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Eixo temático: Cidades e Regiões Metropolitanas: a Geografia frente aos problemas ambientais urbanos.

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Academic year: 2021

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In: XII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, 2007, Natal. Natureza, Geotecnologias, Ética e Gestão do Território. Natal, 2007. v. 1. p. 1-15.

Eixo temático:

Cidades e Regiões Metropolitanas: a Geografia frente aos problemas ambientais urbanos.

CONSERVAÇÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO BAIRRO DE SANTA FELICIDADE – CURITIBA – PARANÁ

Angelita Rolim de Moura

Licenciada em Geografia (UFPR), Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.

João Carlos Nucci

Biólogo (IB – USP), Doutor em Geografia Física (DG – USP), Professor do Departamento de Geografia da UFPR.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURITIBA – PARANÁ

angemoura@gmail.com nucci@ufpr.br

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CONSERVAÇÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO BAIRRO DE SANTA FELICIDADE – CURITIBA – PARANÁ

Angelita Rolim de Moura1 João Carlos Nucci 2 Universidade Federal do Paraná

angemoura@gmail.com nucci@ufpr.br RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo verificar se o uso e ocupação de Santa Felicidade (Curitiba-PR) está de acordo com o Código Florestal Brasileiro, principalmente acerca das APPs (Áreas de Preservação Permanente). Quando a vegetação nativa cobre as APPs, ela traz uma serie de benefícios para o meio ambiente e vida humana. Os primeiros planos de informação cartográfica elaborados foram: limites da área, uso do solo (2000), rios e nascentes, curvas de nível, e hipsometria. Baseando-se no artigo segundo do Código Florestal, foram traçadas as APPs para nascentes, margens de rio e áreas com declividade superior a 25°. Para o Rio Cascatinha, em um determinado trecho, foi utilizada uma lei municipal. O mapeamento originou a Carta de Legislação, que foi sobreposta a Carta de Uso do Solo, resultando assim no Mapa de Conflitos, que mostra a localização dos usos incoerentes com a Legislação. O grau de conservação das APPs também foi avaliado, sendo caracterizado como de conservação máxima, relevante, parcial ou Mínima. O parâmetro tomado como definição de conservação é utilização racional de um recurso; neste caso dos recursos naturais do meio físico. Assim, foi possível concluir que muitas das APPs não foram e não estão sendo respeitadas durante o processo de ocupação do bairro. E, se essas ocupações em áreas indevidas, são legais, é porque o poder municipal permitiu isso, e por conseqüência contribuindo para diminuição da qualidade ambiental local – mais um exemplo de que o aumento da qualidade de vida de um pequeno grupo pode ocorrer em detrimento da qualidade ambiental da comunidade geral.

Palavras – Chave: Área de Preservação Permanente – Código Florestal – Santa Felicidade

INTRODUÇÃO

A partir da década de 70 surgiu com força no mundo uma consciência de proteção ambiental, justamente pelos problemas ambientais que afrontaram o poder das sociedades modernas. No Brasil a evolução das leis também veio abranger essa questão, tanto é que nosso atual Código Florestal remonta da década de 30, obviamente sofrendo interferências e ampliações ao longo do tempo.

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Licenciada em Geografia (UFPR), Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. 2

Biólogo (IB – USP), Doutor em Geografia Física (DG – USP), Professor do Departamento de Geografia da UFPR.

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As leis de forma geral são de fundamental importância para a regulação da vida em sociedade, para estipular limites, deveres e punições, e supostamente, como um instrumento da democracia. O Código Florestal Brasileiro tem logicamente algumas limitações, mas deve-se ressaltar a importância dele assim como de regulamentações como do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), como ferramentas que vem garantir um uso mais racional do meio pelos próprios governos e órgãos de planejamento, como também da população.

As exigências do Código Florestal brasileiro devem ser respeitadas mesmo nas áreas urbanizadas, apesar de ser enorme a dificuldade de aplicação nessas áreas.

Segundo Fernandes (2004),

(...) de acordo com dados oficiais, cerca de 80% da população total estão vivendo atualmente nas cidades. O modelo urbano-industrial intensivo e altamente predatório já provocou mudanças socioespaciais drásticas no Brasil, bem como conseqüências ambientais muito graves, cujos impactos e implicações podem ser tecnicamente comparadas aos efeitos de grandes catástrofes naturais que até hoje têm poupado o país

Uma das conseqüências desse modelo de crescimento é a fragmentação das massas contínuas de vegetação que, segundo Ângelo-Furlan (2000), pode trazer mudanças no microclima (temperatura e umidade relativa); perda de infiltração no solo; ressecamento do solo e diminuição da fertilidade; intensificação dos processos erosivos; mudanças na estrutura das florestas, diminuição na quantidade de populações da flora e fauna e em seu tamanho, perda de biodiversidade com extinções localizadas.

