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Teoria Geral do Direito Civil II

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Academic year: 2022

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Teoria Geral do Direito Civil II

Negócio Jurídico e Exercício

Regente: prof. Maria Rosário Palma Ramalho Assistente: prof. Diogo Tapada dos Santos

Mafalda Luísa Condelipes Boavida 2019/2020

(2)

Índice

EFICÁCIA JURÍDICA ... 5

FACTO JURÍDICO ... 6

CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS FACTOS JURÍDICOS ... 6

ATO JURÍDICO ... 7

AÇÃO HUMANA ... 8

NEGÓCIO JURÍDICO ... 9

OPAPEL DA VONTADE TEORIAS ... 9

ATO LÍCITO E ILÍCITO ... 10

ATOS JURÍDICOS E NEGÓCIO JURÍDICO ... 10

ESTRUTURA DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 11

Noções Gerais ... 11

Elementos do Negócio Jurídico ... 12

MODALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 14

FORMAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 21

DECLARAÇÃO NEGOCIAL ... 21

A formação do negócio como um processo ... 21

Declarações de vontade ou negociais e declarações de ciência ... 21

Tipos de Declarações Negociais ... 23

O Silêncio ... 24

Eficácia da declaração negocial ... 24

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ... 26

PROPOSTA NEGOCIAL E CONVITE A CONTRATAR ... 26

Oferta ao público ... 32

Leilão – invitatio ad offerendum ... 33

Aceitação, rejeição e contraproposta ... 33

Dispensa da declaração de aceitação ... 35

Natureza das declarações negociais ... 35

Consenso ... 36

Meios de contratação que se desviam deste processo abstrato ... 36

ATOS PREPARATÓRIOS NA CONTRATAÇÃO ... 38

A natureza jurídica dos atos preliminares ... 39

Posição e deveres das partes ... 40

Concurso na formação de contratos ... 40

FORMA DAS DECLARAÇÕES NEGOCIAIS ... 42

LIBERDADE DA FORMA E A JUSTIFICAÇÃO DAS EXIGÊNCIAS DE FORMA ... 43

TIPOLOGIA DAS EXIGÊNCIAS DE FORMA ... 43

(3)

EXTENSÃO DE FORMA ... 45

A INTERPRETAÇÃO DAS REGRAS RELATIVAS À FORMA ... 46

AS INALEGABILIDADES FORMAIS DOUTRINA GERAL ... 47

OS DEVERES DAS PARTES NA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ... 47

ACULPA IN CONTRAHENDO ... 47

Obrigação de Contratar ... 50

Principais Valores da boa-fé objetiva ... 50

Deveres associados à culpa in Contrahendo ... 51

Casos paradigmáticos em que devem ser aferidos estes deveres ... 52

Regime do art. 227 ... 52

A obrigação de indemnizar – como se determina a responsabilidade? ... 54

Quais os interesses contratuais em causa ... 54

Dano – lucro cessante e dano emergente ... 55

O cálculo da indemnização ... 55

AFORMAÇÃO DOS CONTRATOS ATRAVÉS DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS ... 56

Relações negociais de facto ... 56

Cláusulas Contratuais Gerais ... 57

Regime Geral ... 59

Âmbito de aplicação do diploma das Cláusulas Contratuais Gerais ... 59

CONTEÚDO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 63

NOÇÕES GERAIS ... 63

Conteúdo e objeto do Negócio Jurídico ... 63

REQUISITOS OBJETIVOS DO NEGÓCIO ... 64

Possibilidade ... 65

Determinabilidade ... 66

Licitude do objeto e do fim do Negócio ... 67

Contrariedade à ordem pública e aos bons costumes ... 68

CLÁUSULAS NEGOCIAIS TÍPICAS ... 69

ELEMENTOS ESSENCIAIS VS. ELEMENTOS ACESSÓRIOS ... 69

Condição ... 69

Termo ... 72

Modo ou encargo ... 73

Sinal ... 74

Cláusula Penal ... 74

MODIFICAÇÕES DO CONTEÚDO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ... 75

TIPOLOGIA DAS MODIFICAÇÕES DO CONTEÚDO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 75

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 76

I N J ... 76

(4)

Noções Gerais ... 76

Critérios Legais ... 78

Regras Especiais ... 79

INTEGRAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 80

Noções Gerais ... 80

Delimitação de Lacunas ... 80

Integração de Lacunas ... 81

VÍCIOS DA VONTADE E DA DECLARAÇÃO ... 81

ENUNCIADO E CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 81

AUSÊNCIA DA VONTADE NEGOCIAL ... 83

Falta de consciência da declaração ... 83

Incapacidade acidental ... 83

Declaração não séria ... 85

AUSÊNCIA DE LIBERDADE ... 85

Coação ... 85

ERRO ... 87

Erro da Declaração/ Erro obstáculo ... 87

Erro na Vontade ... 90

Dolo ... 91

SIMULAÇÃO E RESERVA MENTAL ... 92

USURA ... 96

Requisitos ... 97

VALORES NEGATIVOS DO NEGÓCIO ... 98

INEFICÁCIA E INVALIDADE ... 98

Nulidade ... 99

Anulabilidade ... 100

Inexistência ... 101

Ineficácia em Sentido Estrito ... 101

Irregularidade ... 101

REGIME JURÍDICO ... 102

Consequência das invalidades – a restituição ... 102

A Resolução e a Conversão ... 102

Confirmação ... 104

EXERCÍCIO JURÍDICO ... 105

NOÇÕES GERAIS ... 105

CONDIÇÃO DE EXERCÍCIO DOS DIREITOS ... 105

A Representação ... 107

REPERCUSSÃO DO TEMPO DAS SITUAÇÕES JURÍDICAS ... 112

ABUSO DE DIREITO ... 114

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Eficácia Jurídica

Há eficácia jurídica quando algo ocorra no mundo do Direito, isto é, sempre que se verifiquem determinadas consequências nas quais, através de critérios reconhecidos, ainda que discutíveis, seja possível apontar as características da juridicidade. As consequências juridicamente relevantes são sempre respeitantes às pessoas.

Assim sendo, a eficácia jurídica reporta-se, de modo necessário, a situações jurídicas.

A situação jurídica é uma situação da vida com relevo para o direito.

A eficácia jurídica pode ser alvo de diversas classificações:

Þ Eficácia constitutiva: caso se forme uma situação antes inexistente na ordem jurídica;

Þ Eficácia transmissiva: sempre que uma situação já existente, na ordem jurídica, transite da esfera de uma pessoa para a de outra;

Þ Eficácia modificativa: na hipótese de uma situação, centrada numa determinada pessoa, aí se conservar, mas com alterações no seu conteúdo;

e

Þ Eficácia extintiva: na eventualidade de se dar o desaparecimento da ordem jurídica, de uma situação antes existente.

A eficácia pode ainda classificar-se consoante a natureza das situações jurídicas a que se reporte.

Assim, a eficácia é pessoal quando a situação jurídica que se constitua, transmita, modifique ou extinga não tenha natureza patrimonial.

A eficácia revela-se obrigacional sempre que alguma dessas quatro vicissitudes se reporte a situações obrigacionais e real quando tal ocorra perante situações próprias do direito das coisas.

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Facto Jurídico

è Facto em sentido amplo:

Art. 217 – dos factos jurídicos

Um facto jurídico é qualquer evento que produz efeitos jurídicos e por isso mesmo é relevante.

O facto jurídico relaciona-se com a situação jurídica. Mas não se confunde com a mesma, pois a situação jurídica está entre o facto e a norma.

Este é um conceito extremamente variado. E por isso, é útil classificar os factos jurídicos.

