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CRIMINOLOGIA Elaborado com base nos editais de concursos públicos para ingresso em diversas carreiras jurídicas

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Manual de

CRIMINOLOGIA

Elaborado com base nos editais de concursos públicos para ingresso em diversas carreiras jurídicas

3ª edição

Revista, ampliada e atualizada

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ESTUDO E CLASSIFICAÇÃO

DAS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

3.1. PARADIGMA ETIOLÓGICO-EXPLICATIVO

A criminologia enquanto ciência procura compreender, explicar e prevenir o crime valorando os diversos modelos de reação social, e intervenção na pessoa do delinquente. Portanto, na tentativa de cumprir estas finalidades, surgem várias teorias destinadas a fornecer uma resposta racional ao problema da violência, e nesse particular preponderam as explicações etiológicas (causas) como resposta ao fenômeno criminal existindo, porém, vertentes intermediárias e até que negam qualquer possibilidade explicativa.

Levando-se em conta que a classificação das teorias criminológi-cas é bastante numerosa e heterogênea, o presente estudo abordará o tema partindo-se de dois paradigmas, o individual e o sociológico. O primeiro visa fornecer uma explicação das causas individuais do crime (o homem criminoso) enquanto esse último procura compreender a criminalidade como um fenômeno social (sociedade criminógena)1. 3.2. TEORIAS DE NÍVEL INDIVIDUAL (O HOMEM DELINQUENTE)

As teorias de nível individual podem ser divididas em dois gru-pos, em outras palavras, bioantropológicas e psicológicas.

1. PELUSO, Vinícius de Toledo Piza. Introdução às Ciências Criminais. Salvador: Editora Juspodivm, 2015, p. 110-111.

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As teorias de nível individual, que visam explicar as causas indi-viduais do fenômeno criminal (homem criminoso), dividem-se, ainda, em dois grupos de teorias: a.1) biológicas (ou bioantro-pológicas) – localizar e identificar em alguma parte ou no fun-cionamento do organismo do criminoso o fator diferencial que explica a conduta criminosa, enquanto consequência patológica ou disfuncional; a.2) psicológicas – explicação do comportamento criminoso através do mundo anímico, dos processos psíquicos ou nas vivências subconscientes do criminoso, bem como nos seus processos de aprendizagem e socialização.2

3.2.1. Teorias biológicas (bioantropológicas)

A prática do crime está associada a variáveis congênitas do in-divíduo, ou melhor, a sua própria estrutura orgânica. O delinquente é um ser organicamente distinto dos demais cidadãos.

3.2.2. Teorias psicológicas

Procuram explicar as causas do fenômeno criminal a partir do estado anímico do indivíduo, de suas vivências do subconsciente ou mesmo nos processos de aprendizagem e socialização.

3.2.3. Teorias psicodinâmicas

Parte do pressuposto que o delinquente é um ser distinto do cidadão não-criminoso, cujas causas da prática de um crime estão em falhas no processo de aprendizado e socialização. Investiga-se o porquê da maioria das pessoas não praticar crimes. Como visto, trata-se de uma espécie do gênero teorias psicológicas.

3.3. TEORIAS SOCIOLÓGICAS (SOCIOLOGIA CRIMINAL)

As teorias sociológicas propõem compreender e explicar a cri-minalidade como um fenômeno social nas perspectivas etiológicas (causas) ou interacionistas (reações sociais).

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3.4. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

Nesse trecho da obra e sem a pretensão de esgotar a temática, serão abordadas diversas teorias criminológicas que revelam traços dos referenciais anteriormente citados e podem contribuir para o estudo da etiologia do fenômeno criminal.

3.4.1. Escola de Chicago

Teoria de base sociológica pertencente ao grupo das teorias do consenso3, surgiu no início do século XX por meio de membros do

Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago os quais atribuíram à sociedade e não ao indivíduo as causas do fenômeno criminal.

Naquela época os Estados Unidos da América experimentavam um enorme desenvolvimento econômico e industrial que chegou às grandes cidades, como Chicago, onde milhares de pessoas vindas de todas as partes do país, como descendentes de escravos, irlandeses, eslavos, italianos, e minorias étnicas habitavam as periferias em condições precárias de higiene, segurança, iluminação pública, em suma, faltava estrutura em todos os sentidos.

