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CLASSIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE EDIFICAÇÃO DE ACORDO COM O TIPO DE USO NO BAIRRO DE SANTA FELICIDADE (CURITIBA PR)

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CLASSIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE EDIFICAÇÃO DE ACORDO COM O TIPO DE USO NO BAIRRO DE SANTA FELICIDADE (CURITIBA – PR)

Bolsista CNPq Anderson Luiz Godinho Belem – UFPR – algb.geog@ufpr.br Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR – nucci@ufpr.br

Resumo

Com base na Ecologia da Paisagem e considerando-se como temática central a qualidade ambiental urbana, a pesquisa discute e aplica, no bairro de Santa Felicidade (Curitiba/PR), um sistema de classificação para os Espaços Livres de Edificação (ELE), pois é, principalmente, nessa categoria de espaço que se encontram os elementos que podem contribuir com a qualidade ambiental urbana, tais como a presença da vegetação ou de solos permeáveis, por exemplo. Deve-se, entretanto, considerar a possibilidade desses espaços fornecerem opções para a recreação (ativa e/ou passiva) e, de preferência, em contato com a natureza. Sendo assim, a classificação aplicada foi baseada na possibilidade de uso/acesso pela população aos ELE. Foram considerados os usos: público, potencialmente coletivo ou privado. A análise final se deu quanto à quantidade e qualidade da oferta de infra-estrutura para recreação e, ainda, quanto à existência de vegetação o que poderia favorecer uma recreação em contato com a natureza. Para o mapeamento foram utilizadas a base cartográfica concedida pelo IPPUC (2000, escala 1:10.000) e fotografias aéreas adquiridas também no IPPUC (vôo de 2000, escala 1:8.000), além de trabalhos de verificação em campo. Observando-se a área total do bairro de 12,17 km², e uma população de 25.209 habitantes (CURITIBA, 2004), foram encontrados os seguintes resultados: ELE de uso privado (34,94%; 4,3 km²; 171,6 m²/hab), ELE de uso público (11,72%; 1,4 km²; 55,5 m²/hab) e ELE de uso potencialmente coletivo (0,09%; 0,01 km²; 0,4 m²/hab), assim totalizando 46,75% (5,7km²; 227,5 m²/hab) de ELE no bairro. Também foi possível verificar que os ELE de uso público estão mal distribuídos, concentrando-se a Sudeste e Leste do bairro. Concluiu-concentrando-se, portanto, que no bairro de Santa Felicidade prevalece o caráter de uso privado para os ELE e que os Espaços Livres de uso público estão concentrados em determinadas áreas do bairro o que compromete a acessibilidade da população.

Palavras Chave: Espaços Livres de Edificação, Qualidade Ambiental Urbana, Ecologia da Paisagem

Abstract

To base on knowledge of Landscape Ecology and considering environmental quality as central theme, that research discuss and apply, on Santa Felicidade district (Curitiba/PR), a classification system to the Open Builted Spaces, because, mainly, in which space category meet elements to can contribute with the environmental quality, as like vegetation appearance or permeable soil, for example. Have, however, consider the possibility of that spaces provide options to recreation (active and/or passive) and, preferentially, in contact with nature. So, the applied classification was based in the possibility of use/access of the Open Builted Spaces, for the population. Was considering the uses: public, potentially public and private. The final analysis has been by a quantity and quality of provision infrastructure for recreation and, still, about the existence of vegetation what could promote a recreation in contact with nature. For the mapping was used IPPUC cartography dates (2000, 1:10.000 scale) and photographs (flighty 2000, 1:8.000 scale) though fieldwork to check. Considering total area of that district 12,17 km² and a population of 25.209 inhabitants (CURITIBA, 2004), the following results were found: Open Builted Spaces of private use (34,94%; 4,3 km²; 171,6 m²/hab), Open Builted Spaces of public use (11,72%; 1,4 km²; 55,5 m²/hab) and Open Builted Spaces potentially public (0,09%; 0,01 km²; 0,4 m²/hab), totaliting 46,75% (5,7km²; 227,5 m²/hab) of Open Builted Spaces on district. It was also observed that Open Builted Espace for public use was poorly distributed, concentrating in Southeast and East of the district. It was, so, on the Santa Felicidade district prevails Open Builted Spaces for private use and the Open Builted Spaces for public use is concentration on some regions of the district which compromises the accessibility of the population.