Em Santa Felicidade pode-se observar conseqüências graves do mau uso do solo e do não cumprimento da legislação; como o soterramento de nascentes, assoreamento e morte de rios, os quais passam a ser caracterizados e utilizados apenas como drenagem urbana.

Segundo Nucci (2001), é com base na vegetação que muitos problemas urbanos poderiam ser amenizados ou resolvidos e, assim a cobertura vegetal, tanto em termos qualitativos como quantitativos, e sua distribuição espacial, no ambiente urbano, deveria ser cuidadosamente considerada na avaliação de qualidade ambiental e planejamento da paisagem urbanizada.

Cabe ressaltar que a cobertura vegetal tem como funções:

“estabilização de determinadas superfícies, obstáculos contra o vento, proteção da qualidade da água, filtração do ar, equilíbrio do índice de umidade, diminuição da poeira em suspensão, redução dos ruídos,

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interação entre as atividades humanas e o meio ambiente, fornecimento de alimentos, proteção das nascentes e mananciais, organização e composição de espaços no desenvolvimento das atividades humanas, valorização visual e ornamental, segurança nas calçadas (verde de acompanhamento viário), recreação, quebra das monotonias das cidades, cores relaxantes, estabelecimento de uma escala intermediária entre a humana e a construída, caracterização e sinalização de espaços, etc”. (Cavalheiro e Nucci 1999)

A vegetação é um dos fatores determinantes para as rotas de fluxos de água e, conseqüentemente a evolução do relevo. Pois, as rotas preferenciais dos fluxos de água, superficiais, definem os mecanismos erosivo-deposicionais preponderantes e resultam da interação dos diversos fatores bióticos (flora e fauna), abiótico (clima, rocha, solo, e posição topográfica) e antrópicos (uso do solo), que compõem o respectivo ambiente de drenagem. Alterações na composição destes fatores podem induzir à modificações significativas na dinâmica espaço-temporal dos processos hidrológicos atuantes nas encostas e, conseqüentemente no trabalho geomorfológico.

A proteção que a cobertura vegetal proporciona ao solo, seja ela natural ou cultivada foi organizada por Ross (2004), e segue ilustrando a relevância de certos tipo de cobertura vegetal. Tabela 1.

GRAUS DE PROTEÇÃO TIPOS DE COBERTURA VEGETAL

1- Muito Alta Florestas/Matas naturais, Florestas cultivadas com biodiversidade.

2- Alta Formações arbustivas naturais com estrato herbáceo denso. Formações arbustivas densas (mata secundária densa, cerrado denso, capoeira densa). Mata homogênea de Pinus densa. Pastagens cultivadas sem pisoteio de gado, cultivo de longo ciclo como o cacau.

3- Média Cultivo de ciclo longo em curvas de nível/ terraceamento como café, laranja com forrageiras entre ruas. Pastagens com baixo pisoteio. Silvicultura de Eucaliptos com subbosque de nativas. 4- Baixa Culturas de ciclo longo de baixa densidade (café,

pimenta-do-reino, laranja) com solo exposto entre ruas, culturas de ciclo curto (arroz, trigo, feijão, milho, algodão) com cultivo em curvas de nível/ terraceamento.

5 – Muito Baixa a Nula Áreas desmatadas e queimadas recentemente, solo exposto por arado/ gradeação, solo exposto ao longo de caminhos e estradas, terraplanagens, culturas de ciclo curto sem praticas conservacionistas.

Tabela 1 - Graus de Proteção de acordo com o Tipo de Cobertura Vegetal Fonte: Ross, 1994. In: Cunha e Guerra (2004)

Para Guerra (1995 apud Cunha e Guerra, 1995), os processos erosivos nas encostas possuem alguns controladores, tais como: erosividade da chuva,

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propriedades do solo, características das encostas e cobertura vegetal. Este último é considerado o fator de maior importância nesse trabalho.

O Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 1965), em especifico os artigos segundo e décimo, estabelecem como Áreas de Preservação Permanente (APPs) as áreas em torno das nascentes, num raio de 50m; e ao longo das margens dos rios com menos de dez metros de largura, uma distancia de 30m para cada lado; bem como nas encostas com declividade superior a 45º. E, ainda nas áreas com declividade entre 25º e 45º, só são permitidas a extração de toros, em regime racional.

Sinteticamente, busca-se verificar se o uso e a ocupação existentes no bairro de Santa Felicidade (Curitiba/PR) estão de acordo com as exigências do Código Florestal Brasileiro (1965), principalmente, quanto às Áreas de Preservação Permanente (APPs) das nascentes, rede de drenagem e áreas de inclinação com mais de 25º.

A aplicação do Código Florestal em áreas urbanizadas vem mostrar a importância dos mecanismos legais de regulação da ocupação do solo. Bem como da importância da manutenção da cobertura vegetal, item indispensável à qualidade ambiental, especialmente em áreas urbanizadas.

METODOLOGIA

Para elaboração do trabalho foram utilizadas técnicas de SIG e de cartografia digital (software ArcView 3.2). Tendo como bases cartográficas material da SUDERHSA (2000), escala 1:30.000 e o mapeamento de cobertura vegetal obtida por MOURA & NUCCI, 2005, em escala 1:8.000.

Os primeiros planos cartográficos de informação (1:10.000) foram: • Os limites da área

• Uso do solo 2000 • Rede de drenagem • Nascentes

• Curvas de nível

• Modelo digital de elevação do terreno (Carta Hipsométrica) • Declividade.

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Partindo da carta de drenagem, foram delimitadas as APPs nas margens de rios e canais, bem como das nascentes. E, baseando-se na carta de declividade foram delimitadas as APPs em áreas com elevação entre 25 e 45º graus e acima de 45º. Resultando na Carta de Legislação Ambiental. Esta foi superposta à carta de Usos da Terra, e a partir da análise desse cruzamento chegou-se a Carta de Conflitos (Uso da Terra x Legislação).

O mapa de declividade apresenta seis classes adapatadas a partir de DE BIASI (1992). Tais classes além de demonstrar a declividade local, e a moviementação do relevo, possibilitam a aplicação do Artigo 2º e 10º do código florestal que impõe restrições quanto a valores de declividadesuperiores a 25°.

Fundamentando-se nos artigos 1º, 2º em especial, 10º e 16º do Código Florestal, foram delimitadas as Áreas de Preservação Permanente (APP), sendo elas:

• 50m ao redor das nascentes

• 30m nas margens da rede de drenagem e • Áreas com declividade entre 25 e 45º • Áreas com declividade superior a 45º.

Para o Rio Cascatinha, em determinado trecho utilizou-se os recuos exigidos pela Lei municipal 9.805/2000, que determina uma área de preservação de 40m (CURITIBA, 2004).

Art. 1º. Fica criado o Setor Especial do Anel de Conservação Sanitário Ambiental com a finalidade de incentivar e garantir o uso adequado das faixas de drenagem, bem como a manutenção das faixas de preservação permanente, visando o bom escoamento das águas superficiais, recuperação da mata ciliar e amenização dos problemas de enchente.

Art. 2º. O Setor Especial do Anel de Conservação Sanitário-Ambiental, será formado por espaços ao longo dos rios, córregos e arroios, compreendendo as faixas de preservação permanente e áreas contíguas, estas destinadas a implantação de sistema de circulação de veículos e pedestres, unidade de conservação ou áreas de uso publico, de acordo com projetos específicos:

(...)

XXVIII – no rio Cascatinha – faixa de 40,00, (quarenta metros), para cada lado do rio, a partir da margem, no trecho compreendido entre a Rua Ângelo Stival e o Rio Barigüi. CURITIBA (2004).

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Caracterização geral da área

O bairro de Santa Felicidade localiza-se na parte noroeste do município de Curitiba, capital do Estado do Paraná (Figura 1 – mapa de Localização). Trata-se de um bairro de colonização principalmente italiana e conhecido turisticamente por seus restaurantes. Teve seu início em 1878, quando a área foi comprada e passou a ser colonizada por quinze famílias italianas. Esses passaram a ali cultivar alguns itens de agricultura de subsistência, em especial o milho, que posteriormente passaram a ser comercializados dentro e fora da região. Em 1902 já estavam instaladas na colônia mais de 200 famílias dedicadas à agropecuária e às atividades comerciais e de prestação de serviços, como armazéns e ferrarias, bem como a fabricação de queijos e vinhos. Esta presença étnica foi determinante no processo de crescimento de Santa Felicidade, em sua urbanização e modo de vida.

