PROGRAMA
DE
POS-GRADUACAO
EM
EDUCACAO
*
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
O `
ow
TRABALHO,
ALIENAÇAO
E
'ESTRANHAMENTO
EM
MARX:
uma
'contrjbuição
à
qducação
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LUCIANO
SÉRGIO
VENTIN
BOMFIM
^
¬
\ _
~ nv '
TRABALHO, ALIENAÇAO
E
ESTRANHAMENTO
EM
aMARX:
uma
contribuição
à
educação
Dissertação apresentada-
ao
programa
de
pós-graduação
em
educação
da
Universidade
Federal
de Santa Catarina
como
parte
dos
requisitos
'
` '
,
para
obtenção
do
grau
de
mestre
em
educação.
›
o
UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA
CATARINA
CENTRO DE
CIENCIAS
DA
EDUcAçÃO
O ~PROGRAMA
DE
Pos-GRADUAÇAO_
`
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇAO
“T
RABALHO,
ALIENAÇÃO,
E
EST
RANHAMENT 0
EM
MARX:
uma
contribuição
à
educação”.
A* - `
i
_
Dissertação
submetida
ao
Colegiado
do
. _
Curso
de
Mestrado
em
Educação
do Centro
de
Ciências
da
Educação
em
cumprimento
parcialpara a
obtenção
do
títulode
Mestre
Qem
Educação.
APROVADO
PELA
COMISSAO
EÍQÀMINADORA
em
16/09/96/ } 7'
Profa. Dra. *V aria élia
Mar
ndes
de
raes -(Orientadora
; .I
.
Í
N
Profa. Dra. ~ ras
(Examinadora)
'Pr ã I 1-'
r-UFF/RJ Examinador)
-ÍÁI
,
O `Í -31 ' .` 9Ç
, r . f ¿ /Prof. Dr.
Pedro Antônio
vieira (Suplente)LUCIANO
SÉR~
VENTIN
BOMFUVI
MARX:
uma
contribuição à
educação
BANCA
EXAMINADORA:
Arpmr.
Dr”. z,E
íaljâcg,
Â
./
Maria
Céliazlãfarcondes/de
Moraes
_
(Orientadora)
l , z OP
of
Dr
' r . . _“_
'ââii
f» Prof”. Dr”. :W arli ^uras
x
inadora)
@
Prof. Dr. 1'
t ` ` 'Pedro Antônio
Vieira
(Suplente)
Florianópolis,
SC
- BrasilSetembro
de
1996
-A
minha
mãe,
a
meu
pai,a
meu
avô,
a
minha
esposa,
a
minhas
filhas
Daniela
e
Wer
am
Geld
haengt,
bekommt
nie
genug
davon.
Wer
einueppiges
Leben
liebt,dem
fehltimmer
noch
etwas.
Auch
das
ist sínnlos.(Kohler, 197sz443)
(Quem
depende do
dinheiro,nem
o
necessário dele obtém.Quem
venerauma
vida de opulência, a este faltasempre alguma
coisa. Istotambém
ésem
sentido.)AGRADECIMENTOS:
A
trajetóriade
uma
dissertaçãode
mestrado constitui-senão
só das experiênciasque
vão
sendo gestadasno
períodode
realização desse curso,mas
sim, transcende,ou
melhor, antecede seu acontecer.É um
rasgoad
infinitumde
sujeitos ede
acontecimentoscom
os quaissomos
historicamente engendrados.Neste
sentido, agradecer éuma
tarefasempre penosa
, edigamos
até certo ponto irrealizável.Contudo,
deixarem
branco este espaçonão
seriauma
atitude politicamente correta,nem
tampouco
indicaria qualquer manifestaçãode
pleno agradecimento.No
entanto, creioque todo
agradecimento envolvesempre
um
agradecer a~ sipróprio, agradecer por ter correspondido positivamente aos seres
