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Sábado,18 de junho de 2016 I Série Número 80 XIII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA ( ) REUNIÃO PLENÁRIA DE 17 DE JUNHO DE 2016

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XIII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2015-2016)

REUNIÃO PLENÁRIA DE 17 DE JUNHO DE 2016

Presidente: Ex.

mo

Sr.

Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Duarte Rogério Matos Ventura Pacheco

Idália Maria Marques Salvador Serrão

S U M Á R I O

O Presidente declarou aberta a sessão às 10 horas e 5 minutos.

Procedeu-se a um debate sobre economia e empresas, requerido pelo PS, tendo proferido uma intervenção, na fase de abertura, o Deputado Carlos Pereira (PS). Seguiram-se no uso da palavra, a diverso título, além daquele orador e do Ministro da Economia (Manuel Caldeira Cabral), os Deputados Fernando Virgílio Macedo (PSD), Paulino Ascenção (BE), Pedro Mota Soares (CDS-PP), António Costa Silva (PSD), Hugo Costa (PS), Bruno Dias (PCP), José Luís Ferreira (Os Verdes), Pedro Coimbra (PS), Paulo Neves e Luís Campos Ferreira (PSD), António Eusébio (PS), Heitor Sousa (BE), Hélder Amaral (CDS-PP) — que também solicitou a distribuição de documento — e Emídio Guerreiro e Luís Leite Ramos (PSD).

Deu-se conta da entrada na Mesa da proposta de resolução n.º 14/XIII (1.ª) e do projeto de resolução n.º 380/XIII (1.ª).

Após leitura, os votos n.os 99/XIII (1.ª) — De pesar pelo

falecimento do sociólogo José Manuel Paquete de Oliveira (Presidente da AR, PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP, Os Verdes

e PAN), 100/XIII (1.ª) — De condenação e pesar pelo atentado de Orlando, Estados Unidos da América (Presidente da AR, PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP, Os Verdes e PAN), 102/XIII (1.ª) — De condenação e pesar pelo atentado cometido contra a Deputada Jo Cox, do partido Trabalhista britânico (Presidente da AR, PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP, Os Verdes e PAN) e 95/XIII (1.ª) — De condenação pelo atentado terrorista cometido em Tel Aviv (CDS-PP) foram aprovados, tendo a Câmara, no final, guardado 1 minuto de silêncio.

Foi ainda aprovado, após leitura, o voto n.º 97/XIII (1.ª) — De congratulação pelo reconhecimento da capacidade demonstrada pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) (Deputados da Comissão de Saúde).

Foram aprovados os projetos de resolução n.os366/XIII

(1.ª) — Constituição da Comissão Permanente (Presidente da AR) e 374/XIII (1.ª) — Deslocação do Presidente da República a Lyon (Presidente da AR).

Foi aprovada, na generalidade, a proposta de lei n.º 23/XIII (1.ª) — Cria um regime de reembolso de impostos sobre combustíveis para as empresas de transportes de mercadorias, alterando o Código dos Impostos Especiais de

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Consumo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 73/2010, de 21 de junho, e o Regime Geral das Infrações Tributárias, aprovado pela Lei n.º 15/2011, de 5 de junho.

Foi também aprovada, na generalidade, a proposta de lei n.º 22/XIII (1.ª) — Procede à segunda alteração à Lei n.º 7/2007, de 5 de fevereiro, que cria o cartão de cidadão e rege a sua emissão e utilização, à primeira alteração à Lei n.º 37/2014, de 26 de junho, que estabelece um sistema alternativo e voluntário de autenticação dos cidadãos nos portais e sítios na Internet da Administração Pública denominado Chave Móvel Digital, e à sexta alteração ao Decreto-Lei n.º 83/2000, de 11 de maio, que aprova o regime legal da concessão e emissão de passaportes.

Foi igualmente aprovada, na generalidade, a proposta de lei n.º 24/XIII (1.ª) — Procede à primeira alteração à Lei n.º 61/2014, de 26 de agosto, que aprova o regime especial aplicável aos ativos por impostos diferidos.

Mereceu aprovação a Conta Geral do Estado de 2014. Foram aprovados três requerimentos, apresentados, respetivamente, pelo PAN, pelo BE e por Os Verdes, no sentido de os projetos de lei n.os 111/XIII (1.ª) — Inclusão de

opção vegetariana em todas as cantinas públicas (PAN), 265/XIII (1.ª) — Determina a inclusão da opção vegetariana nas refeições nas cantinas públicas (BE) e 268/XIII (1.ª) — Ementa vegetariana nas cantinas públicas (Os Verdes) baixarem à Comissão de Agricultura e Mar, sem votação, por um prazo de 90 dias.

Em votação global, foram aprovadas as seguintes propostas de resolução:

N.º 4/XIII (1.ª) — Aprova a Convenção entre a República Portuguesa e a República Democrática de São Tomé e Príncipe para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em São Tomé, em 13 de julho de 2015;

N.º 5/XIII (1.ª) — Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e os Estados Unidos da América para Reforçar o Cumprimento Fiscal e Implementar o FATCA, assinado em Lisboa, em 6 de agosto de 2015;

N.º 6/XIII (1.ª) — Aprova o Acordo entre a República Portuguesa e a República Socialista do Vietname para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinado em Lisboa, em 3 de junho de 2015;

N.º 7/XIII (1.ª) — Aprova a Convenção entre a República Portuguesa e a República da Costa do Marfim para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em Lisboa em 17 de março de 2015; e

N.º 8/XIII (1.ª) — Aprova a Convenção entre a República Portuguesa e o Reino do Barém para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento, assinada em Manama, em 26 de maio de 2015.

Foi aprovado o texto de substituição relativo aos projetos de resolução n.os 117/XIII (1.ª) — Recomenda ao Governo a

defesa de medidas comunitárias para a defesa da plantação do medronheiro e produção da aguardente de medronho no centro interior do País, norte alentejano e na serra algarvia (PSD), 193/XIII (1.ª) — Recomenda a valorização da produção e transformação de medronho (PCP) e 198/XIII (1.ª) — Recomenda ao Governo medidas de apoio à cultura do medronheiro e produção de aguardente de medronho (BE).

Foi rejeitado o projeto de resolução n.º 20/XIII (1.ª) — Pela reabertura do polo de saúde de Caldelas da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados Viver Mais (PCP).

O Presidente encerrou a sessão eram 12 horas e 46 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, temos quórum, pelo que declaro aberta a sessão.

Eram 10 horas e 5 minutos.

Solicito aos Srs. Agentes de autoridade que abram as galerias.

Não havendo expediente para ler, vamos entrar diretamente na ordem do dia.

O primeiro ponto consiste num debate temático, requerido pelo PS, sobre economia e empresas.

Para abrir o debate, tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do PS, o Sr. Deputado Carlos Pereira. O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Pela primeira vez, em muitos anos, o País está a construir uma estratégia nacional para a industrialização e fá-lo colocando Portugal na linha da frente da nova revolução industrial, uma revolução que conjuga a indústria convencional com os mais avançados progressos na tecnologia digital e na Internet, assegurando uma redução de custos que alavanca a produtividade e tornará Portugal um País mais competitivo.

Pela primeira vez, em muitos anos, Portugal apresenta uma verdadeira política industrial e aposta, ao mesmo tempo, num indispensável caminho para a substituição de importações. Há muito tempo que não se via nada disto e este é, verdadeiramente, o grande desafio de Portugal para poder estar preparado para ultrapassar, sem sobressaltos, as surpresas das conjunturas externas que atrapalham sempre os objetivos económicos para um país aberto e pequeno, como é o caso de Portugal.

Mas não se faz tudo isto colocando a carroça à frente dos bois. Dito de outra forma, não se constrói uma economia competitiva com um PIB a crescer, com contributos extraordinários das exportações, sem construir o edifício técnico industrial que integre ganhos de produtividade para reforçar a nossa competitividade.

É esse o caminho que estamos a fazer. É isso que o Ministério da Economia está a construir, contra ventos e marés, com a certeza que dificilmente teremos uma segunda oportunidade.