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Introdução

As questões sobre a qualidade ambiental na cidade se tornaram de extrema importância, pois, se relacionam diretamente com as obras que são realizadas para o funcionamento das mesmas e ainda com a disponibilidade cada vez menor de recursos naturais, o que gera problemas inclusive para a saúde da população.

Nesse sentido Freitas (2002) expõe que dentre os motivos para o fracasso de empreendimentos habitacionais de interesse social, estão: a falta de estudos sobre o meio físico e ausência de medidas mitigadoras de erosões, assoreamento, drenagem, etc.

O ser humano para seu desenvolvimento, como não poderia ser diferente, utiliza-se dos recursos naturais. Entretanto como afirma Souza-Lima (2006) os aspectos econômicos sobrepõem as reais necessidades de utilização daqueles recursos pela sociedade o que agrava a crise ambiental existente no mundo.

Palomo (2003) comenta o fato de o atual modelo de urbanização estar próximo de superar a capacidade limite do meio o que pode acarretar diversos problemas sócio-ambientais. O mesmo autor comenta ainda da necessidade de “oficializar la naturaleza, que ha estado casi siempre en la clandestinidad, en la ciudad” (PALOMO, op cit.) promovendo a qualidade ambiental e consequentemente atingindo de maneira positiva o ser humano.

No caso da saúde pública, a ausência de qualidade ambiental urbana influencia na geração e intensificação de problemas, dentre eles os respiratórios. Bueno et al (2007) afirmam que, na cidade de Santa Gertrudes-SP, houve aumento dos casos de doenças respiratórias associadas à intensificação das atividades industriais (cerâmicas). Do mesmo modo ocorre em Araucária (Região Metropolitana de Curitiba), aonde os níveis de poluição chegam a ficar próximos dos limites do Padrão de Qualidade do Ar o que segundo Souza (2007) “compromete a saúde e o bem estar da população especialmente por seus efeitos cumulativos”.

A presença da vegetação é outra condicionante de qualidade para o meio urbano, pois, como citam inúmeros autores (LUCAS et al, 2008; MASCARÓ, 2004; MAGALHÃES e CRISPIN, 2003; NUCCI, 1999 entre outros), ela favorece a boa qualidade do ar, atenua a poluição sonora e visual, auxilia no equilíbrio da umidade do ar e da temperatura, serve às atividades humanas entre muitas outras vantagens.

A qualidade ambiental nas cidades é, portanto, uma necessidade humana, no entanto o planejamento urbano atual acaba por considerar os fatores econômicos como os de maior importância para a tomada de decisão deixando outras questões, como a ambiental, em segundo plano.

O planejamento urbano atual procura evidenciar as questões ambientais na fase de diagnóstico, entretanto, no momento da tomada de decisão nem todos os aspectos estudados são considerados

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(NUCCI et al, 2003), ou “(...) as medidas de planejamento sugeridas são paliativas e adeptas do populismo, não atingindo as causas da degradação ambiental (...)” como comentam Moura e Nucci (2005).

Nesse sentido Souza (2001), sobre a reformulação urbanística ocorrida em Salvador-BA para tornar a cidade um pólo turístico, comenta que apesar do aporte de investimentos, os benefícios ficaram restritos às áreas com importância turística da cidade. Afirma ainda que: “Miséria, violência, ambiente precário e turismo não são ingredientes que se conjuguem numa cidade que pretenda ‘vender’ serviços e ambientes”; e no que se refere aos destinos dos investimentos a autora comenta que:

Em relação à qualidade dos espaços públicos e tratamento de áreas verdes, praticamente não foram verificados avanços qualitativos – como plantio de árvores, cuidados com a paisagem natural, recomposição de áreas verdes e fortalecimento de espaços abertos – seja para a comunidade local, seja para a população em geral. (SOUZA, 2001)

Apesar do planejamento geralmente não considerar o meio físico na tomada de decisão, o Estado brasileiro tem tomado iniciativas para institucionalizar e regular o tema, como se percebe na Lei Federal n° 10.257, o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001).

