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Quero criar algo que pertença a Macau

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Academic year: 2021

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Experience

“Quero criar algo que

pertença a Macau”

M ú s i c a c o m g u i t a r r a portuguesa e letra em cantonês é apenas uma das inovações dos Experience. A banda da RAEM, que recebeu a MACAU no seu estúdio, cruza várias influências, numa abordagem e x p e r i m e n t a l i s t a l i d e r a d a p o r B r u c e P u n . A m e t a d o compositor é ambiciosa: criar um género musical que seja próprio de Macau

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T Sofia Jesus

F Gonçalo Lobo Pinheiro

Primeiro, o dedilhar balançado

de uma guitarra portuguesa. D e p o i s , o g r i t o - c o n v i t e d e p r o n ú n c i a c a r r e g a d a – “ S e n h o r a s e s e n h o r e s ! ” – , electrizado logo de seguida por acordes rock. Aos 32 segundos, a maior surpresa: o regresso à melancolia da guitarra de terras

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lusas, agora sob uma voz... em cantonês. Assim começa My Fado, o cartão de visita dos Experience.

“Sempre quis criar algo único. Ta l c o m o a A r g e n t i n a t e m o t a n g o e o B r a s i l a b o s s a -nova, eu quero criar algo que pertença a Macau”, explica B r u c e P u n , c o m p o s i t o r e fundador do projecto musical

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E x p e r i e n c e . O o b j e c t i v o , admite à MACAU, ainda não foi alcançado, mas “é a direcção a seguir”.

Na casa-estúdio desta banda de Macau, num andar alto sem elevador, bem no centro da cidade, a fusão musical está por todo o lado. Sobre o piano, dois livros de pautas: um com 100 clássicos dos The Beatles, outro com a Arte da Fuga, de Bach. Numa das portas, um poster de Bob Marley, e, encostado a uma das paredes, o álbum de fundo roxo The Jimi Hendrix E x p e r i e n c e , q u e s e r v i u d e

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inspiração ao nome da banda.

Fado e Youtube

Neto de um macaense que tinha o hábito de ver programas da R TP, o fado e a guitarra portuguesa não eram estranhos a Bruce Pun. Foi, no entanto,

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em 2008, quando estudava em Paris, que passou a olhá-los de outra forma, durante uma viagem a Portugal, numas férias de Verão.

Depois de uma visita ao Museu do Fado e de uma conversa inspiradora com o guitarrista português Mário Pacheco, Bruce Pun saiu de Portugal com uma bagagem extra: uma guitarra p o r t u g u e s a . F o r m a d o e m guitarra clássica, e com veia de autodidacta, aprendeu a tocar s o z i n h o o n o v o i n s t r u m e n t o m u s i c a l , c o m a a j u d a d o Yo u t u b e . E s t a v a a b e r t o o

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c a m i n h o à n o v a a v e n t u r a experimental da banda.

Da prática à inovação

L i c e n c i a d o e m E d u c a ç ã o Musical pelo Instituto Politécnico de Macau, Bruce Pun rumou a França, em 2004, para estudar g u i t a r r a c l á s s i c a n a É c o l e Normale de Musique de Paris. “Todos os Verões, voltava a Macau para dar aulas a alguns alunos ou participar nalguns espectáculos. Basicamente, queria tocar o que aprendia em Paris”, explica, adiantando que a primeira formação dos

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Experience, há cerca de dez a n o s , s u r g i u p r e c i s a m e n t e d e s s a i n t e n ç ã o , r e u n i n d o , assim, alguns dos seus alunos. A experiência, diz, arrancou num estilo mais rock – com direito a presença no festival Hush! de Macau – e foi ganhando algumas influências latinas.

Depois de regressar à RAEM e m 2 0 0 9 , j á c o n c l u í d o s o s estudos em Paris, o compositor chamou outros dos seus pupilos e d e u u m n o v o f ô l e g o a o p r o j e c t o E x p e r i e n c e . H o j e , além de Bruce Pun na voz e guitarra portuguesa, a banda é

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composta por John, na guitarra eléctrica, Kelvin, no baixo, e Billy, na bateria.

A nova aposta de Bruce Pun, que vai no sentido de “misturar música portuguesa com letra em cantonês”, surpreendeu, mas também agradou. “Nunca t i n h a o u v i d o e s t a g u i t a r r a [portuguesa] antes, porque s e m p r e v i v i e m M a c a u e nunca fui a Portugal. Para mim, e r a u m a i d e i a n o v a . A c h e i fantástico”, comenta Kelvin, de 24 anos.

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É n o e s t ú d i o m o n t a d o n o apartamento da família de Bruce Pun – também fundador d a e d i t o r a m u s i c a l A U M Publishing – que os Experience e n s a i a m u m a a d u a s v e z e s por semana. Foi também aqui que, depois do EP Now Peace, a banda conseguiu gravar e produzir o seu primeiro álbum, Experience of Experience, de que faz parte My Fado. Segundo o professor de guitarra clássica e guitarra eléctrica, My Fado, premiada no ano passado num concurso lançado pela TDM – Teledifusão de Macau, fala

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sobre a necessidade de “nos concentrarmos no que temos, de laisser tomber” o que não importa.

