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Palavras-chave: Internacionalização de Estudos; Mobilidade Acadêmica; Mobilidade Discente; Internacionalização do Ensino Superior.

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Academic year: 2022

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A EXPERIÊNCIA SUBJETIVA DA MOBILIDADE ACADÊMICA NA CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE

Autores: Gabriel Celestino Rosa1; Viviane de Brum da Silveira; Leonidas Roberto Taschetto

Resumo: A internacionalização dos estudos não é um fenômeno eminentemente contemporâneo. Sua história confunde-se com o próprio surgimento das primeiras universidades europeias e seu desenvolvimento na atualidade assume contornos diversos daquele período. Desde a Idade Média, com o surgimento das primeiras universidades europeias em Portugal, na França e na Itália, assume-se uma identidade internacional. Professores e alunos eram obrigados a se deslocar de seus ambientes de origem para os emergentes centros de cultura da época, deslocamento esse conhecido por peregrinatio academica. No período Brasil Colônia, alguns jovens oriundos das elites brasileiras dirigiam-se para o velho continente, especialmente para Portugal, com o objetivo de realizar sua formação universitária, uma vez que a coroa portuguesa, no intuito de manter sua soberania sobre sua colônia, interditava qualquer possibilidade de criação de universidades. Na contemporaneidade, o interesse crescente de se investir em estudos no exterior por uma parte significativa de docentes e discentes tem fomentado a criação de setores específicos para implementação da política de internacionalização. Esse processo se efetiva mediante acordos de parcerias entre universidades sob a forma de convênios que tornam possível a realização do intercâmbio universitário.

Nosso objetivo é apresentar resultados parciais de nossa pesquisa, realizada no ano de 2016 em uma universidade comunitária do Rio Grande do Sul, sobre a experiência da mobilidade acadêmica na construção da profissionalidade de alunos de graduação. Foram filmadas, num período de 7 meses, 42 entrevistas com alunos e professores, que vivenciaram a mobilidade acadêmica, totalizando 14 horas de mídia audiovisual, submetidas posteriormente a um processo de análise com o objetivo de compreender como cada um significou essa experiência em sua vida pessoal, acadêmica e profissional. Após a análise e recorte das entrevistas, elaborou-se um roteiro provisórios, aberto às forças interpretativas dos sujeitos, direta e indiretamente envolvidos, com o objetivo de se produzir um longa-documentário. A plasticidade do roteiro do documentário propiciou um mapeamento sobre a organização fílmica dos depoimentos frente ao múltiplo conjunto de possibilidades predeterminadas que, de forma latente, insistiam sob a realidade. O resultado final do longa-documentário não pretende transmitir um significado cristalizado sobre a experiência da mobilidade de cada um dos sujeitos depoentes. Partimos do pressuposto de que ela não é uma experiência idealizada, que teria um sentido único, mas que sobretudo marca uma posição subjetiva de abertura do sujeito ao jogo do significante, pois cada um interpreta essa experiência a partir de si. O conviver em um contexto internacional impõe aos sujeitos a necessidade de se defrontarem com experiências diversas:

despertar o sentimento de independência, desenvolver competências linguísticas, estabelecer laços interpessoais, lidar com diferentes aspectos da cultura local etc. Neste sentido, a experiência da internacionalização constitui-se como algo da dimensão do sensível, que ultrapassa os limites da técnica fazendo emergir um saber subjetivo e enriquecedor para a vida pessoal e profissional. Além dos benefícios pessoais, culturais e de linguagem, a experiência da mobilidade acadêmica mostra-se como um importante dispositivo de subjetivação nas/das trajetórias de vida de alunos e de professores.

Palavras-chave: Internacionalização de Estudos; Mobilidade Acadêmica; Mobilidade Discente;

Internacionalização do Ensino Superior.

INTRODUÇÃO

1 gabriel.rosa0175@unilasalle.edu.br

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Desde o período da Idade Média, com o surgimento das primeiras universidades europeias em Portugal, na França e na Itália, assume-se uma identidade internacional, pois, nas palavras de Wagner, “a vasta migração estudantil parte do modo de funcionamento das universidades medievais” (2007, p. 10).

Apesar da internacionalização dos estudos ser um fenômeno que se confunde com próprio surgimento das primeiras universidades medievais europeias, sua crescente procura atualmente assume contornos diversos daquele período. O interesse de se investir em estudos no exterior por uma parte significativa e cada vez maior de alunos de cursos de graduação de universidades brasileiras e estrangeiras tem provocado a necessidade de se criar setores específicos responsáveis pela política de implementação do processo de internacionalização, objetivo que é perseguido de forma constante e cada vez mais competitiva, potencializado pelas parcerias em forma de convênios entre universidades nacionais e estrangeiras.

