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APRENDIZADO E COOPERAÇÃO TECNOLÓGICA EM ARRANJOS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS: UMA AVALIAÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NA REGIÃO DE MACAÉ/RJ.

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1 APRENDIZADO E COOPERAÇÃO TECNOLÓGICA EM ARRANJOS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS: UMA AVALIAÇÃO DO SETOR

DE PETRÓLEO E GÁS NA REGIÃO DE MACAÉ/RJ.

Jorge Britto Juliana Benicio das Neves 1. Introdução

A cidade de Macaé localiza-se no litoral norte do estado do Rio de Janeiro, entre as cidades do Rio de Janeiro e Vitória (no estado do Espírito Santo), tem 132.461 habitantes e uma área de 1.328 Km

1

. A história da economia contemporânea de Macaé pode ser dividida em dois períodos: antes e depois do estabelecimento da Petrobras na cidade, em 1978. O primeiro período foi marcado pela economia estagnada e basicamente agrícola. As principais lavouras do município eram cana-de-açúcar, laranja, tomate, café, mandioca, banana, feijão, batata-doce, milho, arroz e abacaxi. A pecuária também era bastante desenvolvida.

Contudo, a partir de 1978, iniciando-se o segundo período, junto com a Petrobras, se instalaram na cidade outras 126 companhias que realizavam serviços para a indústria do petróleo. Nos primeiros quatro anos, a população de Macaé cresceu de trinta mil para quarenta mil habitantes e a arrecadação municipal cresceu 2.700%

1

. Este segundo período é marcado pelo crescente desenvolvimento da cidade e pela entrada de grandes montantes de investimentos, que não devem ser medidos apenas pelo seu aspecto qualitativo. As encomendas de bens e serviços para a exploração de reservas de petróleo no mar têm um significativo efeito de encadeamento que se estende por diversos segmentos, favorecendo a formação de um arranjo produtivo e inovativo local do setor de petróleo e gás natural, o qual é objeto de estudo do presente artigo.

A elaboração deste estudo tem como objetivo compreender melhor as especificidades das capacitações tecnológicas e inovativas no âmbito das configurações produtivas locais em diferentes elos da cadeia de petróleo e gás na região. A partir disso, procurou-se desenvolver uma metodologia de coleta de dados que atendesse, primeiramente, os requisitos pertinentes à pesquisa Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais

2

(inclusive aplicação do questionário) e, posteriormente, que proporcionasse a compreensão das especificidades do próprio arranjo que não pudesse ser diagnosticada através do questionário.

Visando atingir este objetivo, este artigo encontra-se estruturado em 8 seções e uma conclusão. Inicialmente, na seção 1, apresentam-se informações sobre o processo de formação e a evolução recente do arranjo produtivo de petróleo em Macaé. Em seguida, na seção 2, busca-se apresentar uma caracterização geral do arranjo produtivo, elaborada com dados secundários extraídos da RAIS-MT e

1 Dados adquiridos com a Prefeitura Municipal de Macaé

.

2 Programa de Pesquisa Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil do Sebrae.

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2 baseada numa metodologia particular para a seleção de atividades (definidas ao nível das classes CNAE) que se integram ao arranjo. Na seção 3, procura-se detalhar os critérios que orientaram a seleção da amostra de empresas para a realização da pesquisa de campo sobre o arranjo. Na seção 4, discute-se o processo de inovação no arranjo, utilizando-se como referência o modelo de “inovação em produtos complexos” desenvolvido pela moderna literatura sobre inovação. Na seção 5, salientam-se as características dos mecanismos de aprendizado, difusão de conhecimento e capacitação dos agentes no âmbito do arranjo. Na seção 6, apresenta-se uma discussão sobre as principais formas de cooperação observadas no arranjo. Na seção 7, exibem-se alguns aspectos relacionados às condições do ambiente local que atuam no sentido de estimular processo de aprendizado e capacitação no âmbito do arranjo. Finalmente, uma última seção sintetiza as principais conclusões do estúdio realizado.

2. Formação e desenvolvimento do arranjo produtivo local de Macaé A história do arranjo produtivo local em Macaé se inicia com a instalação da Petrobras, juntamente com seus fornecedores e outras empresas ligadas à exploração de petróleo na região. Todavia, para o entendimento de como e por que este arranjo se desenvolveu, é necessária a compreensão da evolução tecnológica pertinente à exploração de petróleo em águas profundas na Bacia de Campos. O desenvolvimento das atividades de exploração proporcionou a evolução da produção e conseqüente aumento dos investimentos na região que visava atender a demanda ao crescente volume de petróleo e gás produzidos.

A Bacia de Campos é, atualmente, o principal pólo produtor de petróleo e gás do país. Ela tem cerca de 100 mil quilômetros quadrados e se estende do Espírito Santo (próximo a Vitória) até Cabo Frio, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. Nesta bacia encontram-se trinta e oito campos

3

offshore em operação;

espalhados por eles 1814 poços de óleo e gás, 37 plataformas fixas e móveis de produção, 3.900 quilômetros de dutos submarinos.

A descoberta na Bacia de Campos, na década de 80, de campos gigantescos em águas profundas (Sistemas de Exploração em águas de lâmina d'água entre 400m e 1.000m) e ultraprofundas (sistemas de exploração em águas de lâmina d'água entre 1.000m e 2000m) iniciou com um importante período marcado pela necessidade de investimentos que viabilizassem este novo tipo de exploração e, principalmente, desse suporte para as fases de produção que tinha por vir. As atividades de exploração na Bacia de Campos podem ser divididas em 4 diferentes fases

4

:

3 Albacora, Albacora Leste, Anequim, Badejo, Bagre, Barracuda, Bicudo, Bijupirá, Bonito, Carapeba, Caratinga, Cherne, Congro, Corvina, Enchova, Enchova Oeste, Espadarte, Garoupa, Garoupinha, Linguado, Malhado, Marimbá, Marlim, Marlim Leste, Marlim Sul, Moréia, Namorado, Nordeste de Namorado, Pampo, Parati, Pargo, Piraúna, Roncador, Salema, Trilha, Vermelho, Viola, Voador.

4 http://www2.petrobras.com.br/companhia/portugues/historia/index.htm#, extraído em 02/09/2003.

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Primeira fase - de 1968 a 1974 - Foi caracterizada pelo uso modesto da sísmica 2-D e processamento convencional básico. Resultou em 13 poços pioneiros perfurados.

Segunda fase – 1974 a 1984 - Reconhecimento do alto potencial petrolífero da Bacia. As atividades exploratórias incluíram a perfuração de 434 poços (dos quais 345 exploratórios), um aumento substancial nas atividades de levantamento sísmico com produção de imagens em 3D. O resultado dessa fase foi 27 novos campos e acumulações descobertos. A produção iniciou-se em 1977 no Campo de Enchova.

Terceira fase – 1984 a 1990 – Marcada pela descoberta dos gigantescos campos de Albacora (1984) e Marlim (1985). Essa fase se caracterizou pelo aumento da aquisição sísmica com utilização de imagens em 3D, que minimizou os custos e possibilitou melhor cobertura da subsuperfície. A interpretação sísmica exploratória otimizou a avaliação dos campos e estudo dos reservatórios.

Aproximadamente 20 novos campos foram descobertos nessa fase.

Quarta fase – Década de 90 em diante – Iniciada com a descoberta do gigantesco Campo de Barracuda. Caracterizada pelo uso da sísmica 3- D para guiar a exploração de áreas ainda não perfuradas e pela interpretação exploratória de alto ajuste. Essa evolução abriu novas fronteiras e reduziu de forma substancial os custos de descoberta e delimitação na Bacia. Importantes avanços tecnológicos, como o posicionamento por GPS e o processamento a bordo, ajudaram a reduzir o tempo de aquisição e processamento das imagens em 3D.