Em meio cercado por miséria e desigualdades sociais, uma par-cela da população passa a ter dificuldades de se adaptar aos valores do corpo social dominante, gerando violência e sensível aumento da criminalidade.

 $VWHRULDVFULPLQROÐJLFDVGHEDVHVRFLROÐJLFDVÀRFODVVLŤFDGDVHPteorias do consenso e do

FRQťLWRVRFLDO$VVLPHQTXDQWRDTXHODVGHIHQGHPTXHDŤQDOLGDGHGDVRFLHGDGHÆDWLQJLGD

no momento em que suas instituições funcionam perfeitamente, de modo que as pessoas compartilhem objetivos comuns e aceitam as normas vigentes, nestas últimas a ordem e coesão social são impostas, revelando a dominação por alguns, e sujeição de outros. Portanto, pelas WHRULDVGRFRQťLWRRVPHPEURVGHXPDVRFLHGDGHQÀRFRPSDUWLOKDPRVPHVPRVLQWHUHVVHVHR controle social se presta a garantia do poder vigente. A Escola de Chicago, teoria da associação diferencial, teoria da subcultura delinquente, e a teoria da anomia são exemplos de teorias do consenso, enquanto a teoria crítica ou radical, bem como a teoria do etiquetamento (labelling

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Dentre os precursores da Escola de Chicago, convém destacar Robert. E. Park que apontou a influência do entorno urbano sobre a conduta humana. Concebeu o meio urbano como um organismo divi-dido em zonas de trabalho, de moradia, lazer, público e privado, dentre os vários existentes com distinção ainda dos níveis de criminalidade.

Neste espaço não seria importante entender o fato, mas sim como as pessoas reagiam a ele.

A Escola de Chicago foi fundamental no estudo da criminalida-de urbana, contribuindo muito para o criminalida-desenvolvimento criminalida-de estudos relevantes nesta área com destaque para o método da observação participante, e o conceito de ecologia humana.

Pelo método da observação participante o pesquisador participa diretamente do objeto de seu estudo, o que possibilita examinar o fenômeno social da maneira exatamente como se verifica. Com isso, o conhecimento não se apoia em experiências alheias, mas naquelas vi-venciadas pelo próprio pesquisador. Quanto à ecologia humana, para os adeptos dessa teoria, a criminalidade teria como causa as cidades. Posteriormente, como bem ressaltado por Conde e Hassemer4,

Park, juntamente com outros membros da Escola de Chicago, for-mularam um modelo de crescimento das cidades norte-americanas sustentando que na parte central concentravam-se as atividades burocráticas, financeiras e profissionais, enquanto as pessoas mais abastadas fixavam moradia nas zonas periféricas (zonas residenciais). Entre os extremos, centro e zona residencial, na forma de círculos concêntricos localizava-se primeiramente, em imediata conexão com a parte central, uma zona intermediária onde viviam as classes menos favorecidas constituídas por imigrantes e pobres, seguidas das classes de trabalhadores e classes mais favorecidas sucessivamente.

Conquanto não seja esse o modelo de crescimento típico das ci-dades na Europa ou em outras partes do mundo naquele período, que

4. .CONDE, Francisco Munõz. HASSEMER, Winfried. Introdução à Criminologia. 2ª tiragem. Tradução e notas por Cíntia Toledo Miranda Chaves. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 53.

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sequer foi mantido ao longo dos tempos, é relevante mencioná-lo, pois contribuiu para demonstrar a relação existente entre a distribuição urbana da população e o fenômeno criminal que assola a sociedade.

