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b.d. A.c.rr..p.»d«c.., PII E M E RID E S DAS SCIENCIAS MÉDICAS i1 ouvidor n. i;5, pelo preço de memórias, reclamações, etc» i '±itjs

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VOL. I. SABBADO 7 DE NOVEMBRO DE i835. N. 3o.

DIÁRIO DE SAÚDE

ou

Subscreve- se en cnaa de Publica-se todos o« sab-

0,-lW>,er e C., rua

£ PII E M E RID E S DAS SCIENCIAS MÉDICAS b.d„. A.c.rr..p.»d«c|.., Seign

i1 ouvidor n. i;5 , pelo preço de i '±itjs por anno ou 6$ por se- ineitre pagos adiantados. 0%

m«. íiyhIsoi custítritoa4° •*••

E NATURAÉS DO BRAZIL.

memórias, reclamações, etc»

devem serdirigjdai aoescrip- torio da typographia ou a©*

redactores.

-virv uVVi»IV%VM *V% vx-% vw\/V\ W*

Vires acquirit eundo.

Rio do Janeiro. Typ. Imp. e Con st. do Selgiiot-Planclier e Comp.— i?.35.

SCIEMCIAS MÉDICAS.

CIRURGIA.

ESBOÇO ESTATÍSTICO das OPERAÇÕES OA TAL1U P1UC- TICADAS NO RIO DE JANEIRO, BAHIA , ETC

A sociedade de medicina do Rio de Janeiro re- cebeo do doutor Civiale, ha quatro annos pouco mais ou menos, huma carta relativa á estatislica dos calculosos no império do Brazil , a qual está até hoje sem resposta pela diíficuldade de obter informações exactas. He com effeito árdua ta- rela, o colligir nos diversos pontos deste vasto império, noções positivas sobre a existência de tal ou tal enfermo atacado da pedra , e o saber com exactidão o numero de indivíduos que padecem esta moléstia , o dos que tem recorrido aos soccorros da cirurgia, dos que entregues a si mesmos hão succumbido sem reclamar os remédios da arte, ou que se tem confiado a tratamentos empiricos. A in- vestigação que ora intentamos sobre este objecto, não dará se não resultados mancos , visto os aca- abados limites de nossas relações; todavia nós en- tregamos estes primeiros materiaes á publicidade, chamando em nossa ajuda os do nossos collegas que podem fornecer-nos úteis documentos sobre a mesma matéria.

Reconhecido está, que as moléstias das vias ou-

rinarias, principalmente os cálculos, são mais raras nos paizes quentes que nos frios (*).

Alem de que adinitte-se tambem como hum facto reconhecido, que os cálculos ourinarios são menos freqüentes nas latitudes dos trópicos , con- forme com as observações dos médicos inglezes que tem professado sua arte na índia e na America (**).

No Brazil. as condições do clima quente sendo géraes á maior parte das provincias do iuiperio, de- vem igualmente influir sobre a raridade de aíTeições calculosas ourinarias ; somente as provincias do sul escapâo, por sua condição climaterica, a esta re- gra geral. Deve-se pois levar em conta esta inHuen- cia do clima , na inquirição que se íizer sobre a existência de sugeitos atacados de cálculos òurina- rios. Porem huma outra circumstancia ha digna de notar , que explica melhor a raridade de affec- ções calculosas. Os extractos estatísticos de doentes da pedra, feitos nestes derradeiros annos em Fran- ça , em Inglaterra e em Hespanha , demonstrão que os cálculos ourinarios são raros etti todas as regiõè»

das costas do oceano, ou do mediterrâneo, e que poucas veses se encontrão em pessoas embarcadi- ças. Ora o Brazil possuindo immenso litoral por siia extensão de mais de mil legoas, apresentando sua população agglomerada nesse mesmo litoral, séhdo

(*) Richerand — Memoire sur 1'appareil urioaire, dans les Me- moires dela Societé Medicale d'Emulation—1802. pag. 5io.

(") Médecine praetique de Robert de Salisbary. Tom. II.

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- . DIÁRIO <;

suas principaes cidades, o Rio de Janeiro^ Bahia , Pernambuco e Èafànlã#, poJÉios Jtè mm, deve de preferencia a qualquer outra região *ser respeitado por semelhante enfermidade, e não offerecer por conseguinte ao investigador, se não alguns casos ra- ros. A influencia do ar domar he tal, segundo os observadores inglezes Hutchinson e Yelloli, que pode considerar-se como preservativo da moléstia.

