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A NOBREZA MEDIEVAL CASTELHANA: UMA DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA

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A NOBREZA MEDIEVAL CASTELHANA: UMA DISCUSSÃO

HISTORIOGRÁFICA

Luiz Augusto Oliveira Ribeiro (LEAM/ CAPES/ UEM) Jaime Estevão dos Reis (DHI/ PPH/ LEAM/ UEM)

Introdução

Revisitar a historiografia clássica acerca da nobreza hispânica é de extrema importância ao buscar compreender o processo de fortalecimento deste grupo dentro do cenário medieval. Dessa forma, tomamos como referenciais teóricos Norbert Elias e sua obra

O processo civilizador (1993); Marie-Claude Gerbet com o livro Las noblezas españolas en la Edad Media: siglos XI-XV (1997); a obra Feudalismo, señorío y nobleza en la Castilla medieval (2000) de Salvador Moxó; além de uma historiografia contemporânea que busca

mapear a nobreza medieval em suas mais diversas vertentes e particularidades.

Ao longo da Idade Média a nobreza se constituiu um grupo de intensa participação social. Constituída e fortalecida aos poucos, como demonstra a historiografia, a nobreza passou a acumular poderes locais, exercendo jurisdição sobre as regiões que ficavam em seus domínios como forma de concessão real, assumindo para si a responsabilidade em organizar os territórios, principalmente, nos aspectos jurídicos, o que lhes garantiu ainda mais força.

A historiografia tem delineado a nobreza a partir de suas particularidades de tempo e espaço, como é o caso de Salvador Moxó, que trabalha com o caso castelhano-leonês, pensando-a a partir de cada um dos contextos medievais, a fim de compreender as continuidades e rupturas deste importante grupo social da Idade Média na Península Ibérica.

Marie-Claude Gerbet também trabalha com o caso específico de Castela e Leão, no entanto, seu trabalho se restringe ao período do século XI ao XV, momento de institucionalização da nobreza e consolidação de seu poder. Já Norbert Elias, apesar de trabalhar com o caso das regiões da Alemanha, Inglaterra e França, permite ao pesquisador uma compreensão do processo de formação da nobreza.

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Quando voltamos os olhares para o contexto castelhano-leonês e a relação que a nobreza, enquanto grupo social fortalecido estabelece com o monarca Alfonso X, o que se visualiza é uma nobreza mais ativa política e economicamente. Para tanto, a relação entre o rei e a nobreza passa a ser mais complexa e, em meio a um cenário de busca de unificação jurídica, no qual o rei busca a centralização do poder por meio de códigos jurídicos, a nobreza tenta manter seu poder e suas influencias locais.

As origens da Nobreza Castelhana: um mapa historiográfico.

O mundo medieval é um mundo aristocrático (MOXÓ, 2000). Esta aristocracia predominou muito tempo na sociedade como um grupo historicamente estabelecido e que gozava de privilégios de ordem legal e jurídica. A atuação social da nobreza medieval tem despertado interesse dos mais diversos pesquisadores de áreas do conhecimento.

Para Salvador Moxó a nobreza medieval hispânica forma-se historicamente em três períodos ao longo da Idade Média. Na Alta Idade Média, se forma a aristocracia primitiva, um pequeno grupo que vai se destacando da população livre; na Idade Média central ou Plena Idade Média, como se refere o autor, constitui-se a nobreza velha, a qual possuía certo alcance de poder e já era fundada em uma configuração jurídica e concreta; já na Baixa Idade Média, forma-se a chamada nobreza nova é o produto de uma transformação e renovação nobiliária e, ao mesmo tempo um grupo fortalecido.

Ao nos atentarmos a cada uma das divisões apontadas pelo autor, podemos perceber os pormenores do processo de estabelecimento e fortalecimento desta ordem ao longo do período medieval no contexto castelhano-leonês e as características específicas de cada um dos grupos que se fortalecem neste contexto. O primeiro a ser discutido por ele é a aristocracia primitiva, a qual está intimamente ligada à aristocracia visigoda e, portanto, tem raízes muito anteriores ao auge nobiliário visível no século XIII (MOXÓ, 2000, p. 231).

Dessa forma, para que a aristocracia se mantivesse nos reinos cristãos como uma nobreza fortalecida, a historiografia aponta para a necessidade de alguns elementos, tais como: uma origem social, portanto, uma linhagem consanguínea; o sistema de vassalagem; a riqueza patrimonial e participação social na administração pública.

