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Estudos lexicais: Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Onomástica

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Academic year: 2021

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Estudos lexicais: Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Onomástica

Profª Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG) e Prof. Eduardo Tadeu Roque Amaral (UFMG)

A linguagem das rendeiras da Raposa, MA: aspectos léxico-culturais. Raquel Pires Costa (UFMA)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os primeiros resultados da nossa pesquisa de doutorado, realizada no POSLIN (Programa de Pós-graduação em Linguísticos da UFMG), na qual realizamos o levantamento e descrição do léxico das rendeiras de Raposa, Maranhão. Raposa é um município localizado a, aproximadamente, 47 km de São Luís, formado basicamente de famílias de pescadores oriundos de Acaraú, Ceará, que migraram de sua terra natal na década de 50. A pesquisa pretende responder as seguintes hipóteses: Há um léxico específico no que se refere ao trabalho das rendeiras? Assim como o léxico dos pescadores da comunidade de Raposa, também há unidades lexicais não dicionarizadas no linguajar das rendeiras dessa mesma comunidade? As mais jovens mantêm o mesmo acervo lexical das mais velhas? Há diferenças significativas entre a linguagem das rendeiras mais jovens e as de maior faixa etária, no que se refere ao léxico utilizado para se referir à renda? Assim como acontece com o léxico dos pescadores, o léxico das rendeiras têm marcas da estrutura sociocultural do povo nordestino? Buscamos observar em que medida o léxico de uma comunidade que trabalha com a renda retrata a realidade sociocultural desse grupo. Pretendemos, dessa forma, mostrar que os estudos lexicológicos apontam estreita relação entre o homem, a cultura e o ambiente em que se inserem. Nosso suporte teórico-metodológico foi, sobretudo, a Sociolinguística (Labov e Milroy), a Lexicologia (Biderman), a Lexicografia (Barbosa, Esquivel e Haensch) e a Antropologia Linguística (Duranti e Hymes). Seguindo o modelo laboviano, partimos do presente, ao coletar nossos dados decorrentes das 15 entrevistas orais realizadas na Raposa, voltamos ao passado, ao consultar dicionários do século XVIII (Bluteau) e XIX (Morais), e retornamos ao presente para estabelecer comparações entre esses períodos. Após análise dos dados, constatamos a existência de um vocabulário regional no qual os vocábulos referentes à renda têm grande destaque. Constatamos ainda, por meio dos neologismos ocorridos, a capacidade criativa dos informantes. Os resultados evidenciam, ainda, aspectos históricos, sociais e culturais da região, destacando a importância do léxico relacionado à renda para o município da Raposa.

Análise do “Pequeno Glossário da Linguagem dos Sinos”. Fábio César Montanheiro (UFOP)

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Recentemente registrado como patrimônio cultural imaterial pelo IPHAN, o toque dos sinos em Minas Gerais, embora em menor grau do que já o fora, constitui-se numa forma de comunicação ainda vigente em algumas cidades históricas do estado. Ofício de sineiros, indivíduos responsáveis pela preservação e transmissão de uma peculiar "linguagem", a função apresenta, como qualquer outra atividade, um jargão específico do domínio da campanologia que nomina tanto o bem móvel sino e seus elementos acessórios, quanto o modo como ele é tocado e os tipos de toque dele emanados. Embora tangidos em circunstâncias coincidentes, o modo como os sinos são tocados se diferenciam de um lugar para outro. Essa variação faz eco na terminologia do meio campanográfico, pois nem os termos atinentes à nomenclatura de elementos respeitantes ao sino nem aqueles atribuídos a certas execuções dos sineiros mantêm-se totalmente uniformes nas mantêm-seis localidades aqui consideradas. Destarte, "corpo" no jargão campanográfico de São João del-Rei encontrará correspondência no termo "cabeçote" em Ouro Preto. Em muitos casos, a denominação dos toques faz apelo a construções onomatopaicas, a exemplo de "tengorengontengo" em Mariana, enquanto outros recebem nomes associados ao momento litúrgico em que os sinos são tocados, como "toque de Ângelus ou de Ave-Maria" em Catas Altas; já uma outra categoria de nomenclatura de toques alude à sua questão pragmática, como "dobre de incêndio" em Tiradentes. Para além de palavras e locuções, a prática sineira também propiciou a criação de expressões que muitas vezes transcendem o ambiente das torres e ganham uso local corrente, como em Diamantina, onde existe a expressão "vou mandar bater no sino da igreja". Além de onomatopéias, sintagmas e expressões, parlendas são igualmente criadas a partir da cadência dos dobres e repiques.

Seis, dentre as nove cidades mineiras que tiveram seus toques registrados pelo IPHAN – Catas Altas, Diamantina, Mariana, Ouro Preto, São João Del-Rei e Tiradentes – tiveram termos oriundos das atividades campanográficas nelas ocorrentes agrupados em uma publicação, o "Pequeno glossário da linguagem dos sinos" (2006). Organizado em seis seções, correspondentes cada uma delas ao campo semântico sino nas cidades acima elencadas, sua análise permite verificar a ocorrência de harmonias e dissonâncias terminológicas. Mas não só. Uma análise quantitativa leva a constatar que a variedade de entradas arroladas é diretamente proporcional ao grau de preservação dessa expressão cultural – o toque de sinos – nessas cidades, e o estudo dos tempos verbais empregados nos verbetes, particularmente no que diz respeito à oposição entre presente e passado, aponta para a ocorrência de determinado toque na atualidade ou para sua existência apenas na memória coletiva da comunidade.

A presença do nome do animal gato em expressões fixas do português. Luciana Massai do Carmo (UFMG)

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Tomando como base o conceito de expressão fixa (EF) inserida no âmbito da fraseologia, este trabalho se propõe a analisar algumas EFs do português retiradas do Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa e do Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa que contenham o nome do animal “gato” em seus itens lexicais constitutivos e sua possível relação com a simbologia desse animal. As expressões analisadas são: “à noite todos os gatos são pardos”;“gato escaldado tem medo de água fria.”;“gato morto”;“gatos pingados.”;“gato por lebre”; “fazer de gato e sapato”;“quem não tem cão, caça com gato.” e “viver como cão e gato”. Para tal análise, foram coletados exemplos autênticos de uso dessas expressões no Corpus do português. As EFs aqui analisadas já se encontram cristalizadas em sua forma e significado. Assim, pela sua fixidez e pela sua amplitude de uso, as EFs passam a ser analisadas como uma unidade e, como tal, merecem mais detalhamentos por parte dos estudiosos da linguagem, sendo objeto de estudo da fraseologia.

O presente trabalho optou por restringir as EFs analisadas. Assim, entre tantos tipos fraseológicos, selecionou-se apenas o grupo dos idiomatismos ou expressões idiomáticas (EIDs)s e provérbios (PROs). Essa seleção justifica-se pelo fato de tais EFs serem de grande importância para a competência comunicativa do falante e por utilizar uma linguagem conotada.

Tanto as EIDS, quanto os PROs, são bastante utilizadas na vida cotidiana, devido ao seu alto grau de expressividade. E, segundo Fonseca (2013, p. 44), o uso de tais expressões “testemunham uma civilização, refletem o conhecimento e o saber linguístico e cultural de um povo em um determinado momento da história. São a cultura viva de uma dada comunidade”.

A presença dos nomes de animais nos idiomatismos e provérbios: interface português-espanhol-italiano. Luciana Massai do Carmo (UFMG)

A comparação é uma tendência universal dos homens na construção do conhecimento. É interessante comparar certos fenômenos com outros e isso enriquece uma pesquisa ou observação científica, além de ajudar a esclarecer certos fenômenos.

A partir daí, e tendo como base a importância e o conceito de idiomatismo ou expressão idiomática, ambas no âmbito da Lexicologia, este trabalho analisa idiomatismos do português brasileiro que possuam nomes de animais em suas construções lexicais a fim de estabelecer as diferenças e/ou semelhanças quanto à sua equivalência para as língua espanhola e italiana.

