FORMULÁRIO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA - PIBIC
TÍTULO DO PROJETO UMA LEITURA DISCURSIVA DA POESIA POPULAR: SENTIDO, MEMÓRIA E IDENTIDADE
COORDENADOR MARIA ELIZA FREITAS DO NASCIMENTO
Co-ORIENTADOR (Opcional)
ORIENTANDO JOCENILTON CESARIO DA COSTA
RENOVAÇÃO DE PROJETO * SIM NÃO
1. RESUMO DO PROJETO (até 2000 caracteres com espaço)
Este projeto objetiva analisar no funcionamento discursivo da poesia dos autores representativos da cultura popular do Ceará e do Rio Grande do Norte, Patativa do Assaré e Antonio Francisco respectivamente, como a identidade nordestina é construída nessa prática discursiva. Partimos da idéia de que a identidade é produzida por relações interdiscursivas e por dizeres institucionalizados na memória discursiva. A partir dessa análise buscaremos encontrar os múltiplos efeitos de sentidos, revelando a relação linguagem e exterioridade e as relações de poder que se manifestam nos discursos. Como base teórica, utilizaremos a Análise do Discurso de linha Francesa, a partir das idéias de Michel Pêcheux, Jean-Jacques Courtine, Michel Foucault sobre o discurso. A questão da identidade está embasada nos autores Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Silva e Zigmunt Bauman. Realizaremos pesquisa bibliográfica para contextualizar a linha teórica e faremos amplo estudo da literatura popular para situá-la no leque de manifestações da cultura popular e, assim, justificar a escolha dos autores pesquisados. Neste trabalho a poesia é vista como um enunciado discursivo e se oferece a múltiplas leituras da realidade sócio-cultural do Nordeste. Os sentidos são construídos pela articulação com outros discursos, principalmente o religioso e o político, gerando uma cadeia de relações interdiscursivas. A identidade nordestina é construída de acordo com a posição-sujeito assumida pelo enunciador, que enuncia de diferentes lugares a partir de condições de produção determinadas. Os dizeres produzidos constituem práticas discursivas que ora perpetuam estereótipos do Nordeste, ora desconstrói esses estereótipos, reforçando a idéia de que a identidade não é fixa.
2. INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA (até 7000 caracteres com espaço)
Pensar os discursos como enunciados dispersos é buscar construir a rede de sentidos que dissimulam o significante lingüístico. É compreender que o objeto material está submerso num amplo leque de possibilidades de leituras, tendo em vista que o olhar do analista se aguça para a construção de sentidos que se instauram em enunciados diversos.
A pesquisa que propomos parte do enfoque discursivo utilizando-se de corpus do discurso literário como forma de mostrar que a um objeto literário podem ser atribuídos diversos olhares, neste caso, a visão discursiva da língua, a qual remete à compreensão de que a língua só faz sentido porque se relaciona com a história. Assim, a exterioridade é constitutiva dos sentidos e do sujeito, numa relação dialógica entre discursos. Para a Análise do Discurso o que interessa é a linguagem em movimento, por isso não trata da língua, nem da gramática, mas do discurso, entendido como “efeito de sentido entre locutores”
(PÊCHEUX, 1997). Essa teoria leva em consideração que as relações de linguagem são relações de sujeitos e de sentidos com diferentes efeitos. É preciso buscar a não transparência da linguagem. Por isso Foucault (2007), afirma que a linguagem parece sempre povoada pelo outro, pelo ausente, pelo distante, pelo longínquo; ela é atormentada pela ausência. É preciso levar em consideração justamente essa existência; interrogar a linguagem, não na direção que ela remete, mas na dimensão que a produz.
Neste caso, a análise de corpus do discurso literário, enfatiza a relação indissociável entre Lingüística e Literatura. Fato que faz emergir a historicidade do enunciado poético, no qual “não importa quem fala”, mas sim, os efeitos de sentido que são construídos, as relações interdiscursivas, as construções identitárias e o resgate da memória que são percebidos na enunciação do sujeito autor. O que resulta em abordar a Literatura “em sua exterioridade, fora de si, como linguagens que apontam para a dispersão e, ao mesmo tempo, para diferentes unidades” (FERNANDES, 2006, p. 20).
