Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: Universidade Anhanguera Brasil

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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde

ISSN: 1415-6938 editora@uniderp.br Universidade Anhanguera Brasil

Souza Mundim, Érika Cristina de; Silva Francisco, Manoel Marcelo da; Souza, João Nelson; Gomes Alencar, Márcio Anderson; Dias Ramalho, Paulo César

INCIDÊNCIA DE HEMOPARASITOSES EM CÃES (CANIS FAMILIARES) DE RUA CAPTURADOS PELO CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES (CCZ) DA CIDADE DE ANÁPOLIS-GO Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. XII, núm. 2, 2008, pp. 107-115

Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil

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Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde

Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008

Érika Cristina de Souza Mundim Faculdade Anhanguera de Anápolis erikamundim@gmail.com

Manoel Marcelo da Silva Francisco Faculdade Anhanguera de Anápolis marcelo.francisco@facnet.com.br

João Nelson Souza

Faculdade Anhanguera de Anápolis joaonelsonsouza@hotmail.com

Márcio Anderson Gomes Alencar Faculdade Anhanguera de Anápolis marcioanderson_alencar@hotmail.com

Paulo César Dias Ramalho Faculdade Anhanguera de Anápolis paulocesar_ramalho@hotmail.com

(CANIS FAMILIARES) DE RUA CAPTURADOS PELO CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES (CCZ) DA CIDADE DE ANÁPOLIS-GO

RESUMO

As hemoparasitoses são enfermidades de grande importância na Medicina Veterinária, acometendo várias espécies animais, como o cão, gato, equino, bovino entre outros. Os agentes etiológicos mais comum dessas enfermidades no cão são a ricketisia: Ehrlichia spp, a Mycoplasmatacea: Mycoplasma haemocanis, e os protozoários:

Babesia sp e Hepatozoon sp. Foram coletadas amostras sangüíneas de 53 cães, de diferentes raças e idades, entre fêmeas e machos no Centro de Controle de Zoonoses, no período de agosto à novembro de 2007. Para as hemoparasitoses foram encontradas nas amostras 33,96% de reação positiva, sendo que em 66,67% em sangue circulante e 33,33% em periférico e uma incidência de 50%

para E. platys, 27,78% para M. haemocanis, 11,11% para B. canis, 5,56% para E. canis e 5,56% para H. canis. Concluiu-se que os hemoparasitos continuam tendo grande importância na Clínica Veterinária além de que não houve maior facilidade na identificação destes parasitos por meio do sangue periférico.

Palavras-Chave: Mycoplasma, Ehrlichia, Babesia, Hepatozoon.

ABSTRACT

The hemoparasitoses diseases are of great importance in veterinary medicine, affecting several animal species, such as dog, cat, horse, cattle and others. The most common etiologic agents of these diseases in dogs are ricketisia: Ehrlichia spp, the Mycoplas- matacea: Mycoplasma haemocanis, and protozoa: Babesia sp and Hepatozoon sp. We collected blood samples from 53 dogs of various breeds and ages, between females and males at the Center for Zoonoses Control, from August to November 2007. For hemoparasitoses were found in samples 33.96% of positive reaction, with 66.67% in circulating blood and 33.33% in peripheral and an incidence of 50% for E. platys, 27.78% for M. haemocanis, 11.11% for B. canis, 5.56% for E. kennels and 5.56% for H. kennels. It was con- cluded that the hemoparasitoses still taking great importance in the Veterinary Clinic in addition to which there was no easier to identify these parasites through the peripheral blood.

Keywords: Mycoplasma, Ehrlichia, Babesia, Hepatozoon.

Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181

rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

Recebido em: 2/7/2008

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Incidência de hemoparasitoses em cães (Canis familiares) de rua capturados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade de Anápolis-GO

Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 107-115 108

1. INTRODUÇÃO

Do mesmo modo que outras grandes cidades, Anápolis-GO, localizada na região Centro-Oeste, com uma população de mais de 300.000 habitantes (IBGE, 2007), possuiu uma população canina de aproximadamente 15% (45000 animais) da população (CCZ – Centro de Controle de Zoonoses, Anápolis-GO), predisponentes a contrair os mais diferentes tipos de parasitos, muitos deles causadores de zoonoses.

Almosny em 2002 relatou infecções humanas causadas por Ehrlichia spp, Babesia spp, Haemobartonela spp e Hepatozoon spp, principalmente em crianças, idosos e imunosuprimidos, destacando esses parasitos no contexto da saúde pública.

As hemoparasitoses são enfermidades de grande importância na Medicina Veterinária, acometendo várias espécies animais, como cães, gatos, equinos, bovinos.

Os agentes etiológicos mais comum dessas enfermidades que parasitam o cão são a ricketisia: Ehrlichia spp, a Mycoplasmatacea: Mycoplasma haemocanis e os protozoários:

Babesia spp e Hepatozoon spp.