A Universidade pesquisada criou um setor responsável pela gestão e execução da política de internacionalização universitária, considerando a necessidade de integrar as diferentes atividades de internacionalização, bem como centralizar atendimentos oferecidos e promover a cultura da internacionalização junto à Pró-reitoria Acadêmica.

Dentre as diferentes formas de internacionalização, o Programa de Incentivo à Mobilidade Acadêmica, oferecido pelo setor de internacionalização da Universidade, publica dois editais de seleção por ano, com isenção de 100% das mensalidades para 20 alunos a cada semestre.

Dentre as prioridades de ações estratégicas visando o processo de internacionalização, destacam-se: a participação ativa em redes de cooperação internacional; o incentivo à mobilidade acadêmica de discentes e docentes; o desenvolvimento de programas de investigação conjunta; a ampliação de acordos de cooperação acadêmica internacional e publicações em parceria com instituições internacionais.

De 2002 a 2016, um total de 93 alunos (59 do sexo feminino e 34 do sexo masculino) de 25 cursos de graduação da universidade realizou Mobilidade Acadêmica em 15 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, China, Colômbia, Espanha, EUA, França, Letônia, México, Peru, Portugal e Uruguai.

OBJETIVOS

A partir do cenário apresentado, este trabalho tem por objetivo enfocar a experiência de Mobilidade Acadêmica como um importante dispositivo de subjetivação nas/das trajetórias acadêmicas de alunos e professores da instituição pesquisada. A pesquisa foi dividida em dez etapas, a saber: produção do documentário “Poéticas da Mobilidade”; pesquisa junto ao setor de internacionalização da instituição;

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elaboração, ajustes e aplicação de questionário sociodemográfico; estudo do Estado da Arte; elaboração do roteiro de novas entrevistas; realização das entrevistas; transcrições das entrevistas; análise segundo referencial teórico-metodológico; edição do novo documentário; elaboração de relatório final, produção de artigos científicos e participação em feiras, simpósios e congressos. Entretanto, abordar-se-á aqui apenas os resultados da primeira etapa, pois esta encontra-se concluída e as demais em desenvolvimento.

METODOLOGIA

Antes de detalharmos as atividades que foram desenvolvidas no processo de produção do documentário, faremos uma explanação do referencial teórico-metodológico e dos motivos pelo quais nos levaram a elegê-lo nesta pesquisa.

Não se pode falar sobre experiência de mobilidade acadêmica sem antes retomar o conceito de experiência e suas implicações. Neste sentido, a experiência, encontra suas bases etimológicas no latin (experiri), e acontece no encontro/relação com aquilo que é novo, com a exposição à novas situações, ou até mesmo um contato diferenciado com o já vivido. Além disso, define-se como um conhecimento adquirido e edificado a partir da prática. Logo, para adquiri-la é necessário viver o novo e, sobretudo, ser tocado emocionalmente de maneira singular, de modo que ocorra uma transformação nas formas de pensar e agir frente às exigências do mundo (LARROSA, 2002).

Uma das formas de se pensar a experiência é em contraposição ao conceito de informação. Larossa (2002), enfatiza a necessidade de uma dissociação destes dois conceitos, uma vez que a informação diria respeito há tudo aquilo que nos passa, nos atravessa, e que não necessariamente nos acontece, nos marca, como na experiência. Diariamente estamos expostos a muitas informações, elas estão por toda parte, seja através do velho jornal impresso, no televisor que ainda permanece em muitas salas de estar, ou nos modernos notebooks e smathphone que, dentre suas principais funcionalidades, reservam grande espaço para a veiculação de informações.

Para Larrosa (2002), o excesso de informação é um fator que influencia negativamente a aquisição de novas experiências, pois a primeira não daria espaço para que a segunda acontecesse. É preciso estar aberto para o acaso que nos modifica, combustível transformador, do contrário, está-se apenas exposto às informações. O autor denomina “princípio de transformação” o sujeito sensível, vulnerável e ex/posto, pois este “é um sujeito aberto a sua própria transformação [...] transformação de suas palavras, de suas ideias, de seus sentimentos, de suas representações” (LARROSA, 2011, p. 7). Além disso, aponta a existência de uma necessidade contemporânea pelo novo e a prova disso dá-se ao vermos a era digital invadir a vida de

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significativo número de pessoas ao redor do mundo. O slogan “sociedade da informação” edifica-se em meio aos ambientes reais e virtuais e dita suas regras.