que
participaramde
nossasexperiências. Assim, agradeço:
- a manifestação inteligente e bela
da
vida;-
aMaminha,
o
úteromaterno
que
me
abrigou eque
me
ensina a valorizar a vidapela vivência
de
princípios éticos realizadoresdo humano;
- ao papai,
que
me
ensinou acoragem
de
colher os frutosde
uma
semeadura
infeliz;~
- aos
meus
irmaos,que
me
ensinaram a necessidadeda
autocrítica;- a
Joelma
minha
esposa, mestra diária das liçõesde minhas
experiências, pelo exercícioconjunto
da
arte -não
seria ciência? -do amor;
- a
minhas
filhas Daniela e Isabela, por ensinar-me cotidianamente a serum
educador; - aCapes
por ter financiado a realização deste curso;- a professora Marli Auras, pela qualidade
de
suas incursões nos textosde Marx,
a qualprovocou-me
amudar
de temática, e decidir pesquisá-lo;- a professora
Maria
Célia, pela riquezado
seu trabalhode
orientação, etambém
-não
poderia faltar , por sua paciência
em
trabalharcom
a baianidade;- a Ricardo, por ter ensinado-me a ajudar silenciosamente; -
- a Prof* Eneida
Shiroma
pelas leituras, observações e constante incentivo,_
- aos colegas
de
mestrado pelas discussões emiquecedoras;em
especial, a Rose,Vilson, Maristela,
ao
Celso,ao
Pedro; e aAnamélia que
densificava suas intervençõescom
seu singelo espiritomatemo;
e a solidariedade de Flávia;- a objetividade
do
Lucas;- a Universidade
do
Estado da Bahia e,em
especial, a Faculdade deF
onnação
deProfessores de Jacobina, pôr terem liberado-me para realizar este curso de mestrado;
~
ao colega, Prof.
Cosme
da FFPJ, por tergfeito a revisaodo
texto;- a gentileza
do
Carlos e de todo pessoalda
“$<erox”;SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
... ... ... ... ... ... ..1CAPÍTULO
I:CARÁTER
TELEOLOGICO
DO
TRABALHO
... ... ... ... ... ... ..41.1 -
INTRODUÇÃO..
... ..ó 1.2 -CARÁTER
TELEOLÓGICODOTRABALHO
... ..s1.3 -
O
CARÁTER ALTERNATIVODOPOR-TELEOLÓGICO
... ..2o 1.4 -PRESSUPOSTOS
METODOLÓGICOS
PARA
APREENSÃO
DA
EFETIVIDADE
... _. 27CAPÍTULO
Hz 'O
PROCESSO
DE
TRABALHO NA PRODUÇÃO
CAPITALISTA
... .. 31 2.1 -A
REOROANIZAÇÃO
DA
DIVISÃO SOCIAL
DO
TRABALHO
SOB
O MODO
DE
PRODUÇÃO
PEUDAL
... ... .., ... .. 322.2 -
A
DIMENSÃO
SOCIAL
DO
TRABALHO
NO
CAPITALISMO
..._. 4o
2.3 -
A
FORMA-MERCADORIA
E
O
PROCESSO
DE
TROCA
NO
MUNDO
CAPITALISTA
..... 4ó
2.4 -
METAMORFOSES
DO
TRABALHO
NO
PROCESSO
DE
TROCA
... .. so2.5 -
PROCESSODE
CONSTITUIÇÃO
DO
VALOR
...._ só
2.ó -
O
TRABALHADOR
SOB
A
ORGANIZAÇÃO
DO
PROCESSO
DE
PRODUÇÃO
CAPITALISTA
... .. 59
2.7-
PROCESSO
DE
PRODUÇÃO
E
REPRODUÇÃO
DO
CAPITAL
... .. ósCAPITULO
III:-0
ALIENAÇÃO
E
ESTRANHAMENTO
EM
MARX
... .. 733.1.