è Facto em sentido estrito:

É um evento com origem na natureza, mas com efeitos jurídicos (morte, nascimento) – factos naturais; ou uma ação humana na qual a vontade não é relevante para o Direito – valorizadas como ocorrências e não como produto da vontade humana.

Critérios de classificação dos factos jurídicos

Critério 1 – Origem do facto:

Þ Natural: quando tem origem num efeito da natureza;

Þ Humano: quando tem origem na ação do homem.

Em princípio os factos naturais não produzem efeitos jurídicos (são neutros), mas nem sempre é assim. Ex: uma inundação que destrói uma loja que tem um contrato de seguro que prevê as inundações.

Pelo contrário as ações humanas são quase todas produtoras de efeitos jurídicos.

Critério 2 – Que tipo de efeitos produz:

Þ Factos jurídicos constitutivos – fazem surgir uma situação jurídica por:

o Aquisição originária – era um nada jurídico e passa a ser uma situação (constituição);

o Aquisição derivada – era uma situação e através de um contrato passou a ser outra (transmissão). Ex: compra e venda – a aquisição de quem compra e a extinção para quem vende.

(7)

Þ Factos jurídicos modificativos – alteram uma situação jurídica pré- existente. Ex: alteração de um contrato. Tal modificação pode ser:

o Objetiva: modificação do objeto (alteração do contrato por alteração das circunstâncias); ou

o Subjetiva: modificação nos sujeitos daquela situação jurídica. Tal modificação pode ocorrer por:

§ Transmissão: o seu conteúdo também pode ser alterado; ou

§ Sucessão: o seu conteúdo não pode ser alterado.

Þ Facto jurídico extintivo – provocam o desaparecimento de uma situação jurídica antes existente. Ex: divórcio.

Critério 3 – Que tipo de situações é suscetível de criar:

Þ Pessoais Þ Obrigacionais Þ Reais

Þ Familiares Þ Sucessórios

Nota: O mesmo facto pode produzir vários efeitos. Ex: pode produzir efeitos reais e obrigacionais – contrato. É uma classificação formal.

Ato jurídico

Art. 295 – ato jurídico

Comportamento voluntário de uma pessoa, singular ou coletiva, ao qual o Direito reconhece relevância.

Þ Sentido estrito: é valorizada a vontade do agente de praticar o ato – há liberdade de celebração, mas os efeitos produzem-se independentemente da vontade do sujeito, porque a lei assim o determina (ex lege) – não há liberdade de estipulação (não pode escolher os efeitos).

Tem mais relevância nas áreas em que os espaço de liberdade das partes é menor (Ex: dto. Da família). São muito diversificados. Pode corresponder às

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comunicações de ciência – comunicações de conhecimentos que não tem como objetivo o negócio.

Divide-se em duas categorias:

o Atos jurídicos quase negociais;

o Atos jurídicos materiais.

Þ Negócio jurídico: Conceito do final do séc. XIX. É valorizada vontade de praticar o ato e com ele produzir efeitos; tem liberdade de celebração (praticar ou não o ato) e de estipulação (modelar os seus efeitos).

Ação Humana

Na base destes fenómenos encontra-se a ação humana.

Para o prof. Menezes Cordeiro as ações humanas são:

Þ Atos jurídicos em sentido estrito quando dispensam de finalidade; e Þ Negócios jurídicos quando antecipam um fim.

Este conceito de ação sofreu uma evolução histórica passando por uma teoria naturalista, normativista e por fim finalista.

Aceção naturalista: modificação do mundo exterior por efeito da vontade de alguém;

Aceção normativista: na ação assiste-se a uma afirmação ou negação de valores – aceção de raiz penal;

Aceção finalista: a ação é final porque o agente, consubstanciando o fim que visa atingir põe, na persecução deste, as suas possibilidades. – Hans Welzel, Manuel Gomes da Silva.

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Negócio Jurídico

Art. 295.

O negócio jurídico é a categoria mais rica. Quando se fala no mesmo no fundo julgamos 2 valores:

Þ Grau de liberdade do agente; e Þ Vontade do sujeito.

Aquilo que não puder ser reconhecido como negócio jurídico será classificado como ato jurídico. Esta é uma definição difícil na prática.

O Papel da Vontade – teorias

Várias doutrinas foram sendo desenvolvidas, ao longo do tempo, sobre este tema.

Savigny dizia que o negócio jurídico é um ato da vontade que visa certos efeitos. E o efeito produz-se porque o sujeito quer.

Este é criticado porque, o direito não é um produto da vontade; é algo exterior que se impõe à vontade de cada um. Como é que se explica aos efeitos que se produzem e que a pessoa não pensou nem quis.

Uma alternativa a esta conceção excessivamente voluntarista é relacionar a vontade de um negócio jurídico com a obtenção de um fim – o negócio jurídico é um ato de vontade que pretende atingir um fim. Esta conceção ultrapassa a crítica de que não é possível prever todos os efeitos.

Conceção oposta é ver no negócio jurídico uma espécie de norma privada – uma conceção normativista, como no prof. Dias Marques, que nos diz que as partes podem estipular os seus efeitos, autorregulando-se e prosseguindo os seus interesses.

O contrato é lei entre as partes. É como se fosse uma norma, mas em vez de ser geral e abstrata (heteroregulamentação) só se aplica às partes – é concreta

No entanto, este entendimento não distingue negócio jurídico de ato jurídico e alguns consideram que esta conceção, obscurece o papel da vontade; recorre a um conceito por vezes mal dito para o direito – o interesse; e quando se fala em autorregulamentação estamos a limitar os efeitos às partes e há alguns negócios

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Pode-se por fim, dizer que o negócio jurídico é um ato de autonomia privada. Esse ato desencadeia a constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica. Por ser um ato de autonomia privada implica os tais dois níveis de liberdade: celebração e estipulação.

Tem também uma estrutura finalista, no sentido em que pretende conseguir um objetivo, sendo que as partes têm que ter um acordo de vontades quanto aos efeitos essenciais, podendo ainda ter querido efeitos acessórios, mas não sendo obrigatório que assim tenha sido. Por outro lado, a autonomia tem aqui um limite da imperatividade da ordem jurídica.

Podemos apontar em síntese quatro opções:

à um ato de vontade dirigido a certos efeitos, produzidos porque queridos;

à um ato da vontade tendente a um fim protegido e desenvolvido pelo ordenamento;

à um ato de autorregulamentação de interesses;

à um ato da autonomia privada, a que o direito associa a constituição, a modificação e a extinção de situações jurídicas.

Ato lícito e ilícito

Um ato é lícito quando é conforme a ordem jurídica, isto é, não contraria o direito. E é ilícito quando é desconforme a ordem jurídica – viola uma norma injuntiva. Esta ilicitude pode ter vários níveis.

Atos Jurídicos e Negócio Jurídico

Centremo-nos agora na distinção entre atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos.

Historicamente, esta distinção foi difícil de implementar. Savigny tinha uma visão fácil quanto a esta distinção – tudo o que não for negócio jurídico é ato jurídico.

O critério da relevância da vontade (vontade de praticar, ou de produzir certos efeitos) decorre do BGB, e é este critério que é trazido para Portugal pelo prof. Manuel de Andrade.

Deve, contudo, ter-se uma leitura mais atual deste critério, porque ele não deve ser aplicado até à exaustão. Ex: dizer-se como Savigny, que se há um negócio jurídico

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quando as partes querem praticar o ato e têm presentes todos os seus efeitos é um pouco ficção, porque há sempre coisas que as partes não preveem.

É uma distinção criticada pelo prof. Menezes Cordeiro que leva este critério até à exaustão.

