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Conferência de Kaesong

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Academic year: 2021

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GUIA DE ESTUDOS

Conferência de

Kaesong

GUERRA DA COREIA

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GUIA DE ESTUDOS

XI MODEP

Décimo Primeiro Modelo Diplomático da Escola Parque

Guerra da Coreia

Conferência de Kaesong

Elaboração

Fernando Alves

João Victor Bernardino

Lucas Cittadino

Pedro Alberto

Pedro Amorim

Gabriel Trevisan

João Abdalla

Leandro Rebelo

Pedro Lisboa

Rodrigo Palmeira

Sofia Lobo

André Rennó

Orientação e Edição

João Paulo Carvalho

Thiago Süssekind

Diagramação

Rafael Miranda Bressan

Mayra Leandro de Assis

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Sumário

1 - Carta aos Delegados 4

2 - Contextualização Histórica da Península Coreana 6

2.1 - Império Coreano (1897-1910) 6

2.2 - Ocupação Japonesa (1910-1939) 7

2.3 - Península Coreana na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 8

3 - Divisão da Coreia e Antecedentes da Guerra (1945-1950) 10

3.1 - A Divisão da Coreia (1945-1949) 10

3.2 - Revolução Chinesa (1945-1949) 12

3.3 - Incitação do Conflito (1950) 13

4 - Estágios iniciais da Guerra da Coreia (Junho 1950 - Março 1951) 15

4.1 - Ofensiva norte coreana (Junho 1950 - Setembro 1950) 15

4.2 - Resposta das Nações Unidas (Setembro 1950- Outubro 1950) 17

4.3 - Intervenção chinesa (Outubro 1950- Março 1951) 18

5 - Situação Atual 21

5.1 - Resposta das Nações Unidas e Equilíbrio de Forças (Março-Julho) 21

6 - A Conferência 26

6.1 - Status da Conferência 26

6.2 - Tópicos a serem debatidos 26

6.2.1 - Situação de Prisioneiros de Guerra 26

6.2.2 - Elaboração e supervisão do armistício 26

6.2.3 - Reunificação da Península Coreana 27

6.2.4 - Envio de ajuda humanitária 27

6.2.5 - Envio de aparato militar 27

6.2.6 - Reconstrução da Península coreana no pós-guerra 28

6.2.7 - Tropas estrangeiras na Península da Coreia 28

6.2.8 - Dano colateral, sofrimento desnecessário pelo uso de determinados armamentos e crimes

de guerra 28

7 - Posicionamento dos Países 28

7.1 - Estados Unidos da América 29

7.2 - Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte 29

7.3 - República da China 30

7.4 - República da Coreia 31

7.5 - República Francesa 32

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7.8 - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 33

8 - Referências Bibliográficas 35

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1 - Carta aos Delegados

Caros delegados,

Pouco do que há é mais satisfatório que um bom modelo diplomático. O aroma de um envelope de cromos recém comprado na banca de jornal; o fechar da porta depois de chegar em casa a pé num dia bem chuvoso; o contato com uma chapa de Raio-X. Sem dúvida, tratam-se de componentes da experiência sensorial que variam em significação de um indivíduo para outro. Contudo, seria necessário o emprego de um agudo esforço mental, ou algum mau-caratismo, para que se conceba uma atividade mais universalmente arrebatadora, entre os que já a puderam experimentar, do que um comitê bem simulado.

À última frase segue-se a deixa de que uma boa experiência de simulação pressupõe alguma responsabilidade do leitor. O pré-requisito para o bom funcionamento de um comitê é a aplicação de uma certa carga de esforço por parte da Organização, o que, recusando a frivolidade da modéstia, já foi feito, e segue no processo de sê-lo. Os senhores, ao adquirirem o pacote da Experiência Completa da Guerra da Coreia, se presentearam com a oportunidade de melhorar suas qualidades de vida, consequência direta de secreções hormonais liberadas por causa de bons momentos, ou por subsequentes lembranças de um feriado que poderão ser rememoradas com fruição. Mas, ao mesmo tempo, assumiram a difícil tarefa de colaborar com a felicidade própria e coletiva ao propiciar a si e aos co-inscritos um convívio que encerra, necessariamente, um mínimo de preparo e dedicação prévia para que cada momento presente, na simulação, seja vivido com uma confiança solidamente fundamentada nas ferramentas e recursos desenvolvidos durante o período de preparo. Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades (LEE, 1962). Passada a fase de preparo, no entanto, os delegados podem esperar o melhor dos am- bientes. Uma escola de tranquilidade bucólica, diretores cujas qualidades é possível, porém uma tarefa hercúlea, expressar sem escorregar dos padrões acadêmicos, e a expectativa da construção de novas amizades. O modelo é receptivo ao extremo com participantes que nunca simularam, o andamento dos comitês é leve e a facilidade é considerável de se encontrar alguém disposto a tirar dúvidas. Mais importante que o destino, o caminho é altamente desfrutável, e é dele que se trata toda a exótica experiência do comitê ora escolhido.

Seja na experiência quase lúdica, quase RPG-ística, quase performática dos gabinetes, cuja dinâmica é mais fluida e de caráter até certo ponto improvisacional; seja na investida mais inclinada para o lado insosso da Conferência (se o encarregado de redigir o presente documento fosse um diretor desta, talvez lhe fossem dedicados adjetivos diferentes), o delegado tratará de um tema muito instigante, ao qual se adiciona ainda a volúpia do desconhecido, o desejo do mistério, o charme adquirido por ser um tema frequentemente marginalizado e em geral pouco comentado durante o ensino médio. Embora a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria sejam assuntos re- correntes, episódios para os quais elas serviram de importantes panos de fundo, principalmente quando ocorridos no Oriente, são propensos a ser ignorados. A própria falta de conhecimentos

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facilmente colocados à disposição sobre, por exemplo, a fascinante Coreia do Norte, colabora com a aura de curiosidade que enriquecerá ainda mais a experiência — já se fez notar que em tempos de capitalismo humano, colaboradores e workshops esse termo é de suma importância.

Os delegados podem se tranquilizar pois estarão amparados por uma segura logística de cooperação entre comitês e terão a disposição toda a aparelhagem técnica necessária para simular as consequências das tomadas de decisão dentro do comitê, garantida a interatividade entre decisão tomada e retorno, que influenciará diretamente as futuras situações, que exigirão novas intervenções, e assim sucessivamente.

Por último, e certamente mais importante, lembramos sobre a responsabilidade de cola- boração com a felicidade geral, e por isso não serão aceitos quaisquer desvios de conduta tais como racismo, machismo, LGBTfobia em nenhuma de suas formas. Principalmente na dinâmica de funcionamento do gabinete, deve-se tomar muito mais cuidado com o respeito à isonomia no direito de fala do outro, e qualquer um que se sentir prejudicado poderá falar com algum membro do Secretariado ou da Comissão Inclusiva e as devidas providências serão tomadas.

Muito ansiosos e empolgados para conhecer cada um dos senhores nesse modelo incrível e elevarmos todos nossa qualidade de vida com vários bons momentos e memórias coletivas,

Seus Diretores,

Fernando Alves João Victor Bernardino Lucas Cittadino Pedro Alberto Pedro Amorim Gabriel Trevisan João Abdalla Leandro Rebelo Pedro Lisboa Rodrigo Palmeira Sofia Lobo André Rennó

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2 - Contextualização Histórica da Península Coreana

2.1 - Império Coreano (1897-1910)

Até o fim do século XX, o Reino da Coreia era um “estado cliente” do governo chinês, devendo uma relação de quase vassalagem a este. No entanto, a ascensão nipônica e a crescente tensão entre Japão e China pelo controle da Península resultaram na Primeira Guerra Sino- -Japonesa, entre julho de 1894 e abril de 1895. O Japão pós Restauração Meiji saiu vitorioso, derrotando um Império Chinês, sob comando da dinastia Qing, que havia falhado na sua tenta- tiva de modernização militar. No Tratado de Shimonoseki, assinado no fim da guerra, a China reconhecia a independência da Coreia (o que na prática significava influência japonesa), cedia ao Japão a posse de porções de seu território, como Taiwan e parte da península Liaodong, e se comprometia a pagar uma multa.