Há muitos anos era relativamente irrelevante ter ou não ter uma indústria competitiva: as desvalorizações deslizantes, conhecidas por crawling peg, faziam o seu papel e ofereciam ao País uma competitividade artificial. Esse tempo já acabou há muito, e hoje, sem conteúdo produtivo adaptado aos tempos e aos contextos, dificilmente podemos ousar falar numa aposta nas exportações.

É preciso, por isso, reforçar a indústria para garantir ganhos sistemáticos e permanentes nas exportações. É esta a única base do sucesso da nossa economia: produzir muito, produzir bem, produzir o que o mercado global precisa, produzir com eficiência e tornar a nossa indústria suficientemente competitiva para ganhar os mercados externos e mudar o padrão do crescimento económico, que foi sempre puxado pela procura interna. É isto que é, verdadeiramente, apostar nos bens transacionáveis.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A estratégia Indústria 4.0 é bastante mais do que uma marca, é um desígnio que incluirá o País no lote dos países mais bem preparados para o futuro. Mas não se esgota nela, abarca também a reforma do ambiente empresarial, introduzindo as medidas amigas das empresas e facilitadoras do investimento, como é o caso do programa da capitalização das empresas ou, então, a forma poderosa como estão a chegar os fundos estruturais às nossas empresas onde, em apenas dois meses, foram aprovados mais de 3000 milhões de investimento, beneficiando cerca de 3500 empresas.

Mais: a simplificação e a remoção dos obstáculos administrativos para as empresas, colocará Portugal na rota da vanguarda das boas práticas, apagando o sofrimento de empresas e empresários que passaram nos últimos anos para a concretização dos negócios. É isto o Simplex para a economia que, sem complexos, elege a facilidade, sem facilitismos, obviamente, a marca do ambiente de negócios português.

É verdade que a análise económica demonstra que a sustentabilidade do crescimento económico e o equilíbrio das contas exige uma profunda e concertada atenção ao mercado externo. Mas também é facilmente observável que a retoma económica não se produz sem o suporte do mercado interno, em particular do consumo e do investimento.

Se isto é exatamente assim para a generalidade dos países, é absolutamente decisivo e incontornável para um País como Portugal, que ainda tem um contributo reduzido nas exportações no PIB, distante dos 50%, e que precisa do mercado interno para manter níveis de crescimento económico aceitáveis para o quotidiano do seu povo e das suas necessidades.

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Não compreender isto é esquecer os anseios das pessoas, é ignorar o perfil das nossas empresas, é desconhecer o padrão da nossa economia e, por todas estas razões, é insistir num caminho necessariamente desastroso para o País.

Queremos, como quer a direita, um País exportador, um País competitivo, um País sustentável. Mas o modelo dos últimos quatro anos não assegurou nenhum destes objetivos e até comprometeu a base económica nacional porque estrangulou, de forma brutal, o mercado interno,…

Protestos do Deputado do PSD Paulo Neves.

… destruindo boas empresas no alto do altar de uma efusiva e incompreensível obsessão pela redução de rendimentos e pelo empobrecimento severo do País.

Aplausos do PS.

Mas os factos não enganam: entre 2010 e 2015, o aumento do PIB só ocorreu quando se verificou o aumento da procura interna. Vou repetir: entre 2010 e 2015, o aumento do PIB só ocorreu quando se verificou o aumento da procura interna. Em 2010, o PIB cresceu 1,9% e a procura interna também cresceu 1,9%. Em 2014, o PIB cresceu 0,9% e a procura interna cresceu 2% e, finalmente, o PIB cresceu 1,4%, em 2015, com a procura interna a crescer 1,9%.

Nestes anos a procura externa foi sempre negativa. Foi, apenas, nos anos que o PIB caiu, ou seja, em 2011, em 2012 e em 2013, que a procura externa foi positiva.

Na verdade, no passado, sempre que as contas com o exterior foram positivas, o País estava em recessão, porque a procura interna caiu a pique.

Foi assim nos últimos quatro anos, conforme já demonstrei, e foi assim, também, nas últimas três décadas. Por isso, o que nós propomos fazer não é pouco, não é fácil, mas é a ambição necessária para recolocar o País na rota das principais economias europeias.

Por isso, temos um outro caminho, um percurso mais complexo, mais difícil, mas bastante mais consistente e capaz de assegurar duas coisas, aparentemente inconciliáveis em Portugal: crescimento económico com o aumento das exportações líquidas. No contexto económico português e numa análise de médio prazo, isto só é possível sem desprezar o peso, a importância e o papel do mercado interno.

Por isso, damos voz às empresas, acolhemos, na nossa estratégia, a importância do potencial endógeno nacional, como seja a indústria do calçado, o têxtil, o vinho, o cluster automóvel, o cluster do turismo, e traçamos uma abordagem que envolve a dinamização do mercado interno com devolução de rendimentos, o que permite alcançar o que nunca foi obtido nas últimas décadas: colocar o País a crescer ao mesmo tempo que apresenta um saldo positivo das contas com o exterior.

Aplausos do PS.

Isto não se faz, como o PSD e o CDS nos demonstraram na sua experiência governativa, matando o mercado interno, secando a audácia dos empresários e anulando a confiança dos consumidores.

Protestos da Deputada do PSD Teresa Morais.

Esse cocktail de insensatez económica, que roça mesmo o absurdo político, saiu-nos muito caro, seja nas insolvências de empresas, seja no desemprego, seja no crédito vencido das famílias, seja, também, no rombo inaceitável na proteção social, atirando jovens e velhos para uma miséria que devia corar de vergonha esses governantes.

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Caro Sr. Ministro da Economia, o seu esforço, o seu empenho e a visão estratégica que revela para o País é o que os portugueses precisam para desfazer este nó górdio, desatando uma realidade que nunca se concretizou, mas que é essencial para relançar o País.

Esta solução que preconizamos para Portugal, onde damos à economia o papel central no desenvolvimento e remetemos para o seu valor instrumental, decisivo, mas nunca determinante, o papel das finanças públicas, não pode ser um ato de fé ou uma obra do acaso, é, conforme temos visto, o chapéu que abarca um rol de iniciativas e ações que consubstanciam uma visão diferente para o País. É uma nova abordagem que reconhece o papel das empresas, que enaltece a coragem dos empresários na retoma económica, de modo a assegurar o crescimento e o emprego. É isso que o Ministério da Economia está a fazer pelo País todo, passo a passo, mas com a certeza de que sem uma nova política económica, que também protege e estimula a alma empreendedora dos portugueses, que tantos resultados provoca no exterior, não aproveitamos uma nova geração de empreendedores, que é o selo de garantia para o nosso futuro coletivo.

Este Governo não tem reservas sobre a importância do fomento empresarial, para que jovens e menos jovens possam encontrar no seu País o ambiente certo que acolhe, acarinha e promove novas empresas, novos projetos e novas ambições.

É isso, também, o Startup Portugal, um programa desenhado para o futuro, que se cruza com a Indústria 4.0, mas que está vocacionado para transformar ideias em negócios para o mercado global.

Há nesta abordagem do Startup Portugal o lançamento de uma ideia força de fertilização cruzada, fertilização cruzada entre conhecimento e negócio, entre tecnologia e indústria, entre universidade e empresas. Mas há, também, neste programa um dado novo: é um projeto português que aposta na versatilidade dos nossos empreendedores e na sua capacidade de alcançar novos mercados, seja com parcerias externas, seja com investidores estrangeiros.

Sr.as e Srs. Deputados, nos próximos tempos vamos ver emergir pelo País inteiro mecanismos para acelerar negócios e incubadoras para transformar ideias em empresas. Esta passará a ser a imagem de marca do País, que, como nos lembra, com muita oportunidade, a juventude socialista, não deixa ninguém para trás. É isso mesmo, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, connosco ninguém fica para trás!

Protestos da Deputada do PSD Teresa Morais.

Termino, sublinhando que acabo de descrever um pouco mais de seis meses de um Governo que interpreta o desenvolvimento através de uma nova forma de encarar o papel da economia e das empresas, e que será, desta maneira, com uma ideia clara de industrialização,…

Protestos da Deputada do PSD Teresa Morais.