Mas por que comparar essas três línguas? É notória a semelhança existente entre as línguas portuguesa, italiana e espanhola. Faz-se saber se essa semelhança persiste nos idiomatismos, uma vez que neles há também uma questão cultural que irá interferir na sua construção e que também deve ser levada em conta. Esta pesquisa visa a análise de expressões idiomáticas e provérbios que contenham nomes de animais, tema selecionado por ser muito frequente no discurso e por ser de extrema relevância a

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comparação entre línguas românicas. Com isso, faz-se saber a enorme diversidade cultural e lexical que os idiomatismos e provérbios são representados em uma língua e em outra.

Exemplo de expressão idomática com nome de animal aplicável nas três línguas: Língua Portuguesa: “Ser a ovelha negra”.

Língua espanhola: “Ser la oveja negra”. Língua italiana: “ Essere la pecora nera”.

Esta proposta de pesquisa visa dar uma contribuição lexicológica dentro do vocabulário de animais. Assim, observando o uso das expressões selecionadas em português e seus equivalentes em espanhol e italiano, intenciona-se compreender a representatividade que tem cada animal nesses três idiomas. Com isso, faz-se saber a enorme diversidade cultural e lexical pelo qual os idiomatismos são representados em uma língua e em outra.

Apresentação do corpus de pesquisa: os nomes das escolas públicas da cidade de Mariana. Beatriz Latini Gomes Neta (UFOP)

Esta comunicação traz o recorte de uma pesquisa de mestrado ainda em desenvolvimento. Tendo como ponto de partida a unidade lexical, o presente estudo abrange as motivações dos nomes de todas as escolas públicas da cidade de Mariana/MG – incluindo os distritos e os subdistritos – que ofereçam o ensino regular infantil (1o ao 5o ano) e ensino básico (fundamental e médio). Para tanto, consideram-se os espaços físicos “escolas” como topos (lugar) passíveis de estudo e análiconsideram-se científica, recorrendo, entre outras fontes teóricas, à Toponímia: área científica da linguagem que investiga os nomes dos lugares e é, ao mesmo tempo, específica, por se valer das nomeações espaciais como objeto de pesquisa, e transdisciplinar, por dialogar intimamente com outros ramos do saber científico como a História, a Geografia, a Antropologia etc. Toda instituição de ensino, devidamente regularizada perante os órgãos públicos em uma das esferas governamentais (Município, Estado, Federação), é “batizada” através de registro oficial com nome próprio. Essas instituições marcam e povoam o imaginário das pessoas que por ela passaram em alguma fase da vida com reminiscências individuais e coletivas. As escolas sem dúvida fazem parte da história, da memória de uma cidade, de seus valores históricos, político-sociais e culturais locais. Em um levantamento quantitativo foram identificadas trinta e três escolas públicas em Mariana: vinte e uma de domínio municipal e doze de domínio estadual. Com os mais variados nomes, alguns se relacionam a pessoas que, possivelmente, tiveram alguma relação com a cidade de Mariana. Exemplos disso são os topônimos Escola Municipal “Dom Oscar de Oliveira” e Escola Estadual “Cônego Braga”. Outros nomes parecem fazer alusão direta ao local em que a instituição se encontra, é o caso da Escola Municipal “de Passagem de Mariana” em referência ao distrito (Passagem de Mariana) pertencente à cidade.

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Todos esses aspectos ainda serão investigados e registrados em fichas (lexicográficas, históricas e de entrevistas) de cada escola. Para esta comunicação, será demonstrado o corpus da pesquisa e será discutida a hipótese de que a grande presença de nomes de pessoas ligadas ao clérigo da Igreja Católica nos nomes das escolas reflita a relação existente entre Igreja e sociedade na cidade de Mariana.

ATOBAH: proposta de elaboração do atlas linguístico da Bahia. Celina Márcia de Souza Abbade (UNEB)

Desde a chegada dos portugueses em nossas terras, até os dias atuais, foram mais de cinco séculos com muitas histórias nas quais a Bahia serviu como palco de invasões. Logo, a história da Bahia se confunde com a própria história de formação do Brasil. A economia que movimentou o Estado no século XVI, levou ao seu aumento populacional e financeiro. O território baiano também ocupa diversos tipos de ecossistemas e o clima tropical predomina em todo o estado com algumas variantes. Formada atualmente por 417 municípios e diante de tantos fatores motivacionais, a Bahia pode ser dividida de diversas formas a depender do critério utilizado: geográfico, turístico, econômico e até hídrico. Sabendo que o léxico de um povo diz muito de sua história, o Projeto ATOBAH- Atlas Toponímico da Bahia pretende partir dos topônimos ‘nomes de lugares’ para entender e desvendar um pouco mais da história linguística e sociocultural do povo baiano. O ATOBAH é uma proposta de variante regional do ATB- Atlas Toponímico do Brasil, idealizado pela Profa. Dra. Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick na USP- Universidade de São Paulo e expandido por diversos estados do Brasil. O projeto de elaboração do Atlas pretende gerar produtos significativos como a organização de um banco de dados informatizado que possa reunir informações relativas aos municípios baianos que constituem o corpus do projeto. Depois de gerado o banco de dados, iniciar-se-á o processo de execução do Atlas, sempre tomando como base o modelo teórico proposto por Dick (1990/1996). Dessa forma, apresentar-se-á aqui as diversas propostas de divisões das regiões baianas mostrando, já a partir dessas divisões, um pouco de sua história. Uma vez que o modelo de Atlas seguido será o proposto por DICK (1990), apesar de na Bahia existirem diversas propostas de divisões regionais, o ATOBAH seguirá a divisão geográfica sendo alimentado principalmente por dados linguísticos, mas buscando apoio em outras áreas do saber uma vez que a Toponímia é uma disciplina com caráter interdisciplinar e dinâmico. No entanto, as demais pesquisas toponímicas que surgirão, poderão optar por outra forma de divisão sempre visando mostrar que os estudos toponímicos, muito mais do que contribuições linguísticas, trazem à tona aspectos históricos, geográficos, culturais e sociais de uma região e do seu povo.

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A Toponímia da Região Central de Minas Gerais. Patrícia de Cássia Gomes Pimentel (UFMG)

A dissertação em desenvolvimento, A Toponímia da Região Central de Minas Gerais, tem por objetivo a descrição e a análise do léxico toponímico da região Central de Minas Gerais, fundamentando-se em pesquisa que vem sendo realizada a partir do Banco de Dados do Projeto ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais (FALE/UFMG), Projeto este coordenado pela Profª. Drª. Maria Cândia Trindade Costa de Seabra.

O estudo dos nomes de lugares da Região Central mineira tem por finalidade demonstrar um pouco das contribuições linguística-culturais, para a formação toponímica do estado de Minas Gerais. Estruturada a partir de uma etnia diversificada, formada por estratos populacionais diversos como os ameríndios, distribuídos em vários troncos e famílias, os portugueses, os africanos, a nomenclatura geográfica do território mineiro se apresenta tão heterogênea quanto o seu próprio povo, fato este que se refletiu na língua, nos usos e costumes regionais e, consequentemente, na toponímia local.

Geralmente descritiva e presente em maior número dados, os topônimos de origem indígena se caracterizam por nomenclatura básica que em muitos casos foi incorporada à toponímia que se constituiu antes da chegada do povo europeu. Por outro lado, os topônimos de origem africana, apesar de se apresentarem em menor número, são reveladores da presença do negro no território mineiro, bem como da participação das línguas africanas no processo de nomeação do mesmo.

A partir da análise dos topônimos, que possibilita o reconhecimento e a conservação das tradições e costumes de uma comunidade, revelando muito do passado e da gente que aqui outrora viveu, investigaremos os mais de 4000 (quatro mil) nomes de lugares que integram toda essa área territorial. Para tanto, adotamos como referencial teórico o modelo toponímico de DAUZAT (1926) e DICK (1990).

