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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0027.11.023982-2/001

Número do Númeração 0239822-

Des.(a) Marcílio Eustáquio Santos Relator:

Des.(a) Marcílio Eustáquio Santos Relator do Acordão:

05/02/2015 Data do Julgamento:

13/02/2015 Data da Publicação:

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA NO ÂMBITO DOMÉSTICO. LEI MARIA DA PENHA.

AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO EXPRESSA DA VÍTIMA NO PERÍODO DECADENCIAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. INCONFORMISMO MINISTERIAL. CABIMENTO. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.

ADI 4.424. EFEITO ERGA OMNES E EX TUNC DA DECISÃO PROFERIDA

PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. DECISÃO DE NATUREZA

DECLARATÓRIA. EFETIVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA PROTEÇÃO

À FAMÍLIA E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ISENÇÃO DAS

CUSTAS. RÉU HIPOSSUFICIENTE. NECESSIDADE. DADO PROVIMENTO

AO RECURSO. ISENÇÃO DAS CUSTAS "EX OFFICIO". 1. Proferida

decisão pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI 4.424,

entendendo pela possibilidade do Ministério Público dar início à ação penal

sem a prévia representação da vítima, em casos de crime de lesão corporal

leve, praticado sob a égide da Lei 11.340/06, a mesma possui efeito

vinculante e erga omnes, devendo ser aplicada de imediato, em todos os

graus de jurisdição, desde a publicação da ata do julgamento. 2. A decisão

do Supremo Tribunal Federal em Ações Diretas de Inconstitucionalidade

possui efeito vinculante tão logo seja publicado o extrato da audiência no

qual se proferiu o decisum, sendo possível a retroação da nova orientação,

sem qualquer ofensa à norma disposta no artigo 2° do Código de Processo

Penal, eis que o que se busca, em especial, no presente caso, é a efetiva

aplicação à garantia constitucional da ampla proteção à família e ao princípio

constitucional da dignidade da pessoa humana. 3. Na esteira da nova

orientação jurisprudencial da Suprema Corte, exarada em uma Ação de

Direta de Inconstitucionalidade, cabe ao Ministério Público, independente de

representação da vítima, deflagrar a ação penal nos casos em que se apura

a prática do crime de lesão corporal leve

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cometido sob o âmbito da Lei 11.340/06. 4. Tendo sido declarada extinta a punibilidade do agente, em razão da ausência de representação da vítima, deve ser cassada a r. decisão, para que seja determinado o prosseguimento do feito, eis se tratar o caso de ação penal pública incondicionada. 5. Se o acusado foi assistido pela Defensoria Pública, faz jus à isenção das custas processuais, pois beneficiado pela Lei Estadual 14939/03. 6. Dado provimento ao recurso. Isenção das custas concedida de ofício.

REC EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0027.11.023982-2/001 - COMARCA DE BETIM - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - RECORRIDO(A)(S): JOSÉ NETO BORGES DA SILVA - VÍTIMA: SANDRA SOUZA OLIVEIRA

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO E CONCEDER A ISENÇÃO DAS CUSTAS AO RECORRIDO DE OFÍCIO.

DES. MARCÍLIO EUSTÁQUIO SANTOS RELATOR.

DES. MARCÍLIO EUSTÁQUIO SANTOS (RELATOR)

V O T O

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo MINISTÉRIO

PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (fl. 13) contra a decisão

proferida pelo douto Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Betim (fl. 12),

que declarou extinta a punibilidade de José Neto Borges da Silva, que

figurava como agressor, em procedimento próprio, pela suposta prática do

crime previsto no art. 129, §9º do Código Penal,

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sob o âmbito da Lei 11.340/06, determinando o arquivamento dos autos, por entender inexistir condição de procedibilidade, em razão da decadência, tendo em vista a ausência de representação da vítima Sandra Souza Oliveira.

Em suas razões recursais (fls. 14/17), alega o Ministério Público que o fato de a vítima ter acionado a autoridade policial para noticiar a suposta agressão sofrida, por si só, permite a conclusão de que a mesma desejava, na ocasião, representar em desfavor do agressor, registrando, ainda, que não se pode exigir o que intitula como "rigores formais", como condição de prosseguimento da ação.