… com um estímulo certo ao empreendedorismo, com o foco incontornável na inovação e no conhecimento, com o reconhecimento da importância do esforço e do empenho dos empresários, assim como no estabelecimento de um ambiente de negócios facilitador e simplificado, que passaremos a viver um tempo novo em Portugal, reforçando a atenção do investimento externo ao nosso País, colocando-o, assim, ainda mais vezes, no radar dos grandes negócios.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Inscreveram-se para pedir esclarecimentos os Srs. Deputados Fernando Virgílio Macedo, do PSD, e Paulino Ascensão, do BE.

Sr. Deputado Carlos Pereira, como é que pretende responder?

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Respondo aos dois, no fim, Sr. Presidente. O Sr. Presidente: — Muito bem.

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O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Carlos Pereira, cada vez que essa bancada parlamentar fala de economia, mais se parece com a orquestra do Titanic.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — Todos temos a convicção de que, desde que este Governo tomou posse, as coisas não têm corrido bem na economia. Todos reconhecem isso, exceto a sua bancada, exceto o Governo e exceto as bancadas parlamentares daqueles que apoiam o Governo.

Os Deputados dessa bancada deviam estar muito preocupados com os indicadores da economia. Eu diria mais: os Deputados dessa bancada deviam estar envergonhados com a evolução dos indicadores desta economia desde que este Governo tomou posse.

Vozes do PSD: — É verdade! Muito bem!

O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — Efetivamente, o Partido Socialista tinha a narrativa de que havia outra forma de fazer as coisas. É verdade, havia. Efetivamente, havia outra forma, muito pior, e que pôs em causa a recuperação da nossa economia, que se vinha sentindo desde 2014.

Mas vamos a factos e a números. Crescimento do PIB: no 1.º trimestre deste ano, esse crescimento foi só 0,9%; no 1.º trimestre de 2015, o crescimento tinha sido 1,4%. Nessa ocasião, o que é que os partidos da oposição disseram? Disseram que esse crescimento era insuficiente. E agora o que dizem esses partidos sobre esta taxa diminuta de crescimento alcançada por este Governo?

Taxa de desemprego: no 1.º trimestre do ano corrente, a taxa aumentou para 12,4%. Foram, ainda, destruídos mais de 48 000 postos de trabalho. Com mais desemprego e menos emprego, certamente, todos concordamos que nem as empresas, nem as famílias, nem a economia em geral pode estar melhor. O que diz o PS sobre a destruição de empregos? Nega, obviamente, e isso é consequência do seu estado de negação.

Mas há mais más notícias para este Governo. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), o investimento diminuiu 2,2% no 1.º trimestre deste ano, algo que não sucedia desde o 1.º trimestre de 2013, ou seja, no auge da crise económica e da recessão que tivemos, consequência da bancarrota que o Partido Socialista nos deixou em 2011.

Não sei aonde o Sr. Deputado foi buscar a visão cor-de-rosa sobre as nossas exportações, porque, em março deste ano, elas caíram 3,8% e tornaram a cair, em abril, 2,5%. O volume de negócio dos serviços caiu também em março 5,7% em relação ao ano anterior. Ou seja, todos os indicadores alertam que as coisas não estão a correr bem na economia e, perante este cenário negro, pergunto: onde está o cenário cor-de-rosa prometido por este Governo? Mas também respondo: não existe! O que existe é um Governo que tem desbaratado a credibilidade que Portugal tinha recuperado junto dos investidores.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Fernando Virgílio Macedo (PSD): — O que existe é um Governo que tem desbaratado a confiança das empresas e dos investidores nacionais e internacionais.

Por isso, Sr. Deputado, questiono: reconhece ou não essa bancada parlamentar que, perante esses indicadores económicos, algo vai mal na nossa economia? Reconhece essa bancada que urge o Governo inverter a sua política, sob pena de, se não o fizer, estar a levar outra vez o País para as dificuldades financeiras? Ou será que essa bancada vai continuar a comportar-se como a orquestra do Titanic e continuar a tocar, continuar a tocar até a água chegar aos pés, aos joelhos ou ao pescoço dos portugueses, como em 2011?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Paulino Ascenção, do Bloco de Esquerda.

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O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Carlos Pereira, o problema da descapitalização das empresas, tal como do desemprego, resolve-se da maneira simples que é mais eficaz, com políticas de crescimento que não dispensam o investimento público.

O crescimento fará subir os resultados das empresas e melhorar a saúde dos seus capitais próprios. É preciso ir à raiz do problema, porque medidas paliativas não mudam a essência.

Os partidos da direita andam sempre com a narrativa de terem recuperado o investimento. Analisando os componentes da variação do investimento e esmiuçando esse investimento desmontamos a falácia. Nos períodos que, em termos de variação em cadeia, revelam maior variação possível de investimento — primeiros trimestres de 2014 e de 2015, respetivamente —, qual é a componente mais relevante que encontramos? Variações de existências que decorrem da paragem das refinarias da Galp para manutenção, variações de existências que, obviamente, se esfumaram nos períodos subsequentes, e, também, da construção do imobiliário. É este investimento que sustenta o crescimento da economia, que cria emprego duradouro?

Quanto ao investimento estrangeiro, é outra falácia. Traduzia-se na compra de empresas que vão proporcionar rendas fixas aos novos donos, que vão traduzir-se, a médio prazo, num saldo negativo de saída de capitais do País. Onde é que estão os novos investimentos, as novas instalações industriais?

Perante este cenário, estas ilusões estatísticas, pergunto: de que maneira se distingue a estratégia preconizada pelo PS? Como irá proporcionar um crescimento mais sustentado e duradouro, promover emprego qualificado, que estanque a sangria da emigração e promova o regresso daqueles que saíram do País?

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pereira.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, obrigado pelas perguntas que me colocaram. Sr. Deputado Virgílio Macedo, compreendo que o PSD esteja mortinho por conseguir construir uma narrativa de que este Governo e este Partido Socialista é contrário à economia e às empresas.

Protestos do PSD.

Mas, na verdade, esse esforço que o PSD está a fazer só revela uma tentativa um bocadinho obsessiva para esconder…

Protestos do PSD.

Os Srs. Deputados estão sempre muito excitados quando a bancada parlamentar do PS fala!

Como eu dizia, do meu ponto de vista e do ponto de vista do PS, essa posição só pretende esconder aquilo que foi o garrote que o PSD e o CDS impuseram à economia e ao tecido empresarial português nos últimos cinco anos, e esse garrote é claro quando se olha para os resultados no final de 2015, quando os senhores saíram do Governo. No final de 2015, estávamos num verdadeiro plano inclinado. O País estava em plano inclinado profundo!

Protestos do PSD.

Srs. Deputados, só para terem uma ideia, os senhores colocaram a economia portuguesa a recuar 13 anos! Tivemos uma queda de cinco pontos percentuais no produto interno bruto do País, nunca visto na história democrática do País.

Aplausos do PS.

Portanto, Sr. Presidente, o Sr. Deputado Virgílio Macedo apresentou um conjunto de indicadores. Permita-me lembrar-lhe os indicadores que o Sr. Deputado quis esconder.

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O primeiro foi o que saiu ontem, que é o facto de Portugal ter sido só o segundo País da Europa onde o índice de produção industrial mais cresceu.

Protestos do PSD.

Não me venham dizer agora que isto é obra do PSD e do CDS, porque já estávamos em abril.

Protestos do PSD.

Mais, tivemos um crescimento do índice de confiança dos consumidores. Portanto, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, fica claro o desespero do PSD, no que diz respeito àquilo que é uma política positiva, que vai conseguir puxar pela economia, puxar pelas empresas, garantir o crescimento económico, aumentar o emprego e dar esperança, novamente, às empresas, aos empresários e aos portugueses.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Não sei se o Sr. Deputado Carlos Pereira não se terá esquecido de responder às perguntas de um dos Srs. Deputados.