Dentre os principais objetivos específicos desta pesquisa, destacam-se: o estudo do padrão motivador dos topônimos coletados, bem como de sua estrutura morfológica; verificação e quantificação, nessa área, dos topônimos de origem indígena e africana; investigação, quando houver, de casos de variação, de mudança e de retenção linguísticas; analisar se os topônimos registrados apresentam estreita ligação com o ambiente social e físico do local; ampliação e aperfeiçoamento do banco de dados do Projeto ATEMIG, dentre outros.

Para fins de sistematização e de análise do corpus pesquisado, estão sendo elaboradas fichas lexicográficas, seguindo o padrão metodológico proposto pelo Projeto ATEMIG, além de um glossário com os termos de origens indígenas e africanas encontrados nessa mesorregião de Minas Gerais.

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A Zootoponímia Mineira. Cassiane Josefina de Freitas (UFMG)

A Onomástica, ciência que se dedica ao estudo dos nomes próprios, se divide em duas vertentes: a Antroponímia e a Toponímia. A primeira se dedica ao estudo dos nomes próprios de pessoas, enquanto a segunda, aos nomes próprios de lugares. A pesquisa em questão trata do estudo descritivo – linguístico e cultural – dos topônimos (nomes próprios de lugar) de índole animal, os denominados zootopônimos, presentes no estado de Minas Gerais. A exuberância da fauna brasileira, assim como seu papel fundamental à sobrevivência dos primeiros indivíduos, são revelados no expressivo número de topônimos de origem animal. Com a intenção de verificar a preferência regional pelo emprego sistemático dessas denominações em território mineiro que surgiu a ideia de desenvolver o presente trabalho.

Vinculada ao Projeto Atlas Toponímico de Minas Gerais – ATEMIG –, que vem sendo desenvolvido, desde 2005, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a coordenação da Prof.ª Dr.ª Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, esta pesquisa constitui-se, dessa forma, de uma investigação toponímica que se norteia pela perspectiva de que língua e cultura são elementos indissociáveis. Entende-se cultura como um conjunto de ideias, tradições, conhecimentos e práticas individuais e sociais, que podem ser projetados na língua de um povo. (DURANTI, 2000)

O léxico o subsistema da língua que mais se reporta a um “mundo referencial, físico, cultural, social e psicológico em que atua o homem” (Ferraz, 2006, p.220), representando, assim, de maneira clara, o ambiente tanto físico como social dos falantes. Os topônimos refletem circunstâncias de natureza histórica, social, físico-ambiental e cultural que possam ter influenciado o (s) enunciador (es) no ato do batismo dos acidentes físicos e humanos de uma determinada localidade, região. Segundo Dick (1990,p.22), a maior pesquisadora da área, os topônimos são verdadeiros testemunhos históricos de fatos e ocorrências registrados nos mais diversos momentos da vida de uma população encerram em si, um valor que transcende ao próprio ato de nomeação: se a Toponímia situa-se como a crônica de um povo, gravando o presente para o conhecimento das gerações futuras, o topônimo é o instrumento dessa projeção temporal.

Dentre os objetivos do trabalho, destacamos a realização do estudo zootoponímico no território mineiro; a identificação da origem; a investigação dos casos de variação, mudança e retenção linguísticas; a contribuição com as pesquisas do Projeto ATEMIG, na ampliação e aperfeiçoamento de seu banco de dados.

Estrangeirismos franceses em jornais de Belo Horizonte do final do século XIX e início do século XX: a belle époque em Minas. Priscila Viana da Rocha (UFOP)

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A dissertação de mestrado intitulada "NOS RASTROS DA BELLE ÉPOQUE MINEIRA: estrangeirismos franceses em jornais de Belo Horizonte do final do século XIX e início do século XX" defendida no programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Ouro Preto pretendeu analisar o alcance da influência francesa em Belo Horizonte, a nova capital do Estado de Minas Gerais (1897), através da análise de estrangeirismos franceses utilizados em jornais que circularam nessa cidade, desde o período de sua construção 1893-1897 até 1914, ano considerado como fim da Belle Époque.

O presente trabalho objetiva mostrar os resultados parciais dessa pesquisa e pretende abordar as reflexões acerca do fato de a língua de uma determinada comunidade estar ligada de forma intrínseca à sua cultura. Aceitamos a perspectiva de que a língua de um determinado grupo social registra as experiências e influências pelas quais passa esse grupo. Através da análise dos elementos franceses encontrados em jornais de Belo Horizonte no período investigado, pretendemos verificar a intensidade da influência francesa e sua extensão, observando em quais aspectos da vida social ela teve maior relevância.

Pretendemos, igualmente, apresentar a análise dos dados e demonstrar que o número de estrangeirismos encontrados, os tipos de jornais mais concessores de elementos estrangeiros, a quantidade e a variedade de contextos em que eles foram utilizados, a grafia, a semântica e a morfologia desses itens foram elementos essenciais para respondermos de que modo a busca de modernidade e de progresso em Belo Horizonte, de acordo com os moldes franceses, afetou a linguagem utilizada pelos jornais. Por outro lado, a análise dos campos lexicais, bem como da possibilidade dos estrangeirismos apresentarem equivalentes em português, como também dos motivos para a realização dos empréstimos foi fundamental para dizermos até que ponto a busca de civilização pela elite belo-horizontina, através da importação de valores e costumes franceses, lhe impôs novos hábitos, novas necessidades e novas unidades lexicais.

Estudo Toponímico dos municípios baianos: resultados preliminares. Clese Mary Prudente Correia (UNEB)

Entre os diversos campos de estudos linguísticos, a Onomástica – ramo da Lexicologia que estuda os nomes próprios de pessoas (antropônimos) e de lugares (topônimos) – representa uma fonte de estudo da língua e sua relação com o patrimônio cultural de um povo. Por essa razão, inúmeros trabalhos científicos têm sido realizados nesta área, com destaque para aqueles que buscam compreender e explicar fatos linguísticos tendo por base as pesquisas na área da Toponímia. Considerando os topônimos como testemunhos da história da língua, tendo em vista que, caracterizados principalmente pela motivação, eles registram os contatos linguísticos e

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culturais entre os povos, é possível, com um estudo toponímico, identificar as influências linguísticas na língua portuguesa. Desse modo, buscando contribuir para os estudos no âmbito da Lexicologia, apresentam-se os resultados preliminares do estudo dos topônimos dos 169 municípios do Estado da Bahia registrados nos volumes XX e XXI da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, publicada pelo IBGE em 2 de julho de 1958, referentes aos municípios baianos. Conforme consta na introdução do volume XX, o trabalho desenvolvido foi feito “sob rigoroso método científico” com o objetivo de transmitir “uma visão conjunta da vida nacional nos limites dos núcleos municipais que informam a vida brasileira.” Nos dois exemplares estão elencados, em ordem alfabética, os municípios do Estado em 1958, cada um apresentando, além de aspectos geográficos, como localização, altitude, área, acidentes geográficos, clima, riquezas naturais, atividade econômica e política, meios de transporte e comunicações, uma série de informações sobre a história de cada município e a sua população, tais como aglomerações urbanas, educação, cultos religiosos, manifestações religiosas, folclóricas e efemérides. Entendendo que traços culturais da memória e da identidade de um povo podem ser revelados pelo termo toponímico, ajudando a compor a história e a identificar influências linguísticas presentes na língua do lugar, indicam-se, através de fichas lexicográfico-toponímicas, informações relativas a dados históricos, etimológicos e motivacionais que permitem verificar os aspectos culturais que envolvem a língua e a identidade das regiões analisadas.

Fitotoponímia e hidrotoponímia na nomeação de ruas de bairros da cidade de Ouro Preto-MG. Elisabeth Maria de Souza Camilo (UFOP)

Trata-se do resultado de estudo toponímico envolvendo dois bairros da cidade histórica de Ouro Preto, um considerado mais antigo e outro entre os mais jovens, a saber, Morro São Sebastião e Vila Santa Cruz.