Depois de assistir a uma aula ou a uma conferencia, depois de ter lido um livro, ou uma informação, depois de ter feito uma viagem ou ter visitado uma escola, podemos dizer que sabemos coisas que antes não sabíamos, que temos mais informação sobre alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, podemos dizer também que nada nos aconteceu, que nada nos tocou, que com tudo o que aprendemos nada nos sucedeu ou nos aconteceu. (LARROSA, 2002).

Para Schwartz (2010, 2014), não há conhecimento sem experiência, mas ao mesmo tempo, a experiência é aquilo que nos dá algo, mas que não nos permite pensar sobre ela. Assim como Larrossa (2002), o autor defende a ideia de que as informações podem nos corromper em algum momento, impossibilitando a vivência de algo que nos mude intimamente (SCHWARTZ, 2010). Além disso, diferente da aquisição de informações, as experiências ocorrem de forma individual. Dois indivíduos expostos a mesma situação podem ter experiências infinitamente diferentes e isso acontece devido a formação da experiência ser promovida a partir das expectativas pessoais e emocionais do sujeito sobre os fatos e situações vividas até aquele momento. Esta ideia confirma-se na comparação dos depoimentos do documentário, uma vez que sujeitos que participaram do programa de mobilidade acadêmica para as mesmas cidades significam a experiência de maneira distinta, com suas próprias ênfases. Segundo Larossa (2002), o saber da experiência não pode beneficiar-se de qualquer alforria, ou seja, ninguém pode aprender da experiência do outro, a menos que essa experiência, de algum modo, seja revivida e tornada própria.

Segundo Larossa (2011), aqueles indivíduos que se envolvem nos fatos são denominados sujeitos da experiência. Para ele o sujeito da experiência se define não por sua atividade, rigidez, mas, sobretudo, por sua passividade, receptividade, disponibilidade, por sua abertura. Para que ocorra a experiência é necessário, portanto, que os sujeitos estejam disponíveis, essencialmente abertos, padecidos e pacientes. Essas características contribuem para que os bloqueios e pré-conceitos sejam diminuídos e possibilitem o viver da experiência em sua completude.

Para a produção das entrevistas utilizou-se a Cartografia como auxilio para melhor potencializar o conteúdo filmado. Consideramos o Método Cartográfico um procedimento que nos torna mais abertos e receptivos ao diálogo com o outro, sobretudo por considerar o encontro como um momento sensorial e afetivo importante que cria as condições necessárias para se estabelecer um clima de descontração, de confiança e de certa intimidade entre sujeito-pesquisador e sujeito-pesquisado, permitindo que a entrevista transcorra como uma conversa informal, sem aquele compromisso típico das expectativas profundas, da insistência pelas respostas claras e objetivas, que na maioria das vezes apenas atende às demandas

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previamente estabelecidas, mas que não dão margem ao inesperado, ao desconhecido, à imprevisibilidade, ao descontínuo e mesmo às fugas. Nas palavras de Blanchot:

[...] existe uma questão à qual não basta responder com exatidão: se ela desaparece e é esquecida, ao pé da letra, ostensivamente vencida pelo domínio do discurso, é então que ela leva a melhor. Mesmo quando ela se apresenta sob a forma clara que parece exigir a conveniência de uma resposta, só podemos fazer-lhe frente reconhecendo que ela se formula como a questão que não se formula.

Manifesta, ela permanece fugidia. A fuga é uma de suas maneiras de estar presente, no sentido de que ela não deixa de atrair-nos para um espaço de fuga e irresponsabilidade. Interrogar-se de modo profundo, portanto, não é interrogar-se profundamente, é, igualmente, fugir (acolher o atalho da impossível fuga). Não obstante, essa fuga talvez nos ponha em contato com algo essencial (BLANCHOT, 2001, p. 51–52).

Assim, a cartografia foi utilizada na pesquisa como uma importante ferramenta de coleta/produção dos dados, servindo de base para a criação de um clima propício à realização das entrevistas. A cartografia foi um método formulado pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995) que tem por fundamento problematizar os princípios da neutralidade, objetividade e racionalidade nas pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Pode-se considerá-la um método ad doc que pressupõe certa postura do pesquisador em relação ao funcionamento da atenção no momento da realização de uma entrevista. Para alguns de seus adeptos, ela tem sido considerada um método, um procedimento, uma técnica empregada em pesquisas de campo nas Ciências Humanas com foco na subjetividade. Por outro lado, há aqueles que a concebem para além de um mero procedimento metodológico ou uma técnica investigativa, sobretudo porque ela não visa estabelecer um caminho linear para atingir um fim, mas, sim, considerar a existência de aspectos que fogem ao controle do pesquisador e que demanda cuidado.