No artigo 2° inc. I o Estatuto trata do direito da população às cidades sustentáveis chamando a atenção para a existência de áreas de lazer públicas, dentre outros fatores. No artigo 26° nas disposições sobre o direito de preempção considera-se que este será exercido sempre que o poder público necessitar de áreas para dentre outros motivos: implantação de equipamentos urbanos e comunitários, criação de espaços públicos e de lazer.

Percebe-se uma aproximação entre a existência de espaços livres de edificação públicos e a existência de áreas de lazer também públicas. Segundo Cavalheiro e Del Picchia (1992) “pode-se dizer que os espaços livres desempenham, basicamente, papel ecológico, no amplo sentido integrador de espaços diferentes baseando-se, tanto no enfoque estético, como ecológico e de oferta de áreas para o desempenho de lazer ao ar livre”.

Freitas (2002) comenta que o planejamento deve priorizar as necessidades humanas de “infra-estrutura e espaços públicos de lazer, sem esquecer da qualidade ambiental”. Lucas et al (2008) afirma que o empobrecimento da paisagem pela degradação das áreas verdes e diminuição de suas opções de áreas públicas de lazer afeta não apenas o ambiente como também a qualidade de vida.

No entanto, existem problemas relacionados aos conceitos adotados no planejamento dos espaços urbanos. Os próprios órgãos de planejamento e relacionados ao ordenamento urbano muitas vezes não têm consenso sobre a terminologia a ser adotada e por vezes não explicitam qual é a definição exata dos termos utilizados. Com intuito de colaborar para a atenuação deste problema Lima et al (1994) e Cavalheiro et al (1999) trabalharam a definição de alguns conceitos, como: cobertura vegetal, espaços livres e áreas verdes.

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Cabe ressaltar que mais importante que uma padronização em si dos termos a serem utilizados no espaço urbano, é fundamental que estes venham acompanhados de uma definição clara e de fácil entendimento, além de especificar o método de coleta e análise dos dados, e escala de trabalho. Nesse sentido Nucci (2001) atenta para o caso de Vitória-ES:

(...) dizer que a cidade de Vitória (ES) tem 95,55m²/hab de área verde é fato que causa grande espanto. Uma análise mais aprofundada nos mostra que 35,31m²/hab são Unidades de Conservação, 55,27m²/hab são áreas verdes particulares, 2,88m²/hab são arborização de rua, e sobram, portanto, apenas 2,09m²/hab de áreas verdes públicas que englobam praças, trevos/canteiros, alamedas e calçadões. (NUCCI, 2001)

Buccheri Filho e Nucci (2006) ressaltam o mesmo problema em Curitiba-PR, onde o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) apresentam um dado de 12.086,47 m² de área verde para o bairro do Alto da XV, porém tal dado não é acompanhado pela definição e nem pelos métodos de trabalho o que inviabiliza a comparação com o índice de 7.902,4 m² de áreas verdes encontrado na pesquisa dos referidos autores.

Cabe ressaltar que apesar da potencialidade dos Espaços Livres de Edificação (ELE) para a implantação ou conservação de algum tipo de cobertura e uso que remeta a qualidade ambiental, isso não significa necessariamente que todos os ELE exerçam essa função, pois no mapeamento de tais espaços podem ser incluídas áreas com superfícies impermeabilizadas e sem vegetação, comprometendo a função ecológica desses espaços.