Pode-se attribuir esta influencia salutar ao ácido hydro-chlorico, e ao chlorureto do sodiuin que este ar contém, como o prova sua acção sobre certas eôres e sobre os metaes ? Segundo o Sr. Julia Fon- teneíle, isso parece provável (*). Os factos íallão assaz alto em favor da opinião emittida sobre a rari- dade de cálculos em marinheiros, e nos paizes vi- sinhos ao mar. Na marinha ingleza, de 1800 a 1816, em 163,ooo homens não se encontrárão senão 8 calculosos, e desde 1816 até o i.° de janeiro de 1 809, em a 1,910 doentes da marinha, que entrárão nos hospitaes de PI ym ou th, de Denl, e de Hoslar, não se observou hum sò caso de calculo ourinario, ao mesmo tempo que nos hospitaes civis de Lon- dres , segundo o doutor Marcet, se apresentou hum caso sobre 4»Q doentes, e segundo o doutor Yello- li, no hospital de Morwich , se offereceo 1 sobre 4o, proporção espantosa. (V. Hutchinson's Inqui- fies, etc.)

A maior parte das províncias do Brazil sendo litoraes do mar, situadas entre a linha e o tropico do sul, reúne em consequenciá as condições está- belecídas

para a producção rara de cálculos ouri- narios. Todavia esta mojestia se observa, e tem sido observada no Brazil em certo numero de indi- viduos

quepor parenthesis,. não usavão nem de beb,das fermentadas, nem de vinhos tartarosos, que se d,z serem agentes ordinários, ou causas pro- ductoras dos cálculos. Mas estes doentes vinhão de paizes estrangeiros por h„m tr,„sit„ forluito , re.

íluiao elles das

províncias centraes, e de regiões mais temperadas, e frias, mesmo das de S. Paulo, Rio Crrande, ou Cisplatina ? He no que não nos podem

(V Journal de chm.ie médicale pag. u2 _fevereiro de ,832.

"E

SAÚDE. ;

' / -

esclarecer os factos vindos ao nosso conhecimento.

f^aes (pafes iÉós "o&

apEésentàrèmos aos nossos lei- tores , que de certo os julgarão com indulgência, porque se elles oflerecerem lacunas, apresentãolados que interessão debaixo do aspecto scientifico.

Dòzé operações da talha se tem practicado no Rio de Janeiro desde o reinado de D. João VI, segundo as informações que podémos haver. .Sem duvida alguma , huma serie de aflecções calculosas se tem apresentado a diversos practicos, tanto no hospital da Misericórdia, cotxio na clinica da cida- da; mas bom he dizer, que por occasião fortuita de autópsias, tem-se vindo no conhecimento de algumas só depois da mofrte, e que outras não tem sido combatidas pela operação da talha por causa da repugnancia dos enfermos. Em 1817, o ceie- bre cirurgião Alves fez a operação da talha em hum caso de pedra' enkystada ; a operação foi coroada de pleno successo. Em 1818 , o hábil cirurgião Mazarem extrahio pela lithotomia dois cálculos vo- lumosos , de hum doente forte e robusto , que gosa ainda no dia de hoje, no Rio de Janeiro, de muito boa saúde , -sendo dotado de huiha constituição athletica. O professor Jeronimo Alves de Moura practicou mais tarde em J. J. de Azevedo, ourives, e actualmeute mofa dor em Andarahy , a operação da talha em presença dos Srs. Antonio Américo de Urzedô, e J, J. de Carvalho. O calculo pezava per- to de huma onça, e estava acompanhado de outros mais pequenos. ~ Este caso foi também coroado de successo. Algum tempo depois, o mesmo cirurgião em presença desses mesmos collegas, teve oçca- sião de tentar a operação da talha, huma vez no hospital da Misericórdia, e outra na cidade; destes dois casos hum foi feliz, outro comsigo trouxe fu- nestas conseqüências.

Em i8«8, hum soldado estrangeiro, ha pouco chegado de Allemanha, entrou para o hospital militar «festa cidade 110 mez de novembro. Seu estado de magrezá fazia conjecturar profunda alte- raçãò de algum orgãõ do peito, ou do baixo ven- tre. A exploração da bexiga patenteou a existencia de hum calculo, e a investigação dos diversos sym-

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DIÁRIO DE SAIJI^E.