A abertura dada pela Analise de Discurso para se estudar não apenas discursos estabilizados, como o político, mas também os Governo do Estado do Rio Grande do Norte
Secretariado de Estado da Educação e Cultura - SEEC
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG
Departamento de Pesquisa
Campus Universitário BR-110, KM-46 - Costa e Silva – Fone: (084) 3315-2180 - Ramal 52180 CEP: 59600-970 - e-mail: pibic@uern.br
discursos do cotidiano surgiu a partir das contribuições de Michel Foucault, Michel de Certeau e os historiadores da Nova História, isso fez com que novas perspectivas de análise surgissem. Discursos como o literário, dentre outros, passaram a ser objeto de análise.
Dessa forma, é a escavação do solo poético que pretendemos realizar, entendendo a poesia como enunciado discursivo como propõe Foucault (2007), visto que é preciso entender a linguagem não no que está na superfície, mas buscando fazer emergir os sentidos que nem sempre se mostram evidentes. São esses sentidos que corroboram a construção de identidades no enunciado poético, isso porque a identidade se constrói no espaço discursivo. Conforme Stuart Hall (2004, p. 109) “é precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em lugares históricos e institucionais específicos”.
É compreendendo a poesia como enunciado e observando as diversas ofertas de manifestação do discurso literário, que mergulharemos no universo discursivo dos poetas Antonio Francisco e Patativa do Assaré, buscando desvelar as regularidades e dispersões que permeiam suas práticas discursivas, as quais fortalecem a rede de sentido e a construção de identidade do Nordeste.
Justificamos este projeto, pela relevância que apresenta para a sociedade, por estudar o discurso produzido por sujeitos que se enquadram na categoria da cultura popular, a qual, nem sempre tem valorização e aceitação pelos ditames da sociedade capitalista brasileira, que valoriza muito mais os produtos importados da cultura de massa do que as manifestações da cultura local. Consideramos que a poesia desses autores configura-se como um espaço capaz de oferecer diferentes leituras sobre a realidade sócio-cultural do Nordeste. Sempre com o olhar nos processos discursivos, que constituem a fonte da produção dos efeitos de sentido no discurso, observando que as palavras significam pela historicidade que lhes é constitutiva.
Assim é que pretendemos desenvolver um estudo sobre o discurso poético dos autores citados observando no funcionamento discursivo, a identidade nordestina como uma construção discursiva, produzida por relações interdiscursivas e por dizeres institucionalizados na memória discursiva, inaugurando um novo sentido a partir da posição-sujeito dos enunciadores que se inscrevem em diferentes formações discursivas.
Podemos inserir o texto literário no lugar das discursividades que afloram relações sociais, nas quais as práticas discursivas constroem os objetos e as construções identitárias dos sujeitos, de forma que os sentidos não são percebidos apenas na materialidade lingüística, mas pelas formulações discursivas que ecoam através da memória coletiva, vista em relação com o exterior. Na relação com a exterioridade, criam-se formas de dizibilidades que não são apenas frases repetidas, pronunciadas em contextos isolados. “A memória não restitui frases escutadas no passado, mas julgamentos de verossimilhança sobre o que é reconstituído pelas operações de paráfrases” (ACHARD, 1999, p. 16).
A poética dos dois autores apresenta preocupação social e retrata imagens da vida cotidiana do homem nordestino. Com isso, expressam-se através de suas “filosofias” as “verdades sagradas” da sua gente e da sua terra, revelando assim, não a história dos grandes homens, dos grandes acontecimentos, mas a história do cotidiano de pessoas esquecidas ou que caíram no
“sono profundo” da história tradicional.
Almejamos divulgar a cultura popular nordestina através desta pesquisa que difunde para o Brasil a riqueza de um povo em sua capacidade de expressão e potencial criativo, espalhando de norte a sul a diversidade cultural que no caldeirão das manifestações artísticas contribui para destacar o Nordeste no cenário das artes brasileiras.