Acerca da relevância do tema, ressaltam Conde e Hassemer:

A realidade da concentração geográfica da criminalidade em determinadas zonas das grandes cidades é hoje, inclusive, mais evidente que antes, ainda que a especulação urbanística vá mudando os lugares e, segundo os interesses econômicos e gostos das classes economicamente poderosas com o passar dos anos, alguns bairros deteriorados transformaram-se em zonas residenciais ou sucede o contrário. Em verdade, com variável localização geográfica, bairros marginais existem não só nas grandes cidades norte-americanas como Chicago, De-troit, Los Angeles ou Nova Iorque (com seus famosos bairros do Bronx e Harlem), mais em muitas outras, principalmente no terceiro mundo, e especialmente na América Latina, em cidades como Caracas (com seus “ranchitos”), Lima (com seus “pueblos jovenes”) e Rio de Janeiro (com suas “favelas”). Também cidades de países da Europa ocidental com alto nível de vida econômica e cultural têm seu “bairro chino” (onde normalmente pratica-se a prostituição, inclusive com menores de idade) e bairros e zonas dentro da cidade (nor-malmente próximos às estações centrais) onde tacitamente a polícia tolera a venda e consumo de drogas ilegais e condutas delitivas de menor relevância, criando-se verdadeiros “guetos” com suas próprias leis e normas de conduta, onde a polícia só entra quando, por razões conjunturais, quer fazer alguma “batida” ou medida de limpeza ou de controle geral.5

A teoria ecológica criminal defende a prioridade da ação preven-tiva, e a minimização da atuação repressiva. As ações interventivas nas cidades devem ser planejadas limitando-se a bairros, setores, em síntese, a uma área previamente determinada, sendo de fundamental importância a participação da sociedade através de seus diversos

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segmentos que podem conjugar esforços para o enfrentamento da criminalidade sob uma ótica das cidades.

As políticas criminais preventivas ou repressivas necessitam de exames prévios da realidade para que os investimentos de recursos sejam compatíveis com os interesses dos habitantes dos centros ur-banos. Aliás, o ambiente não se restringe a obras da natureza, pois contêm as construções do homem, como as cidades. Trata-se de patrimônios agregados aos bens naturais.

O processo de globalização trouxe a tona problemas relaciona-dos à qualidade de vida e preservação ambiental para as presentes e futuras gerações, incluindo o ambiente construído ou alterado pela ação do homem. Para que isso se torne possível, isto é, a proteção do ambiente construído ou modificado, é preciso a regulamentação das atividades humanas que participam da criação ou conservação desse espaço, pois podem causar diversos impactos nesta seara.

3.4.2. Teoria da Associação Diferencial

Baseia-se no pensamento de Edwin Sutherland, segundo o qual o delito não consiste apenas em uma inadaptação de pessoas per-tencentes as classes menos favorecidas, vez que não é praticado com exclusividade por seus integrantes. Defende que comportamento hu-mano tem origem social, e o homem ao aprender a conduta desviada associa-se com referência nela.

O indivíduo é convertido em delinquente no momento em que os valores predominantes no grupo, do qual faz parte, ensinam o delito e isso acontece quando as considerações favoráveis ao proceder desviante superam as desfavoráveis.

Shecaira6, com invejável domínio, enumera os fatores do

pro-cesso pelo qual o indivíduo seria conduzido a cometer um delito conforme preconizado pela teoria da associação diferencial. Assim, é pertinente trazer a lume suas premissas: 1) o comportamento

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criminoso é um comportamento aprendido, quer dizer, aprende-se a praticar um delito como se aprende a praticar uma boa ação. O delito não tem como causa fatores hereditários, mas sim a influência do meio; 2) o comportamento criminoso é aprendido mediante a comunicação com outras pessoas. Tem-se um processo de imitação com início no seio familiar; 3) o grau de aprendizado do compor-tamento criminoso varia conforme a proximidade existente entre as pessoas. Logo, quanto mais íntimas as relações sociais entre os indivíduos, como ocorre no âmbito familiar, maior será a influência criminógena; 4) o aprendizado do comportamento criminoso con-tém o aprendizado das técnicas de cometimento do crime, sendo em alguns casos simples, e em outros complexas; 5) a motivação e impulsos para o cometimento de delitos se aprende com as defini-ções favoráveis ou desfavoráveis da lei; 6) a conversão do indivíduo em criminoso ocorre quando as definições favoráveis a violação da norma superam as definições desfavoráveis. Nessa hipótese, os modelos criminais prevalecem sobre os modelos não criminais. Os princípios que desencadeiam o processo de comportamento legal e de comportamento ilegal são os mesmos, diferindo-se os conteúdos dos padrões de associação. Enfim, as pessoas associam-se por afi-nidade de valores, no entanto, o conteúdo desses valores é distinto conforme a espécie de associação. Por isso, essa teoria foi intitulada como: associação diferencial; 7) as associações diferenciais podem variar em frequência, duração, prioridade e intensidade. Valores aprendidos na infância podem acompanhar a pessoa por toda a sua vida; 8) a prevalência das definições favoráveis ou desfavoráveis a norma denotam um conflito cultural responsável pela associação diferencial; 9) a desorganização social causada pela perda da ori-gem e raízes pessoais, e a inexistência de controle social informal fomentam a prática de delitos. Em epítome, são essas as premissas da teoria da associação diferencial.

