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Cad. Saúde Pública vol.15 número1

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Academic year: 2018

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O M ISTÉRIO DA CON SCIÊN CIA E DISCUSSÕES CO M DAN IEL C. DEN N ETT E DAVID J. CHAL-M ERS. John R. Searle. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1998. 239 pp.

ISBN 85-219-0305-7

É p ossível con h ecer a m en te h u m an a? An tes d e esb oça r q u a lq u er resp o sta a esta p ergu n ta , to rn a se im -p rescin d ível d em a rca r o q u e se en ten d e -p o r co n h e-cer. Isto, em si,já con stitu i u m con sid erá vel p rob lem a , p o is lo go ilem p lica o o b jeto d e estu d o co lem o ‘in -stru m en to’ qu e o estu d a.

Para ir adian te n o foco desta resen ha, vam os en cam in h ar tal d iscu ssão p ara a ten são relativa a d u as su -p ostas m od alid ad es d e o qu e se -p rocu ra con h ecer, ou seja, o ‘descon hecível’ – in cogn oscível – ou o descon he-cid o – cogn oscível. Sab em os q u e a filosofia se con fi-gu ra com o o cam p o clássico qu e aborda a p rim eira di-m en são (n o caso d a ep istedi-m ologia, a p róp ria ten são), en qu an to as ciên cias em p írico-lógicas, a segu n d a.

No en ta n to, d esd e a m eta d e d o sécu lo XX, esta -m os p resen cian d o u -m p rogressivo e, agora, vigoroso a va n ço d o segu n d o ca m p o sob re o p rim eiro. Há a u -tores, in clu sive, q u e exp licitam a m eta d e d eslocar a p róp ria d istin ção en tre o d escon h ecid o cogn oscível e in cogn oscível d a filosofia/ ep istem ologia p ara o terri-tório cien tífico (Trau b, 1997).

Po is b em , a m en te h u m a n a (e a p ro p ried a d e d e a u to co n sciê n cia ) se a p re se n ta co m o u m e m b le m a desta ten são territorial. Há os qu e con sideram a ‘con s-ciên cia-d si’ exclu sivam en te tratável em term os m e-ta físicos e correla tos. No ou tro extrem o, h á os q u e a en caram com o u m ob jeto p len am en te ab ord ável p e-la s ciên cia s em p írico-lógica s, n o ca so, a s ch a m a d a s n eu rociên cias – u m ram o d as ciên cias cogn itivas, qu e in clu i, tam b ém , ou tras verten tes: lin gü ística, p sicolo-gia co gn itiva , in teligên cia a rtificia l e in evitá veis h i-b rid izações en tre elas.

Im p orta salien tar qu e n este, digam os assim , ‘cam -p o m in a d o’, ta m b é m -p ro cu ra -se situ a r o s sa b e re s (m eta)p sicológicos d e caráter p sican alítico, n o qu al o in co n scie n te se to rn o u u m d o s e ixo s p rin cip a is n a a b o rd a ge m d o p siq u ism o n o sé cu lo XX. No â m b ito d as p sican álises, n ossos p en sam en tos e ações con scien tes são, em gran d e p arte, d eterm in ad os p ela in -flu ên cia d e asp ectos in con scien tes. Sob tal ótica, u m a ab ord agem d irigid a à con sciên cia ten d e a ser d esvalorizad a em razão d e esta ser vista com o algo secu n -d ário (ou , q u em sab e, m al exp lora-d a p or Freu -d – em re la çã o a q u e m ch e ga -se a co n je tu ra r a a u to ria d e m an u scritos p erd id os sob re o assu n to).

No en ta n to, a p a rtir d a s p ro d u çõ es d a s ciên cia s cogn itivas e tam b ém d e su a am p la d ifu são ao p ú b li-co n ão esp ecializad o, cad a vez m ais são en fatizad as e d iscu tid as n oções com o in ten cion alid ad e, m em ória, cap acid ad e d e recon h ecim en to, em oções, su b jetivi-d a jetivi-d e /qu aliae co n sciê n cia – to d a s se ria m a sp e cto s d o m esm o p rocesso: m en te.

Ap e sa r d o e m b rica m e n to e n tre e sta s id é ia s, a qu estão d a con sciên cia se evid en cia com m ais in ten -sid ad e, p rovavelm en te, em virtu d e d a d im en são ch a-m a d a ‘ip seid a d e’ – co n sciên cia -d e-si. O a rgu a-m en to p rin cip al p ara a p rim azia d esta via p arece vin cu lar-se ao fato d e este asp ecto esp ecífico se con figu rar com o u m d os tem as qu e ap aren tam gerar m ais p erp lexid ad e n os ad om ín ios ad os estu ad os sob re o m en tal (e, tam -b ém , con fessem os, n a p ersp ectiva d a econ om ia p sí-qu ica d e cad a u m d e n ós). Deb ate-se, in clu sive, se ca-b e co n sid erá -lo co m o u m p ro ca-b lem a ep istêm ico, o u seja, p assível d e ser ab ord ad o p elos sab eres, p rotocolo s e in stru m en to s d o â m b ito cien tífico verifica cio -n ista , co m o m e -n cio -n a o filó so fo Jo h -n R. Se a rle e m su a d id á tica co letâ n ea d e resen h a s a cerca d e tra b a -lh os d e au tores sob re a con sciên cia, p u b licad as origi-n alm eorigi-n te origi-n o New York Review of Book s.

Segu n d o Ho rga n (1996), a co n sciên cia teria a d -q u irid o u m esta tu to d e p ro b lem a tra tá vel m ed ia n te in vestigações em p íricas d ep ois q u e cien tistas d e ren om e, com o Fra ren cis Crick (q u e ju ren ta m eren te com Ja -m es Wa tso n co n figu ro u a estru tu ra e-m d u p la h élice d o ADN) e o Prêm io Nob el Gerald Ed elm an , en tre ou -tros, p rod u ziram esp ecu lações teóricas acerca d a organ ização e fu n cion am en to n eu rob iológicos d a m en -te. Estes p esqu isad ores e, tam b ém , Roger Pen rose, Is-rael Rosen field e os filósofos Dan iel Den n ett e David Ch alm ers são os au tores resen h ad os n o livro. Vale sa-lie n ta r, a in d a , a cu id a d o sa a p re se n ta çã o d e Be n to Prad o Jr.

Co m b a se n a p rem issa d e q u e esta d o s cereb ra is cau sam estad os m en tais, u m d os p on tos cru ciais d os tra b a lh o s so b re a co n sciê n cia , re ite ra d o p o r Se a rle em vários m om en tos d o livro, localiza-se n o d en om i-n a d o p ro b lem a d o s qu alia. Co m o lid a r co m a s p ro p ried ad es su b jetivas, p essoais, sin gu lares q u e acom -p an h am a ex-p eriên cia con scien te? Qu aliaé o p lu ral d e qu ale, u m a p alavra latin a q u e se refere à q u alid ad e ab straíad a com o u m a essên cia u n iversal, in ad ep en d en te d e algo, com o, p or exem p lo: d or, b ran cu ra, d u reza. Aliás, o filósofo n orteam erican o, com p ertin ên -cia, con sid era o term o en gan oso, p or d eixar im p lícita a id éia d o qu aled e u m esta d o co n scien te ser d isso -ciá ve l d a e xp e riê n cia co n scie n te to ta liza d a e se r a b o rd a d o à p a rte. Ign o ra r a d im e n sã o su b je tiva d a con sciên cia in viab ilizaria q u alq u er p ossib ilid ad e d e con ceb ê-la.

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-çõ e s d e ca rá te r m a is p e sso a l. Ap e sa r d o irre sistíve l d eleite p rovocad o (qu alia?) ao acom p an h ar as d iatri-b e s d e ste s e scrito re s – a lgo q u e vivifica u m tip o d e texto m arcad o p ela d im en são elab orad am en te in te-le ctu a liza d a , o s ‘a trito s’ re su lta n te s d e ssa s lu ta s d e p re stígio p ro d u ze m m a is ‘ca lo r’ d o q u e ‘lu z’ (co m o d iria u m jorn alista econ ôm ico.).