Por isso, acreditamos na produtividade desta pesquisa, pois iremos investigar a dimensão que a questão das identidades vem ganhando no debate atual. Desse modo, justificamos o desejo de explorar os discursos produzidos por esses sujeitos sociais que fazem parte da história do cotidiano. Esses autores, ao utilizarem a linguagem em sua prática discursiva, oportunizam a circulação e produção de efeitos de sentido na construção da identidade nordestina.
* Em caso de renovação de projeto, o coordenador deverá explicitar as razões para tal, justificando com os dados preliminares.
3. OBJETIVOS (até 2200 caracteres com espaço) Nossa pesquisa terá os seguintes objetivos:
GERAL
• Analisar no funcionamento discursivo da poesia de Patativa do Assaré e Antonio Francisco a construção da identidade nordestina, articulada às relações interdiscursivas e à memória discursiva;
ESPECÍFICOS
• Investigar os interdiscursos que atravessam o discurso poético desses autores e como estes auxiliam na construção da identidade nordestina;
• Verificar como a memória discursiva legitima dizeres sobre o Nordeste a partir de enunciados que permitem perceber no intradiscurso elementos do interdiscurso;
• Enfatizar que a identidade é uma construção discursiva, produzida em locais históricos determinados e em práticas discursivas diversas;
• Buscar as regularidades e as dispersões de sentidos nos enunciados poéticos;
• Valorizar a cultura popular através do estudo da produção literária de autores regionais, centralizando, neste projeto, os estados do Rio Grande do Norte e Ceará;
4. METODOLOGIA (até 4000 caracteres com espaço)
Pesquisa de caráter qualitativo. Está embasada nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso de linha Francesa. Constará das seguintes etapas:
A primeira consiste na leitura e discussão do referencial teórico. Utilizaremos as categorias da Análise do Discurso tais como: Formação discursiva, interdiscurso, memória, discurso, enunciado, sujeito, sentido e relações de poder, com base nos autores: M. Pêcheux, M. Foucault e J. J. Courtine. A categoria identidade será discutida a partir de Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Silva e Zigmunt Bauman. Durante esta etapa, faremos resumos e fichamentos dos textos lidos, os quais nos conduzirão durante a fase de análise das poesias;
Na segunda etapa realizaremos estudo sobre a literatura popular e pesquisa bibliográfica sobre a vida e obra dos poetas Antonio Francisco e Patativa do Assaré, para buscar compreender no funcionamento discursivo as condições de produção que envolve os sujeitos e o discurso;
Na terceira etapa faremos a constituição do corpus, a partir da seleção das poesias que serão usadas para análise. Essa etapa é necessária, pois os autores em estudo têm uma grande produção literária, e é preciso delimitar o corpus de acordo com os objetivos da pesquisa. Iremos realizar um trabalho utilizando principalmente a poesia social. Elas serão selecionadas pela temática (falar sobre o Nordeste ou alguma cidade da região) e por serem produzidas em diferentes momentos históricos, o que favorecerá a análise da construção da identidade nordestina no discurso poético desses autores. Ressaltamos que as poesias serão coletadas dos livros: Cante lá que eu canto cá e Ispinho e fulô, de Patativa do Assaré e, Por motivos de versos, e Dez cordéis num cordel só, de Antonio Francisco. Se necessário, poderemos utilizar outros livros.
Por fim, na quarta etapa, faremos aplicação no corpus para analisar como se constrói a identidade nordestina no discurso poético, observando no sentido foucaultiano que é preciso compreender o enunciado na estreiteza e singularidade de sua situação: de determinar as condições de sua existência, de fixar seus limites da forma mais justa, de estabelecer correlações com outros enunciados a que pode estar ligado, de mostrar que outras formas de enunciação exclui. [...] deve-se mostrar por que o enunciado não poderia ser outro, como exclui qualquer outro (FOUCAULT, 2007, p. 31). Para tanto, buscaremos os efeitos de sentido, os interdiscursos e a relação com a memória discursiva que estão diretamente entrelaçados com a questão das construções identitárias.
Também faremos apresentação de trabalhos em eventos científicos e publicação dos resultados da pesquisa.