O recorrido apresentou suas contrarrazões (fls. 30/38), pugnando pelo improvimento do recurso.

Em obediência ao artigo 589 do Código de Processo Penal, o d.

Magistrado "a quo" exerceu o Juízo de Retratação e manteve a decisão por seus próprios e jurídicos fundamentos (fl. 39).

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em seu parecer de fls. 43/46, opinou pelo provimento do recurso para que seja cassada a r. decisão primeva.

É o relatório.

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Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso interposto.

Não foram arguidas preliminares. Outrossim, não vislumbro qualquer nulidade a ser declarada de ofício, razão pela qual passo ao exame do mérito.

Analisei atentamente as razões recursais da ilustre Promotora de Justiça, as contrarrazões da combativa Defesa, bem como o esclarecedor parecer da d. Procuradoria-Geral de Justiça e, atendo-me aos elementos coligidos, tenho que o recurso merece ser provido, pelos motivos que declino:

Conforme se depreende dos documentos juntados aos autos, foi instaurado procedimento em desfavor de José Neto Borges da Silva, ora recorrido, pela suposta prática do delito previsto no art. 129, § 9° do Código Penal, no âmbito da Lei 11.340/06, por ter ele, segundo o Boletim de Ocorrência de fls. 03/05, no dia 06 de junho de 2011, por volta das 03h00min, na Avenida Estrela do Sul, nº 67, Bairro Dom Bosco, na Cidade e Comarca de Betim, agredido a vítima Sandra Souza Oliveira, sua companheira.

Compulsando os autos, verifico que a ofendida manifestou, na Delegacia

de Polícia, seu desinteresse em representar em desfavor do recorrido,

deixando de requerer, inclusive, medidas protetivas previstas na Lei

11.340/06, razão pela qual o d. Magistrado primevo, ao proferir a sentença

de fls. 12, extinguiu a punibilidade do agente, nos termos do artigo 107, IV,

do Código Penal.

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Diante disso, o órgão ministerial interpôs o presente recurso, pugnando pela cassação da r. decisão, sob o fundamento de que o fato de a vítima ter noticiado a suposta agressão à autoridade permite a conclusão no sentido de que a mesma representou, de fato, em desfavor de seu agressor, sendo despicienda a representação formal.

Quanto ao aspecto, insta salientar, de início, que desde que a esta Câmara aportei, adotei o entendimento de que a ação penal que deflagra o processo em crime de lesão corporal, como no caso em tela, mesmo em se tratando de procedimento disciplinado pela Lei 11.340/2006, intitulada "Maria da Penha", deveria ser a pública condicionada à representação e o fazia em paridade com o entendimento esposado pela Sessão do Superior Tribunal de Justiça.

Todavia, em 09 de fevereiro de 2012, como é cediço, o Supremo Tribunal Federal julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República, declarando a Corte Suprema, por maioria, sob a Relatoria do Ministro Marco Aurélio Mello, a possibilidade de o Ministério Público dar início à ação penal sem a prévia representação da vítima, o que me levou a retificar o posicionamento anteriormente adotado, uma vez que em se tratando de julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade, a eficácia da decisão proferida pelo Pretório Excelso é

"erga omnes" e seus efeitos vinculantes, relativamente aos demais órgãos do Judiciário e à Administração Pública direta e indireta.

Contudo, embora vinculado à nova orientação jurisprudencial nos termos

do artigo 102, § 2°, da Constituição da República, e em observância,

inclusive, ao princípio da segurança das relações

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jurídicas e ao princípio da confiança, continuei entendendo necessária a realização da audiência prevista no artigo 16 da Lei 11.340/06, nos casos em que o suposto fato delituoso fora cometido antes da supracitada decisão proferida pela Suprema Corte.

Isto porque, entendia conveniente aguardar a publicação do acórdão proferido no referido julgamento do Supremo Tribunal Federal para que, então, se pudesse saber se o novo entendimento alcançaria os fatos ocorridos antes da publicação da decisão Colegiada, em observância, inclusive, ao princípio insculpido no artigo 2° do Código de Processo Penal, a saber, a irretroatividade da lei processual penal.