Na verd ad e, tais p olêm icas servem com o in d ica-d or ica-d a con siica-d erável ign orân cia qu e en volve o cam p o. Não h á p alavras d efin itivas (ou , m esm o, qu e ocu p em , p rovisoriam en te, esta con d ição). Com isto, as d iscu s-sõ es ten d em a ser in co n clu siva s. Mesm o a ssim , sã o d escritos n o livro p ressu p ostos q u e orien tam d eter-m in adas con cep ções da con sciên cia coeter-m o objeto ‘d escon h ecível’ ou d esescon h ecid o (d u alistas – d e su b stân -cia, d e p rop ried ad e; m on istas id ealistas e m aterialis-tas, p or su a vez – b eh aviorisaterialis-tas, fisicalisaterialis-tas, fu n cion a-listas). E, n este ú ltim o caso, p erceb e-se a criação d e cren ças (d esm esu rad as?) n a cap acid ad e d e p rojetos n e u ro cie n tífico s vire m a d e sve n d a r a q u e stã o d a m en te h u m an a e d a su a p ecu liar cap acid ad e d e con s-ciên cia (d e p ossu ir con ss-ciên cia).

Não ap arece n a cap a d a ed ição b rasileira o su b tí-tu lo origin al, q u e só se exp licita ju n to ao títí-tu lo in ter-n o – (...) e Discu ssões com Dater-n iel C. Deter-n ter-n ett e David J. Ch alm ers. Há , ta m b ém , fa lh a s d e revisã o e erros or-tográficos (“excessão”! – p. 86). A m eu ver, os m aiores p ro b lem a s p rovêm d a d ifícil tra d u çã o d e vá rio s ter-m o s eter-m p rega d o s n o ca ter-m p o. Po ssivelter-m en te, o vo ca-b u lário d isp on ível reflete a falta d e u m léxico satisfa-tó rio p a ra a a b o rd a ge m d a co n sciê n cia – m a is u m sin tom a d a h ip ercom p lexid ad e d o tem a. Isto se evi-d en cia n a in clu são evi-d o p eq u en o glossário-evi-d icion ário a o fin a l d o livro. Ao e xa m in á -lo, o co rre a p e rgu n ta : q u a l é a d iferen ça en tre a u to co n sciên cia (self-con s-ciou sn ess”) e con sciên cia -d e-si (self-aw aren ess)? Os trad u tores assin alam o u so d e “ciên cia” p ara “aw are-n ess”, qu e, ap esar d e correto (d e fato, aw arep od e sign ificar ciesign te), isign d u z a erros d e com p reesign são ao losign -go d o texto, p o r ca u sa d a a cep çã o p rim o rd ia lm en te cien tífica d a p alavra. De acord o com a su p osta lin h a d e raciocín io ad otad a, talvez fosse m ais con ven ien te trad u zi-la m esm o com o con sciên cia. “Sen tien ce” co-m o “sen sibilid ad e” taco-m b éco-m é p rob leco-m ático. Eco-m b ora p o u co co n h e cid o fo ra d o â m b ito e sp e cia liza d o, h á u m vocáb u lo (d icion arizad o) eq u ivalen te em Portu -gu ês – sen ciên cia. Peço, ain d a, a d evid a licen ça p ara co m e n ta r q u e a co rre ta in tu içã o d e e vita r tra d u zir im ageryp o r im a gin á rio p o d eria ter o u tra reso lu çã o qu e a in d icad a p or Prad o Jr. – “im agiário”. Talvez im a-geria a ten d esse m elh or à p rop osta n eológica q u e se ap resen tou .

Em su m a, a ob ra d e Searle p rop orcion a, d e m od o p roveitoso e, sob retu d o, acessível, en trar em con tato com a p rim ord ial qu estão d a con sciên cia h u m an a. E, ta m b é m , co m o s e n o rm e s e sfo rço s re a liza d o s p o r em in en tes p en sad ores n o sen tid o d e p rop or h ip óteses esp ecu lativas e d em arcála com o ob jeto d e estu -d o p ertin en te. Segu in -d o Atlan (1991), o p en sam en to filosófico d e segu n d a ord em – o q u e p en sa o ser q u e p en sa – sofre com os ob stácu los cau sad os p elo ch a -m ad o p rob le-m a corp o--m en te. Con for-m e as resp ectivas ab ord agen s, é gerad a u m a m u ltip licid ad e d e en ca m in h a m en to s. A filo so fia d a m en te (n eu ro filo so -fia?) é u m d eles. Sob esta ótica, d ificilm en te se p od e p re te n d e r a o e n u n cia d o d e ve rd a d e ú n ica , m e sm o q u a n d o e sta p ro p o sta d e in te ligib ilid a d e d a co n

s-ciê n cia p ro cu ra a n co rá -la n o a rca b o u ço cie n tífico, b u scan d o a su p osta firm eza d as verd ad es p rod u zid as sob a égid e d a Razão. Isto, p elo m en os (e n ão é p ou -co ), e scla re ce -n o s a ce rca d a s d ificu ld a d e s ta n to d e a p re se n tá -la co m o u m p ro b le m a – e stu d á ve l p e lo s d isp ositivos d as ciên cias em p írico-lógicas, qu an to d e assu m i-la com o u m m istério in son d ável, p róp rio d e p on tos d e vista irrem ed iavelm en te m etafísicos ou d e ou tros ‘terreiros’...

Lu is David Castiel

Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica Fu n d ação Oswald o Cru z

ATLAN, H., 1991. Tou t, Non , Peu t-Être – Éd u cation et Verité. Paris: Ed ition s d u Seu il.

H ORGAN, J., 1996. Th e En d of Scien ce. Ne w Yo rk: Broad way Books.

TRAUB, J., 1997. Th e Un k n ow n an d th e Un k n ow able. A Talk w ith Joseph Trau b. Ju ly 1997. <h ttp :/ / www. ed ge.org/ 3rd _cu ltu re/ trau b / trau b >

M EDICIN A BASEADA EM EVIDÊN CIAS. N O VO PARADIGM A ASSISTEN CIAL E PEDAGÓ GICO . José Paulo Drummond & Eliézer Silva. São Paulo: Editora Atheneu, 1998. 158 pp.

ISBN 85-7379-060-1

Em b o ra o texto em p a u ta esteja d irecio n a d o p a ra a a ssist ê n cia e fo rm a çã o m é d ica , a b u sca d e e vid ê n -cias é com u m ao con ju n to d a p rod u ção d o con h eci-m en to cien tífico. Já se fala d e u eci-m eviden ce based eci-m o-vem en tcom o essen cial ao con ju n to d as Ciên cias d a Sa ú d e, p a rticu la rm e n te n o q u e co n ce rn e à to m a d a d e d e cisõ e s p a ra a so lu çã o d e p ro b le m a s, se ja n a sa ú d e in d ivid u a l, o u co letiva . Em u m en fo q u e m a is restrito, in teressa-n os lem b rar, ain d a, q u e a m ed ici-n a b asead a em evid êici-n cias u tiliza vários p riici-n cíp ios e técn icas d a ep id em iologia, reforçan d o a im p ortân cia d a d ifu são e ap licação d a0q u ela n a p rática d os d ife-re n t e s p ro fissio n a is e n vo lvid o s co m a p ro m o çã o e p roteção à saú d e.

O livro está estru tu rad o em seis cap ítu los, ten d o sid o escrito p or d ocen tes/ p esq u isad ores com d iver-sificad a e am p la exp eriên cia u n iversitária, n acion al e in tern acion al. O cap ítu lo d e ab ertu ra b u sca d efin ir a m ed icin a b asead a em evid ên cias (MBE) e localizá-la e m u m a p e rsp e ctiva p a ra d igm á tica . Na d iscu ssã o con ceitu al, a MBE estaria, filosoficam en te, relacion a-d a com a ia-d éia a-d e certeza, m as é com o p on to a-d e vista d o ju lgam en to qu e ela tem m aior id en tid ad e, con for-m e d estaca o au tor: “evidên cias são dados e in forfor-m a-ções qu e com provam ach ados e su portam opin iões”. O n ovo p a ra d igm a p a ra m e d icin a te ria n a scid o co m o resp osta a três fatores: cu stos assisten ciais elevad os, m étod os p ed agógicos ob soletos, exten são e d iversi-d aiversi-d e iversi-d a p roiversi-d u ção cien tífica. Em b ora recon h ecen iversi-d o a im p ortân cia d a exp eriên cia clín ica e m esm o d a in -tu ição d iagn óstica, a n ova orien tação p arad igm ática d e m a n d a a u tiliza çã o d a s p e sq u isa s co n te m p o râ-n ea s, co m a s ferra m erâ-n ta s d a ep id em io lo gia clírâ-n ica , b ioestatística e in form ática m éd ica, com o in d isp en -sáveis ao p rocesso d ecisório.