A decadência do Império da dinastia Qing, no entanto, não era parte dos planos de seus aliados. A Rússia, com o apoio da França e da Alemanha, conseguiu reverter algumas medidas acordadas em Shimonoseki, forçando, por exemplo, a devolução de Liaodong à China. Com isso, o governo de São Petersburgo aumentava sua influência no Oriente, preenchendo o vácuo de poder resultante do enfraquecimento de Pequim. O governo coreano, da dinastia Joseon, era contrário à influência japonesa em seu território, e logo a Rússia substituiu a China como prin- cipal aliado do gabinete do Rei Gojong na resistência contra o Japão.

Em outubro de 1895, o embaixador do Japão na Coreia orquestrou o assassinato da esposa do Rei Gojong, a rainha Min, figura importante na luta contra a influência japonesa. Como resultado, a família real refugiou-se junto à legação russa em Seul, iniciando um período de antagonismo à influência japonesa. Enquanto a classe política coreana se dividia entre a mo- dernização e o sentimento antinipônico, Gojong, pressionado interna e externamente, acabou por decidir proclamar independência, autodeclarando-se o Imperador Gojong do Grande Império Coreano; assim, terminava a subserviência à China e tinha início a Era Gwangmu.

Nesse período, a independência deu voz aos políticos e intelectuais que defendiam a mo- dernização, baseando-se no modelo de sociedade ocidental. Missionários americanos ajudaram a ocidentalizar a Coreia com melhorias na área da saúde e com a educação ocidental de meninas, até então excluídas do sistema educacional. Os reformistas moderados conseguiram que fosse implementada a Reforma Gwangmu – um exemplo de “modernização conservadora”, em que avanços econômicos coexistiram com a supressão da democracia e de liberdades tradicional- mente ocidentais. Ela consistiu na revisão do sistema de propriedade de terras, na introdução e incentivo à indústria e às inovações tecnológicas, e na modernização da infraestrutura urbana. Em 1900, todos os oficiais civis já usavam uniformes ocidentais e, alguns anos depois, isso também se aplicaria a policiais e soldados coreanos.

Outro aspecto muito importante da Reforma Gwangmu foi a forte militarização, que

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soldados em pouco mais de dez anos. Tal influência, no entanto, não duraria muito. A vitória do Japão na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), seguida de acordos entre Japão e Rússia e Japão e Coreia (este, com a assinatura forjada do Imperador Gojong), estabeleceu oficialmente a Coreia como protetorado do Japão.

Contrário a essa perda de soberania, Gojong enviou cartas secretas solicitando ajuda diplomática externa, mas foi essa a sua ruína: em 1907, o governo japonês descobriu a resis- tência do imperador e o forçou a abdicar, dando lugar a seu filho, Sunjong. Além disso, seus pedidos de reconhecimento da soberania foram ignorados pela comunidade internacional, que, no contexto do colonialismo, enxergava como natural, e até saudável para o ocidente, a dominação japonesa na península coreana.

Em 1910, um tratado forçado estabelecia a anexação da Coreia por parte do Japão, e dando fim ao breve Império Coreano.

2.2 - Ocupação Japonesa (1910-1939)

Durante a ocupação japonesa, o governo coreano ficava a cargo de um Governador-Geral, escolhido pelo Imperador do Japão. Nesse período de domínio, Tóquio passou a incentivar a emigração de japoneses para os territórios conquistados, tendo em vista que as ilhas nipônicas já eram consideradas superpopulosas. Devido a essa circunstância mais de 170 mil pessoas chegaram ao território coreano, onde adquiriram grandes áreas de terra.

Algumas reformas econômicas importantes foram realizadas nessa época, havendo um processo de industrialização considerável especialmente na parte norte do território, enquanto ao sul diversas terras foram ocupadas para a prática da agricultura pelos japoneses. Apesar de praticamente todas empresas e indústrias serem de posse dos colonizadores, houve um expres- sivo desenvolvimento da infraestrutura de transportes nesse período, com a criação de portos e ferrovias, especialmente no Norte.

A tradição coreana foi severamente atacada durante esse período. Redes de transporte e comunicação ao estilo ocidental foram instaladas por todo o país para que o Japão se beneficiasse de recursos e força de trabalho. Estabeleceu-se um sistema bancário, com a abolição da moeda coreana anteriormente em voga, a influência da dinastia Joseon foi removida e parte do palácio foi destruída, dando lugar ao prédio administrativo do governo.

Seguiram-se à morte do ex-Imperador Gojong, em 1919, diversos protestos do povo core- ano contra os interventores japoneses. Inspirados pelo discurso do presidente dos EUA Woodrow Wilson em favor da autodeterminação dos povos, mais de dois milhões de coreanos foram às ruas pacificamente, muitos deles reprimidos com violência – estima-se que tenha havido sete mil cidadãos mortos pela polícia e pelo exército. O movimento ficou conhecido como Movimento de 1º de Março. Nos acontecimentos que se sucederam ao movimento, foi estabelecido em Xangai, na China – cujo governo era contrário à política expansionista do Japão –, o Governo Provisó- rio da República da Coreia, um governo em exílio parcialmente reconhecido. Para ocupar o cargo de Primeiro Ministro, escolheram o ativista e diplomata Syngman Rhee. A Batalha de

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Chingshanli, em 1920, e uma emboscada realizada à liderança militar japonesa na China, em 1932, figuram entre as principais realizações do governo provisório, que liderou a resistência armada ao domínio japonês.

Movimentos anti-nipônicos persistiram, como o levante de estudantes que ocorreu 1929, o que levou o governo de Tóquio a aumentar a rigidez da abordagem militar. Complicações como a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial lançaram o Império em uma tentativa desesperada de destruir a nação e a identidade coreanas. Frequentar templos xintoístas se tornou obrigatório. A cultura coreana, em qualquer de suas formas de expressão, passou a ser proibida: o currículo escolar previa a eliminação do ensino da língua e da história coreanas, a primeira tendo sido criminalizada. A população teve que adotar nomes japoneses e a liberdade de imprensa deixou de existir completamente. Artefatos culturais foram massi- vamente destruídos ou expatriados.

2.3 - Península Coreana na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Com o advento da Segunda Grande Guerra e a formação do Eixo, o Império Japonês, já em estado de guerra com a República da China desde 1931, passou a investir contra diversos territórios asiáticos, como os de posse da Coroa Britânica. Apesar de o conflito com a China datar desde 1931, é aceito pelos historiadores que a Segunda Guerra Mundial Asiática teve início de fato em 1941 com a invasão japonesa de territórios britânicos como Hong Kong, Malásia e Singapura. Devido ao número de campanhas militares realizadas pelos japoneses, toda produção e população coreanas voltaram-se a atividades econômicas ligadas diretamente ou indiretamente à guerra, visando a sustentar os esforços nipônicos no conflito.

O intenso ataque do Japão à cultura da península já vinha causando a emigração de muitos coreanos. Quando, então, começou a faltar força de trabalho nas Ilhas Japonesas devido à convocação para a guerra, coreanos começaram a ser levados à metrópole para trabalho forçado, resultando em mais de 2 milhões de coreanos no país, entre imigrantes e trabalhadores forçados. Desses 2 milhões, cerca de 670 mil foram inscritos pela Lei de Mobilização Nacional, documento que determinava a conscrição obrigatória dos súditos do Imperador. Além disso, outros 4 milhões e 730 mil de coreanos foram inscritos no programa e utilizados como mão de obra escrava na própria península coreana ou na Manchúria. Dos que foram alocados para o Japão, 60 mil morreram devido às condições insalubres a que eram expostos. Dos alocados na própria Coreia, estima-se que tenham vindo a óbito entre 270 mil e 810 mil.

Coreanos de etnia não foram forçados a se alistar no exército japonês durante a guerra, pelo menos até 1944. Até lá, contudo, é curioso notar que o número de interessados no alistamento – que, embora não obrigatório, era permitido – aumentou de 3 mil em 1938 para 300 mil em 1943. O alistamento obrigatório passou a ocorrer em setembro de 1944, quando todos os coreanos do sexo masculino foram forçados a se juntar ao exército japonês ou trabalhar na indústria bélica.