PROCESSO
DE ALIENAÇÃO
NO
PROCESSO
DE
TRABALHO
... .. 753.2 -
O
PROCESSO
DE ALIENAÇÃO
NA
SOCIEDADE
EM
GERAL
... .. 82
3.3
A
SUPERAÇÃO
64UFHEBUNG)
DO
ESTRANHAMENTO
... .. 90CONSIDERAÇÕES
FINAIS ... .. 97‹
NOTAS:
... .. 103RESUMO:
Este estudo
tem
por objetivoacompanhar
alguns aspectosdo pensamento
do
filósofoalemão
KarlMarx,
com
a contribuiçãode
intérpretesde
sua obra,como
Lukács,Mészáros,
Rubin, Bedeschi e,Duayer.
Os
aspectos aqui privilegiados são as categorias “trabalho”, “alienação” e “estranhame_nto”.Com
este estudotemos o
propósitode compreender
o
papelda
educação
formalna
superação (Auƒhebung)do
estranhamento.-Na
primeira parteda
pesquisa analisamoso conteúdo
outológicodo
trabalho,buscando
apreender sua função para realizaçãoda
especificidadedo
serhumano.
Aqui
descobrimos
o
estatutode
categoria fundantedo
ser socialque
Marx
atribuiao
trabalho,uma
vez
que
seu caráter éde
natureza teleológica. Y ^Na
segunda parte analisamoso
conteúdodo
trabalhono
modo
de
produção
capitalista, tanto sob a ótica
da
divisão socialdo
trabalho,como
no
processode produção de
mercadorias. Aqui, por ser alienado,
o
trabalhonão
promove
a realizaçãodo humano,
mas
sim,o estranhamento do
ser social.-i
Na
terceira parte analisamoso
processoda
alienação capitalista,buscando não
sóexplicitar a sua gênese,
mas
também
os pressupostos básicos para sua superação (Auƒhebung),tais
como
a aboliçãodo
trabalho alienado e, assim,da
propriedade privada edo
salário;como
também
da
construçãode
uma
práxis social humarrizante.Por
fim,
analisamosem
linhas geraiso
papelda educação
formal para superaçãodo
estranhamento.ABSTRACT:
The
present .survey has as itsmain
purposeof
following-upsome
aspectsof
the thoughtsof
theGerman
philosopher KarlMarx,
countingon
the contributionof
interpretersof
his works, such as Lukács, Mészáros, Rubin, Bedeschi
and
Duayer.The
aspects privileged herein are the “work”, “alienation”and
“strangeness” categories. This survey has thepurpose
of making
us understand the roleof
the formal education in' surpassing(Aufl1ebung) thestrangeness. "
The
first partof
the survey is the analysisof
the ontological content of thework,
where
we
try to grasp its function to the achievementof
thehuman
being specificity.Here
we
found the social being statute
of
basic category thatMarx
atributes towork, whereas
its character isone of
teleological nature. 'On
the second partwe
analyze thework
content as far as theway
of capitalistproduction, as
much
with theview of
thework
social division, as with the merchandise production process. Since it is alienated, thework
here does not further the realizationof
thehuman
being, but the strangenessof
the social being.The
third part is the analysisof
the capitalist alienation process,where
we
not only try to explicit its origin, but also the basic presupposition for its su1passing(Aulhebung) such as the alienatedwork
and, therefore,of
the private propertyand
salary; as well as the constructionof
a humanizing social praxis, too.In conclusion,
we
analyze in general lines the formal education role in the surpassinof
|NTRoDuçÃo
O
fracasso das experiênciasdo
“socialismo real”no
LesteEuropeu,
materializadona
queda do
muro
de Berlin eo
consequente avanço capitalista nesta partedo mundo,
fez ecoar acondenação
final aMarx: o
martelo havia sido batido e a sentença demorte
fora-lhe declarada. Assim,um
processcque
se arrastava por maisde
um
século parecia terchegado ao
fim
sem
possibilidadede
apelações; “as provas seriam, agora, irrefutáveis”!Tudo
tão óbvio,uma
realidade tão transparente,que
seria perdade
tempo
questiona-la.Confirmava-se,
aparentemente,
o que há
muito os libjeraishaviam
prenunciado: a impossibilidade deuma
organização socialista de sociedade. rPara além
da