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d e co n d e n sa r u m gra n d e vo lu m e d e in fo rm a çõ e s con ceitu ais/ op eracion ais (am ostra e p op u lação; p arâm etros e estim ad ores; testes d e sign ificân cia e in -tervalo d e con fian ça; p rob ab ilid ad e con d icion al, m e-d ie-d as e-d e valie-d ae-d e e-d e testes e-d iagn ósticos; razão e-d e ve-ro ssim ilh a n ça ; m ed id a s d e red u çã o d o s risco s etc.) to rn o u m a is d ifícil a su a co m p reen sã o p a ra o s ‘n ã o in iciad os’ n a ep id em iologia, exigin d o certam en te u m a p o io d o cen te p a ra evita r in terp reta çõ es e p rá tica s eq u ivo ca d a s d e u m leito r in exp er ien te. Perm ite, n o en ta n to, q u e os colega s d a ep id em iologia e b ioesta-tística selecion em com m aior facilid ad e o con teú d o m ín im o e a focalização n ecessária p ara cu rsos de cu r-ta d u ração, b em com o con h eçam / exp licitem em su as au las a term in ologia esp ecífica d essa ab ord agem d a p esqu isa b iom éd ica.

Os d iferen tes m eio s p a ra o b ten çã o d e d a d o s e a in terp reta çã o d a litera tu ra cien tífica sã o o b jeto s d o terceiro e q u arto cap ítu los. O u so d a in tern eté ap re-sen tad o d e form a extrem am en te ‘am igável’, e as d ire-trizes p ara u so d a in form ática m éd ica, seja p ara atu a-lização d o con h ecim en to, ou p ara tom ad a d e d ecisão, são exp licitad as com u m a sólid a argu m en tação. A lei-tu ra d o ca p ílei-tu lo q u e tra ta d o s critério s d e a va lia çã o d essa literatu ra, p ara a su a in terp retação e atrib u ição d e va lo re s, p e rm ite q u e se id e n tifiq u e m / p rio rize m evid ên cias com b ase em estu d os p rim ários (terap ia, d iagn óstico, risco e p rogn óstico) ou in tegrad ores (ar-tigo s d e revisã o e gu ia s p rá tico s). O q u in to ca p ítu lo com p lem en ta esta seq ü ên cia a o form u la r a s a p lica-ções d a p rop osta d e u m a m ed icin a b a sea d a em evi-dên cias, n a p rática clín ica e n o en sin o, com um a ab or-d a gem or-d ior-d á tico-p eor-d a gógica cla ra e con vin cen te em su as van tagen s.

No ú ltim o cap ítu lo, os au tores b u scam d efin ir os p assos m ais ad equ ad os ao p rocesso d e d elin eam en to d e u m a in vestigação clín icoep id em iológica, segu n -d o -d iferen tes ca tego ria s co m o : o b jetivo s -d o estu -d o, p o p u la çã o a lvo e p re cisã o d o s e stim a d o re s. Nova -m e n te, a a b o rd a ge -m co n d e n sa d a co -m p ro -m e te u -m p ou co a com p reen são, p articu larm en te ao se colocar em u m a m esm a tab ela d esen h os d e estu d os e técn icas d a an álise d e d ad os; p orém , rep resen ta u m gran -d e esforço -d e sistem atização.

O livro con stitu i, p ortan to, u m a in iciativa p ion ei-ra n o Bei-rasil, com o in tu ito d e d ifu n d ir a p rop osta d e m ed icin a b asead a em evid ên cias, o qu e já vem acon -tecen d o h á algu m tem p o fora d o País. Basta olh ar as vá ria s p u b lica çõ es d isp o n íveis n a litera tu ra estra n -ge ira e o cre sce n te vo lu m e d e a rtigo s so b re o te m a em revistas d e en orm e p restígio n o m eio m éd ico, co-m o o British Medical Jou rn al, o Lan cete o JAMA, p ara con statar o d esen volvim en to d a área. Por esse m oti-vo, d eve o livro aqu i ap resen tad o se con stitu ir em u m op ortu n o con vite à leitu ra, sob retu d o p ara p rofissio-n ais d e saú d e qu e rofissio-n ão terofissio-n h am tid o acesso a esta lite-ra tu lite-ra a té o m o m e n to. Ou a in d a , p a lite-ra a q u e le s co m p o u ca e xp e riê n cia n o u so d e re cu rso s d a in tern et, p ois facilita a id en tificação d e sitese d as d iversas fon -tes d e in form a ções sob re m ed icin a b a sea d a em evi-d ên cias, b em com o o acesso a eles.

Pa ra fin a liza r, ju lga ría m o s im p o r ta n te ressa lta r q u e a m ed icin a b asead a em evid ên cias n ão p od e ser to m a d a co m o p a n a cé ia p a ra re so lve r a s in ce rteza s té cn o -cie n tífica s n o â m b ito d a d e cisã o clín ica . Se, p o r u m la d o, lim ita o a u to rita rism o p e rso n a liza d o qu e trad icion alm en te caracteriza o en sin o e a p rática

m é d ica , co m o b e m le m b ra m o s a u to re s, p o r o u tro, correse o risco d e se atrib u ir exclu sivam en te aos en -saios exp erim en tais ran d om izad os a p ossib ilid ad e d e va lid a r e vid ê n cia s n o ca m p o d a sa ú d e, n o q u a l a m a ioria d os estu d os sã o d e n a tu reza ob serva cion a l. Esta ad vertên cia n ão d eve ser tom ad a com o u m a im -p ossib ilid ad e d e se -p recon izar o u so d a MBE em n osso cam p o d e atu ação, e, sim , a n ecessid ad e d e se in -crem en tar este m ovim en to em n ossos p rogram as d e en sin o-p esqu isa, a fim d e in corp orar con tin u am en te, em n ossos m od elos/ p ráticas assisten ciais, as m elh o-res (ain d a q u e in com p letas) evid ên cias p ara a Saú d e Pú b lica.

Zu lm ira Maria d e Araú jo Hartz & Evan d ro d a Silva Freire Cou tin h o Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica Fu n d ação Oswald o Cru z

BEYO N D ACCEPTABILITY: USERS’ PERSPEC-TIVES O N CO N TRACEPTIO N . T. K. Sundari Ra-vindran; Jane Cottingham & M arge Berer. Lon-don, 1997: Reproductive Health M atters and World Health Organization. 121 pp.

ISBN 0 9531210 0 3

Rep rod u ctive Health M atters a p re se n ta -se co m o “u m a revista com prom etida com a pu blicação de pes-qu isas orien tad as p ela ‘p ersp ectiva cen trad a n as m u lh eres’ (w om en -cen tered p ersp ectives*), n ão só n o cam p o d a con tracep ção m as em tod as as áreas rela-cion ad as à saú d e e aos d ireitos rep rod u tivos”. É u m a d as m elh ores e m ais con h ecid as p u b licações p rod u -zid a s p o r e p a ra m u lh e re s. É, d iga m o s cla ra m e n te, u m a revista fem in ista. Esta co-ed ição com a Organ i-za çã o Mu n d ia l d e Sa ú d e (OMS) sign ifica , n a m in h a o p in iã o, u m a va lo ro sa co n q u ista e u m re co n h e ci-m en to d a ici-m p ortân cia d a ab ord ageci-m d e gên ero p ara as qu estões e im p asses colocad os n o cam p o d a saú d e rep rod u tiva: este organ ism o in tern acion al, d e in d is-cu tível im p ortân cia n a d efin ição d e p olíticas e estra-tégias relacion ad as à saú d e d os p ovos d e tod o o p la-n eta, la-n orm alm ela-n te tão afeito a p osições la-n eu tras e or-tod oxas em cam p os n atu ralm en te ‘m in ad os’ p ela p o-lítica, p arece qu e resolveu sair ‘d e cim a d o m u ro’.

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se-xu alm en te, com o tam b ém d e ou tros fen ôm en os q u e a tin ge m a s m u lh e re s e m e sca la p la n e tá ria , co m o a gra vid ez a d o le sce n te, o a b o rto, a vio lên cia sexu a l e ou tros tan tos.

