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Transculturalidade e tecnologia da informação e comunicação

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Academic year: 2017

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RICARDO FERNANDES DA SILVA NEIVA

TRANSCULTURALIDADE E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da In-formação da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Gestão do Co-nhecimento e da Tecnologia da Informa-ção.

Orientador: Prof. Dr. Edílson Ferneda Co-orientadora: Prof. Dra. Luiza Beth Nu-nes Alonso

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Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB.

N417t Neiva, Ricardo Fernandes da Silva.

Transculturalidade e tecnologias da informação e comunicação / Ricardo Fernandes da Silva Neiva. – 2008.

107 f.: il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2008 Orientação: Edílson Ferneda

Co-orientação: Luíza Beth Nunes Alonso.

1. Tecnologia da informação. 2. Comunicação. 3. Aculturação. 4. Ensino auxiliado por computador. I. Ferneda, Edílson, orient. II. Alonso, Luíza Beth Nunes, co-orient. III. Título.

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Agradeço especialmente…

À Deus, por ter atendido às minhas orações e me abençoado para que che-gasse a completude deste trabalho.

À minha tia Eni, pelo seu amor e por ser a grande responsável pelas minhas conquistas, sempre me incentivando e acreditando no meu potencial.

À minha família, por ser tão presente nos momentos de alegrias e tristezas, servindo como base para que eu pudesse ser a pessoa que hoje sou.

À minha noiva, que me incentivou em todos os momentos e foi compreensiva quanto às minhas ausências nos momentos de estudos.

Ao professor Edílson Ferneda e a professora Luiza Alonso, pelas suas orien-tações e contribuições em todas as etapas deste trabalho.

Ao professor Fernando William, pelas suas contribuições.

Aos professores do Mestrado em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação, que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste tra-balho.

Aos colegas e amigos do mestrado, com quem tive o privilégio de conviver, fazer trocas de idéias e experiências.

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As tecnologias da informação e comunicação (TIC) têm contribuído para alte-rações diversas na sociedade, sejam elas sociais, políticas ou culturais. Com refe-rência às manifestações culturais, as TIC surgem como uma possibilidade à maximi-zação da dialógica cultural e mais especificamente através da virtualimaximi-zação de mui-tos ambientes, contribui para o entendimento, interpretação, preservação e dissemi-nação das variantes culturais. A utilização de aparatos tecnológicos provocou seve-ras modificações nas formas como os indivíduos se relacionam e aprendem, promo-vendo novas possibilidades de contato, conhecimento e compartilhamento de múlti-plas experiências culturais que passaram a ser possíveis por meio do acesso, da conectividade e da agilidade do espaço cibernético. Muitas pessoas passaram a vi-venciar este novo mundo, o da virtualização, onde as reuniões podem ser realizadas através das videoconferências, os debates transferiram-se, a grande maioria, para os fóruns, as conversas passaram a ser realizadas através de ferramentas de bate-papo. Ou seja, neste novo universo, as possibilidades são quase que infinitas e tra-zem conseqüências e mudanças não só no plano tecnológico, mas também revolu-ções marcantes que já podem ser observadas. As inovarevolu-ções intelectuais, industriais e culturais não mais se conjugam a uma base territorial, ou seja, a localização geo-gráfica não mais é determinante para que as pessoas formem parcerias e a partir daí criem novidades. O ciberespaço viabiliza o surgimento de uma cultura desterritoriali-zada, um novo meio em que os indivíduos se relacionam e se socializam, uma nova via denominada cibercultura. A multiplicidade de mudanças e impactos provocados pelos avanços tecnológicos afeta as pessoas de uma forma geral. Os novos horizon-tes possíveis são algo real e presente na sociedade atual. Dentro da perspectiva de um fenômeno denominado transculturalidade e dos novos horizontes possíveis com o surgimento e a evolução das TIC, é possível que novas conjecturas culturais ve-nham a surgir e desenvolver-se com o avanço e desenvolvimento das TIC. Espera-se deste trabalho uma melhor compreensão quanto ao uso de artefatos tecnológicos na concepção e desenvolvimento de ambientes virtuais de cultura musical; realizar uma verificação quanto às potencialidades de disponibilização, criação e inovação em tais espaços virtualizados e realizar uma análise tecnológica dentro de um con-texto transcultural.

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The technologies of the information and communication (TIC) have contributed for diverse alterations in the society, are they social, cultural or political. In regard to cultural manifestations, TIC appear as a possibility to increase the cultural dialogic specifically through the virtualization of several environments, contributing for the agreement, interpretation, preservation and dissemination of the cultural variants. The use of technological apparatuses has promoted severe modifications in the ways individuals relate to each other and learn. It has created possibilities for contact, knowledge and sharing of multiple cultural experiences that become possible through the access, connectivity and agility of the cyberspace. Many people had started to live deeply on this new world – the virtual world- where meetings can be carried out through videoconferences, debates, in the great majority, can be done on the forums, and colloquies can be conceded through chats. In this new universe possibilities are almost infinite; they can have consequences and changes on technological aspects as well in the social life, revolutions that already can be observed. Intellectual, indus-trial and cultural innovations they are no longer restrict to a territorial base. The geo-graphic localization does determine neither partnerships nor the way of them. Cyber-space makes possible the out sprouting of a non-territorialized culture, a new envi-ronment where individuals interact and socialize: the cyberculture. The multiplicity of changes and impacts promoted by the technological advances affects the whole so-ciety. New possible horizons become real in the current soso-ciety. In the Transcultural-ity perspective, a phenomenon of our days, it is possible that new cultural conjectures come to appear and to develop with the advance and development of the TIC. It is hoped this work a better understanding about the use of technological artifacts in the design and development of virtual environments of musical culture; perform a check on the availability of potential, creation and innovation in such areas virtualizados and conduct an analysis technology within a context transcultural.

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LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 Relação geradora mútua entre indivíduo, cultura, capital cognitio coletivo e

socidade ...14

Figura 2 Grau de consolidação das novas tecnologias junto à sociedade ...20

Figura 3 Características da Web 2.0 ...46

Figura 4 Estrutura Básica de um Sistema Tutor Inteligente ...78

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Novos serviços da Web 2.0...48