Diante desta dinâmica tecnológica, foi preciso iniciar programas tecnológicos que desenvolvessem novas formas de exploração e produção e, com isso, permitissem à Petrobras se desenvolver e evoluir nesses campos. Através de programas interdisciplinares

5

, a Petrobras empreendeu-se em descobertas que proporcionaram o desenvolvimento da produção em águas profundas. O Gráfico 1 abaixo possibilita avaliar a evolução de números de poços produtores no estado do Rio de Janeiro, a partir da década de 1977, em cada fase exploratória na Bacia de Campos. Neste gráfico, pode-se observar que, após alguns anos do início de cada período, ocorre um considerável aumento do número de poços produtores.

5 Visando direcionar seu desenvolvimento tecnológico e melhorar sua competência técnica na produção de petróleo e gás natural em águas com profundidade de até 1.000m, a Petrobras lançou, em 1986, o PROCAP (Programa da Petrobras de Desenvolvimento Tecnológico de Sistemas de Produção em Águas Profundas). Inicialmente, o programa foi direcionado para o desenvolvimento dos campos de Albacora e Marlim e seu principal resultado foi a plena capacidade tecnológica, obtida por meio do Sistema de Produção Flutuante baseado em semi-submersíveis. Em 1993, a empresa criou o PROCAP-2000 e, em 2000, a Petrobras lançou o PROCAP-3000, que tem orçamento estimado em US$ 130 milhões, envolvendo mais de 350 funcionários da Petrobras.

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0 100 200 300 400 500 600

19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01

Segunda fase Terceira fase Quarta fase

Fonte: ONIP (09/09/2003)

Gráfico 1: Número de poços offshore produtores de petróleo e gás natural no Rio de Janeiro,1977 - 2001.

A dinamização da economia, decorrida da instalação na cidade de um centro de negócios da indústria de petróleo e gás, proporcionou benefícios aos mais diversos setores. No Gráfico 2, pode-se perceber como, a partir da década de 80, o PIB municipal mais que dobrou seu valor, passou de 172.387,19 reais, em 1975, para 428.325,75 reais em 1980.

0,00 100.000,00 200.000,00 300.000,00 400.000,00 500.000,00 600.000,00 700.000,00

70 75 80 85

ano

Fonte: informações extraídas do IPEADATA (06/10/2003)

Gráfico 2: Produto interno bruto de Macaé/RJ , 1970 - 1985 (em reais de 2000).

Outro fator importante responsável pela atração de empresas para o arranjo

é o pagamento de royalties para o município, visto que, mediante este repasse, o

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5 município dispõe de mais capital para investir na infra-estrutura do arranjo. Além dos royalties, a partir de 2000, começaram a ser pagas as chamadas participações especiais

6

, provenientes de direitos de produção em poços de alta lucratividade

7

. Os valores destas participações superaram o total dos pagamentos de royalties apurados para o estado e os municípios fluminenses

8

durante o primeiro semestre de 2000. A Tabela 1 demonstra que, nos últimos anos, a receita com royalties ganha cada vez mais importância para a economia do município. Em Macaé, este tipo de repasse representou 26% da receita total de royalties do estado do Rio de Janeiro e em Campos dos Goytacazes, o maior arrecadador de royalties do país, este valor chegou a 42%.

Tabela 1: Repasses obtidos com a exploração de petróleo e gás no estado do Rio de Janeiro e no Brasil, 1998-2001 (em Reais)

1998

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1999 2000 2001

Macaé Tipo de

repasse

Royalties 3.650.787,78 34.757.683,06 67.461.252,65 84.424.763,71 Participações

Especiais - - 17.365.853,42 30.503.000,00

Total 3.650.787,78 34.757.683,06 85.027.446,37 114.927.763,71 Total estado

Rio de Janeiro

60.652.000,00 206.708.000,00 397.059.000,00 497.353.000,00 Total país 283.704.000,00 983.600.000,00 1.887.753.000,00 2.303.290.000,00

Fonte: informações extraídas da Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (em 12/09/2003) e Banco de dados ONIP (em 27/10/2003).

No que diz respeito à evolução tecnológica do arranjo, pode-se ter uma percepção da mesma ao longo do tempo, baseada na avaliação da própria Petrobras sobre seus fornecedores, conforme avaliação de Furtado (2003):

“Reconhece (a Petrobras) que vêm (fornecedores locais) se tornando mais competitivos em função de fatores relacionados à capacitação tecnológica, produtiva e organizacional. Tal pode ser demonstrado pelo aumento dos índices de nacionalização dos materiais adquiridos pela Petrobras...”

6 Apuradas de acordo com o capítulo VII do Decreto 2.705/98 e Portaria ANP nº 10/99.

7 Conforme a ANP, atualmente, apenas os campos de Albacora e Marlim pagam participações especiais.

No futuro, os campos Albacora Leste, Barracuda, Bicudo, Bijupará, Caratinga, Espadarte, Marimbá, Marlim Leste, Marlim Sul e Roncador, todos localizados na Bacia de Campos, poderão estar pagando tais benefícios.

8 Apenas cinco municípios brasileiros se beneficiaram da participação especial: Campos dos Goytacazes (RJ), Carapebus (RJ), Macaé (RJ), Quissamã (RJ) e Rio das Ostras (RJ).

9 Ano de 1998 - dados disponíveis a partir de agosto.

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6 Vale ressaltar a relevância dos programas de capacitação implementados pela Petrobras em meados da década de 80. Segundo Dantas (1999), estes programas garantiram “resultados convincentes” visto a necessidade de se criar uma “rede de firmas” que desenvolvessem um conjunto de equipamentos associados ao processo produtivo, com requerimentos técnicos específicos para a atividade em mar - e em condições especiais relativas às grandes profundidades. Encaixam-se, neste caso, a Árvore de Natal Molhada (ANM), manifold, template-manifold, risers rígidos e flexíveis, além do próprio sistema de bombeamento.

Ou seja, o arranjo produtivo de Macaé surge para suprir a demanda da produção crescente de petróleo e gás na Bacia de Campos, atendendo, assim, à necessidade dos fornecedores da Petrobras, que objetivavam, através da aproximação geográfica, reduzir custos e melhorar seu relacionamento com a mesma, por meio de melhores formas de cooperação, e procurando, dessa forma, maior competitividade.

3. Caracterização geral do arranjo: uma análise exploratória a partir de dados da RAIS

De modo a subsidiar a análise, buscou-se utilizar uma metodologia para a caracterização do Arranjo Produtivo de Macaé, baseada numa desagregação a quatro dígitos na classificação CNAE do IBGE. Neste sentido, utilizou-se como fonte básica de informações os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), produzidos pela Secretaria de Políticas de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho e Emprego (MTb). As fontes básicas de informações utilizadas referem-se a dados da RAIS para o ano de 2001, relativas aos trabalhadores formais registrados, ao número de estabelecimentos presentes nos diversos ramos de atividades e ao valor total das remunerações geradas. Para identificar-se uma aglomeração especializada, o critério usado foi o cálculo do Quociente Locacional (QL) relativo ao total emprego, estabelecimentos e remunerações. Adotando-se como base o valor dessas variáveis em cada par classe CNAE - municípios informados pela RAIS, o cálculo dos QLs é feito segundo a fórmula abaixo:

QL = (VAR setor i Macaé/ total VAR Macaé) / (total VAR no setor i/ total VAR no país)

Quando o QL é maior do que 1, há evidências de que a especialização do município j em atividades do setor i é superior à especialização do conjunto do Brasil nas atividades desse setor. Na investigação feita, procurou-se considerar o Quociente Locacional (QL) calculado para o município de Macaé e para todas as classes de atividades econômicas (desagregadas a 4 dígitos na classificação CNAE), que perfazem um total de 540 classes CNAE. Na análise realizada, foi efetuada uma consulta à tabela geral dos QLs do município de Macaé nas diversas classes CNAE, selecionando-se todas as classes nas quais a condição QL > 1 fosse atendida e que pudessem estar correlacionadas, de alguma forma, com a indústria de petróleo.