Risos do PSD.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Deputado Paulino Ascenção corroborou, de alguma forma, as nossas ideias sobre a forma como Portugal deve crescer e como se deve contrariar este crescimento do desemprego.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Ministro da Economia, Caldeira Cabral. O Sr. Ministro da Economia (Manuel Caldeira Cabral): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Portugal está a sair de um momento de arrefecimento económico que tem vindo a acontecer desde meados do ano passado. Dependendo dos indicadores, temos o crescimento económico a abrandar já durante a segunda metade do ano passado, antes da entrada em funções do atual Governo, indicadores que continuaram a arrefecer no 1.º trimestre. Tivemos a taxa de crescimento a desacelerar desde quase o início do ano; tivemos o investimento a desacelerar quase desde o início do ano passado; e tivemos as exportações também a desacelerarem desde, pelo menos, agosto do ano passado, com reflexos ainda visíveis no 1.º trimestre.

Há indicadores mais positivos, como, por exemplo: os indicadores de produção industrial, de abril, já aqui citados; a confiança dos consumidores; os indicadores sobre exportações para os países da União Europeia também estão a dar sinais muito positivos; ou, se quiserem, os indicadores sobre o turismo, que também apontam para que, depois de vários anos bastante positivos, venhamos a ter um ano ainda mais positivo, com um recorde do número de turistas, um aumento de 17% dos proveitos no 1.º trimestre, de 12% nas dormidas e de 12% nos hóspedes.

O discurso de que está tudo a correr mal e de quanto pior, melhor é um discurso que não convence os portugueses, é um discurso destrutivo, é um discurso que não interessa a ninguém.

Aplausos do PS.

Vir à Assembleia da República dizer que o desemprego aumentou quando, comparado com o de há um ano, o desemprego tem 45 000 pessoas a menos e, portanto, teve uma evolução positiva, com uma criação líquida de emprego também positiva. Mas o papel do Governo não é o de discutir indicadores, não é o de olhar para indicadores que estão a arrefecer e ficar parado. O papel do Ministro da Economia é olhar para os indicadores e dizer: «Estes indicadores não nos satisfazem, não nos deixam contentes, deixam-nos insatisfeitos!» Se calhar,

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partilhamos essa insatisfação com muitos dos Deputados, mas o que estamos a fazer é a tomar medidas, e as medidas que tomámos foi olhar para os problemas concretos das empresas, para os desafios que se colocavam à sociedade e para as oportunidades que também existem. Os problemas concretos começam no excessivo endividamento e nos problemas de financiamento. O Programa Capitalizar destina-se exatamente a combater estes problemas, desincentivo à capitalização e excessivo endividamento, com medidas concretas.

Ontem, a Estrutura de Missão apresentou o seu relatório completo. Este relatório completo vai ser agora transformado numa resolução do Conselho de Ministros, mas não ficámos à espera que a Estrutura de Missão apresentasse as suas medidas para começarmos nós próprios a pôr no terreno os fundos que já pusemos, quer os Fundos de Capital de Risco, quer os fundos de Business Angels, quer, também, os fundos das linhas com garantias do Estado, que estão já, neste momento, a ser negociadas com a banca e que deverão estar disponíveis às empresas nas próximas duas semanas.

Medidas concretas foram também as tomadas no Startup Portugal, porque Portugal não tem só problemas, Portugal tem também desafios e oportunidades. Os desafios que enfrentamos com Indústria 4.0 estão a ser trabalhados com a indústria num processo participativo, em que temos envolvidas algumas das maiores empresas internacionais, como a Siemens, a Bosch ou a Altice, grandes empresas com experiência nesta área, que a partilham connosco, e também empresas dos nossos sectores tradicionais, como o do calçado, o do vestuário, ou sectores como o turismo, sectores estratégicos para Portugal.

O Startup Portugal e o Indústria 4.0 pretendem responder aos desafios da indústria do século XXI e pretendem responder também com medidas concretas.

Anunciámos, há 15 dias, no Porto, o Startup Portugal, com a abertura imediata de concursos e de candidaturas para startup que queiram participar neste programa. Anunciámos que será concretizado no próximo Orçamento do Estado o programa Semente, de incentivos para que business angels e investidores que queiram investir em empresas possam receber incentivos fiscais no IRS. Anunciámos o programa Startup Voucher, cujas candidaturas deverão abrir ainda em agosto, portanto, ainda antes do final do verão, para que as empresas se possam candidatar e para que os alunos possam candidatar-se, por exemplo, ao programa Momentum e terem um ano para constituir o seu projeto de empresa com um apoio especial do Estado, que lhes permita garantir a sua subsistência durante este ano de criação do projeto.

O programa Semente e o programa Startup Voucher são para ajudar os novos empreendedores a fazerem o seu caminho; os fundos de capitalização e os Fundos de Capital de Risco são para ajudar as empresas e os projetos válidos a crescer.

A economia faz-se com medidas e é neste sentido que estamos a trabalhar, com medidas concretas de apoio às novas empresas e às empresas que querem crescer, com medidas de apoio à reestruturação das empresas que estão em dificuldades, com instrumentos de financiamento mas também com instrumentos de revisão legal, utilizando as revisões que já foram feitas e dando continuidade a esse processo, do que foi feito com os PER (processo especial de revitalização), mas olhando para o que não estava a funcionar, para o que faltava fazer, criando e apurando esses instrumentos.

A política que estamos a fazer faz-se também ouvindo pessoas.

Somos contra uma ideia de ficar a carpir à volta de indicadores. Somos contra uma ideia de passar negativismo.

A melhor resposta a quem apenas diz que está tudo a correr mal ou que não há confiança não é dada por nós, é dada hoje pelos investidores, por investidores como a Faurecia ou a Continental Mabor, que estão a fazer grandes investimentos que anunciaram hoje, já com o presente Governo, ou por vários outros investimentos que temos em carteira, com várias candidaturas elegíveis, de mais de 1000 milhões de euros de investimento, que estão em grandes investimentos no regime contratual, ou com o recorde de candidaturas que tivemos só em abril e maio, já depois de ter saído o Orçamento do Estado, que só saiu no final de março, e já depois de serem melhor conhecidos todos os contornos da política do atual Governo, um recorde de candidaturas, dizia, um número de candidaturas de mais de 3500 empresas, com intenções de investimento que excedem os 3000 milhões de euros e que demonstram uma forte confiança dos investidores na economia.

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A confiança que o Governo tem na economia funda-se nestes números, funda-se no contacto com as empresas, funda-se em iniciativas concretas.

Estive hoje de manhã, em Lisboa, a inaugurar um espaço que deixou de estar afeto ao Ministério da Defesa, a Manutenção Militar, um espaço abandonado, que, em articulação entre o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa, vai ser transformado num espaço para empresas modernas, de empreendedorismo, mas também para grandes empresas de serviços que queiram instalar-se em Lisboa. Estive, anteontem, no Porto, numa iniciativa semelhante com a Câmara Municipal do Porto, e tive o prazer de também já ter estado em Braga, em Aveiro, em Coimbra e em várias outras partes do País, com câmaras municipais, com empreendedores, com empresas que estão a investir e que acreditam no nosso País. São estas empresas que representam o nosso futuro e estas empresas não estão — e peço desculpa aos que assim acreditam — com falta de confiança em Portugal.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, há nove oradores inscritos para pedir esclarecimentos. Como quer responder?

O Sr. Ministro da Economia: — Responderei a grupos de três oradores, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Assim sendo, do primeiro grupo de três, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Economia, é sempre um prazer encontrá-lo aqui, no Parlamento. E hoje o Sr. Ministro vem-nos falar do que é o papel do Ministro da Economia. Confesso que também já perguntei a mim próprio qual é o papel do Ministro da Economia. E lembrei-me de uma pessoa que o conhece muito bem, é, aliás, seu amigo — penso que terá sido mesmo quem o convidou para o Governo —, que, quando o quis descrever, não se lembrou de um termo melhor do que a palavra «tímido». Fiquei na dúvida sobre o que o Primeiro-Ministro queria dizer quando achou que o Ministro da Economia era tímido. E achei que a melhor forma de responder a esta minha dúvida era ir ao dicionário ver o significado da palavra «tímido». E aí, entre outros sinónimos, encontrei: acanhado, amedrontado, apoucado, assustadiço, atadinho, empachoso, encolhido, envergonhado, espantadiço, fraco, frouxo, ignavo, imbele, incerto, matuto, medroso, mijote,…

Risos do PSD e do CDS-PP.