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Na sequência, Moxó (2000) trabalha a nobreza no período que ele chama de Idade

Média Central ou plena Idade Média, apontando para um estabelecimento e organização

administrativa deste grupo social. Assim,

No período seguinte do Medievo [...] a nobreza, já articulada socialmente, vai alcançar sua total configuração jurídica e legal, encabeçada por certas linhagens ou famílias, a maior parte das quais se esconde e engrandece em dita etapa histórica, aproveitando o favorável momento da «Reconquista maior» em que a nobreza leonesa, castelhana ou portuguesa pode mostrar toda sua capacidade militar1 (MOXÓ, 2000, p. 254/255).

Portanto, este grupo que passa a mostrar seu poder militar e atuar junto à administração real por meio da Reconquista passa a se caracterizar, segundo o autor, como a

nobreza velha. Este grupo foi o que se formou no momento mais dinâmico da Reconquista e,

marcadamente, o aspecto da guerra, as recompensar e a vida de corte que passa a se figurar neste momento são os elementos que garantem o fortalecimento desta nobreza.

Já na Baixa Idade Média, o que se evidencia é uma renovação nobiliária e, portanto, uma reorganização da nobreza em nome de certa “extinção” da nobreza velha e juntamente com ela o fim das linhagens, seja na ordem biológica, seja na ordem militar, nas quais houve muitas baixas. Além disso, ainda existem os problemas sócio-econômicos do século XIV em toda a Europa, que gerou um empobrecimento geral da nobreza (MOXÓ, 2000, p. 285-286).

A extinção ou a queda de velhas famílias de “ricos-homens” durante o segundo terço do século XIV, não acompanhada da quebra do conceito e prestígio da nobreza da nobreza como corpo político-social, vai oferecer amplas oportunidade de prosperar novas linhagens que dentro daquela se elevam ao reduzido círculo dos “ricos-homens” aproveitando o advento da nova dinastia castelhana2. (MOXÓ, 2000, p. 287)

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“En el período seguiente del Medievo [...] a nobleza, articulada ya socialmente, va a alcanzar su total configuración jurídica y legal, encabezada por ciertos linajes o famílias, la mayor parte de las cuales se encubram y engradecem en dicha etapa histórica, aprovechando el favorable momento de la «Reconquista mayor» en que a nobleza leonesa, castellana o portuguesa pudo desplegar toda su capacidad militar.” (MOXÓ, 2000, p. 254-255).

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“La extinción o declive de viejas famílias de ricos-hombres durante el segundo tercio del siglo XIV, no acompañada del quebrantamiento del concepto y prestigio de la nobleza como cuerpo político-social, va a oferecer amplias oportunidades de medrar a nuevos linajes que dentro de aquélla se encaram an al reducido

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Portanto, analisar com cuidado os diferentes momentos da nobreza castelhana torna possível a compreensão do processo de fortalecimento deste grupo social, a partir de cada um dos momentos históricos a nobreza precisa se reorganizar e estar em consonância com o poder real. A aristocracia primitiva, nobreza velha e a nobreza nova representam o processo de reinvenção daqueles que, no século XIII-XIV passaram a ter forças políticas atuantes e decisivas, muito evidentes no reino de Castela e Leão, sob o reinado de Alfonso X, o Sábio.

Uma nobreza nova e militarizada que,

[...] se constituiu na classe militar por excelência já que a profissão das armas era considerada enobrecedora. Não há que se esquecer a estreita relação que existiu durante todo o processo medieval entre «cavalaria» e nobreza cujo significado se faz complementar, sobre tudo em fins da Idade Média ao considerar que suas origens eram idênticas.3 (GARCIA VERO; CASTRILLO LLAMAS, s.d., p. 23).

Desta maneira, o processo de fortalecimento da nobreza castelhana está intrinsecamente relacionado à questão da Reconquista. Em pouco mais de dois séculos, findando-se em 1264, se reconquistou mais de 400.000 km², o que permitiu aos cristãos apoderar-se praticamente de toda a Península, com exceção apenas do pequeno reino de Granada. Nos anos que se seguiram as fronteiras praticamente não voltaram a mudar. (GERBET, 1997, p. 36).