À medida que se deseja que um planejamento urbano contemple as questões ambientais na tomada de decisão cria-se a necessidade da utilização de conceitos previamente detalhados para que a análise da qualidade ambiental existente possa ser realizada e seja passível de comparações entre cidades e bairros.

Com a finalidade de colaborar com as pesquisas que vêm sendo realizadas no âmbito do Planejamento da Paisagem urbana considerando o meio físico, este trabalho busca a classificação, quantificação e análise espacial dos Espaços Livres de Edificação, entendendo que essa categoria de espaço urbano proporciona as melhores condições para o lazer em contato com a natureza, entre outras características que possam favorecer as funções ecológicas e estéticas no meio urbano.

O estudo fora realizado no bairro de Santa Felicidade (figura 1) pertencente ao município de Curitiba (Paraná). O bairro foi escolhido para os estudos devido a sua grande diversidade de paisagens, o que proporciona uma condição interessante para estudos que trabalham a qualidade ambiental urbana, sob o escopo do Planejamento da Paisagem.

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Figura 1 – Localização da área de Estudo

Com base em alguns trabalhos que discutem e propõem critérios de classificação dos Espaços Livres de Edificação para o Brasil (CAVALHEIRO, 1982; CAVALHEIRO e DEL PICCHIA, 1992; LIMA et al., 1994; CAVALHEIRO et al., 1999; NUCCI, 2008) buscou-se como objetivo central propor um sistema de classificação para esta categoria de espaço, levando-se em consideração o tipo de uso, se público, potencialmente coletivo ou privado, a presença de infra-estrutura para o lazer e a presença de vegetação.

Nessa perspectiva o trabalho vislumbrou:

- Classificar, mapear e quantificar os Espaços Livres de Edificação de acordo com o tipo de uso: uso público, uso potencialmente coletivo ou uso privado;

- Classificar, mapear e quantificar os Espaços Livres de Edificação de uso público de acordo com a presença de infra-estrutura para o lazer;

- Classificar, mapear e quantificar os Espaços Livres de Edificação de uso público conforme a presença de vegetação;

- Classificar, mapear e quantificar os Espaços Livres de Edificação de uso público, com infra-estrutura para o lazer e com possibilidades de contato com vegetação;

Materiais e Métodos

A discussão do termo base para esta pesquisa vai ao encontro de Cavalheiro e Del Picchia (1992) que consideram os espaços livres como um conceito abrangente onde podem estar inseridas desde parques e praças até águas superficiais e áreas impermeabilizadas. Segundo Gröning (1976,

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apud LIMA et al, 1994) tais espaços podem ser públicos ou privados. Adicionando-se ao conceito de Espaços Livres supracitado está o termo ‘Edificação’, devido à necessidade de enfatizar a inexistência de qualquer tipo de estrutura com pelo menos um pavimento evitando assim confusões com o termo ‘Construção’ pois este pode ser relacionado à quadras esportivas, estátuas, pequenos monumentos, pontes, entre outros tipos de construções que não acarretam os efeitos que uma edificação com um ou mais pavimentos causaria.

A parte técnica da pesquisa utilizou o software ArcView 3.2 e métodos de cartografia digital. A base cartográfica utilizada (arruamento, topografia e limite) foi a do IPPUC (2000) e em escala 1:30.000.

Realizou-se fotointerpretação sem auxílio de estereoscopia do mosaico de fotografias aéreas da área de estudo (escala 1:8.000, do ano de 2000 pertencentes ao acervo do IPPUC). Foram realizados trabalhos de campo para especificar os tipos de usos dos Espaços Livres de Edificação. Desta maneira produziram-se:

 Carta dos tipos de uso dos ELE: uso público, potencialmente coletivo ou privado;

 Carta dos ELE de uso público, com base na infra-estrutura de lazer (passivo ou ativo). Observou-se a presença de quadras esportivas, bancos, equipamentos de lazer infantil (gangorra, trepa-trepa, balanças, etc);

 Carta dos ELE de uso público, com base na existência de vegetação. O termo vegetação é empregado e verificado como todo fragmento vegetal agrupado, sendo espécies: arbóreas, arbustivas ou herbáceas;

 Carta dos ELE e de uso público com presença de vegetação e infra-estrutura de lazer.