Quadro 2 Definições de Ontologia ...54

Quadro 3 Componentes de uma Ontologia...55

Quadro 4 Linguagens para a construção de Ontologias ...56

Quadro 5 Distinção entre comunidades de prática e outras estruturas...72

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SUMÁRIO

RESUMO ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS LISTA DE QUADROS

1. Introdução...12

1.1. Relevância do Estudo ...13

1.2. Formulação do Problema...15

1.3. Objetivos ...16

1.4. Metodologia ...16

1.4.1. Classificação da Pesquisa ...16

1.4.2. Pressupostos ...16

1.4.3. Delimitação do Estudo ...17

1.5. Organização da Dissertação...17

2. Transculturalidade & Sociedade do Conhecimento...19

2.1. Sociedade do Conhecimento ...19

2.1.1. Introdução...19

2.1.2. Informação: artefato diferencial...21

2.1.3. Formação da Sociedade do Conhecimento...23

2.2. Cibercultura...25

2.2.1. Introdução...25

2.2.2. Cibercultura: possibilidades ...26

2.2.3. Possíveis problemáticas inerentes a cibercultura ...28

2.2.4. A cibercultura como proponente universalizante ...30

2.3. Difusão e Preservação Cultural...31

2.3.1. Introdução...31

2.3.2. A interação entre as culturas e o avanço tecnológico...32

2.3.3. O avanço tecnológico e as raízes culturais...32

2.4. Estruturas do Conhecimento...34

2.4.1. Visão Geral ...35

2.4.2. Disciplinaridade, pluri e inter ...35

2.4.3. A transdisciplinaridade...36

2.5. Transculturalidade ...37

2.5.1. Introdução...38

2.5.2. A empreitada homogeneizante ...39

2.5.3. A importância da dialógica cultural ...40

2.5.4. O modelo transcultural...41

3. Tecnologias da Informação e Comunicação...42

3.1 Infra-estrutura...42

3.1.1Redes de Comunicação...42

3.1.2 Web 1.0...44

3.1.3 Web 2.0...45

3.2 Codificação da Informação e do Conhecimento...50

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3.2.2 Ontologias...53

3.3 Armazenamento...58

3.3.1 Bibliotecas digitais e virtuais ...58

3.4 Construção do Conhecimento...60

3.4.1 Aprendizagem Colaborativa Assistida por Computador...60

3.4.2 Trabalho Cooperativo Apoiado por Computador...61

3.4.3 Wikis ...62

3.5 Compartilhamento...64

3.5.1 Portais...64

3.5.2 Comunidades Virtuais...66

3.5.2.1 Introdução ...66

3.5.2.2 Definições e características ...67

3.5.2.3 Comunidades de prática ... 69

3.5.2.4 Comunidades de aprendizagem... 73

3.5.2.5 Comunidades virtuais e cibercultura... 74

3.6 Difusão...75

3.6.1 Sistemas Tutores ...76

3.6.2 Educação a Distância ...79

3.6.2.1 Definições e características... 79

3.6.2.2 A Educação a Distância em ambientes virtuais... 83

3.6.2.3 Educação a Distância e Transculturalidade... 85

3.7 Transculturalidade e Tecnologias da Informação e Comunicação... 86

4. Panorama da Educação Musical...88

4.1 Introdução ...88

4.2 No Brasil...89

5. Análise das TIC sob a perspectiva da transculturalidade ...92

6. Considerações Gerais e Trabalhos Futuros ...96

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1. Introdução

A abertura de novas possibilidades de interação é uma importante contribui-ção das Tecnologias da Informacontribui-ção e da Comunicacontribui-ção – TIC, pois oportuniza um espaço diferenciado na dimensão virtual e instaura uma metodologia dinâmica onde as interações se realizam em uma densa rede de conectividade entre saberes que são compartilhados (ARRIADA, 2005), provocando uma transformação na sociedade cada vez mais baseada na informação e no conhecimento (BERTOLETTI et al, 2003).

A utilização de aparatos tecnológicos provocou severas alterações nas formas como os indivíduos se relacionam e aprendem, promovendo novas possibilidades de contato, conhecimento e compartilhamento de múltiplas experiências culturais que passaram a ser possíveis por meio do acesso, da conectividade e da agilidade do espaço cibernético. Quando o espaço deixa de ser limitador para a expansão de uma cultura, rompem-se os regionalismos e o determinismo da herança sócio-cultural. As pessoas tornam-se passíveis de conhecer e interiorizar valores e ex-pressões culturais independentemente do lugar em que moram e da história de sua primeira coletividade de pertencimento. As culturas passam a estar em toda e qual-quer parte, fenômeno caracterizado como transculturalidade (COLL, 2000). Lévy (1999) reconhece a ocorrência de mudanças qualitativas nos relacionamentos entre as pessoas e a emergência de um ambiente inédito para a vida social e cultural re-sultante da extensão das novas redes de comunicação.

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Este trabalho tem por objetivo analisar as TIC dentro de um contexto transcul-tural com relação às manifestações culturais no tocante ao potencial de comparti-lhamento, difusão e preservação de tais proposições, abordando em especial as po-tencialidades tecnológicas para a cultura musical, em ambientes virtuais de ensino e aprendizagem.

1.1 Relevância do estudo

As transformações tecnológicas ocorridas nas duas últimas décadas provoca-ram mudanças substanciais na sociedade, principalmente naquelas mais desenvol-vidas. Tendo como infra-estrutura as tecnologias digitais, surge o ciberespaço, não só um “novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transa-ção, mas também novo mercado da informação e do conhecimento” (LEVY, 1999, p.32).

As inovações intelectuais, industriais e culturais não mais se conjugam a uma base territorial. Ou seja, a localização geográfica não mais é determinante para que as pessoas formem parcerias e a partir daí criem novidades. O ensino e a aprendi-zagem também se desvinculam do significado de territorialidade. Os ambientes vir-tuais possibilitam uma desterritorialização àqueles que desejam ter acesso a bases informacionais e de conhecimento remotas. As tecnologias potencializam as capaci-dades inovativas dos indivíduos e desta forma cria-se uma sociedade mais comuni-tária e participativa. Segundo Moran (1998, p. 185):

“O nosso foco não pode permanecer só no individual, mas deve estar também direcionado ao comunitário, aos grupos importantes dos quais participamos. Quanto mais pudermos inserir-nos em espaços de ação comunitária, mais cresceremos, aprenderemos, viveremos. Dentro desta perspectiva de integração pessoal e comunitária, en-contraremos nas tecnologias parceiras permanentes e criativas para expandir nossas inúmeras possibilidades de informação, de comuni-cação e de ação”.

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cabos de fibra óptica, algoritmos novos de compressão, transmissão de informação wireless; quanto àquelas que potencializam as funções humanas, dentre as quais se pode citar: inteligência artificial, reconhecimento de voz, potencialidades de visão e percepção, aumento da capacidade de armazenamento e tratamento digital da in-formação.

Belloni (1999) afirma que a principal característica destas tecnologias é a inte-ratividade. Os indivíduos e as suas interações, por meio da linguagem, geram o capi-tal cognitivo que vai formar a cultura do coletivo. A cultura, por sua vez, institui re-gras e normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos individu-ais. Regras e normas culturais geram processos sociais que regeneram globalmente a complexidade social adquirida por essa mesma cultura. Nesta análise, a cultura não é nem superestrutura nem infra-estrutura; é um processo recursivo, ou seja, produtora e geradora daquilo do que a produz e a gera, conforme visto na figura 1.

Figura 1 - Relação geradora mútua entre indivíduo, cultura, capital cognitio coletivo e sociedade

(15)

1.2 Formulação do problema

O universo cultural é difuso (formado de uma quantidade enorme de critérios), pluralista (formado de diferentes visões de mundo e significações incompatibilizados) e de difícil julgamento, pois “ninguém se encontra acima de sua própria cultura que lhe fornece os elementos para o julgamento” (PANIKKAR, apud COLL 2000, p. 89). Nesse contexto, a transculturalidade aborda a partilha de determinadas variantes humanas presentes em todas as culturas como elementos estruturais destas. (COLL, 2000)

A maximização da dialógica cultural em muito fora beneficiada pelo desenvol-vimento e o surgimento daquilo que Lévy (1993) chama de Tecnologias de Inteligên-cia, principalmente àquelas situadas entre as novas tecnologias intelectuais, os computadores e a Internet. Mais especificamente, acredita-se que as possibilidades de virtualização de muitos ambientes têm contribuído significativamente para o en-tendimento, a interpretação, a preservação e a disseminação das variantes culturais.

As produções culturais também passaram a ocupar o espaço virtualizado e muitas manifestações artísticas têm procurado no ciberespaço um novo lócus para disseminação, geração e discussão de seus artefatos. Dentre as várias produções artísticas existentes, a música tem logrado com as novas possibilidades proporcio-nadas pelo desenvolvimento das TIC. Pessoas de diferentes etnias e localizações vêm se servindo desses “novos espaços” musicais não só para assimilar e comparti-lhar conhecimentos musicais, como também para elaborar propostas culturais ino-vadoras.

(16)

1.3 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é estudar a relação das tecnologias da inteli-gência com a produção, difusão, compartilhamento e preservação cultural, dentro de um contexto transcultural, com enfoque para as potencialidades tecnológicas no campo das manifestações culturais musicais.

Os objetivos específicos são os seguintes:

• Definir o termo transculturalidade e seus aspectos dentro de um contexto

globalizado;

• Identificar as tecnologias da inteligência envolvidas que proporcionem

ambien-tes virtuais para a geração, disseminação e discussão de conhecimento na á-rea musical;

• Analisar e entender as TIC dentro de um contexto de transculturalidade.

1.4 Metodologia

1.4.1 Classificação da pesquisa

Quanto à natureza, esta pesquisa pode ser identificada como exploratória, quanto à abordagem do problema como qualitativa, quanto aos fins como descritiva e quanto aos meios de investigação como bibliográfica (MORESI, 2003).