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Houve ainda violência sexual contra centenas de milhares de mulheres coreanas. Análises conservadoras indicam que 200 mil delas foram levadas ao Japão, junto com mulheres de outros países dominados pelo Império, para serem prostituídas em bordéis que serviam aos soldados em postos de guerra. Relatos de sobreviventes apontam para um número entre 29 e 40 homens pelos quais elas eram violentadas por dia. (UN, 1996)

Enquanto isso, a China se provou muito colaborativa com o governo em exílio coreano. Isso foi facilitado porque este aceitou se alinhar com diversas diretrizes ideológicas do governo chinês, o que fez com que a China tentasse obter reconhecimento internacional para o governo provisório e definisse como diretriz para sua política externa em relação à Coreia o total apoio à sua independência.

No dia 10 de dezembro de 1941, em Chongqing, na China, o Governo Provisório da Coreia declarou guerra ao Japão. O grupo havia formado o Exército de Libertação da Coreia, que no futuro viria a liderar a Coreia do Sul, e naquele momento se uniu ao Exército Nacional Revolucionário Chinês1 para lutar contra o Japão. Ao mesmo tempo, em Yenan, fora do alcance do governo provisório, Kim Il-Sung formou um exército de viés comunista, partindo de apenas 1000 comandados, que posteriormente haveria de se tornar o Exército Popular da Coreia e serviria de base para as forças militares da República Popular Democrática da Coreia.

1 Apesar do nome, é interessante observar que o Exército Revolucionário Chinês era o braço armado do governo da República da China, ou seja, do Guomintang, e não, como se pode pensar pelo nome da instituição, do Partido Comunista Chinês, cujo exército atendia pelo nome de Exército Vermelho da China e, depois, de Exército da Libertação Popular Chinês.

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3 - Divisão da Coreia e Antecedentes da Guerra (1945-1950)

3.1 - A Divisão da Coreia (1945-1949)

Devido à política imperialista japonesa, até a Segunda Guerra Mundial a Coreia fazia parte do domínio colonial nipônico. Todavia, em 1943 os Aliados e a China de Chiang Kai-shek determinaram, na Conferência do Cairo, o futuro das colônias nipônicas, declarando que “no devido tempo a Coreia deverá tornar-se livre e independente”. Logo, providências seriam tomadas para a Independência coreana, mas não antes do fim definitivo da Grande Guerra.

Nas conferências de Teerã (1943) e Yalta (Fevereiro de 1945), a União Soviética afirmou que entraria na Guerra do Pacífico auxiliando os Aliados a partir do momento que a guerra euro- péia tivesse seu fim. Na Conferência de Potsdam, realizada para resolver a situação da Alemanha após a vitória dos países aliados no Teatro Europeu, houve também uma declaração conjunta realizada extraoficialmente por parte de China, Reino Unido e Estados Unidos demandando que o Japão se rendesse. Os japoneses no entanto, deram uma resposta negativa ao ultimato levantado e a Guerra no Pacífico se perpetuou por mais alguns meses.

Assim, os Estados Unidos, que já encontravam certa resistência da população à extensão demasiada da Segunda Guerra Mundial, lançaram, no dia 6 de Agosto de 1945, uma bomba atômica sob a cidade de Hiroshima no Japão. Com isso, visavam a dar um rápido final ao con- flito e a demonstrar sua superioridade bélica ao restante dos países do globo. Dois dias após o evento, entretanto, a União Soviética se aproveitou do enfraquecimento evidente do Império Japonês, declarou guerra aos nipônicos e lançou uma ofensiva ao norte da Península Coreana, conquistando rapidamente a porção superior do território.

A movimentação dos soviéticos não era esperada pelos Estados Unidos, que se mostraram extremamente apreensivos com a possibilidade da Coreia ser totalmente ocupada pelos sovié- ticos, visto que os americanos ainda não haviam iniciado uma ofensiva à península. Por conta disso, foi solicitado com urgência que dois oficiais do exército norte americano – até então sem conhecimento da geografia do país – determinassem qual seria a zona de ocupação dos Estados Unidos na Coreia. Devido a essa ignorância, o paralelo 38° N foi selecionado como divisória, visto que dividia o território da Coreia em duas partes praticamente iguais.

Os soviéticos aceitaram a proposta de divisão do território por parte dos Estados Unidos e, com isso, completaram sua ocupação até o paralelo 38° N. Da mesma forma, tropas americanas lideradas pelo general Douglas MacArthur invadiram o sul da Península e iniciaram sua ocupação. Essa divisão foi oficializada na declaração de rendição dos japoneses, com o estabelecimento de dois protetorados na Coreia por um período de 5 anos. A porção setentrional ficou sob tutela sovi- ética, enquanto o sul foi entregue à supervisão americana. Ao final desse período, ficou acordado que haveria uma eleição geral e a subsequente unificação da Coreia em um único Estado soberano.

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Mapa: a divisão da Península da Coreia entre EUA e URSS.

A Coreia já dispunha de um aparato governamental próprio datado do início da exploração colonial japonesa, o Governo Provisório, criado para atuar como forma de resistência aos abusos da metrópole. Apesar de já estar solidificado desde 1919, tanto os EUA quanto a URSS descar- taram a possibilidade de instalá-los no poder. Para os americanos, suas posições nacionalistas e anti-imperialistas significavam uma afinidade visceral ao discurso comunista. Os soviéticos, por sua vez, acreditavam na superioridade do modelo stalinista, compreendendo que essa seria forma única de governo capaz de fazer uma nação prosperar e, portanto, visando a instalar um Estado fiel a seus princípios no país. Dessa forma, fica evidente que a disputa pela influência na configuração do estado moderno coreano seria acirrada.

O sistema de protetorados foi acordado então entre as partes, acompanhado do estabe- lecimento de uma Comissão conjunta entre Estados Unidos e União Soviética para administrar a Península e levar o país em direção à unificação, passados os cinco anos do período de tutela. No entanto, como esperado, a polarização exacerbada da Guerra Fria impediu a eficácia da administração desta comissão, que se reuniu em 1946 e 1947 mas não obteve nenhum sucesso. Inicialmente, a diferença entre os regimes políticos das porções Norte e Sul fez com que grande

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parte da população se deslocasse para a região com ideais que se aproximassem aos seus, porém no ano de 1946, a movimentação de pessoas no Paralelo 38° N passou a ser proibida e somente seria plausível com a autorização dos governos ocupantes.

3.2 - Revolução Chinesa (1945-1949)

Para compreender o contexto da Revolução Chinesa, é preciso voltar atrás na história e conhecer o passado recente da China. Assim, devemos atentar para a atuação britânica no país, que entrou em profunda expansão no início do século XIX. Planejando expandir sua zona de influência comercial no continente asiático, o Reino Unido buscava lucrar com a comercialização e o tráfico em larga escala de ópio para a China. Banido desde 1729, esse alucinógeno gerou um problema de saúde pública imenso para o governo chinês que, como forma de retaliação, passou a punir duramente o contrabando. Os ingleses viram essa ação como uma afronta ao livre comércio e prejuízo à propriedade privada dos comerciantes britânicos.

Dessa forma, iniciou-se o conflito conhecido como Primeira Guerra do Ópio, em 1839. À vitória britânica, sucederam-se inúmeras outras investidas europeias na China, todos coro- ados pelos chamados “tratados desiguais”, que culminaram na cessão de portos e privilégios comerciais às potencias imperialistas. O primeiro desses, acordado em 1942 por ingleses e chineses, foi o Tratado de Nanquim, que determinou, entre outras medidas, a cessão do terri- tório de Hong Kong à Coroa Britânica.

A subserviência e a incapacidade de lutar contra o domínio ocidental gerou o engrandeci- mento da insatisfação popular, como atestado por inúmeras revoltas como a dos Taiping (1850-64) e a dos Boxers (1899-1901). Esse contexto culminou com o surgimento de movimentos de cunho nacionalista e republicano. Em 1911, a monarquia chinesa foi deposta pelos antimonarquistas do Guomindang, porém a aristocracia – altamente militarizada e liderada por “senhores da guerra” que ainda desfrutavam do apoio do exército chinês – não aceitou a proclamação da república, fragmentando a nação e dando início uma guerra civil pelo controle político do país.

Ao mesmo tempo, ao passo que a Revolução Russa de 1917 reverberava mundo afora, alguns chineses inspiraram-se no movimento socialista e criaram o Partido Comunista Chinês, em 1921. Ele era dividido em duas grandes alas de atuação: urbana e rural.