Após a produção e correção das cartas foram calculadas as porcentagens de cada categoria de Espaço Livre de Edificação e também o índice dos diferentes espaços (m²) por habitante utilizando os dados populacionais da Prefeitura (CURITIBA, 2004).

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Figura 2 – Fluxograma de procedimentos

Resultados e Discussões

O bairro de Santa Felicidade apresentou índice de Espaços Livres de Edificação em torno de 47%, o que pode ser considerado bom se comparado com outros bairros de Curitiba e de São Paulo (Tabela 1).

Tabela 1 – Comparação entre tipos de espaços em diferentes bairros

Espaços Distrito de Santa Cecília¹ (%) Bairro Alto da XV² (%) Bairro Bacacheri³ (%) Bairro Santa Felicidade4 (%) Não Edificados 2 18 30 47 Edificados + Sistema Viário 98 82 60 53

Fonte: ¹Nucci (1996, 2001), ² Buccheri Filho e Nucci (2006), ³ Pivetta et al (2005) 4 e Belem e Nucci (2008).

Org.: Anderson L.G. Belem, 2009.

Na Alemanha, como mostra Nucci (2001), há discussões a respeito da importância da divisão espacial urbana visando a qualidade ambiental. Sugerem-se valores de 40% para espaços construídos, 20% para o sistema viário e 40% para espaços livres de construção. Assim, o bairro de Santa Felicidade, com 47% de Espaços Livres, apresenta-se em concordância com as indicações dos setores

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de planejamento das cidades alemãs, porém, uma análise mais acurada mostrou que esses espaços não apresentam qualidade suficiente para o lazer da população, como pode ser observado a seguir.

Espaços Livres de Edificação quanto ao tipo de uso

Considerou-se como ELE de uso público, os espaços livres que permitiam acesso irrestrito pela comunidade, ou seja, espaços que mesmo sendo de propriedade privada ou pública forneciam possibilidades para o uso direto e sem grandes restrições pela comunidade do bairro.

Considerou-se como ELE de uso potencialmente coletivo aqueles espaços cujo acesso é restrito a determinados horários ou eventos como, por exemplo, escolas públicas estaduais e municipais, e o “Bosque São Cristóvão”, que apesar de ser um Parque Municipal e possuir infra-estrutura como mesas, galpão de eventos, árvores e relvados, encontra-se sempre fechado sendo utilizado apenas para eventos específicos da comunidade em conjunto com a Prefeitura.

Outro ELE de uso potencialmente coletivo é parte da “Rua da Cidadania” existente no bairro. Além de infra-estrutura de lazer tanto ativo como passivo existe ainda alguma vegetação nas áreas de lazer passivo. Ressaltando que tal espaço é um centro de serviços e lazer da prefeitura que contém edificações e coberturas o que descaracterizam sua classificação como ELE, restando apenas algumas áreas realmente livres de edificação, no entanto a área como um todo tem um funcionamento restrito aos horários estabelecidos pela prefeitura.

No entanto, a maioria dos Espaços Livres de Edificação existentes no bairro é de uso privado (quase 35% da área total do bairro), significando uma acessibilidade restrita aos seus proprietários. (Tabela 2)

Tabela 2 – Espaços Livres de Edificação do bairro de Santa Felicidade, de acordo com o tipo uso.