É pesquisa exploratória porque busca compreender a contribuição das TIC para a produção, disseminação, compartilhamento e preservação cultural na área musical em ambientes virtuais. Trata-se também de uma pesquisa qualitativa, pois, a partir de referencial bibliográfico coletado, busca desenvolver um entendimento so-bre os padrões encontrados nas mesmas, e não somente uma comprovação ou con-firmação de hipóteses ou teses.

1.4.2 Pressupostos

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para a área musical. E dentro de um contexto de transculturalidade, as TIC têm o potencial de promover a convivência de diversas culturas, não só para a produção de novidades, mas também para a preservação e compartilhamento das mais dife-rentes variantes culturais.

1.4.3 Delimitação do estudo

Este trabalho limita-se a apreciar a influência na formação cultural dos indiví-duos pela utilização das TIC, não se preocupando quanto ao impacto de tais tecno-logias com referência a aspectos pedagógicos e psicológicos.

1.5 Organização da dissertação

A dissertação encontra-se estruturada em sete capítulos, sendo este o primei-ro e os demais organizados conforme descrito a seguir, com base nos pprimei-ropósitos principais de cada um.

Como a dissertação trata de termos correlatos a culturas, globalização, socie-dade do conhecimento, estruturas do conhecimento e o fenômeno denominado ci-bercultura, o capítulo 2 é destinado a tratar de termos e assuntos correlatos à trans-culturalidade, com relação a suas características e definições.

O capítulo 3 é destinado a discorrer sobre as tecnologias da comunicação e informação em um contexto de ensino e aprendizagem, estruturadas da seguinte maneira: infra-estrutura, codificação da informação e do conhecimento, armazena-mento, construção do conheciarmazena-mento, compartilhamento e difusão.

A música é uma das expressões, dentro do contexto cultural, considerada como um fenômeno universalizante, que está presente nas mais diversas socieda-des e ligadas às mais distintas expressões culturais de povos e nações. As caracte-rísticas e os processos intrínsecos a cada manifestação cultural musical são os mais diferentes em cada país ou região. Diante disso, o capítulo 4 é destinado a tratar o panorama da educação musical no Brasil, enfatizando as suas potencialidades e os problemas inerentes ao seu desenvolvimento.

(18)

para a construção de ambientes tecnológicos transculturais. Apresentando também um framework tecnológico que enseje trabalhos transculturais.

(19)

2. Transculturalidade & Sociedade do Conhecimento

2.1 Sociedade do Conhecimento

Esta seção tem por objetivo a caracterização da Sociedade do Conhecimento na relação com a TI, principalmente àquelas ligadas às técnicas e tecnologias em-pregadas pelos indivíduos e organizações. Enfatizam-se as alterações de base tec-nológicas ocorridas e que resultaram na sociedade baseada na informação e conhe-cimento, marcada pela contínua superação das inovações tecnológicas e desvincu-lada dos conceitos tradicionais de territorialidade e espaço. Discorre-se sobre a im-portância da informação e esta como ponto diferencial para que os indivíduos e na-ções coloquem-se em nível competitivo no cenário presente. Destaca-se ainda a importância de não só se ter a informação, mas sim a capacidade de transformar todo artefato informacional no diferencial competitivo na sociedade atual, que é o conhecimento.

2.1.1 Introdução

Os processos de desenvolvimento da humanidade sempre envolveram está-gios complexos e invariavelmente longos, tendo, em alguns momentos, o homem como ator principal e, em outros, como mero coadjuvante. Na Revolução Industrial, a visão dominante era de que o conhecimento tinha que ter utilidade e ser voltado pa-ra a produção. O homem, que na Epa-ra da Agricultupa-ra epa-ra o meio principal papa-ra a pro-dução agrícola, na Era Industrial passou a ser visto como mão-de-obra secundária dentro dos processos de produção, onde a máquina era considerada “a chave mes-tra” de toda uma época, uma vez que substituía a força humana com mais compe-tência e exatidão.

Atualmente, as tecnologias de inteligência vêm intervindo de forma cada vez mais efetiva nas atividades desempenhadas pelos seres humanos. Há 30 anos, Pe-ter Drucker (apud Antunes, 2000, p.23), identificou quatro pontos de descontinuidade que levariam ao que intitulou “Sociedade do Conhecimento”:

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des empresas e que tornarão, ao mesmo tempo, obsoletas as gran-des indústrias e empreendimentos atualmente existentes. (...) As próximas décadas da tecnologia lembrarão, mais provavelmente, as últimas décadas do século passado, quando nascia uma grande in-dústria baseada em nova tecnologia poucos anos após o apareci-mento de outra, e não farão lembrar a continuidade tecnológica e in-dustrial dos últimos cinqüenta anos”. (Drucker apud Antunes, 2000, p. 23)

A evolução tecnológica vivenciada nas últimas décadas vem ocorrendo de forma descontínua e em um ritmo acelerado, o que representa um novo cenário para a sociedade e as organizações. A Figura 2 representa uma evolução histórica da velocidade de consolidação de novas tecnologias na sociedade.

Figura 2 – Grau de consolidação das novas tecnologias junto à sociedade (FORBES, apud MKM Consulting, 2003)

“2. Estamos diante de grandes mudanças na economia mundial. (...) O mundo tornou-se, em outras palavras, um mercado, um centro de compras global”. (Drucker apud Antunes, 2000, p. 23)

A economia do final do século XX e início do XXI sofrem fortes alterações nas suas formas de produção e distribuição de produtos. Devido principalmente ao atual estágio tecnológico, o mundo tornou-se uma terra sem fronteiras, onde os negócios não mais se subjugam a uma proximidade territorial, à distância, à localização ou à língua, que não são mais empecilhos para a realização de acordos econômicos. A indústria fonográfica, por exemplo, vêm buscando formas alternativas de comerciali-zação em função do surgimento e difusão das tecnologias P2P (peer-to-peer) para

100%

80%

60%

40%

20%

Anos após a invenção

5 20 40 60 80 100 120

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compartilhamento de música (BABOO, 2005).

“3. A matriz da política da vida social e econômica está mudando ce-leremente. Sociedade e a nação de hoje são pluralistas”. (Drucker apud Antunes, 2000, p. 23)

A rapidez, a desvinculação de tempo e espaço e as múltiplas possibilidades geradas pelas novas tecnologias têm marcado presença e característica das novas formas de sociabilidade. Cursos na modalidade EAD, em diversos níveis (treinamen-to, graduação e de pós-graduação), cada vez mais se tornam difundidos e as orga-nizações e instituições de ensino tem utilizado desta metodologia para promover a educação dos indivíduos.

“4. O conhecimento, nestas últimas décadas, tornou-se o capital principal, o centro de custo e o recurso crucial da economia. Isso muda as forças produtivas e o trabalho; o ensino e o aprendizado; o significado do conhecimento e suas políticas. Mas também cria o problema das responsabilidades dos novos detentores do poder, os homens do conhecimento”. (Drucker apud Antunes, 2000, p. 23) O eixo principal na nova ordem econômica mundial é o primor pelo conheci-mento, que é propriedade das pessoas. Na Sociedade do Conheciconheci-mento, o homem torna-se o centro do processo de inovação e desenvolvimento econômico, social e cultural. Os dados, informações e todos os aparatos tecnológicos passam a ser ape-nas ferramentas de apoio para que os indivíduos possam inovar e criar “novos mo-dos”.

Estas grandes mudanças são frutos da mente humana, que continuamente cria novas formas de configuração e compreensão das realidades.

2.3.2 Informação: artefato diferencial

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A sociedade caminha para uma nova conceituação, e isto afeta o indivíduo em todas as suas atividades, sejam elas políticas, sociais, culturais e de trabalho. A tendência é que não mais tenhamos uma subdivisão de classes como a apresentada hoje, mas sim segundo a proposta por SCHAFF (2001, p. 49):

“... uma divisão entre as que têm algo que é socialmente importante e as que não têm. Este “algo”, no caso, é a informação no sentido mais amplo do termo que, em certas condições, pode substituir a propriedade dos meios de produção como fator discriminante da no-va divisão social, uma divisão semelhante, mas não idêntica, à atual subdivisão em classes”.

A informatização impulsionada nas últimas décadas desencadeou um mundo convertido “em um conjunto único e estreitamente inter-relacionado no qual todos os grandes problemas assumirão um caráter global” (SCHAFF, 2001, p. 154).