As ruas do Morro São Sebastião ganharam nomes de rios locais e nacionais. Moradores desconhecem a razão porque as ruas receberam essa denominação e muitos desconhecem dados sobre o rio que batiza a rua em que moram.

As ruas da Vila Santa Cruz ganharam nomes de flores e árvores, embora a vegetação local seja rara. Algumas flores e árvores citadas sequer pertencem à região estudada. Essa pesquisa denota a necessidade de se avaliar como determinadas tendências nasceram em espaços geográficos e como são aceitas sem questionamento.

Na cidade de Ouro Preto há um vínculo entre história e onomástica, muitos bairros, ruas e praças recebendo nomes de personagens históricos locais e nacionais, de efemérides e outros semelhantes a eles. É aceitável o nome de rios no Morro São Sebastião, próximo à nascente do Rio das Velhas, principal afluente do Rio São

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Francisco; todavia, como gerenciar a aceitação em massa de nomes de flores e árvores no segundo bairro em estudo, se a vegetação é escassa e o desmatamento é grande no local?

Estudos onomásticos exigem metodologias especiais, que vão desde a análise da história local até possíveis motivos que levam alguém a nomear o ser/o lugar/a coisa. Sabendo-se que nomes de ruas normalmente são designados pelos vereadores, busca-se nesbusca-se trabalho a lógica da nomeação nas cidades, utilizando esbusca-ses dois bairros como estudo de caso. Especificamente, foram feitas visitas aos locais, um inventário com os nomes das ruas, questionamentos a uma amostra aleatória de moradores das ruas: por que sua rua possui esse nome? Você conhece algo sobre esse rio/essa planta? Por fim, busca em arquivos da prefeitura local foi necessária para se compreender a razão da nomeação.

Hagiotoponímia em território mineiro: pesquisa sincrônica e diacrônica. Ana Paula Mendes Alves de Carvalho (IFMG – Câmpus Ouro Branco)

O costume de dar aos lugares o nome de um santo é muito antigo, remonta à segunda metade do século VI, quando as igrejas particulares, basílicas e oratórios eram normalmente erigidas em honra de um santo, que passava a ser o símbolo do templo religioso e a lhe dar o nome e, posteriormente, era atribuído também às terras e a freguesia que iam se organizando nos seus arredores. Em Minas Gerais, esse costume, que teve início na antiguidade cristã, veio, ao longo dos séculos, sendo perpetuado pelas gerações e pode ser observado, com nitidez, ainda nos dias atuais. Desse modo, partindo do pressuposto de que os nomes de lugar formados por nomes de santos – os hagiotopônimos – constituem um grupo especial de topônimos em que se percebe com clareza a comunhão de aspectos psicológicos do ser humano com a geografia e a paisagem, em nossa pesquisa de doutoramento, realizamos um estudo descritivo do léxico hagiotoponímico brasileiro, focalizando os 853 municípios do estado de Minas Gerais. Adotando o conceito de cultura de Duranti (2000) e os pressupostos teórico-metodológicos da ciência onomástica – Dauzat (1926) e Dick (1990a, 1990b, 2004 e 2006) –, apoiamo-nos em Labov (1974) para verificar como se dá o processo de variação e mudança nos topônimos analisados. O nosso estudo vinculou-se ao Projeto ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais, projeto em desenvolvimento, desde 2005, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Em sua primeira etapa, o ATEMIG fez o levantamento e a classificação toponímica de todos os acidentes físicos e humanos dos 853 municípios do estado, documentados em cartas geográficas – fontes do IBGE, com escalas que variam de 1: 50.000 a 1: 250.000, perfazendo até o presente momento um total de 85.391 topônimos. Desse total de dados, os que constituem nosso corpus contemporâneo, totalizam 5.649 hagiotopônimos. Além dos dados contemporâneos, através da consulta a mapas dos

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séculos XVIII e XIX, construímos um segundo corpus de dados históricos, composto de 647 topônimos. A análise comparativa dos corpora permitiu perceber como o processo designativo a partir de hagiotopônimos se deu diacronicamente no estado. Este trabalho levou-nos, ainda, à construção de um glossário hagiotoponímico, composto por verbetes que mostram a identificação do tipo de acidente, o número de ocorrências e a localização geográfica de cada topônimo, sendo que os mais produtivos também podem ser visualizados em cartas toponímicas.

Interferências do léxico negroafricano na língua portuguesa e nas crioulas de base portuguesa. Abilio Manuel Marques de Mendonça (UNEB)

Este trabalho aborda as interferências lexicais das línguas negroafricanas no português das excolônias portuguesas que falam este idioma como língua oficial ou materna, como no caso de Angola, Moçambique e Brasil, ou das línguas crioulas de base portuguesa como as de S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Faz-se uma reflexão da importância das variantes resultantes destas interferências linguísticas e o respeito a elas para melhor compreender as línguas faladas nestes países e o contributo da herança lexical negroafricana. Do contato sociolinguístico entre os colonizadores portugueses e os negroafricanos oriundos de diversas partes da África, nascida no seio da escravatura negra, entre os séculos XVI e XIX e coexistindo com o português, surge o crioulo, língua em alguns países como Cabo Verde. Esta tornou-se independente com sua estrutura individualizada. No início, o crioulo pretendia resolver os problemas de comunicação a partir de códigos mínimos e muito limitados entre falantes de línguas diferentes em seus diassistemas, que através de empréstimos e adaptações de outras línguas, aos poucos, evoluiu, deu origem a uma língua de caráter nacional. Devido a essa grande interferência de lexias negroafricanas no português, o levantamento lexical é de grande importância para compreender melhor a língua portuguesa e ampliar o conhecimento do legado negroafricano. Através dele, poderemos entender as divergentes culturas que contribuíram com a formação vocabular da língua portuguesa, pois estas lexias fazem parte do patrimônio do povo negroafricano e americano. Cada uma dessas lexias expressa seu significado próprio de acordo com a época, o grupo social e a região em que se encontram, revelando sua riqueza lexical. Estudar as interferências deste importante léxico é abrir possibilidades de conhecer melhor a história social de cada povo e ressaltar essas palavras como parte integrante do patrimônio cultural de seus falantes. É uma forma de resgatar a dignidade de seus falantes, sem que haja qualquer tipo de exclusão, não se tratando simplesmente de fazer um levantamento lexical oriundo das interferências das línguas negroafricanas, mas sim de compreender melhor a língua portuguesa e seu legado negroafricano, a qual através dos tempos, vêm se adaptando com novas palavras de outras línguas.

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Léxico da religião: estudo comparativo das Igrejas Católica e Adventista do Sétimo Dia. Danivia da Cunha Mattozo Wolff (UFMG)

Língua e cultura estão intimamente ligadas. De acordo com Carvalho (2010, p. 419), a língua não tem função em si, mas existe para expressar a cultura; ela corporifica as demais interpretações culturais. E dentre os componentes de uma língua, o léxico – nomeando a realidade extralinguística e designando elementos do universo e da cultura – revela mais claramente a influência da realidade. Nos estudos do léxico, a realidade social tem-se mostrado uma importante aliada. Léxico e realidade caminham juntos, sendo um o reflexo do outro. Considerando-se como fatores sociais as várias forças da sociedade que moldam a vida, os costumes e o pensamento das pessoas, pode-se dizer que a religiosidade é um fator social, pois é um importante marcador de traços culturais e da organização social da comunidade. Assim, a religião está intimamente ligada à cultura na qual está inserida e, logo, está intimamente ligada ao léxico. Dessa forma, entende-se que, assim como a religiosidade se reflete no léxico, as diferenças expressas nas religiões devem se refletir igualmente nas escolhas lexicais. Os falantes religiosos possuem um léxico específico, e a manutenção desse léxico está diretamente relacionada à manutenção da crença. Segundo estudos de Cambraia, Vilaça e Melo (2013, p. 32, 33), a unidade lexical no âmbito da religião deve decorrer de as palavras representarem conceitos específicos e fundamentais para a corrente religiosa em questão, razão pela qual haveria uma tendência de resistência à diferenciação, pois novas formas lexicais poderiam levar os falantes à constituição de percepções divergentes da doutrina, o que, naturalmente, não seria interessante para preservação do vínculo dos fiéis a uma corrente específica.

