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30/04/2021

Número: 5009310-85.2021.4.03.0000

Classe: HABEAS CORPUS CRIMINAL

Órgão julgador colegiado: 5ª Turma

Órgão julgador: Gab. 16 - DES. FED. PAULO FONTES

Última distribuição : 29/04/2021

Valor da causa: R$ 1.000,00

Processo referência: 5005318-56.2020.4.03.6110

Assuntos: Favorecimento da Prostituição

Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? SIM

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

Tribunal Regional Federal da 3ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

RENAN ARAUJO GOMES (PACIENTE) BRUNO DE CASTRO SILVEIRA (ADVOGADO)

BRUNO DE CASTRO SILVEIRA (IMPETRANTE) BRUNO DE CASTRO SILVEIRA (ADVOGADO)

Subseção Judiciária de Sorocaba/SP - 1ª Vara Federal (IMPETRADO)

Operação Harém BR (IMPETRADO)

Ministério Público Federal (FISCAL DA LEI)

Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 15840 2808 30/04/2021 16:48 Decisão Decisão

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HABEAS CORPUS CRIMINAL (307) Nº 5009310-85.2021.4.03.0000 RELATOR: Gab. 16 - DES. FED. PAULO FONTES

PACIENTE: RENAN ARAUJO GOMES

IMPETRANTE: BRUNO DE CASTRO SILVEIRA

Advogado do(a) PACIENTE: BRUNO DE CASTRO SILVEIRA - MT16257-A Advogado do(a) IMPETRANTE: BRUNO DE CASTRO SILVEIRA - MT16257-A

IMPETRADO: SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SOROCABA/SP - 1ª VARA FEDERAL, OPERAÇÃO HARÉM BR OUTROS PARTICIPANTES:

D E C I S Ã O

Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por Bruno de

Castro Silveira, em favor de RENAN ARAÚJO GOMES, contra ato imputado ao Juízo da

1ª Vara Federal de Sorocaba/SP, nos autos de nº 5005318-56.2020.403.6110.

Consta da impetração que, em 27/04/2021, o paciente foi preso

preventivamente após representação da autoridade policial no bojo do inquérito policial

5003525-82.2020.403.6110, instaurado para apurar o cometimento do crime tratado nos

arts. 218-B, 149-A, 228, 230, 298, 299 e 304, todos do Código Penal.

Alega o impetrante que não estão presentes os requisitos para a manutenção

da prisão preventiva, porquanto não há individualização da conduta do paciente, com

motivação genérica.

Aponta também a inexistência de contemporaneidade dos fatos justificadores

dos ricos que se pretende evitar, pois a investigação determina que a suposta atuação do

paciente teria ocorrido entre dezembro/2018 e dezembro/2019.

Aduz, ainda, que o decreto não faz menção a qualquer ato do paciente no

sentido de obstruir a colheita de provas ou de ameaçar ou coagir testemunhas, sendo que

os delitos imputados ao paciente não há qualquer menção à ameaça, violência ou algo

semelhante, bem como à ele não há a acusação pelo art. 149-A do CP.

Também aduz que não há indicativo de que se furtará à aplicação da lei penal,

pois não exercer atividade ilícita em outros países, reside com seus pais em

(3)

Rondonópolis/MT, é primário, possui formação em Engenharia Civil e é proprietário de

empresa neste ramo, inclusive habilitada em recente processo licitatório da Prefeitura de

Rondonópolis/MT.

Argumenta o decreto não demonstrou a impossibilidade de imposição de

medidas cautelares diversa.

Tece considerações sobre a pandemia do coronavírus e a Recomendação

62/2020 do CNJ.

Discorre sobre sua tese e requer a concessão de liminar, para que a prisão

preventiva do paciente seja revogada, ainda que mediante a imposição de medidas

cautelares diversas da prisão. No mérito, pleiteia a concessão da ordem.

É o Relatório.

Decido.