Assim, o contexto da Reconquista representou um importante momento de reorganização social, e ampliação da relação entre nobreza e reis. Sempre que se confiava missões de grande importância à aristocracia era necessário um cuidado para que fossem obedientes e fiéis. Por isso, se recorreram às instituições feudo-vassálicas e a cavalaria.

círculo de los ricos-hombres aprovechando el advenimiento de la nueva dinastía castellana.” (MOXÓ, 2000, p. 287).

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“[...] se constituyó en la clase militar por excelência ya que la profesión de las armas se consideraba ennoblecedora. No hay que olvidar la estrecha relación que existió durante todo el período medieval entre «caballeria» y nobleza cuyo significado se hace complementario sobre todo a fines de la Edad Media al considerarse que sus Orígenes eran idênticos.” (GARCIA VERO; CASTRILLO LLAMAS, s.d., p. 23).

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O avanço da Reconquista havia favorecido o desenvolvimento de um grupo de magnatas, aristocratas guerreiros enriquecidos pela guerra, as doações reais e as usurpações que foram «levantados» na Corte, onde desempenharam funções domésticas ou de governo e se fizeram cargos da administração local, exercendo sobre os homens direitos [...]4 (GERBET, 1997, p. 69).

A nobreza aristocrática passou a existir atrelada ao rei, graças às fronteiras que passaram a representam importante região de poder e domínio. Portanto, as duas forças coexistem no mesmo espaço, mas, a relação que prevalecia nesta sociedade é a de vassalagem. Aos poucos, o que se evidencia, de fato, é uma nobreza vinculada ao rei, por meio tanto da questão da Reconquista, como pelos cargos no Palácio Real.

Foram aqueles magnatas ou membros da alta nobreza, qualificados através da informação cronística como ricos-homens, os que de maneira viva e bem visível, influenciaram e inclusive determinaram em diversos e repetidos momentos a trajetória histórica do país, exercendo altos postos militares, cortesãos ou administrativos, ao mesmo tempo que ocupavam o mais alto nível na estrutura da sociedade medieval castelhana [...]5 (MOXÓ, 2000, p. 324).

Dessa forma, a nobreza leonesa, entre os séculos XI e XII, está constituída por possuidores de terras, que desempenham funções administrativas e eram ligados ao rei, desta maneira, gozavam de importantes concessões e privilégios. Dessa forma, a nobreza leonesa é uma das primeiras a se desenvolver, a partir do momento que se define privilégios e linhagens, que passam a se revezar nos cargos, esta nobreza está colocada.

Somente no século XIII é que se passa a identificar a nobreza na Idade Média, antes disso não existia um documento que os definia, isso só ocorre sistematicamente com as Siete

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“El avance de la Reconquista había favorecido el desarrollo de un grupo de magnatas, aristocratas guerreros enriquecidos por la guerra, las donaciones real es y las usurpacion es, quienes fueron «criados» en la Corte, donde desempeñaron funciones domésticas o de gobierno, y se hicieron cargo de la administración local, ejerciendo sobre los hombres derechos [..]” (GERBET, 1997, p. 69).

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“Fueron aquellos magnates o miembros de la alta nobleza, calificados a través de la información cronística como ricos-hombres, los que de manera viva y bien visible, influyeron e incluso determinaron en diversos y repetidos momentos la trayectoria histórica del país, ejerciendo altos puestos militares, cortesanos o administrativos, al mismo tiempo que ocupabanel más alto rango en la estructura de la sociedad medieval castellana [...]” (MOXÓ, 2000, p. 324)

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Partidas6, definindo-a como de sangue, linhagem, notória (propriedades), que possuía um castelo ou um forte, com um escudo (GERBET, 1997, p. 74-75).

Norbert Elias, em O Processo Civilizador (1993), apesar de não ter como foco a questão da Península Ibérica, ilustra muito bem este encontro de forças centralizadoras e descentralizadoras. Se por um lado existia o rei que buscava organizar seu poder central e mantê-lo sob domínio, por outro, existiam os parentes dos “príncipes”, que lutavam pela ampliação dos poderes descentralizados.

[...] uma categoria especial de pessoas ainda constituía autêntica ameaça à coesão de domínios maiores sob um governo único, mesmo que seu poder se tivesse reduzido, mudando seu modo de ação. Nas novas circunstâncias sociais, os principais defensores da descentralização foram os parentes mais próximos do governante – seus tios, irmãos, filhos, ou mesmo, embora menos, irmãs e filhas. (ELIAS, 1993, p. 119).

Assim, não é possível que se desconsidere também as forças que circundam o rei. Como mencionado por Elias, seus parentes mais próximos, que também vislumbravam mais poderes e maior participação política.