visibilidadedo
colapso dos regimesdo
Leste Europeu,no
entanto, os arautos damorte
deMarx
edo
socialismo e, diga-se de passagem,do
adventodo fim-da-
história,
buscaram
subsídios para suas propostas nas próprias transformações propiciadas pela reestruturaçãodo
capitalismo nas últimas décadas. Processoque testemunhou
profiindasmudanças no
mundo
do
trabalho._ ø
Como
se sabe, as inovações tecnológicas e toda a reorganizaçãodo
processode
trabalho
passam
a exigirdo
trabalhadorbem
maisdo que
a simples reprodução sistemáticade movimentos: os complexos-maquinários, agora informatizados,exigem do
trabalhadoro
domínio de operações intelectuais antes objetivadas nas máquinas; o saber, por si só,
não
émais capaz de instmmentalizar
o
trabalhadorem
seu fazer, e torna-se necessário o exercíciode
habilidades, atitudes e hábitos
que
dêem
conta da complexidade crescentedo
processode
trabalho e das reengenharias administrativas
da
indústria.Em
linhas gerais,o
trabalhadorda
“nova” indústria deve ser mais qualificado, pois de maior riqueza científica lé
o conteúdo
do
seu fazer.Deve
ser,também,
de qualidade heterogênea, pois mais individualizada é aprodução
dos valores de uso. Este
mesmo
processotem
levado, paralelamente, a reduçãoda
classeoperária tradicional concomitante à contínua redução
de
postos de trabalho e aoaumento
do
trabalho terceirizado, parcial, precário, subcontratado, informal, etc, fragilizando nuclearmente
a organização sindical dos trabalhadores.
O
próprio “ser”do
trabalho sofre o impacto dessasmudanças
e é atingido tantoem
sua materialidade, quantoem
sua subjetividade e formasde
representação.
Tal reorganização
do
mundo
do
trabalho abriucampo
para o questionamentoda
centralidade das categorias
fimdamentais do pensamento
marxiano,como
o
“ trabalho”, a7
“alienação” e
o
“estranhamento”. Sabel e Pion` (1984), por exemplo,afirmam
que
taistransformações
no
“ser”do
trabalhosuperam
(aufheben) a condição estranhadado
serhumano
no
capitalismo,uma
vezque
a fragmentaçãodo
trabalho teria sido superada mediante aprodução
coletiva,com
um
trabalhador mais consciente, participante das decisõesda
empresa.Além
desta tese, os referidos teóricos partemdo
pressupostode que
a democratizaçãodo
consumo
é hojeuma
realidade, mediante aprodução
diversificada para cada tipode
cliente,fazendo-os sentirem-se distintos
na
coletividade. ~` `
Sem
colocarem
questão a profundidade e a abrangênciado
processo de reestnrturaçãodo
capitalismo, cabe, entretanto perguntar: seria possívelafirmar que
tal processoconduz ao
fimda
alienação edo
estranhamentodo
trabalhadorno
processo de trabalho?A
resposta afirmativa a esta questão deixa de lado algumas outrasque
nosparecem
fundamentais:como
explicar a superação da alienação e
do
estranhamento, mantendo-se a propriedade privada,0
dinheiro, a mais valia e a redução dos direitos sociais
do
trabalhador?Como
pensar a superação (Aujhebzmg)do
estranhamento
em
um
momento
em
que
o trabalhador é reduzido a agenteda
construçãodo
cotidiano, amanutenção
dos limites impostos pelo confinamento àprodução
e reproduçãodo
imediatamente vivido?São
essas as questõesque
inspiraram a realização desse estudo.Por
certo,nem
de
longe tivemos a pretensão de dar conta de tal complexidade de problemas. Pareceu-nos, porém, importante
compreender
as categorias ora postasem
questão pelopensamento
neo- conservador.Por
esta razão, voltamos aMarx
e, neste sentido, esta dissertação constitui-seem
um
estudo,uma
busca decompreensão
das categorias “trabalho”,' “alienação”, e “estranhamento”no
seu pensamento.Com
este objetivo procuramos,em
um
primeiromomento,
nos aproximarda
categoria “trabalho” enquanto categoria fundantedo
ser social, processo pelo qualo
ser conscienterealiza sua especificidade de ser
humano.