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ptomas geraes produzio a convicção, que da bexiga partio todo o mal, e que a affecção irritativa dos intestinos que sc manifestava diariamente por hum movimento febril, por dores e dejecções alvinas, era huma moléstia sympathica que desapparecia , tirando-se a causa primeira do'mal. A operação foi practicada pelo illustre cirurgião Christovão José dos Santos, o processo que elle seguio foi 0 do apparato lateral. O calculo extraindo era composto de phosphato de cal em grande parte, e seu pezo subia a perto de 9 oitavas. A cura se completou trinta e dois dias depois da operação , por causa da complicação da diarrhéa que atormentou o doente nas primeiras semanas, e que não cedeo senão a meios therapeuticos observados com escru- puloso rigor, sobretudo no que dizia respeito a alimentos e a bebidas alcoolicas. No fim deste tempo o doente estava inteiramente são.

Q Sr, Christovão José dos Santos practicou a operação da pedra pelo processo lateral, no vigário de S. Gonçalo, F. , em setembro de 1829. A ope- ração, a que nós assistimos , durou ^minutos, e foi executada «om rara dextreza, A incisão foi practicada com hum bisturi simples , seguida da introducção dò gorgereto, e depois da pinça que trouxe em si cinco pedras, duas com 0 diâmetro de huma amêndoa, e as outras mais pequenas , li- sas, polidas,, e de côr amareüo claro. Tendo o doente sido tratado algum tempo antes, pelo cirur- gião-mór do exercito do sul, o Sr. José Pedro de Oliveira; este havia tentado explorar a bexiga com o instrumento do doutor Civialp, recentemente

" -1 ' *

chegado de França , e que elle possuía ; e o resul- tado dessa exploração, bem coroo as tentativas de agarrar, quebrar, ou ralar os cálculos, parecerão ter sido igualmente irifruetiferos , visto que dos cinco cálculos, nenhum parecia ter sido separado hum do outro por algum instrumento de esbroar, por estarem as superfícies de çontacto perfeita- mente lisas, e se adaptarem bem humas ás outras, linicamente a mais pequena parecia haver sido agarrada pelo instrumento do doutor Civiale, eu^

"asão do ter ella perdido a sua camada superficial

no espaçf de algumas linhas. He isto ao menos huma conjectura que tirámos do exame dos cal- culos.

As probabilidades da operação se annunciavão sob o mais favoravel aspecto ; porem hum acciden- te, que sobreveio no quarto dia , pela imprevidente golodice do doente, e o acto imprudente de levantar- se da cama, poz em perigo os seus dias, dando lu- gar a huma forte hemorrhagia. Esta hemorrhagia repetio com força no quinto dia, e, apezar dos mais desvelados soccorros, ella reproduzio-se nos dias seguintes, e no oitavo, depois da operação, o doente succumbio, victima de sua indocilidade, e da imprudente tentativa de comer fruetos logo de- pois lias primeiras quarenta é oito horas que sue- cedêrão á operação.

O doutor Carlos Louiquy, a 8 de dezembro de 182.8, em presença do doutor Meirelles e de mim , practicou a operação da talha pelo processo late- ral, em hum moço de 24 annos, que morava em S. Christovão; a operação levou de 24 a 28 mi- nutos, em rasão de ter sido necessário tornar a agarrar na pedra, que, havendo-se espedaçado entre os ramos da pinça deixou apoz de si fragmen- tos, que foi preciso jtirar com cuidado, afim de esvasiar bem a bexiga. O calculo extrahido, tinha o volume de hum ovo de pato. Era composto de phosphato de cal em grande parte. No cabo de vinte dias o doente eslava de pé, e tratando dos seus negocios, visto se ter a ferida cicrtrizado promptamente, sem que apparecesse. nem hemor- rhagia, nem inflammaçâo da bexiga, não obstaçje ter esta estado por longo tempo efli çontacto eo$>.a pinça, com a qrial se andara pela superfície das paredes para destacar os fragmentos do calculo.