Dessa forma, a historiografia mais recente tem buscado compreender a nobreza castelhana em suas mais diversas faces. A possibilidade da interdisciplinaridade e da ampliação documental, proposta pelos Analles, tem permitido pesquisas e trabalhos que voltam os olhares à questões, como por exemplo, de linhagens, nomes e carreiras pessoais daqueles que eram nobres no período medieval e, portanto, constituíram importante papel social, político e econômico no meio ao qual estavam inseridos.

A nobreza castelhana e sua relação com Alfonso X

Com a morte de Fernando III, o primogênito se vê com a responsabilidade de dar continuidade ao processo de centralização, assim, Alfonso X segue as diretrizes deixadas pelo

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Corpo de leis redigido por Alfonso X, o Sábio e que enfrentou resistência da nobreza na prática. Apesar de apresentar um conteúdo um pouco mais filosófico do que técnico, o prólogo da obra indica que era um conjunto de leis a serem seguidas.

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seu pai de centralização e passa a empreendê-la primeiro com o Fuero Real, seguido do

Espéculo e as Siete Partidas (GERBET, 1997, p. 120).

Portanto, “a pretensão do rei de legislar sobre tudo e impor um poder absoluto, apoiando-se no direito romano desesperou a nobreza exatamente da mesma forma que sua intervenção em matéria monetária e fiscal7” (GERBET, 1997, p.121).

Com a finalização do processo de Reconquista, a nobreza viu-se desprovida de sua fonte de enriquecimento e regalias, isto é, a apropriação de parte dos territórios conquistados. De início Alfonso X tentou remediar a situação, concedendo algumas compensações, como remunerações pelos cargos ocupados na administração.

Segundo Marie-Claude Gerbet,

[...] quando a nobreza se levantou contra Alfonso X, em 1272, estava ainda muito longe de ser excluída do poder; o fortalecimento das instituições em beneficio do rei não havia perturbado; se adaptava muito bem às tendências absolutistas, sempre e quando este não fora dirigido contra ela nem contra as cidades, e pudera controlá-lo. Contudo, no último decênio do reinado de Alfonso X, se iniciou um período de crise aguda entre os nobres e as cidades, por um lado, e entre estes e o rei por outro8. (GERBET, 1997, p. 123).

Dessa forma, a revolta nobiliária registrada pela Crônica de Alfonso X9, muito mais do que representar um momento de exclusão da força política da nobreza, diz respeito a um embate direto de duas forças consolidadas e importantes ao contexto castelhano medieval, por um lado a nobreza historicamente fortalecida e apoiada, e por outro a realeza, que cada vez mais pregava a centralização do poder e do ordenamento social.

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“La pretensión del rey a legislar y sobre todo a imponer un poder absoluto apoyandose en el derecho romano exaspero a la nobleza exatamente lo mismo que su intervención en materia monetária y fiscal.” (GERBET, 1997, p.121).

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“[...] cuando la nobleza se alzó contra Alfonso X en 1272 estaba aún muy lejos de ser excluída del poder; el fortalecimento de las instituiciones en beneficio del rey no la habia perturbado; se adaptaba muy bien a las tendências hacia el absolutismo, siempre y cuandoéste no fuera dirigido contra ella ni contra las ciudades, y pudiera controlarlo. Ahora bien, en el último decênio del reinado de Alfonso X se inició un período de crisis aguda entre los nobles y las ciudades, por un lado, y entre éstos y el rey, por outro.” (GERBET, 1997, p.123).

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Documento produzido por volta de 1344, durante o Reinado de Alfonso XI com o objetivo de registrar os feitos dos reis e relegar para a posteridade o conhecimento do período que compreende o reinado de Alfonso X.

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Os reinos ibéricos de Portugal e Castela, como se sabe, anteciparam-se na Idade Média Central (já no século XIII) a um processo político que mais tarde seria o de cada país europeu. Referimo-nos ao processo centralizador que logo culminaria com a formação dos estados nacionais a partir do século XV. A descentralização feudal lentamente cedia espaço a uma nova estrutura política – esta cada vez mais centralizada em torno da figura do monarca – sendo que este processo ocorreu no entrechoque de duas orientações antagônicas: o interesse de parte da nobreza em conservar a autonomia senhorial, e o projeto centralizador das novas monarquias. (BARROS, 2012, p. 34-35)

Portanto, o cenário que se configura, principalmente na Península Ibérica a partir do século XIII, é de mudanças sociais e políticas profundas. Assim, as antigas relações pessoais feudo-vassálicas passam a ser minadas pelas novas estruturas e nova forma de poder que se busca estabelecer, por meio da figura do rei e da centralização das funções administrativas, jurídicas e políticas.