A Teoria da Associação Diferencial foi tema de questionamento feito em concurso para o cargo de Médico Legista:

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EXEMPLO DE QUESTÃO SOBRE O TEMA

(Médico Legista – PC –SP/2014 – VUNESP)

Assinale a alternativa que completa as lacunas do texto.

Os estudos de Sociologia Criminal de Sutherland (Teoria da Associação Dife-rencial) estão principalmente ligados aos crimes de ________e tiveram como foco ________.

a) genocídio...a Alemanha

b) organizações criminosas...a Itália c) jogo ilegal....a atual Rússia (ex-URSS)

G  GLVFULPLQDÄÀRGHJÇQHURSDÊVHVGR2ULHQWH0ÆGLR H  FRODULQKREUDQFRRV(VWDGRV8QLGRVGD$PÆULFD

Resposta: e

3.4.3. Teoria da Anomia

Anomia vem do grego (a – ausência; nomia – lei), ausência de lei. Esta teoria não compreende o delito como uma anomalia distancian-do-se, com isso, dos modelos médico e patológico de interpretação da criminalidade. Dentre as teorias chamadas de funcionalistas que concentram sua análise nas consequências do delito, e consideram que a finalidade da sociedade encontra-se no funcionamento de seus vários componentes, defende a criação de mecanismos de autopre-servação. Tais teorias são ditas conservadoras, pois sua análise se restringe as consequências do conflito criminal, evitando-se investigar a etiologia deste fenômeno.

Esse pensar baseia-se em noções das áreas de ciências biológicas que busca transpor para as ciências sociais. Logo, tanto a sociedade como o organismo humano necessitam realizar determinadas funções vitais para a manutenção da própria sobrevivência, e todas as vezes que isso não acontece surge a denominada disfunção.

A disfunção consiste na falha do sistema de funcionamento do corpo social, e isso ocorrendo deverá reagir de alguma forma para

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saná-la. Caso os mecanismos reguladores da vida em sociedade não consigam cumprir sua finalidade tem-se instalado a anomia, por outras palavras, a ausência ou decomposição das normas sociais.

A sociedade não pode ser compreendida como uma simples união de indivíduos, mas como uma associação de características e realidade próprias. Veja que além da consciência de cada indivíduo, é necessário ainda a associação e combinação dessas individuali-dades para o surgimento do consciente coletivo, do corpo social. O fato é criminoso porque fere os valores do consciente coletivo, portanto, existindo um crime existirá indubitavelmente uma pena, cuja finalidade, segundo Durkheim,7ao analisar a presente teoria, não

está na prevenção especial (evitar a repetição do fato criminoso) ou prevenção geral (persuadir, intimidar ou amedrontar os destinatários da norma), mas na satisfação da consciência coletiva. Por isso, ao realizar esse propósito a sanção preserva a existência da sociedade e secundariamente castiga o culpado, além de dissuadir o cometimento de novas infrações.

O crime pode ser considerado um fenômeno natural dentro da sociedade, no entanto, deve permanecer dentro de limites de tolerância sob pena de instalação do caos social, do estado de desor-ganização generalizada a ponto de subverter valores e desacreditar todo o sistema normativo de condutas, e é justamente nesse ponto que surge a anomia. Assim, o aumento da criminalidade está direta-mente relacionado ao descrédito de determinado sistema normativo.