A fim de findarem a guerra civil e evitar o possível retorno da monarquia, Guomindang e PCC formaram uma aliança militar para vencerem os “senhores da guerra” da aristocracia chi- nesa. Após o sucesso republicano, uma nova guerra civil teve início entre os dois grupos: PCC contra Guomingang. Mesmo com a invasão japonesa à Manchúria, os dois partidos recusaram a formar uma fronte comum nos primeiros anos de conflito.

Nesse cenário de dupla ameaça, o núcleo urbano do PCC foi aniquilado, sobrando apenas poucas vertentes do PCC rural sob liderança de Mao Tse-tung, que migrou para o norte do país e formou um governo local de caráter comunista. Apesar de seu contingente de adeptos ser ini- cialmente baixo, o ódio popular à dominação japonesa e descontentamento com a “aliança” entre

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Guomindang e aristocracia chinesa – manobra política para tentar vencer o Império Nipônico, mas, em troca, com a garantia da manutenção de privilégios e da negação de qualquer forma de reestruturação ou reforma agrária – acarretou na adesão maciça ao Partido Comunista.

A declaração de guerra da União Soviética contra o Japão, em 1945, ajudou indiretamente a China a debelar a ameaça japonesa e focar os esforços do Guomindang e do PCC exclusiva- mente na guerra civil. No entanto, a URSS também favoreceu o lado comunista, com os oficiais entregando armas apreendidas aos japoneses aos rebeldes do PCC e buscando auxiliá-los a tomar controle sobre as áreas liberadas após a expulsão nipônica.

Quatro anos depois, o Exército de Libertação Popular de Mao sai vitorioso e a República Popular da China é proclamada. Encurralado, o líder do Guomindang, Ching Kai-shek, foge para a Ilha de Formosa, fazendo com que o governo da República da China, antes detentor da soberania integral do território chinês, ficasse exilado. Inicia-se, pois, a disputa política para determinar qual China é a legítima governante do território. Até o momento, a representação chinesa na ONU, reconhecida pela maior parte das entidades internacionais, ainda é a da Re- pública da China do Guomindang.

3.3 - Incitação do Conflito (1950)

Na porção norte do território coreano, a ocupação da União Soviética encontrou uma estrutura de comitês populares com ideologias próximas ao comunismo soviético e optou por manter tal formato na região. Apesar de permanecer sob tutela dos soviéticos, foi estabelecido um Comitê Popular Provisório, comandado por Kim II-Sung, que era responsável por governar o território do norte da península. Esse regime, adepto de ideais comunistas realizou uma grande reforma agrária, retirando terras de japoneses e famílias latifundiárias coreanas proprietárias e as distribuindo para as camadas mais pobres da população. Além disso diversas indústrias, especialmente de base, passaram por um processo de nacionalização. Grande parte das classes afetadas por essas reformas fugiram para o sul da península, onde foram recebidos pelo governo provisório de características capitalistas.

A ocupação dos Estados Unidos se diferiu do que foi visto na parte sob influência so- viética, tendo em vista que o comandante selecionado para comandar esse governo provisório, John R. Hodge, se recusou a dialogar com os comitês populares que haviam sido formados e também com o Governo Provisório de Shangai, estabelecido durante a ocupação japonesa. O governo provisório comandado pelos militares norte americanos se caracterizou por um forte combate ao comunismo, reprimindo greves, insurgências e quaisquer outras movimentações de ideais marxistas na parte sul da Coreia. A principal liderança política coreana no sul era o ardente anticomunista Syngman Rhee que, afastado do Governo Provisório em 1925, tornou-se um importante defensor dos interesses coreanos em Washington e, após a liberação de seu país, ambicionava unificá-lo com o extermínio da oposição comunista.

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Devido ao fracasso da Comissão Conjunta entre Estados Unidos e União Soviética de efetivamente iniciar um processo de unificação da Coreia, em 1947 os Estados Unidos levaram a questão a ONU. Na época, a influência soviética sobre o órgão era pequena e, portanto, a URSS não desejava seu envolvimento na questão. Apesar disso, ficou estipulado pela Assembleia Geral, através da Resolução 112, que seriam realizadas eleições gerais na Coreia com a saída de todas as tropas estrangeiras do território. A fiscalização da votação seria realizada por uma Comissão da ONU, a Comissão Temporária das Nações Unidas para a Coreia. Logo, a União Soviética se mostrou contrária a tal resolução e não cooperou com as eleições, que foram realizadas apenas no sul no dia 10 de Maio de 1948. No dia 15 de Agosto de 1948 foi declarada a formação da República da Coreia, com Syngman Rhee ocupando o cargo de presidente.

Concomitantemente, no dia 9 de Setembro do mesmo ano, ao norte foi declarada a for- mação da República Popular Democrática da Coreia, sob liderança de Kim II-Sung. A ONU, no entanto, reconheceu apenas o governo da República da Coreia, que segundo a organização teria a soberania sobre a totalidade da Coreia. O fato de haver a formação de dois Estados separados no entanto não foi bem visto pela população, o que gerou diversas manifestações contra a divi- são da Coreia, especialmente no sul; esses protestos foram, no entanto, rapidamente suprimidos pelas forças militares locais.

Em 1948, devido a proclamação do governo da República Popular Democrática da Coreia as tropas soviéticas gradualmente deixaram a Península Coreana; os EUA, por sua vez, não seguiram a atitude de imediato, somente realizando a retirada de suas forças em 1949. Di- ferentemente da República Popular Democrática da Coreia, que não se opôs à saída das tropas soviéticas, o governo da República da Coreia tentou impedir a retirada de tropas americanas, visto que temia uma invasão da Coreia do Norte, cujo exército era maior e melhor equipado.

Mesmo com a formação dos dois Estados, as tensões permaneceram na Península Core- ana, com diversos embates entre as tropas nas proximidades do Paralelo 38° N visto que even- tuais transgressões do limite estabelecido pela divisão eram corriqueiras para os dois lados. Da mesma forma, ambos os lados ainda almejavam a unificação da Coreia sob seu governo, embora a República Popular Democrática da Coreia se demonstrasse mais ambiciosa nesse quesito, em virtude de sua superioridade bélica.

Em 1949, uma série de novidades fez com que Stalin passasse a ver a região do nordeste asiático com maior interesse. Nesse ano, as tropas norte americanas se retiraram da República da Coreia, a Revolução Chinesa se sagrou vitoriosa e a União Soviética executou seu primeiro teste nuclear com sucesso. Assim, o líder soviético, anteriormente contrário ao ataque da Coreia do Norte, passou a ser mais favorável à invasão, mesmo que sem se comprometer a participar diretamente da guerra. Foi então costurado um plano no qual a União Soviética realizaria acordos visando a apoiar economicamente o governo comunista da China, que em contrapartida se comprometera a prestar apoio à República Popular Democrática da Coreia na invasão ao sul, caso necessário.

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Nessas circunstâncias a Coreia do Norte promoveu um ataque surpresa contra a Coreia do Sul. A participação chinesa, por sua vez, se deu pelo envio de cerca de 50 mil soldados de etnia coreana que estavam nas filas do Exército de Libertação Popular para auxiliar a investida nortista. Além disso, Mao mobilizou boa parte do Exército Popular Chinês para a fronteira com a Península Coreana. Essa manobra visava, principalmente a garantia da prevalência socialista com a vitória e unificação coreana, de modo a tornar o país uma nação satélite da China. Com esses eventos, inicia-se, de fato, a Guerra da Coreia.

4 - Estágios iniciais da Guerra da Coreia (Junho 1950 - Março 1951)

4.1 - Ofensiva norte coreana (Junho 1950 - Setembro 1950)

Agora em estado de guerra, a Coreia do Norte faz sua primeira ofensiva. Em 25 de junho de 1950, avança com suas tropas ultrapassando a fronteira do paralelo 38. A Declaração norte- -coreana de guerra justificava a ultrapassagem com a afirmativa de que tal fronteira já havia sido ultrapassada pelas tropas do sul. As tropas do exército norte-coreano prosseguiram, contando com um contingente de 200 mil homens, pressionando o governo de Syngman Rhee a evacuar Seul. Nesse conflituoso cenário foi ordenada, por parte do governo do sul, a execução de cidadãos liga- dos ao Partido dos Trabalhadores Sul-Coreano e encarcerados nas Ligas Bodo (Liga Nacional de Reabilitação e Reorientação), campos de reclusão e reforma de indivíduos ligados ao comunismo.