A nobreza castelhana, “[...] gozava de um estatuto jurídico próprio, que normatizava suas obrigações (militares e fiscais) e seus direitos (privilégios, isenções e recompensas) em relação ao monarca.” (REIS, 2007, p. 211-212), portanto, possuía um caráter social diferenciado das demais nobrezas européias. Todo esse aparato, que garantia autonomia à nobreza castelhana está contido no Fuero Viejo de Castilla, obra jurídica datada do fim do reinado de Fernando III.

Assim, a função da nobreza estava intimamente ligada às questões da defesa do reino e suas fronteiras, além de desempenhar o papel de conselheira do rei. Mas, com o a chegada do rei Alfonso X ao trono, as relações que se estabeleceram entre a nobreza e o rei não foram harmoniosas, como se esperava. Situação que só se agravou com o inicio da política centralizadora do rei Sábio, que passava a obrigar os nobres e suas respectivas vilas, a autoridade central da figura real (REIS, 2007, p. 213).

Os nobres, que até pouco tempo viviam segundo as próprias leis, viram seus privilégios serem ameaçados e suas rendas diminuídas. Além do mais, o fortalecimento do poder do rei que a nova legislação promovia tinha como contrapartida a diminuição da participação da nobreza na vida política do reino (REIS, 2007, p. 218).

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O cenário acima apresentado constituía o panorama político da época, demonstrando claramente a forma como este momento é de embates e discussões recorrentes entre o rei Alfonso X e a nobreza, que se sentiu constantemente incomodada, vendo seus privilégios se desmancharem, frente a um poder que se fazia centralizado/ centralizador e forte socialmente, lançando bases sólidas para os formatos sociais que se constituem de fato somente na Modernidade.

Considerações Finais

Nobreza, aristocracia, nobreza nova ou velha, a denominação que assumiu ao longo da Idade Média hispânica nos prova as reinvenções e as reorganizações deste grupo social. Após pensar e refletir acerca da constituição e do advento deste grupo social como elemento fundador da sociedade moderna, torna-se evidente o papel que ele assume em finais do século XIII, e a participação cada vez mais efetiva em uma sociedade, como é o caso castelhano-leonês, que estava se organizando econômica, política, social e juridicamente.

Em meio a todo um contexto de disputas e busca pelo poder, o rei medieval castelhano, mais especificamente Alfonso X, se vê em uma estreita situação ambígua, na qual, de um lado busca centralizar todo o poder e as decisões na sua figura, de outro, o rei ainda precisa da nobreza para atingir a todos aqueles que estavam sob sua jurisdição, além de manter seu território e suas fronteiras.

A Crônica de Alfonso X, narra e documenta todo o processo de Revolta Nobiliária nos anos de 1272 e 1273. No entanto, ao historiador cabe problematizar e organizar as informações e antecedentes do processo ali apresentado e registrado. Dessa forma, lançamos mão do resgate historiográfico acerca do fortalecimento dos grupos sociais expressivos neste momento do contexto castelhano e, neste caso específico, a nobreza.

De uma autonomia protegida à uma submissão quase que completa, essas eram as bases das transformações propostas por Alfonso X, o Sábio. De acordo com as análises documentais da crônica, uma tentativa frustrada de definir poder centralizado e autônomo. Mas, não se pode deixar de registrar e levar em conta a importância, sem precedentes, dos

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códigos jurídicos alfonsinos ao direito europeu medieval e, posteriormente, ao mundo. As bases do direito ocidental atual devem muito ao processo de produção dos códigos jurídicos de Alfonso X, pois representa grandes contribuições jurisdicionais.

Durante muito tempo e, pesquisas ainda apontam que os códigos jurídicos propostos por Alfonso X provocaram certa revolução no campo do direito de toda a sociedade ocidental. Portanto, é inegável a contribuição histórica do reino de Castela e Leão em suas mais variadas vertentes e campos. Os embates que se sucederam entre os nobres e os reis demonstram claramente o processo de prática dos códigos e, mais do que isso, representam também as diferenças sociais e políticas que, em diálogo, constituem a sociedade.

Referências Bibliográficas

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