Tipo de Uso Área

(km²)

Área

(% do total do bairro)

Área por habitante (m²/hab) Público 1,40 11,72 55,50 Potencialmente Coletivo 0,01 0,09 0,40 Privado 4,30 34,94 171,60 Total 5,71 46,75 227,50

Org.: Anderson L.G. Belem, 2009

No que se refere a distribuição dos ELE de uso público existe um déficit nas porções Centro-Oeste e Norte do bairro, sendo esta última ocupada por pequenas propriedades rurais e loteamentos. À Oeste a situação difere pela presença de condomínios fechados. Na região centro-oeste a maior parte da população mora em residências convencionais e tem a sua disposição apenas a Praça ‘Piazza San Marco’. (Figura 3)

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Assim, constata-se que apesar da existência no bairro de uma boa quantidade de Espaços Livres de Edificação (47% da área total do bairro) e razoavelmente bem distribuídos, apenas 12% (aproximadamente) são de uso público e com uma distribuição não homogênea. Portanto, pode-se concluir que os ELE do bairro estão exercendo suas funções ecológicas, mas estão devendo quando se trata de suas funções recreativas, por restringirem o acesso livre da população.

Figura 3 – Carta dos Espaços Livres de Edificação de acordo com o tipo de uso.

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Analisando os ELE de uso público existentes no bairro percebeu-se que na maior parte não há infra-estrutura para utilização da população seja com recreação ativa (como prática de esportes, brincadeiras e atividades físicas), seja com recreação passiva (bancos para leitura e para descanso, espaços para relaxar, etc).

Conforme o mapeamento realizado encontrou-se apenas 0,00563 km² de ELE de uso público com infra-estrutura de lazer implantada, ou seja, 0,04% da área do bairro. Isso significa que existem apenas 0,22 m²/hab desta categoria de ELE.

Observa-se, na Figura 4, que esses ELE de uso público com infra-estrutura estão distribuídos em uma disposição Norte-Sul, no entanto nas regiões Nordeste, Leste e Sudeste, bem como Oeste e Sul há um déficit bastante grande de áreas com alguma infra-estrutura de lazer.

Os ELE de uso público sem infra-estrutura são espaços onde prevalece vegetação arbórea, sendo que não existe infra-estrutura evidente representando áreas com poucas possibilidades de serem utilizadas devido a sua condição estrutural. Por outro viés, tais espaços significam espaços com presença de vegetação de porte arbóreo que ainda existe no bairro e todas as vantagens que isto pode favorecer para uma boa qualidade do ambiente.

Conclui-se, portanto, que os Espaços Livres de Edificação, de uso público com infra-estrutura para o lazer estão muito mal distribuídos no bairro e apresentam valores muito baixos, ocupando apenas 0,04% da área total do bairro.

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Figura 4 – Carta dos Espaços Livres de Edificação e de uso público com presença de infra-estrutura para o lazer.

Espaços Livres de Edificação e de Uso Público quanto a presença de vegetação

Quando se trata da existência de vegetação há um aumento nos índices. Entretanto esta natureza existente aparece mal distribuída e sem infra-estrutura alguma como pode ser observado na figura 5.

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A maior mancha, encontrada a Centro-Norte, é composta por áreas entre pequenas chácaras e aparecem sem qualquer tipo de cerca. Já a Leste tem-se outra grande mancha que aparece em torno de um curso d’água (Rio Cascatinha). Ao Sul existe uma fragmentação maior, mas, as áreas que existem também estão próximas a cursos de água.

Desta forma tem-se como índice aproximadamente 0,13 km² que divididos pela população de 25.209 pessoas origina um índice de 5,16 m²/hab de ELE de uso público e com presença de vegetação e ocupando apenas 1,07% da área total do bairro.

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Espaços Livres de Edificação e de Uso Público quanto a infra-estrutura e presença de vegetação

Como produto final a figura 6 mostra os locais onde os Espaços Livres de Edificação de uso público contém ao mesmo tempo infra-estrutura para recreação ativa e/ou passiva e presença de vegetação.

Foram encontrados apenas três áreas com tais condições: Praça Recanto Itália (Rua Célia Salgueiro esquina com Rua José Risseto); Praça Piazza San Marco (Via Veneto esquina com Rua Santa Bertila) e Praça Antonio Bertoli (Rua João Reffo esquina com a Rua Alcides Darcanchy).