No mesmo dia, 25 de junho de 1950, o secretário geral das Nações Unidas, Trygve Lie, alarmado com a situação na Coreia que fora reportada pelo embaixador estadunidense, John Muccio, decide convocar uma reunião do Conselho de Segurança com o intuito de tomar medidas capazes de restabelecer a paz na península o mais rápido possível. Ao fim da sessão, é aprovada a resolução 82 do conselho. Nela o mesmo expressa que o ataque promovido pela Coreia do Norte constitui uma violação à paz na região e determina o fim das hostilidades, assim como a retirada das tropas norte coreanas do território sul coreano.

Dois dias passados, o Conselho se reúne mais uma vez para discutir a situação na Coreia. Contudo, a resolução (83) aprovada nesta sessão não se limitou a condenar as ações norte coreanas e a ordenar o fim delas. Dessa vez o conselho decidiu por recomendar que todas as nações prestassem o auxílio necessário para que a Coreia do Sul fosse capaz de repelir a invasão norte coreana e restabelecer a paz efetivamente. Nota-se, portanto, que esta resolução foi a responsável por tornar real a ideia de um exército composto por membros das Nações Unidas com intuito de defender o governo de Seul. Assim, foi feita uma articulação por parte de membros da ONU para fornecer tropas e suporte logístico para o exército da República da Coreia, formando assim um exército “misto”.

É importante considerar, nesse sentido, que tal articulação por parte do Conselho de Segurança só foi possível porque a União Soviética, membro permanente do mesmo, estava, na época, efetuando um boicote contra o órgão em virtude da recusa ocidental em substituir o

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governo da República da China pelo governo da República Popular de Mao Zedong. Assim, percebendo a indesejada consequência de suas ações, a URSS opta por encerrar o boicote e retornar ao Conselho em agosto do mesmo ano.

Enquanto isso, em dia 28 de junho a capital Seul é tomada pelas forças norte-coreanas, que não encontraram muita resistência. O rápido avanço em direção ao sul incita uma intervenção americana e o país logo começa a implantar tropas na península para auxiliar o governo de Rhee.

No dia 5 de julho, na Batalha de Osan, as forças do norte combatem 540 soldados de infantaria e artilharia do exército dos Estados Unidos da América. Contrariando as expectativas iniciais, o exército norte-coreano foi vitorioso e forçou os norte-americanos a baterem em re- tirada ligeira. Assim, dois dias depois o Conselho de Segurança se reuniu e adotou a resolução 84. Nela, recomenda que todos os esforços destinados ao apoio da República da Coreia sejam unificados sob o comando dos Estados Unidos da América, criando assim um comando unificado – que viria a se tornar o “United Nations Command” –, requisita que os Estados Unidos apontem um comandante para o recém criado comando, autoriza o comando a usar a bandeira da ONU em suas operações e, por fim, requisita que os Estados Unidos forneçam relatórios acerca das operações perpetradas pelo comando.

De volta ao campo de batalha, as tropas norte coreanas continuam em mesma direção, agora tomando Daejon, no centro do território sulista. Forçando o crescente recuo das forças opositoras, a Coreia do Norte já estava prestes a ocupar 90% do território abaixo do paralelo 38.

A ofensiva inicial norte-coreana. Situação no dia 5 de agosto.

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No dia 4 de agosto, inicia-se a Batalha do Perímetro de Pusan, onde a ONU reuniu mais de 141 mil homens, de 6 diferentes nacionalidades (sendo as principais EUA e R.U.), além da sul-coreana. Sendo considerado o primeiro grande embate da guerra, a batalha ocorreu a 230 km ao sudeste da península coreana e perdurou por 1 mês e 14 dias. Abalado pelo contra-ataque das forças opostas, pela falta de suprimentos e pelo ataque-surpresa anfíbio de Incheon, arquitetado pelos EUA sob liderança do general Douglas MacArthur, o Exército Popular da Coreia bateu em retirada, garantindo a primeira vitória dos aliados ao sul. A batalha resultou em mais de 120 mil baixas, incluindo a morte de quase 5 mil americanos.

Pusan foi o limite onde as forças do norte chegaram ao sul. Agora, tendo perdido sua primeira batalha em 4 meses e se deparando com falta de recursos, o governo de Kim Il-Sung se encontrava em risco.

A primeira fase da guerra ilustrada. Situação após a Batalha de Pusan.

4.2 - Resposta das Nações Unidas (Setembro 1950- Outubro 1950)

Logo após o fi m da longa batalha, inicia-se a contraofensiva dos Aliados. Começam a avançar para o norte, recuperando rapidamente as áreas de prévio domínio inimigo, e, em 25 de setembro, retomam a capital Seul.

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Com autorização do alto executivo americano, MacArthur restitui na parte austral o go- verno da República da Coreia, tendo como chefe de Estado Syngman Rhee, novamente. Em sua empreitada anticomunista, Rhee retoma seus planos de perseguição aos que seguiam a ideologia em seu território, executando pelo menos 600 indivíduos.

A situação em 26 de Setembro. A contraofensiva da ONU retoma Seul.

No começo de outubro as tropas aliadas já têm 90% do território antes dominado de volta ao seu poder e iniciam o avanço para além do paralelo 38, tendo como objetivo dominar o norte. Rapidamente, o exército pró-aliado toma Pyongyang no dia 19 do mesmo mês e segue no seu avanço em direção norte, ameaçando inclusive a posição da China, vizinha do país e alinhada do governo comunista.

4.3 - Intervenção chinesa (Outubro 1950- Março 1951)

A ocupação do UN Command chegou até o sul do Rio Yalu, ou seja, caso cruzasse a fronteira o UN Command estaria em território chinês. Devido a essa situação o Politiburo Chinês, ainda que com algum temor de enfrentar os Estados Unidos militarmente, optou por intervir em território coreano.

Vendo o perigo da vitória adversária, em 18 de outubro Mao ordenou a entrada de 300 mil soldados do Exército Popular de Libertação (EPL), depois do apelo de Kim Il-Sung. A União Soviética forneceu suporte aéreo as forças chinesas que atravessaram o Rio Yalu.

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Ocorre então a Batalha de Onjong, iniciando em 25 de outubro, tendo como comba- tentes do 40º Corpo de Infantaria Chinês contra o II Corpo de Infantaria do Exército da RC e as tropas da ONU. Os chineses venceram a batalha contra a Coreia e aliados depois de quatro dias, fazendo uso de emboscadas.

Em 1 de novembro, os chineses vencem novamente, agora contra tropas americanas, sobre o território de Unsan. O exército chinês saiu vitorioso de pelo menos três posteriores conflitos, enfraquecendo a soberania dos aliados e causando o recuo das forças aliadas ao sul.

Apesar dos esforços dos Aliados e de declarações ferrenhas do governo americano, que oficialmente aumenta sua atenção para o conflito, dando grande relevância ao aumento de forças americanas em solo, o governo do norte, com o apoio de seus aliados socialistas consegue pressionar o inimigo de volta, passando da linha do paralelo 38 em direção ao sul bem no dia da virada do ano, na chamada “Ofensiva Chinesa do Ano Novo”. É 1951 e as forças do norte só seguem, sem grandes obstáculos, em direção à vitória.

Pela segunda vez, Seul é tomada e fica sobre domínio do governo setentrional, no dia 4 de janeiro, gerando inclusive a cogitação, por parte dos militares americanos, do uso de armas nucleares no conflito.

O contra-ataque chinês, de novembro de 1950 a janeiro de 1951, causando o maior recuo da história militar americana.

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O progresso continua até 10 de janeiro de 1951, quando as forças do UN Command es- tabeleceram uma linha de defesa e conseguiram segurar o avanço desenfreado para suas terras. Em fevereiro, a China inicia mais ofensivas, com a conquista de um pequeno condado na província de Gangwon. Enfraquecido de suprimentos, o exército não foi capaz de avançar além de Seul, enquanto os americanos conseguiram estabelecer uma linha de defesa no vale do Rio Han.