Na nova “era”, em um mundo globalizado, as novas teorias e conceitos não mais se restringem a Newtons e Galileus. As inovações e revoluções surgem da uni-ão de uma quantidade sem fim de pessoas, empresas, órguni-ãos governamentais, or-ganizações não governamentais, os quais interagem e trabalham em conjunto, des-frutando de um conceito de um “mundo sem fronteiras”, onde as pessoas agem em conjunto e criam de uma forma mais unificada.

A corrida ao século XXI é caracterizada, para aqueles que desejam chegar ao sucesso, pela liberdade do pensamento científico, o qual agirá na direção de uma consciência social, onde a teoria e a prática não poderão ser traçadas por limites que os separem (SCHAFF, 2001).

O desenvolvimento de um globo informacional e “sem limites”, segundo S-CHAFF (2001, p. 71) permitirá:

“... escrever uma nova página na história da humanidade, pois se da-rá um grande passo no sentido da materialização do velho ideal dos humanistas, a saber, do homem universal, e universal em dois senti-dos: no de sua formação global, que lhe permitirá fugir do estreito caminho da especialização unilateral, que é hoje a norma, e no de se liberar do enclausuramento numa cultura nacional, para converter-se em cidadão do mundo no melhor sentido do termo.”

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de infra-estrutura adequadas, é necessário que haja um conjunto de condições e de inovações nas estruturas produtivas e organizacionais, no sistema educacional e nas instâncias reguladoras, normativas e de governo em geral” (TAKAHASHI, 2002, p. 5).

2.3.2 Formação da Sociedade do Conhecimento

Na nova economia, não basta mais só produzir, baratear custos e maximizar a produção. É necessário inovar. Mas não só isso. Neste novo cenário, “não basta dispor de uma infra-estrutura moderna de comunicação; é preciso competência para transformar informação em conhecimento” (TAKAHASHI, 2002, p. 7).

Os ativos intangíveis têm adquirido importância crescente, os quais são: com-petências dos empregados, processos e redes de relacionamento; cujo objetivo é que se alcance um ambiente em que todos possam criar, acessar, utilizar e compartilhar informação e conhecimento. E este papel desafiador, de componente social, o qual caracteriza informação e conhecimento, tem-se apresentado como desafiador para as nações e corporações do mundo de hoje (TARAPANOFF, 2006).

O que traz vantagem competitiva e destaque no cenário mundial é a forma como as populações têm transformado todo o aparato tecnológico e informacional em conhecimento. O combustível para qualquer povo alcançar excelência nas suas atividades é como tem sido tratado e trabalhado este importante artefato, que é o conhecimento gerado pelas pessoas.

Por outro lado, as evoluções tecnológicas modernas não podem ser dimensi-onadas e atreladas somente ao ambiente organizacional, pois as mesmas “operam em meio a um elemento cultural mais rico e variado do que o pretendido pela razão instrumental” (RÜDIGER, 2007, p.69). O tecnicismo moderno, segundo Charles Ta-ylor (apud RÜDIGER, 2007, p. 69):

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pa-ra nós.”

Para Lemos (2002), atualmente os indivíduos estão vivenciando um ambiente novo, em que a tecnologia influencia e é influenciada pela cultura, na qual a cibercul-tura é o produto de uma integração da ciência com a culcibercul-tura, transcendendo uma compartimentalização tecnocrática. Assim, “a cibercultura é um exemplo forte dessa vida social que se quer presente e que tenta romper e destruir o deserto racional, objetivo e frio da técnica moderna” (LEMOS, 2002, p. 285).

Através da cibercultura, as possibilidades de efetivação de uma sociedade do conhecimento, caracterizada pela participação e colaboração de várias pessoas, é algo que se torna real e possível, pois:

“A cibercultura, pela socialidade que nela atua, parece, antes de iso-lar indivíduos terminais, colocar a tecnologia digital contemporânea como um instrumento de novas formas de sociabilidade e de vínculos associativos e comunitários” (LEMOS, 2002, p. 86).

A característica principal da cibercultura é o processo constante de desterrito-rialização/virtualização dos espaços, tendo as tecnologias como vetores de novas formas de agregação social e resultante da convergência entre a “socialidade” con-temporânea e as novas tecnologias de base microeletrônica. Vinculada principal-mente com a valorização da informação e do conhecimento (LEMOS, 2007). A revo-lução empreendida e em desenvolvimento possibilitada com o ciberespaço “vai afe-tar o conhecimento e o modo de transmitir, estocar e produzir a informação, comple-xificando as trocas comunicativas e abalando a estrutura centralizadora dos mass media” (LEMOS, 2007, p. 137).

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2.2 Cibercultura

Nesta seção, busca-se apresentar alguns pontos relativos à cibercultura. Em um primeiro momento, coloca-se a evolução das TIC nas últimas cinco décadas, quando os aparatos tecnológicos tornaram-se acessíveis e disponíveis a um grande contingente populacional. Em seguida, são colocadas as possibilidades reais e futu-ras com a consolidação e evolução da cibercultura em vários campos do cotidiano da humanidade, principalmente no que se refere à liberdade de expressão e acesso informacional, como também de potencialização de expressões culturais e artísticas. Discorre-se então sobre os perigos muitas vezes conjugados com a cibercultura, como por exemplo, o fascínio que ela desperta e a crença total nos ferramentais tec-nológicos, causando a inversão de valores e a sensação de que tais artefatos são superiores aos indivíduos. Por fim, a cibercultura é apresentada como um fenômeno de universalização, em que se enseja a proposição de um homem universal em sua formação.

2.2.1 Introdução

Nas últimas décadas, o desenvolvimento das TIC tem alcançado números ex-ponenciais, provocando significativas alterações nas esferas sociais, culturais, políti-cas, econômicas e comerciais. Até aproximadamente vinte anos atrás, o acesso aos aparatos tecnológicos era privilégio de alguns grupos, como os militares, instituições financeiras e organizações com alto capital. A população ainda se encontrava distante dos facilitadores tecnológicos.

No início da era computacional, por volta de meados dos anos cinqüenta, os equipamentos eram máquinas enormes, que ocupavam centenas de metros quadra-dos, consumiam uma grande quantidade de energia e se prestavam a atividades específicas. Para a população em geral, os benefícios de tais computadores eram pouco percebidos, até porque não traziam mudanças efetivas na sua forma de vida e convivência.

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princi-palmente as rotineiras. Em um primeiro momento, trabalhando como estações isola-das e sem nenhuma interconexão, as atividades eram realizaisola-das de forma exclusiva e solitária. Devido à contribuição das tecnologias de comunicação e a sua associa-ção às tecnologias da informaassocia-ção, surgiu a possibilidade dos computadores traba-lharem de forma interconectada, onde agora se podia compartilhar arquivos, realizar trabalhos em conjunto, mas isto ainda a nível organizacional e restritivo, ou seja, a grande massa populacional ainda encontrava-se à margem de tais inovações.

O aumento ininterrupto de capacidade de interconexão foi crescendo ao ponto de se poder colocar em conexão vários sítios de empresas, instituições financeiras e governamentais, e, portanto, também tornou possível às pessoas fazerem parte des-te mundo indes-terconectado onde os indivíduos, via Indes-ternet, têm acesso aos mais vari-ados conteúdos e novidades tecnológicas. Para Lemos (2007), entusiasta do impac-to social das tecnologias, o desenvolvimenimpac-to da tecnologia microeletrônica permite a abolição do espaço e do tempo, a implantação da telepresença e mostra-se como vetor agregador, apresentando-se como uma técnica que promove o sentimento co-munitário e societário. A Internet mostra-se como um grande exemplo de um produto da sociedade moderna que “não é o resultado somente de uma estratégia tecnocrá-tica de cima para baixo, mas produto de uma apropriação social” (LEMOS, 2007, p. 116). Sua característica principal é agir como “potencial descentralizadora do poder tecno-social-mediático” (LEMOS, 2007, p. 117).