E
oque
faremosno
1° capítulo.Na
dimensão
ontológica
do
trabalho,abordaremos
os seguintes aspectos: - a relação entreo
agirdos
sujeitos singulares e as determinações nas quais está engendrado; a questão
da
legalidade eda
historicidade
como
determinaçõesda
realidade; o caráter altemativodo
estabelecer edo
pôr-teleológico; e os pressupostos metodológicos da apreensão
do
real.Uma
vez estudadoso
caráter ontológicodo
trabalho, discutiremosno segundo
capítulo, as condições sob as quais
o
trabalho se realiza sob as relações sociaisde produção
capitalistas.
Neste
contexto, eacompanhando
passo a passo a análise desenvolvida porMarx
em
O
Capital e nos Grundrisse, analisaremos os seguintes aspectos: - a superação(Aujhebung)
do
modo
de produção
feudal; adimensão
socialdo
trabalhono
capitalismo;o
processode
troca
no
mundo
capitalista; asmetamorfoses
do
trabalhono
processode
troca; o processode
constituição
do
valor; e o processo deprodução
e reproduçãodo
capital.Partindodo
pressuposto deque
sob a organização social capitalista 0 caráterdo
trabalho é desumanizador, chegamos,em
nosso estudo auma
questão cmcial, qual seja, quaisas implicações da negação ao trabalho
em
promover
a realização da especificidadedo
gênerohumano
no
modo
deprodução
capitalista?A
resposta desta questão estáno
estudodo
processo da alienação e
do
fenômeno do
estranhamento aos quais são submetidos tanto trabalhadorescomo
capitalistas.Chegamos
assim ao 3° capítulo, talvezo
momento
centralda
dissertação, é a discussão da questão
da
alienação edo
estranhamentono
processode
trabalhocapitalista,
acompanhando
a discussão feita porMarx
nos ManuscritosEconômicos
eF
ilosóficos e as contribuições fundamentais deMészáros
e Bedeschi nesta temática.O
estudo desta questão foi feito sob três dimensões: - a análiseda
alienação edo
estranhamento,no
seulocus, qual seja,
no
processo de trabalho, a análise da alienação edo
estranhamentoem
geral; e na terceira, a identificação dos pressupostos fundamentais para superação (Auƒhebung)da
alienação capitalista -
do estranhamento.
E
assim éque
em
nossas considerações finais nospropomos
a analisar - aindaque
em
linhas gerais - o
fenômeno do estranhamento
sob a ótica daeducação
formal,
procurando
entender o seu papel neste contexto.
1
jamais
perfeito,de determinadas
jinalidades e
de
determinados
meios.
1,1
-INTRODUÇÃO
Trabalhando,
o
serhumano
mantém-se
existente.Mediante
o
trabalho satisfaz suas necessidades, retirandoda
natureza os elementosque
lhe são necessários.O
comportamento
da
espécie'humana
difere dos animaisno que
diz respeito àforma de
apropriar-sedos
elementos
da
natureza.Os
animaistêm
sua relaçãocom
o
mundo
fisico delimitada, porum
lado, pelas habilidades
de
sua espécie e, por outro, pela leisda
natureza,que
agem
inexoravelmente sobre elas.
Enfim, mantêm
a sua existência relacionando-secom
a natureza pormeio de
um
extrativismo instintivo,consumindo
seus alimentos talcomo
são por elaoferecidos e
sem
a utilização de qualquer recursoque
se interponha entre eles - animal e0
alimento.