Assim , p rem id os p ela u rgên cia d e resp ostas e es-tra té gia s q u e co n tro le m e / o u m in im ize m o s d a n o s ca u sa d o s p ela s d esigu a ld a d es en tre o s gên ero s, ve-m o s h o je, se n ta d o s à ve-m e sve-m a ve-m e sa , p e sq u isa d o ra s e/ ou a tivista s fem in ista s e a u torid a d es d esses orga-n ism os, b u scaorga-n d o ju orga-n tos orga-n ovos coorga-n h ecim eorga-n tos (p ara eles, n ão p ara n ós!) q u e lan cem lu zes sob re os com -p lexos -p rocessos sociais, econ ôm icos, sexu ais e cu l-tu rais qu e in flu en ciam as tom ad as d e d ecisões d e h o-m en s e o-m u lh eres n o q u e d iz resp eito à con tracep ção e à p reven çã o d a s d oen ça s sexu a lm en te tra n sm issíveis. O q u e fica cla ro – e este é o fio co n d u to r d e to -d os os artigos -d a revista – é q u e “existem m u ito m ais coisas en tre o céu e a terra do qu e im agin a n ossa vã fi-losofia”. Sau d am os esse recon h ecim en to com otim is-m o e en tu sia sis-m o. Nã o é d e h oje q u e a s Ciên cia s So-cia is a p lica d a s à sa ú d e e a q u e la s(e s) q u e a d o ta m o en foqu e d e gên ero levan tam este d eb ate, con trap on -d o-se a u m a visão ob jetivista, p reten sam en te n eu tra, qu e red u z a su b jetivid ad e h u m an a ao com p ortam en to – ain d a h egem ôn ica, é b om lem b rar – e q u e, con -seq ü en tem en te, acred ita q u e u m a in form ação (n em sem p re) b em d ad a, u m m étod o oferecid o (q u an d o o é) e u m p o u co d e estím u lo (q u a n d o h á ) p o ssa m reso lver o s d ilem a s d e m u lh eres e h o m en s rela cio n a -d os à saú -d e rep ro-d u tiva e sexu al. A in corp oração -d o con ceito d e gên ero à área d e saú d e, sem d ú vid a, tem sid o fu n d am en tal p ara a d esn atu ralização e d esm is-tificação d essa com p reen são red u cion ista e in eficaz. Mu itos in d icad ores d em ográficos e d e saú d e n o Bra-sil são p rova cab al d o equ ívoco d essa visão.

En fim , a p u b lica çã o e m a n á lise, in titu la d a “Beyon d Accep tability: Users’ Persp ectives on Con tracep -tion’, só p o d e se r sa u d a d a p o r n ó s, q u e a tu a m o s (e m ilita m os) n o ca m p o d a sa ú d e e d os d ireitos rep ro-d u tivo s, co m o u m a in icia tiva im p o rta n tíssim a q u e p od erá ab rir n ovas p ersp ectivas p ara as p olíticas e es-tra tégia s d e sa ú d e q u e se d elin eia m p a ra o p ró xim o m ilên io.

Com o o p róp rio títu lo d a p u b licação exp licita, os artigos ab ord am e an alisam qu estões d e saú d e rep ro-d u tiva a p artir ro-d a aceitab iliro-d aro-d e p elos u su ár ios. Co-m o p on tu a Cottin gh aCo-m , n a ap resen tação d a revista, as p esq u isas sob re aceitab ilid ad e n o cam p o d a con -tracep ção sofrem , h istoricam en te, d e p rob lem as re-lacion ad os à clareza con ceitu al e, até recen tem en te, d e lacu n as n a com p reen são d o con texto d e vid a d as m u lh eres qu e in flu en ciam su as escolh as sob re m éto-d os con tracep tivos. Algu m as p esq u isaéto-d oras fem in is-tas, segu n d o ela, vêm p rob lem atizan d o a m an eira co-m o a aceitab ilid ad e teco-m sid o con ceitu alizad a e co-m ed i-d a. A crítica m ais com u m é a n ão con textu alização i-d a vid a d a s m u lh e re s e o im p a cto q u e o s se rviço s tê m sob re su as escolh as. Ou tras fazem ob jeções ao term o ‘p esq u isas sob re aceitab ilid ad e’, em razão d e su a afi-n id ad e com a liafi-n gu agem d os p rogram as d e coafi-n trole p op u lacion al, q u e en corajavam táticas p ara o recru ta m en to d e n ovo s a d ep to s p a ra o p la n eja m en to fa -m ilia r. Mu ita s, a in d a , cen tra -m o d eb a te n a q u estã o p olítica m ais am p la qu e qu estion a se u m n ovo m éto-d o se r ve a o s in te re sse s e stra té gico s éto-d a s m u lh e re s. Mais qu e se p reocu p ar se u m m étod o é aceitável p ara u m gru p o p a rticu la r d e m u lh eres, a lgu m a s a tivista s

e stã o p re o cu p a d a s se n ovo s m é to d o s a u m e n ta m o co n tro le d a s m u lh e res so b re su a s vid a s sexu a l e re -p rod u tiva, ou favorece o con trole d o sistem a b iom é-d ico sob re elas. Além é-d isso, h á a p reocu p ação com o crescen te risco d as m u lh eres p ara as DST/ HIV.

Essa s e o u t ra s – e xp lo siva s e p o lê m ica s – q u e s-tões sã o a p resen ta d a s e d eb a tid a s n os a rtigos d essa e d içã o. Co t t in gh a m a ssim d e fin e o e ixo ce n t ra l d a p u b licação: o qu e faz as p essoas escolh erem u m m ét o d o co n ét ra ce p ét ivo ? Pe rgu n ét a a p a re n ét e m e n ét e sim p les m as q u e en volve, com o verem os, im en sas com -p lexid ad es.

Tod os os artigos an alisam e/ ou ilu stram ab ord a-ge n s q u e p ro cu ra m re sp o n d e r à s q u e st õ e s so b re a regu la çã o d a fertilid a d e e o co n texto so cia l e sexu a l e m q u e e ssa se d á , co m b a se n a p e rce p çã o e n a vi-vên cia d e h om en s e m u lh eres. Exam in am fatores qu e in terferem em p or q u e e com o m étod os con tracep ti-vos sã o u sa d os. Con sid era m os va ria d os, d in â m icos e m u táveis relacion am en tos sexu ais en tre h om en s e m u lh eres, ten tam com p reen d er com o as p essoas p o-d em agir o-d iferen tem en te com o-d iferen tes p arceiros e, p or fim , com o as escolh as d as m u lh eres p ara se p ro-t e ge re m fre q ü e n ro-t e m e n ro-t e d e p e n d e m d a s a ro-t iro-t u d e s e d o ap oio (ou n ão) d e seu s p arceiros. In vestigam , ain -d a, algu n s -d os p recon ceitos qu e as m u lh eres têm so-b re se u s co rp o s e sa ú d e e o s va lo re s e m e d o s a e le s relacion ad os. Por fim , revelam q u e m u lh eres, n u m a m esm a com u n id ad e, p od em gostar ou n ão d os atri-b u to s d e u m m éto d o e o p ta r p o r ele o u rejeitá -lo, o q u e e xp lic it a a c o m p le xid a d e d a s q u e st õ e s a í e n -vo lvid a s.

As p esq u isa s q u e origin a ra m m u itos d os a rtigos foram realizad as em d iferen tes p aíses e con tin en tes e, p ortan to, p erm item -n os u m a con textu alização d as d iversid ad es cu ltu rais, econ ôm icas, étn icas e sexu ais. Algu m as in clu íram h om en s, geralm en te os p arceiros d as m u lh eres estu d ad as, o qu e reflete u m a ten d ên cia recen te d e se con sid erar o en volvim en to e a p artici-p a çã o m a scu lin a n a e sfe ra d a sa ú d e re artici-p ro d u tiva , o q u e é m u ito b e m -vin d o. Algu n s e stu d o s sã o m u lti-cên tricos, en volven d o u m a p op u lação d e estu d o b as-tan te sign ificativa.