Nessa análise, optou-se por restringir este critério de seleção aos valores dos QLs

relativos a empregos e remunerações, na medida em o QL relativo ao número de

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7 estabelecimentos pode ser fortemente viesado pelo porte dos mesmos em relação à base produtiva local. Assim, definiu-se um primeiro critério de seleção baseado na seguinte condição:

QL (Emprego) > 1 e QL (Remunerações) > 1

Além da análise desses indicadores de especialização relativa, buscou-se levar e conta também uma variável de controle, baseada em um critério de relevância, visando garantir que, para as classes em análise, uma participação mínima do município no emprego e remunerações da classe CNAE no total do país fosse considerada. No estudo realizado, o limite de 0,1% do emprego total no ramo de atividade (classe CNAE) foi utilizado para caracterizar a relevância de cada aglomeração. Os valores considerados para esse tipo de controle foram obtidos através da divisão dos empregados e remunerações de um setor (classe CNAE) i na classe pelo total nacional de empregados no setor (classe CNAE) i. Define-se, portanto, um segundo critério de seleção de classes CNAE:

(VAR setor i no município de Macaé) / (VAR setor i no total do país) > 0,1 Do mesmo modo, este critério de relevância foi aplicado à importância do emprego e remunerações da atividade (classe CNAE) no município de Macaé. Dessa maneira, para fins de seleção de pares classes, optou-se também pela incorporação de um critério adicional que se refere a um determinado percentual mínimo de participação no total de empregos e remunerações do município de Macaé. Assim, definiu-se um terceiro critério de recorte, baseado na condição:

(VAR setor i no município de Macaé) / (VAR total no município de Macaé) > 0,1 Em seguida, procurou-se incorporar à análise algum critério de “densidade”

mínima, em termos do número de estabelecimentos na identificação dos APLs selecionados. Na investigação realizada, optou-se por um critério mínimo de densidade extremamente abrangente, relacionado a um mínimo de 3 (três) estabelecimentos presentes no município na atividade (classe CNAE) considerada.

Levando em conta a metodologia descrita, foi identificado, no arranjo

produtivo investigado, um total de 144 estabelecimentos, responsáveis pela geração

de 22.517 empregos formais no ano de 2001 (considerando informações da RAIS),

conforme aponta a Tabela 2. A presença da Petrobras e de grandes empresas que a

ela prestam serviços através de unidades localizadas em Macaé reflete-se no elevado

tamanho médio geral dos estabelecimentos no APL (156 empregados por

estabelecimento) e no elevado nível de remuneração média por empregado

(aproximadamente R$ 2.552 em dezembro de 2001). Esta Tabela também demonstra

que a participação do APL no total do emprego e das remunerações do município de

Macaé era particularmente elevada, atingindo 45% no primeiro caso e 70% no

segundo. Em termos do emprego, esta participação desmembra-se em dois

segmentos com maior relevância: extração de petróleo e serviços associados (com

21%) e serviços de construção (com 14%). Já no caso das remunerações, a

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8 participação mais elevada cabe ao segmento de extração de petróleo e serviços associados (com 52%). Os segmentos responsáveis pela geração de um maior montante de empregos são: extração de petróleo e gás (7.497 empregos); montagens industriais (3.931 empregos); serviços ligados à extração de petróleo (2.935 empregos). Estes são também os segmentos responsáveis pela geração de um maior montante de remunerações, devendo-se, nesse caso, salientar também a importância dos segmentos de transporte marítimo de cabotagem e de fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria de prospecção. Em termos do tamanho médio de estabelecimento, os seguintes segmentos podem ser destacados: extração de petróleo e gás natural (441 empregados); montagens industriais (491 empregados); transporte marítimo de longo curso (321 empregados); fabricação de estruturas metálicas. Cabe ressaltar também que, dos 21 segmentos identificados com base na metodologia descrita, 5 apresentavam um tamanho médio superior a 200 empregados; 7, um tamanho médio entre 100-200 empregados; 6, um tamanho médio entre 50-100 empregados; e apenas 4, um tamanho médio inferior a 50 empregados. Já quando se considera o valor da remuneração média em dezembro de 2001, verifica-se que os segmentos nos quais aquele valor era mais elevado são os de transporte dutoviário;

extração de petróleo e gás; fabricação de transformadores, indutores e conversores.

Em termos da distribuição dos diversos segmentos por diferentes faixas de remuneração média, encontram-se as seguintes evidências: (i) dois segmentos com remuneração média acima de R$ 4.000; (ii) cinco segmentos com remuneração média entre R$ 2.000-4.000; (iii) cinco segmentos com remuneração média entre R$

1.000-2.000; (iv) nove segmentos com remuneração média entre R$ 500-1.000; (v) um segmento com remuneração média inferior a R$ 500.

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Tabela 2: Características das atividades do arranjo produtivo local de petróleo e gás na região de Macaé/RJ, 2001.

Atividades Integradas ao APL Emprego % no

Mun. Estab % no

Mun. Remuneração % no

Mun. Tam. Médio Rem Média 11100- Extração de petróleo e gás natural 7.497 14,93 17 0,65 34.596.433,15 42,30 441,00 4.614,70 11207- Serv. relacion. com extrç. petróleo e gás 2.935 5,85 26 0,99 8.306.871,26 10,16 112,88 2.830,28 Atividades Núcleo do APL 10.432 20,78 43 1,64 42.903.304 52,45 242,60 4.112,66 28118- Fabrç. de estruturas metal. para edifícios, 602 1,20 3 0,11 456.986,72 0,56 200,67 759,11 28398- Têmpera, cementaçao e trat. térmico do aço 330 0,66 4 0,15 270.427,63 0,33 82,50 819,48 29238- Fabrç. de máquinas, equip. p/ transp. e 173 0,34 1 0,04 127.545,43 0,16 173,00 737,26 29513– Fabrç. de máq. e equip. p/ ind. de 719 1,43 7 0,27 1.136.049,62 1,39 102,71 1.580,04 31127- Fabrç. de transformadores, indutores... 79 0,16 1 0,04 268.883,55 0,33 79,00 3.403,59 Sub-Total - Fabricação de insumos e componentes 1.903 3,79 16 0,61 2.259.893 2,76 118,94 1.187,54 35114- Constrç/reparç. de embarcações e estr. 223 0,44 3 0,11 127.580,54 0,16 74,33 572,11 45250- Montagens industriais 3.931 7,83 8 0,31 4.742.789,14 5,80 491,38 1.206,51

45292- Obras de outros tipos 1.233 2,46 11 0,42 923.071,99 1,13 112,09 748,64

45497- Outras obras de instalações 1.027 2,05 4 0,15 1.073.869,47 1,31 256,75 1.045,64 45594- Outros serviços auxiliares da construção 586 1,17 8 0,31 305.345,88 0,37 73,25 521,07 Sub-Total - Serviços de construção 7.000 13,94 34 1,30 7.172.657 8,77 205,88 1.024,67 60240– Transp. rodoviário de passageiros, regular 777 1,55 14 0,53 523.591,32 0,64 55,50 673,86 60259- Transporte rodoviário de passageiros, não 180 0,36 10 0,38 120.162,13 0,15 18,00 667,57

