iniciativa privada para o desen- volvimento de segmentos-chave da economia, como o chamado complexo econômico-industrial da saúde, é o grande motor do desenvolvimento. E que isso começa a ser visto no Brasil, onde o setor público, por meio dos laboratórios oficiais, está se reorganizando segundo as no- vas diretrizes do Ministério da Saúde e vem fortalecendo seu papel tradicional de fabricação de medicamentos essenciais, mas que não são de interesse comercial do setor privado.

Ao mesmo tempo, a indús- tria brasileira já mostrou sinais inequívocos de que pretende posicionar-se definitivamente na liderança do mercado far- macêutico nacional, onde, até a bem pouco tempo, predomi- navam os grandes laboratórios multinacionais. Na visão de Guimarães, esta evolução, que foi alavancada por uma série de

O Brasil importa cerca de 80%

de sua demanda

por princípios ativos

fundamentais

na composição

de medicamentos,

os chamados

farmoquímicos

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medidas nos últimos dez anos, como a Lei do Genérico, vem estimulando os grupos estran- geiros a retomar não somente investimentos como também projetos de pesquisa e desen- volvimento em suas plantas brasileiras.

É justamente a dimensão do mercado doméstico brasileiro que o torna tão atrativo para a indústria mundial: não somente para as empresas que têm plan- tas industriais no país, como os laboratórios internacionais, farmoquímicos e farmacêu- ticos, que vendem desde os princípios ativos (o chamado

‘coração’ do remédio, os insu- mos farmacêuticos ativos/IFAs) e adjuvantes farmacotécnicos (insumos farmacêuticos não ativos ou excipientes) até os medicamentos acabados.

Não é à toa que dos 20 maio- res grupos farmacêuticos do mundo listados pela IMS Heal- th, a maioria tem plantas indus- triais no Brasil, como a Pfizer (primeira do ranking da IMS Health), Sanofis-Aventi, Ro- che, Merck, Novartis, Squibb, Schering Plough entre outras.

Além de buscarem aumentar sua participação neste mercado, hoje essas empresas vêem o país como uma importante platafor- ma exportadora para a região sul-americana e até mesmo para outros continentes.

Esta estratégia se deve a mudanças profundas ocorri- das no mercado brasileiro na última década, principalmente

Medicamentos

Exportações (US$ milhões FOB)

Posição NCM 2005 2006 2007 2008*

3002 19,6 14,2 27,0 23,5

3003 2,4 4,3 8,3 8,3

3004 308,9 437,6 510,0 490,3

3006 9,3 13,5 19,2 40,3

Total 340,2 469,6 564,6 562,4

Importações (US$ milhões FOB)

Posição NCM 2005 2006 2007 2008*

3002 484,3 656,5 751,4 846,3

3003 62,7 82,8 73,7 59,2

3004 1.322,3 1.715,4 2.256,8 1988,6

3006 38,9 35,8 34,2 38,2

Total 21.908,7 2.490,5 3.116,1 2.932,3

Na posição 3002 estão, basicamente, os derivados de sangue e as vacinas, retirando-se destas as de uso veterinário. Na posição 3006 foi considerado apenas o código 3006.60.00 (preparações químicas contraceptivas à base de hormônio ou de espermicidas). NCM – Nomenclatura Comum do MERCOSUL.

Farmoquímicos e Adjuvantes Farmacotécnicos

(US$ milhões FOB)

Exportações Importações

F AF T F AF T

2005 211,3 62,0 273,3 1.091,7 43,9 1.135,3

2006 221,6 64,4 286,0 1.114,4 41,6 1.156,0

2007 272,6 79,0 351,6 1.600,0 48,6 1.648,6

2008* 258,3 62,7 321,0 1.466,1 45,8 1.511,9

*Até setembro de 2008

Fonte: as tabelas foram construídas com base nos dados fornecidos pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) à Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica (ABIQUIF).

visando reverter à crescente dependência do país de produ- tos importados, tanto farmo- químicos como medicamentos acabados.

No setor farmacêutico, o que mudou definitivamente a estrutura e a ‘cara’ do mercado, foi a chamada Lei do Genéri- co, lançada menos de um mês depois da criação da Agência

Nacional de Vigilância Sanitá- ria (Anvisa), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, criado em janeiro do mesmo ano.

Ao sancionar a Lei nº 9.787,

de 10 de fevereiro de 1999, o

governo queria criar um meca-

nismo para ampliar a produção

e reduzir substancialmente os

preços dos medicamentos, que

oneravam as contas do Minis-

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tério de Saúde, mesmo tendo uma rede de laboratórios pú- blicos para produzir remédios para o SUS.