A ação de habeas corpus tem pressuposto específico de admissibilidade,

consistente na demonstração primo ictu oculi da violência atual ou iminente, qualificada

pela ilegalidade ou abuso de poder, que repercuta, mediata ou imediatamente, no direito à

livre locomoção, conforme previsão do artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal e artigo

647 do Código de Processo Penal.

É sob esse prisma, pois, que se analisa a presente impetração.

A prisão preventiva da paciente foi decretada nos seguintes termos (ID

158387104):

“(...)

Segundo o apurado, especialmente pela análise do material telemático encaminhado pelas empresas provedoras, por determinação desse juízo, objeto dos Relatórios de Análise de Polícia Judiciária n. 32/2020- UIP/PF/SOD/SP e da Informação de Polícia Judiciária n. 67/2020 - UIP/PF/SOD/SP, descortinou-se uma complexa e estruturada rede criminosa internacional voltada ao tráfico de pessoas (mulheres) para fins de exploração sexual, em alguns casos tendo por vítima menor de dezoito (18) anos (caracterizando o delito previsto no art. 218-B, "caput" e Parágrafo 2, I, do CP); em outros, com a existência de coação, violência psicológica, abuso ou outra forma de cerceamento de direito das vítimas (caracterizando o crime previsto no art. 149-A, V, do CP); em outras situações, ter ocorrido a falsificação de documentos para instruir pedidos de obtenção de vistos australianos, com o intento de facilitar a exploração sexual fora do país (caracterizando os crimes de falsidade material e/ou ideológica e uso de documento falso, além do próprio crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, previstos nos arts. 228, 298, 299 e 304 do CP); finalmente, em outros casos, ter ocorrido induzimento, atração ou facilitação à prostituição ou outra forma de exploração sexual, bem como impedimento ou apresentação de dificuldades para seu abandono, e/ou a participação direta nos lucros da atividade de prostituição (caracterizando os crimes dos artigos 228 e 230 do Código Penal), tudo conforme concluiu a Autoridade Policial.

(4)

(...)

2. Verificou-se que o investigado RODRIGO OTAVIO COTAIT exerce intensa atividade de exploração sexual, inclusive em vários locais internacionais, onde conta com a ajuda de agências responsáveis por "administrar" as garotas de programa que fornece:

(...)

3. A autoridade Policial identificou diversas situações ilícitas envolvendo o investigado, adiante relatadas.

(...)

3.6. ENVIO DE JOVENS PARA A AUSTRÁLIA.

Conforme informa a Autoridade Policial (ID 38777584, pp. 204-5):

O material telemático angariado apontou que RODRIGO COTAIT se associou ao parceiro brasileiro identificado inicialmente apenas pelo prenome “RODRIGO”. Ambos decidiram que tal indivíduo deveria utilizar o codinome “LUCAS” nas tratativas com as garotas de programa vítimas de exploração sexual, em solo australiano.

Como se verá abaixo, o envio das acompanhantes se dá mediante a utilização de vistos consulares expedidos na Embaixada Australiana no Brasil, com base em documentos, em tese, material e ideologicamente falsos, cujas contrafações são gerenciadas por RODRIGO COTAIT, RODRIGO GOMES, v. “LUCAS”, bem como por RENAN ARAÚJO GOMES, vulgo “THOMAS”, irmão de RODRIGO GOMES.

Como se verá a seguir, RENAN ARAUJO GOMES, v. “THOMAS”, não apenas realiza atos tendentes à falsificação dos documentos das garotas de programa, mas, aparentemente, também auxilia seu irmão, RODRIGO GOMES, v. “LUCAS”, nos atos de execução com vistas a promover a exploração sexual.

Em razão dos altos preços das passagens aéreas para Austrália, RODRIGO COTAIT também se valeu, supostamente, de esquemas criminosos de compra de passagens aéreas mediante fraude, como se verá melhor em tópico abaixo.

(...)

Foram realizadas diligências, no intuito de se identificar "LUCAS", de modo que a Autoridade Policial concluiu ser RODRIGO CESAR DE ARAÚJO GOMES, cidadão brasileiro e australiano.