… mole, pávido, poltrão, pusilânime, recatado, receoso, retraído, semetidinho, temeroso, trépido, vergonhoso.

Protestos do PS.

Sr. Ministro, não fui eu, nem ninguém da bancada do CDS, que lhe chamou isto. Foi uma pessoa que é seu amigo, o Primeiro-Ministro que o convidou para o Governo, que descreve V. Ex.ª desta forma.

E eu, que na maior parte das vezes nem concordo com o Primeiro-Ministro, confesso que, desta vez, ele, se calhar, tinha alguma razão.

Vozes do PS: — Eh!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Ministro, sempre que há uma notícia sobre a economia portuguesa, essa notícia, infelizmente, é frouxa, é tímida. Nós olhamos para todas as agências internacionais e, sempre que falam sobre a economia portuguesa, a verdade é que reveem os números para baixo. O FMI, o Conselho das Finanças Públicas, a UTAO, a Comissão Europeia, a OCDE e, agora, até o próprio Banco de Portugal, quando olham para os dados da economia portuguesa, dizem que eles são muito mais fracos do que os dados que o Governo continua a dar do crescimento da nossa economia.

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Há uma pergunta, Sr. Ministro, que queria fazer, desde já: se o grande problema da economia portuguesa começou em 2015, então, por que é que V. Ex.ª inscreveu, este ano, no Orçamento do Estado, um crescimento da economia portuguesa de 1,8%?

Aplausos do CDS-PP.

É que, então, não pode ser uma novidade para si, Sr. Ministro.

Aplausos do CDS-PP.

Segunda questão, Sr. Ministro: hoje, olhamos para um conjunto de agências internacionais respeitadas e percebemos que, de facto, há um problema na economia, em Portugal. Olhamos para o que o Mecanismo Europeu de Estabilidade diz sobre a economia portuguesa e ele diz que a reversão das reformas implementadas durante o programa vai reduzir a competitividade. O jornal diz mesmo «Governo vai prejudicar a economia», o seu Governo, o Governo do qual o senhor é Ministro.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Quando olhamos, por exemplo, para o que o Commerce Bank diz sobre Portugal, o Commerce Bank dizia, em 2014, que Portugal era o milagre económico da Península Ibérica e, hoje, diz que Portugal está à beira de uma crise.

Protestos do Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos.

E acho curioso que o Sr. Ministro venha aqui falar dos dados do Instituto Nacional de Estatística, esquecendo, por exemplo, que o Instituto Nacional de Estatística nos diz que o investimento, em Portugal, caiu 0,6%, só no 1.º trimestre, e que as exportações (dados de junho, já) diminuíram 2,5%. E isto, Sr. Ministro, como é óbvio, tem um efeito nos dados do emprego, que têm vindo a recuperar desde 2013 e que, como sabe, este ano, estão a afrouxar, estão, infelizmente, a não ter a pujança que já tiveram no ano passado. E isto, Sr. Ministro, como é óbvio, implica que tenhamos um Ministro da Economia que seja intrépido e não um Ministro da Economia que seja tímido.

Por isso mesmo, Sr. Ministro, gostava de fazer-lhe duas perguntas muito focadas. O senhor apresentou, ontem, um programa sobre a capitalização das empresas portuguesas e tudo o que pudermos fazer para essa mesma capitalização é absolutamente essencial.

Não conhecemos o programa, não conhecemos nenhuma das medidas — e espero que tenha a gentileza de as enviar para o próprio Parlamento —,…

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — … mas há uma medida sobre a qual gostaria de questioná-lo já, porque os primeiros sinais não são bons sinais. O Governo anunciou que queria que se pudesse fazer um reforço do financiamento das empresas com capitais próprios, dando-lhes o mesmo tratamento fiscal que é dado a quem recorre à banca.

Sucede que a notícia que saiu hoje, Sr. Ministro, é que esta medida não vai ter aumento da despesa fiscal, isto é, não vai ter um benefício efetivo para as empresas. Gostava que me confirmasse o que vai acontecer especificamente nesta medida.

Mas queria também falar-lhe de outra matéria que é muito importante. Quando o Governo fez 100 dias, o Sr. Ministro fez um périplo pelo País, dizendo que, em 100 dias, tinha posto 100 milhões de euros na economia.

Fiquei muito preocupado e fui ver o que estava a acontecer e se isso seria uma boa notícia. Percebi que os milhões de que estava a falar seriam, provavelmente, aqueles milhões do QREN, que estão por pagar há muito tempo e que as finanças estão a reter, que o Sr. Ministro já anunciou muitas vezes que iriam pagar, mas que, na verdade, e basta perguntar às empresas, ainda não chegaram lá.

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O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Pedro Nuno Santos): — Isto é uma intervenção! O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Portanto, percebi que os 100 dias são 100 dias sem os milhões do QREN — é que faltam pagar mais de 100 milhões de euros do QREN. São 100 dias, mas são 100 dias sem investimento, são 100 dias sem crescimento, são 100 dias sem economia — e esse é, infelizmente, o papel do Ministro da Economia do Governo de Portugal.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado António Costa Silva. O Sr. António Costa Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, nós, quanto mais sabemos, quanto mais informação temos, percebemos que pior é a situação da economia portuguesa.

Eu retrataria este Governo como um governo que anda a duas velocidades: uma que é a velocidade de lebre, relativa às reversões, ao desinvestimento, ao aumento do desemprego, à degradação dos indicadores macroeconómicos, à desconfiança externa.

Protestos dos Deputados do PCP Bruno Dias e de Os Verdes José Luís Ferreira.

Olha a orquestra!

Mas tem outra velocidade, que é a velocidade de caracoleta, no que respeita ao crescimento económico, ao investimento, às exportações, ao emprego, à aplicação de medidas que facilitem a atividade económica, nomeadamente a aplicação do Portugal 2020 (e já falaremos sobre isso).

Sr. Ministro, é muito triste aquilo que está a acontecer a Portugal, é mesmo muito triste. É um retrato mesmo muito mau. Alguns exemplos já foram dados aqui. Aliás, Churchil dizia mesmo que existem três mentiras: as pequenas, as grandes e as estatísticas. Mas mesmo estas últimas não vos salvam, não há nenhuma estatística que vos seja favorável, nem essas conseguem usar. Sabe porquê? Os resultados no terreno dos investimentos são aquilo que demonstra aquilo que é a realidade portuguesa da atividade económica. Não existe investimento!

Vozes do PSD: — Claro!

O Sr. António Costa Silva (PSD): — O Sr. Ministro fala do investimento de uma forma muito tímida, dizendo que aconteceu, que inaugurou. Mas a maior parte deles, aqueles que o Sr. Ministro conhece, vêm do anterior Governo. Não confiam neste Governo — é verdade, sabe que é verdade.

Tal como já aqui foi demonstrado pelos meus colegas, os senhores falam, falam, mas, em termos daquilo que é a dinâmica da atividade económica, não vimos nada. Muita propaganda, mas nada de atividade económica.

Mas, Sr. Ministro, gostava que nos esclarecesse, definitivamente, um conjunto de matérias, nomeadamente, e já fizemos alguns pedidos ao Sr. Ministro, os pagamentos às empresas, no âmbito do QREN, dos saldos finais.

Vozes do PS: — É preciso ter lata!

