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ASPECTOS LEXICAIS NO MANUSCRITO NOTÍCIA DO BRASIL DE GABRIEL SOARES DE SOUSA

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Academic year: 2021

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ASPECTOS LEXICAIS NO MANUSCRITO “NOTÍCIA DO BRASIL” DE GABRIEL SOARES DE SOUSA

Genésio Seixas Souza Orientador: Profº. Drº. Américo Venâncio Lopes Machado Filho Co-Orientadora: Profª. Drª. Rosa Virgínia Mattos e Silva

Neste trabalho apresentam-se, as considerações pertinentes ao objeto da pesquisa e seus objetivos e partindo da conceituação de onomasiologia e toponomástica, procura-se demonstrar alguns elementos lexicais relacionados à toponímia, patente na Parte I do documento histórico Notícia do Brasil de Gabriel Soares de Sousa, no intuito de demonstrar comparativamente as correspondências denominativas portuguesa e indígenas, dos registros assinalados no corpus e que se inscrevem no período colonizador e expansionista lusitano do séc. XVI. Esse trabalho é um pequeno recorte de uma tese de doutoramento que objetiva perseguir a mudança toponímica que possa ser observada a partir da leitura do Tratado, identificando geograficamente todas as substituições ocorridas no período em que se escreveu essa obra, até os dias atuais, ou seja, numa perspectiva diacrônica.

Os padrões de mudança que vieram a ocorrer no decurso dos séculos posteriores vêm sendo localizados através do confronto dos mapas e roteiros, ainda não tão precisos, da navegação portuguesa ultramarina da época quinhentista, com os mapas atuais e bem definidos das rotas assinaladas na Carreira do Brasil, percurso obrigatório das naus lusitanas no transcurso entre Portugal e a colônia. O material cartográfico, fonte obrigatória de consulta e pesquisa, gentilmente cedido pelo almirantado do Serviço de Documentação da Marinha do I Distrito Naval no Rio de Janeiro, apresenta dados que demonstram as correspondências entre a toponímia portuguesa e a do índio que senhoreava a linha costeira brasileira, registrando as semelhanças que se verificam no códice e, quando possível, delimitando as áreas de saliente influência portuguesa, africana e indígena.

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Os primeiros contatos com o objeto da pesquisa se fizeram através dos estudos desenvolvidos no Curso de Mestrado em Letras e Lingüística, realizado no período entre 1997-99, onde se procedeu a Edição Crítica do Roteiro de Viajen e costa de

todo o Brasil navegando p(or) ele desd’as ilhas de Cabo Verde atè o Rio da Prata,

manuscrito do século XVI. Estabeleceu-se ainda o cotejo intertextual dos pontos convergentes com três outros roteiros de navegação quinhentistas da derrota das naus portuguesas, sendo um deles, o corpus selecionado para o curso de doutoramento, dando continuidade aos estudos realizados da versão impressa do manuscrito Notícia do Brasil – Roteiro Geral com largas informações de toda a

costa que pertence o Estado do Brasil e a descrição de muitos lugares della especialmente da Bahia de todos os Santos de Gabriel Soares de Sousa.

Apresentado em formato impresso, se procedeu à digitação de 270 capítulos, sendo a parte I composta de 74 capítulos que nos dão um <<roteiro geral>> sobre a navegação ultramarina de Lisboa às costas do Brasil, seguida da II Parte, que retrata a fauna, flora, língua e costumes do gentio da área do atual estado da Bahia e capitanias circunvizinhas. A princípio foram realizados o levantamento e a coleta dos dados concernentes ao vocabulário de marinharia e os nomes denominativos dos lugares que orientam a navegação no roteiro do códice, assim como taxeonomías toponímicas encontradas no Tratado referentes à fauna, flora língua e costumes do gentio da linha costeira da “cidade da Baía” e capitanias circunvizinhas, buscando a valorização do prisma complementar desses aspectos, ou seja, a etiologia do topônimo. Trata-se de um estudo das possibilidades registradas no documentos histórico, situando o estudo no campo da Lexicologia, especificamente no campo da Onomástica e voltado para a Toponímia.

Os topônimos, como se poderá verificar adiante na breve amostragem do glossário, especialmente na parte I referente a roteirística, acontecem assentes nas características particulares da “busca da origem e significação dos nomes de lugares e suas transformações lingüísticas”1 e sua distribuição quantitativa e qualitativa, selecionando, observando, registrando, classificando, analisando e

1 Cf. ROSTAING Charles. Les nomes de lieux. Paris, Presses Universitaires de France, 1958, p. 5 (Col. Que

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interpretando o dado, de acordo com a identificação dos fatores determinantes á configuração do corpus.

O homem da segunda metade dos Quatrocentos e começos do século seguinte estava exposto a um desequilíbrio advindo da necessidade de adaptação a um novo ordenamento no campo das duas categorias fundamentais da existência humana: espaço e tempo. Pelos estudos efetuados e pela sensibilidade ganha no convívio com a época, a passagem do séc. XV para o XVI operou transformações irreversíveis: o choque técnico e pré-científico (a imprensa), fazendo do difundir das notícias uma instância importante do saber e do poder, sendo que a experiência pessoal se revela com maior acuidade e persistência, originando um tipo de literatura que se afasta gradativamente do discurso oficial das correntes dominantes, como seja, a escolástica depurada e o humanismo. Essa nova gama de escritos vem preencher novas funções e objetivos, a nova literatura de viagens e sem precedentes no Ocidente cristão, solidarizam o real e o imaginário, casam gesta e fábula com fatos reais, não deixando no entanto, de apresentar uma visão coerente do mundo cheio de maravilhas e singularidades de par com dados observados em primeira mão, fornecendo um Imago Mundi tradicional e de fundo teológico, ainda não ferido pela dialética nascida da intromissão de notícias das novas realidade geográficas e etimológicas e por esse novo saber totalmente baseado na experiência e apoiado na visão. Essa nova forma de conhecimento, que é manancial inesgotável ,da prática toponomástica, requer um maior rigor de descrição e vale-se da concisão do pensamento, assim como a escrita – tornada fator de vigor e contenção, mostra nos capítulos dos textos de viagem, os aspectos utilitários ao registrarem com máximo mimetismo os novos mundos com que se depararam os exploradores e viajantes. Ganham-se, nesse processo, precisão, rigor e realidade, fatores que regiam as necessidades do reconhecimento desse mundo e a cupidez do mercantilismo expansionista.