Dessa forma, baseando-se nos estudos de Semântica Lexical e Lexicologia Social, o objetivo deste trabalho é apresentar uma pesquisa que considere a relação entre o léxico e a religiosidade, a fim de mostrar como o léxico reproduz as diferenças existentes entre as igrejas. Para tanto, comparou-se o léxico religioso de falantes das Igrejas Católica e Adventista do Sétimo Dia para verificar se as diferenças sociais, expressas pelas diferenças doutrinárias, são refletidas em diferenças lexicais.

Motivação na nomeação das repúblicas estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto. Elisabeth Maria de Souza Camilo (UFOP)

Todas as repúblicas estudantis de Ouro Preto possuem nomes expressos em placas e todos são bastante originais. Essa pesquisa parte do pressuposto de que a nomeação teve origem em alguma motivação do morador fundador e discrimina, ainda de forma bastante básica, essas possíveis motivações, dentro das propostas de nomeação apresentadas por Michel Foucault – conveniência, emulação, analogia e simpatia.

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Duas pré-pesquisas foram feitas na cidade de Ouro Preto-MG, uma que questionava ao morador e ao turista que ideia eles tinham dos moradores das casas estudantis quando liam as placas e outra que questionava o morador de uma república se ele sabia a origem do nome da casa onde morava bem como a de outras casas próximas. Percebeu-se que moradores imputam aos estudantes atributos inferentes aos nomes das casas e que alguns estudantes não sabem a razão dos nomes das repúblicas onde moram e sequer as das outras. Do resultado dessas duas pré-pesquisas, surgiu a apresentada neste documento e foram encontradas diversas motivações que deram origem aos nomes: diversas formas de protestos e homenagens, referências à literatura, à mídia, à cultura local e à da cidade do morador, propostas linguísticas ( fonéticas, ortográficas, dialetais entre outras), referências toponímicas e antroponímicas e apologias a sexo, uso de bebidas e de liberdade condicionadas a mitos diversos sobre vida universitária fora da casa parental. Outro resultado obtido foi o de que os nomes das casas femininas normalmente fazem alusão à mitologia e à própria condição da mulher na sociedade, enquanto os masculinos são mais sexistas ou portadores de apologias consideradas negativas pela população. Um vínculo com a história cultural da cidade de Ouro Preto foi percebido nos nomes das repúblicas mais antigas, vinculadas à Fundação da Escola de Minas; todavia, são as casas mais novas que apresentam um leque mais abrangente de opções nominais, muitas delas sendo completamente alienígenas para a população local ou designando interpretações diferenciadas.

Metodologicamente, para alcançarmos o resultado obtido, foram feitas visitas às casas de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade, em Minas Gerais, e os alunos moradores foram convidados a responderem a apenas um questionamento: por que sua casa tem esse nome? A resposta nos levou à discriminação motivacional proposta e vai servir para a edição de livro.

O campo lexical dos instrumentos de trabalho do sertanejo em Seara Vermelha. Maria da Conceição Reis Teixeira (UNEB)

Os instrumentos de trabalho são os utensílios, máquinas, aparelhos que servem para executar uma atividade, ou seja, são os artefatos de que o homem se serve para exercer efeito no seu objeto de trabalho e ajustá-lo à satisfação das necessidades humanas. Os instrumentos são elementos cruciais do processo de hominização. Os primeiros surgiram da própria corporeidade orgânica do homem, de suas mãos, seus braços, de suas pernas e de sua cabeça, tornando-se humanos no processo social do trabalho. Marx (1975, p. 111) afirma que “*...+ todos os órgãos do seu ser individual, como aqueles órgãos que são diretamente sociais em sua forma, estão em sua orientação objetiva ou em sua orientação para o objeto, a apropriação desse objeto, a apropriação do mundo humano [...+”. Nessa perspectiva, o corpo do homem se situa

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no limite entre natureza e cultura, porque pode, ao mesmo tempo, ser fonte da história e seu produto. E, nessa interação, o homem deparou-se com seus próprios limites corporais, que se tornaram insuficientes, levando-o a buscar, na natureza, prolongamentos corporais que pudessem aumentar sua capacidade de intervir e de transformar o meio e seus objetos. Os instrumentos permitiram esse prolongamento do corpo humano. No processo de apropriação humana da natureza, tecnologia natural e tecnologia humana se fundem, fazendo da contínua criação e recriação dos instrumentos de trabalho um capítulo sempre inacabado da história da humanidade. Os instrumentos de trabalho não atuam por si mesmos. Eles são produzidos e significados pelo homem e testemunham as relações deste com a natureza, as formas históricas de vida social e cultural. No presente trabalho, objetiva-se apresentar o campo lexical dos instrumentos de trabalho do sertanejo, destacando seu papel na caracterização da cultura e das práticas sociais, bem como na construção da identidade de um povo. A partir da teoria dos campos lexicais formulada por Eugenio Coseriu (1976), toma-se como objeto material de estudo a obra Seara vermelha, do romancista baiano Jorge Amado.

O comportamento linguístico do nome cara no português falado em Minas Gerais. João Carlos Martins Lourenço (UFMG) e Eduardo Tadeu Roque Amaral (UFMG)

Os falantes de uma língua utilizam palavras de conteúdo semântico pouco especificado quando não sabem, não querem ou não podem nomear a entidade a que se referem. Essas palavras têm sido denominadas de nomes gerais e se constituem em membros de uma classe pequena de nomes cuja definição é composta apenas por traços semânticos muito genéricos, tais como [+/- humano] ou [+/- contável] (HALLIDAY e HASAN, 1995 [1976]; MIHATSCH, 2006). Nesse sentido, pessoa e coisa podem ser citados como os nomes gerais mais prototípicos do português, quando se trata, respectivamente, de entidades com traço [+humano] e [-humano] (AMARAL e RAMOS, 2014). Para Koch (2004), cara seria um nome geral (ou termo genérico, segundo a nomenclatura da autora), usado para retomadas anafóricas e indicaria um estilo coloquial ou uma gíria. Oliveira (2006) também inclui esse item entre os elementos que a autora chama de substantivos-suporte e destaca seu valor semântico vago. Amaral e Ramos (2014) analisam um conjunto de nomes gerais, o qual inclui itens com traço [-humano], como coisa, negócio e trem, e [+humano], como pessoa. Entretanto, nenhum dos trabalhos citados chega a discutir as propriedades do nome cara. Considerando o exposto, o objetivo deste trabalho é analisar o comportamento linguístico de cara em dados do português falado, verificando suas semelhanças e diferenças com respeito a outros nomes gerais. O corpus é composto por dados de língua oral presentes em entrevistas sociolinguísticas realizadas em Minas Gerais. Observam-se aspectos lexicais, gramaticais, semântico-textuais e sociolinguísticos, partindo-se da hipótese de que essa unidade linguística compartilha uma série de

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traços com outros nomes gerais e, por esse motivo, seria um candidato a ser incluído nessa categoria de nomes. Entre os resultados obtidos, verifica-se que cara, como nome geral, começa a ser registrado pelos dicionários na segunda metade do século XX e que, embora seja frequentemente associado ao gênero masculino, é possível encontrar ocorrências com referência a indivíduos de ambos os gêneros. Os dados sociolinguísticos de Minas Gerais demonstram maior ocorrência do emprego de cara por crianças e adolescentes com menor escolaridade (ensino fundamental e médio), o que poderia representar uma tendência desse nome no português brasileiro.

O dicionário em sala de aula: uma importante ferramenta didática. Leydiane Costa Amado Araújo (UFU)

O trabalho proposto tem como base o uso do dicionário em sala de aula como instrumento que contribui para ampliação do vocabulário ativo dos alunos. Como o Brasil ainda é um país em que a população sofre com dificuldades de leitura e escrita, por consequência de letramento, o dicionário escolar pode ser um material didático importante contra essa situação.