O
mesmo
ocorrecom
suas habitações, poiso
único instrumento de labor utilizadona
sua construção é seu próprio corpo. Diferentemente, a espécie
humana
para produzir suaexistência, necessita
do
uso de instrumentosque
lhe possibilitem ter acesso aos elementosnaturais,
sem
os quais ela pereceria._O
serhumano
não
sobrevivesem
a utilização de taisrecursos, pois seu corpo, por si só,
não
resiste às intempériesda
natureza. Ele precisa vestir-se,e para isto necessita tecer
o que
veste, precisa proteger-seda
ação de outros animais, e paraisto necessita construir defesas, precisa
comer
e, portanto, imprescinde dos meiosde
acesso aos seus alimentos.Sem
o
trabalho o serhumano
pereceriaPor
isto,afirma
Marx:
O
primeiro ato histórico é, portanto, aprodução
dosmeios
que
permitam a satisfação destas necessidades, aprodução da
própria vidamaterial e, de fato, este é
um
ato histórico,uma
condição fiindamental de toda a história,que
ainda hoje,como
há milhares de anos,deve
sercumprido
todos os dias e todas as horas, simplesmente paramanter
oshomens
vivos. (Marx, l977:39)Trabalhando,
homens
e mulheressuperam
a limitação de serem 'apenasmeio
de manifestação das leis naturais, e “criam” a própria natureza. Superam, assim, a determinação das leis naturais. Diferentemente dos animais, “...ohomem
fazlda atividade vitalo
objetoda
vontade e da consciência.”(Marx, 19891164/5)
Mas
esta natureza criadorado
trabalhonão
significa a
produção
de elementos efenômenos novos que não decorram
deuma
transformação de qualquer elemento natural.
O
serhumano
cria,mas
não
o novo, “inusitado”,original. Ele cria
sempre
a partirdo que
existe,do que
já se encontra disposto na natureza.É
exercício e desenvolvimento de seu agir criador. Aqui,
segundo Marx,
reside a diferença fundamental entre aprodução do
animal e ado
serhumano,
pois aqueleproduz
apenasnuma
só direção,ao
passoque o
homem
produz
universalmente;
produz
unicamente sob adominação
da necessidade~ fisica imediata, enquanto
o
homem
produz quando
se encontra livreda
necessidade fisica e só
produz
verdadeiramentena
liberdadede
tal necessidade;o
animal apenas seproduz
a si,ao
passoque o
homem
reproduz toda a natureza;
o
seu produto pertence imediatamenteao
seu corpo fisico, enquantoo
homem
é livre peranteo
seu
produto. _O animal constrói apenassegundo o
padrão e a necessidadeda
espécie aque
pertence, ao passoque o
homem
sabe
como
produzirde acordo
V
com
o
padrãode
cada espécie esabe
como
aplicaro
padrão apropriadoao
objeto; destemodo,
o
homem
constróiem
confomiidadecom
as leisda
beleza. (Marx, 1989: l65)(grifo nosso)É
então pelo trabalho,ou
seja, agindo parao
atendimento de suas necessidades,que o
ser
humano
transforma «a natureza e,ao
mesmo
tempo, transforma a simesmo,
se produz,torna-se consciente. Esta transformação
do
serhumano
eda
naturezanão
sedá
ocasionalmente e à revelia de determinações objetivas. Ela
obedece
a princípios postos pela própria especificidadeda
vidahumana,
que
é a de estar socialmente organizada.O
processode
trabalho assim, não se desenvolve
em uma
natureza “in natura”,mas
em
uma
natureza socialmente humaniz-;.da_A
açãodo
serhumano
sobre a natureza é engendradano
processode
produção da sociedade.
Ambos
se determinam mutuamente.Dessa
forma, as possibilidades de beneficiar-se dos conhecimentos -e das riquezasda
natureza,
que pressupõem
a apreensão eo
domínio das leis naturais, está na dependênciade
como
sedesenvolvem
as relações sociais entre os sereshumanos,
visto que, “...a verdadeira riqueza espiritualdo
individuodepende da
riqueza de suas relações reais.”(Marx, 1984145)Mas,
é sobretudo o caráter teleológicodo
trabalho a característica principalque
vai distinguir o serhumano
dos animais.A
despeitoda
“perfeição”do
processo edo
produtodo
labor, o fazer
do
animal não supera o simples dispêndio de energia fisiológica, poisnão há
saber, não há conhecimento, não há possibilidade
de
intervir nosmecanismos de
ação das leisnaturais e assim recriar a vida.