Segundo a Autoridade Policial, entre "LUCAS" e o investigado foram identificados 40

e-mails, trocados entre as contas contato@bkrcasting.com.br e

melsouza23@hotmail.com, no período de 15/10/2018 a19/03/2019. Dessas 40 mensagens, 07 foram recebidas e 33 enviadas pela primeira conta, utilizada pelo investigado RODRIGO COTAIT. Todas tratam sobre fotos das garotas de programa ou seus documentos possivelmente forjados, para dar entrada no pedido de visto australiano.

(5)

“LUCAS" conta, seguramente, com a ajuda do seu irmão, RENAN ARAUJO GOMES, conhecido por "THOMAS", e, por conseguinte, o investigado também se vale desta pessoa, para o sucesso do empreendimento criminoso.

"THOMAS", segundo consta, seria o responsável pela falsificação de documentos, a fim de que as garotas de programas tenham condições de entrarem na Austrália, além de auxiliar seu irmão, "LUCAS", na execução dos atos de exploração sexual.

Foram identificados 22 e-mails trocados entre as contas contato@bkrcasting.com.br e open20br@yahoo.com entre 27/05/2019 e 29/07/2019. Dessas 22 mensagens, 20 foram recebidas e 2 enviadas pela primeira conta, utilizada pelo investigado RODRIGO COTAIT. Todas versam sobre documentos forjados das garotas de programa para embasar o pedido de visto australiano. Deve-se asseverar que o nome do contato atribuído por RODRIGO COTAIT para essa conta de email é “Thomas Lody”, conforme se vê dos e-mails colacionados no item 2.2.5.1 do Relatório de Análise de Polícia Judiciária em anexo.

Feita essa rápida digressão acerca das frutíferas diligências tendentes à identificação de “THOMAS” (RENAN ARAÚJO GOMES), cumpre registrar que, entre os arquivos trocados pelas contas Whatsapp 5511989999696 e 61487871976, utilizadas, respectivamente, por RODRIGO COTAIT e RENAN, foram localizados 34 documentos trocados, dos quais 27 são em formato PDF e 7 em formato Word, que indicam importante participação do segundo nas falsificações documentais tratadas no tópico abaixo. Eis uma imagem dos documentos e alguns exemplos envolvendo as garotas de programa MARIA ANGÉLICA VALADARES BRUM e ARIENNES KAWAHIRA GASPAROTTO:

Além desses documentos citados, há mensagens, trocadas entre "THOMAS" e o investigado, tratando dos documentos falsificados.

(...)

A seguir, a Autoridade Policial narra como seria o esquema envolvendo os três, ora investigado, "LUCAS" e "THOMAS" (ID 38777584, pp. 230-1):

Assim como nas atividades de exploração sexual desenvolvidas em outras localidades, na Austrália, a principal atribuição do investigado RODRIGO OTAVIO COTAIT é aliciar/arregimentar garota de programas para fins de exploração sexual naquele país, onde os atos de gerenciamento da atividade também contam com a participação de RODRIGO GOMES e de seu irmão, RENAN ARAÚJO, conforme visto acima.

Assim, após a garota de programa ser aliciada e escolhida, RODRIGO COTAIT, RODRIGO GOMES e RENAN ARAÚJO iniciam procedimentos tendentes à falsificação de documentos para embasar pedidos de vistos consulares, apresentados perante a Embaixada da Austrália no Brasil.

Para tanto, o grupo criminoso investigado valeu-se de despachantes, com objetivo de fazer o que eles chamam de “aplicação” do visto, isto é, dar entrada no pedido de visto. São eles ALEXANDRO JESUS GONÇALVES DA SILVA (CPF 997.389.531-20), da empresa Planet Visa Despachante em Brasília/DF (telefone 6191012007) e MILCA

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SABINO MAZUCATO (CPF 530.923.761-53), da empresa Vistos Online (www.vistosonline.com.br), de Salvador/BA. As possíveis fraudes documentais serão analisadas no item abaixo.