O Sr. António Costa Silva (PSD): — O Sr. Ministro tem adiado sucessivamente — aliás, já foram muitas as audições em que o Sr. Ministro participou, muitas as perguntas que lhe foram feitas, muitas participações aqui neste Plenário — a resposta à pergunta, dizendo que está a resolver. Mas, cá está, anda a passo de caracoleta a resolver os assuntos. E as coisas não andam. Essa é uma grande realidade. E o que temos, neste momento, é que os pagamentos no âmbito do QREN, os saldos finais do 2.º semestre do ano passado, não chegaram às empresas. Zero! E o Sr. Ministro vai dizendo que pagaram 3 milhões de euros, mas, na prática, não pagaram. Resolveram algumas situações que, como o Sr. Ministro diz, vêm de trás e que eram de auditorias de projetos, enfim, situações normais. Mas, depois, desculpa-se com o overbooking e com um conjunto de matérias. Ora,

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nós gostávamos que nos esclarecesse em definitivo. Aliás, gostávamos mesmo de saber se já resolveu este assunto com o Sr. Ministro das Finanças.

Já agora, também gostávamos de saber, no âmbito do sistema de incentivos, do Portugal 2020, o que é que temos de execução. Não é de pagamentos. O Sr. Primeiro-Ministro, esta semana, já nos falou em pagamentos e em adiantamentos às empresas, mas o que queremos saber é a execução, a despesa validada, realizada pelas empresas, e certificada. É isso que queremos saber. Execução é isso, não é outra coisa, não é pagamentos.

Os senhores pagam, adiantam o dinheiro, e eu pergunto: quais são as garantias que as empresas dão ao Estado português e a Bruxelas para os adiantamentos que receberam? É um esclarecimento que tem de ser dado ao nosso Parlamento. Nós não sabemos, mas queremos saber. Pelos vistos, não existe.

Sr. Ministro, já agora, nesta economia que anda a passo de caracoleta, como já referi, temos muito show-off, mas, na prática, não temos nada. Os investidores e a confiança na economia não existem.

Aliás, basta ver o semblante do Sr. Ministro, a tristeza que lhe vai no rosto, para perceber a situação do País no plano da economia. É verdade, falta de ânimo, falta de energia, Sr. Ministro, é uma realidade.

Mas terminava com uma frase de Gustave Flaubert, que dizia: «Cuidado com a tristeza. Ela é um vício».

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: — Para terminar este primeiro bloco de pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Costa.

O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, em primeira instância, depois das intervenções do CDS e do PSD, se calhar, teria aconselhado o Sr. Deputado Pedro Mota Soares a que, quando foi ministro, tivesse comparado um dicionário para saber o significado das palavras «desemprego» e «pobreza». Talvez tivesse sido bom para o País.

Aplausos do PS.

Protestos do Deputado do CDS-PP Pedro Mota Soares.

Sr. Deputado Costa Silva, depois da sua intervenção, deixe-me lembrar-lhe o seguinte: a velocidade caracoleta é certamente a daquele Governo que tinha a responsabilidade de avançar com o Portugal 2020, a partir do dia 1 de janeiro de 2014, e que, em novembro de 2015, quando deixou o Governo, aparentemente, só uma única empresa tinha recebido dinheiro de fundos comunitários do Portugal 2020, tinha sido um restaurante. É esta a velocidade caracoleta.

Aplausos do PS.

Depois, sendo este um debate sobre economia e empresas, também é importante colocarmos, aqui, o tema da energia. A energia e os custos energéticos são custos consideráveis quer para os consumidores quer para a indústria. Devemos, por isso, ter uma política energética amiga da indústria e dos consumidores, salvaguardando sempre os consumidores mais vulneráveis.

A concorrência e a liberalização dos mercados energéticos deve beneficiar os consumidores e a indústria, e não os prejudicar. Saudamos, por isso, a importância que o sector apresenta para o Governo, nomeadamente, na aposta da eficiência energética nas tarifas e na sustentabilidade.

A eficiência energética é o futuro e é também o presente da sustentabilidade do sector. Por isso, questiono, Sr. Ministro: que políticas na área da eficiência energética estão previstas? Ao longo dos últimos anos, a nível energético, a Península Ibérica funcionou como uma ilha. Como tal, é de louvar o trabalho do nosso Governo para, a nível das interligações, nomeadamente com Marrocos, através do cabo elétrico submarino, resolver o problema no sentido de Portugal não ser, em conjunto com Espanha, uma ilha.

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Pergunto: como é que estão as negociações quer com Marrocos, quer com França, o país que coloca problemas para que Portugal e Espanha continuem a ser uma ilha, do ponto de vista energético? Sublinho essa importância e, para o Partido Socialista, as interligações são cruciais.

No contexto do Orçamento do Estado de 2016, foi aprovada, por esta Câmara, uma proposta sobre uma tarifa social para a área da energia.

O Partido Socialista e o seu grupo parlamentar sempre defenderam esta medida, uma medida justa que visa responder a quem mais precisa. É público que, a partir de dia 1 de julho, os consumidores podem beneficiar desta tarifa. Por isso, queremos saber: qual é o ponto de situação? Quem vai pagar esta medida? São os consumidores ou são as empresas do sector?

É importante que se responda, como também é importante que se diga, nesta como em outras matérias, que o Partido Socialista cumpriu o que os outros prometeram.

Palavra dada é palavra honrada e é palavra cumprida. E, isso, o Partido Socialista fez na tarifa social.

Aplausos do PS.

Fê-lo respondendo a quem mais precisa: uma política energética justa e que ajuda os consumidores mais vulneráveis.

Aplausos do PS.

Neste momento, assumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Caeiro.

A Sr.ª Presidente: — Conforme estipulado, o Sr. Ministro da Economia irá agora responder a este grupo de perguntas.

Tem a palavra, Sr. Ministro.

O Sr. Ministro da Economia: — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, para além da simpática referência quanto à minha alegada timidez, que é algo que, de facto, não me assola desde o início, começo, por dizer que, se tivesse dado mais atenção — e também poderíamos ir a um dicionário verificar os problemas que causa a falta de atenção —,…

Aplausos do PS.

… ao Sr. Primeiro-Ministro, tinha percebido que esse foi um elogio às políticas do Ministério da Economia. Vozes do CDS-PP: — Ah!…

O Sr. Ministro da Economia: — E o elogio foi que, sendo políticas ousadas e fortes as que estamos a desenvolver no Ministério da Economia — algumas delas são políticas que há muito o País e as empresas reivindicavam —, no Ministério da Economia, estávamos a ser, eventualmente, demasiado tímidos e discretos na sua divulgação e na sua, se quiser, propaganda.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Foi alegadamente um elogio!

O Sr. Ministro da Economia: — Ora, eu tenho estado mais empenhado em trabalhar…

Aplausos do PS.

… e também em ouvir as várias partes interessadas, como as empresas, as associações empresariais, os sindicatos, os stakeholders, no caso do programa de capitalizados do sector financeiro, que são muito importantes. E por isso mesmo tenho sido discreto para não estar a anunciar políticas e medidas enquanto estou a ainda a ouvir as pessoas.

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No entanto, mesmo com um método de trabalho mais participado, com uma auscultação mais profunda das pessoas do sector, temos lançado medidas, por exemplo, no caso da capitalização, em articulação com a Estrutura de Missão.

É assim que estou a atuar! E discreto, para mim, não é nenhum insulto, assim como tímido também não é insulto, é só uma característica, que, infelizmente, não tenho, mas, se tivesse, não teria nenhum problema com isso. Prefiro ter políticas ousadas do que ter muita fanfarronice e políticas, essas, sim, tímidas, para o apoio às empresas.

Aplausos do PS.

A oposição falou aqui de milagre económico que deveria estar a acontecer, apesar da desaceleração da economia portuguesa estar a acontecer já desde o 2.º trimestre do ano passado, portanto, vários meses antes da entrada do novo Governo, e, enfim, do «Titanic» em que a economia agora está. Não me parece que qualquer das imagens seja correta: nem em Portugal há um milagre, nem a economia portuguesa é um Titanic.

É verdade que a economia portuguesa se afundou muito com o ajustamento dos últimos anos. É verdade! Caiu a produção, caiu o investimento. É verdade que estamos a trabalhar para a melhorar.