O governo apostava no acirramento da concorrência entre os fabricantes que op- tassem pelo produto com o nome genérico, o que, por sua vez, dispensava gastos com a publicidade e divulgação da marca, do nome de fantasia do remédio. A iniciativa provocou forte reação por parte do setor farmacêutico, mas acabou vingando e estimulou os pro- dutores nacionais a investirem firme nesta nova frente.

Pioneirismo gera resultados

É o caso da EMS, uma das pri- meiras a produzir genéricos no país e que hoje lidera o ranking

das indústrias farmacêuticas do país, desbancando a gigante Sanofi-Aventis. A empresa, que tem suas origens em uma pequena farmácia em Santo André, na região do Grande ABC, no estado de São Paulo, hoje já se tornou uma marca internacional.

A farmácia criada por Emi- liano Sanchez, cujas iniciais deram origem à marca EMs se transformou em laboratório em 1964 e lançou sua linha hospitalar em 1992, expandin- do suas atividades para outros estados, acabou por ganhar abrangência nacional ao com- prar dois laboratórios.

Investimentos de R$ 100 milhões possibilitaram, em 1999, a inauguração de um segundo complexo industrial, mais moderno, construído de acordo com os padrões estabe- lecidos pela poderosa agência norte-americana FDA (Food and Drug Administration), responsável pela fiscalização da indústria farmacêutica e ali- mentícia nos Estados Unidos.

A EMS estava pronta para novos passos quando saiu a Lei dos Genéricos. Ela partiu na frente, obtendo, no mesmo ano, aprovação para produzir medi- camentos genéricos, com testes de bioequivalência e biodispo- nibilidade. No início de 2000, já disponibilizava no mercado o genérico Ampicilina, Cefalexina e Cloridrato de Ranitidina.

Hoje, a empresa colhe os resultados desta estratégia que

já lhe valeu querelas com gran- des empresas, que a acusam de copiar as embalagens dos produtos de marca. O grupo EMS, que abrange ainda as empresas Legrand, Sigma Phar- ma, Germed, Topz e Nature’s, teve um faturamento estimado em R$1,6 bilhão em 2008, e o maior portfólio de genéricos do mercado, com 1.080 apresen- tações de produtos. Em 2007, os genéricos responderam por 54% do faturamento da EMS, que teve 32,7% de participação em faturamento e 37,1% em unidades comercializadas rela- tivamente no mercado total de genéricos no país.

A internacionalização foi mais um passo. “Hoje temos exportações regulares para mais de 15 países e uma equi- pe internacional para avaliar novos negócios na Europa, mercado no qual fomos os pio- neiros na linha de genéricos”, comemora Christiano Trotta, diretor de Desenvolvimento de Negócios do grupo.

Ele pontua que este ano de- verão estar concluídas adequa- ções da planta industrial, com vistas a se submeter à auditoria da FDA para produzir um imu- nossupressor para o mercado norte-americano. O grupo é o único laboratório da América Latina a produzir Sigmasporin Microral (ciclosporina micro emulsão), um imunossupressor utilizado por transplantados, além do FK Sigma e o micofe- nolato de mofetila genérico.

É justamente

a dimensão

do mercado

doméstico

brasileiro que

o torna

tão atrativo

para a indústria

mundial

(5)

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada em março de 2004, estabeleceu algumas es- tratégias, entre elas, leis e programas de incentivo à pesquisa desenvolvimento e produção de fármacos e medicamentos.

Como parte desse projeto, foi elaborada uma nova legislação:

a Lei do Bem e a Lei da Inovação. Criada em 2006, a Lei 11.196, mais conhecida como Lei do Bem, projetou uma renúncia fiscal de R$ 500 milhões para projetos de inovação tecnoló- gica. Por meio de incentivos fiscais, ela estabelece subvenção econômica que se desdobra em deduções tanto no Imposto de Renda como na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Há também dedução do Imposto sobre Produtos In- dustrializados (IPI) para as empresas que investirem na compra de equipamentos para P&D.

O capítulo III prevê incentivos fiscais para empresas, entre as quais os laboratórios farmoquímicos e farmacêuticos que realizam pesquisa e desenvolvimento em inovação tecno- lógica. Podem ser contemplados por essa lei, projetos de concepção de novos produtos ou processo de fabricação que incluam funcionalidades que configurem melhorias e ganho de qualidade ou produtividade.

Embora signifique um incentivo à inovação, a lei precisa de revisões. Por meio dela são beneficiadas apenas empresas com sistema de apuração de lucro real, ou seja, apenas 6%

das empresas brasileiras de todos os setores, o que coloca barreiras à eficácia desse instrumento.