No Brasil, a ideia do crescimento da criminalidade e da corrup-ção no aparelho Estatal está associada ao discurso da impunidade, logo se vê que dentro desse espaço anômico o indivíduo passa a agir de forma criminosa, livre dos regramentos e de vínculos com a sociedade a qual pertence. Para os funcionalistas que estudam a teoria da anomia o delito é um fenômeno normal, pois se encontra enraizado em todas as espécies de sociedade e auxilia na construção de valores, de identidade própria do chamado consciente coletivo

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ou comum. Verificado o delito e punido o infrator há uma espécie de confirmação de valores éticos, e morais necessários ao convívio harmonioso entre membros de uma determinada comunidade. Por outro lado, também propicia o crescimento significativo do comércio na área de segurança como cercas elétricas, alarmes em residências e veículos, sistemas de monitoramento por câmeras, ou melhor, de uma grande rede de produtos e serviços relacionados à contenção da criminalidade.

É preciso ressaltar que as desigualdades sociais, a escassez de oportunidades, e os contrastes de uma sociedade heterogênea e de consumo como a existente no Brasil incentivam o surgimento de uma mentalidade de anomia, sendo muito difícil convencer parcela do corpo social, menos abastada, de que o trabalho assalariado com-pensaria mais do que os serviços para o tráfico de drogas, a prática de furtos, roubos, receptação, e diversos delitos desta natureza.

Concluindo, resta verificar como este tema foi questionado no concurso do Ministério Público do Estado de Santa Catarina:

EXEMPLO DE QUESTÃO SOBRE O TEMA

(MPE/SC – 2011 – ADAPTADA)

Considere a seguinte proposição:

I. A Teoria da Anomia caracteriza-se por ser uma política ativa de prevenção TXHLQWHQWDWXWHODUDVRFLHGDGHSURWHJHQGRWDPEÆPRGHOLQTXHQWHSRLV YLVDULDDVVHJXUDUOKHDWUDYÆVGHFRQGLÄÒHVHYLDVOHJDLVXPWUDWDPHQWR apropriado.

Resposta: item errado

3.4.4. Teoria da Subcultura Delinquente

Cultura pode ser definida como sendo um conjunto de valores, crenças, tradições, gostos, e hábitos de um determinado grupo social que são compartilhados, transmitidos e aprendidos por seus

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inte-grantes de geração em geração. É perceptível a existência de várias culturas dentro de uma mesma sociedade, pois as diferenças sociais que permeiam esse agrupamento demonstram a inexistência de um todo unitário. Na verdade, a divisão de classes (elite e povo) poderia expressar a pluralidade de culturas; cultura do povo e cultura da elite, mas o autoritarismo das classes mais abastadas impede o afloramento da separação. Por isso, camufla a existência de divisão absorvendo--a em uma espécie de universalidade abstrata que contenta a elite, revelando-se necessária a dominação em uma sociedade de classes.

A globalização nas duas últimas décadas afetou sensivelmente as sociedades em diversas áreas, como na política, economia, máxime nas manifestações culturais. A alta tecnologia possibilita a troca de informações em curto espaço de tempo, além de colocar o cidadão em contato com todos os meios de comunicação disponíveis. Resta saber se o quadro envolvendo as culturas de massa e as elites volta a ocorrer, fragilizando o conteúdo da realidade passada aos interlo-cutores que participam desses meios.

Além da questão envolvendo a pluralidade de culturas dentro de uma mesma sociedade, convém apontar duas espécies sui generis de cultura, a subcultura e a contracultura.

A sociedade tradicional dita os valores predominantes, mas que comumente colidem com os valores de determinados grupos. Assim, na subcultura que seria uma cultura dentro de outra cultura, são acei-tos ceracei-tos valores predominantes da sociedade tradicional, todavia, expressam sentimentos e valores de seu próprio grupo. A título de exemplo, podem ser citados grupos como os hooligans, skinreads, dentre outros. A contracultura, por sua vez, é caracterizada por um conjunto de valores e comportamentos que contradizem o modelo da sociedade tradicional, como o movimento hippie nos anos 60.