60305- Transporte dutoviário 134 0,27 1 0,04 619.980,65 0,76 134,00 4.626,72

61115- Transporte marítimo de cabotagem 943 1,88 5 0,19 1.493.506,47 1,83 188,60 1.583,78 61123- Transporte marítimo de longo curso 321 0,64 1 0,04 906.929,64 1,11 321,00 2.825,33 61220- Transporte por navegação interior de carga 229 0,46 2 0,08 418.005,93 0,51 114,50 1.825,35 62200– Transporte aéreo,não-regular 111 0,22 3 0,11 99.621,95 0,12 37,00 897,50 63223- Atividades auxiliares aos transportes 177 0,35 4 0,15 547.022,38 0,67 44,25 3.090,52 63231- Atividades auxiliares aos transportes aéreos 105 0,21 2 0,08 331.547,90 0,41 52,50 3.157,60 63304- Ativ. de agências de viagens e org. de 205 0,41 9 0,34 83.170,66 0,10 22,78 405,71 Sub-total - Atividades de Logística de Transporte 3.182 6,34 51 1,95 5.143.539 6,29 62,39 1.616,45 1- Petróleo e atividades associadas 22.517 44,84 144 5,49 57.479.393,41 70,27 156,37 2.552,71

Fonte: elaboração própria a partir da RAIS-2001

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4. Metodologia da pesquisa de campo e seleção da amostra de empresas A partir da caracterização geral do arranjo apresentada na seção anterior, é possível avançar no sentido da descrição da metodologia da pesquisa de campo realizada junto a empresas atuantes na região. Além da aplicação do questionário (distribuído, em Macaé, para as empresas na maior Feira e Conferência Internacional da Indústria Offshore de Petróleo e Gás do país, a Brasil Offshore 2003

10

, o estudo também realizou diversas entrevistas com diferentes instituições locais, com o objetivo de captar informações de diferentes agentes econômicos, políticos e sociais, do arranjo, cuja participação no mesmo promove diferentes vínculos de interação, proporcionando um aprofundamento do processo de aprendizado e cooperação local.

Com o intuito de identificar o tamanho da amostra de empresas estratificadas por tamanho, é necessária, primeiramente, a identificação dos diferentes tipos de atividades (segundo a classificação CNAE) que são relevantes para o reconhecimento do funcionamento do arranjo. Para tanto, foi elaborado o seguinte quadro, a partir de dados da RAIS 2001:

Segundo esta tabela, verifica-se um total de 111 empresas envolvidas nas atividades selecionadas e inseridas no arranjo produtivo local da indústria de petróleo e gás de Macaé. O grande número de empresas implica uma grande dificuldade operacional para a coleta de dados; por este motivo, optou-se por selecionar uma amostra aleatória simples representativa da população em questão.

Adotando-se um nível de confiança de 95% e um erro amostral de 10%, o tamanho da amostra a ser pesquisada é de 53 empresas.

Foram coletados 30

11

questionários de empresas inseridas no arranjo produtivo local e as informações obtidas com o mesmo geraram tabulações que serão apresentadas ao longo deste estudo. A amostra foi estratificada por tamanhos - micro e pequenas empresas (MPE) e médias e grandes empresas (MGE) - procurando assim captar peculiaridades pertinentes a cada grupo. Na Tabela 3, observa-se que 15 empresas entrevistadas são micro e pequenas empresas (MPE) e 15 são médias e grandes empresas (MGE).

10 Realizada em Macaé no período de 4 a 6 de junho de 2003.

11 O cálculo da amostra das empresas entrevistadas levou em consideração apenas as atividades núcleo do APL que, conforme Tabela 2, somam, no total, 43 empresas

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Tabela 3: Número total de empresas conforme tamanho nas atividades selecionadas do arranjo produtivo do petróleo e gás na região de Macaé/ RJ, 2001

Número total de empresas conforme tamanho

12

Classificação CNAE (Classe de atividade econômica – 5

dígitos)

Micro/

Pequena

Média/

Grande Total Classe 11100 - Extração de petróleo e gás natural 10 6 16 Classe 11207 - Serviços relacionados com a extração de

petróleo e gás - exceto a prospecção 13 7 20

Classe 18139 - Confecção de roupas profissionais 2 0 2 Classe 28398 - Têmpera, tratamento térmico do aço,

usinagem,... 1 0 1

Classe 29238 - Fabricação de máquinas, equipamentos e

aparelhos para transporte e elevação... 7 0 7

Classe 29513 - Fabricação de máquinas e equipamentos para a

indústria de prospecção... 1 0 1

Classe 35114 - Construção e reparação de embarcações

flutuantes 4 2 6

Classe 45250 - Montagens industriais 4 0 4 Classe 45292 - Obras de outros tipos 16 1 17 Classe 45527 - Impermeabilização e serviços de pintura em

geral 1 1 2

Classe 51144 – Intermediários do comércio de máquinas,

equipamentos industriais, embarcações... 2 3 5

Classe 60267 - Transporte rodoviário de cargas, em geral 21 1 22 Classe 63215 - Atividades auxiliares aos transportes terrestres 3 0 3 Classe 71390 - Aluguel de máquinas e equipamentos não

especificados... 5 0 5

TOTAL 90 21 111

Fonte: elaboração própria a partir da RAIS-2001

A grande maioria das MPEs, 86,7%, tem a origem do seu capital nacional.

Já para as MGEs, o capital estrangeiro tem uma maior participação, de 40%; mas ainda assim, na totalidade das empresas entrevistadas, a origem é predominantemente nacional ( 53% das empresas entrevistadas). Não está incluído, dentre as empresas entrevistadas, o questionário da Petrobras. Diante da sua importância no arranjo e de seu papel central na estrutura verticalizada de governância do mesmo, optou-se por realizar um estudo de caso separado, como

12 Pessoas ocupadas: a) Micro: até 19; b) Pequena: 20 a 99; c) Média: 100 a 499; d) Grande: 500 ou mais pessoas ocupadas.

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será visto no Tópico 3. Nos tópicos seguintes, serão desenvolvidas análises das tabelas geradas a partir dos questionários e de outras fontes obtidas através da pesquisa de campo, procurando desenvolver os seguintes assuntos: formação e desenvolvimento do arranjo; características da estrutura produtiva; principais formas de governança, dinâmica da cooperação e interações do arranjo; características da estrutura de conhecimento (organizações de educação, treinamento e pesquisa), processos de aprendizagem e avaliação do esforço tecnológico das firmas; avaliação da dinâmica do arranjo, sua trajetória, dificuldades e possibilidades de desenvolvimento local, e políticas públicas.

Tabela 4: Identificação das empresas do arranjo rodutivo de petróleo e gás da região de Macaé/RJ, 2003.

Tamanho Nº de

Empresas % Nº de

Empregados % Micro e

Pequena 15 50,0 638 10,8

Média e Grande 15 50,0 5244 89,2

Total 30 100,0 5882 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

5. A atividade offshore de petróleo e gás segundo a abordagem de produtos complexos

Esta seção objetiva referenciar o processo de inovação do arranjo produtivo de Macaé, de atividade offshore de petróleo e gás, aos traços fundamentais da vertente analítica dos sistemas complexos e produção (CoPS

13

). Os arranjos organizacionais típicos dos sistemas complexos são redes de firmas sustentadas por diferentes formas de relacionamento cooperativo. Tal relação busca a incorporação de vantagens advindas da cooperação inter-firmas, essenciais para o bom desempenho de produtos e sistemas ditos complexos com alto grau de customização.

No caso de Macaé (RJ), a adoção deste viés analítico incorporado à teoria dos arranjos produtivos locais figura uma metodologia capaz de possibilitar um melhor entendimento sobre especificidades da atividade de exploração e produção de petróleo e gás em mar.

13 Complex Product System. Sistemas e Produtos Complexos, conforme Andrew Davies (1996), são definidos como bens, produtos, sistemas ou construções de alto valor agregado, engenharia e capital intensivos; e suas produções atendem um alto grau de customização.