Entretanto, melhor repisando o tema e, considerando, sobretudo o fundamento jurídico que levou o Pretório Excelso a adotar o novo posicionamento, a saber, a necessidade de concretizar os fins propostos pela Lei 11.340/06, coibindo a violência doméstica e dando efetiva aplicação à garantia constitucional da ampla proteção à família e ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, vejo que, realmente, o novo entendimento esposado no julgamento da referida ADI deve alcançar, também, os casos em que o crime de lesão corporal no âmbito da Lei 11.340/06 fora praticado antes de tal decisão.

É que, após julgar inúmeros casos como o que se examina no presente

feito, bem como após analisar diversas decisões proferidas pelos Tribunais

Pátrios, sobretudo, aquelas emanadas das Cortes Superiores, cheguei à

conclusão de que o melhor a se proceder é adotar, de imediato, inclusive nos

casos praticados antes do supracitado julgamento, a posição estampada pelo

Supremo Tribunal Federal na decisão que interpretou os artigos 12, inciso I,

e artigo 16,

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ambos da Lei 11.340/06, em homenagem à estabilidade que se busca para a segurança jurídica dos julgamentos proferidos por órgãos Colegiados.

Impende frisar, por oportuno, que após me debruçar novamente sobre o tema em debate, me convenci de que a decisão do Pretório Excelso, no presente caso, possui efeito vinculante e eficácia erga omnes desde a publicação da ata de julgamento, não se fazendo necessária a publicação do acórdão para que os órgãos julgadores de todo o país cumpram integralmente o que fora declarado em tal decisão.

Corroborando este entendimento, vale colacionar o julgado da Reclamação n° 3.632, de Relatoria do Ministro Marco Aurélio, veja-se:

(...) a decisão de inconstitucionalidade produz efeito vinculante e eficácia erga omnes desde a publicação da ata de julgamento e não da publicação do acórdão (...) a ata de julgamento publicada impõe autoridade aos os pronunciamentos oriundos desta Corte (...). (Rcl 3632 AgR, Relator: Min.

Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão: Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 02.02.20069, DJ 18.08.2006, p. 00018). Grifei.

Colaciona-se, ainda, os seguintes julgados, nos quais fica claro que a

d e c i s ã o d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l e m A ç õ e s D i r e t a s d e

Inconstitucionalidade possui efeito vinculante tão logo seja publicado o

extrato da audiência no qual se proferiu o decisum, sendo possível a

retroação da nova orientação, sem qualquer ofensa à norma disposta no

artigo 2° do Código de Processo Penal. "Verbis":

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CUMPRIMENTO DA DECISÃO. 1. Desnecessário o trânsito em julgado para que a decisão proferida no julgamento do mérito em ADI seja cumprida. AO ser julgada improcedente a ação direta de inconstitucionalidade - ADI n° 2.335 - a Corte, tacitamente, revogou a decisão contrária, proferida em sede de medida cautelar. Por outro lado, a lei goza da presunção de constitucionalidade. Além disso, é de ser aplicado o critério adotado por esta Corte, quando do julgamento da Questão de Ordem, na ADI 711 em que a decisão, em julgamento de liminar, é válida a partir da data da publicação no Diário da Justiça da ata da sessão de julgamento. 2. A interposição de embargos de declaração, cuja consequência fundamental é a interrupção do prazo para interposição de outros recursos (art. 538 do CPC), não impede a implementação da decisão. Nosso sistema processual permite o cumprimento de decisões judiciais, em razão do poder geral de cautela, antes do julgamento final da lide. 3. Reclamação procedente. (Rcl 2576, Relatora: MIn. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 23.06.2004, DJ 20-08 -2004).

"Cinge-se a questão à natureza da ação penal para apurar o delito de lesão corporal leve no ambiente domestico e familiar.