A mistura de influências é de resto notória noutras faixas do álbum de originais, como a número três. Os ritmos latinos de

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La Experiencia tocam-se num diálogo entre a guitarra clássica e a eléctrica, numa música cantada em espanhol – apesar de não dominar a língua, a letra foi escrita pelo próprio Bruce Pun, que para tal se socorreu de um livro e do Google Translate. “La Experencia fala no facto de a vida ser uma experiência. Quando deixarmos este mundo, o nosso corpo desaparecerá, mas a experiência continuará viva”, explica o compositor, músico e vocalista, actualmente a dar aulas no Conservatório de Música de Macau.

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Do álbum, lançado em 2014, fazem parte também músicas cantadas em mandarim, como Copy Beats, que traduz “uma crítica” a todos aqueles que “querem apenas copiar” os outros, ou Human Hero, sobre como “o mundo precisa de heróis” e eles “não existem apenas nos livros de banda desenhada”.

“Há heróis em todo o lado”, e x p l i c a B r u c e P u n . “ B a s t a h a v e r q u e m a s s u m a u m a posição”. O compositor afasta a ideia apontada por muitos de que Human Hero tem uma

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conotação política, garantindo que o que se pretende transmitir é mais a ideia da necessidade de interajuda. “Também adoro o Bob Marley e ele tinha uma conotação política, mas eu gosto mais da mensagem de paz e amor.”

O álbum de nove faixas – cuja maior parte das letras foi escrita pelo irmão de Bruce Pun – fecha com um instrumental. God Oil, explica o mentor do projecto, r e s u l t a d e u m “ i m p r o v i s o ” . C h a m a d a “ a v i a g e m d o e s p í r i t o ” e m c a n t o n ê s , a m ú s i c a , q u e n o s t r a n s p o r t a

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para um universo enigmático, é m a i s u m a i n i c i a t i v a “experimental” do artista, que admite querer “sempre tentar coisas diferentes”. Neste caso, é a Mongólia que serve de inspiração: lá para os lados do Centre Pompidou, em Paris, havia um mongol que tocava um dos instrumentos típicos do seu país; Bruce Pun gostou da sonoridade e decidiu incorporar esse tipo de elementos em mais uma das suas composições.

Criado no seio de uma família católica, Bruce Pun admite que, aqui e ali, “talvez haja, de facto,

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alguma influência” religiosa nas suas composições – “quando me sinto em baixo, leio a Bíblia”, confessa. No entanto, esclarece que também já leu muito sobre taoismo quando estava em Paris e a sua abordagem perante a religião é semelhante à que faz da música: “Penso sempre que não existe religião. Eu quero misturar as religiões, tal como faço com a música. Porque, no fundo, [as religiões] são muitas, mas são a mesma coisa. Eu quero descobrir qual é o ponto comum.” Uma resposta que ainda não encontrou.

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O futuro

B r u c e P u n é o ú n i c o d o s elementos dos Experience que faz da música a sua profissão. Kelvin trabalha na área das vendas e quer fazer música apenas a tempo parcial. Billy, 17 anos, o mais novo do grupo, é estudante do ensino secundário e não sabe ainda o que esperar do futuro. Para já, uma coisa

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é c e r t a : o s E x p e r i e n c e v ã o apalpando terreno, a pouco e pouco.

C o m v á r i a s a c t u a ç õ e s e m Macau, Zhuhai e Hong Kong, o s E x p e r i e n c e l a n ç a r a m r e c e n t e m e n t e o s e u á l b u m no iTunes e entraram também no mercado de Taiwan. Em Macau, o número das vendas “é segredo”, mas Bruce Pun mostra-se satisfeito.

Membro do projecto Macau Jazz Experience, que conta com a presença de músicos portugueses, Bruce Pun, hoje

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c o m 3 3 a n o s , n ã o e s q u e c e a s d i f i c u l d a d e s q u e s e n t i a q u a n d o e r a m a i s j o v e m e lamenta que existam poucos espaços para os adolescentes de Macau tocarem. “Não há apoios suficientes (...). É preciso haver oportunidades para os jovens actuarem. Por exemplo, podia haver um clube para uma jam session, mas não há locais grandes o suficientes”, lamenta, acrescentando que o cenário contrasta com o de Taiwan, por exemplo, onde há muitos espaços para os jovens actuarem.

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O líder dos Experience, que j á c o m p ô s m ú s i c a p a r a p e r f o r m a n c e s a r t í s t i c a s e participou por diversas vezes no Festival de Artes de Macau, garante estar aberto a novas experiências no futuro. “Por exemplo, misturar elementos da música portuguesa com a ó p e r a c h i n e s a . ” P a r a j á , concentra-se em desenvolver a mestria da guitarra portuguesa e espera encontrar, em breve, um vocalista que cante fado.

Referências

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