RESULTADOS

A primeira etapa da pesquisa foi realizada durante o ano de 2016 por parte dos autores deste trabalho.

O resultado foi a produção do documentário intitulado “Poéticas da Mobilidade”, com a duração de 01:45:00 que teve como foco depoimentos de docentes e discentes sobre os significados da experiência da Mobilidade Acadêmica em suas vidas. O processo de produção durou sete meses, e o material bruto originou 14 horas de gravações de depoimentos de 42 pessoas e somente a partir desta produção elaborou-se as demais etapas da pesquisa no sentido de aprofundar a investigação sobre a natureza subjetiva da experiência de mobilidade acadêmica na construção da profissionalidade.

A elaboração do roteiro de entrevistas para o documentário foi sendo construída conforme as entrevistas sucediam-se. Este caráter plástico, maleável, do roteiro é umas das possibilidades na produção de um documentário, pois o conteúdo das entrevistas aponta para direções ainda não contempladas,

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evidenciando novas possibilidades de criação (REZENDE, 2013). Estabelecido o roteiro provisório, iniciou- se a oposição entre o real e o possível. O real refere-se às “coisas persistentes e resistentes que subsistem”

(LÉVY, 1996, p. 145); o possível diz respeito ao “conjunto de possibilidades predeterminadas” que, de forma latente, insistem sob a realidade (1996, p. 145), “que não se encontram realizadas [...], mas podem vir a sê-lo” (REZENDE, 2013, p. 92).

Na etapa seguinte, com o auxílio dos softwares de edição audiovisual Final Cut Pro, Premiere CC e After Effects CC, a equipe realizou recortes dos depoimentos objetivando uma potencialização do material possível à construção do documentário. Nesse processo, iniciou-se a decupação do material suprimindo-se os “erros” de gravação: segmentos com falhas ou interrupções de som ou de imagem, trechos com mal enquadramento, depoimentos interrompidos por descontinuidade de ideias, ruídos audíveis no ambiente e falas direcionadas a algum membro da equipe técnica durante a gravação. Após suprimidos esses “erros” de gravação, permanecia no plano sequencial um tempo que ultrapassava o previsto no projeto do documentário, o que demandou uma segunda análise e seleção de material quanto ao conteúdo e à extensão dos depoimentos. Esta análise levou em consideração a multiplicidade de efeitos de sentidos presentes nos 42 depoimentos. Foram selecionados depoimentos que atribuíssem à experiência de mobilidade acadêmica efeitos de sentidos tanto positivos, quanto neutros ou negativos.

Feito isso, foi possível iniciar o processo de montagem da ordem sequencial dos depoimentos com a criação de 6 grupos compostos por 4 a 7 depoentes que formaram blocos de unidades de sentidos entre si.

Para provocar um efeito estético harmonioso e potencializador entre as unidades de sentidos, a equipe acionou um conjunto de elementos tecnopoéticos, tais como trilha sonora, fotografia, sequências audiovisuais, narração, textos, figuração e artes gráficas. O conjunto de tecnopoéticas utilizadas na produção do documentário constituiu, no universo imagético, algo singular que possibilitou a memória do acontecimento da mobilidade vivido por cada um dos sujeitos-depoentes.

Constituir a memória do acontecimento das experiências desses sujeitos com o objetivo de produzir um material audiovisual na modalidade documentária possibilitou uma dinâmica sensível ao longo desse processo de edição/visualização do material produzido. Essa dinâmica sensível refere-se à necessidade de a equipe técnica, em muitos momentos, debruçar-se durante um período de tempo significativo sobre o material bruto produzido no intuito de filtrar os elementos essenciais a serem lapidados.

O resultado da produção desse documentário despertou na equipe o interesse de aprofundar aspectos não contemplados na proposta original que se referiam ao modo como cada um viveu essa experiência.

Neste sentido, a continuação do Projeto de Pesquisa continua, desde um outro lugar, explorando esses aspectos que no momento da produção do Documentário não eram evidentes, tampouco foco de nossa investigação. Para tanto, as demais etapas da pesquisa visam investigar os efeitos de sentidos, manifestos e

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latentes, da Mobilidade Acadêmica nas trajetórias de vida de 20 (vinte) acadêmicos de Graduação e Pós- Graduação stricto sensu do UNILASALLE-Canoas e produzir um novo longa-documentário que traduza essa investigação à uma linguagem audiovisual.