A regente defende que é uma distinção fundamental, mas gradativa; na verdade há atos jurídicos que são quase negócios e vice-versa; há efeitos que se produzem pela determinação da lei e não pela vontade das pessoas e não é por isso que deixa de ser negócio jurídico. As pessoas também não preveem todos os efeitos e por isso, podem não os querer. Acredita que esta distinção se pode fazer utilmente pelo critério do relevo da vontade das partes e pelo critério do grau de liberdade dos sujeitos.

4/03/2020

Estrutura do Negócio Jurídico

Noções Gerais

à O negócio jurídico envolve uma ou mais partes que deverão estar habilitadas para celebrá-lo;

à O negócio jurídico incide sobre uma realidade; um bem idóneo para este efeito;

à O negócio jurídico esta na disponibilidade das partes. Como tal, estas podem estabelecer o seu conteúdo, que deverá integrar sempre os elementos essenciais;

à A liberdade das partes não é total no que diz respeito ao conteúdo do negócio jurídico.

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Elementos do Negócio Jurídico

A doutrina civilista desenvolveu várias distinções sobre a estrutura do negócio jurídico, relativamente aos seus elementos, das quais se destacam:

è Prof. Castro Mendes

Distingue entre elementos e pressupostos do negócio.

Þ Elementos: tem a ver com o conteúdo do negócio – as cláusulas que o negócio integra. Dividem-se em:

o Essenciais: cláusulas sem as quais o negócio se descaracteriza;

o Acidentais: cláusulas acessórias.

Þ Pressupostos: condições externas ao negócio jurídico das quais depende a validade do próprio negócio. Dividem-se em:

o Subjetivos: condições referentes às partes. Ex: para celebrar um negócio as partes têm de ter capacidade e legitimidade – sem estas qualidades o negócio não é valido;

o Objetivos: referente ao fim/objeto/conteúdo do negócio. Ex: um negócio sobre algo impossível tem um vício de objeto; um negócio sobre algo ilícito tem um vício de objeto, etc.

É a distinção mais tradicional e a que a prof. Palma Ramalho também adota.

è Prof. Manuel de Andrade

Distingue entre elementos essenciais, naturais e acidentais do negócio, sendo que todos têm a ver com o conteúdo.

Þ Elementos essenciais: são aqueles sem os quais o negócio se descaracteriza, isto é, deixa de poder ser qualificado como compra e venda, adoção, etc. São elementos vitais para podermos subsumir a uma situação da vida uma certa qualificação jurídica. São cumulativos – todos têm de estar presentes. Ex: na compra e venda se não houver um preço não há compra e venda.

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Þ Elementos naturais: são aqueles que decorrem da lei, porque a lei estabelece o regime jurídico de cada negócio – são os que resultam globalmente do regime legal previsto. As partes não têm que os prever, mas se por acaso resolverem disciplinar aquela matéria podem afastar aquele regime legal.

Ex: se as partes não disserem sobre o local do pagamento do preço de um negócio de compra e venda segue-se o regime do CC; mas nada obsta que as partes estipulem que o local de entrega do bem é um e o local de pagamento é outro.

O que não podem afastar são as normas imperativas – se as partes disserem que a compra e venda de um imóvel não carece de escritura, o negócio é nulo.

Þ Elementos Acidentais: são elementos não essenciais para o negócio que as partes decidem acrescentar para completar o seu conteúdo. Ex: as partes podem por uma condição ao negócio, como uma data de início para um contrato de trabalho.

Nota: os elementos essenciais não se confundem com os pressupostos. Os elementos essenciais são os que caracterizam e os pressupostos são de fora do negócio e constituem as suas condições de validade.

Numa primeira formulação o prof. não distinguia os pressupostos. Dai que na altura se distinguisse entre elementos essenciais gerais – os que vão na prática ser os pressupostos – e os elementos essenciais específicos, a que chamamos hoje de elementos essenciais.

Existem ainda outras distinções como as do prof. Paulo Cunha, do prof. Dias Marques ou do prof. Menezes Cordeiro.

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Modalidades do Negócio Jurídico

Estas classificações têm como objetivo saber quais as repercussões que os mesmos têm.

è Negócios unilaterais e multilaterais/bilaterais/contratos:

O critério desta classificação é o critério das partes: o número de partes do negócio.

Se apenas tiver uma parte é um negócio unilateral se tiver mais que uma é multilateral – é um contrato.

Uma parte não é equivalente a pessoa, uma parte pode ter mais que uma pessoa.

Também não é equivalente a declaração negocial – para o casal querer comprar uma casa os dois têm de declarar que o querem fazer, mas continuam a ser uma parte só. O que esta em causa é o critério do interesse, dizendo que parte é equivalente à titularidade de um determinado interesse.

Menezes Cordeiro defende que se relaciona com os efeitos do negócio, ou seja, se os efeitos são os mesmos – só B vende, mas C e D compram, C e D são uma só parte porque sobre eles recai o mesmo efeito.

O consenso exprime a convergência de interesses em relação as partes.

Ex: se eu tiver um testamento é um negócio unilateral; se eu celebrar um contrato de compra e venda é multilateral; se eu celebrar um contrato de doação é multilateral – há dois interesses um tem de doar e o outro tem de aceitar.

O negócio unilateral fica completo com a declaração negocial da sua única parte.

Olhando para o exemplo do testamento – não é necessária a anuência dos futuros herdeiros para que o negócio fique completo – o negócio é completo com a declaração negocial do seu autor e este pode ser feito até anos antes da sua morte. Já no que toca à doação o negócio só fica completo com a declaração negocial do doador e do que irá receber a doação.

Mesmo nos negócios unilaterais em que há uma só parte este pode ter uma pluralidade de pessoas – tem várias declarações negociais, mas o interesse é só um.

Art. 457 – critério de tipicidade: nos negócios unilaterais só pode ser feito o que está previsto na lei.

É diferente do critério da liberdade – pode ser feito tudo o que não é proibido por lei.

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Quanto aos negócios multilaterais ou contratos utiliza-se o critério da liberdade (Art.

405).

O processo de formação dos contratos é muito mais complexo que os do negócio unilateral, visto que, um tem muito mais declarações negociais do que o outro. Os contratos precisão de uma proposta e uma aceitação e só aí surge o consenso e o negócio jurídico.

à Exemplos:

São unilaterais: o testamento (art. 2179 nº1); a renuncia (art. 1476 nº 1 e); ou a conformação (art. 288).

São multilaterais: a compra e venda (art. 874); a doação (art. 940), a sociedade (art.

980) ou o casamento (art. 1577).

Dentro dos contratos temos subclassificações:

Þ Contratos sinalagmáticos: a posição das partes é absolutamente correspetiva; uma das obrigações depende da obrigação da outra parte.

Ex: no contrato de compra e venda aquele que é vendedor por um lado tem o dever de entregar um bem e por outro tem a posição de credor do preço, o comprador é o oposto; podem ser assinalados como bilaterais para assinalar esta correspetividade de obrigações;

Þ Contratos não sinalagmáticos: uma tem uma posição ativa e a outra passiva.

Ex: na doação uma tudo beneficia e a outra tudo deve – e uma disposição de património a título gratuito.

Þ Contratos monovinculantes (só obriga uma das partes – ex: contrato promessa) e bivinculantes (obriga ambas as partes).

è Negócios intervivos e mortis causa:

Os negócios intervivos são concebidos para produzirem efeitos em vida dos seus autores e os negócios mortis causa são concebidos para produzirem efeitos por morte de um deles (testamento – art. 2179 – ou pactos sucessórios – 1700).