Figura1 – Mapa de Localização de Santa Felicidade

Mapa: Eduardo Vedor de Paula, 2003. Org.: Angelita Rolim de Moura,2005 .

A Carta Base (Figura 2) mostra o arruamento do bairro, bem como a drenagem; assim é possível observar que muitos corpos hídricos estão em áreas bastante adensadas. Já a Carta das Curvas de Nível (Figura 3), Carta Hipsométrica (Figura 4) e a Carta de Declividade (Figura 5) permitem uma visualização do relevo da área, onde os trechos mais movimentados coincidem com a Formação do Complexo Gnáissico Migmatítico. O relevo condiciona a formação dos corpos hídricos, representados pela Carta de Drenagem (Figura 6), na qual se observa que

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a maioria dos canais desemboca no Rio Cascatinha (o único com nomenclatura oficial). A Carta de Uso da Terra (Figura 7) evidencia os tipos de uso encontrados no bairro, que variam desde área com cultura (áreas agrícolas) até área industrializada. Por meio dessas cartas pode-se contextualizar a variedade da paisagem do bairro de Santa Felicidade em sua extensão de aproximadamente 12 km².

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Figura 3

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Figura 5

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Figura 7

O mapeamento das APPs deu origem a Carta de Legislação que sobreposta à Carta de uso/ocupação da terra, resultou na Carta de Conflitos, ou seja, a localização dos usos e ocupações em Áreas de Preservação Permanente, que evidenciam incongruências no uso quanto à Lei. Onde há qualquer uso diferente de formação vegetal arbórea, arbustiva ou campo foram delimitadas as áreas de conflito.

A Carta de Conflitos permite localizar os pontos de uso conflitante coma a legislação, analisá-los, assim como suas conseqüências, e futuramente propor um planejamento efetivo para a área.

Segundo a lei 6.938, de 1981, “A unidade de conservação é um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.” Mas não aplicável para este trabalho, já que verifica APPs em árera urbanas, onde as unidades de conservação

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são ainda mais raras. Assim, o parametro tomado como definição de conservação é utilização racional de um recurso. Neste caso dos recursos naturais do meio físico.

Como ocupação, ficaram defnidos todos os usos que envolvam atividade humana, especialmente as áreas urbanizadas e/ou ocupadas por residências.

Foram estabelecidos parâmetros para avaliar o grau de conservação das APPs, sendo que o grau máximo de conservação, ou seja, Conservação Máxima, ocupada por floresta nativa, condiz com Preservação. Áreas com conservação próxima ao total, que ainda contém vegetação nativa, seja arbórea, arbustiva ou herbácea em sua maior parte foi definida como Conservação Relevante. Onde há vegetação nativa em menor parte da área, mas em que a cobertura vegetal ainda é relevante, e algum tipo de ocupação, como urbanização ou uso agrícola (incongruências com a legislação), definiu-se como Conservação Parcial. Em casos em que a urbanização toma conta da maior parte da área, quase sem resquícios de vegetação, denominou-se como Conservação Mínima.

O fluxograma a seguir vem sintetizar os procedimentos realizados na construção do presente trabalho

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Pesquisa Bibliográfica e Cartográfica Organização dos dados ArcVIew 3.2 Carta Base Cartas Temáticas Carta de Nascentes Carta de Drenagem Carta de Curvas de Nível Carta Hipsométrica Carta de Declividade Cartas de Legislação Cartas de Conflitos Análise do Mapeamento Resultados Trabalho de Campo Carta de Usos/Ocupação

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados partem do mapeamento realizado, basicamente da superposição da Carta de Legislação (Figura 8) com a Carta de Usos, o que resultou na Carta de Conflitos (Figura 9). Tais conflitos são descritos a seguir, de acordo com sua localização.

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Quanto às nascentes

Das 102 nascentes mapeadas 20 se apresentam em Grau de Conservação

Parcial. E outras sete com pequenas alterações, geralmente com vegetação -

Floresta Ombrófila Mista (FOM) em variados estágios de sucessão, como Grau de

Conservação Parcial. As 75 outras restantes apresentam degradação intensa, quase

que na totalidade do raio de 50m estipulado pela Lei; sendo por esse motivo consideradas como Grau de Conservação Mínima.