A SUPREMA CORTE, no dia 09 de fevereiro p.p, julgou procedente a ação direta de inconstitucionalidade n° 4424/DF (Relator: Min. Marco Aurélio)

"para, dando interpretação conforme aos artigos 12, inciso I< e 16 da Lei n°

11.340/2006, assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a extensão desta praticado contra a mulher no ambiente doméstico.

Esta decisão, como se sabe, possui "eficácia contra todos e efeito vinculante"

(art. 102, § 2°, CF; art. 28, parágrafo único, Lei 9.868/99), não se podendo

mais exigir, na hipótese tratada, a representação da

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vítima como condição de procedibilidade da ação penal. Assim, nenhum efeito poderia produzir in casu a retratação da Ofendida constante das declarações de f. 48.

Em suma, não subsistindo o motivo ensejador da decretação da extinção da punibilidade do agente, está o recurso a merecer acolhida." (TJPR - Ap. n°

828.123-2, Rel.: Des. Denílson Aparecido do Prado).

Assim, não há que se falar em proibição da retroatividade da decisão do Pretório Excelso exarada na ADI 4.424, a qual reafirmou a natureza pública incondicionada da ação penal no tocante ao crime de lesão corporal simples, cometido no âmbito doméstico, na medida em que tal decisão é de natureza declaratória, ou seja, não constitui, não modifica nem extingue direito algum, apenas declara o direito que a ela preexiste.

No que tange ao caso ora analisado, a decisão do STF apenas reafirma ou declara a legitimidade do Estado-Acusação para propor ação penal contra o agente independentemente de representação da ofendida, com efeitos ex tunc.

Portanto, na esteira do que dispõe o artigo 102, § 2°, da CR/88, tal

decisão vincula, de imediato, os órgãos jurisdicionais, assim como a

Administração Pública direta e indireta, não havendo porque se aguardar a

publicação ou o trânsito em julgado do acórdão em se tratando de

julgamento operado pela Corte Constitucional, em especial, diante da matéria

em análise que reclama por uma atuação imediata e eficaz do Estado.

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Consigne-se, ainda, que a única situação que permitiria a não vinculação, de plano, à decisão do STF, seria aquela prevista no artigo 52, inciso X, da CR/88, através da qual o Senado Federal modularia expressamente os efeitos da decisão proferida na ADI, que via de regra, são ex tunc e vinculantes, o que, in casu, não ocorreu.

Para finalizar, vale trazer à colação as lições da jurista Maria Berenice Dias, a qual ministra acerca da necessidade de se conferir imediata eficácia à decisão do Supremo Tribunal Federal, conferindo ao Ministério Público a legitimidade para mover ação penal, independentemente de representação da ofendida, em casos de crimes de lesão corporal leve, no âmbito doméstico:

Como a decisão proferida em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade [ação direta de constitucionalidade n° 4.424, no caso] tem caráter vinculante e eficácia contra todos - nem a Justiça e nem qualquer Órgão da administração pública federal, estadual ou municipal podem deixar de respeitá-la, sob pena de sujeitar-se a procedimento de reclamação perante o STF, que poderá anular o ato administrativo ou cassar a decisão judicial que afronte o decidido.

Mais uma vez, a Corte da Justiça deste país comprovou sua magnitude e enorme sensibilidade, ao impor verdadeira correção de rumos à Lei que logrou revelar uma realidade que todos insistiam em não ver, que a violência contra mulheres é o crime mais recorrente e o Estado não pode ser cúmplice d a i m p u n i d a d e . ( d i s p o n í v e l e m : w w w . e d i t o r a m a g i s t e r , c o m / d o u t r i n a _ l e r . p h p i d = 1 1 9 4 )

Destarte, adoto o entendimento esposado no julgamento da tão citada

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penal movida em casos de lesão corporal simples praticada sob a égide da Lei 11.340/06.

Assim, por consequência, não há mais que se falar na necessidade da vítima, em crimes de lesões corporais leves, manifestar o seu interesse em representar criminalmente contra o suposto agressor, já que tal ato não configura mais, a teor do que está disposto na Lei Maria da Penha, condição de procedibilidade para a deflagração da ação penal.