2.2.2 Cibercultura: possibilidades

Novas possibilidades se abriram e a noção de distância é cada vez mais rela-tivizada. As mensagens escritas, enviadas ou recebidas, não mais dependem só do serviço postal convencional, mas também podem circular na forma digital. Neste es-paço ampliado e independente do tempo, as notícias, as descobertas e as pesquisas são comunicadas em tempo real.

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infi-nitas e influenciam mudanças não apenas no plano tecnológico, mas na criação de novos costumes sociais e culturais. Segundo Lemos (2007, p. 146), o ciberespaço associado com as suas tecnologias parece instituir um contato generalizado, “uma relação de proximidade e de sentimento comunitário, mesmo sem contato físico”.

A liberdade de opinião ganha força e os indivíduos não se restringem àquilo que as mídias de massa produzem. O ciberespaço cria uma alternativa a tais con-glomerados de comunicação. As pessoas desprendem-se e acessam uma multiplici-dade informacional nunca vista antes, surgindo como uma possibilimultiplici-dade que leva as mesmas a um ambiente de pensamento crítico, livre da força manipuladora dos mei-os de comunicação tradicionais. Segundo Lemmei-os (2007, p. 135):

“O ciberespaço é um ambiente de circulação de discussões pluralis-tas, reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo po-tencializar a troca de competências, gerando a coletivização dos sa-beres. A dinâmica atual do desenvolvimento das redes de computa-dores e seu crescimento exponencial caracterizam o ciberespaço como um organismo complexo, interativo e auto-organizante.”

Diferentemente de um sistema fechado e em que não há uma comunicação bidirecional, o ciberespaço caracteriza-se “pelas comunicações multidirecionais, pela circulação dos espectros virtuais, um sistema complexo onde o desenvolvimento do jogo comunicativo não pertence a uma entidade central, mas a este organismo-rede” (LEMOS, 2007, p.137). As pessoas passam a opinar e tais manifestações colocam-se à disposição de um grande conglomerado de indivíduos que acessam e também opinam, desenvolvendo, desta forma, certa efervescência micropolítica.

No interior, a cibercultura apresenta-se como um movimento social multifor-me, em conformidade com a originalidade de seus dispositivos de comunicação, re-gistrando novas formas de laços sociais que ela sela no silêncio ricamente povoado do ciberespaço, longe do clamor monótono das mídias (LÉVY, 1999, p. 232). Para Lemos (2007, p. 72):

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ocidental.”

Diversas manifestações produzidas pelo homem têm migrado e se desenvol-vido no mundo digitalizado, sejam elas culturais, textuais, musicais ou artísticas. No campo das Artes, Domingues (1997, p. 17) argumenta que os artistas também têm se enveredado por este novo espaço cibernético:

“Os artistas oferecem situações sensíveis com tecnologias, pois per-cebem que as relações do homem com o mundo não são mais as mesmas depois que a revolução da informática e das comunicações nos coloca diante do numérico, da inteligência artificial, da realidade virtual, da robótica e de outros inventos que vêm irrompendo no ce-nário das últimas décadas do século XX“.

O ciberespaço promove um ambiente abundante de manifestações diversas, de criações entrelaçadas e diversificadas, que segundo Lemos (2007, p. 12) tem se tornado um:

“[...] sistema ecológico do mundo das idéias, uma noosfera abundan-te, em transformação acelerada, que começa a tomar o controle do conjunto da biosfera e a dirigir sua evolução a seus próprios fins. A vida em sua completude eleva-se em direção ao virtual, ao infinito, pela porta da linguagem humana.”

Com a Música em particular, se observa a possibilidade de maximização de “novos gêneros, novos estilos, novos sons, que surgem constantemente, recriando as diferenças de potencial que agitam o espaço musical planetário” (LÉVY, 1999, p. 139). Para Bandeira (2001, p. 211), “a cibercultura imprimiu um redimensionamento ao segmento musical cujo êxito reside, sobretudo, no advento das técnicas de com-pressão de áudio”.

2.2.3 Possíveis problemáticas inerentes a cibercultura

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1999, p. 68).

Deve-se ter cuidado para não se gerar inversões. As tecnologias não devem ser consideradas substitutas dos indivíduos, mas aparatos de apoio, suporte ao ho-mem em suas tarefas. Segundo Levy (1999, p. 12), devemos ir além da compreen-são de tais tecnologias:

“[...], pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o am-biente inédito que resulta da extensão das novas redes de comuni-cação para a vida social e cultural. Apenas dessa forma seremos ca-pazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma pers-pectiva humanista.”.

O ciberespaço deve ser visto e pensado como algo que colabora para o de-senvolvimento de uma inteligência coletiva e não como determinante em si só, pois são os indivíduos que determinam a direção das inovações, seja de forma conscien-te ou não. Mas também não se pode negar que o ciberespaço é responsável, por meio das redes digitais interativas, pelo surgimento de diversos tipos de novas for-mas, que segundo LÉVY (1999, p. 29-30) são:

“1. de isolamento e de sobrecarga cognitiva (estresse pela comuni-cação e pelo trabalho diante da tela);

2. de dependência (vício na navegação ou em jogos em mundos vir-tuais),

3. de dominação (reforço dos centros de decisão e de controle, do-mínio quase monopolista de algumas potências econômicas sobre funções importantes da rede);

4. de exploração (em alguns casos de teletrabalho vigiado ou de des-localização de atividades no terceiro mundo);

5. e mesmo de bobagem coletiva (rumores, conformismo em rede ou em comunidades virtuais, acúmulo de dados sem qualquer informa-ção)”.

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dentro de uma perspectiva universal.

2.3.2 A cibercultura como proponente universalizante

A acessibilidade promovida e as novas possibilidades criadas pelas novas tecnologias é interpretada por alguns como algo a potencializar o isolamento das pessoas. Acreditam que as tecnologias agirão no sentido de distanciar os indivíduos uns dos outros. Por outro lado, assim como Lemos (2007, p. 20), muitos acreditam que:

“[...] o desenvolvimento tecnológico, longe de ser apenas agente de separação, de alienação e de esgotamento de formas de solidarie-dade sociais, pode servir como vetor de reliance, como instrumento de cooperação mútua e de solidariedades múltiplas.”

O ciberespaço viabiliza o surgimento de uma cultura desterritorializada, um novo meio em que os indivíduos se relacionam e socializam, uma nova via denomi-nada cibercultura, em que se “mostra precisamente que existe uma outra forma de instaurar a presença virtual da humanidade em si mesma (o universal) que não seja por meio da identidade do sentido (a totalidade)” (LÉVY, 1999, p. 121). Novas possi-bilidades de desenvolvimento dos indivíduos são potencializadas através das novas tecnologias da informação, pois as mesmas promovem a comunicação bidirecional dos indivíduos, distanciando de um conceito de difusão centralizada da informação massiva (LEMOS, 2007). Colocando à disposição das pessoas um novo padigma, que possibilita às mesmas interagir de uma maneira mais participativa da criação e recriação do conjunto da experiência (RÜDIGER, 2002), resultando na passagem de “uma individualidade a outras e vivenciar as diversas existências de uma multidão de seres” (ABRAHAM apud RÜDIGER, 2002).

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fa-zer parte do discurso de uma sociedade que procura um desenvolvimento cultural real, permanente e de qualidade.

2.3 Difusão e preservação cultural

Esta seção tem como foco analisar criticamente questões relacionadas ao a-vanço tecnológico atual e no contexto do movimento globalizador, com seus efeitos positivos e negativos para a sociedade. Enfatiza-se a importância do aumento de canais de comunicação e fontes informacionais disponíveis atualmente para a for-mação dos indivíduos. Por fim, discorre-se sobre como isso vem se dando por meio do desenvolvimento em termos tecnológicos para além da visão de exclusão das raízes culturais, na perspectiva de convivência e de criação do inesperado resultado do tradicional com o novo.

2.3.1 Introdução

Segundo a UNESCO (1998), o processo educativo deve contemplar o saber aprender, fazer, conviver e ser. Na era digital, esses quatro pontos são analisados e prospectados dentro de uma visão filosófica, científica e também tecnológica, pois hoje aprendemos, fazemos, convivemos e estamos inteirados no equilíbrio de dife-rentes perspectivas. Nesse contexto, a tecnologia, principalmente nas últimas déca-das, tem ganhado importância ímpar. Não que em outros momentos da história as evoluções tecnológicas não tenham colaborado para a evolução da humanidade, mas pelo fato de agora estas estarem a serviço não só da maximização do lucro, mas como possibilidade para a formação do homem no âmbito do seu conhecimen-to.