Em interação constante com múltiplas áreas do conhecimento, a toponímia se constrói assumindo uma conjuntura de métodos e considerável número de conhecimentos, sem confundir-se com eles ou negá-los, onde

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predomina a perspectiva lingüista e conseqüente valorização da pesquisa etimológica, tendo como parâmetros aspectos como:

· causas e circunstâncias originárias de um topônimo;

· fatores que contribuem para a adoção e generalização do uso de um topônimo;

· formas de percepção da realidade circunstancial que se apropriam da natureza do nome;

· a realidade da significação, advindos dos significados etimológicos e etiológico.

Como pretensão do estudo de um documento histórico quinhentista, procede-se à construção de um glossário onde se acham fixadas as formas toponomásticas registradas no léxico da língua portuguesa ocorridas no séc. XVI e, pela consciência da complexidade que envolve a palavra na formação da linguagem humana, defrontamo-nos com as múltiplas possibilidades e dimensões como esta matéria pode ser analisada, quando se procura confrontar os topônimos registrados em duas vias:

► a abordagem histórica e lingüístico-histórica – o elencário dos topônimos designativos geomórficos como foram registrados em Notícia do Brasil no séc. XVI e as mudanças e causas ocorridas até o momento atual, através da interface entre os registros coletados do corpus e os mapas físicos brasileiros atuais;

► um tratamento lingüístico e sincrônico dos dados coletados, numa perspectiva de análise que possa indicar as diferentes procedências étnicas, modernizando a orientação sobremodo, a Parte I relativa à rota das naus portuguesas nas viagens entre Portugal e Brasil e na Parte I e II sobre um capítulo em que se trata das correspondências entre a toponomástica denominativa do colonizador português e sua interface na forma designativa da linguagem do indígena.

Os estudiosos afetos à essa área de pesquisa precisam manter um atitude epistemológica claramente dialógica e aberta aos relacionamentos inter e transdisciplinares das formas toponomásticas, como vimos anteriormente,

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atrelados a um trabalho sério de investigação que demanda tempo e constância, postura adotada que será o conduto à verdadeira causa denominativa e, em última instância, á intencionalidade do denominador, questão de extrema complexidade, haja vista envolver problemas que afetam ou são condicionados pela psicologia humana, daí de difícil apreensão. Porém, no estudo que se apresenta, os acidentes geográficos, os sinais de terra e os inúmeros denominativos que os onomásticos identificam, parecem obedecer a uma prática sistemática de comparação com objetos já nominados e que apresentam semelhança com algo observado e conhecido para o homem português renascentista. O processo transcorre com maior solidez quando se dispõe de um registro histórico e/ou documentação, permitindo a consulta. A pesquisa menos eficaz diz respeito à origem dos acidentes físicos da linha costeira marítima do Brasil (costas, rios, baixos, enseadas, portos, baías, morros, etc), esses muito presentes na Parte I do

corpus estudado na área roteirística, bem como, na parte II, na denominação da

fauna e flora da Baía e regiões próximas, apresentando os primeiros registros dos contornos geográficos dos acidentes da costa, uma vantagem sobre os precedentes e, muitas das vezes, validada: são formas toponímicas que frequentemente conservam a denominação primeira que lhe foi conferida, atrelada a uma tradição e avessas a mudanças de qualquer ordem, o que pode vir a se constituir uma regra inerente à Toponímia. Temos por ex:

→ rio das Amazonas – nas taxeonomias toponímicas temos o termo classificado como hidrotopònimo (“rio” AF AM), referindo-se a um acidente hidrográfico e conservando a mesma denominação, desde os idos do século XVI.

→ Tapoan e Itapoã – formas variantes que são topônimos grafados em diferentes capítulos do corpus e que indicam o mesmo acidente geográfico, prescindindo de uma classificação apropriada para o caso em especial, por estarmos tratando de um manuscrito quinhentista.

Observando os diferentes sistemas culturais, em que topônimos se inscrevem como instrumentos hábeis de pesquisa, observa-se que o sentido denominativo é o ponto de partida para investigações que, se antes se definiam apenas como

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lingüísticas, hoje se inscrevem, também, nos campos da geografia, da antropologia, da psicosociologia, enfim, da cultura em geral, para que, aprofundando a pesquise se chegue à compreensão da própria mentalidade do denominador, não só como elemento isolado, mas como projeção de seu grupo social.

As fontes documentais não se configuram como um espelho fiel da realidade, entretanto, estão abertas à interpretação do historiógrafo da língua, que também compõem, com elas, a história. As aproximações dos dados contexto e os elementos da dimensão interna da língua permitem-nos desvendar, revelar e sistematizar as interações materializadas no documento. Além disso, as informações passadas, impressas o documento, surgem, para o pesquisador da língua, não só como representativa de uma época, mas também como uma possibilidade de reconstituição de uma realidade para, primeiramente, recuperá-la e depois traduzi-la para a ciência de nosso tempo, objetivando demonstrar comparativamente as correspondências denominativas portuguesa e indígenas para esses elementos toponomásticos.

Referências

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