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Miller et all (1995) propõem contrastar as características do produto CoPS com as características da produção em massa. Esta maneira, para os autores, seria a melhor forma para a delimitação do campo analítico dos CoPS, já que ambos contrastam bruscamente, no sentido que os CoPS nunca podem ser produzidos em massa. Davies (1997) faz esta comparação mediante os quatros tópicos a seguir:

• Características do Produto - Ao contrário dos bens produzidos em massa os CoPS são caracterizados por um alto grau de customização, e, por sua vez , envolve um grande número de componentes e interações múltiplas;

• Produção – Enquanto que a produção em massa é caracterizada pela intensidade de escala e por grandes partilhas os CoPS são marcados por únicas ou pequenas pilhas, e usualmente são desenhadas e produzidas por unidades de produção baseadas em projetos.

• Características de Mercado – Em contraste com a produção em massa industrial, na qual um pequeno número de ofertantes se depara com um grande número de consumidores anônimos os CoPS são oligopólios bilaterais com poucos grandes ofertantes se deparando com um mercado monopsônico. Usuários fazem seus ajustes durante todo o ciclo de vida do produto, influenciando design, desenvolvimento, implementação e decisões pós-produção. Desse modo, no arranjo em questão, os fornecedores da Petrobras desenham e configuram seus produtos ou serviços de modo a atender os requerimentos de seu principal cliente, a Petrobras.

• Políticas Governamentais – As barreiras de entrada do mercado de oferta de CoPS são altamente influenciadas por políticas governamentais. No ambiente competitivo, governos não estão apenas envolvidos em CoPS como compradores, mas também indiretamente,através de medidas para estabelecer padrões técnicos, prevenir excessiva concentração de mercado e garantir a segurança.

Tais características específicas interferem diretamente na configuração do

processo de inovação dos CoPS, em função da maior interação necessária entre os

agentes. Este tipo de relação diminui a importância da seleção de mercado, visto que

os integrantes do sistema tendem a manter um relacionamento com um certo grau de

estabilidade e determinam previamente as etapas técnicas e econômicas dos

contratos. Este quadro analítico definido pelo sistema complexo apresenta

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características não triviais no processo inovativo, das quais Dantas (1999, p. 30) destaca:

• Crescente complexidade ao longo do tempo, que implica crescente necessidade de capacitação, performance e confiabilidade;

• Boa parte dos conhecimentos e habilidades necessários para o desenvolvimento e capacitação tecnológica é de natureza tácita, cuja codificação é problemática. Isto fortalece os vínculos e a interdependência dos agentes participantes;

• Alto grau de envolvimento produtor-usuário no processo de inovação, sendo que o usuário é responsável por uma série de avanços incrementais a partir do projeto inicial, o que cria uma relação de longo prazo entre os agentes.

A história do desenvolvimento da exploração e produção de petróleo em águas profundas

14

foi configurada pelos esforços empreendidos por diferentes empresas para viabilizarem este tipo de atividade. Desta forma, a capacidade inovativa da atividade offshore esbarrava na necessidade de desenvolvimento de um enorme espectro de tecnologias de produção para atender novas especificações tanto dos produtos quanto do próprio processo de produção que envolvia esta nova atividade.

Por se caracterizar como um CoPS

15

, o progresso técnico gerado neste tipo de atividade exige um esforço adicional por parte da companhia de petróleo em capacitar técnico-economicamente seus fornecedores, de modo que estes possam atender todas as novas exigências. Ou seja, a participação das empresas fornecedoras no processo inovativo é fundamental, na medida em que toda e qualquer modificação técnica exige uma reformulação de projetos, produtos e processos por parte das mesmas para que estejam capacitadas a atenderem as novas especificações pertinentes da mudança técnica.

Segundo Dantas (1999), o entendimento da (inter) conectividade das várias pontas do processo inovativo na indústria do petróleo é crucial, visto que, apesar do papel de liderança que a companhia de petróleo exerce, o processo de capacitação

14 Para uma exposição do desenvolvimento da atividade offshore inserido no contexto do cenário mundial, ver DANTAS (1999).

15 A complexidade desta atividade se refere às suas peculiaridades e à enorme gama de conhecimentos que a mesma envolve. Desta maneira, seu processo de produção não só envolve alto custo, como também atividades de engenharia intensiva.

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15

deve ser analisado de maneira global, envolvendo toda indústria, incluindo-se então os elos fundamentais da cadeia, representados pelos fornecedores de insumos críticos e pelos institutos técnico-científicos

16

.

A importância da atividade de coordenação por parte da companhia de petróleo está intrinsecamente ligada à capacidade inovativa da própria empresa. A gerência de um sistema complexo diz respeito à arquitetura organizacional, já que tais sistemas são marcados pela existência de várias alternativas que podem impor alterações relevantes na trajetória tecnológica, particularmente em ambientes marcados por rápida mudança tecnológica

17

. Sobre isto, Dantas (1999, p.35) ressalta:

“A tarefa de coordenação é, assim, fortemente associada à atuação da companhia de petróleo (tendencialmente de grande porte), pois é ela a usuária do(s) produto(s) gerado(s) pelo processo de inovação (geralmente a maior interessada no resultado do esforço inovativo). Portanto, é necessário um processo de aprendizado mais global por parte deste agente, além de capacitação coordenadora no que se refere à arquitetura organizacional do sistema.”

A performance satisfatória em sua coordenação organizacional garante à empresa: (a) relações estáveis e de qualidade com os agentes do arranjo; (b) redução de custo e de tempo para implementação de novos bens e serviços aos requerimentos produtivos; (c) aumento de spillovers do arranjo.

É importante salientar o caráter centralizador das companhias de petróleo neste tipo de arranjo. Desse modo, cabe a elas o direcionamento e planejamento das atividades inovativas e, além disso, a preocupação com a capacitação tecnológica dos diversos agentes envolvidos

18

. A Figura 1 mostra a estrutura da capacitação inovativa das companhias de petróleo para operações offshore, procurando esquematizar as relações entre os agentes do arranjo e destacando a estabilidade entre eles.

16 Escolas Técnicas, Universidades e Centros e Institutos de Pesquisa.

17 Este é traço bastante característico da atividade offshore, principalmente a partir da segunda metade da década de oitenta. Neste momento, as empresas de petróleo passaram a vislumbrar inúmeras alternativas tecnológicas, tanto no que se refere ao direcionamento às águas profundas, quanto na busca por reduções de custo de produção em áreas mais tradicionais.

18 Refere-se ao PROCAP.

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Fonte: Adaptação de Bell & Oldham (1988a, p.82)

Figura 1: Estrutura típica da capacitação inovativa das companhias de petróleo para operações offshore

Como se pode notar, a estruturação permite a análise das relações e das interações entre os agentes capazes de implementar modificações que tornarão as operações em andamento mais eficazes. Os fornecedores e a infra-estrutura científica e tecnológica mantêm uma relação de troca à medida que trocam informações visando solucionar problemas inerentes às modificações de projetos ou

P&D Central

Backup Técnico

Gestão e Engenharia de Projetos para Exploração e Produção

Capacidade Inovativa da Companhia de Petróleo

Engenharia

Segurança Meio Ambiente e Saúde

Materiais

Fornecedores Infra-Estrutura

Científica e Tecnológica

INOVAÇÃO

OPERAÇÕES OFFSHORE EM ANDAMENTO

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viabilizar novos produtos demandados pela companhia de petróleo. Outro ponto relevante é a formação, por parte da infra-estrutura científica e tecnológica, de trabalhadores capacitados, como engenheiros e técnicos, para este mercado de trabalho. Desta forma, “mesmo considerando-se a importância do papel coordenador das companhias de petróleo, a importância e viabilidade de arranjos cooperativos são garantidos pelas características intrínsecas aos sistemas complexos de produção” (Dantas 1999, 36).