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ga-ma imensa de aparatos ferramentais que facilitam e impulsionam a disseminação do conhecimento. Dentro dessa perspectiva, as clássicas teorias educacionais são re-vistas e reeditadas; o professor não é mais visto como o “velho” instrutor e sim como um facilitador, alguém que tem o papel de colaborar e fazer com que o aprendiz desperte o seu pensamento autocrítico e atue como pesquisador.

2.3.2 A interação entre culturas e o avanço tecnológico

As perspectivas tecnológicas trouxeram consigo facilidades que fazem com que as fontes de conhecimento não sejam mais, como era há alguns anos, algo de difícil acesso. As pessoas podem facilmente disponibilizar ou acessar bases de da-dos em qualquer lugar do mundo a partir de uma estação de trabalho; não há mais fronteiras ou dificultadores àqueles que precisam de fontes informacionais. A comu-nicação realiza-se de forma síncrona ou assíncrona, ou seja, em um espaço inde-pendente de localização geográfica e do horário. Não só a acessibilidade logrou com a situação tecnológica atual, como também a salvaguarda de tal conhecimento, pró-prio de cada indivíduo em sua área de atuação.

A era digital tem permitido também a criação de novas formas de expressão e de interações. A grande gama informacional à qual as pessoas estão sujeitas, seja através da internet, TV e rádio, por exemplo, podem ser armazenadas e passam a formar e estruturar novos conceitos.

Hoje não é mais preciso se deslocar para se ter acesso a eventos que este-jam sendo realizados, pois eles podem ser acompanhados através de uma rede de televisão ou pela Internet.

“A nova sociedade digital não se caracteriza pela exclusão ou oposi-ção aos modelos anteriores de aquisioposi-ção e utilizaoposi-ção dos conheci-mentos armazenados na memória, humana ou cibernética. Sua ca-racterística é o envolvimento; sua prática, a mixagem. Mesclam-se nas redes informáticas – na própria situação de produção-aquisição de conhecimentos – autores e leitores em tempo real.” (KENSKI, 2003, p. 44)

2.3.3 O avanço tecnológico e as raízes culturais

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ser vistos com um olhar crítico e cauteloso, dentro de um universo de não agressão à cultura dos povos. A nova “ordem” não pode ser imperativa no que tange aos usos e costumes regionalistas. A disseminação informacional deve ser empreendida den-tro de um âmbito de consideração e respeito aos diferentes “modos” dos indivíduos, promovendo a convivência entre diferentes perspectivas no que tange à cultura, on-de as pessoas possam situar-se, ambientar-se, e a partir daí construir novos pontos de vista. Forquin (1993, p. 133) corrobora com a definição do indivíduo de caráter comunitário e multifacetado, colocando que:

“Numa sociedade moderna, complexa, cada indivíduo pertence, de modo consciente ou de modo latente, a uma pluridade de grupos, possui uma pluridade de status, é confrontado com uma pluridade de modelos, submetido a pressões contraditórias, a mensagens diver-gentes, face às quais ele deve desenvolver estratégias complexas, apoiando-se sobre recursos, referências, competências variadas.” Um empreendimento globalizador no campo cultural pode trazer resultados e gerar situações desagradáveis e indesejáveis. Ou seja, a massificação cultural pode gerar a perda de identidade, de valores e crenças de uma coletividade. Deve-se evi-tar aquilo que por muitos séculos perdurou durante a Idade Média, onde “cada con-quista subjugou povos concon-quistados e suas culturas, costumes, línguas e tradições, e tentou impor uma hegemonia cultural mais unificada.” (HALL, 2001, p. 60)

O que se percebe é que, em muitas situações, pode-se perder em senso críti-co, aceitando-se “novos produtos” sem uma análise de seus efeitos reais. Ficam despercebidas e permitem que a sua identidade seja reformulada e redirecionada para coisas que em nada correspondem àquilo que se acredita. A criticidade cultural é assim desprezada, fazendo com que se perca aquilo que é um de seus aspectos interessantes, ou seja:

“O que a cultura permite é um constante desaprendizado de tudo a-quilo que a incultura – quer dizer, a ausência de conversa entre os opostos e a conseqüente insistência em um ou em alguns poucos pontos de vista – inculca” (COELHO, 2001, p. 74).

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A cultura, em termos conceituais, em muito se diferencia de uma definição disciplinar, pois busca uma visão mais abrangente e generalista onde se vê a totali-dade (COLL, 2000). A cultura produz uma visão mais horizontal do homem, ou seja, o mesmo não é visto como uma especialidade, algo uno e indivisível, mas sim multi-plural e formado a partir de uma enorme complexidade de mitos, crenças e valores.

A cultura transcende o campo dos conceitos e das definições, não podendo ser confundida e vista como uma disciplina científica, a qual “é sempre uma visão dirigida para uma parte do Real, do Todo, visão aleatória em sua amplitude e pro-fundidade, que depende da própria natureza de cada disciplina” (COLL, 2000, p. 73).

De um modo geral, o ser humano tem que ser levado em conta dentro de um ambiente de alta complexidade, no qual devem ser considerados os seus desejos, as suas organizações, as suas relações com os outros, sua relação com o conheci-mento adquirido e o conheciconheci-mento elaborado, além da complexidade na qual o mesmo encontra-se inserido (FRIAÇA et al, 2005). Mas o aspecto cultural tem uma grande importância dentro deste ambiente de alta complexidade, pois “a verdadeira natureza humana é cultural” (COLL, 2000, p. 74). Fato é que o traço constituinte do ser humano é reconhecidamente difuso, isto não só com referência à condição hu-mana, mas também à condição física, pois todas as coisas fazem parte de mais de uma categoria, e podem ser classificadas de mais de um modo (COELHO, 2001).

A unicidade das coisas, em sua grande maioria, é quase que irreal. A interde-pendência e a transcendência são características presentes em várias áreas do co-nhecimento. Sendo assim, as disciplinas também se encontram neste conjunto que extravasa o uno, o indivisível. O conceito de transdisciplinaridade vem colocar as diversas áreas do conhecimento fora de uma divisão, em que a comunicação entre as diversidades coloca-se como algo a ser motivado, para que se alcance algo mai-or.

2.4 Estruturas do Conhecimento

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apre-sentadas definições referentes à pluri, a inter e a transdisciplinaridade. A pluridisci-plinaridade continua arraigada ao modelo disciplinar, enquanto a interdisciplinarida-de e a transdisciplinaridainterdisciplinarida-de preteninterdisciplinarida-dem ser mointerdisciplinarida-delos que visam romper o paradigma da unicidade e da unicausalidade científica.

2.4.1 Visão Geral

O modelo unidisciplinar continua sendo hegemônico. Em todos os níveis aca-dêmicos, depara-se com a divisão dos conteúdos em disciplinas, cabendo ao apren-diz fazer ou não a integração dos conteúdos. Não é difícil perceber enormes lacunas entre essas diversas disciplinas, e que a comunicação entre os vários campos do conhecimento praticamente inexiste. Isso compele respostas simplórias para ques-tões complexas; opta-se pela objetividade exarcebada em detrimento da subjetivida-de.

2.4.2 Disciplinaridade, pluridisciplinaridade e interdisciplinaridade

A divisão disciplinar teve sua gênese no século XIX, e buscava organizar o caos instaurado pelas revoluções sociais e intelectuais que, além de outras coisas, buscam na Teologia a única possibilidade de conhecimento. Augusto Comte propõe uma divisão positivista e disciplinar da hierarquização das ciências, na qual o foco maior passa a ser a matemática, divisão esta que passou a ser extensamente ado-tada pelo mundo Ocidental (PINEAU, 2000).

A disciplinaridade traz consigo a objetividade, em que tudo se restringe a ver-dadeiro ou falso, ao bem ou ao mal. Segundo Nicolescu (1999), esta mesma objeti-vidade trouxe consigo algo inevitável: a transformação do sujeito em objeto.