Pois bem, pouco antes da viagem, as garotas de programa são orientadas pelos investigados sediados na Austrália sobre o que dizer caso sejam entrevistadas pela imigração australiana na chegada naquele país.

(...)

Maiores detalhes sobre a parceria entre o investigado, "LUCAS", "THOMAS" e os despachantes - ID38778451, pp. 52 a 147.

(...)

Outros detalhes acerca de algumas das garotas agenciadas para a AUSTRÁLIA - ID 38778451 - pp. 148 a200, e ID 38778484, pp. 1 a 36.

(...)

5. As conclusões da Autoridade Policial, fruto da análise, em especial, das comunicações telemáticas envolvendo o investigado e seus parceiros, tudo devidamente narrado, especialmente, no Relatório de Análise de Polícia Judiciária n. 32/2020 - UIP/DPF/SOD/SP, mostram uma organização criminosa destinada ao cometimento do crime de tráfico internacional de pessoas, para fins de exploração sexual, dentre outros delitos cometidos.

Segundo a classificação apontada pela Autoridade Policial, a organização criminosa funda-se em cinco (5) núcleos criminosos:

(...)

b) dos exploradores sexuais localizados foram do Brasil. Compõem tal grupo: CINDY ANN TAYLOR (ou CINDY ANN KOVACS ou CINDY ANN ZARPOLI), vulgo “KIM”, e investigada conhecida por ora apenas pelo vulgo “JÉSSICA” (com atuação nos EUA); RODRIGO CESAR ARAÚJO GOMES e RENAN ARAÚJO GOMES (com atuação na Austrália); investigada conhecida por ora apenas pelos vulgos “ANA” /“ANA BELLA” (com atuação na Espanha);

(...)

6.5. O esquema, na AUSTRÁLIA, contava com a participação de RODRIGO OTÁVIO COTAIT e os irmãos RODRIGO CÉSAR ARAÚJO GOMES (residente na Austrália, conhecido por "LUCAS") e RENAN ARAÚJO GOMES ("THOMAS").

Neste caso, além da suposta exploração sexual, há diversos elementos que apontam para a falsificação de documentos, realizada com o intuito de as garotas conseguirem o VISTO Australiano.

VISTOS fundados em documentos falsificados teriam sido obtidos em benefício das garotas THALMA MACIEL SOARES HAUM, LYGIA ROSENTHAL

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GODOY, FERNANDA LIMA FOLGIERINI, ANDRESSA LIMA RODRIGUES, KATHERINE SPROTTE, PAULA CAROLINA MICHELOTTO DE SOUZA, BRUNA ALVES DE OLIVEIRA AMARAL e NAYARA LEÃO CARVALHO.

A Autoridade Policial menciona, pelo menos, onze (11) garotas que teriam sido agenciadas pelos três (ID38777592, p. 14), que, assim, em tese, teriam praticado os crimes tratados nos arts. 228 e/ou 230, ambos do CP. Mais, os dos arts. 298/299 ou 304 do CP, pelos documentos falsificados e uso destes, destinados à obtenção dos vistos das garotas de programa.

(...)

Com total razão a Autoridade Policial.

Em primeiro lugar, porque tudo indica que os investigados atuam dessa maneira há alguns anos, desse tipo de atividade auferindo os rendimentos para "sobrevivência".

Isto é, dedicando-se a esse tipo de atividade criminosa, tornando-a o seu "meio de vida", o seu "ganha pão".

Apenas no presente caso, aponto que as atividades mencionadas ocorreram nos anos de 2017 a 2020, tempo razoável para se concluir que os investigados tem-se dedicado a tal ramo de atividade com afinco e, pelo empo transcorrido, tudo indica que não se trata de um fato isolado e que não pretendem parar de atuar nesse sentido. Dessarte, a prisão deve ser deferida, para garantia da ordem pública e para que não representem soltos, perigo à sociedade.