So b re n ovo s m é t o d o s co n t ra ce p t ivo s, d e st a ca -se u m trab alh o realizad o n o Ch ile a resp eito d a u tili-zação d o an el vagin al d e p rogesteron a, in d icad o es-p ecia lm en te es-p a ra m u lh eres n o es-p ós-es-p a rto. Ain d a so-b re m étod os h orm on ais, u m d os artigos faz u m a re-visã o d o s e st u d o s so b re a a ce it a b ilid a d e d a q u e le s m a is u sa d o s n o s p ro gra m a s d e p la n eja m en to fa m i-lia r e e n u m e ra a s re st r içõ e s e m e d o s m a is co m u n s d a s m u lh e re s e m re la çã o a e sse s m é to d o s, a lé m d e ch a m a r a a te n çã o p a ra a s co n sta n te s m u d a n ça s d e su as n ecessid ad es em relação à regu lação d a fertili-d a fertili-d e, elu cifertili-d a n fertili-d o su a s e xp e riê n cia s, p re fe rê n cia s e p ráticas.

O tem a d a va sectom ia foi a b ord a d o em u m a rti-go, q u e a n a lisa , a tra vés d e estu d o m u lticên trico, o s fatores q u e in flu en ciam os h om en s n a op ção p or es-se m é to d o, a lé m d o p a p e l d e es-se m p e n h a d o p o r su a s p arceiras, e ap on ta p ara a n ecessid ad e e viab ilid ad e d e se d e se n vo lve re m e stra té gia s e d u ca cio n a is q u e m otivem m a is h om en s a con trib u írem p a ra a sa ú d e rep rod u tiva d o casal.

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tan to p elas m u lh eres, q u an to p or seu s p arceiros afe-tivo-sexu ais. Este estu do revela u m a im p ortan te qu es-tão, qu e p erp assa m u itos d os ou tros artigos: a im p ortân cia e o p ap el d os serviços d e saú d e n o acon selh a -m en to e n o su p orte a os u su á rios p a ra q u e os ob stá-cu lo s re la cio n a d o s à s e sco lh a s co n tra ce p tiva s p o s-sam ser su p erad os. Isso, p orém , n ão é tu d o: os p rofis-sio n a is d e sa ú d e p o d e m e d e ve m a p re n d e r co m a s m u lh eres sob re su as n ecessid ad es, levan d o em con ta qu e estas m u d am ao lon go d a vid a. E, n o n ível socie-tário, é essen cial en corajar a ap rovação social p ara as m u d an ças d esejad as, o qu e im p lica trab alh ar valores e id eologias q u an d o se alm eja a saú d e sexu al d e h o-m en s e o-m u lh eres.

Por fim , Berer, a ed itora d a revista, d iscu te em seu artigo a fu n d am en tal q u estão d a ‘d u p la p roteção’, ou seja , o ca m in h o p a ra o sexo segu ro p a ra m u lh eres e se u s p a rce iro s q u e e stã o e m risco p a ra a s DST, in -clu in d o o HIV, e a gra vid ez n ã o d eseja d a . Os p reser-va tivo s m a scu lin o e fe m in in o p ro m ove m a d u p la p roteção, m as a aceitab ilid ad e d esses m étod os leva a u sos in con sisten tes e irregu lares. Essa au tora con clu i sob re a im p ortân cia d e se d esen volverem n ovos m étod os qu e su p erem esses ob stácu los e ofereçam a d u -p la -p ro te çã o. Afin a l, n ã o -p o d e m o s m a is m a n te r a con tracep ção sep arad a d a p reven ção d as DST, o q u e lim ita, segu n d o ela, os esforços p ara in tegrar os con -ceitos e com p orta m en tos rela cion a d os à d u p la p ro-teção n a cu ltu ra sexu al.

Nã o p o d e m o s d e ixa r d e le m b ra r q u e e sta m o s, ain d a e m ais u m a vez, n o terren o p olítico, p ois in ves-tim en tos em n ovos m étod os e p esq u isas d ep en d em , acim a d e tu d o, d e d ecisão p olítica. E essa d ecisão n ão ‘cai d o céu’, com o revela a ep id em ia d e Aid s: p or qu e, a fin a l, a s p esq u isa s rela cio n a d a s à s esp ecificid a d es d a ação d o HIV n o corp o fem in in o ou sob re os efeitos d a s d ro ga s te ra p ê u tica s n a s m u lh e re s, o u m e sm o o in vestim en to em p rogram as p reven tivos voltad os p a-ra as m u lh eres m ais vu ln eráveis, são ain d a tão escas-sos? Por qu e a sob revid a d as m u lh eres con tam in ad as é tã o m e n o r q u e a d o s h o m e n s? As d e sigu a ld a d e s e in iq ü id ad es sociais e d e gên ero p ersistem , esp ecial-m e n te n o s p a íse s d o Te rce iro Mu n d o e n a s p o p u la-ções econ om icam en te m argin alizad as, tan to d e p aí-ses p ob res, qu an to d e ricos. E a lu ta con tin u a.

Assim , p ela d iversid ad e d os tem as tratad os, p ela ab ran gên cia d as p esqu isas qu e or igin aram os artigos d e ssa p u b lica çã o, p o r su a a b o rd a ge m co n ce itu a l e m e to d o ló gica e p e la im p o rtâ n cia d o s p ro b le m a s d ia gn ostica d os e d a s p rop osta s a p on ta d a s, a leitu ra d esse n ú m ero d e Reprodu ctive Health Mattersé reco-m e n d á ve l p a ra to d o s o s q u e e stã o co reco-m p ro reco-m e tid o s co m tra n sfo rm a çõ es n o ca m p o d a sa ú d e co letiva e, em p articu lar, d a saú d e rep rod u tiva. A títu lo d e con -clu são, lem b ro q u e n ós, p esq u isad ores, p rofission ais d e sa ú d e e / o u m ilita n te s d e m ovim e n to s d e sa ú d e, tem os m u ito a cam in h ar n esse cam p o. E, sob retu d o, te m o s m u ito a a p re n d e r co m o s a ssim ch a m a d o s u su ários, m u lh eres e h om en s qu e são os su jeitos con -creto s q u e esco lh em , u sa m e a b a n d o n a m m éto d o s con tracep tivos e d e p roteção con tra as DST – os q u e têm acesso a eles, é b om lem b rar –, p ois estes, q u an -d o ou vi-d os, revelam a com p lexi-d a-d e q u e essas q u es-tões assu m em n a vid a d as p essoas e d as socied ad es. Po rém , n ã o b a sta a in ten çã o d e o u vir, é n ecessá rio, com o m ostram os artigos d a revista, sab er p ergu n tar e, p rin cip a lm en te, sa b er in terp reta r o q u e é fa la d o.

Daí a im p ortân cia d o con ceito d e gên ero p ara a com -p reen são d a vid a sexu al e re-p rod u tiva d e m u lh eres e h om en s, con textu alizad o em su as d iversid ad es eco-n ô m ica s, so cia is e cu ltu ra is. Afieco-n a l, e sse co eco-n ce ito n a sce u d e u m m ovim e n to so cia l, o m ovim e n to d a s m u lh eres organ izad as n a lu ta p or seu s d ireitos, en tre eles o s Direito s Rep ro d u tivo s. O recen te reco n h eci-m en to d a ieci-m p ortân cia d a an álise p ela p ersp ectiva d e gên ero é resu ltan te d e u m lon go, agu errid o, e m u itas vezes d o lo ro so, p ro cesso d e lu ta e p a r ticip a çã o d a s m u lh eres n as m u itas in stân cias d a vid a social e p olí-tica , ta n to n o esp a ço p ú b lico, q u a n to n o p riva d o. A con statação, p or p arte d as in stân cias in stitu cion ais e p o lítica s, co m o a OMS, d e q u e u m a visã o e stre ita , b io lo giza n te, co m p o rta m e n ta lista e su p o sta m e n te ‘n e u tra’ n ã o te m tra zid o o s re su lta d o s e sp e ra d o s e n ecessários n o exp losivo cam p o d a saú d e e d os d irei-to s se xu a is e re p ro d u tivo s é co n q u ista im p o rta n te d essa lu ta.

Regin a Helen a Sim ões Barb osa Nú cleo d e Estu d os em Saú d e Coletiva Dep artam en to d e Med icin a Preven tiva Facu ld ad e d e Med icin a

Un iversid ad e Fed eral d o Rio d e Jan eiro

A ERA DO SANEAM ENTO. AS BASES DA POLÍTI-CA DE SAÚDE PÚBLIPOLÍTI-CA N O BRASIL. Gilberto Hochman. São Paulo: Editora Hucitec/ Anpocs, 1998. 260 pp.