Tecidas as considerações necessárias, interessante notar que a subcultura delinquente tem sua origem nos Estados Unidos da Amé-rica, pois logo após a segunda guerra mundial a sociedade norte--americana, em franca ascensão, experimentava todo o otimismo do crescimento econômico, dos avanços da ciência e tecnologia, de uma

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democracia representativa com limites delineados pela Constituição, enfim, de uma sociedade constituída por famílias de base patriarcal com valores culturais fundados no protestantismo, de ética puritana e empenho no trabalho, que vinha estabelecer um padrão de valores do sonho americano, o American Dream. Tratava-se da cultura estaduni-dense que mais tarde, nos anos 50, começaria a enfrentar uma série de problemas decorrentes da falta de acesso de uma parcela de jovens aos valores ali estabelecidos. A luta dos negros norte-americanos por direitos civis durante os anos 60 demonstra claramente a não aces-sibilidade, cuja crise provocada neste modelo acentua-se ainda mais quando atinge, também, parte da população branca.

Em uma sociedade competitiva, de permanente busca de status, que prega a ética do sucesso, as desigualdades entre seus membros podem desencadear um sentimento de humilhação e fracasso nos menos aptos. Esse sentimento parece recrudescer nas escolas, onde os jovens de famílias abastadas experimentavam na socialização escolar uma espécie de continuação do aprendizado da educação familiar recebida durante toda a vida, diferentemente do que sucedia com os jovens de classes econômicas inferiores, das classes trabalhadoras, os quais vivenciavam o oposto, submetendo-se a uma espécie de desestruturação cultural em que o padrão dos valores transmitidos no ambiente escolar pertencia às classes mais favorecidas. Neste cenário, surgem as subculturas que nada mais são do que uma espécie de reação das minorias, dos menos favorecidos, para sobreviver dentro de uma estrutura social de escassas possibilidades.

Então, a subcultura delinquente ganha contornos coletivos na medida em que os indivíduos com as mesmas dificuldades se asso-ciam, desenvolvendo, a semelhança do que se verifica nas culturas, um padrão de valores. Dentre os exemplos de subcultura delinquente nos Estados Unidos, pode-se mencionar as gangues de bairros localizados nas periferias nas grandes cidades.

A crítica que pesa sobre a teoria da subcultura delinquente recai sobre a sua incapacidade de explicar a criminalidade como um todo,

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3.4.12. QUADRO SINÓPTICO

&DSÊWXOR,,,t(VWXGRH&ODVVLŤFDÄÀRGDV7HRULDV&ULPLQROÐJLFDV Paradigma

etiológico-explicativo

t D FODVVLŤFDÄÀR GDV WHRULDV FULPLQROÐJLFDV Æ numerosa e heterogênea, assim, o presente trabalho abordará o tema partindo-se de dois referenciais, o individual e o sociológico. O primeiro visa fornecer uma explicação as causas individuais do crime (o homem criminoso) enquanto esse último procura compreender a criminalidade como um IHQÑPHQRVRFLDO VRFLHGDGHFULPLQÐJHQD  Teorias de nível individual

(O homem delinquente)

– As teorias de nível individual podem ser divididas em dois grupos: biológicas (bioantropológicas) e psicológicas.

Teorias biológicas (bioantropológicas)

– O crime está associado a variáveis congênitas de seu autor, ou melhor, a sua estrutura orgânica.2GHOLQTXHQWHÆXPVHU organicamente distinto dos demais cidadãos.

Teorias psicológicas t 3URFXUDP H[SOLFDU DV FDXVDV GR IHQÑPHQR

criminal a partir do estado anímico do indivíduo, de suas vivências do subconsciente ou mesmo nos processos de aprendizagem e socialização.

Teorias psicodinâmincas t 3DUWH GR SUHVVXSRVWR TXH R GHOLQTXHQWH Æ

um ser distinto do cidadão não-criminoso, cujas causas da prática de um crime estão em falhas no processo de aprendizado e socialização. Investiga-se o porquê da maioria das pessoas não praticar crimes. &RPR YLVWR WUDWDVH GH XPD HVSÆFLH GR gênero teorias psicológicas.

Teorias sociológicas (sociologia criminal)

– As teorias sociológicas compreendem o crime FRPR XP IHQÑPHQR VRFLDO QD SHUVSHFWLYD etiológica (causa) ou interacionista (reação social).