A lei da Inovação formulada em 2004 e sancionada no ano seguinte tem como objetivo criar um ambiente propício para aumentar o envolvimento das empresas no desenvolvimento de projetos inovadores que levem a gerar novos produtos e processos. Desse modo, ela busca elevar o nível de parcerias entre empresas, universidades e institutos científicos e tec- nológicos para que ganhem força e estimulem o processo de inovação.

Ao procurar estreitar o relacionamento entre dois lados ain- da tão distantes, a Lei prevê autorizações para a incubação de empresas no espaço público e a possibilidade de compartilha- mento de infra-estrutura, equipamentos e recursos humanos, públicos e privados, para o desenvolvimento tecnológico e a geração de processos e produtos inovadores.

Para a indústria farmoquímica e farmacêutica, essa parceria entre empresa e universidade representa dar funcionalidade às pesquisas que são desenvolvidas nos laboratórios uni- versitários, que podem se beneficiar do uso da plataforma industrial para propagar e garantir recursos de outras fontes para o aprimoramento de suas pesquisas.

Para respaldar novas con- quistas no mercado internacio- nal, em 2006, um ano depois de fazer a primeira exportação para a Europa, a empresa fez uma parceria com o Monte- Research um dos principais laboratórios de pesquisas, se- diados na Itália. O acordo técnico-científico viabiliza a troca de conhecimentos e de tecnologia, de forma a acelerar o desenvolvimento de novas formas farmacêuticas e o lança- mento de produtos. E, com isso, ampliar ainda mais os negócios da EMS.

Seguindo os passos da pio-

neira, outra brasileira, como

a Medley e a Aché buscam

ganhar posições no ranking

nacional das indústrias farma-

cêuticas. Uma das mais jovens

do setor, no seu décimo terceiro

ano de atividades, a Medley

ocupa hoje a terceira posição,

tendo desbancado grandes

laboratórios internacionais,

como a Novartis, que está entre

os 20 maiores do mundo. “Na

última década tivemos muitos

avanços não somente no setor

farmacêutico, mas na economia

como um todo. O que trouxe

uma série de benefícios para

a Medley”, observa seu presi-

dente Jairo Yamamoto. Agora,

a empresa volta seu foco para

o exterior, onde já fez algumas

conquistas. “Os negócios inter-

nacionais estão indo tão bem,

que criamos um departamento

exclusivo para coordenar os tra-

balhos nessa área”, conta Jairo,

(6)

Luis Fernando Silva,

do Rio

Para o presidente-executivo da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), Ciro Mortella, “a indústria farmacêutica instalada no Brasil ganhou impul- so na década de 1990, devido, principalmente, à estabilidade econômica e ao fim da escalada inflacionária, proporcionados pelo Plano Real. Em 1997, por exemplo, o setor atingiu o recorde histórico de vendas de 1,85 bilhão de caixas de medicamentos”. No entanto, viriam depois seis anos de queda acumulada de 20%

nas vendas (1998-2003). O setor voltou a crescer apenas de 2004 em diante. Embora reconheça a importância de medidas adota- das nos últimos anos, ele faz uma ressalva. “A constituição de um pólo farmacêutico de ponta, em qualquer país, é sempre um pro- cesso de maturação lenta e que requer pesados investimentos.”

Quais os principais entraves ao desenvolvimento da indústria farmacêutica? São econômicos ou tributários?

Ciro Mortella – Os entraves são econômicos e tributários. A in- dústria farmacêutica é o único segmento produtivo da eco- nomia brasileira submetido ao controle de preços. Essa situação criou distorções que comprome- teram o desempenho econômi- co-financeiro dos laboratórios

durante anos, desestimulando investimentos. Ao mesmo tem- po, a carga tributária que incide nos medicamentos é de 35,07%.

Um contra-senso se considerar que se trata de um bem tido pelo próprio governo como essencial para a população.

Pesquisa da Febrafarma, realiza- da no primeiro semestre de 2008, mostrou que os investimentos em P&D das empresas nacionais cresceram 68% — enquanto os das multinacionais cresceram 11%. O que gerou este investi- mento maior em P&D por parte da indústria nacional?

Sem dúvida, os laboratórios instalados no país (nacionais e internacionais) vêm aumentan- do, ano a ano, seus investimentos em Pesquisa & Desenvolvimen- to. Mas as verbas destinadas à descoberta de novos princípios ativos ainda são relativamente pequenas, tendo em vista o volume de recursos necessários para se lançar um produto ino- vador no mercado. Mas o grosso dos investimentos se destina à pesquisa clínica (testes de novos medicamentos desenvolvidos no exterior) e à pesquisa incremen- tal (desenvolvimento de formula- ções que melhoram a eficácia de produtos já existentes).