Mas, passada huma semana, o doente tornou a sentir na bexiga dores atrozes, que lhe produzirão a sensação de outro calculo formado na cavidade deste órgão.. A exploração da bexiga convenceo com effsilo da existençia d'outro calculo, e a 7 de janeiro de 1829, o doutor Louiquy fo* segunda vez a operação da talha . sendo o doente dotado de hum valor á toda prova; e desta vez saljiot hum calculo

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DIÁRIO DE SAUDE.

mais volumoso que o primeiro, cuja presfnça ha- via sem duvida escapado na oceasião da primeira operação, salvo se presumirmos, que sua forma- ção pôde se effeituar peja conglomeração deal°*uns fragmentos que ficarão no fundo da bexiga, no curto espaço de hum mez, intervallo de tempo que decorreo entre as duas operações. Esta derra- deira foi também coroada de suecesso, e só ficou huma pequena fistula ourinaria.

O Sr. Christovão José dos Santos em principios de i83i fez a operação da talha no ex-deputado Luiz Nicolau Fagundes Varella , lente do curso Ju- ridico de S. Paulo, de idade de 6,5 annos. A ope- ração practicada em presença dos Srs. Francisco Júlio Xavier junior , Cláudio Luiz da Costa , Joa- quim José dos Santos, e varias outras pessoas, durou 19 minutos; o methodo foi o lateralisado, servindo-se o operador do gorgereto cortante.

Extrabirão-se trez cálculos , cada hum do tama- nho de hum cambucá ordinário, unidos e emboce- tados huns nos outros por superfícies lisas; o pri- meiro e o segundo dc pezo de 17 oitavas cada hum, o o terceiro de 19. Infelizmente logo depois so- brevierão symptomas de lesões orgânicas do baixo ventre, e o doente só durou oito dias, e suecumbio a antigos estragos da bexiga, e grangrena do tecido cellular em torno da mesma. O Sr. Cláudio Luiz da Costa redigio a autópsia que se segue.

Autópsia. Depois de manifestada a decomposição e rigidez cadaverica, procedeo-se á autópsia. O ca- daver em suas formas cheias e arrendondadas, mos frava a abundante nutrição do tecido cellular: a pelle offerecia manchas herpaticas na face e livores cadavericos no dorso, Fez se a secção crucial do abdômen, e o primeiro golpe longitudinal paten- teou huma espessura do tecido cellular até á re- gião hypogastrica , muit0 grande , porem desde o ponto de partida do hypogastrio , o mesmo tecido se achava alterado, de cór denegrida, e dando huma matéria da mesma côr. A extremidade in- fer.or dos músculos rectos e pyramidaes moceradõs nesta matéria, e sem consistência alguma. O te- cdo laxo que une a face anterior da bexiga á pos-

terior da symphise do púbis, também livido , e servia de deposito á grande quantidade da mesma matéria. O tecido cellular do penil estava do mes - mo modo alterado. Feito o golpe transversal, e voltados os quatro retalhos, notou-se o fexe intesti- nal dilatado, mas de aspecto natural; os epiploons também ilesos e abundantes de matéria adiposa.

O peritoneo que furava a bexiga, espesso e rubro • o que cobria a região hypogastrica , deixava por ' sua transparência ver a côr denegrida dos mus- cios e tecido cellular desta região; porem logo acima da crista illiaca direita se encontrou huma mancha roxa, da largura de quatro dedos trans- versos em relação ao ccecum. Este achou-se no lugar da mancha contíguo ao peritoneo, e esta- valivído em grande parte da sua extensão. Os outros intestinos , corridos hum a hum, acharáõ-se sem alteração, e o recto enconlrou-se intacto.

0 estômago examinado com cuidado exterior e interiormente, nada offerecia de notável.

O fígado : augmentado de volume , quasi scir- rhoso na superfície do lobo superior, porem o resto do seu parenchyma amarello e sem lesão orgânica.

Os rins involtos n'hum espesso colchão de tecídt,

adiposo flacido ; o esquerdo tinha alguns grãos

d'arêa de cdt de tijolo no bassinete. Igual por-

ção da mesma achou-se no direito, cuja a extre-

midade inferior offerecia hum rubor violete, fnteres-

sando na extenção de huma linha a substancia

cortical do exterior para o interior : esta parte

do rim se achava coutigua aocaecum.—Os ureteres

estavão largos e desembaraçados.—A bexiga ourina

ria talhada em seu fundo inferior, tinha as paredes

com hum terço de polegada de espessura, e de con-

sistencia quasi cartilaginosa: a capacidade muito re-

duzida; a membrana mucosa espessa, vascularisadà,

denegrida e persemeada , especialmente no fundo

inferior, de muitas e pequenas excrescencias po-

lyposas, entre as quaes huma bastante notável por

seu volume niaior que o de hum ovo de pombo,

a qual estava preza por hum forte peduncnlo na

parte superior e posterior do trigono vesical. Não

se encontrou calculo algum nem arêas no int" '*'

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DIÁRIO DE SUBE.