No mapeamento foi evidenciado que muitas nascentes têm sido soterradas por loteamentos, comprometendo o fluxo de águas superficiais; não somente do próprio canal, mas de vários como o caso do rio Cascatinha.

A nascente do Rio Cascatinha (Figura 10) encontra-se na parte noroeste do bairro, vários trechos do rio foram visitados, onde foram encontrados diversos conflitos entre o que a Legislação estipula o uso e a ocupação existente, que são representados na Carta de Conflitos. A nascente do Cascatinha encontra-se em estado de Conservação Mínima, está dentro de um lote, um terreno que possui

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pouca vegetação e recebe esgoto de casas vizinhas. Mas, ainda são encontradas nascentes onde a vegetação em estágio médio de regeneração protege as nascentes de afluentes do Rio Cascatinha, Grau de Conservação Relevante.

Figura 10 – Nascente do Rio Cascatinha

Grau de Conservação Mínima

Foto: Simone Valaski, 2006.

Na Rua Fernando C. de Azevedo são localizados vários pontos de nascentes (Figura 11), há uma série de casas que estão sobre essas áreas, um conflito - que, no entanto não parece tão prejudicial, especialmente pelas características do relevo, plano, onde o escoamento superficial parece acontecer sem muitas alterações. Essa ocupação parece possível, mas devem ser avaliadas as conseqüências dela. Der acordo com a lei deveria ser uma APP, entretanto vista a ocupação que ali se dá, pode-se dizer que esta é também uma área com Grau de

Conservação Mínima.

Figura 11 – Rua Fernando Azevedo – Nascentes? Grau de Conservação Minima

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Quanto à rede de drenagem

O rio Cascatinha, o principal do bairro (tanto pela hierarquia fluvial como para os moradores), é abastecido por canais de primeira a quarta ordem, sendo ele de quinta ordem. Dividiu-se o trecho em que ele se encontra em Santa Felicidade em três partes, para avaliar melhor seu grau de Conservação. No terço superior, já a partir da nascente a degradação é muito intensa, especialmente pela urbanização e loteamentos no local; constatou-se que esse trecho apresenta Grau de Conservação

Mínima, com muita poluição. Os terços médio e inferior apresentam Grau de Conservação Parcial, mas ainda com poluição e lixo sólido; o que pode ser

demonstrado nos mapas-índice.

Na Praça do Jardim Pinheiros, observa-se o Rio Cascatinha a margeando (Figura 12), na margem direita do rio, observa-se Floresta Ombrófila Mista (FOM) em estágio inicial de sucessão, dentro da praça; já na margem esquerda a preservação é maior, com vegetação mais desenvolvida, com Grau de Conservação Relevante. Logo a seguir, tem-se um conflito bastante representativo, pois o rio está entre a rua e lotes de moradia, com as casas às suas margens, totalmente contraditório à lei (Figura 13), Grau de Conservação Mínima.

Figura 12 – Praça do Jardim Pinheiros Grau de Conservação Relevante

Foto: Simone Valaski, 2006.

Figura 13 – Moradia X Rio Grau de Conservação Mínima Foto: Angelita Rolim de Moura, 2006.

No terço inferior o rio passa por um trecho bastante alterado, pela ocupação, como também pelo seu represamento em um dos restaurantes da Avenida Manoel Ribas (Famosa pelo setor gastronômico - Figura 14). Este fato altera a dinâmica do rio, assim como tantas outras alterações à montante e juzante. Apesar da beleza cênica, o mau cheiro reflete a poluição e degradação não só do

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Rio Cascatinha, mas de todos os corpos hídricos do bairro, que apresentam suas margens supostamente destinadas à APPs, bem como nascentes sendo degradadas pelo uso incorreto promovido pela especulação mobiliária, permitida no bairro.

De modo geral os rios e canais a norte do Rio Cascatinha apresentam-se mais conservadas sendo avaliados como de Grau de Conservação Relevante à

Parcial. Já ao sul do Rio Cascatinha eles apresentam-se com Grau de Conservação Parcial à Máxima.

Quanto a declividade

Grande parte da área de Santa Felicidade possui declividade abaixo de 25º, contudo, pontos que variam de entre 25 a 45º, e acima de 45º encontram-se distribuídos pelo bairro especialmente na parte sul e centro-oeste,como pode ser observado na Carta de Declividade, e em especial onde ocorre a formação geológica do Complexo Gnáissico Migmatítico.