DISCUSSÃO

Para atingir os objetivos e metas estabelecidos, nosso caminho metodológico propôs-se, nas próximas etapas, ao desafio de colocar para dialogar dois diferentes referenciais teóricos: a Cartografia, metodologia já utilizada na primeira etapa, e a Análise de Discurso Francesa.

A Análise de Discurso (AD) pode ser considerada uma “disciplina de entremeio”, ou seja, ela não é nem uma teoria stricto sensu nem uma mera ferramenta aplicável à análise de práticas discursivas. A AD foi teorizada pelo filósofo francês Michel Pêcheux, passando por três períodos de elaboração, inspirada e fundamentada em estudos sobre a linguagem, a Psicanálise e o materialismo histórico-dialético. Parte do princípio de que não é possível dar conta das condições ideais de produção de qualquer material que envolva a subjetividade humana. Essa crença, por sinal equivocada, ampara-se na busca de condições ideais de controle das possíveis variáveis que interfeririam na produção do material coletado e que supostamente estaria nas mãos do pesquisador, como se fosse possível ao pesquisador controlar todos os fatores que permeiam o processo de análise. Interferir o mínimo possível nas condições de produção do corpus de análise vincula-se à concepção cientificista de se fazer ciência, em que o pesquisador deve adotar uma posição de neutralidade.

Essa ideia equivocada também comporta a crença de que existiria um objeto pesquisado passível de ser desvelado por intermédio de instrumentos e teorias que resguardaria a essencialidade do objeto de pesquisa e, por isso, também revela a pretensão de se separar sujeito e objeto. Pêcheux (1997), ao ressituar o projeto de uma Análise de Discurso não mais empenhada em dar conta das coisas-a-saber em uma estrutura representável homogênea, vai fazer duras críticas à crença de que seria possível garantir o controle “sem risco de interpretação (logo uma auto-leitura científica, sem falha, do real)”. (PÊCHEUX, 1997, p. 35). A AD consiste numa leitura interpretativa, um gesto de leitura que passa pela descrição de marcas de ênfase no enunciado.

Assim, o exercício de análise discursiva a que nos propomos nesta pesquisa inspira-se nas teorizações de Michel Pêcheux (1997). Entendemos que as enunciações proferidas pelos alunos que realizaram Mobilidade Acadêmica através de entrevistas são relevantes como suporte da análise, pois eles mobilizam a língua. Eles falam de si e de sua condição de acadêmicos no exterior, falam das dificuldades e

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dos desafios enfrentados em outros países, alegrias e frustrações, falam sobre como organizam as rotinas de estudos, enfim, falam sobre suas experiências como estudantes num contexto estrangeiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a continuação desta pesquisa, almeja-se contribuir para a produção de conhecimento sobre a temática da Mobilidade Acadêmica e seus efeitos de sentido nas trajetórias de vida de alunos de graduação e pós-graduação stricto sensu. Este estudo igualmente permitiria compreender a interface dessa temática com o processo de internacionalização dos estudos. Espera-se que os resultados deste Projeto de Pesquisa possam oferecer indicadores que subsidiem avanços das políticas de gestão da Mobilidade Acadêmica, especialmente no que se refere ao aprimoramento do processo de seleção, de acompanhamento e de avaliação da experiência dos candidatos à Mobilidade. Além desse aspecto, a partir dos resultados decorrentes desta pesquisa, pretende-se gerar divulgação de conhecimento científico por intermédio de submissão de artigos científicos em periódicos qualificados na área (Educação/Psicologia), capítulos de livros, comunicações orais e publicações em eventos científicos nacionais e internacionais.

REFERENCIAL TEÓRICO

BLANCHOT, M. A conversa infinita: a palavra plural. Traducao Aurélio Guerra Neto. São Paulo:

Escuta, 2001.

DELEUZE, G.; GUATARRI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 46–49, 2002.

LARROSA, J. Experiência e alteridade em educação. Revista Reflexão e Ação, v. 19, n. 2, p. 04–27, 2011.

LÉVY, P. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. Traducao Eni Puccinelli Orlandi. 2. ed.

Campinas, SP: Pontes, 1997.

REZENDE, L. A. Microfísica do documentário: ensaio sobre a criação e ontologia do documentário.

Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013.

SCHWARTZ, Y. A Experiência é Formadora? Educação e Realidade, v. 35, 2010.

SCHWARTZ, Y. Motivações do conceito de corpo-si: corpo-si, atividade, experiência. Letras de Hoje, v.

49, n. 3, p. 259–274, 2014.

WAGNER, A.-C. Les classes sociales dans la mondialisation. Paris: La Découverte, 2007.

Referências

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