ISBN 85.271.450-4

Na vésp era d o Natal d e 1919 – em m eio ao terror m o-tiva d o p ela s m o rtes d e m ilh a res d e vítim a s d a grip e esp an h ola, terror este qu e ch egou ao p on to d e levar a im p re n sa a su ge rir o a d ia m e n to (ja m a is o ca n ce la-m en to!) d o Carn aval d e 1920 –, o Plen ário d a Câla-m ara d e De p u ta d o s a p rovo u , p o r 112 vo to s a fa vo r e n e-n h u m co e-n tra , a cria çã o d o Dep a rta m ee-n to Na cio e-n a l d e Saú d e Pú b lica. Dep ois d e ráp id a votação n o Sen a-d o, a rea-d ação fin al a-d o p rojeto foi ap rovaa-d a n o p en ú l-tim o d ia d aqu ele m esm o an o. Criou -se, assim , u m ór-gão d o govern o fed eral, qu e exp an d iu em 1924, e qu e estaria coord en an d o e execu tan d o serviços d e san ea-m e n to ru ra l, d e p ro fila xia d a le p ra , d a sífilis e d e d oen ças ven éreas em 17 d as vin te u n id ad es d a fed e-ração, além d o Distrito Fed eral e d o Acre.

Em A Era do San eam en to, Gilb erto Hoch m an n os m o stra q u e a cria çã o d esse ó rgã o, d a legisla çã o q u e a m p a ro u su a a tu a çã o e a rá p id a e xp a n sã o d e se u s serviços sã o u m m a rco n o p rocesso d e form a çã o d o Esta d o b ra sileiro, “tal com o este viria a se con stitu ir n o pós-30”. Em ou tras p alavras, en tre as d u as p rim ei-ras d écad as d este sécu lo e o Estad o in au gu rad o p ela Re vo lu çã o d e 30, h a ve ria m a is e le m e n to s d e co n ti-n u id ad e d o q u e aq u eles já d em oti-n strad os p ela literatu ra co m re la çã o à p o lítica e co n ô m ica . Isto é , ta m -b ém n o q u e d iz resp eito à p resta çã o d ireta d e servi-ços n a área d e saú d e p ú b lica, o p rocesso d e exp an são d as fu n ções d o Estad o – típ ico d o sécu lo XX – n ão foi in au gu rad o n o Brasil em 1930: d eu -se com o resu lta-d o lta-d e u m in te n so m ovim e n to lta-d e re fo rm a e n tre o s an os 1910-1930.

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u m a etap a im p ortan te d a form ação d o Estad o b rasi-leiro em três dim en sões cru ciais: 1) a exp an são do p o-d er coercitivo o-d o Estao-d o sob re a socieo-d ao-d e, p assan o-d o a in terferir n a esfera d a con d u ta p rivad a, p or m eio d a im p osição d e regras d e com p ortam en to; 2) a exp an -são d as fu n ções d o govern o fed eral vis-a-vis os gover-n os estad u ais, p or m eio d a p egover-n etração territorial d a Un ião e 3) a exp an são d as fu n ções d o Pod er Execu tivo visavis o Pod er Legislatitivo, p or m eio d a am p lia -ção d as ativid ad es e d a b u rocracia d o p rim eiro.

En tre 1902 e 1909, so b a lid e ra n ça d e Oswa ld o Cru z n o com an d o d a Diretoria Geral d e Saú d e Pú b li-ca, p rod u ziram -se n o País u m a legislação e arran jos in stitu cion a is q u e fu n d a ra m a a u torid a d e sa n itá ria , con solid an d o a d im en são coercitiva d o p od er estatal (p. 95-110). Mas, até 1910, a exp an são d o p od er coer-citivo d o Estad o p erm an eceu “restrita à base territo-rial sobre a qu al o poder cen tral era capaz de legislar e agir, sem n egociar com os poderes locais” (p. 102), isto é, n o Distrito Fed eral e n o território d o Acre. A p artir d os an os 10, a q u estão fed erativa p assou a ser o ele-m e n to ce n tra l d a d isp u ta p o lítica e ele-m to rn o d e u ele-m p rojeto d e reform a san itária, sen d o esta a d im en são d e a n á lise so b re a q u a l Gilb erto Ho ch m a n se d etém m ais d etalh ad a e d etid am en te. Fin alm en te, a exp an -são d o Pod er Execu tivo, d im en -são ap en as m en cion ad a n o trab alh o, teria siad o u m resu ltaad o ad a im p lem en -tação d as d ecisões tom ad as n a vésp era d o Revéillon d a d écad a d e 20.

Assim , se “a Con stitu ição d e 1891 m an tevese in -tacta até a em en da con stitu cion al de 1926, n a prática estava sen d o reescrita ao lon go d a Prim eira Rep ú bli-ca, (...)” (p. 144). E, u m a vez d ecid id os e im p lem en ta-d os n ovos arran jos in stitu cion ais, “estavam lan çata-das as bases d e u m a con cen tração e cen traliz ação d o p o-der e de u m ativism o estatal n ão p revistos p elas elites n o m om en to do cálcu lo e da decisão de tran sferir ati-vidades para o poder cen tral” (p. 242).

Po ré m , co m o fo i p o ssíve l q u e isso o co rre sse n a ord em oligárqu ica d a Rep ú b lica Velh a? Com o foi p os-sível ap rovar u m a legislação e im p lem en tar u m a p o-lítica q u e co n tra ria va o s p rin cíp io s fe d e ra tivo s d a Co n stitu içã o d e 1891? Co m o fo i p o ssíve l a p rová -la , p or esm agad ora m aioria, em u m a aren a d ecisória d o-m in ad a p or rep resen tan tes d as oligarq u ias p olíticas estad u ais, ciosas d e su a au ton om ia region al e p riva-d a ? Po r q u e ra zã o e ste s m e sm o s re p re se n ta n te s te-riam au torizad o a criação d e órgãos e legislação q u e im p licariam a am p liação da au toridade do Poder Exe-cu tivo d a Un ião? Com o exp licar, p ortan to, q u e a d is-p u ta is-p olítica n o in terior d as in stitu ições d e u m a or-d em p olítica p au taor-d a p elos p rin cíp ios or-d o lib eralism o (à m od a d os coron éis) e d e u m fed eralism o au tárqu i-co ten h am d ad o origem a n ovas in stitu ições q u e via-b ilizariam a estatização e a n acion alização d a p olíti-ca d e saú d e p ú b liolíti-ca?

Gilb erto Hoch m an n os d em on stra qu e este fen ô-m en o – ap en as ap aren teô-m en te con trad itório – foi re-su ltad o, d e u m lad o, d a p ercep ção p or p arte d as eli-tes d a in terd ep en d ên cia crescen te d a vid a social ex-p ressa n a tran sm issib ilid ad e d as d oen ças e, d e ou tro lad o, d a con vergên cia em torn o d e u m p rojeto d e re-form a d os serviços d e saú d e p ú b lica, ob tid a ao lon go d a p rim eira d écad a, en tre as id éias d e u m a elite seto-ria l e os in teresses d a s elites p olítica s region a is. Ou , com o sin tetiza Gilb erto Hoch m an , a p ossib ilid ad e d e ap rovar e im p lem en tar u m a p olítica p ú b lica e n

acio-n a l d e sa ú d e acio-n o Bra sil d a Prim eira Rep ú b lica fo i re-su ltad o d o en con tro d a con sciên cia com o in teresse (Cap ítu lo 4).

Com efeito, o au tor d em on stra com o a em ergên -cia d a “con sciên -cia pú blica” sob re a resp on sab ilid ad e govern am en tal em saú d e foi resu ltad o d o su cesso d o m ovim en to san itarista d o in ício d o sécu lo em articu la r o “d iagn óstico d o p aís d oen te” à a u sên cia d o p o -d e r p ú b lico n o co m b a te à s “-d oen ças qu e p egam” –, p a rticu la rm en te, a crô n ica e gen era liza d a p resen ça d e e p id e m ia s e e n d e m ia s. Ta is m a le s p ú b lico s, ca -ra ct e r iza d o s p e la n ã o -e xclu sã o, a t in gir ia m igu a l-m en te ricos e p ob res, p or cau sa d a gen eralização d a in terd ep en d ên cia so cia l; a lém d isso, teria m co n se-qü ên cias sob re a cap acid ad e p rod u tiva d os trab alh d ores e sob re a in serção d o País n o com ércio in tern a-cion al. Assim , “o resu ltado m ais geral da sociabilida-d e gera sociabilida-d a p elo m icróbio sociabilida-d a sociabilida-d oen ça seria u m sen t im en to d e coim u n id ad e n acion al, associad o a d eim an -d a s p elo a u m en t o -d a s resp on sa bili-d a -d es -d o Po-d er Pú blico”(p. 59).