A Lei dos Genéricos impulsio- nou os laboratórios nacionais.

O que deve ser feito para dar

sustentação a esse crescimen- to e tornar esses laboratórios competitivos em termos de mercado internacional?

No plano interno, a melhoria de renda da população e o aumento das compras gover- namentais poderiam contribuir para a expansão dos genéricos.

No plano externo, os fabricantes de genéricos vêm conquistando mercados na América Latina e até na Europa.

O governo através de algumas leis (Lei da Inovação, Lei do Bem) e fundos de incentivo (Profarma, Funtec) tem estimu- lado a indústria farmacêutica.

Qual a avaliação da Febrafar- ma em relação à efetividade desta política que vem sendo delineada nos últimos anos?

Em primeiro lugar, cabe advertir que a constituição de um pólo farmacêutico de ponta em qual- quer país é sempre um processo de maturação lenta e que requer pesados investimentos. As políticas de incentivo adotadas nos últimos anos pelo governo foram positivas, mas precisariam ser complementadas por outras medidas de regulação econômi- ca e sanitária que criassem um ambiente mais favorável para o crescimento setorial.

Qual o balanço que a Febrafar- ma faz da evolução da indústria nacional?

Tempo de maturação

(7)

que além de querer conquistar novos mercados da América Latina, quer ampliar o portfólio de produtos para exportação.

Vocação para inovar

Além de se posicionar na lide- rança, respaldada em boa parte na força dos genéricos, a indús- tria nacional vem reforçando seus investimentos também em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), confirmando a propalada inventiva brasilei- ra. Um exemplo claro disso é o laboratório Cristália, criado em 1972 por um grupo de mé- dicos, no município de Itapira, no interior de São Paulo, e que hoje atua de A Z da cadeia produtiva, com uma unidade de produção de farmoquími- cos para abastecer sua planta farmacêutica.

A empresa, que iniciou suas atividades na área de Psiquia- tria, fornecendo medicamen- tos para clínicas, hospitais e, principalmente, governo, hoje é reconhecida internacionalmen- te por sua vocação para inovar.

O laboratório pretende estrear no segmento de biotecnologia, construindo uma fábrica para produzir dois medicamentos similares: o hormônio de cres- cimento humano e o Interferon, usado no tratamento de doen- ças virais. Até agora, já foram investidos R$ 20 milhões no projeto, que poderá consumir outros R$ 25 milhões para ini- ciar a produção até 2012.

Nenhum destes medica- mentos, que não tem proteção de patentes, é produzido no Brasil, representando um ônus de R$ 120 milhões dos cofres públicos e contribuindo para o déficit da balança comercial brasileira. A meta da Cristália é suprir metade do mercado bra- sileiro quando estiver produzin- do os dois medicamentos.

A empresa, que tem outros dez projetos nesta área de bio- tecnologia, recentemente viu seus investimentos na P&D de novas moléculas coroados com uma importante vitória:

um composto totalmente de- senvolvido por ela no Brasil A indústria farmacêutica con-

tabilizou conquistas impor- tantes nos últimos 18 anos. Os laboratórios privados possuem hoje fábricas modernas, profis- sionais qualificados e centros de pesquisa que começam a apresentar resultados consis- tentes. Alguns laboratórios de capital nacional têm no portfólio medicamentos incrementais com patentes registradas nos EUA e no Japão e outros estão ingressando na promissora área dos medicamentos biotecnoló- gicos. Empresas internacionais trouxeram para o país projetos importantes. No entanto, como disse anteriormente, o caminho da Pesquisa & Desenvolvimento na área de medicamentos é lon- go e de custo elevado.

No passado, havia um distan- ciamento entre as empresas e as universidades e centros de pesquisa. O senhor considera que isto mudou? Hoje é fun- damental o setor privado ter parcerias com instituições de pesquisas para lançar novos produtos, inovar, ganhar com- petitividade?

Ainda há muita desconfiança da parte das instituições acadêmi- cas e de seus pesquisadores, mas a situação está mudando. Orga- nismos como a Agência Inova, da Unicamp, estão contribuindo para derrubar essas barreiras.

Além de

se posicionar na liderança a indústria nacional vem reforçando seus investimentos também em pesquisa,

desenvolvimento

e inovação (PD&I)

(8)

Nas contas da Pró-Genéricos — Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos — há um grande negócio de R$ 750 milhões pela frente: estudo da en- tidade mostra que nos próximos três anos vencem as patentes de 17 remédios no país, que hoje movimentam este volume de recursos. É que, vencidas as patentes, a indústria de genéricos pode dar a partida na produção de medicamentos equivalentes, a preços até 35% inferiores aos de marca. No levantamento da Pró-Genéricos, em 2010, nada menos que 12 destas drogas perdem a proteção da patente, que dura 20 anos.