Aumenta a gravidade da situação o fato de que alguns deles têm pessoas jurídicas criadas em seu nome, com objeto social lícito, das quais poderiam auferir rendimento lícitos e suficientes à sobrevivência, e, apesar disto, os investigados ainda preferem manter as atividades ilícitas, obtendo rendimentos espúrios, às custas das garotas de programa.

Perfeita a conclusão da Autoridade Policial, acerca da necessária prisão preventiva, para assegurar a aplicação da lei penal, porquanto os investigados têm, pelas atividades ilícitas desenvolvidas, conhecidos em diversos "cantos do mundo", situação que lhes facilitaria "esconder-se", fugir, a fim de que não sejam atingidos pela leis penais brasileiras.

Ainda, sem retoques a conclusão da Autoridade acerca da imprescindível prisão preventiva, por ser conveniente à instrução criminal.

Certo que possivelmente muitas das garotas citadas deverão prestar esclarecimentos, na Polícia ou na Justiça, e o fato de os investigados permanecerem soltos pode significar prejuízo às sérias declarações que devem ser prestadas, pois, conforme visto, os investigados têm efetivo poder de coação sobre as vítimas e, desta forma, poderão pressioná-las para que alterem a verdade dos fatos.

No Relatório que fundamenta as representações da Autoridade Policial, há notícias de diversas garotas de programas, agenciadas pelo grupo criminoso acima mencionado, no ano de 2020 (AMANDDA, HOUSTON/EUA, em fevereiro; SHAUNA e JENNIFER, NOVA YORK/EUA, em junho e agosto), comprovando que os envolvidos continuam cometendo ato ilícitos (ID 38778562, pp. 46 a 53); provando, ademais, a

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contemporaneidade dos fatos ilícitos; justificando, de novo, a medida da prisão preventiva.

Em suma, presentes todos os requisitos mencionados no art. 312 do CPP, com a redação da Lei n.13.964/2019, e no art. 313, I, do CP, justificadores da prisão preventiva.

Por outra banda, com fulcro no art. 282, Parágrafo 6, do CPP - redação da Lei n. 13.964/2019, ainda se justifica a prisão preventiva dos investigados.

Medidas cautelares, no caso, seriam inócuas, ou seja, não conseguiriam cessar a atividade dos investigados, porquanto, conforme devidamente provado, a empreitada criminosa ocorre, especialmente, por meio do uso de mensagens telamáticas, isto é do uso da internet, sendo certo que eventual medida cautelar no sentido de "proibir" os investigados de fazer uso de tais mecanismos de comunicação seria praticamente impossível a fiscalização do seu cumprimento. Em outras palavras, eles continuariam a delinquir.

Para finalizar e robustecer o cabimento das medidas aqui tratadas manifestou-se o MPF, nos seguintes moldes (ID 39736186):

(...)

7. Havendo, consoante exaustivamente visto, indícios suficientes da materialidade delitiva, assim como da sua autoria, isto é, presentes “fundadas razões”, concorde se depreende dos documentos acima referidos, as medidas de busca e apreensão devem ser deferidas.

(...)

8. Pelo exposto:

8.1. DECRETO, com amparo nos arts. 312, 313, I, e 282, Parágrafo 6, do CPP, como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal, as prisões preventivas de:

(...)

IV -RENAN ARAÚJO GOMES - CPF 027.856.781-92

(...).

Em uma análise perfunctória, própria do presente momento processual,

verifico a presença dos requisitos para a concessão do pedido liminar.

Depreende-se da Representação da Autoridade Policial (ID 158387116) que o

investigado RODRIGO OTAVIO COTAIT aliciava garotas de programa para fins de

exploração sexual, no caso específico, na Austrália e contava com a participação de

RODRIGO GOMES e de seu irmão, o paciente RENAN ARAÚJO.

(9)

Assim, após o aliciamento por Rodrigo Cotait, o paciente e seu irmão

providenciavam a falsificação de documentos para embasar pedidos de vistos consulares,

apresentados perante a Embaixada da Austrália no Brasil.