“O ser humano torna-se objeto: objeto da exploração do homem pelo homem, objeto de experiências de ideologias que se anunciam científicas, objeto de estudos científicos para ser dissecado, formalizado e manipulado. O homem-Deus é um homem objeto cuja única saída é se autodestruir” (NICOLESCU, 1999, p. 18).

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2.4.3 A transdisciplinaridade

Segundo Nicolescu (1999, p. 45), “a pluridisciplinaridade diz respeito ao estu-do de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo”. Ou seja, apesar da pluridisciplinaridade ir além da disciplinaridade, a mesma ainda continua ligada à estrutura da pesquisa disciplinar.

Já a interdisciplinaridade propõe a transferência de métodos entre diversas disciplinas, sendo assim mais ousada que a pluridisciplinaridade (NICOLESCU, 1999).

Mas estas duas novas formas de evolução da disciplinaridade mostraram-se limitadas e pouco evoluídas com relação às barreiras ainda perceptíveis e existentes entre as disciplinas. Necessitava-se de um método que fosse capaz de ir além das fronteiras entre as disciplinas, que transcendesse a retórica disciplinar vigente à é-poca. Dessa forma, há três décadas, pesquisadores como Jean Piaget, Edgar Morin, Eric Jantsch, entre outros, enveredaram na proposição e na definição do termo transdisciplinaridade. Nicolescu (1999, p. 46) afirmaque transdisciplinaridade:

“... diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual o impera-tivo é a unicidade do conhecimento.”

Uma outra definição, complementar a esta apresentada por Nicolescu (1999), é a em que Berger (1997, p. 178) coloca que a transdisciplinaridade:

“... manifesta não somente como um tipo de “progresso” que seguiria a multi pluri interdisciplinaridade, mas coloca-se como a passagem que conduz da fragmentação, do corte do real, à recuperação da in-tegralidade. O transdisciplinar atravessa as disciplinas, manifestando, no transcorrer de sua emergência, um poder de polarização generali-zada”.

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Na visão transdisciplinar, vários níveis de Realidade são considerados, ou se-ja, uma Realidade multidimensional em vários níveis, colocando em desuso a acei-tação inquestionável de uma Realidade unidimensional, de um único nível, apresen-tada pelo pensamento clássico. Em resumo, as realidades não são unireferenciais, mas multireferenciais. (NICOLESCU, 1999)

O reducionismo das realidades a um único ponto de estudo ou interesse mos-tra-se insuficiente e em muitas situações perigoso. Para Nicolescu (1999, p.74):

“A Realidade reduzida ao Objeto leva aos sistemas totalitários. A Re-alidade reduzida ao Sagrado leva aos fanatismos e integralismos re-ligiosos. Uma sociedade viável só pode ser aquela onde as três face-tas da Realidade estejam reunidas de maneira equilibrada”.

A transdisciplinaridade apresenta-se como algo que transformará a sociedade no seu todo, que tem como intuito provocar uma mudança radical nos tradicionais pilares que sustentam a disciplinaridade como ela se apresenta hoje, a qual é de uma forma unireferencial e unidimensional. Apresentando como uma via potenciali-zadora na comunicação entre as disciplinas e a possibilidade de descoberta daquilo que está além destas mesmas disciplinas, onde o intuito maior é que se alcance “um espaço ilimitado de liberdade, de conhecimento, de tolerância e de amor” (NICO-LESCU, 1999, p. 76).

Mas o transcender não está reduzido somente ao campo das pesquisas disci-plinares, mas também se observa e há aplicabilidade de ir além, entre e através em outras áreas. Na seara cultural, também existe a possibilidade de ir além, entre e através. No envolvimento e na relação entre as várias expressões artísticas, há o aparecimento de novidades, inesperadas e inéditas, que são propiciadas por esta interação. Sendo assim, surge uma nova perspectiva de se pensar cultura, ou seja, de uma forma trans, a transculturalidade.

2.5 Transculturalidade

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alienação. A negativa utiliza-se de métodos impositivos que resultam na dizimação do que não é hegemônico. A positiva pode ser vista pelo olhar de que novos hori-zontes se abrem e oportunidades para crescer e desenvolver venham a surgir. Em resumo, a referida seção tem por objeto a descrição da importância de se desenvol-ver uma dialógica cultural e fazer uso do que está à disposição atualmente em ter-mos de tecnologia para o desenvolvimento de uma sociedade, onde os aspectos culturais sejam lembrados e tratados de uma forma em que não se permita a massi-ficação e a pasteurização das riquezas culturais dos povos. Encerra-se a referida seção discorrendo sobre o movimento transcultural e as oportunidades por ele cria-das.

2.5.1 Introdução

O mundo globalizado, caracterizado e em busca de uma terra sem fronteiras em várias áreas, tem gerado, de um lado, euforia e esperança e, por outro, receio e medo. Existe a esperança de que através da superação das barreiras, uma humani-dade mais consciente não só da sua localização geográfica, mas da sua percepção de mundo mais ampliada, consiga transformar as pessoas em indivíduos universais, cientes das suas responsabilidades sociais e, colaborativo, no sentido de levar aos outros habitantes aquilo que é próprio de si. Mas também existe a desconfiança de que por meio da imposição globalizante, venha a se criar um ambiente de maior ins-tabilidade econômica, social e, sobretudo, cultural. De que o respeito às diferenças não seja levado em consideração, onde um discurso de superioridade seja imposto, principalmente no campo cultural.

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2.5.2 A empreitada homogeneizante

A empreitada homogeneizante utiliza-se dos mais variados meios de comuni-cação, com o intuito de divulgar uma linguagem homogeneizada. Os rádios, a gran-de imprensa e a revista ilustrada estão altamente engajados em um esforço para alcançar e satisfazer uma gama de interesses, por meio de uma retórica permanente e um estilo único (MORIN, 1997).

A unificação dos temas, das linguagens, das mensagens é altamente percep-tível. Uma invasão de programas, seriados, filmes com a mesma forma de se produ-zir e utilizando-se do mesmo discurso é o que está em voga. Quase tudo se tende a tornar universal, principalmente aquilo que é produzido pelas grandes redes de TV, cinemas, gravadoras e rádios. Busca-se desenfreadamente uma padronização dos gostos, à qual está intrinsecamente associado a um nivelamento das diferenças so-ciais, onde se destaca o caráter sincretizante e homogeneizador da cultura industrial.

Esta mesma cultura industrial, segundo Morin (1997, p.65):

“... nega de modo dialético a cultura do impresso e a cultura folclóri-ca: desintegra-as integrando-as, integra o impresso e seus conteú-dos, mas para metamorfoseá-los; desintegra os folclores, mas para com eles universalizar certos temas. Acrescentemos: ela sincretiza em si os temas e estruturas da cultura impressa e os da cultura fol-clórica-arcaica. Faz comunicar essas duas correntes até então justa-postas, derramando ambas no grande curso novo. Esse curso novo é, em certa medida, a resultante desse sincretismo.”

O empreendedorismo mercadológico cultural industrial tende a dizimar todo um histórico cultural e até mesmo todo um conhecimento construído pela a humani-dade em toda a sua existência na terra. A pasteurização cultural imposta e proposta pelas mídias de massa poderá levar o homem “às estéticas médias, às poesias mé-dias, aos talentos médios, às inteligências mémé-dias, às bobagens médias” (MORIN, 1997, p. 50).

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estão sendo reforçadas pela resistência à globalização; (iii) As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas – estão tomando seu lugar.

2.5.3 A importância da dialógica cultural

Os seres humanos são dotados de conhecimento e este por conseqüência tem sua origem nos processos culturais de cada indivíduo, dos seus processos his-tóricos de formação, que são adquiridos através da relação entre as pessoas. Morin (1998, p. 28) coloca que:

“A cultura fornece ao pensamento as suas condições de formação, de concepção, de conceitualização. Impregna, modela e eventual-mente governa os conhecimentos individuais. Trata-se aqui não tanto de um determinismo sociológico exterior quanto de uma estruturação interna. A cultura, via cultura, a sociedade estão no interior do co-nhecimento humano.”