Tod avia, p ara além d o au m en to d o p od er coerci-tivo d o Esta d o q u e a p o litiza çã o d o fe n ô m e n o d a “doen ça qu e pega” im p licava, n as p rop ostas d o m ovi-m en to sa n ita rista d o s a n o s 10, a “in terd ep en d ên cia san itária d em an d aria a con stitu ição d e u m a au tori-d atori-d e cap az tori-d e im p lem en tar p olíticas em totori-d o o p aís, d escon h ecen d o as fron teiras estad u ais, sobre tod a a p op u lação, restrin gin do qu an do n ecessário a liberda-de in dividu al e o direito liberda-de p rop riedaliberda-de” (p. 82). Para este m ovim en to, o fato d e q u e a d oen ça n ão resp eita fron teiras d em an d aria a criação d e u m Min istério d e Saú d e Pú b lica, qu e cen tralizaria e u n ificaria as ações d o se to r. Po rta n to, o p ro gn ó stico a p re se n ta d o p o r aqu ela elite setorial desafiava a ordem p olítica e con s-titu cion al d a Rep ú b lica Velh a.

Se em 1910, a au torid ad e san itária b rasileira, ain -d a qu e restrita ao Distrito Fe-d eral, já h avia au m en ta-d o con sita-d eravelm en te seu p ota-d er coercitivo, isto é, já h a via cria d o regu la m en to s e in stitu içõ es p a ra fa zer cu m p rir as leis q u e restrin giriam o avan ço d a tran s-m issão d e d oen ças, a p ersistên cia d e en d es-m ias e ep i-d em ias n o território n acion al revelava q u e o arran jo in stitu cion al q u e p erm itia a ação volu n tária d os go-vern o s lo ca is era cla ra m en te in su ficien te. E en tre 1916 e 1920, a elite in telectu al in teressad a n a reform a d a sa ú d e p ú b lica n o Bra sil co n se gu iu in scre ve r a q u estão d a p en etração territorial d o Estad o n a agen -d a -d e refo rm a s -d o seto r sa ú -d e p ú b lica . Ma s, en tre a aceitação d a n ecessid ad e d e u m a reform a n a organ i-zação d a p restação d os serviços e a d efin ição d e seu co n te ú d o – isto é , d o n ovo a rra n jo in stitu cio n a l d a p o lítica d e sa ú d e p ú b lica –, te ria lu ga r u m in te n so p ro ce sso d e d e b a te s. En tre ta n to, e ra n o â m b ito d o Le gisla tivo q u e a d e cisã o d e ve ria se r to m a d a , visto q u e e ste e ra sim u lta n e a m e n te o ló cu s d a s d e cisõ e s acerca d as atrib u ições d a Un ião e p alco p rivilegiad o d e n egociação d os in teresses fed erativos.

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cálcu lo d as u n id ad es d ecisórias relevan tes com vistas à m a xim iza çã o d e se u s in te re sse s. Mu ito e m b o ra o au tor con sid ere qu e os in teresses econ ôm icos d as eli-tes exp ortad oras, a exp eriên cia d a tragéd ia d a m orte em m assa d as vítim as d e ep id em ias e en d em ias crô-n ica s, a ssim co m o o fa to d e q u e u m re p re se crô-n ta crô-n te d as oligarq u ias p eriféricas estivesse n o com an d o d o Execu tivo Fed eral em 1919, sejam elem en tos im p or-tan tes p ara a com p reen são d a ap rovação d e u m a re-fo rm a sa n itá ria , e ste s n ã o se ria m su ficie n te s p a ra com p reen d er p or qu e razão, d aqu ela con ju n tu ra p ar-ticu lar, em ergiu u m d esen h o d e p olítica p ú b lica q u e d aria origem a p olíticas cen tralizad as n o govern o fe-d eral. Na verfe-d afe-d e, a “coalizão p olítica qu e viabilizou a tran sferên cia de respon sabilidades para o poder cen -tral resu ltou de u m cálcu lo em torn o de cu stos e ben e-fícios da estatização e das regras qu e p residiriam essa tran sferên cia” (p. 239). Em virtu d e d a au sên cia d e u m m ovim en to d e b a se p o p u la r, esta co a lizã o era co m -p osta b asicam en te -p elas elites -p olíticas e seu s p re-sen tan tes e p or u m a elite setorial.

Se a cria çã o d e u m Min istério d e Sa ú d e Pú b lica en con trou in tran sp on ível resistên cia n as ban cadas de rep resen tan tes d as oligarq u ias estad u ais, u m a solu -ção d e com p rom isso p erm itiria a cria-ção d e u m De-p artam en to Nacion al de Saú de Pú blica qu e ‘au xiliaria’ os estad os m ed ian te con vên ios. Nestes con vên ios, o govern o fed eral ap ortava recu rsos h u m an os, in stala-ção d e cap acid ad e técn ica, con h ecim en to cien tífico, p o d er d e p o lícia e – n a p rá tica – gra n d e p a rte d o fi-n afi-n ciam efi-n to das ações em troca da su bordifi-n ação dos govern os locais à au torid ad e d a b u rocracia fed eral.

Esta fó rm u la p re se r va ria a a u to n o m ia p o lítica d o s e sta d o s, p o is ga ra n tia a p re rro ga tiva fo rm a l d a ad esão volu n tária d os govern os locais à p olítica fed e-ra l. Ela p e rm itiu sim u lta n e a m e n te q u e o s e sta d o s m ais p ob res fran qu eassem su as fron teiras p ara qu e a Un iã o a li a tu a sse com tota l in d ep en d ên cia em rela ção aos organ ism os locais, e qu e o Estad o d e São Pau -lo se m a n tivesse a u tô n o m o em rela çã o a o s ser viço s fed erais. Para os estad os q u e se avaliavam com o frá-geis d ia n te d a s cu sto sa s ta refa s sa n itá ria s im p o sta s p elas d im en sões d a “d oen ça qu e p ega” – n a verd ad e, a esm agad ora m aioria –, os cu stos d a p resen ça d o go-vern o fed eral seriam in feriores aos b en efícios d eriva-d os eriva-d e su a atu ação. Estes p assariam a atu ar segu n eriva-d o a “lógica de obter o m áxim o do poder cen tral” (p. 193). Para o Estad o d e São Pau lo, d otad o d e u m a cap acid a-d e técn ica q u e p recea-d eu h istoricam en te aq u ela cria-d a p ela Un ião, os cu stos cria-d e aceitar a p resen ça fecria-d eral eram p erceb id os com o su p eriores àq u eles d erivad os d e assu m ir d e form a au tôn om a a p restação d e servi-ço s. No e n ta n to, a n a cio n a liza çã o d o s se rviservi-ço s lh e p erm itiria m in im izar os cu stos d erivad os d o fato d e qu e a d oen ça n ão resp eita fron teiras. A fórm u la ‘con -vên ios’ p erm itia q u e São Pau lo cu id asse d e si e o go-vern o fed eral, d os d em ais. O “resu ltado foi o au m en to d a p resen ça d o p od er cen tral n os estad os, en qu an to São Pau lo im plem en tava su a própria reform a san itá-ria, a p artir d e 1917, p reservan d o-se d a in terven ção san itária da Un ião” (p. 211). Sim u ltan eam en te, o “Po-d er Pú blico se con stitu ía am p lian “Po-d o seu território, su as respon sabilidades e su a capacidade de im plem en -tar políticas san itárias” (p.188) e o “poder cen tral esta-beleceu u m a en orm e capacidade de defin ir e execu tar p olíticas d e largo alcan ce, a qu al, p elas su as caracte-rísticas in stitu cion ais, n ão teria con corren tes” (p. 205).

Po r su a excep cio n a l q u a lid a d e, A Era d o San ea-m en to é u ea-m a leitu ra o b riga tó ria p a ra to d o s a q u eles q u e se p reocu p am com os d ilem as con tem p orân eos d as p olíticas sociais n o Estad o Fed erativo Brasileiro.