Rickétsias são microorganismos intracelulares obrigatórios, pleomórficos, Gram negativos (ETTINGER; FELDMAN, 2004), principalmente de monócitos, macrófagos e neutrófilos em algumas espécies (DUMLER et al., 2001), transmitidos por artropódes, principalmente pelo Rhipicephalus sanguineus, porém, outros gêneros como o Amblyomma e Anocentor, também possuem importância no ciclo destas doenças (TORRES; FIGUEIREDO; FAUSTINO, 2004; SZABÓ et al., 2001).

A Erliquiose canina é uma doença riquetsial relatada pela primeira vez no Brasil, no estado de Minas Gerais em Belo Horizonte por Costa et al. (1973). Os agentes etiológicos causadores da Erliquiose canina são Erlichia canis, causadora de distúrbios monocitários e Erlichia platys, recentemente nomeada Anaplasma platys, causadora da trombocitopenia cíclica (BIRCHARD; SHERDING, 2003).

A Erliquiose frequentemente vem acompanhada de outras doenças como a hemobartonelose e babesia (GARCIA-NAVARRO, 2005).

A hemobartonelose é causada por um organismo micoplasmático (Hemobartonella canis) que infecta as hemácias dos cães (BIRCHARD; SHERDING, 2003) e está estreitamente relacionada às espécies do gênero Mycoplasma, podendo ser reclassificadas na família Mycoplasmataceae como Mycoplasma haemocanis (ETTINGER;

FELDMAN, 2004). O Mycoplasma haemocanis apresenta-se no formato de bastão ou anel

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na superfície de hemácias de cães (NELSON; COUTO, 2006) e é provável que a transmissão ocorra por meio dos artropódes sugadores de sangue (ETTINGER;

FELDMAN, 2004).

As babesias são parasitas de células sanguíneas, de origem protozoariana, originária de carrapatos, que afeta as hemácias de cães. (BIRCHARD; SHERDING, 2003). A espécie mais disseminada e patogênica é a grande Babesia canis no continente europeu, na África, na Ásia e nas Américas (URQUART et al. 1998) sendo transmitidas pelo Riphicephalus sanguineus, Dermacentor, Haemaphysalis (NELSON; COUTO, 2006), Hyaloma (FORTES,2004). A Babesia canis possui uma característica morfológica de piroplasma pareados em hemácias circulantes (NELSON; COUTO, 2006).

O Hepatozoon é um protozoário pertencente ao filo Apicomplexa, da família Hepatozoiidae, é causador de uma das enfermidades que acometem os cães (ALMOSNY, 2002). O Hepatozoon canis e o Hepatozoon americanum são as duas espécies responsáveis pela infecção no cão. A primeira espécie ocorre com maior freqüência no Velho Mundo, enquanto a segunda é observada no Novo Mundo (MUNDIM, MUNDIM, BARBOSA, 2002; BENETH et al., 2003). O microorganismo é transmitido quando o hospedeiro vertebrado ingere carrapatos com oocistos que liberam esporozoítas (ETTINGER; FELDMAN, 2004; ALENCAR et al., 1997). Os gamontes são as formas parasitárias encontradas em neutrófilos e monócitos circulantes e são a fonte de infecções de novos carrapatos.

O presente trabalho pretende avaliar a prevalência de hemoparasitas, espécies e grau de infecção em cães errantes capturados pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) da cidade de Anápolis-GO.

2. MATERIAL E MÉTODO

Foram coletadas amostras de 53 animais capturados pelo centro de Controle de Zoonoses de Anápolis-GO, de diferentes raças e idades, entre machos e fêmeas, que foram identificados com numeração de 1 a 53 de acordo com a ordem de colheita, no período de agosto à novembro de 2007. Foi colhido sangue, inicialmente periférico, utilizando uma perfuração em ponta de orelha com agulha 25X7, com tubo capilar de microhematócrito heparinizado e realizado o esfregaço sanguíneo imediatamente, por meio da técnica citada por Garcia-Navarro (2005).

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Após este procedimento, foi feita a colheita de sangue circulante por punção da veia cefálica em seringa de plástico de 3 ml e armazenado em tubos de plásticos contendo EDTA e acondicionados em isopor contendo gelo reciclável e encaminhado para o Centro de Diagnóstico e Consultoria Veterinária (CDCV) na cidade de Anápolis- GO, para realização dos exames.

O esfregaço sanguíneo previamente realizado foi corado com coloração diferencial rápida em hematologia, segundo instruções do produto e após secagem, realizado a sua análise. Do sangue circulante foi retirado uma gota para realização de esfregaço sanguíneo segundo a mesma técnica anteriormente utilizada.

As lâminas de esfregaço de sangue circulante e periférico foram analisadas quanto à presença de hemoparasitos de acordo com o critério exposto no Quadro 1.

Quadro 1. Parasitas e seus graus de parasitismo.

Os achados relevantes foram devidamente fotografados, identificados e armazenados digitalmente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos das amostras analisadas estão descritos abaixo nas Tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1. Prevalência de hemoparasitoses em cães capturados pelo CCZ.