Como
afirma Marx: ~Uma
aranha executa operações semelhantes àsdo
tecelão, e a abelha supera mais deum
arquiteto ao construir sua colmeia.Mas
oque
-sua construção antes de transforma-la
em
realidade.No
fimdo
processo
do
trabalho apareceum
resultadoque
já existia antes idealmente na imaginaçãodo
trabalhador. (Ibid:202)_
É
deste aspecto
que
trataremos a seguir.1.2 -
CARÁTER
TELEOLÓGICO
DO
TRABALHO
`O
desenvolvimento .eo
exercícioda
consciência,.momento de
constituiçãoda
especificidade
humana,
próprioao
caráter teleológicodo
trabalho,não
seresume
apenas à objetivação deum
agirque
busca responder aos imperativos e desafiosda
materialidade.Mas
sim, deum
agir enriquecido pela investigação deuma
resposta'que
lhe possibilite a manifestaçãoda
especificidadedo
gênero ao qual pertence.O
individuo singularnão
se limita a responder às necessidades e desafios postos pela realidade,mesmo
que, por fim, suas ações seapresentem
como
decorrentede
um
aparente determinismo ante sua consciência. Isto significa dizerque
além de responder, ele se pergunta sobre tais desafios e necessidades,ou
melhor,o
próprio ato de responder constitui-se
em
um
processo de problematização:...o
homem
torna-seum
serque dá
respostas precisamente namedida
em
que
- paralelamente ao desenvolvimento social eem
proporção
crescente - ele generaliza, transformando
em
perguntas seus próprioscarecimentos e suas possibilidades
de
satisfazê-los; e quando,em
sua respostaao
carecimentoque
a provoca, funda e enriquece a própriaatividade
com
tais mediações, frequentemente bastante articuladas.(Lukács, l978:05)
Desta forma, o trabalho é
um
ato de pôr-se consciente na realidade, conscienteda
razãodo
porquê do
seu fazer, conscientedo
próprio fazer.No
trabalho,0
desenvolvimentoda
consciência é possibilitado pelo enfrentamento
do
sujeito singularna/com
a natureza humanizada. Este enfrentamento engendrauma
relação denegação
entre ambos, mediante aqual, o caráter teleológico
do
trabalhohumano
se constitui. Isto é,sem
a capacidadede
estabelecer e realizar finalidades o “domínio”da
natureza seria impossívelao
indivíduo.Seu
agir é
sempre
fmalistico, pois é guiado poruma
prévia ideaçãoda
realidade.Ou
seja,há
sempre
um
telos guiando o desenvolvimentodo
agirhumano,
a despeito de possiveisdeterminações contrarias à sua efetivação e da lógica social sob a qual este se externaliza.
A
teleologia, assim, explicita o caráterdo
trabalhocomo
um
fazer dirigido poruma
finalidadefinalidade
que supõe
uma
dada compreensão do que
seja a realidade, eque
determina a sua apreensão.Enfim,
como
indica Lukács, o...essencial ao trabalho é
que
nelenão
apenas todos osmovimentos,
mas
também
oshomens
que o
realiza,devem
ser dirigidospor
. finalidades determinadas previamente. Portanto,
todo
movimento
ésubmetido a
um
dever-ser.(Ibid:O7) -Dever-ser este
que
só será se decorrerda
apreensãoda
gênesedo
que
é efetivo à realidade.É
importante explicitarnestemomento
a questãoda
efetividade.A
efetividade éum
conceito lukacsiano referente àquiloque
está posto, estruturado, enquanto constituintede
um
mundo
objetivo, eque
wirklích (re_a1lmente) condicionao
agirdo
sujeito singular.Por
outrolado, a objetividade
também
o desafia a manifestar adimensão “autônoma”
do
seu agir,ao
mesmo
tempo
em
que
impõe-se a elecomo
se fosseimune
às suas intervenções.É
pelo trabalhoque
homens
e mulheres defrontam-secom
este desafio. Pelo trabalho, o ser conscienteobjetiva intewir ,na efetividade posta, realizando a teleologia estabelecida. Para tanto, faz-se
necessário
que
as posições teleológicas adotadas pelo trabalhadorcausem
modificaçõesobjetivas.