A maioria dos pontos resultantes se encontram dentro das APPs da margem de rios e nascentes, provavelmente dos processos erosivos desencadeados pelos rios. Todavia, existem pontos fora das APPs das margens de rios e nascentes que devem ser preservadas, como limita o Código Florestal, nas áreas entre 25 e 45º só é permitido a extração de toras, sem desmatamento. O que não é respeitado na prática, a maior parte desses pontos encontra-se em área totalmente urbanizada (Figura 15).

Figura 14 – Alterações antrópicas no Rio Cascatinha

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Figura 15 – Ocupação em área restrita pela declividade superior a 25º

Foto: Simone Valaski, 2006.

A áreas com as já citadas variações em graus que apresentam conflito de uso, por serem determinadas como APP estão representadas na Carta de Conflitos, juntamente com as os pontos de conflitos encontrados nas APPs da rede de drenagem e nascentes.

Partindo da Carta de Legislação Ambiental, foram averiguadas as supostas áreas de preservação permanente, comparando com os usos demonstrados na Carta de Uso, resultando na Carta de Conflitos.

Verificou-se que o Código Florestal Brasileiro não tem sido cumprido no bairro de Santa Felicidade. A legislação resguarda e beneficia a natureza, tentando frear os impactos negativos da expansão desordenada da urbanização, e de ocupações em áreas indevidas; no entanto, essa legislação apesar de em vigor, não tem sido ponderada nem mesmo pela prefeitura que permite o avanço da especulação imobiliária, loteando áreas que deveriam ser de Preservação Permanente que comprometem a qualidade ambiental local, um direito dos cidadãos.

O relevo é um condicionante das formações naturais, desde as nascentes aos rios e até da vegetação. As áreas com declividade acentuada, que não ocupam grande parte do bairro, mercem proteção, pois influenciam no escoamento das águas superficiais e na estabilidade dos solos. Elas em sua maioria coincidem com

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as áreas de APPs das margens de rios, onde se encontram os maiores desníveis. Juntamente com as APPs das áreas de nascentes, as APPs das margens dos rios configuram uma proteção essencial para o equilibrio ambiental, bem como das áreas declivosas. O equilíbrio do meio físico garante a manutensão dos recursos e proporcina qualidade ambiental para os habitantes da região.

A vegetação no meio urbano é tão fundamental quanto qualquer outro recurso ou infra-estrutura, que possibilita a melhoria da qualidade ambiental. A criação e manutenção de APPs é um meio se assegurar isso; entretanto, há casos em que não se pode simplesmente remover uma série de casas porque elas estão dentro de uma APP, existem pessoas ocupando esses lugares, então as medidas devem ser planejadas cuidadosamente, inclusive em caso de remoção. Nesse sentido, uma resolução recente do CONAMA, de n° 369 de 28 de março de 2006, vem regular a intervenção em APPs “para a implantação de obras, planos, ativididades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, ou para realização de ações consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental”, tal resolução tem segundo o Ministério do Meio Ambiente o objetivo de possibilitar a regulariazação das atividades e ocupações já consolidadas e impossibilitar a degradação de novas áreas de preservação através de novas ocupações. Talvez esteja aí, a possibilidade de fazer a lei funcionar de fato, sem causar tantos “prejuizos” à sociedade e garantir uma minima qualidade ambiental às futuras gerações, todavia, a aplicação dessa recente resolução terá que ser acompanhada por estudos científicos com o intuito de se avaliar sua eficiência.

CONCLUSÕES

Em linhas gerais pode-se concluir que a maioria das APPs de Santa Felicidade não foram e não estão sendo respeitadas, no processo de ocupação do bairro. Se essas ocupações são legais, devido às “brechas” das leis, no mínimo elas estão colaborando para a diminuição da qualidade ambiental urbana, sendo mais um exemplo de que o aumento da qualidade de vida de uma minoria pode acontecer em detrimento da qualidade ambiental da comunidade em geral.

O presente trabalho contribuiu para o enriquecimento de pesquisas realizadas na área de estudo, e ainda possibilita uma continuidade de trabalhos, como a proposição de soluções ou sugestões para um planejamento da paisagem

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que seja efetivo, contribuindo com medidas possíveis de execução e relevantes à população local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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