Marta T. S. Arretch e

Un iversid ad e Estad u al Pau lista – Cam p u s Araraqu ara

* a ‘p ersp ectiva cen trad a n a m u lh er’ (wom en -cen te-red p ersp ective) é, n a d efin ição d as ed itoras d a revista, “aqu ela qu e olh a p ara as exp eriên cias, valores, in -form ações e qu estões p elo p on to d e vista d as m u lh e-res cu jas vid as são afetad as. Tal p ersp ectiva p erm ite id en tificar e com p reen d er as n ecessid ad es d e saú d e rep rod u tiva d as m u lh eres e, assim , avaliar e m elh orar as p olíticas e p ráticas existen tes”, o qu e é “ cru cial p ra se con qu istar a saú d e e os d ireitos rep rod u tivos p a-ra as m u lh eres”.

M EDIAR, M EDICAR, REM EDIAR – ASPECTOS DA TERAPÊUTICA N A M EDICIN A OCIDEN TAL. Jane Dutra Sayad. Rio de Janeiro: Editora da Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro, 1998, 196 pp.

ISBN 85-85881-441-0

Em te m p o s co m o o s vivid o s h o je, e m q u e m a is q u e n u n ca a id eologia d o con su m o ten ta con ven cer tod os d a s b e n e sse s d a e vo lu çã o te cn o cie n tífica , d e cu jo acesso d ep en d e a qu alid ad e d e vid a qu e se p od e d es-fru tar e à qu al, n o p lan o d as ciên cias b iom éd icas, u m d estaqu e crescen te é d ad o p ela m íd ia – e, d e fato, as-su m id o n a p rática p elo cotid ian o d e vid a d as p essoas – a o s su cesso s d a in d ú stria fa rm a cêu tica , a tu a is o u p re ste s a o co rre r, ce rta m e n te a p u b lica çã o d o livro q u e ora aq u i se com en ta rep resen ta u m su b síd io va-lioso à reflexã o crítica q u e se im p õe. Nessa p u b lica-çã o, h á gra n d e s te m a s e q u e stõ e s tra ta d o s, p a ra o s q u a is, p e lo m e n o s p a ra o s q u e n o s p a re ce ra m m a is im p ortan tes, con viria ch am ar a aten ção: A Med icin a en q u an to m escla d e arte e d e ciên cia; as b ases d a tra p êu tica com o sen d o, em m om en tos d istin tos, d eved oras d o Racion alism o e/ ou d o Em p irism o; em ou -tras p alavras, em relação a este ú ltim o, p od e o leitor acom p an h ar q u e resp osta à p ergu n tach ave foi sen -d o -d a-d a em relação a qu an to e até on -d e a terap êu tica foi, n o d ecorrer d a h istória, sen d o visu alizad a com o ativid ad e p ré-cien tífica, com fu n d am en tos essen cial-m en te ecial-m p íricos. Mescial-m o q u e aceitan d o o p rogresso d a in trom issão d e p arâm etros tid os com o cien tíficos n a p e sq u isa e n a p rá tica fa rm a co te ra p ê u tica a tu a l, q u a n to tem a in d a essa p rá tica a d ever a elem en to s, em su a essên cia, em p íricos?

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sécu lo p a ssa d o, q u e sã o, igu a lm en te, visu a liza d a s en -q u a n to rep ercu tem n o Bra sil, ta l co m o se reflete n o qu e se p u b lica n o País, ten d o sid o realizad a exau stiva b u sca n as revistas m éd icas d e m aior exp ressão en tre n ó s à é p o ca , e sp e cia lm e n te o s An ais d a Acad em ia Im perial de Medicin a, qu e, d ep ois d a Proclam ação d a Rep ú b lica, p assou a se ch am ar Academ ia Nacion al de Medicin a. Mais q u e tu d o, com b ase n essa revisão b i-b liográfica, p reten d eu -se traçar a trajetória evolu tiva, p articu larm en te a p artir d o sécu lo XVIII, d a b u sca, n o Brasil, d e u m a terap êu tica fu n d am en tad a n a ciên cia. Acom p an h a-se, assim , tan to o em b ate d as corren tes p revalecen tes e, d e algu m m od o, fu n d ad as em p res-su p ostos q u e gu ard avam forte op osição en tre si, rep resen tadas rep elo vitalism o e rep elo m ecan icism o, qu an to, m ais ad ian te, a form a com o foi receb id a ou recu -sa d a a te o ria m icro b ia n a d a s d o e n ça s, co m to d a a m arcan te in flu ên cia n o seio d a teoria e p rática m éd i-cas eu rop éia e fora d a Eu rop a, a p artir d as d u as ú lti-m as d écad as d o sécu lo p assad o.

Sem so m b ra d e d ú vid a , esta m o s d ia n te d e o b ra cu ja le itu ra e n riq u e ce – a lé m d e se r e xtre m a m e n te p rezerosa d e se fazer – sob retu d o p elo caráter exau s-tivo da revisão h istórico-evolu tiva realizada p ela au tora, p erm itin d o ao leitor situ arse n as gran d es corren -tes d e p en sam en to qu e estiveram su b jacen -tes à tera-p êutica ociden tal, in cluin do suas retera-p ercussões n a m e-dicin a brasileira a p artir de m eados do século p assado.

Pa rticu la rm en te estim u la n tes sã o a s co n sid era ções p resen tes n a terceira e ú ltim a p arte d o livro con -trib u in d o sob rem an eira p ara q u e o leitor ap rofu n d e u m a visão crítica d o p rocesso saú d e/ d oen ça, d e seu s d eterm in an tes e d a in terven ção sob re o m esm o.

Tal com o en fatiza m u i ap rop riad am en te a au to -ra, p ersistem , h oje, p rob lem as b ásicos d os terap eu tas d o sécu lo XIX, rela cio n a d o s a o q u a n to d e ‘a rte’ e d e

‘ciên cia’ existiria n a su a p rática. Além d a qu estão en -volvid a com o grau d e in trom issão d os com p on en tes ‘arte’ e ‘ciên cia’ p ara além d a terap êu tica, m as n a p ró-p ria Med icin a co m o u m to d o, crem o s serem o u tro s tem as fu n d am en tais, os q u ais p od eriam ser id en tifi-ca d o s co m o su b ja ce n te s à s m o tiva çõ e s d a a u to ra qu an d o d a seleção d o seu ob jeto d e estu d o (origin al-m en te p en sad o p ara su a tese d ou toral, eal-m b oa h ora, a go ra , p u b lica d a ) e p a ssíveis d e ser a ssim exp licita-d o s: Em q u e licita-d im en sã o a tera p êu tica teria b a ses ex-p licativas e/ ou ex-p ráticas n o racion alism o (ex-p ecu liar sis-tem atização teórica p ara exp licar a ação terap êu tica) e n o em p irism o (ação fu n d ad a n a exp eriên cia d os resu ltad os)? Qu al o en ten d im en to p ossível d a terap êu -tica co m o ciê n cia a p lica d a ? Qu a l o tip o d e e n vo lvi-m en to ou con trib u ição d as corren tes organ icistas ou vitalistas n a teoria e p rática terap êu ticas?

Co n sid e ra n d o a h ip e rva lo riza çã o a trib u íd a e m n o ssa so cie d a d e a o co n su m o e à id e n tifica çã o d o m esm o com o b em -estar e a felicid ad e, com o con sq ü en te ca rá ter d e resp o n sá vel p ela vivên cia d e m e-lh or n ível de saú de ou torgado ao m edicam en to, con s-titu ir-se-ia talvez u m a lacu n a o n ão-ap rofu n d am en to m aior n a q u estão d a m ed icalização e d o q u an to esse fen ôm en o – e o u so q u e, ao fim e ao cab o, é d ad o ao m ed ica m en to – tem rela çã o co m p rá tica s co n d en á-veis da in dú stria farm acêu tica. Con tu do, p or m ais qu e se ja m im p o rta n te s e p a ssíve is d e co n te xtu a liza çã o n as con sid erações d o livro ora com en tad o, esses as-p ectos m u i as-p rovavelm en te n ão se in seriam n os as-p ro-p ósitos m aiores d o estu d o, ao fin al tão com ro-p eten te-m en te realizad o, n as d ite-m en sões e alcan ces p en sad os p ela au tora.

José Au gu sto C. Barros

Referências

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