Para isso, o presente trabalho tem como objetivo propor a apresentação e o uso de dicionários escolares como subsídio didático aos alunos do Ensino Fundamental, para que com a possibilidade de exploração do material tenham uma reflexão linguística significativa a fim de desenvolver a cognição lexical dos mesmos.

Dessa forma, será feita uma revisão teórica embasada em BIDERMAN (2003), BARBOSA (1996), DIAS (2004), FARIAS (2007), MURAKAWA (1998), DOLZ E SCHNEUWLY (2004).

A metodologia a ser adotada nessa pesquisa fundamenta-se nos pressupostos da pesquisa bibliográfica. Também realizaremos uma pesquisa ação, que se caracteriza por uma averiguação coletiva com objetivo de transformar a fim de solucionar problemas. Diante do proposto a intervenção se pautará em conhecermos a composição do dicionário, bem como sua proposta lexicográfica.

Após esse estudo, verificaremos de que maneira o dicionário pode ser um instrumento facilitador em sala de aula. Posteriormente, para que o vocabulário dos alunos seja ampliado, através de uma Sequência Didática, serão criadas atividades práticas que levem os mesmos a utilizar com eficiência e habitualmente o dicionário.

Tal sequência didática será publicada no site do Portal do Professor para que os docentes tenham acesso e possam também, assim como os alunos, conhecer a estrutura do dicionário e a partir disso possam ensinar a utilização dessa ferramenta didática.

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Desse modo, objetivamos proporcionar a alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Catalão/ Goiás conhecer a estrutura do dicionário, seus verbetes para que com a aplicação da sequência didática possam aprender a manuseá-lo com habilidade.

A intenção da proposta é, com os pilares de documentos como os PCNs, colaborar com o trabalho docente na prática com o léxico, colocando em evidência a importância da reflexão sobre seu ensino.

O léxico de remanescentes de comunidades garimpeiras do Alto Jequitinhonha. Lília Soares Miranda (UFMG)

No Brasil, há regiões que apresentam diferentes características marcantes. No plano linguístico, determinadas marcas transparecem em diversas localidades, especialmente no âmbito lexical, o que já foi registrado por Amaral (1920), e vem sendo registrado por diversos estudos mais recentes: Isquerdo (1998), Souza (2008) e Ribeiro (2010). Esses estudos mostram que as características marcantes do meio refletem claramente a relação existente entre língua, cultura e sociedade. Segundo Santos (1976), o Estado de Minas Gerais é marcado política, social e economicamente, desde o século XVII, pela atividade de extração mineral. Contudo, devido a fatores ambientais, esse quadro vem se modificando, restando apenas alguns grupos de remanescentes de comunidades garimpeiras (cuja atividade foi encerrada há pelo menos vinte anos), que mudaram seus

hábitos. Um desses grupos integra a população do município de Datas, localizado no Alto Jequitinhonha - MG. Entendendo que o léxico revela aspectos sócio-histórico-culturais da realidade de um grupo e considerando os estudos supracitados, buscamos estudar o léxico usado pelo referido grupo de remanescentes, orientando-nos pela seguinte hipótese: na região acima mencionada, existe um léxico bastante peculiar, e a linguagem desses remanescentes de comunidades garimpeiras (itens lexicais que fazem parte do universo natural do garimpo ou que se referem à realidade cultural, econômica e social do garimpeiro) é que justifica essa peculiaridade. Esse estudo, portanto, descreve, analisa e registra o léxico da fala dos moradores dessa região, com base em pressupostos fornecidos pela Teoria Lexicológica (MATORÉ, 1953 e BALDINGER 1970); pela Teoria Lexicográfica (BARBOSA, 1995; BIDERMAN, 1998, 1999, 2001; e HAENSCH, 1982) e pela Teoria da Variação Linguística (LABOV, 1972). Assumindo esses pressupostos, procedemos à análise qualitativa de 629 lexias, coletadas em de sessões de interação verbal. A partir dessa análise, que permitiu a confirmação da hipótese inicial, elaboramos dois glossários de lexias extraídas da fala dos remanescentes de comunidades garimpeiras que constituem particularidades da fala da região pesquisada.

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O léxico negroafricano referente à sexualidade no português do Brasil. Abilio Manuel Marques de Mendonça (UNEB)

As lexias negroafricanas referentes ao sexo e à sexualidade que foram trazidas pelos escravizados na época colonial representam a diversidade e riqueza do legado que este imenso caldeirão de culturas e línguas chamado África deixou no Brasil e ficaram até os dias atuais. Elas foram principalmente introduzidas pelas mulheres negras que serviam de cozinheiras, amas-de-leite e as yayás em uma interação sociolinguística. Estas mulheres negras exerceram grande importância na contribuição linguística do português do Brasil, uma vez que, criavam os filhos dos senhores brancos, os “yoyôs” e as sinhás. Essas mulheres negras criavam laços de afetividade através do cantar e contar histórias, facilitando a inserção de lexias negroafricanas no falar das crianças que cuidavam. O Brasil herdou essas lexias importantes para a formação lexical do vocabulário brasileiro. Por ter uma relevância muito grande no resgate da cultura, o levantamento lexical das palavras negroafricanas referentes ao sexo e à sexualidade é de grande relevância para a sociedade brasileira que as utilizam, pois através do vocabulário de um povo, pode-se resgatar sua raízes culturais. Através da língua, a memória coletiva de um povo é veiculada, assim como a confiança para exprimirmos à vontade, tornamo-nos, também, mais capacitados para transmitir os conhecimentos e valores culturais de cada região às novas gerações. Estudar as palavras negroafricanas é abrir possibilidades de conhecer mais um pouco da história social do povo brasileiro e revelar estas palavras que circulam no dia a dia da população brasileira e estão sendo usadas nos seus ambientes íntimos e públicos, fazendo parte da vida social dos membros da comunidade brasileira e sendo parte do patrimônio cultural deste povo. Conhecer essas lexias é uma forma de resgatar a dignidade de seu povo, sem que haja exclusão, não se tratando simplesmente de fazer um levantamento lexical, mas sim de perceber nas línguas toda sua riqueza histórica e cultural que contribuíram para a nossa formação lexical brasileira, aqui especificamente, referente à sexualidade, mas que sabemos ser muito mais amplo.

Os arcaísmos no léxico rural de Minas Gerais. Vander Lúcio de Souza (UFMG)

A presente proposta para este evento visa apresentar casos de arcaísmos e retenções lexicais encontrados em teses e dissertações defendidas no período de 2008 a 2014 que compõem o Projeto Léxicos Regionais, projeto esse em desenvolvimento na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenado pela Profª Dra Maria Cândida T. C de Seabra. As pesquisas que constituem foco dessa análise abarcam treze localidades mineiras, distribuídas por quatro regiões do estado de Minas Gerais: Norte de Minas, Sul de Minas, Vale do Jequitinhonha e Vale do Rio Doce. O objetivo do trabalho proposto é demonstrar o conservadorismo do léxico presente

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na fala dos habitantes desses municípios em virtude das características sócio-históricas dessas regiões. Com esse intuito, essa pesquisa adota os conceitos de arcaísmo defendido por Ivo Castro em O Português Quinhentista: Estudos Linguísticos (MATTOS E SILVA, 1992, p.29) e retenções lexicais, utilizado por Cohen (1997, 2009). Quanto à metodologia, todas as pesquisas seguem um modelo padrão, fundamentado nos pressupostos da Antropologia Linguística, Sociolinguística, Lexicologia e Lexicografia, sendo os dados resultado de entrevistas orais realizadas no período de 2006 a 2013 e posteriormente transcritas segundo a metodologia adotada pelo Projeto Pelas Trilhas de Minas: as bandeiras e a língua nas Gerais da FALE-UFMG, com pequenas alterações. Para análise desses dados foi constituída uma ficha lexicográfica para cada um dos vocábulos selecionados, sendo utilizados cinco dicionários de diferentes épocas da língua portuguesa. A partir da análise desses dados, utilizando-se dessas fichas e de outras fontes bibliográficas complementares, revelaram-se vários casos de arcaísmos e de retenções linguísticas, evidenciando a estreita relação entre o léxico presente na fala dos entrevistados com os aspectos sociais e históricos dos municípios da região, os quais são caracterizados, sobretudo, por um isolamento em relação aos grandes centros urbanos. Deste modo, espera-se contribuir com os estudos linguísticos para a descrição da língua portuguesa no Brasil.