5. RESULTADOS E APLICAÇÕES ESPERADAS (até 4000 caracteres com espaço)
No momento em que a linguagem se mostra como construtora de identidades através dos discursos que circulam na sociedade, sendo, portanto, necessário compreendê-los nos contextos culturais e sociais, busca-se com a presente pesquisa alcançar os seguintes resultados:
identificação dos efeitos de sentidos que são construídos nos discursos;
compreensão de que são nas práticas discursivas que os objetos são constituídos;
percepção de que a identidade do Nordeste foi construída discursivamente atrelada à idéia da seca e da miséria;
identificação da religiosidade como um traço característico da identidade do nordestino;
reconhecimento da cultura popular como manifestação da expressão cultural do nordestino.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (até 3000 caracteres com espaço)
ACHARD, Pierre. Memória e produção de discursiva do sentido. In: ACHARD, P. et. al. Papel da memória. Campinas: Pontes, 1999.
BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
COURTINE, Jean Jacques. O chápeu de Clémentis. Observações sobre a memória e o esquecimento na enunciação do discurso político. In: INDURSKY, F & FERREIRA, M. C. L. (org). Os múltiplos territórios da Análise do Discurso. p. 15 a 22. Porto Alegre:
Sagra Luzzatto, 1999.
FERNANDES, Cleudemar Alves. Literatura em Foucault: infinita exterioridade. In: SANTOS, J. B. C. & FERNANDES, C. A. (org.) Análise do Discurso: objetos literários e midiáticos. Goiânia: Trilhas Urbanas, 2006.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 11ed. São Paulo: Loyola, 1999.
GREGOLIN, Maria do Rosário. (org). Análise do Discurso: as materialidades do sentido. 2ed. São Carlos: Clara Luz, 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 10ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
MAINGUENEAU, Dominique. Discurso literário. São Paulo: Contexto, 2006.
MAINGUENEAU, Dominique. O discurso literário contra a Literatura. In: MELLO, R. (org.) Análise do Discurso e Literatura. Belo Horizonte: Núcleo de Análise do Discurso:, Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos, Faculdade de Letras da UFMG, 2005.
MELLO, R. Análise do Discurso & Literatura: uma interface real. In: MELLO, R. (org.) Análise do Discurso e Literatura. Belo Horizonte: Núcleo de Análise do Discurso: Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos, Faculdade de Letras da UFMG, 2005.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2002.
7. ORÇAMENTO
RUBRICAS/DISCRIMINAÇÃO
Material de Consumo Quantidade Valor Individual R$ Valor Total R$
Papel ofício tamanho A4 10 R$15,00 R$150,00
Tinta colorida para impressora 2 R$55,00 R$110,00
Tinta preta para impressora 2 R$60,00 120
Total de Material de Consumo R$380,00
Serviço de Terceiros Pessoa Física Quantidade Valor Unitário R$ Valor Total R$
Cópias 900 R$0,08 R$72,00
Total de Serviço de Terceiros Pessoa Física R$72,00
Serviço de Terceiros Pessoa Jurídica Quantidade Valor Unitário R$ Valor Total R$
Total de Serviço de Terceiros Pessoa Jurídica
Passagens/Trecho Quantidade Valor Unitário R$ Valor Total R$
Passagens – Total
Diárias Quantidade Valor Unitário R$ Valor Total R$
Diárias para participação no II CIAD - Colóquio Internacional em Análise do Discurso.
3 R$200,00 R$600,00
Diárias para participação no II SINALGE - Simpósio Nacional Linguagem e Gêneros
2 R$200,00 R$400,00
Diárias - Total R$1.000,00
Bolsa de iniciação científica Quantidade Valor Unitário R$ Valor Total R$
Bolsa de iniciação à pesquisa 1 R$300,00 R$3.600,00
Bolsa de Iniciação Científica - Total R$3.600,00 VALOR TOTAL DO PROJETO R$5.052,00
8. TERMO DE COMPROMISSO DO SOLICITANTE
Declaro, para fins de direito, conhecer as normas gerais fixadas pelo presente edital, pelo CNPq e pela UERN para a concessão de Bolsas de Iniciação Científica.
Mossoró, 27 de maio de 2009.
Assinatura do(a) Coordenador(a)