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deste órgão. Seu forro peritoneal, espesso e avcr- uielhado como já se notou; suas túnicas ccllulosa c; muscular, no fundo superior e ao nivel da sym- phise pubiana de côr roxa, quasi delidas e pene- tradas de matéria pútrida. Perineo denegrido em torno da ferida, e o tecido cellular d'entre o ânus eo collo da bexiga, do mesmo modo alterado que o do penil.

Reflexões, —Deve-se colligir do exposto: 1.° Que à inflammação foi mais intensa no tecido cellular que cerca a bexiga, que neste órgão. 2.0 Que sen- do este tecido dotado de pouca energia vital, par ticularmente no operado, o processo ínflammatorio teve huma marcha latente, propagando se do peri- neo ao penil, e parte anterior do fundo superior da bexiga, dahi em direcção do uraco, affectou os pyrainidaes, as extremidades inferiores dosrectos, irradiando-se para o lado direito penetrou o peri- toneo ao nivel do cajcum, acominetteo este intestino e a extremidade inferior do rim a elle adjacente ; não se podendo duvidar que esta inflammação tendeo desde o seu começo para a grangrena que do exterior passou para o interior, terminando a vida do enfermo. 3.e Que o estado singultuoso do enfermo não teve outra causa mais, que a sym- pathia do diaphragma com os órgãos que a autop- sia demonstrou terem servido de sede á inílamma- ção e á grangrena, e que o soluço permanente nem sempre se deve explicar pelo estado de phlo- gose da mucosa gastro-pharyngiann , 011 gastrn in- testinal. 4*° Que nem sempre a longa presença de grandes cálculos na bexiga deve fazer presumir suppurações e estragos nos rins. 5.° Que o ligado apezar do seu estado pathologico, não representou hum papel directo, activo e immcdiato na morte do enfermo, coincidindo porem com o estado da pelle. 6.° Que a espessura e consistência da bexiga, perdido de todo o seu elasterio e poder contractil, inutilisava este órgão, é quando mesmo a grangre- na tivesse sobre vindo immediatamente á operação , o enfermo ficaria exposto a huma irremediável incontinencia de ourina , a qual tendo de passar atra vez do perineo, excitaria 1 tngas suppurações no

tecido éellular que oguarnece, e o operado não poderia sobreviver aos seus estragos. 7.0 Que o mesmo estado pathologico da bexiga deixa entrever, que o enfermo arrastaria pouco tempo mais huma existência em cruéis tormentos, e pèior do que a morte, se não tivera recorrido á operação, na bem fundada esperança dc os fazer cessar com esle ul- limo e único recurso. 8.° Finalmente, que se o enfermo tivesse recorrido á operação, alguns annos antes, teria por ella obtido o feliz resultado, que numerosos calculosos tem alcançado.

Conlinuar-se-ha.

OBSERVAÇÃO SOBRE IIUM CASO DE INTRODUCÇÃO D HUMA PEDRINHA NA CAIXA DO TYMPANO, E DE SUA EX- PULSÃO POR MEIO DE HUMA INJECÇÃO NA TROMBA DEUSTACHIO ,* PELO DOUTOR DELE A ü , JÚNIOR.

« A 21 de maio, pelas 3 horas da tarde, Júlio Gaultier, brincando com os seus camaradas, met- teo na orelha esquerda hum seixinho; seus pai»

não souberão disto se não ás 5 horas. A essa mes- ma hora sua mãi o levou á casa do doutor C.. . Este percebeo facilmente a pedra na entrada do condueto auditivo , e mostrou-a á mãi. Elle asse- gurou á criança, que ia fazer-lhe a extracção res- pectiva , sem lhe causar dor alguma, e servíndo-se de huma cureta, ensaiou passar-lhe a extremidade por detraz do corpo estranho ; porem assim que Júlio sentio tocar-lhe na orelha, fez hum movi- mento brusco , de que resultou bater a extremida- da cureta no lado da pedra que estava voltado para fora , e enterrai-a até o fundo do condueto auditi- vo : pelo menos pode-se suppor isso , pois que dahi por diante não foi mais percebida distinetamente.