O sobe e desce soteropolitano: estudo toponímico de ladeiras. Marta Maria Gomes (UNEB)

Estudar Toponímia não é apenas adquirir conhecimentos histórico, social, geográfico, cultural, econômico e político de uma região, mas de um povo. Ao se estabelecer em um espaço físico-geográfico ou se tomar posse de um determinado local, o homem precisa nomeá-lo para garantir a localização espacial e identidade comunitária. Dessa forma, por meio da Toponímia, ramo de conhecimento da Onomástica, se pode analisar a estreita relação entre o homem e os lugares que marcam o espaço que ele ocupa, isto é, pode-se analisar, entre outras, a relação que há entre língua, cultura, sociedade e natureza, manifestada no processo de nomeação de logradouros. O processo de nomeação dos logradouros não é feito de forma aleatória, já que o nomeador representa, nos topônimos, os elementos que deseja simbolizar, homenagear, perpetuar, memorizar. O estudo dos topos ‘lugares’, objeto da Toponímia, tem se tornado de grande importância para o conhecimento de aspectos histórico-culturais de um povo ou mesmo de uma região, pois permite que se identifique fatos linguísticos, ideologias e crenças presentes no ato denominativo e, posteriormente, a conservação ou não desses valores numa dada comunidade. No tocante a cidade do Salvador pretende-se estabelecer novas formas de relacionar os topônimos com a história da cidade, não como um palco para o desenrolar dos acontecimentos, e sim como elemento fundamental para a construção da trama histórica, levando a reflexão sobre a atuação dos moradores no seu espaço geográfico. A pesquisa em questão pretende enfocar Salvador a partir dos significados

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atribuídos aos territórios urbanos. Nesta pesquisa, os topônimos escolhidos para o levantamento são os que designam as ladeiras, tão comuns nessa cidade que se divide em alta e baixa e é entrecortada por ladeiras em quase todos os cantos. ). Assim, serão verificados aspectos de cunho qualitativo como: etimologia, história, estrutura morfossintática, informações sobre a motivação e contexto dos termos destacados. Para tanto pretende-se analisar o vocabulário toponímico a partir da nomeação das ladeiras da cidade do Salvador, pesquisar a motivação toponímica dos seus nomes categorizando suas taxes, assim como verificar as influências étnicas, culturais e históricas dos topônimos encontrados. Embora a capital baiana traga na sua dinâmica interior um espaço desigual, as ladeiras permanecem fundamentais no cotidiano da Cidade.

O uso de anáforas por nomes gerais no português caeteense. Luanna de Sousa do Nascimento Oliveira (UFMG)

Sob uma perspectiva léxico-semântica, este trabalho propõe uma análise dos sintagmas nominais anafóricos retomados por nomes gerais no português mineiro. Para tanto, tem-se como corpus a língua oral do município de Caeté, cidade da região metropolitana do estado de Minas Gerais. Tais transcrições foram disponibilizadas pelo projeto O uso de nomes gerais nos falares mineiros (NUPEVAR – FALE/UFMG). O processo anafórico é extremamente comum, tanto na modalidade oral da língua quanto na escrita, e contribui para a continuidade tópica e referencial do discurso e da coesão textual. O fenômeno anáfora desempenha um importante papel na coesão textual, ao possibilitar a retomada de antecedentes por meio de formas nominais, dando continuidade tópica e referencial a um texto. Seu uso é extremamente comum na língua falada e na escrita. Muitos estudiosos não a consideram como sendo apenas um fenômeno textual qualquer: a anáfora “é o fenômeno que constitui os textos, garantindo sua coesão. Todo texto seria, nesse sentido, uma espécie de grande ‘tecido anafórico’” (ILARI, 2004, p. 56). Os nomes gerais são, também, objetos motivadores para o trabalho. Essa restrita classe, formada por um pequeno conjunto de nomes que possui referência generalizada, desempenha um papel relevante na interação verbal. Apesar de tal importância, essa categoria linguística não tem sido objeto de estudos sistemáticos, sendo referida apenas em trabalhos sobre coesão textual, modalidade oral, morfossintaxe e gramaticalização. Por conseguinte, o presente trabalho, de alguma forma, poderá contribuir para o enriquecimento dos estudos sobre esses itens de referência genérica. Foram selecionados para a análise os nomes coisa, negócio e trem, bem como suas variantes, coisa (-s, -inha, -inhas) e negócio (-ço), por possuírem traços inanimados, abstratos ou concretos. O objetivo, assim sendo, é exemplificar e analisar as ocorrências do uso dos nomes gerais sob a ótica dos processos de referenciação anafóricos. Foi possível fazer uso das variáveis linguísticas quando a

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quantidade de ocorrências foi relevante.

O vocabulário rural da Serra da Canastra/MG: um estudo linguístico da nascente do rio São Francisco. Gisele Aparecida Ribeiro (UEMG)

O presente trabalho tem como objetivo o estudo do vocabulário rural de algumas comunidades que estão localizadas no Parque Nacional da Serra da Canastra, que compreende uma área de aproximadamente 200 mil hectares, foi criado em 3 de abril de 1972, por meio do Decreto nº 70.355 e está situado na região sudoeste do Estado de Minas Gerais, abrangendo os municípios de São Roque de Minas, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Capitólio e Vargem Bonita.

Os primeiros momentos históricos relacionados com a região onde o PNSC está inserido vinculam-se à chegada da expedição comandada por Américo Vespúcio à foz do rio São Francisco, em 1501, no dia de São Francisco, motivo pelo qual o rio recebeu esse nome. Entretanto, a exploração deu-se apenas com a vinda da comitiva de Tomé de Souza, que trouxe o português Garcia d’Ávila, um dos primeiros desbravadores a penetrar o interior do continente a partir do “grande rio”.

Nossa proposta é mostrar que os estudos lexicológicos apontam estreita relação entre o homem, a cultura e o ambiente em que se inserem. Adotamos como referencial teórico-metodológico a Sociolinguística (Labov e Milroy), a Lexicologia (Biderman), a Antropologia Linguística (Duranti e Hymes), a Dialetologia (Isquerdo, Ferreira, Cardoso), o conceito de região cultural (Diégues Jr).

Ao pesquisarmos o léxico referente ao falar dessa região, pretendemos entrar no universo cultural, social, econômico, religioso e político dos habitantes dessa região, e perceber nele a forma de interação do homem com o mundo e seus semelhantes através da linguagem.