Falaram aqui dos fundos comunitários, no COMPETE e nos fundos de incentivo às empresas. De facto, nos primeiros 100 dias, propusemos colocar 100 milhões, aliás, pusemos 116, e que já ultrapassaram os 200 milhões.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Ministro da Economia: — Não posso deixar de registar, com alguma preocupação, que, aparentemente, o PSD, agora, está contra os adiantamentos às empresas que querem investir. Acham que as empresas têm boa tesouraria em Portugal? Esta é uma posição com a qual não concordamos e, de facto, os 200 milhões que já avançámos às empresas estão a ser executados, estão a ser concretizados em investimento. Sim, adiantámos dinheiro às empresas, porque as empresas, depois destes anos, não estão com folga de tesouraria.

Falou também aqui que o QREN estava a passe de caracol. Lamento! Os pagamentos do QREN vão estar concluídos até ao final deste mês. Muitos dos pagamentos já foram feitos. Temos mantido um bom ritmo de pagamentos e já, aqui, lembrei, e volto a lembrar, que, muitas vezes, estamos a pagar despesas efetuadas em 2012 e 2013, de processos que estavam completamente paralisados.

Portanto, se isto é andar a passo de caracol, se fazer mais em seis meses do que, se calhar, se fez no último ano e meio, antes da tomada de posse deste Governo, então não sei que lesma é que existia neste sector.

Aplausos do PS.

Sobre a energia, quero agradecer a intervenção e dizer que, de facto, estamos empenhados na concorrência, que o que estamos a fazer com a tarifa social é muito importante para o alargamento de um direito das pessoas, que, por razões burocráticas, estavam a ser excluídas, e estamos a trabalhar nas interligações, porque estas são muito importantes para a estratégia que temos de energias renováveis e para que essa estratégia possa ter menores custos para os consumidores. É esse o nosso maior empenho.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para iniciar a segunda ronda de pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, queria colocar, fundamentalmente, duas questões, e para colocar a primeira questão não vou ler dicionários, nem notícias de jornais, apenas um relato de um pequeno empresário do sector da restauração.

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Alguns Srs. Deputados conhecem, seguramente, a pastelaria, que é a mais conhecida em Almada, que este empresário dirige, e passo a ler uns parágrafos de uma carta que nos remeteu: «Desde janeiro de 2012, os nossos dois estabelecimentos têm vindo a pagar em cada 10 euros de vendas mais 1 euro de imposto do que anteriormente, visto o valor do IVA ter passado de 13% para 23%.

Neste momento, decorridos 52 meses desde o aumento do IVA, durante os quais continuámos a praticar as mesmas tabelas de preços, já pagámos mais de 1 milhão de euros adicionais, referente àquele imposto, o qual foi suportado, na sua totalidade, pelo esmagamento da nossa margem de comercialização. Margem essa que é cada vez mais reduzida, pois ao longo deste tempo os custos da matéria-prima têm aumentado constantemente, tendo, em alguns casos, sofrido aumentos superiores a 50%, sem que daí tenham resultado quaisquer aumentos às nossas tabelas de preço, devido às dificuldades do mercado em absorver essas correções.

Daí a situação muito crítica que estamos a atravessar. O fundo de maneio existente já terminou há muito tempo, as economias dos sócios para fazer face à velhice foram colocadas nas empresas, para não fazer má figura com ninguém, na esperança de que este enormíssimo erro — a subida do IVA —, que se revelou catastrófico para um sector de atividade até então equilibrado, fosse corrigido.

Em 1 de julho próximo, quando chegarem as correções, estas virão tarde e, só por si, não resolvem a situação crítica em que nos encontramos. As nossas firmas, na globalidade, estão deficitárias em cerca de 1,6 milhões, repartindo-se a dívida quase na sua totalidade entre a banca, as finanças e a segurança social. Durante os dois últimos anos temo-nos esforçado no sentido de procurar soluções que nos permitam enfrentar o futuro com otimismo e realismo, mas nos últimos dois anos só temos encontrado portas fechadas, porque todos os fundos, todos os planos, tudo o que conhecemos existir para ajudar as empresas tem, como premissa, a condição de as empresas não terem dívidas.

Ora, é evidente que qualquer empresa em dificuldades irá certamente ter dívidas a estas entidades, visto estas representarem uma grande fatia das obrigações das empresas. E, como tal, é-lhes vedado o direito de pedir ajuda e de se puderem equilibrar.

Aguardo com expectativa, eu e mais 52 trabalhadores e suas famílias que dependem do sucesso das nossas empresas, que intercedam por nós, junto de quem de direito, de quem tem o poder e o dever de nos ajudar.»

Sr. Ministro, julgo saber que idêntica missiva foi enviada para todos os grupos parlamentares e também para o Governo. Isto é a tradução, na vida real, daquilo que estamos aqui a discutir. Esta é a situação de milhares de empresas. E quando falamos — e já lá iremos, mais à frente neste debate — de empresas novas, de startups, de business angels, de novas oportunidades para os negócios, não podemos ignorar que há uma economia real, que há micro, pequenas e médias empresas que se debatem com enormes dificuldades. Não podemos esquecer aqueles que querem continuar no negócio e que sempre manifestaram e demonstraram capacidade e empenhamento para fazer o País andar para a frente. Não podemos deixar-nos cair na ideia de que o que é novo é que interessa.

Colocamos esta questão, precisamente, para que haja uma reposta nova a problemas concretos que existem e que não estão a ser resolvidos nas medidas e nas políticas que temos encontrado, pelo contrário.

Por outro lado, gostava de referir aqui as novas velhas questões que se colocam na discussão em torno da chamada «digitalização da economia», designadamente no que diz respeito aos trabalhadores, aos seus direitos e às condições de trabalho nestes setores.

Sabemos que o Governo tem a consciência de que um dos aspetos centrais deste debate da chamada «digitalização» está, precisamente, nas relações laborais.

Nós consideramos que é indispensável e que é imperioso que os trabalhadores e as suas organizações tenham uma palavra a dizer nesta discussão e que estas novas políticas, novas tendências, novas gerações e revoluções, que se traduzem, depois, no programa Indústria 4.0 que o Governo apresenta, não sejam efetivamente uma nova geração de precarização de relações laborais, de degradação de condições de trabalho, de perda de direitos e de precarização da vida.

Desse ponto de vista, há preocupações muito fundas que resultam da experiência concreta e da vida real do que tem sido a aprendizagem até hoje.

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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, gostaria de o recordar que usou da palavra para um pedido de esclarecimento e não para uma intervenção. Mas eu sei qual é a praxe.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, peço desculpa, mas eu estava convencido de que toda a ocasião seria sempre seguida do critério que o Sr. Presidente anunciou recentemente, de que não havia a limitação dos 6 minutos.

A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sim, não haveria tanto rigor em relação à aplicação dos tempos. O Sr. Bruno Dias (PCP): — Em todo o caso, registo que tinha acabado de fazer a pergunta quando a Sr.ª Presidente me chamou à atenção.

A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Vamos prosseguir.

Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Economia, como todos sabemos, as micro, pequenas e médias empresas têm um papel absolutamente central na nossa economia.

Elas representam cerca de 99% do número total de empresas do nosso País, são responsáveis por 80% do total do emprego e representam 60% do total do volume das sociedades não financeiras.

Mas, apesar da importância que assumem do ponto de vista da nossa economia, a verdade é que, na generalidade, estas empresas continuam a apresentar níveis excessivos de endividamento. E este cenário é ainda mais preocupante, se tivermos em conta que as pequenas e médias empresas se encontram muito dependentes do crédito bancário, sobretudo a curto prazo.

De facto, esquecidas durante os últimos quatro de Governo PSD/CDS, as micro, pequenas e médias empresas encontram-se, na sua grande maioria, completamente dependentes do crédito bancário, o que só por si é pouco saudável e pouco recomendável.

A tudo isto, acresce ainda um elemento importante nesta matéria: estou a referir-me ao movimento de desalavancagem financeira que os bancos portugueses protagonizaram nos últimos anos e que acabou por provocar um forte agravamento dos critérios de risco exigidos no financiamento das micro, pequenas e médias empresas, o que naturalmente se refletiu, de forma muito acentuada, na atividade destas empresas.