Feitas estas considerações, tenho como necessária a cassação da r.

decisão, para que seja dado prosseguimento ao feito principal.

Considerando que o recorrido foi assistido por Defensor Público no curso do processo, por não ter condições financeiras de constituir advogado, concedo-lhe assistência judiciária gratuita nos termos do artigo 10, II da Lei Estadual 14.939/2003, ficando o mesmo isento do pagamento das custas.

Posto isto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, concedendo "ex officio"

a isenção das custas processuais ao recorrido.

É como voto.

DES. CÁSSIO SALOMÉ

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Acompanho o Ex.mo Desembargador Relator para dar provimento ao presente Recurso em Sentido Estrito e, de ofício, isentar o recorrido das custas processuais. Dessa forma, casso a decisão de fls. 12, que extinguiu a punibilidade de José Neto Borges da Silva, determinando o prosseguimento do feito principal. Por oportuno, teço as seguintes considerações.

Em suas razões recursais, fls. 14/17, o ente ministerial alega que, não obstante a conduta, em tese, perpetrada por José Neto Borges da Silva se amoldar àquela prevista no art. 21 da Lei de Contravenções Penais, tendo em vista a ausência de Exame de Corpo de Delito, o fato de a vítima ter se dirigido à DEPOL para registrar um boletim de ocorrência é suficiente para demonstrar seu interesse em representar contra o acusado.

Pois bem. Na esteira do voto condutor, verifico que razão assiste ao Ministério Público.

Apesar de improvada a materialidade em relação ao delito previsto no art.

129, §9º, do CP, tenho que restou demonstrada, hipoteticamente, a contravenção penal prevista no art. 21 da Lei 3.688/41, salientando que as agressões que, pela sua natureza, não chegam a ofender a integridade física da vítima, consistem vias de fato, sendo, inclusive, dispensável a prova pericial, constituindo, a palavra da ofendida e a prova testemunhal, importantes elementos para sua elucidação.

Nesse ponto, ressalto que, inicialmente, quando aportei nesta 7ª Câmara Criminal, defendi que o crime de lesão corporal de natureza leve praticado contra mulher no âmbito doméstico somente se processava mediante representação da ofendida. Sustentei, ainda, que a contravenção de vias de fato - mais branda que o referido crime - também era delito de ação pública c o n d i c i o n a d a à r e p r e s e n t a ç ã o , p o r i m p é r i o d o P r i n c í p i o d a P r o p o r c i o n a l i d a d e .

No entanto, o Supremo Tribunal Federal decidiu, ao julgar a ADI nº. 4.424,

que o crime previsto no art. 129, do Código Penal, é de ação

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penal pública incondicionada, salientando que interpretação em contrário consistiria em inadmissível esvaziamento do dever de proteção que o Estado tem em relação às mulheres. Em respeito ao art. 102, §2º, da Constituição da República, modifiquei, então, o meu entendimento sobre a matéria, de modo a alinhar os meus votos com a determinação da mais alta Corte do País.

Com a adoção da decisão - vinculante, diga-se de passagem - do STF, não há mais qualquer razão para se afirmar que o processamento da contravenção prevista no art. 21, do Decreto-lei nº. 3688/1941, depende de qualquer manifestação de vontade da vítima: o art. 17, do mencionado Diploma, estabelece que "a ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício" e o Princípio da Proporcionalidade não exige interpretação em sentido diverso.

Assim, vislumbro a prescindibilidade da representação da ofendida para a instauração do presente processo.

Por fim, apenas consigno que a presente decisão não viola o princípio da non reformatio in pejus, tendo em vista se amoldar dentro dos limites da solução requerida expressamente pelo agravante.

DES. AGOSTINHO GOMES DE AZEVEDO

No presente caso, após detida análise dos autos, coloco-me de acordo

com o eminente Desembargador Relator, para dar provimento ao recurso,

aderindo, contudo, à declaração proferida pelo ilustre Desembargador 1º

Vogal.

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SÚMULA: "RECURSO PROVIDO. ISENÇÃO DAS CUSTAS

CONCEDIDA DE OFÍCIO AO RECORRIDO."

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