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Teorias criminológicas – serão abordadas diversas teorias criminológicas que revelam traços dos referenciais citados, e podem certamente contribuir para o estudo da etiologia do IHQÑPHQR FULPLQDO FRPR D (VFROD GH Chicago, teoria da associação diferencial dentre outras.

Escola de Chicago – Surgimento: início do século XX.

Membros do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago atribuíram à sociedade e não ao indivíduo, as causas da criminalidade.

– Contexto social: época de grande desenvolvimento econômico e industrial nos Estados Unidos da América, que chegou às suas grandes cidades, como Chicago. Milhares de pessoas vindas de diversos locais do país, como descendentes de escravos, irlandeses, eslavos e italianos, HQŤP PLQRULDV ÆWQLFDV KDELWDYDP DV periferias em condições precárias de estrutura, como a falta de higiene, segurança, e iluminação pública. Neste meio cercado por miséria e desigualdades sociais, uma parcela da população passa a ter GLŤFXOGDGHV GH VH DGDSWDU DRV YDORUHV do corpo social dominante gerando a criminalidade.

Dentre os precursores da Escola de Chicago, destaca-se Robert. E. Park que DSRQWRX D LQťXÇQFLD GR HQWRUQR XUEDQR sobre a conduta humana. Concebeu o meio urbano como um organismo dividido em zonas de trabalho, de moradia, lazer, público e privado, dentre os vários existentes com distinção dos níveis de criminalidade.

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Escola de Chicago – Importância: revelou-se fundamental na compreensão da criminalidade urbana, con-tribuindo para o desenvolvimento de estudos nesta área com destaque para o método

da observação participante, e o

concei-to de ecologia humana. Pelo primeiro, o pesquisador participa diretamente do objeto de seu estudo, o que possibilita examinar R IHQÑPHQR VRFLDO GD PDQHLUD H[DWDPHQWH como ocorre. Assim, o conhecimento não se apoia em experiências alheias, mas na-quelas vivenciadas pelo próprio pesquisador. Quanto à ecologia humana, para os adeptos desta teoria a criminalidade teria como causa as cidades.

Teoria da

Associação Diferencial

– Baseada no pensamento de Edwin Suther-land, o delito não consistiria apenas em uma inadaptação de pessoas pertencen-tes as classes menos favorecidas, pois não é praticado com exclusividade por seus integrantes. O comportamento hu-mano tem origem social, e o homem ao aprender a conduta desviada associa-se com referência nela.$VVLPRLQGLYÊGXRÆ convertido em delinquente no momento em que os valores predominantes no grupo, do qual faz parte, ensinam o delito, e isto acontece quando as considerações favo-ráveis ao proceder desviante superam as desfavoráveis.

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Teoria da Anomia – Neste sentido, anomia quer dizer ausência de lei. Baseia-se em noções das áreas de ciências biológicas que procura transpor para as ciências sociais. Com isso, tanto a sociedade como o organismo humano necessitam realizar determinadas funções vitais para manter a própria sobrevivência, e todas as vezes que isso não ocorre surge o que se denominou de disfunção. Trata-se de falha do sistema de funcionamento da sociedade, e isto ocorrendo deverá reagir para saná-la. Caso os mecanismos reguladores da vida em sociedade não consigam FXPSULUVXDŤQDOLGDGHWHPVHLQVWDODGRD anomia, por outras palavras, a ausência ou decomposição das normas sociais.

– O enfrentamento da criminalidade não está na prevenção especial (evitar a reincidência) ou prevenção geral (persuadir, intimidar ou amedrontar o delinquente) mas na satisfação da consciência coletiva. Assim, ao realizar este propósito a sanção preserva a existência do corpo social e secundariamente castiga o culpado e desestimula o cometimento de novas infrações.

– O crime pode ser considerado um fenômeno natural dentro da sociedade, no entanto, deve permanecer dentro de limites de tolerância, sob pena de instalação do caos, do estado de desorganização generalizada a ponto de subverter valores e desacreditar o sistema normativo de condutas. É neste ponto que surge a anomia.

Referências

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