O doente declarou desde então que elle nâo con-

senteria jamais em supportar novas tentativas, e

fugio da casa do medico. Huma hora depois seu

pai tornou-o a levar. E julgados inúteis todos ot

meios de persuasão, ensaiou-se fazer a extracção ,

apezar dos esforços que o doente podesse tentar

para subtrahir-sc a ella; porem não foi possivel

impedir completamente os movimentos da cabeça ,

(6)

DIÁRIO DE SAÚDE.

ea operação o único resultado que teve foi pro- duzir não pequena sangria no interior da orelha, e provavelmente affundar ainda mais o corpo extra- nho. Na mesma noite eu fui chamado com outro collega, porem não tendo nós podido conseguir do doente, nem siquer deixar-nos ver a orelha, que alias estava cheia de singue, dissemos que se ac- caso se tornasse indispensável empregar a força, o medico da casa se devia disso encarregar. Parte da noite seguinte continou a ter lugar hum corri- mento de sangue.

No dia seguinte pela manhãa , o Sr. doutor G.. . tendo mandado preparar hum apparelho que elle julgava proprio para conter a criança na iinmobi- lidade, nos convidou a ajudal-o na sua operação.

Eu só he que pude ir. Nós percebemos que o ap- parelho de que fallei, e no qual o menino nã i po- dia ser contido, não podia servir , e em tal caso tomou-se o expediente de prender Jnlio com toalhas em huma meza de cosinha, cm quanto quatro ho- rncns se esforçavão por impedir todos os seus ino- vimentos , porem sem poder conseguir isso comple- tamente. O Sr., doutor C... tocou, e me fez tocar na pedra com hum estilete , porem o sangue que ainda havia na orelha e a direcção da luz , nos impedirão percebel-a. Depois de haver feito in- jecções para limpar o conducto, depois de ter in - troduzido azeite para facilitar a passagem da pedra , o doutor C... ensaiou inutilmente desprendei-a com huma cureta , ou agarral-a com huma pinça.

Eu também fiz algumas tentativas igualmente vãas - Em fim o receio de augmentar o mal determinou,

nos a não proseguir. Para prevenir a inílammação que se poderia seguir , applicou-se seis sangue-sugas detraz da orelha, recommendou-se que lhe admi- nistrassem pediluvios , injecções emollientes , cris- teis, etc. Desenvolveo-se apenas huma inílammação muito ligeira, e as dores forão quasi nenhumas;

porem na manhãa seguinte percebeo-se, que o lado correspondente do rosto estava paralysado, princi- palmente os musculos da bochecha, da aza do na- riz," e dos lábios. As palpebras não se fechavão

«xactamente, g o ollio sem âprcsctitor ruüor f estivo

mqito sensivel á luz Trez ou quatro dias depois , queixando-se o doente alguma coisa da orelha, fez- se huma nova applicação de sangue-sugass, com o que desappareceo a dor; o olho cessou de irritar-se á luz viva ; appareceo hum ligeiro corrimento pu- riforme no conducto auditivo externo. A paralysia diminuiu , e estando dissipada toda a inchação, nós aconselhámos ao Sr. G. que levasse seu filho ao Sr.

doutor Deleau, júnior»

Tal he a memória que me foi endereçada sobre este caso interessante por hum collega distineto de St.-Malo.

Júlio chegou a Paris a 7 de junho de 1834- A sua face estava po estado já descripto. O concjuc- to auditivo, lavado com injecções d'agoa morna, e enchugado com esponjazinhas atadas em hastes , eu vi a pedra que tinha cabido de todo na caixa ; huma de suas faces, a única que se percebia, es- tava sobre o mesmo plano que a face externa da membrana do tympano , despedaçada em toda sua metade inferior. Com ajuda de huma alavanca acha- tada e ligeiramente recurvada, de que me sirvo sem- pre em semelhantes casos, quiz avaliar sua mobili- dade. Eu a achei, como apertada nas bordas entume- cidas da abertura feita rio septo tympanico. Desde então julguei que seria impossível empregar este ins- trumenlo para a extração, porque acalcando em huma das faces da pedra, íôra mister dc necessidade achar hum ponlo de apoio na face opposta , para fazel-a caminhar de dentro para fora. Aqui não era possível dar-se outro apoio a não ser a ca- dêa dos ossinhos, o que quer dizer, que era i.inprac- ticavel a manobra.