Nota: não são de classificar como mortis causa todos os negócios que envolvem a morte de alguém. Só os que produzem efeitos com a morte de alguém. O contrato de seguro de vida não é um negócio mortis causa porque ainda que produza efeitos após

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è Negócios consensuais e formais:

O critério desta classificação é a sujeição ou não de um negócio a uma forma especial (registo, escritura pública, etc.).

Hoje em dia é permitido que as pessoas criem um negócio da forma que quiserem, alguns a lei não obriga a forma especial – art. 219.

Um negócio é formal quando para se realizar necessita de uma forma especial. Ex:

um contrato de compra de um imóvel só se concretiza com a escritura do mesmo.

3 razões para que a lei exija que o negócio seja formal:

à Publicidade: para que as pessoas saibam que ele foi realizado;

à Importância económica dos bens que constituem o negócio;

à Favorecer a maior reflexão.

Um negócio consensual é aquele que se forma com um simples acordo entre as partes.

Um negócio formal em que não se siga a sua forma especial é um negócio nulo (Art.

220).

è Negócios obrigacionais reais familiares e sucessórios:

O Critério utilizado para distinguir entre estes dois tipos de negócios é o do efeito do negócio jurídico.

O efeito é obrigacional quando do negócio resulta uma obrigação (ex: compra e venda; arrendamento; mandato; prestação de serviços; é real quando dele resulta a transmissão da titularidade de um bem; familiar quando reporta à família (ex: casamento;

filiação, adoção); e sucessório quando se relaciona com uma constituição, modificação ou extinção de caráter sucessório (ex: testamento).

Esta classificação não é rigorosa existem negócios que produzem mais do que um efeito. Ex: compra e venda tem efeitos obrigacionais e reais.

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è Negócios reais quoad effectum e quoad constitucionem:

Art. 408.

O critério de classificação tem a ver com os atos materiais necessários para que o negócio se considere perfeito.

Na maioria dos casos basta a vontade das partes para que se produzam efeitos jurídico, mas nem sempre é assim.

Diz-se, portanto, que é um negócio quoad effectum quando as partes, por exemplo no contrato de compra e venda, pagam o bem, mesmo que este ainda não tenha sido transacionado.

E que é um negócio quoad constitucionem quando, para que o negócio fique completo, seja necessário a transação do bem – quando há tradio.

Ex: o Banco empresta dinheiro ao A, o negócio só está completo quando o A recebe o dinheiro.

O penhor (art. 669 nº 1); o comodato (art. 1129); o mútuo (art. 1142); e o depósito (art. 1185).

Um negócio quoad constitucionem será sempre um negócio quoad effectum, uma vez que, o critério não é o mesmo. No primeiro estamos no âmbito da formação do negócio, no segundo estamos no âmbito dos efeitos/eficácia do negócio.

Os negócios reais quoad constitutionem reportam-se à formalidade (diferente de forma: a formalidade é um requisito de perfeição negocial, a forma é um requisito substantivo de validade) requerida para a constituição do negócio – são aqueles cuja celebração depende da tradio – entrega da coisa de modo a transferir a posse (art.

1263/b).

Já os negócios reais quoad effectum são queles que, no âmbito da sua eficácia, implicam a criação, modificação ou extinção de situações jurídicas reais (art. 408/1).

Nota: Os bens móveis quando entregues de imediato não necessitam de doação feita por escrito (de negócio formal).

De acordo com o prof. Menezes Cordeiro e a prof. Palma Ramalho esta classificação deve ser considerada como uma formalidade que poderá ou não ser exigida nas declarações relativas a negócios formais. (ver questão a cerca de poder ou não existir um negócio quoad constitucionem que não implique a tradição da coisa.)

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Dentro desta classificação temos também os negócios jurídicos sujeitos a registo constitutivo. Este não são mais nem menos que negócios em que não é exigida a entrega material do bem, mas sim um ato jurídico. Ex: a hipoteca – o bem é registado, mas pode nunca chegar a passar de uma esfera jurídica para a outra.

è Negócios típicos e atípicos:

Um negócio é típico quando a sua regulamentação consta da lei e é atípico quando tal não acontece. Podem ainda existir negócios mistos em que o geral consta na lei, mas algumas particularidades do mesmo não.

Art. 405.

è Negócios nominados e inominados:

São nominados os negócios aos quais a lei atribui um nome – contrato compra e venda, testamento, etc. – e inominados aqueles aos quais a lei não atribui nome.

À partida todos os negócios são nominados.

è Negócios gratuitos e onerosos:

Um negócio é oneroso quando implique esforços económicos para ambas as partes, em simultâneo e com vantagens correlativas (Ex: contrato de compra e venda – Art’s.

874).

Pelo contrário, um negócio é gratuito quando apenas uma das partes obtém vantagem com o negócio (Ex: doação – Art’s. 940).

Existem situações em que o negócio é gratuito, mas não totalmente – doações onerosas ou modais (art. 963) – o doador dispõe do seu património, mas impõe algo à outra parte.

è Negócios causais e abstratos:

Os negócios causais são aqueles em que a causa é relevante para o respetivo regime e, como tal pode ser invocada como fundamento de pretensões ou exceções ao direito material.

Os negócios abstratos são aqueles em que, ao contrário, a causa é irrelevante e, como tal, não pode ser atendida nem constituir fundamento de pretensões ou exceções.

Ex: se alguém quiser demandar outra pessoa para que pague 1000€, não basta afirmar que é credor dessa importância, tem de explicar que essa quantia lhe é devida por via de um contrato, comprovando-o ou a título de indemnização, invocando e

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demonstrando os respetivos pressupostos. A pretensão tem de ser acompanhada pela fonte para que passe do abstrato para o causal.

Em regra, as obrigações são sempre causais, no direito português.

Nota: Dos negócios abstratos há que distinguir os negócios presuntivos de causa – art. 458 nº 1: se alguém, por simples declaração unilateral, prometer uma prestação ou reconhecer uma divida (A escreve num papel que deve x a B), sem indicação da respetiva caus, fica o credor (B) dispensado de provar a relação fundamental, cuja existência se presume até prova em contrário.

è Negócios de administração e de disposição:

O critério de distinção é o modo como a situação jurídica a que se reporta o negócio é afetada por esse mesmo negócio. Ou seja, um negócio é de administração não atinge em profundidade uma esfera jurídica, mas um negócio de disposição atinge.

Ex: a venda de um automóvel pode ser um ato de administração para o stand que tem inúmeros automóveis e de disposição para o cidadão comum. Arrendar uma casa é de administração, mas vender é de disposição.

A administração inclui os atos tenentes à conservação e à fruição normal dos bens em questão.

Os atos de disposição só podem ser praticados pelo titular da esfera jurídica afetada e se este tiver capacidade para o fazer.

Para que não hajam dúvidas, em certos casos a lei define exatamente quais são os atos de administração, por exemplo no art. 1024 nº 1, a locação constitui para o locador um ato de administração ordinária, exceto se estipulado por um prazo superior a 6 anos.

è Negócio jurídico aleatório:

Um negócio é aleatório quando, no momento da sua celebração, sejam desconhecidas as vantagens que dele derivem para as partes.

Ex: um contrato de seguro é aleatório uma vez que, a seguradora não sabe qual o montante que pode, eventualmente, ser chamada a suportar; contratos de jogo ou de aposta (Art. 1245).

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è Negócio jurídico de distribuição:

Visam por em contacto/ligar a produção ao vendedor final. Ex: o contrato de concessão, o contrato de franquia (franchising) e a agência.