A existência de uma dialógica cultural é necessária para a maturação da soci-edade e o alcance de estágios superiores de desenvolvimento. Tal dialógica comporta o comércio cultural, mas no sentido de intercâmbio, de diálogo, de trocas de experiências, muito diferente daquela visão de cultura industrial proposta e disseminada atualmente.

O diálogo entre as diversas culturas propicia ao indivíduo a possibilidade de se tornar um cidadão do mundo, onde o mesmo se situa, aceita-se e enxerga no ou-tro a possibilidade de enriquecer-se culturalmente através da ou-troca de experiências e idéias. Esta troca pode ser multidirecional e não unidirecional.

Segundo Coll (2000, p. 86):

“A abordagem dialogal repousa sobre o postulado de que ninguém isoladamente (quer se trate de uma pessoa ou de uma cultura) pos-sui a capacidade de alcançar o horizonte universal da experiência humana e que somente se as regras do diálogo não forem postula-das unilateralmente, o Homem poderá atingir uma inteligência mais profunda e mais universal de si mesmo, para assim alcançar sua própria realização”.

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baseada no conhecimento, em que os indivíduos se abram e espalhem, mas que também se preservem na relação cultural global.

2.5.4 O modelo transcultural

Uma definição transcultural ganha força e uma visão de “abertura de todas as culturas àquilo que as atravessa e ultrapassa” (NICOLESCU, 1999, p. 107). Procura-se com a transculturalidade aquilo que está além, entre e através das culturas.

A transculturalidade vai além da interpretação de uma cultura por outra cultura e também não se restringe à fecundação de uma cultura por outra cultura, mas a mesma assegura a tradução de uma cultura para qualquer outra cultura, através do sentido que une as mais diferentes culturas, mesmo que as ultrapassando (NICO-LESCU, 1999). O modelo transcultural permite e torna possível o diálogo entre as mais diferentes culturas e impede a sua homogeneização (NICOLESCU, 1999).

Em uma retórica transcultural, as culturas industriais e mídias de massa per-dem visibilidade. O mundo pregado por tais abordagens, aonde as vedetes e os ho-mens modelos são altamente mostrados e assediados por uma grande massa de pessoas, perdem os seus sentidos de existirem. Os programas massificados pelos grandes conglomerados televisivos perdem a sua tão sonhada audiência. Ou seja, as culturas passam a ocupar o lugar de destaque, promovendo a sua conservação, nas origens, e divulgação, nos destinos.

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3. Tecnologias da Informação e Comunicação

Nesse capítulo, discorre-se sobre as TIC, principalmente àquelas relaciona-das com a melhoria do processo de ensino-aprendizagem em ambientes virtuais e artefatos que auxiliem na armazenagem e disponibilização de informação. Inicial-mente, são definidos e abordados alguns conceitos relacionados à infra-estrutura tecnológica presente em ambientes virtualizados de aprendizagem. Posteriormente é discorrido sobre as tecnologias que estão engajadas na codificação, armazenagem, construção, compartilhamento e difusão da informação e do conhecimento.

3.1 Infra-estrutura

A questão infra-estrutural é recorrente em quase todas as áreas técnicas. Pa-ra o desenvolvimento de projetos é necessário que se tenha uma base, um alicerce, algo que dê sustentação. Com as TIC não é diferente, é preciso que se tenha uma infra-estrutura para que os projetos desenvolvam-se. Diante disso, nesta seção dis-corre-se sobre alguns itens infra-estruturais necessários para projetos voltados para ambientes virtuais. Discorre-se sobre as redes de comunicação e, por conseguinte explana-se um pouco sobre a primeira fase da Web (Web 1.0) e também da segun-da fase (Web 2.0).

3.1.1 Redes de Comunicação

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A partilha de informações, o poder de processamento a longas distâncias, a utilização de recursos e programas de forma compartilhada, entre outras facilidades, fazem parte da conjunção de uma gama de áreas tecnológicas que fazem avançar rapidamente o poder de coleta, armazenamento, transmissão e processamento de informações. Segundo Tanenbaum (2003, p. 18), um dos fatores contribuintes para o estágio atual do quadro da indústria da informática é a união de computadores e aparatos de comunicações:

“A fusão dos computadores e das comunicações teve uma profunda influência na forma como os sistemas computacionais eram organi-zados. O conceito de "centro de computação" como uma sala com um grande computador ao qual os usuários levam seu trabalho para processamento agora está completamente obsoleto. O velho modelo de um único computador atendendo a todas as necessidades compu-tacionais da organização foi substituído pelas chamadas redes de computadores, nas quais os trabalhos são realizados por um grande número de computadores separados, mas interconectados.”

O fator característico dos sistemas informáticos atuais é o potencial de conec-tividade. O trabalho isolado não interessa mais às organizações, instituições educa-cionais e as pessoas em geral. Vislumbra-se cada vez mais o trabalho à distância e de forma compartilhada e, com a evolução dos sistemas de comunicação aliado ao desenvolvimento contínuo da informática, isso tem se tornado uma realidade.

A conexão entre os diversos componentes – cuja premissa básica diz que de-ve hade-ver uma interconexão entre hospedeiros (computados portáteis, telefones celu-lares e outros) com troca de informações – não precisa necessariamente ser realiza-da por um fio de cobre, como também pode ser feita através de fibras óticas, micro-ondas, ondas de infravermelho e satélites de comunicação (TANENBAUM, 2003).

Existem diversos tipos e tamanhos de redes. A maior delas é a Internet, con-siderada por alguns como uma única rede, definição equívoca e errônea, segundo Kurose (2006, p. 3). Para ele, a Internet é a junção de diversas redes e propõe uma definição em que o foco é o hardware e o software como componentes básicos que a formam:

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pri-mordialmente PCs tradicionais de mesa, estações de trabalho com sistemas Unix e os chamados servidores que armazenam e transmi-tem informações, como páginas Web e mensagens de e-mail. Po-rém, sistemas finais que não são componentes tradicionais da Inter-net, como agendas digitais (PDAs), TVs, computadores portáteis, te-lefones celulares, automóveis, equipamentos de sensoriamento am-biental, telas de fotos, sistemas domésticos elétricos e de segurança, câmeras Web e até mesmo torradeiras estão sendo cada vez mais conectadas à Internet.”

A utilização das redes informáticas pode ter os diversos fins, como comerci-ais, entretenimento, aprendizado e também para o desenvolvimento cultural, pois através da conectividade quebra-se as distâncias geográficas e se possibilita a parti-lha de conteúdos mais diversos das mais diferentes vivências regionais. O longe tor-na-se perto, o inacessível tortor-na-se acessível e a interatividade é algo real e ao al-cance daqueles que a desejam. Através de aplicações Web, partilha-se e comparti-lha-se opiniões e conceitos relacionados às variantes culturais.

3.1.2 Web 1.0

Com a junção de diversas redes e o posterior aparecimento da Internet, foi necessário que se criasse uma camada de software sobre o sistema operacional, chamada middleware, na forma de um sistema distribuído que desse a impressão para os usuários de um único sistema coerente. A isso se deu o nome de World Wi-de Web, sistema distribuído que tem a aparência de um documento (uma página Web). (TANENBAUM, 2003).

A primeira fase da Web baseou-se em um acesso unidirecional, onde os usu-ários comuns ficavam limitados a apenas navegar pelas páginas, imprimir ou copiar informações. Nota-se que nesta fase o grau de interatividade era quase que inexis-tente; baseada em uma navegação solitária. A causa desta falta de interação residia na tecnologia disponível naquele momento e no fato das páginas e tecnologias a-gregadas apresentarem um modelo estático.

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Figura 1 - Relação geradora mútua entre indivíduo, cultura, capital cognitio coletivo e  sociedade
Figura 2 – Grau de consolidação das novas tecnologias junto à sociedade   (FORBES, apud MKM Consulting, 2003)
Figura 3 – Características da Web 2.0  (BLATTMANN & CÔRREA DA SILVA, 2007)
Figura 4: Estrutura Básica de um Sistema Tutor Inteligente   (POZZEBON & BARRETO, 2002)
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Referências

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