Era conveniente provar huma pinça de muitos ramos? Porem como introduzila na caixa sem es- calavrar as bordas inHammadas <la ferida ? No entanto sempre arrangei huma corri trez agulhas compridas mettidas em hum só cabo. As pontas erão alguma coisa recurvadas para o centro do ins- trumento que ellas formavão. O paciente declarou que elle não a deixaria introduzir, e elle sustentou a sua palavra ; nem rogos , nem ameaças , nem dores , nada o pôde dobrar ; elle não consentio nem

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DIÁRIO DE SAUftE.

siquer, que eu introduzisse hum canudo tle gom- aia elastica, ligeiramente evasado em huma ex- tremidade, e çommunicando pela outra ponta com hum reservatório , aonde eu havia previamente practicado o vácuo. Por fim eu imaginei collocar huma sonda na trompa d'Eustachio; o meu doente não fez o mais pequeno movimento que fosse; a algalia caminhou sobre o estilete (niandrin), e se introduzio na profundura de huma polegada. Met- tida de proposito sua extretnidade o mais profunda- mente possível., não deixava nem ao ar, nem a agoa a faculdade de passar entre a face externa e as paredes da trompa : logo era necessário que esses fluidos viessem bater no corpo extranho. Não hesitei hum só instante em empregar huuia dou- che (*) d'agoa ,, por não temer provocar na caixa do tympano maiores desordens do que as já existen- tes. A terceira doucke d'agoa projectou a pedra fla concha do pavilhão da orelha.

Fácil he de éomprehender que os resultados des- ta operação não forão taes, se não em rasão de ter a sonda sido introduzida profundamente na trompa, e sobretudo por estar ella apertada com muita for- ça neste conducto. Huma sonda de prata , que jamais pode penetrar mais de trez linhas hum pou- co alem do pavilhão , nenhum resultado daria, a agoa tornaria para traz e viria cahir no pharynge.

Demais, facíl he assegurar-se o facultativo desta verdade , practicando nos cadaveres experiencias comparativas. A otitis ou otorrhéa, como a quize- rem chamar, foi tratada racionalmente, e suas conseqüências felizes. A operação do catheterismo e as douches d'agoa violentas produzirão muito tnais dores, do que as tentativas que eu fiz no conducto auditivo, e no entanto o doente as sup- portou sem dar palavra , nem mecher-se.—Dele a d , júnior. D.-M. P.

(Trad. da — Gazétte Médicale — F. C. Valdctaro.')

[') Não encontramos huma palavra t[ue eiprima bem a idéa, por isso usámos do menino vocábulo fi.ancez. (Do traduetor.)

»

THER APEDTIC A.

Processo para a cura da enxaqueca.—Em hunia obra publicada ultimamente em França, e que tem por titulo: —Descoberta da séde verdadeira da enxa- qeuca, e dos meios de cural-a sem remedios em dés , vinte e trinta segundos —, pretende o autor que a enxaqueca reside nos nervos espalhados nos tegumen- tos cranianos. Consiste o processo curativo em com- prímir com o polegar hum ponto do trajecto do raminho frontal no começo da arcada superciliar, Se a dôr he muito violenta na região occipital, deve-se comprimir na parte posterio do pescoço, entre o atlas e o axis.

Novo porta-caustico.—O Sr. Tanchou inventou hum novo porta-caustico destinado á cauterisação da uretra. Este instrumento se compõe de hum porta-caustico ordinário ; mas este he montado so- bre huma haste em espiral metallica, que lhe per- mitte voltar para todos os lados sem violentar o canal; demais este porta-caustico he dirigido por hum estylete de botão que o precede em sua mar- cha ; deste modo, tem-se certeza : i.» de não fazer falsas vias, como acontece muitas vezes com o instrumento deDucamp; 2.° de depositar exacta- inente o nitrato no ponto que se quer cauterisar.