Anápolis-GO, 2007.

Resultado Nº de animais percentual

Positivo 18 33,96%

Negativo 35 66,04%

Total 53 100%

A positividade de 33,96% encontrada em nosso estudo, foi abaixo do encontrado por Salgado et al. (2006), que teve como resultado 62,28% de hemoparasitas

Grau de Parasitismo Parasitas

Leve Moderado Intenso

Babesia sp. + (1 a 3 inclusões) ++ (4 a 8 inclusões) +++ ( > 9 inclusões) Anaplasma sp. + (1 mórula) ++ (2 a 3 mórulas) +++ (> 4 mórulas) Erlichia sp. + (1 mórula) ++ (2 a 3 mórulas) +++ (> 4 mórulas) Mycoplasma sp. + (até 5 corpúsculos) ++ (5 a 10 corpúsculos) +++ (> 11 corpúsculos) Hepatozoon sp. + (1 gamonte) ++ (2 a 4 gamontes) +++ (> 5 gamontes)

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em cães do Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande – MT, com exames realizados por meio de esfregaços sanguíneos.

Tabela 2. Frequência de hemoparasitos específicos em amostras sanguíneas de cães do CCZ.

Anápolis-GO, 2007.

Parasitos Numero de achados Percentual (%)

Babesia sp. 2 11,11

Anaplasma sp. 9 50,00

Erlichia sp. 1 5,56

Mycoplasma sp. 5 27,78

Hepatozoon sp. 1 5,56

total 18 100

Figura 1. Trombócito canino com mórula de Anaplasma sp., corado com corantes para coloração difrencial rápida em hematologia (seta).

Figura 2. Leucócito canino com gamonte de Hepatozoon sp. corado com com corantes para coloração difrencial rápida em hematologia (seta).

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Figura 3. Leucócito canino com mórula de Erlichia sp., corado com corantes para coloração difrencial rápida em hematologia (seta).

Figura 4. Eritrócito canino com inclusão de Babesia sp., corado com corantes para coloração difrencial rápida em hematologia (seta).

Figura 5. Eritrócito com corpúsculo de Mycoplasma sp. corado com com corantes para coloração difrencial rápida em hematologia (setas).

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Foi encontrado um maior parasistismo pela Anaplasma sp., obtendo uma fre- qüência de 50%, diferenciando dos achados de Diniz (2006), que encontrou a freqüên- cia em 5% de seus cães. Salgado et al. (2006) encontrou a Ehrlichia sp. em 60,48% de su- as amostras, diferentemente dos achados do presente trabalho onde obteve-se 5,56%.

Em 11,11% de nossas amostras positivas observou-se o protozoário Babesia sp., dados bem próximos dos obtidos por Salgado et al. (2006), que encontraram 10,78%, di- ferente dos achados de Diniz (2006) que obteve 2% dos seus cães parasitados.

O parasito Hepatozoon sp. foi encontrado em 5,59% de nossas amostras, seme- lhante aos dados apresentados por O’Dwyer et al. (2006) e Godim et al. (1998) e Mas- sard (1979) citados por O’Dwyer et al. (2006) que encontraram 5,9% em cães de rua, em São Paulo.

Das 18 amostras encontradas como positivo para as hemoparasitas 16 (88,89%) apresetaram parasitismo leve (+), 1 (5,56%) moderado (++) e 1 (5,56%) intenso (+++).

Foi obervado que das 18 amostras positivas, houve um maior percentual de achados nas amostras provenientes de sangue circulante (66,67%) diferentemente de Nelson e Couto (2006), que relata um maior probabilidade de se encontrar hemoparasitas em sangue periférico (ponta de orelha). Houve achados concomitantes entre os dois modos de punção em 1 (5,56%) amostra.

Tabela 3. Presença de parasitos em sangue circulante e sangue periférico em amostras sanguíneas de cães capturados pelo CCZ. Anápolis-GO, 2007.

Amostra Parasito Sangue circulante Sangue periférico

32 Babesia sp. X

49 Babesia sp. X

2 Anaplasma sp. X

8 Anaplasma sp. X

19 Anaplasma sp. X

51 Anaplasma sp. X

7 Mycoplasma sp. X

12 Mycoplasma sp. X X

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Amostra Parasito Sangue circulante Sangue periférico

18 Mycoplasma sp. X

35 Hepatozoon sp. X

4. CONCLUSÃO

Concluiu-se que os hemoparasitos continuam sendo altamente prevalentes, com grande importância para a Clínica Veterinária, que deverá dar maior atenção a estas doenças, principalmente no controle de seus vetores, considerando que são potenciais zoonoses.

Além disto, demonstrou-se que a Anaplasma sp. foi o parasita com maior inci- dência e que a Mycoplasma sp. está fortemente inserido na região Anápolis-GO.

Quanto ao local de punção, pode-se verificar que não houve maior facilidade na identificação destes parasitas, por meio do sangue periférico conforme citado por Nelson e Couto (2006).

REFERÊNCIAS

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