Conforme Furtado (2003, 4), a Petrobras passou por profundas mudanças organizacionais após a década de 80. A busca pela competitividade levou a grande operadora a sub-contratar e comprar produtos e serviços de terceiros. Além da Petrobras, segundo o mesmo estudo, outras operadoras – como Shell e Enterprise – também assumiram este tipo de postura. Seus fornecedores assumem responsabilidades quanto ao desempenho da produção final, quanto aos testes, aplicação de equipamentos e desempenho de bens e materiais críticos. Contudo, os elevados padrões requeridos nas operações offshore demandam dos fornecedores esforços de capacitação permanente, o que reforça ainda mais as relações já estabelecidas. Ademais, a Petrobras também repassa atividades que costumava assumir em seus grandes projetos de investimento, dentre os quais, o controle e a integração dos empreendimentos e a viabilização financeira do projeto. Neste caso, a empresa de engenharia fica responsável pela execução de diferentes atividades do projeto de forma coordenada, deve ainda ser capaz de integrá-las e negociar preços e controlar a qualidade dos materiais a serem utilizados.Sendo assim, cada vez mais o arranjo se comporta como um CoPS, com interfaces complexas que compõem uma teia, onde diferentes agentes deste arranjo cumprem uma parcela do processo produtivo e interagem entre si, visando à capacitação tecnológica e ao cumprimento de exigências como preço, qualidade e prazo.

A partir desse quadro de referência, é possível avaliar, a partir do estudo de caso, a capacidade inovativa do arranjo, procurando-se caracterizar de que forma as MPEs e as MGEs mantêm suas atividades inovativas. Como foi dito anteriormente, as ações inovativas do arranjo estão diretamente ligadas às ações inovativas da Petrobras e de outras operadoras de petróleo da bacia de Campos. A partir disso, procurou-se avaliar a qualidade e os impactos que estas atividades trazem para as empresas.

A Tabela 5 apresenta características das atividades inovativas realizadas

pelas empresas entre os anos de 2000 e 2002. Observa-se, na tabela, que quase a

totalidade das empresas realizaram alguma inovação organizacional no período em

questão, destacando, nesse sentido, a implementação de significativas mudanças na

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estrutura organizacional, efetuadas por 93,3% das MPEs e 86,7% das MGEs.

Inovações de processo também exibem um alto percentual de empresas que afirmam ter realizado tal atividade (73,3%). Da mesma forma, 66,7% das empresas realizaram alguma inovação em seu produto.

Tabela 5: Percentual de empresas que realizaram atividades inovativas no arranjo produtivo de petróleo e gás de Macaé/RJ, 2000 e 2002.

% Descrição das Atividades Micro e

Pequena

Média e Grande

Inovações de produto 66,7 66,7

Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado 60,0 60,0 Produto novo para o mercado nacional 46,7 53,3 Produto novo para o mercado internacional 20,0 21,4

Inovações de processo 73,3 73,3

Processos tecnol. novos para a empresa, mas já existentes no setor 60,0 60,0 Processos tecnológicos novos para o setor de atuação 53,3 46,7

Outros tipos de inovação 46,7 53,3

Criação/melhoria do modo de acondicionamento de produtos

(embalagem) 40,0 26,7

Inovações no desenho de produtos 33,3 53,3

Realização de mudanças organizacionais 100,0 93,3

Implementação de técnicas avançadas de gestão 53,3 86,7 Implementação de significativas mudanças na estrutura organizac. 93,3 86,7 Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing 66,7 46,7 Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialliz. 73,3 53,3 Implementação de métodos e gerenciamento, para a atender normas

de certificação 40,0 80,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2003

A freqüência com que as atividades inovativas são realizadas nas empresas constitui outro importante fator de análise, visto que, quanto mais rotineiramente uma atividade for realizada, melhores resultados serão obtidos. A utilização do índice na Tabela 6 proporciona a avaliação de quais ações inovativas são feitas com mais freqüência nas empresas entrevistadas.

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19

Tabela 6: Freqüência das atividades inovativas nas empresas do arranjo produtivo de petróleo e gás da região de Macaé/ RJ, 2002.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

a Ver nota nº 19

Assim, percebe-se que nas MPEs a utilização de novas formas de comercialização e distribuição para o mercado é a atividade realizada com mais freqüência, com 60% das empresas executando-a rotineiramente. Já no caso das MGEs, destaca-se a implementação de programas de qualidade ou de modernização organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de processos administrativos, métodos de just in time. Esta atividade obteve um índice de 0,79 e todas as empresas deste grupo afirmam ter desenvolvido esta atividade, ainda que ocasionalmente. As MPEs também obtiveram alto índice nesta atividade, 0,67, o que significa que, para as empresas pesquisadas, a reestruturação organizacional tem

19 Índice = (0*Nº Não desenvolveu + 0,5*Nº Ocasionalmente + Nº Rotineiramente) / (Nº Empresas no Segmento)

Micro e Pequena Média e Grande

Descrição

Não desenvolv eu (%) Rotineir am ente (%) Ocas ional m ent e (%) Índice

19

Não desenvolv eu (%) Rotineir am ente (%) Ocas ional m ent e (%) Índice

a

Pesquisa e Desenvolvimento 46,7 40,0 13,3 0,47 50,0 35,7 14,3 0,43 Aquisição externa de P&D 60,0 40,0 0,0 0,40 57,1 21,4 21,4 0,32 Aquisição de máquinas/

equipamentos 20,0 53,3 26,7 0,67 28,6 28,6 42,9 0,50 Aquisição de outras

tecnologias 46,7 33,3 20,0 0,43 14,3 50,0 35,7 0,68 Projetos de novos produtos/

processos 40,0 33,3 26,7 0,47 42,9 21,4 35,7 0,39 Treinamento de novos

produtos / processos 33,3 46,7 20,0 0,57 14,3 42,9 42,9 0,64 Programas de gestão da

qualidade ou de

modernização organizacional

20,0 53,3 26,7 0,67 0,0 57,1 42,9 0,79 Novas formas de

comercialização/ distribuição 20,0 60,0 20,0 0,70 35,7 42,9 21,4 0,54

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sido um importante fator para adequar as ações das empresas aos objetivos traçados pelas mesmas.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Aumento da produtividade da empresa Ampliação da gama de produtos ofertados Aumento da qualidade dos produtos Manter a sua participação nos mercados de atuação Aumento da participação no mercado interno Permitiu que a empresa abrisse novos mercados Permitiu a redução de custos do trabalho Permitiu a redução do consumo de energia Enquadramento em regulações e normas padrão

.nacionais

Enquadramento em regulações e normas padrão .interncionais

Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente

(em %) Nula Baixa Média Alta

Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

Gráfico 3: Impactos da inovação no arranjo produtivo de petróleo e gás da região de Macaé/RJ, 2000 a 2002.

Os impactos das inovações nas empresas podem ser avaliados no Gráfico 3.

Ao avaliar a importância de cada impacto para as empresas, observa-se que a maioria delas (93,1%) considera que a inovação realizada permitiu que a empresa mantivesse sua participação no mercado. Aumento da produtividade e melhoria da qualidade foram qualificados por 82% das empresas como sendo impactos de alta e média importância. Vale ressaltar que, para todas as grandes empresas pesquisadas, as inovações foram muito importantes para reduzir o impacto sobre o meio ambiente.