Ainda no mesmo mês, o exército americano lança a Operação Killer, liderada por Matthew Ridgway (EUA) e Basil Aubrey Coad (R.U.). Determinando a “Linha Arizona” (Yangpyoeng até Hoengsong), Ridgway planejou aniquilar inimigos ao sul de tal linha. Iniciando em 22 de feve- reiro suas ações efetivas, a operação reconquistou Hoengsong e garantiu uma vitória americana. 24 de março de 1951. Seul está, mais uma vez, sobre novas mãos. Agora é, mais uma vez, território de domínio do sul.

A contraofensiva do comando da ONU e a retomada de Seul. Situação em abril de 1951.

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5 - Situação Atual

5.1 - Resposta das Nações Unidas e Equilíbrio de Forças (Março-Julho)

Após a vitória sobre as forças comunistas em março, Ridgway não só viu a moral de sua tropa crescendo, mas também ganhou confiança e prestígio em relação a seus conceitos opera- cionais, ordenando o Oitavo Exército que continuasse o avanço em direção à Seul na chamada Operação Ripper. Chegando na capital, as tropas do UN Command foram confrontadas com uma resistência ligeira por parte dos comunistas, mas foram capazes de retomá-la em 14 de março, sob liderança do I Corpo. Entre 27 e 31 de março, o Oitavo Exército alcançou o paralelo 38º, onde prosseguiram com seu avanço novamente sem enfrentar árdua resistência até uma região que correspondia a uma linha designada KANSAS, que seguia o rio Imjin no oeste e o leste até a costa perto de Yangyang.

O Avanço do Comando da ONU e a Linha Kansas

A maior parte do Oitavo Exército começou a estabelecer posições na linha KANSAS na expectativa de se prepararem para resistir a uma possível ofensiva chinesa esperada para ser deflagrada em algum momento depois do início da primavera. Ridgway enviou parte da força do I e IX Corps para o Triângulo de Ferro na Coréia central. Esta área, por volta de 20 a 30 milhas acima do paralelo 38 e limitada por Pyonggang2 no norte e Chorwon e Kumwha no sul, estava no intervalo entre as cordilheiras do norte e do sul das montanhas Taebaek e ligava as

2 Não confundir com a capital da RDC, Pyongyang.

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metades Leste e Oeste da Frente Comunista. As principais ligações rodoviárias e ferroviárias atravessavam esta área, que se tornou vital para a logística do Exército Voluntário Popular e o Exército Popular da Coreia.

O Triângulo de Ferro da Coreia, área de concentração e de junção de comunicações dos exércitos comunistas.

Em Washington, o presidente Truman e seus conselheiros militares e civis haviam con- siderado a possibilidade de que, com o avanço do Oitavo Exército para o norte e as pesadas baixas que infligiram ao inimigo, os comunistas pudessem estar dispostos a abrir negociações. O chamado das Nações Unidas para expulsar os invasores da Coreia do Sul foi novamente alcan- çado por meio da Assembleia Geral e tanto em Washington quanto em outras capitais havia um sentimento crescente de que essa conquista era suficiente e que a unificação da Coréia deveria ser negociada depois da guerra.

No dia 20 de março, MacArthur recebeu a notícia de que o presidente estaria se preparando para anunciar a disposição de negociar com os chineses e norte coreanos visando a alcançar condi- ções satisfatórias para findar com a guerra. Todavia, antes mesmo que Truman pudesse consumar seu pronunciamento, MacArthur propôs seus próprios termos para os comandantes inimigos no sentido de se iniciarem as negociações de paz. Sua proposta colocava o UN Command em uma posição de vitória sobre os comunistas, coroada com um ultimato em que o general afirmava que “o inimigo a esta altura deve estar dolorosamente ciente de que uma iniciativa das Nações

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risco de colapso militar iminente ”. Diante dessa proposta agressiva, Truman considerou que a declaração conflitaria com a sua própria, determinou seu cancelamento e passou a manter-se mais atento à conduta do militar.

Logo na primeira semana de abril a política americana volta a ser conturbada por um in- cidente envolvendo um congressista republicano propondo o uso de forças chinesas nacionalistas para abrir um segundo front de batalha na guerra, em acordo com os anseios de MacArthur, para quem a vitória seria a única possibilidade de término para o conflito que vinha sendo travado. Na visão dele, essa era a única maneira de evitar a proliferação do Comunismo e o risco de guerra da Europa. Ante esta situação, Truman decide exonerar o General MacArthur, considerando que ele não se encontrava hábil a comprometer-se com as políticas dos Estados Unidos e das Nações Unidas e, portanto, não poderia cumprir plenamente suas obrigações oficiais. O presidente decide então que o General Ridgway, com cada vez mais prestígio em virtude de seus sucessos com o Oitavo Exército, deveria ocupar o cargo recém vacante de Comandante-em-Chefe do Comando do Extremo Oriente.

A trajetória em direção ao Triângulo de Ferro perdurou durante o período de sucessão de Ridgway. Após sua recém promoção, o posto de comandante do Oitavo Exército, até então ocupado por Ridgway, tornou-se vacante, vindo a ser assumido pelo General Van Fleet.

Em 22 de abril, recentes indícios de que os comunistas estavam prestes a deflagrar uma grande ofensiva contra seus inimigos se confirmaram, quando vinte e uma Divisões Chinesas e nove Norte-Coreanas lançaram fortes ataques na Coréia Ocidental e Central, além de ataques mais leves no leste. O maior esforço foi direcionado contra o I-Corps, que defendia as imedia- ções de Seul. A 6ª Divisão da RC, no flanco esquerdo do IX-Corps, colapsou imediatamente, o que ameaçou o I-Corps. Essa ameaça e o peso das forças chinesas contra Seul forçaram o I e o IX Corpos a se retirarem, mantendo a organização e infringindo severas baixas aos chineses enquanto eles se moviam através de posições sucessivas de retardamento para defesas previa- mente estabelecidas a alguns quilômetros ao norte de Seul.

Lá, a grande superioridade do poder de fogo do UN Command e as fraquezas do sistema logístico chinês impediram o avanço dos comunistas. Quando as forças inimigas se retiraram para se reorganizarem, Van Fleet fez planos para um retorno à Linha KANSAS, mas depois adiou a contramedida quando suas fontes de inteligência indicaram que ele havia parado apenas o primeiro esforço da ofensiva inimiga. Em vez disso, ele ordenou que seus comandantes seniores fortificassem as posições e se preparassem para disparar a artilharia em até cinco vezes a taxa diária de fogo do Exército dos EUA, uma medida que veio a ser chamada de “Dia de Fogo de Van Fleet”.

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A primeira fase da Ofensiva de Primavera das forças comunistas. Situação em 30 de abril. Os comunistas renovaram sua ofensiva depois do anoitecer em 15 de maio. Van Fleet esperava que o grande ataque fosse dirigido novamente contra Seul, mas as forças inimigas dessa vez concentraram suas forças contra a região leste central onde estavam o X Corpo e o Corpo III da RC. Duas das divisões coreanas do X Corps rapidamente cederam aos ataques chineses, e os ataques do Exército Popular Coreano (EPC) e do Exército Voluntário Popular (EVP) ao leste do X Corps destruíram o Corpo III no dia 18 de maio. Enquanto Van Fleet deslocava unidades do oeste, o X Corpo da 2ª Divisão de Infantaria retrocedeu e negou aos chineses um avanço decisivo.

Os ataques massivos do Dia de Fogo de Van Fleet acabaram obliterando unidades do EVP e do EPC inteiras, e em 20 de maio o Oitavo Exército derrotou a ofensiva. Determinado a destruir as unidades principais comunistas, Van Fleet ordenou imediatamente um contra-ataque. Todavia, tais unidades já haviam começado a se retirar, pois notaram que estava se iniciando o período das monções e utilizaram seu vasto conhecimento do terreno montanhoso local para aproveitar-se das grandes chuvas características do período e realizar uma evasão, impedindo a captura pelo Oitavo Exército. Em 31 de maio, o Oitavo Exército estava aquém da Linha KANSAS. No dia seguinte, Van Fleet enviou parte de sua força para a linha WYOMING, cujo domínio lhe conferiria o controle da parte inferior do Triângulo de Ferro. O Oitavo Exército ocupou a linha KANSAS e parte da WYOMING em meados de junho.

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A contraofensiva norte-americana entre 23 de Maio e 27 de Novembro.