A Praça Recanto Itália, com 950m² apresenta brinquedos para crianças e uma quadra esportiva. Está localizada a margem de um pequeno rio e de um bosque composto por vegetação arbustiva. Há bancos de madeira e relvado para recreação passiva. Seu público está ligado a população da região ao Sul do Bairro.

A Praça Piazza de San Marco, com 310m², possui infra-estrutura para recreação passiva (relvado, sombra de árvores, bancos) e para recreação ativa (pista de skate). Sua localização é central e ao lado do terminal de ônibus da região. A praça apresenta área com vegetação herbácea e algumas espécies arbóreas isoladas.

A Praça Antonio Bertoli, é o maior ELE com 8430m² apresenta 5 quadras esportivas ao ar livre e 1 quadra coberta. A maior parte de sua área não é contemplada pela presença de vegetação, no entanto, existe um pequeno bosque ladeando a praça, com um pequeno trecho para caminhada passando ao lado do bosque.

Os Espaços Livres de Edificação, de uso público, com infra-estrutura para o lazer com possibilidades de contato com vegetação perfazem 0,08 % da área total do bairro, cerca de 0,969m². dividindo este índice pelo número de habitantes do bairro que é de 25.209 (CURITIBA,2004) chegam-se a 3,84 m²/hab., valores irrisórios que só conchegam-seguiriam fornecer possibilidades de recreação em contato com a natureza para parte da população que habita bem próximo a esses locais.

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Todos os resultados numéricos podem ser observados em conjunto na tabela 3.

Tabela 3 – Espaços Livres de Edificação do bairro de Santa Felicidade, Curitiba/PR. Espaço Livre de Edificação Área (km²) Área (% do total do bairro)

Área por habitante (m²/hab) Total 5,71 46,75 227,50 de uso público 1,40 11,72 55,50 de uso potencialmente coletivo 0,01 0,09 0,40 de uso privado 4,30 34,94 171,60

de uso público com

infra-estrutura 0,00563 0,04 0,22

de uso público com

vegetação 0,13 1,07 5,16

de uso público com infra-estrutura e

vegetação

0,000001 0,08 % 3,84

Área total do bairro de 12,17 km²; população de 25.209 habitantes (CURITIBA, 2004). Org.: Anderson L.G. Belem e João Carlos Nucci, 2009.

Conclusões

O bairro de Santa Felicidade apresenta uma condição aparentemente boa quando se analisam apenas os dados totais de Espaços Livres de Edificação, porém no momento em que se especificam as possibilidades de uso público destes espaços percebe-se uma redução brusca nos índices (de aprox. 47% para aprox. 12%), ou seja, a quantidade de espaços livres de edificação está certamente favorecendo uma boa qualidade ambiental no bairro, mas deixa muito a desejar na função recreativa para a comunidade destituída desse tipo de espaço dentro de suas pequenas propriedades.

Os Espaços Livres de Edificação que contem algum tipo de infra-estrutura somaram apenas 0,22 m²/habitante, o que comparado com Medeiros (1975) que, ao comentar sobre alguns princípios básicos para o planejamento urbano no que tange a recreação, afirma que o padrão mais comum seria o de 40m²/hab, torna-se um valor irrisório.

Quanto à presença de vegetação, concluiu-se que apenas 0,13 km² podem ser considerados ELE de uso público com possibilidades de contato com algum tipo de vegetação, ou seja, um índice de 5,16m²/hab, valor também muito baixo.

Ao se considerar a presença de infra-estrutura e de vegetação nos Espaços Livres de Edificação e de uso público, os valores despencaram para 0,08 %e 3,84 m²/hab.

Todos esses valores, associados às cartas com a distribuição espacial dos espaços livres, demonstram que a qualidade ambiental proporcionada pelos Espaços Livres de Edificação no bairro de

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Santa Felicidade encontra-se melhor distribuída junto aos espaços privados, principalmente, junto aos grandes condomínios horizontais que aos poucos estão ocupando o bairro.

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Referências

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