6. Estrutura de conhecimento do arranjo

Na esteira do crescimento econômico, a estrutura de conhecimento também

está se desenvolvendo rapidamente em Macaé. Porém, cabe avaliar se a mesma

consegue suprir a demanda por funcionários especializados e conhecimento técnico

que a indústria de petróleo apresenta. Ou seja, é relevante descobrir se o sistema

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21

educacional responde às necessidades de um perfil de qualificação, no qual não só a aquisição do conhecimento é importante, mas também sua melhor utilização, já que ela deve, ainda, possibilitar à força de trabalho lidar com novos parâmetros impostos pelo avanço tecnológico.

Segundo a revista Brasil Energia (n

o

265, dezembro 2002, pg 44), até o início da década de 90, a cidade só oferecia dois cursos de nível superior – Pedagogia e Letras. Ainda hoje, 1200 estudantes saem diariamente da cidade para estudar nos municípios de Silva Jardim e Campos e outros 250 estudantes passam a semana no Rio de Janeiro. Outro problema está na contratação de pessoal local: de acordo com relatório do Projeto CTPETRO

20

, o Secretário Municipal de Indústria e Comércio de Macaé, Jorge Tavares Siqueira, menciona que o pessoal local ainda não está preparado para assumir funções que exigem o nível de especialização peculiar da indústria do petróleo, fazendo com que profissionais para estes cargos tenham de vir do Rio de Janeiro e de outros grandes centros do Brasil e do exterior.

Conforme os últimos dados, a cidade de Macaé oferece 17 cursos de escolas técnicas de 2º grau, com 1376 alunos escritos; deste total, 7 cursos são relacionados com atividades da indústria do petróleo. Dos 28 cursos superiores (1028 alunos inscritos) oferecidos na cidade, 9 são relacionados com a indústria de petróleo e gás natural. E ainda, dentre os 11 cursos profissionalizantes regulares, 4 atendem à demanda do arranjo.

Um importante centro de qualificação profissional e treinamento de Macaé é o centro de formação do Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Rio (FIRJAN). O sistema conta com a estrutura do Sesi, que oferece cursos de formação básica até o segundo grau, fazendo parte dessa estrutura o maior tanque de formação de mergulhadores da América Latina. Além disso, destaca-se o Senai, que oferece cursos de qualificação, o Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ), que oferece pacotes de treinamento para empresas; e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), que faz a integração da indústria com as universidades e instituições de pesquisa.

Sem sombra de dúvida, a ampliação da estrutura educacional é um relevante fator para a melhoria da qualidade da mão-de-obra e para o desenvolvimento do capital intelectual. Contudo, o treinamento e a capacitação dos funcionários constituem um elemento chave para atender à necessidade de se estabelecer competências suficientemente amplas, que permitam aos agentes lidarem com a complexidade das mudanças de curso. Desse modo, a pesquisa de campo

20 Impactos Sociais do Desenvolvimento da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo nas Regiões das Baixadas Litorâneas e do Norte Fluminense, 2003

.

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22

buscou identificar de que maneira o arranjo procura capacitar seus recursos humanos (Tabela 7). Na tabela abaixo, verifica-se que tanto as MPEs quanto as MGEs procuram capacitar seu pessoal com treinamento na própria empresa, uma vez que 53,3% e 86,7%, respectivamente, consideram esta uma ação de alta importância.

Conforme foi ressaltado anteriormente, o treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo também é uma importante opção de capacitação considerada pela empresas do arranjo. Neste caso, 60% das MPEs e 66,7% das MGEs consideraram esta uma ação de alta importância.

Tabela 7: Principais formas de capacitação de recursos humanos do arranjo produtivo do petróleo e gás da região de Macaé/ RJ, 2000 a 2002.

% Micro / Pequena Média / Grande Descrição

Nula Baixa Média Alta Índice

21

Nula Baixa Média Alta Índice

a

Treinam. na empresa 20,0 0,0 26,7 53,3 0,69 0,0 0,0 13,3 86,7 0,95 Treinamento em

cursos técnicos realizados no arranjo

26,7 6,7 6,7 60,0 0,66 13,3 6,7 13,3 66,7 0,77 Treinamento em

cursos técnicos fora do arranjo

33,3 33,3 13,3 20,0 0,38 20,0 6,7 33,3 40,0 0,62 Estágios em empresas

do grupo 40,0 33,3 26,7 0,0 0,26 33,3 20,0 33,3 13,3 0,39 Contratação de

funcionários de outras empresas do arranjo

46,7 33,3 20,0 0,0 0,22 20,0 13,3 26,7 40,0 0,60 Contratação de

funcion. de empresas fora do arranjo

46,7 46,7 0,0 6,7 0,21 26,7 13,3 33,3 26,7 0,51 Absorção de

formandos universit.

do arranjo

53,3 26,7 13,3 6,7 0,23 13,3 26,7 33,3 26,7 0,55 Absorção de

formandos dos cursos técnicos do arranjo

53,3 20,0 20,0 6,7 0,25 13,3 20,0 26,7 40,0 0,62

Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

a Ver nota nº 21

21 Índice com valores de zero a 1, resultante da seguinte média ponderada: (0*nº de respostas “nulas”) + (0,3*nº de respostas “baixas”) + (0,6* nº respostas “médias”) + (1* nº respostas “altas”) / nº empresas no segmento.

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23

É possível supor que a heterogeneidade entre firmas no arranjo está diretamente ligada a diferentes processos de aprendizado (que envolve conhecimento tácito e codificado). Neste sentido, a configuração da diversidade do arranjo, mediante uma análise do desenvolvimento conjunto de processos de aprendizado e especialização competitiva, ajuda a desenhar o próprio processo inovativo da indústria local. O aprendizado consiste em um processo contínuo e interativo de aquisição de conhecimento, competências e habilidades distintas. A aquisição de informações de diferentes agentes e de diferentes formas desenha, conseqüentemente, diferentes formas de aprendizado. A identificação destas fontes de conhecimento proporcionará o entendimento deste processo no arranjo produtivo de Macaé (Gráfico 4).

Para as MGEs a fonte de informação mais importante é proveniente da área de produção, com índice de 0,67 e de 53,3% destas empresas considerando esta fonte com sendo de alta importância. Outra fonte de informação que obteve alto índice, 0,65, foi aquela proveniente de centros de capacitação profissional, assistência técnica e de manutenção; o que confirmou a tendência de médias e grandes empresas do arranjo interagirem com centros de capacitação, como visto na Tabela 6. Nesta categoria, 40% das empresas afirmaram que procuram centros localizados no arranjo. Em terceiro lugar ficaram as informações provenientes dos clientes, com índice de 0,63. Segundo estas empresas, 53,3% das informações são advindas de clientes locais; 26,7%, de clientes do estado do Rio de Janeiro; e 20%, de clientes de outros estados do país.

Assim como as MGEs, as MPEs privilegiam fontes de informação internas à empresa. Para essas empresas, as informações mais importantes para o aprendizado são aquelas provenientes das áreas de vendas, marketing e serviço de atendimento ao cliente, com índice de 0,71. Para as MPEs, os seus clientes também são importantes fontes, com índice de 0,69. Neste caso, 46,7% das empresas adquirem informações de clientes do estado, 33,3% em outros estados do país e apenas 20% de clientes locais. Em terceiro lugar estão as informações advindas da área de produção, com índice 0,63.

A partir dessas informações, percebe-se que, no caso do arranjo produtivo local de petróleo e gás de Macaé, a produção e o cliente ganham papel de destaque.

Pela complexidade de sua produção, a interação com o cliente e o domínio das possibilidades de sua produção garantem melhoria na qualidade do produto e um aprendizado gerado a partir das interações destas partes, sem as quais seria impossível se produzir um CoPs.