De acordo com o jornal Valor Econômi- co, que obteve, com exclusividade, a lista compilada pela Pró-Genéricos, entre estes medicamentos estão o Lipitor, o remédio mais vendido no mundo, utilizado para o controle dos níveis de colesterol; o famoso Viagra, para impotência sexual; o anti-hi- pertensivo Diovan, de grande consumo no Brasil, e o antipsicótico Zyprexa, vendido em grandes volumes para o governo. São marcas que pertencem a gigantes como Pfizer, Novartis e Eli Lilly.

O Lipitor, produzido pela Pfizer, respon- deria por cerca de um terço do volume estimado de R$ 750 milhões, que sequer contabiliza as vendas para o governo. Aten- ta a esta questão, a Pfizer investiu US$ 68 bilhões na aquisição da norte-americana Wyeth, que tem um respeitável “pipeline” de medicamentos no segmento de biotecnolo- gia com boa participação no mercado.

Mas nada parece tão promissor para as empresas que investiram na produção de genéricos, do que este mercado sempre em expansão, inclusive em tempos de crise. Nos nove primeiros meses de 2008, a indústria de genéricos faturou US$ 1,5 bilhão somente no varejo farmacêutico. Valor em torno de 15%

superior ao total de 2007, que foi de US$ 1,3 bilhão, de acordo com o IMS Health, instituto que audita o mercado farmacêutico no Brasil e no mundo. Este crescimento também foi substancial em termos de volume: de julho a setembro, foram comercializadas 73,4 mi- lhões de unidades de genéricos no mercado doméstico, contra 60,6 milhões em igual período do ano anterior. No total, o cresci- mento nos nove primeiros meses de 2008, em termos de volume, foi de 17%.

teve a denominação lodenafil carbonato (carbonato de lo- denafila) aprovada pelo INN (International Nonproprieta- ry Name) — Denominação Comum Internacional (DCI), que é adotada pela Orga- nização Mundial da Saúde (OMS) — e agora passa a ser usada mundialmente para designar os princípios ativos de medicamentos.

O composto desenvolvido, que tem o nome comercial Helleva® e é utilizado em casos de disfunção erétil, confirma o acerto da empresa, que em 1988 decidiu investir na síntese de princípios ativos.

“Desenvolvemos o primeiro produto farmacêutico obtido por síntese vertical no Brasil, desde sua concepção até testes clínicos”, comemora o médico Ogari de Castro Pacheco, pre- sidente da Cristália.

Até 2007, segundo Ogari, o laboratório tinha já 12 patentes registradas no país e no exterior e cerca de outras 60 solicitações de patentes, apresentadas aos órgãos competentes, no Brasil e em outros países. Atualmente a Cristália tem produtos patentea- dos no Brasil, Estados Unidos, União Européia e China.

“O alto nível de sofistica- ção de PD&I é reconhecido internacionalmente. Tanto que cinco substâncias sintetizadas pela Divisão Farmoquímica da Cristália foram considera- das ‘reference standards’ pela United States Pharmacopeia

(USP), órgão americano de influência mundial que forne- ce padrões de qualidade para produção de farmoquímicos”, destaca Ogari. Isto significa que, tanto os Estados Unidos quanto nos 36 países que ado- tam esta farmacopéia como referência, devem utilizar as substâncias sintetizadas pela Cristália como padrão primá- rio para aferir a qualidade dos princípios ativos fabricados ou utilizados na produção de seus medicamentos. “Não foi por outra razão que a Cristália acabou sendo escolhida pela FINEP como a indústria far- macêutica mais inovadora do país em 2007.”

Com um faturamento em torno de R$ 600 milhões (e investimentos anuais em PD&I que ficam entre de 7 a 10%

deste montante), a Cristália, que deu seus primeiros passos no mercado internacional em 1982, hoje tem seus produtos exportados para cerca de 40 países da América Latina, Ásia e Oriente Médio.

Além dos projetos concluí-

dos ao longo dos anos, que

viabilizaram a síntese local de

mais de 70 moléculas e resulta-

ram em várias patentes, tanto

de processos como de produtos,

o laboratório busca tornar rea-

lidade as inovações contidas

em mais de duas dezenas de

projetos em andamento, muitos

deles em parcerias estratégicas

com universidades e centros de

pesquisa.

Referências

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