è Negócios conjuntos e deliberações

Quando, não sendo um contrato, um negócio jurídico implique várias pessoas, pode falar-se em negócio plural.

Há, então, duas possibilidades:

Þ O negócio conjunto: várias pessoas são titulares de posições jurídicas que só podem ser atuadas em bloco, por todas elas; Ex: vários comproprietários propõem uma denuncia do arrendamento da coisa comum;

Þ A deliberação: várias pessoas são titulares de posições jurídicas confluentes que podem, no entanto, ser atuadas em sentido divergente, prevalecendo, então, a posição da maioria.

Ainda assim esta contraposição pode trazer alguns problemas que devem ser aferidos caso a caso.

O negócio conjunto pode implicar vontades manifestadas em simultâneo ou sucessivamente, mas todas regidas pelas mesmas normas jurídicas, de modo a conseguir um determinado efeito.

Questão delicada é a distinção entre negócio conjunto e a deliberação quando, certa eficácia, se requeira uma concordância unânime dos membros de uma assembleia.

Nessa eventualidade, em termos materiais, o negócio seria conjunto: cada participante tem, só por si, o direito de facultar (ou não) a decisão comum. Porém, em moldes formais, tende a falar-se em deliberação, uma vez que a situação em causa vai desencadear-se num todo onde avultam as deliberações propriamente ditas.

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19/03/2020

Formação do Negócio Jurídico

Declaração Negocial

A formação do negócio como um processo

Conjunto de atos encadeados e que são desenvolvidos em atenção a um determinado fim. A formação do negócio envolve um processo, um encadeamento de atos.

Pensar na formação do negócio como um processo trás várias vantagens:

Þ Explica o facto de o negócio poder ser celebrado de modo muito rápido; ex: ir buscar um café ao bar. Mas pelo contrário pode envolver a prática de um conjunto de atos que levam tempo e podem ate implicar negócios preparatórios. Ex: contrato de compra e venda de uma casa que envolve um contrato promessa;

Þ Fica explicado que durante este processo negocial as partes também têm deveres a cumprir, nomeadamente, assegurar que a vontade da outra parte se forma naturalmente. Art. 227;

Þ Estes atos estão destinados finalisticamente. Reflete o princípio da autonomia privada e a sua expressão na liberdade de celebração e de estipulação.

Nota: ter em atenção que em Direito ouve-se muito falar em processo noutra aceção, por exemplo, processo penal, processo civil, etc.

Declarações de vontade ou negociais e declarações de ciência

A declaração pode ser apenas uma ou serem várias dependendo de estarmos perante um negócio unilateral ou multilateral, respetivamente.

A declaração negocial trata-se da parte mais importante do negócio – Art. 217 do CC –. No entanto, é importante notar que a opção do código civil de estruturar o negócio jurídico a partir da declaração é excessivamente abstrata. Isto porque, maior parte dos

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negócios têm mais de uma parte, logo mais de uma declaração. O que importa, na verdade, é o conjunto de declarações.

A declaração negocial não está definida no código. Em todo o caso, retiramos (nós, interpretes) do art. 217 alguns aspetos importantes para chegar à sua definição.

É importante ter em conta que existem dois tipos de declarações:

Þ Declarações de vontade;

Þ Declarações de ciência: são meramente informativas.

Vamos abordar as declarações de vontade.

Podemos delimitá-la por dois elementos:

Þ Vontade: a declaração negocial começa por ser um ato de vontade – foi querida pelo seu autor;

Þ Comunicação: é a exteriorização, manifestação da vontade.

Em primeiro lugar, a declaração negocial é uma ação humana voluntária.

Em segundo lugar, esta envolve uma comunicação - manifestação exterior da vontade de alguém que pretende atingir um determinado objetivo. Esta pode ser feita de várias formas.

Esta não exige necessariamente um interlocutor. Ex: se estiver a escrever um testamento não é necessário, basta o documento notarial.

Por último, é um ato volitivo, é um ato através do qual o autor pretende atingir certos efeitos cujo conteúdo essencial foi desenhado e querido pelo mesmo. não é uma simples comunicação informativa, ela visa um fim negocial.

Associado à ideia que toda e qualquer declaração negocial corresponde à vontade do seu autor, fica a dúvida se merece de facto a tutela do direito. E fica também a dúvida de saber se existem declarações, em que não há vontade, válidas.

Respondendo à primeira questão, é evidente que sim. A vontade tem sempre limites, neste caso, impostos pela ordem jurídica.

Por outro lado, são protegidas pelo direito situações de aparência de declaração, em que não houve de facto vontade.

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Porquê? Porque embora esta seja o expoente máximo da vontade e da autonomia contratual, por vezes, é necessário conjugar a intenção do declarante com outros valores, nomeadamente, a tutela da confiança de terceiros.

Exemplos de prevalência da vontade de terceiros sobre a vontade do autor da declaração:

Þ Declaração emitida sobre reserva mental - Art. 244. O autor está a dizer uma coisa, mas a pensar sobre outra, e fá-lo voluntariamente. Neste caso a vontade é uma e a declaração é outra. Contudo, a declaração é válida.

Porque o justo é que seja válido.

Þ Incapacidade acidental – Art. 257. A declaração não é nula, mas sim anulável, para proteger a confiança do destinatário da declaração.

Þ Declaração emitida em erro – Art. 247. Há uma divergência não intencional entre aquilo que o autor queria e aquilo que disse. Esta declaração é anulável.

Tipos de Declarações Negociais

à Declarações negociais expressas e tácitas:

Art. 217 nº 1: a declaração é expressa quando é dita pelo autor – meio direto (palavras, escrito) e tácita quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a relevem, por exemplo, o art. 234. Estes factos têm de ser positivos e inequívocos.

A possibilidade, reconhecida por lei, de se formarem negócios jurídicos na base de declarações tácitas obriga a chamar à atenção para dois fatores.

A natureza formal de uma declaração pode ser tacitamente emitida: como dispõe o art. 217 nº 2, requer-se, então, que a forma prescrita tenha sido observada quanto aos factos de que se deduza a declaração em causa.

A presença, sempre viável, de declarações tácitas não deve conduzir a uma hipertrofia da vontade. Há assim, que combater uma tendência sempre presente para explicar fenómenos jurídicos questionáveis com recurso a “declarações tácitas”: só é legitimo descobrir declarações negociais, ainda que tácitas, quando haja uma verdadeira vontade, dirigida aos efeitos e minimamente exteriorizada de modo indireto.

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à Declarações entre presentes e ausentes:

Ou as partes estão em contacto direto uma com a outra ou não. Ex: se estão fisicamente presentes, se estão ao telemóvel. É possível obter resposta imediata.

O Silêncio

Importa ainda distinguir a declaração tácita do silêncio (Art. 218). O silêncio é a tradução da inércia material, correspondendo à não emissão de qualquer tipo de declaração negocial – o silêncio é nullum. O silencio não tem valor negocial declarativo. À exceção de situações em que tal valor lhe seja atribuído por lei, uso ou convenção (quando as partes declaram que o silêncio vale como declaração). Este não dispensa das regras formais e, por isso, a própria convenção que daria valor ao silêncio deveria seguir a forma legalmente prescrita.

Ex: A envia um email a B a dizer que lhe quer vender o seu carro e que se o mesmo não disser nada estra presumido que aceita. B como não está para se maçar com isso não responde. Há declaração tácita? Não, não há. O silencio não tem valor positivo no direito.

O destinatário duma proposta contratual cujo silêncio não valha como aceitação é obrigado a restituir a coisa que o preponente lhe tenha enviado, quando ele a for ou mandar buscar, e bem assim conservá-la, só incorrendo, porém, em responsabilidade quando tenha agido com dolo.