Desde que a linha KANSAS-WYOMING representasse um terreno adequado para uma defesa consistente, o Estado Maior das Forças Armadas dos EUA poderia ordenar que o Oitavo Exército mantivesse essa linha e esperasse uma oferta de negociações de armistício dos chineses e norte-coreanos, que deveriam ter percebido que as forças careciam da capacidade de conquistar a Coréia do Sul. De acordo com essa decisão, Van Fleet começou a fortalecer suas posições. As forças inimigas, por sua vez, usaram o intervalo nos ataques para recuperar pesadas perdas e desenvolver defesas nas imediações da região na qual o Oitavo Exército estava estacionado.

Após a coordenação de canais através de George W. Kennan, um proeminente diplomata norte-americano em licença do Departamento de Estado, Yakov Malik, o delegado soviético nas Nações Unidas, anunciou, durante uma transmissão de um programa de rádio da ONU em 23 de junho de 1951, que a URSS acreditava que a guerra na Coréia poderia ser resolvida por meio de negociações. “Discussões”, disse ele, “devem ser iniciadas entre os beligerantes para um cessar- -fogo e um armistício.” Quando a RDC endossou a proposta de Malik em uma rádio de Pequim, o presidente Truman autorizou o General Ridgway a organizar negociações de armistício com seu inimigo. Através de uma troca de mensagens de rádio, ambos os lados concordaram em abrir negociações em 10 de julho na cidade de Kaesong, em território controlado pelos comunistas.

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6 - A Conferência

6.1 - Status da Conferência

Antes de elaborar as pautas que estão envolvidas na Conferência de Kaesong é importan- te entender qual é a situação que será simulada, visto que a reunião que ocorreu originalmente em Kaesong teve outros moldes e fizemos uma adaptação visando adequá-la à realidade de um modelo diplomático. Diferentemente das negociações de paz que ocorreram em Kaesong, que contaram somente com militares de Coreia do Norte, República Popular da China e UN Command negociando termos para um armistício, a conferência contará com representantes políticos e militares de mais partes envolvidas na guerra.

Os delegados presentes na reunião possuem jurisdição não apenas para assinar uma ata final a ser elaborada ao final da conferência mas também acordos, que podem vir a envolver as forças armadas dessas nações (essas questões estão detalhadas no guia de regras do comitê). Apesar de não haver um representante oficial do UN command no comitê, à delegação dos Estados Unidos foi concedida a autoridade de assinar acordos envolvendo o exército das Nações Unidas.

6.2 - Tópicos a serem debatidos

O presente tópico visa citar algumas das pautas que levaram à convocação da Conferên- cia de Kaesong. Apesar de haver uma breve contextualização e uma grande variedade de temas nesse tópico, a discussão não necessariamente deve se ater exclusivamente a essas pautas, sendo encorajado que outros temas e perspectivas sejam citados visando engrandecer os debates.

6.2.1 - Situação de Prisioneiros de Guerra

A situação dos prisioneiros de guerra foi uma das principais pautas que levaram as partes da Guerra da Coreia a buscar uma negociação. A forma como os prisioneiros estão sendo tratados é uma discussão que preocupa não só os países diretamente envolvidos na guerra como também demais nações com tropas na região, visto que não são apenas cidadãos coreanos e chineses que se encontram nessa situação, havendo americanos, britânicos e indivíduos de múltiplas nacio- nalidades sendo feitos prisioneiros.

A discussão vai além de tratar das condições nas quais esses indivíduos se encontram, abrangendo também como se daria uma eventual liberação desses prisioneiros. Isso envolve toda a questão logística de como se dará o processo, desde o local onde será realizada, a data que será feita, como eles serão transportados e se o processo será uma liberação parcial, total ou distribuída em partes.

6.2.2 - Elaboração e supervisão do armistício

Evidentemente a principal pauta da conferência será como encontrar o fim das hostilida- des que ocorrem na Guerra da Coreia, o que só é possível através de um armistício, que cessa as

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de tal acordo. Algumas das principais condições para que se possa por um armistício em prática estão na supervisão do cumprimento desse acordo, principalmente na fiscalização de eventuais hostilidades por parte de um dos países envolvidos nesse acordo.

A fim de garantir o cumprimento dos termos é essencial estabelecer os agentes que serão responsáveis por realizar essa fiscalização, podendo ser desde os próprios países beligerantes a até a ONU, comissões de países neutros ou quaisquer outros agentes que forem decididos. Alguns dos termos que desse acordo que podem ser abordados são eventuais limitações de contingentes de tropas, fiscalização de fornecimento de armas, presença de tropas estrangeiras, dentre outras pautas. Outra questão pertinente é a discussão acerca da criação de uma zona desmilitarizada, mecanismo que impediria que o clima tenso no pós-guerra eventualmente gerasse um novo conflito entre os países da Península Coreana. Os termos tais quais a extensão da zona, sua localização e possíveis mecânicas de trânsito de pessoas nessa localidade estariam em pauta na discussão da criação de tal zona.

6.2.3 - Reunificação da Península Coreana

Uma questão que deve ser debatida é a de uma possível reunificação da Coreia em um único Estado, tendo em vista a unidade étnica e de tradição cultural existente no território. Uma vez que a Coreia foi dividida artificialmente segundo zonas de influência após a Segunda Guerra Mundial, é necessário reconsiderar a possibilidade de uma unificação do povo, que ainda se considera unido. A forma como se daria esse possível processo também pode fazer parte das discussões, podendo debater-se inclusive a possibilidade da condução de uma eleição para a Península Coreana, cujos termos, desde supervisão das eleições até quem seria o agente responsável por organizá-las e quem poderia participar, devem ser decididos pelos delegados.

6.2.4 - Envio de ajuda humanitária

Sendo este um dos conflitos de maiores proporções desde o fim da Segunda Guerra Mun- dial, é evidente que diversos danos no âmbito humanitário vem ocorrendo, havendo destruição de lares, mortes, doenças e fome generalizada sendo algumas das situações geradas por um extensivo conflito na Península Coreana. Nesse contexto, é necessário debater como os países da conferência ou mesmo outras entidades fora do ambiente podem auxiliar a região para que esta se recupere da situação.

6.2.5 - Envio de aparato militar

O envio de aparato militar para a Península Coreana, tanto para a República da Coreia quanto para a República Popular Democrática da Coreia, é uma das pautas que tem que ser avaliada para permitir que o conflito cesse. Tendo em vista que nenhum dos dois Estados possuí capacidade de produção ou tecnologia para sustentar um conflito dessa proporção com armamen- tos tão sofisticados, fica evidente que há a participação de terceiros no que tange à distribuição de armas para os exércitos dos Estados que compõem a Península.

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Tendo essa situação em mente, é imprescindível ter-se a discussão acerca do forneci- mento de armas na Península Coreana para que a guerra possa ter suas proporções reduzidas. Essa discussão pode se referir a se esse fornecimento será finalizado, reduzido ou alterado, se será apenas de armas específicas e formas de fiscalizar o cumprimento de eventuais mudanças propostas nesse fornecimento.

6.2.6 - Reconstrução da Península coreana no pós-guerra

É necessário debater como será feita a reestruturação da infraestrutura e da população da península após esse confronto devastador que causou danos na integralidade do território. No atual momento, há inúmeras de pessoas desalojadas, além de fábricas e cidades destruídas, em consequência da guerra. Formas para restabelecer as economias da República da Coreia e da República Popular Democrática da Coreia e recomendações para ambos os países adotarem no pós-guerra são também pautas válidas para serem incluídas em uma resolução final do comitê.

6.2.7 - Tropas estrangeiras na Península da Coreia

A situação das tropas estrangeiras após o conflito é crucial para a discussão, pois para garantir um ambiente de paz é importante que tropas de agentes como República Popular da China e Estados Unidos eventualmente reduzam sua presença militar em alguma capacidade e sejam restringidas numericamente ou até mesmo totalmente removidas da Península Coreana.