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0 ,0 0 0 ,2 0 0 ,4 0 0 ,6 0 0 ,8 0 1 ,0 0

Departamento de P & D Área de produção Áreas de vendas e marketing Serviços de atendimento ao cliente Fornecedores de insumos Clientes Concorrentes Outras empresas do Setor Empresas de consultoria Universidades Institutos de Pesquisa Centros de capacitação profissional e assistência técnica Instituições de testes, ensaios e certificações Conferências, Cursos e Publicações Especializadas Feiras, Exibições e Lojas Informações de rede baseadas na internet

Micro e Pequenas Empresas Médias e Grandes Empresas

Fonte: Pesquisa de Campo

a Ver nota nº 21

Gráfico 4: Índice

a

de importância das fontes de informação para aprendizado do arranjo produtivo de petróleo e gás da região de Macaé/ RJ, 2000 - 2002.

7. Formas de cooperação

O quadro de referência apresentado permite entender a dinâmica dos fluxos de dados e informações e feedbacks entre os agentes, relativos às necessidades e desempenho de produtos. A discussão sobre a maneira como as informações e os conhecimentos são produzidos e circulam no arranjo é fundamental para o melhor entendimento dos diferentes processos de aprendizado que ocorrem ao nível local.

No caso de Macaé, além dos spillovers gerados pela aproximação espacial, acordos de cooperação entre os agentes propiciam ao arranjo um aprendizado peculiar característico dos CoPS.

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No arranjo produtivo de Macaé, é possível identificar uma rede de firmas fornecedoras, principalmente para a Petrobras, e instituições públicas ou criadoras de conhecimento que, conjuntamente, criam e adicionam valor para a indústria offshore de petróleo e gás. Neste tipo de arranjo, é observado o tipo de relação que a Petrobras mantém com seus fornecedores e estes entre si, também denominada de cooperação inter-firmas

22

. A adoção deste tipo de acordo contratual diferencia-se das relações tradicionais entre fornecedores e clientes, nas quais nenhum engajamento de longo prazo é considerado; neste caso, a cooperação ajuda a tornar o processo de aprendizado, por parte dos fornecedores, mais confiável.

0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00

Forne ce dore s de insumos Clie nte s Concorre nte s O utras e mpre sas do se tor Empre sas de consultoria Unive rsidade s Institutos de pe squisa C e ntros de capacitação profissional e de assistê ncia

té cnica

Instituiçõe s de te ste s, e nsaios e ce rtificaçõe s Entidade s Sindicais Age nte s finance iros

Micro e Pe quenas Empresas Médias e Grandes Empresas Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

a Ver nota nº 21

Gráfico 5: Índice

a

de importância para os principais parceiros de atividades cooperativas no arranjo produtivo de petróleo e gás da região de Macaé/RJ 2000- 2002.

Segundo a pesquisa de campo, 86,7% das MPEs e 73,3% das MGEs se envolveram em atividades cooperativas em 2002;com um total de 80% das empresas participando de programas cooperativos neste período. Com relação aos principais

22 Cooperação inter-firmas é entendida como um modelo de relações entre uma firma principal e firmas satélites, constituindo uma rede complexa de sub-contratação em cascata, cujo objetivo é assegurar a eficiência produtiva e de informação (Alveal e Pinto Junior).

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parceiros das empresas nestas atividades, ambos os grupos obtiveram o maior índice de grau de importância para suas parcerias com clientes, conforme mostra o Gráfico 5. Nenhuma empresa considerou a parceria com cliente como sendo de importância nula e apenas 4% das empresas consideraram esta parceria de baixa importância.

Enfatiza-se também o baixo índice alcançado pelos agentes financeiros: para as MPEs, este tipo de parceiro obteve índice 0,1 e, para as MGEs, 0,12. Os tipos de atividades cooperativas realizadas no arranjo também foram qualificados de acordo com pesquisa de campo (Tabela 8).

Tabela 8: Índice de grau de importância das formas de cooperação do arranjo produtivo de petróleo e gás da região de Macaé/ RJ, 2000 a 2002.

Micro e Pequenas Empresas Médias e Grandes Empresas Descrição

Nula Baixa Média Alta Índice

a

Nula Baixa Média Alta Índice

a

Compra de insumos e

equipamentos 15,4 0,0 38,5 46,2 0,60 9,1 9,1 27,3 54,5 0,54 Venda conjunta de prod. 15,4 38,5 7,7 38,5 0,47 27,3 45,5 0,0 27,3 0,30 Desenvolvimento de

Produtos e processos 0,0 7,7 46,2 46,2 0,66 0,0 18,2 27,3 54,5 0,56 Design e estilo de prod. 15,4 23,1 38,5 23,1 0,46 45,5 9,1 18,2 27,3 0,30 Capacitação de

Recursos Humanos 7,7 0,0 30,8 61,5 0,69 27,3 18,2 0,0 54,5 0,44 Obtenção de financiam. 53,8 15,4 23,1 7,7 0,23 45,5 18,2 9,1 27,3 0,28 Participação conjunta

em feiras, etc 38,5 15,4 15,4 30,8 0,39 27,3 27,3 18,2 27,3 0,34

Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

a Ver nota n° 21

Para as MPEs, a capacitação de recursos humanos é a atividade cooperativa

mais importante, com índice de 0,69. Para as MGEs, as ações conjuntas mais

significativas são aquelas que visam ao desenvolvimento de produtos e processos,

com índice de 0,56. Para as MPEs, esta atividade também é bastante representativa,

visto que 46,6% das empresas consideraram esta forma de cooperação como sendo

de alta importância. Mais uma vez confirma-se a necessidade da cooperação para o

desenvolvimento da atividade offshore de petróleo e gás. Devido à complexidade

tecnológica dos produtos e ao alto grau de interdependência entre diversos setores

desta atividade, as ações conjuntas que objetivam o desenvolvimento de produtos e

processos permitem às firmas reduzir custos, garantindo também uma melhor

qualidade no produto. Dantas (1999) cita outras vantagens relacionadas a este tipo

de cooperação, tais como: a) economias de escala e escopo relacionadas à pesquisa

cooperativa; b) viabilização de projetos de pesquisa mais ambiciosos; c) exploração

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de dados que permitam a constituição de um sistema de informação mais completo;

d) distribuição de risco; e) maior capacidade de aproveitamento de spillover.

8. Estrutura do ambiente local

A partir da hipótese de que a inserção de uma empresa em um arranjo produtivo local favorece o acesso a recursos e competências especializados disponíveis em escala local, bem como possibilita o aprofundamento de processos de aprendizado, o estudo de caso procurou avançar no sentido de quantificar e qualificar a importância de vantagens associadas a esta inserção. No Gráfico 6, pode-se analisar as vantagens mais representativas para as empresas do arranjo.

Através da análise do gráfico, observa-se que, de um modo geral, as MPEs afirmam ter mais benefícios advindos de estar localizado no arranjo; comparativamente, essas empresas obtiveram um índice maior que as MGEs em todas as categorias consideradas acima. Tanto as MPEs quanto as MGEs mencionaram a proximidade com o cliente/ consumidor como sendo a maior vantagem de estar localizado no arranjo; obtendo, respectivamente, índices de 0,87 e 0,83. Disponibilidade de mão- de-obra e infra-estrutura física também foram vantagens amplamente citadas pelas empresas pesquisadas.

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

Disponibilidade de mão-de-obra qualificada Baixo custo da mão-de-obra Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria-prima Proximidade com os clientes/consumidores Infra-estrutura física: energia, transporte, comunicações Proximidade com produtores de equipamentos Disponibilidade de serviços técnicos especializados Proximidade com universidades e centros de pesquisa

Micro e Pequenas Empresas Médias e Grandes Empresas Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

a Ver nota n° 21

Gráfico 6: Índice

a

de importância das vantagens da localização no arranjo produtivo de petróleo e gás da região de Macaé/RJ, 2003.

Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil”.

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