Há outras situações em que o silêncio pode ter valor porque isso decorre dos usos do comércio, dos usos da profissão, mas não convém esquecermo-nos de conjugar o art. 218 com o art. 3 do CC, sobre os usos genéricos. Cumpre ter presente que o CC não conferiu relevo aos usos nos domínios da interpretação e da integração negociais.

Também não se deve confundir com a declaração negocial presumível.

Eficácia da declaração negocial

à Declarações recetícias/recipiendas ou não recetícias/não recipiendas:

Se a declaração não tiver um destinatário diz-se que é não recetícia. Pelo contrário, se a declaração tiver um destinatário determinado (declaratário) diz-se que é recetícia.

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Na normalidade dos casos, as declarações que visem integrar um negócio contratual são recipiendas, ao passo que as que se prendem a uma só vontade – são unilaterais – operam por si. Mas há exceções: a oferta ao público, não tem qualquer destinatário, por definição e destina-se, justamente, a integrar um conteúdo contratual.

Se a declaração tiver um declaratário o início dos seus efeitos dependem da capacidade de o mesmo a conhecer.

Art. 224.

Se a declaração for não recetícia é eficaz, isto é, produz efeitos, a partir do momento em que a vontade do autor se manifesta adequada (Art. 224 nº1).

Já as declarações recetícias são eficazes conforme a chegada da declaração ao seu destinatário, ou seja, dele conhecida.

Existe ainda uma outra regra, a declaração produz efeitos se esta não for conhecida do destinatário, por sua culpa (nº2).

Existem 3 teorias quanto a este tema:

Þ Teoria da expedição: a declaração é eficaz a partir do momento que seja enviada pelo seu autor. Ex: A envia uma carta a X.

Þ Teoria da receção: a declaração produz efeitos a partir do momento em que entra na esfera jurídica do destinatário. Ex: a partir do momento em que a carta entra na caixa do correio de X.

Þ Teoria do conhecimento: a declaração produz efeitos a partir do momento em que é conhecida pelo destinatário. Ex: X abre a carta.

O problema é geralmente entre ausentes. Regra geral, nestes casos utiliza-se a teoria da receção. No entanto, note-se que:

à A teoria do conhecimento releva quando o conhecimento seja anterior à receção formal da proposta. Ex: após enviar a carta A encontra X da rua e apresenta-lhe a proposta, ainda que a carta não tenha chegado;

à Releva a teoria da expedição quando a carta não foi recebida, mas por culpa do destinatário.

à A declaração é ineficaz quando seja recebida pelo destinatário em condições de, sem culpa, não poder ser conhecida. Ex: a carta chega à casa de X, mas vem em

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Estas teorias estão tratadas no art. 224 do CC.

Formação dos Contratos

Proposta Negocial e Convite a Contratar

è Generalidades:

Por definição os contratos exigem um sistema mais complexo que os negócios jurídicos unilaterais. Como é obvio se o processo envolve mais que uma parte a sua formação será mais complexa.

Cumpre também relembrar a distinção feita de negócios entre ausentes e entre presentes, ou seja, aqueles em as partes não estão perto uma da outra e aqueles em que as partes estão em contacto direito.

O consenso na formação dos negócios exige a proposta e a aceitação, traduzindo duas ou mais declarações de vontade inequívocas. E por isso, nos negócios entre presentes, as declarações normalmente sucedem uma da outra e entre ausentes tende a não ser bem assim, uma vez que não há contacto direito entre as partes envolvidas.

Chama-se a atenção que isto não se trata de presença física, mas sim da resposta imediata ou não, podendo ser presencial ou via digital. Afere-se aqui se o momento da receção da proposta é imediato ou não.

É necessário também fixar-se um limite de eficácia para as declarações. Este limite tem como objetivo indicar o período entre o qual as declarações vinculam o respetivo autor. Isto, porque não faz sentido alguém ficar ad aeternum a espera de uma resposta.

Esta ideia do tempo de eficácia é muito mais importante em contratos entre ausentes do que entre presentes.

No âmbito da formação do contrato podem existir múltiplas declarações, pode ser necessário ver os bens, fornecer documentos – certidões, etc. – e até múltiplos atos materiais que tendem a chegar ao objetivo final.

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Nota:

Na opinião da regente o código civil é demasiado simplista, e não tem em mente a complexidade da formação do negócio jurídico. A matéria é apresentada de forma abstrata, referindo apenas os mais importantes.

O código pressupõe que todos os contratos se resumem a uma proposta conjugada com uma aceitação. Na realidade não é bem assim porque ainda que estas sejam as mais importantes, não só não são as únicas declarações existentes e como também nem sempre são apresentadas e surgem sequencialmente.

Alguns civilistas consideram esta apresentação completamente ficcional e apresentam modelos alternativos.

Ex: as considerações de Ferreira de Almeida que assenta a formação do negócio no consenso das partes e na adequação formal, sendo que este deve passar por uma fase de contactos preliminares, passando para uma fase de acordo e terminando com a subscrição desse mesmo acordo.

Existem também, formas especiais de formação do contrato, tais como os contratos que se constituem pela tradio e os que se constituem por concurso, por opções, etc.

Dito isto, vamos seguir a estrutura tradicional, para não complicar. Esta também e a posição seguida pelo prof. Menezes Cordeiro que também reconhece a complexidade do processo.

è A Proposta:

A proposta é a declaração negocial em que o autor manifesta a decisão de contratar.

Em sentido formal, pode ser definida como a declaração feita por uma das partes e que, uma vez aceite pela outra ou outras, dá lugar ao aparecimento de um contrato.

A proposta deverá reunir 3 requisitos essenciais, para o ser efetivamente:

Þ Ser completa: no sentido de abranger todos os pontos a integrar no futuro contrato – ficam incluídos quer os aspetos que devam, necessariamente, ser precisados pelos contratantes (identidade das partes, objeto a vender, preço, etc.) quer, os que, podendo ser suprimidos pela lei, através de normas supletivas, as partes entendam moldar segundo a sua autonomia;

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Þ Ser firme: na medida em que revela uma intenção inequívoca de contratar, uma vez que a sua simples aceitação dá lugar ao aparecimento de um contrato, sem que ao proponente, seja dada nova oportunidade de exteriorizar a sua vontade. Ou seja, a vontade do proponente pode ser limitada;

Þ Ser formal: na medida em que deve revestir a forma requerida/adequada para o contrato de cuja formação se trate. Caso se trate de um negócio consensual, poderá revestir qualquer forma, visto que o legislador não impõe forma especial. Caso se trate de um negócio formal, há uma imposição de forma, tendo a proposta que corresponder a essa mesma forma, sob pena da nulidade do contrato (art. 220).

Note-se que estes requisitos são cumulativos. Caso falte qualquer um deles, não estaremos perante uma proposta contratual, mas perante um convite a contratar.

Este convite evidencia a vontade de contratar, mas não contém todos os elementos essenciais, de forma a que a mera aceitação resulte na formação de um contrato.

“Constitui uma declaração intermédia, entre a declaração e a proposta” – há vontade e à comunicação, mas não preenche os três requisitos.

Nas hipóteses em que não seja possível distinguir uma proposta e uma aceitação, fica claro que os requisitos acima apontados, para a declaração do proponente, se devem reportar ao objeto que mereça o assentimento dos contratantes ou que ambos façam o seu.

As três características referidas devem ser entendidas em termos sociojurídicos.