Ora, com acesso limitado aos mercados de capitais internacionais, as micro, pequenas e médias empresas confrontam-se, assim, com um grave problema de financiamento. Um grave problema que a recente concentração bancária verificada no nosso País veio agravar substancialmente porque, com essa concentração, vieram por arrasto mais limitações no acesso ao crédito, sobretudo com a redução dos plafonds empresariais.

Ou seja, a situação que as micro, pequenas e médias empresas estão hoje a viver constitui um forte obstáculo à retoma do investimento empresarial e, por contágio, compromete o relançamento da economia portuguesa e o crescimento económico.

Portanto, se tivermos em conta, por um lado, todas estas dificuldades e, por outro, a importância que as micro, pequenas e médias empresas representam para a nossa economia, parece-nos que não é necessário um grande esforço para se perceber que este quadro está a dificultar a recuperação económica do País.

Diria até mais: face ao peso que as micro, pequenas e médias empresas têm na nossa economia, não haverá recuperação económica se não forem canalizados esforços e medidas de apoio a estas micro, pequenas e médias empresas, uma urgência que, aliás, foi reconhecida na posição conjunta estabelecida entre o Partido Socialista e o Partido Ecologista «Os Verdes».

Assim, interessava saber qual a estratégia do Governo e que medidas pondera desenvolver como forma não só de agilizar e facilitar o acesso das micro, pequenas e médias empresas ao financiamento, mas também para promover a sua capitalização.

Sr. Ministro, nós sabemos que o Governo criou, em dezembro, a Estrutura de Missão para a Capitalização das Empresas e, passado meio ano sobre a sua criação, interessava saber que trabalho já foi desenvolvido por essa Estrutura de Missão, nomeadamente se a análise e o diagnóstico estão já concluídos e que medidas de capitalização das empresas são propostas por essa Estrutura.

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Por outro lado, também interessava saber em que pé se encontram as medidas destinadas a aumentar a eficiência energética das empresas. É uma matéria que Os Verdes gostariam de sublinhar não só pela importância que a matéria reveste do ponto de vista económico, mas, sobretudo e principalmente, pela importância que assume do ponto de vista ambiental e do seu potencial contributo para a redução de emissão de gases com efeito de estufa e, naturalmente, no combate às alterações climáticas que lhes estão indiscutivelmente associadas.

Pela relevância que esta matéria representa, Os Verdes consideram que seria importante que o Governo nos pudesse dizer alguma coisa, porque sabemos pouco sobre as medidas que o Governo pretende implementar relativamente ao aumento da eficiência energética das empresas e que tem muito a ver com os impactos ambientais que decorrem do consumo energético, que contribuem decisivamente para a redução da emissão de gases com efeito de estufa e também para o combate às alterações climáticas.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Ministro, para terminar, gostaríamos de saber se o Governo já tem resultados sobre a iniciativa Indústria 4.0.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos — o último deste grupo —, tem a palavra o Sr. Deputado Paulino Ascenção.

O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, o programa Startup Portugal surge como um pilar central da política económica deste Governo e declaro, desde já, que nada temos contra políticas de inovação, sejam elas tecnológicas, de processos, quando da busca de novas soluções que resolvam os problemas das pessoas.

No entanto, este programa parece orientado, em exclusivo, para um modelo de empresa lucrativa ou especulativa, como se não existisse outro modelo de organização das atividades económicas no País e no mundo. Mas existe um modelo cooperativo e associativo.

Trago um exemplo: o maior grupo económico do país basco espanhol, chama-se Corporación Mondragon. O nome não dirá muito, mas as pessoas reconhecerão o nome Fagor, que faz parte de um conglomerado de cooperativas que emprega 74 000 pessoas, tem um volume de negócios acima dos 3000 milhões de euros e nos seus 60 anos de história ainda não produziu nenhum milionário, mas produz muita riqueza.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!

O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Este modelo associativo e corporativo também responde ao problema da inovação e deve ser incentivado numa estratégia de crescimento. Responde melhor até a longo prazo à questão do emprego, cujos vários estudos demonstram que é um modelo mais resiliente às crises, mais perene, fortemente ancorado no território, que não se deslocaliza e cria empregos duradouros, de maior qualidade do que o modelo de empresa lucrativa especulativa. A sua governação é democrática. Por que é que a empresa deve estar excluída do âmbito da aplicação da democracia e deve continuar a viver no absolutismo, tipo «a empresa sou eu»? Mas a empresa não é só o empresário, a empresa é também o conjunto dos seus trabalhadores, é também a comunidade onde a empresa se insere e que dela depende. E por que é que esses atores, trabalhadores, comunidade, hão de estar excluídos de participar na governação de uma empresa? Quem é que, nesta Casa, não defende a democracia?

Sr. Ministro, qual o conceito de empreendedor que enforma este programa? Será um conceito mais amplo de criatividade, de inconformismo perante a realidade? Será um conceito onde cabem todos os criadores, artistas, investigadores? Ou será um conceito mais estreito onde cabem apenas aqueles que querem ganhar dinheiro seja de que maneira for?

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O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Nem todas as pessoas se movem pela ganância, nem todas querem ser ricas, nem todas querem ser patrões, presumo que a maior parte das pessoas não o quer. Mas isso não faz delas menos criativas, menos inovadoras, menos empenhadas numa vida melhor para si próprias e para as suas comunidades.

O programa Simplex revelou isso mesmo ao verificar-se que a maior parte das medidas resultam de contributos dos funcionários públicos. Ora, segundo a ótica mais difundida do empreendedorismo, essas pessoas por serem funcionários públicos nem teriam capacidade de inovação. Mas a realidade desmente. Por isso, deve haver mecanismos, formas para que estas pessoas se organizem e participem no processo de criação de riqueza e de desenvolvimento.

Portanto, devem ser consideradas, neste programa, medidas para apoio a associações e cooperativas, sem as excluir de qualquer setor de atividade, pelo que é necessário simplificar e desburocratizar a criação e a vida destas entidades.

É necessário, também, considerar apoios aos trabalhadores de unidades que estejam em risco de deslocalização para que tenham oportunidade de dar continuidade à atividade, por si próprios, em autogestão, como já se faz noutros países da União Europeia.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!

O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Porque a democracia é, ela própria, uma forma de autogestão e se é válida para o governo dos Estados, dos países, por que é que não há de ser válida também para o governo das empresas?

A liberalização dos mercados tem conduzido a uma concentração crescente dos agentes económicos e surgem os gigantes com um poder esmagador quer perante os consumidores, quer perante os outros agentes económicos com os quais se relacionam, como, por exemplo, os fornecedores de menor dimensão. O setor da distribuição é um bom exemplo disso, onde vemos, sobretudo, os pequenos produtores agrícolas a ser sistematicamente esmagados e objeto de chantagem na sua relação com as grandes superfícies.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!

O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Portanto, sem haver uma regulação efetiva, o mercado desaparece, pelo que pergunto quais as medidas e atuação que tem previstas neste âmbito para salvaguardar a atuação e a sobrevivência destes pequenos produtores.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder a este conjunto de perguntas, tem a palavra o Sr. Ministro da Economia.

O Sr. Ministro da Economia: — Sr. Presidente, Srs. Deputados, agradeço as perguntas que foram colocaram.

Começo por responder ao Sr. Deputado Bruno Dias, do Partido Comunista, dizendo que essa pastelaria que referiu, em Almada, como muitas outras pastelarias e como muitos outros estabelecimentos de restauração, tiveram anos difíceis nestes anos de contração da procura interna, nestes anos do ajustamento. Sabemos que foram anos difíceis.

O agravamento do IVA durante esses anos teve um impacto muito forte, levando até ao encerramento de alguns desses estabelecimentos, à diminuição do número de trabalhadores noutros e a situações mais complicadas noutras empresas que se conseguiram manter, mas que, de facto, degradaram os seus rácios financeiros.

A baixa do IVA é uma medida que constava do nosso cenário macroeconómico, do nosso Programa do Governo, e vai ser cumprida a 1 de julho. É uma medida que vai ajudar estas empresas, é uma medida — e temos estado em conversações com a ARESP — que poderá ter um potencial forte de criação e de manutenção

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