Patrimônio toponímico de Minas Gerais do período colonial e joanino: de um banco de dados histórico a um atlas digital. Márcia Maria Duarte dos Santos (IGC/UFMG) Documentos cartográficos sobre Minas Gerais são memórias históricas linguísticas de grande interesse para a Onomástica. Objetos deste trabalho sobre a toponímia mineira, foram estudados 14 mapas do período colonial (1720-1808) e joanino (1808-1821), referentes ao território da Capitania e de suas Comarcas, circunscrições politica-administrativas coevas. Os mapas, realizados por autores anônimos e declarados, na sua maioria do período Colonial, adotam o paradigma astronômico e enfocam os mesmos acidentes geográficos, descritos, de modo geral, nas legendas. Outra característica notável é a representação de informações com níveis de generalização compatíveis com as escalas adotadas. Essas escalas e os acidentes estudados,

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correspondentes aos assentamentos humanos denominados cidades, vilas, arraiais, registros, aldeias e, aos gentios, possibilitaram a identificação de cerca 2250 nomes geográficos. Estes foram organizados em um banco de dados histórico, visando, entre outros, à produção de um atlas eletrônico. A análise dos dados objetivou, por sua vez, definir os principais padrões motivadores no ato de nomeação, as camadas dialetais presentes na língua e a permanência dos topônimos no território, atualmente. A consecução desses objetivos requereu e propiciou procedimentos para: o tratamento técnico-cartográfico, geográfico e bibliográfico de documentos, facilitados pelo uso de aplicativos digitais; e a veiculação de produtos em mídias eletrônicas e em ambiente museológico. A propósito dos fatos linguísticos pesquisados, destaca-se que, relativos à natureza dos topônimos mineiros coloniais e do período joanino, predominam os antropoculturais. Regionalmente, um exemplo notável dessa prevalência encontrava-se na Comarca de Vila Rica, enquanto que a de Serro Frio contrariava a tendência registrada. Sobre as categorias taxionômicas que descrevem a motivação dos topônimos, não se constatou diacronicamente, nem nas grandes subdivisões geográficas estudadas, diferenças entre as taxes mais produtivas. Essas taxes compreendem: as físicas, os zootopônimos, os litotopônimos, os hidrotopônimos, os geomorfotopônimos e os fitopônimos; e as antropoculturais, os animotopônimos, os antrotopônimos, os hagiotopônimos, os hierotopônimos, os sociotônimos e os politopônimos. Quanto à origem, os nomes geográficos são, em sua maioria, provenientes da língua portuguesa, e, com participações percentuais muito próximas, em relação ao total levantado, os de base híbrida e indígena. Na formação dos híbridos contribuem os idiomas citados e outros que deram origem ainda aos topônimos mineiros, cerca de uma dúzia, entre eles, o de base africana, um dos menos produtivos. Nas Comarcas, tanto em um e outro período estudado, a predominância da língua portuguesa se mantém, mas as posições das bases linguísticas indígenas e híbrida variam. As características desse notável conjunto de nomes geográficos foram interpretadas considerando aspectos sociais, culturais e geográficos.

Projeto Léxicos Regionais: descrevendo o português mineiro. Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG) e Vander Lúcio de Souza

Propõe-se apresentar resultados parciais do Projeto “Léxicos Regionais”, em desenvolvimento, no Brasil, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Com o objetivo de estudar o vocabulário regional, nesta comunicação daremos enfoque ao vocabulário falado em algumas áreas que integram o extenso território que constitui o Estado de Minas Gerais. A pesquisa fundamenta-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Antropologia Linguística, Sociolinguística, Lexicologia e Lexicografia, focalizando o léxico, sobretudo, numa perspectiva diatópica e diacrônica. Seguindo o modelo laboviano, partimos do presente, ao coletar dados por meio de

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entrevistas orais realizadas em zonas rurais, voltamos ao passado ao consultar dicionários dos séculos XVIII, XIX, primeira metade do século XX e retornamos ao presente para estabelecer comparações entre esses períodos. Após análise dos dados, constatamos a existência de um vocabulário regional, com semelhanças e diferenças entre as diversas áreas geográficas, além de casos de variação e retenção. Através dos resultados obtidos por meio de nossa pesquisa, procuramos mostrar que os estudos lexicológicos possibilitam evidenciar além de aspectos linguísticos, características históricas, sociais e culturais de cada região.

Toponímia de origem árabe nas ruas de Belo Horizonte – MG. Jéssica Nayra Sayão de Paula (UFMG)

O presente trabalho tem como objetivo o estudo toponímico em ruas da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, motivados por nomes de origem árabe. É um trabalho que se integra ao Projeto ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais – coordenado e desenvolvido na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, desde março de 2005, pela Profª. Dra. Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, projeto esse que se caracteriza como o estudo dos nomes de lugar que abrange todo o território mineiro. Cidade planejada para ser capital do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte recebeu, principalmente na primeira metade do século XX, um número significativo de imigrantes árabes, atraídos pelas oportunidades de trabalho. É necessário demonstrar, por meio dessa pesquisa, que o estudo dos nomes de lugares possibilita resgatar parte da história e da cultura local de uma comunidade, uma vez que a toponímia, além de perpetuar características do ambiente físico (vegetação, hidrografia, geomorfologia, fauna etc.), evidencia marcas da história social (formação étnica, processos migratórios, sistema de povoamento de uma região administrativa). Como referencial teórico-metodológico, adotamos os modelos toponímicos de Dauzat (1926), Dick (1990a, 1990b).Nesta pesquisa, pretendemos contribuir não só para os estudos toponímicos, mas, também, para o resgate da memória e cultura da capital mineira.Acreditamos que muitos imigrantes, além do trabalho que desenvolveram nessa capital, deixaram marcas culturais que precisam ser resgatadas, dentre elas, a motivação toponímica. O trabalho envolveu consulta a todos os nomes de logradouros da cidade, a fim de selecionar, os topônimos de origem árabe, pesquisas em centros de documentação histórica e junto a familiares de pessoas homenageadas, mapas e plantas de ruas, avenidas e praças. Além disso, foram feitas entrevistas orais com objetivo de pesquisar casos de variação e mudança linguísticas para saber da representatividade desses nomes para as pessoas que residem nesses logradouros. Para cada um dos 68 topônimos de origem árabe foram feitas fichas toponímicas com o objetivo de se fazer uma análise minuciosa, uma classificação precisa de cada um deles. Os resultados obtidos por meio do nosso trabalho mostraram a predominância dos antropotopônimos (topônimos motivados

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por nomes de pessoas) que, em diferentes períodos se destacaram na capital mineira, principalmente, na área do comércio.

Tradição e memória nos nomes de ruas em Ponte Nova – Minas Gerais: um estudo antroponímico. Glauciane da Conceição dos Santos Faria (UFMG)

O presente trabalho tem por objetivo realizar pesquisa linguística, com enfoque no léxico toponímico urbano da cidade de Ponte Nova/MG, analisando, dentre o total de logradouros públicos, os nomeados por antropônimos, observando nesses nomes a motivação, a variação e a mudança.

De acordo com Dick (1990), a nomeação dos lugares não é algo novo nas atividades humanas. Remonta desde os primeiros tempos a que a memória humana alcança, o ato de dar nome aos locais por onde o homem se locomove e, também, onde ele vive. Ao nomear um lugar, o homem distingue os acidentes geográficos e humanos, ao mesmo tempo em que os eterniza como referentes para uma comunidade.

Ao voltarmos nosso olhar para a história dos antropotopônimos, através de pesquisas em documentos escritos e de entrevistas orais, estamos construindo uma documentação da memória coletiva e individual dos cidadãos ponte-novenses.

De acordo com a lei municipal 2822/2005, a cidade de Ponte Nova possui 52 bairros. Para chegarmos a uma lista dos nomes dos logradouros da cidade, consultamos a lei 3445/2010, que dispõe sobre o uso e ocupação do solo, e posteriormente buscamos no site da Câmara de Vereadores as leis de criação dos logradouros que surgiram após o ano de 2010. Assim, chegamos a um número de 610 logradouros, incluindo aqueles dos dois distritos municipais. Dentre o número total de logradouros, encontramos um total de 405 antropotopônimos.

Diante dessa seleção inicial, algumas questões foram levantadas:

 Os moradores conhecem o nome dos logradouros de sua cidade?  Eles adotam o nome oficial desses logradouros ou utilizam outros?  Há variação entre o nome oficial e aquele conhecido popularmente?  Como é feita a escolha de um nome de um logradouro?

 Quem são as pessoas homenageadas que tiveram seus nomes “emprestados” aos logradouros da cidade?

Diante das questões apresentadas acima, as seguintes hipóteses foram levantadas:

a) Não é sempre que as pessoas conhecem o nome oficial de sua rua. b) Algumas ruas são mais conhecidas por nomes populares, ou, por exemplo, pelo nome de alguma casa comercial.

c) Ainda não sabemos como é feita essa escolha, mas nos parece que a maioria das indicações dos nomes dados aos logradouros é feita por vereadores.

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