A conduta do paciente é grave, considerando que envolveu sua participação

em esquema criminoso voltado ao tráfico de pessoas (mulheres) para fins de exploração

sexual.

Contudo, não foram apontados pela autoridade coatora elementos concretos

que indiquem a necessidade de segregação cautelar do paciente.

Sendo assim, tenho que a prisão foi decretada com base na gravidade

abstrata dos fatos criminosos, o que não é suficiente para a sua manutenção.

É importante ressaltar, inicialmente, que os supostos fatos imputados ao

paciente ocorreram entre 2018 e 2019 (ID 158387104, fl. 32) e Representação da

Autoridade Policial data de 16/09/2020, bem como a decisão que decretou a prisão foi

proferida em 02/03/2021, de maneira que se vislumbra ausente o requisito da

contemporaneidade para a decretação da prisão.

Ademais, não há elementos nos autos que autorizem a conclusão de que a

liberdade do paciente acarretará insegurança jurídica e lesão à ordem pública

(periculosidade do agente para a sociedade, ameaça à instrução criminal, etc).

O paciente tem domicilio certo na cidade Rondonópolis/MT, ocupação lícita e

não possui outros apontamentos criminais.

Não vislumbro, ainda, indicativos de que o paciente irá se furtar à aplicação da

lei penal ou de que irá tentar atrapalhar o andamento do feito.

E o momento atual é de excepcionalidade e o julgador deve levar em

consideração a Recomendação 62/20, formulada pelo Conselho Nacional de Justiça,

diante da emergência sanitária de abrangência mundial consistente na epidemia causada

pelo coronavírus.

Num momento tão difícil, em que os prognósticos sobre a evolução da

epidemia são incertos, e diante do inusitado da situação, é louvável que o E. Conselho

Nacional de Justiça tenha rapidamente expedido a Recomendação em tela, como forma

de auxiliar os juízes na sua difícil missão.

É princípio do processo penal liberal que a finalidade da pena é a

ressocialização dos criminosos e que o Estado deve respeitar a integridade física e moral

dos presos. A situação excepcional exige, pois, medidas excepcionais, com vistas a evitar

a propagação da doença nas unidades prisionais e os riscos para os detentos.

(10)

Tais medidas têm caráter temporário e poderão ser revistas, de ofício ou a

pedido das partes, quando normalizada a situação.

Nesse sentido, deve-se destacar o caráter excepcional do encarceramento

antes do trânsito em julgado da decisão condenatória e, ainda, o fato de o crime em

questão não ter envolvido violência ou grave ameaça.

Frisa-se que tal medida tem caráter temporário, em razão da situação de

grave crise enfrentada na saúde, de modo que, por ora, a concessão da liberdade

provisória é possível, desde que aliada a algumas medidas cautelares, que se mostram,

no caso, adequadas e suficientes, nos termos do que dispõe o artigo 282, § 6º do Código

de Processo Penal.

Ressalte-se que, caso as medidas alternativas não se mostrem suficientes,

ou, no caso de descumprimento de quaisquer das obrigações impostas, poderá ser

decretada novamente a prisão da paciente, de acordo com o artigo 282, § 4º, do Código

de Processo Penal.

Ante o exposto, DEFIRO a liminar, para revogar a prisão preventiva de

RENAN ARAÚJO GOMES, mediante a imposição das seguintes medidas cautelares:

a) comparecimento a todos os atos do processo;

b) proibição de mudar de endereço sem informar a Justiça Federal, assim

como de se ausentar do respectivo domicílio, por mais de cinco dias, sem prévia e

expressa autorização do juízo;

c) após encerrada a situação de crise estabelecida pela pandemia,

comparecer bimestralmente em juízo para comprovar suas atividades;

d) recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga;

e) proibição de se ausentar do país sem autorização do juízo, com entrega do

passaporte, se houver.

Comunique-se o teor desta decisão para imediato cumprimento e

requisitem-se as informações legais.

Após, dê-se vista ao Ministério Público Federal para manifestação.

Finalmente, tornem conclusos para julgamento.

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