Impõem-se por isso, algumas complementações. Com efeito:

Þ O contrato final pode assentar, em menor ou maior grau, em modelos tipificados na lei; no que as partes não regulem, aplicam-se as regras supletivas;

Þ O contrato pode comportar espaços em branco em áreas básicas e para as quais não hajam, propriamente, normas supletivas: é o que sucede um contrato de compra e venda em que o preço é negociável – recorre-se ao regime do art. 883 nº 1;

Þ O proponente pode remeter, para o destinatário, a faculdade de, em certa margem, completar a proposta, ficando vinculado ao que ele disser;

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Þ As lacunas são possíveis; para elas, dispõe o esquema integrativo do art. 239 o qual, quando acuda, logo mostra que a proposta não estava completa;

Þ As partes podem concluir um contrato incompleto; remetem para o futuro uma negociação destinada a completá-lo ou confiam num ulterior esquema de distribuição de riscos.

O critério final para decidir na completude de uma proposta é a aceitação. Perante o art. 232 a proposta fica “fechada” quando a contraparte não suscite a necessidade de acordo sobre qualquer outro ponto.

A firmeza da proposta traduz a ideia de que o proponente abdica de voltar a pronunciar-se sobre ela, caso se dê uma aceitação, nos termos que ela própria preveja.

è Eficácia:

Emitida uma proposta contratual – declaração negocial completa, inequívoca e formalmente adequada – e tornando-se esta eficaz, nos termos do art. 224, pergunta- se quais os termos dessa eficácia e por quanto tempo deverá manter-se.

A eficácia da proposta contratual consiste, essencialmente, em fazer surgir um direito potestativo na esfera do destinatário, isto é, pela aceitação, provocar a celebração do negócio. O proponente, por outro lado, fica vinculado ao conteúdo da mesma, estando em posição de sujeição.

Estas situações jurídicas mantém-se enquanto a proposta for eficaz. A duração da proposta pauta-se pelo disposto no art. 228 nº 1 do CC, nos seguintes termos:

Þ Se for fixado um prazo de aceitação, pelo preponente ou por acordo das partes, a proposta mantém-se até ao termo desse mesmo prazo (art. 228 nº 1 a);

Þ Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir resposta imediata, a proposta conserva-se até, que, em condições normais, ele e a aceitação cheguem ao seu destino (art. 228 nº 1 b); seriam assim 6 dias – 3 para enviar e 3 para receber;

Þ Se nada for dito, a proposta subsiste pelo período que, em condições normais, possibilite que a proposta e a aceitação cheguem aos seus destinos, acrescido de cinco dias (art. 228 nº 1 c).

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Note-se que, para aferir qual o “período que, em condições normais possibilite que a proposta e a aceitação cheguem ao seu destino” há que ter em conta o meio utilizado pelo proponente para enviar a sua declaração, bem como o meio utilizado pelo destinatário de enviar a sua aceitação ou rejeição. Será mínimo se for utilizado um meio de comunicação rápido, tal como o telefone ou fax; será maior se se recorrer ao correio, havendo então que distinguir o tipo de correio (aéreo, terrestre ou marítimo) e a distância.

O prof. MC diz-nos que deverá ser aferido qual o tempo mínimo de envio, não especificando qual, poderemos deduzir que, por exemplo, para as cartas de correio normal são 3 dias.

Para efeitos de notificações postais/cartas registadas, aplica-se o art. 228 nº 1 c) em conjugação com o art. 254 nº 3 do CPC, presumindo que a “notificação postal presume- se feita no terceiro dia posterior ao do registo, ou no primeiro dia útil seguinte a esse, quando o não seja”. Ou seja, em norma o prazo da alínea C seria de 11dias (3 dias para enviar 3 dias para receber a resposta e 5 acrescidos). Em qualquer caso, o prazo que termine ao domingo ou feriado, transfere-se para o primeiro dia útil seguinte (art. 279 e).

No caso do correio eletrónico surge a dúvida de quais serão os prazos para a receção da proposta e para o envio da declaração de aceitação ou rejeição. Ora, o prof. Carvalho Fernandes diz-nos que se devem contar 24 horas desde o envio do email e, por isso, se eu enviar um email hoje de manhã a pessoa terá até amanhã de manhã para me responder.

A função dos prazos é delimitar a vinculação do proponente.

Poderá também ocorrer que o proponente venha a declarar que a sua proposta se manteria indefinidamente. Quando tal suceda, ele deveria ficar sempre sujeito a uma eventual aceitação, que poderia nunca surgir.

A proposta em tais termos, submeter-se-ia à prescrição, no seu prazo ordinário de 20 anos (art. 300 a 309). No entanto, como este prazo é excessivamente extenso e o proponente pode não ter meios para o suportar, poderá aplicar-se por analgia o art. 411 do CC: o proponente pode solicitar ao tribunal a fixação de um prazo para que o destinatário aceite ou rejeite; passado tal prazo segue-se a caducidade da proposta, nos termos gerais.

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A revogação da proposta é um ato unilateral, praticado pelo proponente, que tem por conteúdo a extinção da proposta previamente emitida. Esta só é possível enquanto não houver contrato. Passada tal marca, em princípio, a revogação só é possível através de acordo.

O art. 230 consagra o princípio da irrevogabilidade – à partida a proposta não pode ser revogada, no entanto, a lei permite que o autor mude de ideias em duas situações:

Þ Quando o proponente se tenha reservado a faculdade de revogar (art. 230 nº 1);

Þ Quando a revogação se dê em moldes tais que seja, pelo destinatário, recebida antes da proposta, ou ao mesmo tempo com esta (art. 230 nº 2).

Após a aceitação da proposta esta não pode ser revogada, uma vez que, se estariam a violar as legitimas espectativas da outra parte – art. 227. (tema abordado mais adiante).

A proposta também poderá extinguir-se dadas as seguintes situações:

Þ Aceitação: deixa de ser uma proposta e passa a ser um contrato;

Þ Rejeição;

Þ Caducidade: quando termina o prazo estabelecido ou as regras supletivas (art. 228);

Þ Ou por desaparecimento do bem; por fogo; etc.

Em caso de morte ou incapacidade, a proposta pode extinguir-se aplicando se os art. 226 e 231:

Þ Por morte ou incapacidade do proponente, havendo fundamento para presumir que essa seja a sua vontade (art. 231 nº1), ou se tal resultar da própria declaração (art. 226 nº 1);

Þ Por morte ou incapacidade do destinatário – art. 231 nº 2;

Þ Por ilegitimidade superveniente do proponente, desde que anterior à receção da proposta (art. 226 nº 2).

A aceitação faz desaparecer a proposta promovendo o aparecimento do contrato. A rejeição faz também desaparecer a proposta, mas não se forma contrato.

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Oferta ao público

A oferta ao público é uma modalidade particular de proposta contratual, caracterizada por ser dirigida a uma generalidade de pessoas desconhecidas. Tal como qualquer proposta, deverá ser completa, deverá compreender a intenção inequívoca de contratar e deve apresentar-se na forma requerida para o contrato a celebrar. Esta é uma proposta genérica, dirigida a todos os interessados – surge como modo idóneo de proporcionar muitos contratos com um mínimo de esforço e de custos, por parte dos celebrantes.

As características da oferta ao público são:

Þ Indeterminação do declaratário;

Þ Fungibilidade do futuro contraente;

Þ É usual utilizar um anúncio público para a difusão da oferta;

Þ Deve ser firme, completa e formal;

Þ Proposta não recipiendas – produz efeitos logo que a vontade seja manifestada de forma adequada (art. 224 nº 1).