Do EMPREGO CE FUMIGAÇÕES DE ACIUO CARBÔNICO , PARA COMBATER A AMLNOBRHÉA £ AS DOSES UTEBIJfAS QUE PRECEDEM A EVACUAÇÃO HENSTRÜAL.—PreCOnisãO- se estas fuuiigações nos casos de tenesmo uterino , colicas fortes, que em certas mulheres irritaveis , ou prematuramente reguladas, precedem ou acom- panhão o fluxo inenstrual. Para administral-as usa-àc do seguinte meio : toma -se hum frasco de duas ou trez bocas, nelle se introduz certa quan- tidade de mármore ou blaç puWerisado. Em huma das bocas se adapta huma grossa sonda de gomma elastica convenientemente lutada ; n'outra hum fu- nil que serve para se verter pouco a pouco sobre o pó do mármore ácido sulfurico diluído. Quando se começa a fazer o desprendimento, introduz-se na vagino a sonda, e repetç-se estas fumigações

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240 DIfVRIO DE SAUDE.

duas ou trez vezes por dia. He este hum modo se- gurissimo e pouco despendioso de regularisar o flu- xo menstrual , e de dissipar as cruéis dores que o precedem , acompanhão e se lhe seguem tão fre- quentemente.

Processo para combater a introducção nos cor- pos EXTRANnos nos olhos. —Sabe-se quão difficil he algumas vezes cxtrahir as palhetas de ferro que saltão nos olhos dos ferreiros, e se cravão profun- damente na cornea ou na sclerotica. O Sr. Krimer manda banhar os olhos com a mistura abaixo men cionada :

R. — Ácido hydro-chlorico puro,.... 20 gotas.

Agoa rosada .

Mucilagem de caroços de marmelo o*- 2 onças.

1 oitava.

De ordinário bastão clés minutos para dissolver 1 até de certo volume. Lava-se depois o olho com leite, e cobre-se com compressas d'agoa fria para prevenir a inflammação da conjunetiva.

Esiprlgo uo creosôto. — O Sr. Goster cunse- guio curar pequenas ulceras suppurantes sobre a borda livre das palpebras , tocando-as com hum pincel einbebido da seguinte solução :

R.—Creosôto 2 gotas.

Agoa dislíllada . 2 onças.

Em sele casos de caria dentaria com violentas dores, a applicação do creosôto puro sobre a parte affectada de caria determinou a cauterisação ins- tantanea , e a cessação da dôr.

novos remédios para à ophthalmia. —Desde que os médicos se tem occupado'com especialidade das moléstias dos olhos, tem-se multiplicado ao infini- to as receitas para combater a inflammação chròni- ca. Nós offerecemos aqui as publicadas ultimamente pelo Sr. Carron du Yillards , 3." vol. do—Rcper- toire de Clinique — de 1855,

'-. • Collyrio adslringentef

R.—Ammoniaco purificado i5 grãos.

Sulfato de zinco 1 escrop.

Camphora dissolvida em huma 011-

ça de álcool 9 grãos.

Faça digerir S. A. em calor de 3o therm. Réau- mur, tendo a cautela de vascolejar muitas vezes.

Pommada contra a ophthalmia escrofulosa.

R. — Enxundia de fígado de arraia.... 1 onça.

Cyanureto de ferro 24 grãos.

Cyanureto de mercúrio 8 »

Misture a enxundia com os cyanuretos, depois de haver porphyrisado estes com todo o cuidado;

logo que estiver concluída a mistura, ajunle : Óleo essencial de louro-cerejo... 8 grãos.

Nota. — A enxundia de fígado de arraia pode substituir-se com manteiga de caçai*, ouespertna ceti, ou óleo espesso.

Pommada de Guthrie.

R.—Nitrato de prata 10 grãos.

Stibacetato dé chumbo 1 5 gotas.

Banha fresca ,, 1 oitava.

Reduz-se o nitrato de prata a pó finíssimo, e in- corpora-se depois a banha, e por ultimo o subace- tato de chumbo. Tritura-se bem até que a pommada fique bem homogênea. Deve-se dar a maior atlen- ção a que o nitrato de prata fique reduzido a pó impalpavel , porque do contrario obraria como cáustico na conjunetiva. Usa-se desta pommada do. modo seguinte : toma-se hum bocado delia do tamanho der hum grão de trigo, que se introduz por ineio de huma espátula de pau muito fina debaixo da palpebra superior, sobre a qual se fazem fric^

ções brandas com o dedo, até que a pommada esteja sufficientementc repartida entre o olho e as palpebras; a dôr persiste por huma hora , e se dissipa depois. (Extrahido do —Bulletin de the- rapeutique—i835.)

Rio de Janeiro. Typ. Imp. e Const. de SEIGNOT-PLANCHER e C.', rua d'ouvidor n.» 95—1835.

Referências

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