6.2.8 - Dano colateral, sofrimento desnecessário pelo uso de determinados armamentos e crimes de guerra

A discussão dos excessos cometidos na guerra também será um importante tema de debate na conferência, visto que está ocorrendo o uso de armamentos específicos que sejam danosos aos habitantes da Península durante o conflito. Pode-se haver alguma condenação formal quanto a eventuais abusos de ambas as partes e de alguma forma a discussão pode abranger o fim do uso de táticas ou armamentos que prejudiquem desnecessariamente indivíduos que não estão diretamente envolvidos no embate. Deve-se lembrar que não muito antes, em 1949, foi aprovada a Quarta Convenção de Genebra – além da revisão das antigas Convenções de Haia que regiam as leis de Guerra – de modo que o conflito é o primeiro a ocorrer após o escrutínio desse marco do direito internacional humanitário.

7 - Posicionamento dos Países

Antes de mais nada, diferentemente da maioria dos tópicos acerca do posicionamento dos países participantes de um determinado comitê, este não se propõe a explicar de forma absoluta a estratégia política tomada pelo país no comitê para que possa atingir os resultados desejados em uma resolução final. Como se trata de uma reunião extraordinária para a negociação de termos necessários para um tratado de paz, há uma série de motivos escusos e segundas intenções que

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Para esse fim, será fornecido para todos os plenipotenciários da conferência um perfil estratégico do país que representa, assim como as diretrizes que deverá seguir nas negociações, os termos que deve tentar alcançar mas que não são necessários e os termos que são impossíveis de aceitar. Claramente, fornecerá uma visão mais profunda acerca do como, o quê e até onde as nações estão dispostas a negociar, ou seja, ceder e tomar obrigações.

Por fim, segue abaixo a posição que cada nação declaradamente toma no cenário inter- nacional em 1951, e como ela se adequa à situação na península coreana.

7.1 - Estados Unidos da América

Representantes: William Kelly Harrison Jr. e Charles Turner Joy

Em primeiro lugar, a política internacional estadunidense na última década, assim como na década de 1950, é marcada fortemente pela lógica da doutrina Truman, nomeada em home- nagem a Harry Truman, presidente do país no momento. Nas palavras do próprio presidente, em tradução livre:

“Creio que deva ser a política dos Estados Unidos apoiar os povos livres que resistem à tentativa de subjugação por parte de minorias armadas ou por pres- sões externas. Acredito que devemos ajudar os povos livres a construir próprios destinos à sua maneira. Acredito que a nossa ajuda deve ser principalmente através de auxílio econômico e financeiro, que é essencial para a estabilidade econômica e para os processos políticos ordeiros.”.

Isso, somado à teoria do dominó – o pensamento de que a queda de um país por influ- ência comunista seria o começo de uma cadeia de quedas, de modo similar a um efeito dominó –, resulta em uma política externa que busca mitigar a expansão geopolítica da União Soviética e nações comunistas. Essa política externa se traduz, na prática, como a política de contenção, baseando-se no suporte fornecido pelos Estados Unidos, tanto econômico quanto bélico, para nações ameaçadas pelo comunismo.

Assim, é interessante que os enviados estadunidenses consigam impor os termos mais severos possíveis sobre a Coreia do Norte e aliados, visto que estão em posição de agressores, e é de suma importância garantir a segurança e integridade futura da República da Coreia assim como sua reestruturação completa de modo a construir uma nação economicamente forte e capaz de repelir a propagação de regimes comunistas.

7.2 - Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte Representantes: Anthony Eden e Gladwyn Jebb

Assim como a maior parte das nações europeias, o Reino Unido passa por um momen- to de dificuldades econômicas e estruturais no cenário pós-Segunda Guerra. Seu exército se encontra ainda abalado dos traumáticos confrontos da década passada. Tais fatores somados

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proporcionaram um clima de medo do surgimento de um novo conflito na Europa, uma vez que, caso a guerra se escalasse na coreia, a Europa Ocidental seria o alvo principal de uma ofensiva soviética, na visão britânica.

Inicialmente, o Reino Unido tomou uma posição alinhada à posição estadunidense, con- tudo havia algumas ressalvas. Não concordava com a posição agressiva tomada pelo governo americano, principalmente por ter apontado o general MacArthur, que esteve no comando no primeiro ano de guerra, como comandante das forças da ONU. As preocupações aumentaram ainda mais em função de declarações vindas do governo americano e do general, de que estariam dispostos a usar todas as armas possíveis e prontos para destruir todas as bases soviéticas no extremo oriente e até mesmo atacar a China. Assim, o governo britânico diferia de seus aliados ao ver a Coreia como uma “obrigação distante”, ainda que, de todo modo, uma obrigação.

Assim, com a saída de MacArthur do comando e depois de conversas com o presidente Truman, o governo britânico se posicionou fielmente à posição estadunidense em busca de se- gurança em seus territórios no extremo oriente.

Logo, os plenipotenciários britânicos são enviados à conferência com o intuito de fornecer suporte sólido à posição dos Estados Unidos, grande aliado. Quanto à possíveis dissidências, o Reino Unido não se mostra disposto a tomar uma posição agressiva quanto ao lado oposto nas negociações, compreendendo que é mais interessante impedir causalidades e o escalamento do conflito do que causar danos e penas ao lado agressor norte coreano.

7.3 - República da China

Representantes: George Yeh e Tsiang Tingfu

O contexto no qual a República da China se encontra nos anos 50 é extremamente com- plexo, tendo em vista que o governo que possuía a autoridade sob todo território chinês se viu exilado na ilha de Taiwan, perdendo o controle político na parte continental da China com o sucesso da Revolução Chinesa em 1949. Desde então, o país passou a fortalecer a autoridade do governo para impedir a proliferação dos ideais comunistas.

Desde antes da eclosão da Guerra da Coreia, no entanto, os Estados Unidos já viam o caso da República da China como perdido, diminuindo seus laços com a nação. Entretanto, com o início do conflito, apoio militar e financeiro passaram a ser a forma com a qual os Estados Unidos lidariam com o Taiwan, tendo em vista que visavam a conter o avanço chinês como potência dominante na região. Tendo isso em mente, os Estados Unidos se consolidaram como principal aliado nos âmbitos econômico, político e militar, fortalecendo a situação da República da China ante à recém-formada República Popular da China.

Analisando por uma perspectiva de política externa, o governo do partido Guomindang tem preocupações com uma expansão ainda maior do comunismo na Península Coreana, tendo em vista que representaria um fortalecimento geopolítico da China Popular no Nordeste Asiático

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e um isolamento regional ainda maior para a República da China. Devido a essas circunstâncias, frear a expansão norte coreana e impedir que Mao atinja seus objetivos na Coreia são as questões que nortearão a política da República da China na conferência.

7.4 - República da Coreia

Representantes: Byeon Yeong-tae e Chang Myon

A República da Coreia surgiu como fruto do governo militar estadunidense no sul da península coreana (USAMGIK) e, em função disso, compartilha uma série de pensamentos políticos e formas de atuação similares ao governo anterior. O sistema de eleição era feito de forma indireta, o que abria margem para um controle autoritário da governança, uma vez que os poucos representantes eleitos eram os responsáveis por eleger o chefe do poder executivo, ao qual era dado uma série de poderes. Isso resultou em um governo forte e autoritário, notoria- mente em suas posições de combate à qualquer ameaça comunista. Estima-se que até o ano de 1950 o governo havia prendido cerca de 60.000 pessoas por conspiração ou subversão à ordem.

Não obstante, o governo sul coreano ostenta uma notória política de “unificação pela força”. Essa se baseia no conceito de que o diálogo com a Coreia do Norte é impossível e que a mesma representa uma ameaça perene à construção de uma democracia estável e represen- tativa na península. Para que a política seja colocada em prática, isto é, para que seja possível o combate (não unicamente militar, mas econômico, cultural, social, etc...) constante aos norte coreanos, a República da Coreia dispunha de suporte constante do governo estadunidense. Des- taca-se, principalmente, os empréstimos concedidos pelos EUA, que atingem, no total, o valor do orçamento público do governo coreano.

Assim sendo, os plenipotenciários responsáveis por representar a República da Coreia possuem como principal objetivo garantir a manutenção de seu governo com um regime forte e autoritário, capaz de combater quaisquer ameaças à ordem, especialmente comunistas. Creem também os representantes que qualquer solução para o fim do conflito, que atenda às necessi- dades do governo vigente, seria aceitável, independente de ganhos ou perdas territoriais pouco significativos. Assim, para os representantes é interessante que a situação seja normalizada o mais rapidamente, pois creem em um embate fora do campo de batalha com a Coreia do Norte.

Referências

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