A oferta ao público distingue-se de:

Þ Convite a contratar: o convite a contratar não reveste a forma de proposta, isto é, não contém todos os elementos essenciais para a formação do contrato. A oferta ao público deverá preencher os 3 requisitos. Logo, distinguem-se;

Þ Proposta feita a pessoa desconhecida ou paradeiro ignorado: “darei 500€ a quem encontrar o meu cão – oferta genérica ao público (art. 225); o destinatário não é uma generalidade de pessoas;

Þ Clausulas Contratuais Gerais: embora genéricas, as cláusulas contratuais gerais não surgem necessariamente como proposta e implicam uma rigidez que não enforma, de modo necessário, a oferta ao público.

O código civil não se ocupou, de modo expresso, da oferta ao público, exceto para regular a sua extinção: art. 230 nº 3 “a revogação da proposta, quando dirigida ao público, é eficaz desde que seja feita na forma da oferta ou em forma equivalente”. Logo,

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a revogação da oferta ao público é mais simples do que nas outras propostas contratuais.

Leilão – invitatio ad offerendum

O convite à oferta é uma modalidade mais delimitada do já referido convite a contratar.

No convite à oferta o proponente declara-se pronto a receber propostas que, depois, poderá aceitar.

Este não obteve consagração nos códigos civis, no entanto, é muito conhecido na prática. Corresponde ainda, à técnica de contratação própria de certos setores, como o dos seguros. A companhia seguradora apresenta-se como mera destinatária das propostas que lhe queiram fazer os seus clientes.

O leilão traduz a técnica de contratação pelo qual o oferente declara vender – ou contratar – com o interessado que a ofereça o melhor preço. Várias regras são possíveis, na disponibilidade do oferente, designadamente:

Þ A indicação de um valor mínimo que, a não ser alcançado, bloqueie a venda;

Þ A fixação de lances mínimos quanto ao leilão propriamente dito;

Þ A obrigação de pagar a pronto ou de entregar, de imediato, uma percentagem do preço;

Þ As vias de entrega do objeto arrematado.

As regras do leilão, por vezes, inseridas em regulamentos por profissionais são, tecnicamente, cláusulas contratuais gerais, sujeitando-se à competente lei.

26/03/2020

Aceitação, rejeição e contraproposta

A aceitação é uma declaração recipienda, formulada pelo destinatário da proposta contratual (ou por qualquer interessado, quando haja uma oferta ao público) cujo conteúdo exprima uma total concordância com teor da declaração do proponente.

A aceitação também pode ser feita pela escolha de um dos dois objetos oferecidos, etc. também pode ser nos termos de propor algo diferente – contraproposta.

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A aceitação deve assumir 3 características fundamentais:

Þ Traduzir um assentimento total e inequívoco; se o assentimento for apenas parcial a proposta tem se como rejeitada – art. 232.

Þ Tempestividade: tem de ser emitida dentro do lapso de tempo que corresponde;

Þ Revestir a forma exigida para o contrato.

Da aceitação resulta o contrato, não havendo verdadeira aceitação quando a declaração de aceitação é condicionada, isto é, o assentimento for parcial – salvo se deste assentimento surgir uma contraproposta.

Nos termos do art. 217 nº 1 a aceitação pode ser expressa ou tácita.

Há que ter em conta ainda a receção tardia da proposta. Assim, a aceitação começa a produzir efeitos quando a proposta já não tem eficácia – art. 229.

Þ A aceitação foi espedida fora de tempo: o proponente nada tem a fazer, o negócio não chega a surguir; se pretender a sua celebração deve fazer uma nova proposta;

Þ A aceitação for expedida em tempo útil: por exemplo, a aceitação foi enviada em tempo útil, mas houve uma greve nos correios e esta não chegou a tempo.

Ai o proponente deve avisar o aceitante de que não chegou a concluir-se nenhum contrato, sob pena de responder pelos prejuízos; se pretender o contrato basta-lhe considerar a aceitação tardia como eficaz.

Uma vez emitida, a aceitação pode ser revogada, nos termos do art. 235 nº 2: a declaração revogatória deve chegar ao poder do proponente – ou ser dele conhecida – em simultâneo com a aceitação ou antes dela.

Perante uma proposta contratual, o destinatário dispõe da alternativa de a rejeitar. A rejeição é um ato unilateral recipiendo pelo qual o destinatário recusa a proposta contratual, renunciando ao direito a que dera lugar. Nos termos gerais a rejeição pode ser expressa ou tácita; assim que ela se torne eficaz, extingue-se a proposta contratual.

A rejeição também pode ser revogada – sendo, por consequência, substituída pela aceitação – desde que a competente declaração chegue ao poder do proponente, ou dele seja conhecida, ao mesmo tempo que a rejeição (art. 235 nº 1 do CC).

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A aceitação da proposta com aditamentos, limitações ou outras modificações implica a sua rejeição (art. 233 1ª parte). A segunda parte do mesmo artigo dispõe que “se a modificação for suficientemente precisa, equivale a nova proposta”. Trata-se da contraproposta – esta é, para todos os efeitos, uma proposta contratual que, deve traduzir a intenção inequívoca de contratar e deve assumir a forma requerida para o contrato de cuja celebração se trate.

A aceitação parcial não dá azo nem ao contrato nem a uma contraproposta.

Dispensa da declaração de aceitação

O art. 234 dispõe: “quando a proposta, a própria natureza ou circunstâncias do negócio, ou os usos tornem dispensável a declaração de aceitação, tem-se o contrato por concluído logo que a conduta da outra parte mostre a intenção de aceitar a proposta”.

A formação de um contrato sem declaração de aceitação pode traduzir-se materialmente:

Þ Em atos de apropriação, tais como o uso, a modificação, o consumo ou a disposição das coisas objeto da oferta;

Þ Em atos de cumprimento, como a reserva de um hotel ou a colocação de dinheiro num autómato;

Þ Em atos concludentes, como os habituais no tráfego de massas.

Natureza das declarações negociais

A proposta é eficaz, isto é, produz efeitos no direito se faz surguir na esfera jurídica do destinatário, o direito potestativo à aceitação. É um facto jurídico lato sensu.

A Proposta é livre – o proponente formula-a se quiser, atuando ao abrigo da sua autonomia privada; há liberdade de celebração, pelo que a proposta se articula como um ato jurídico lato sensu.

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O conteúdo da proposta é igualmente livre, isto é, o proponente pode inserir na proposta as clausulas que entender, há liberdade de estipulação, surgindo um negócio jurídico unilateral.

[PR]: Há negócio jurídico desde que haja o mínimo de liberdade das partes, ainda que essa liberdade seja apenas na decisão de contratar ou não; ou liberdade de estipulação de apenas uma das partes.

[MC] tem uma visão diferente da regente.

Consenso

O consenso inclui todos os aspetos que unilateralmente cada uma das partes considere importantes para a sua vontade. Pode haver elementos acessórios do contrato considerados essenciais para a formação da vontade das partes e logo para o consenso.

Meios de contratação que se desviam deste processo abstrato

Os contratos podem ser celebrados pelas vias tradicionais – entre presentes ou ausentes – ou então através de novas formas, por força das novas tecnologias. Entre elas temos:

Þ Contratação através de Autómatos:

Isto é, através das máquinas que, mediante a introdução do dinheiro, distribuem determinados bens aos utentes.

A doutrina discute aqui quem é o preponente e o destinatário:

o Teoria da oferta automática: a simples presença de um autómato a funcionar, mediante adequada solicitação feita por um utente, deve ser vista como uma oferta ao público. Ex: máquinas de comida; máquinas de parque de estacionamento.

Assim que a parte coloca o dinheiro da máquina esta a aceitar a proposta genérica formulada pela entidade a quem fosse cometida a programação.

Referências

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