Como
afirma Lukács,“o
trabalho éformado
por posições teleológicas que,em
cada oportunidade,poem
em
funcionamento séries causais.”(lbid:06) `É
importante destacar que, sobre o reinoda
efetividade, se manifestam e são engendradas a totalidade das práxis dos indivíduos singulares,que
interagem e confrontam-secom
os aspectos, relações,fenômenos
e processosque
constituem a própria efetividade.O
engendramento
determinativo da totalidade das práxiscom
a natureza (humanizada),produz
inúmeras redes de determinações
que
definem
o conteúdoda
efetividade. Tais redes sãochamadas
porLukács
de complexos.Os
complexos
articulam-se por toda tessiturasocialdando
origem acomplexos
mais elaborados,no que
diz respeito à riqueza de conteúdo socialdo
qual se constituem.Mas
qual a relação de taiscomplexos
com
a causalidade inerenteao
real?Segundo
Duaycr,...no plano ontológico, as séries causais
que
govemam
osmovimentos
do
ser social, enquantocomplexo
decomplexos
heterogêneosem
interação,
emergem
como
uma
síntese efetiva das séries causais de seus complexos.(Duayer, 1995: 138)Esta síntese aponta para
uma
direçãono
desenvolvimentoda
sociedade, tecendo assim astotalidade
da
efetividade,em
uma
efetividade histórica que,uma
vez situadaem
um
campo
de
múltiplas possibilidades, não é a expressão da inexorabilidade,nem
tampouco
deum
acaso inerente a si próprio.Decorre
daío
fato deque o
movimento
da
sociedade égovemado
por
leis gerais, qual seja, o de “...sustentar
o
caráter históricodo
processo de desenvolvimentodo
ser social e,
em
conformidadecom
isso, indicar a natureza das legalidadesque
impõem
o
curso específico daquele desenvolvimento”(Ibid: 130).No
casode
uma
organização social capitalista, tais legalidades constituem aquiloque
chamamos
de
lógicado
capital. *\
Mas
qual a razão ontológicada
dinâmicada
realidade pressuporuma
legalidade?O
fiindamento da
sociedade sergovemada
por leis gerais - possuir legalidades - resideno
fatode
que, para
o
ser social, real e efetivamente existir, a realidadenão
pode
ser simples consequência das i~"eaçõesdos
sujeitos singulares, tendoem
vistaque
o ser social é inerentementeum
ser coletivo. Neste sentido, a legalidade éuma
categoria diferenciadora,na
medida
em
que
eladefine
a efetividadecomo
um
campo
independente, enão
como
simples locus de manifestação das objetivaçõesdo
ser consciente.Mesmo
porque,como
afirma
Duayer, `
...desde
que
os sujeitosda
posição teleológica sãosempre
individuossingulares,
não
há qualquer consciência transcendente capazde
prefigurar e, por conseguinte, pôr os
movimentos
causaisdo
processoglobal da sociedade.(lbid: 127)(grifo nosso)
Para
uma
concepção
não materialista da história, legalidade e historicidade seopõem,
ou
melhor, se excluem.Os
teóricos de talconcepção
partemdo
princípio deque
seo
mundo
objetivo é de natureza histórica, ele jamais conteria
em
siuma
legalidade, vistoque
esta pressupõeum
caráter causal às determinaçõesda
sociedade.A
causalidade -pensam
taisteóricos -
não
pode
^')nstituir ó serdo
realporque
éuma
peculiaridadedo
ser consciente.
Da
mesma
forma, ao admitir-seuma
legalidade na realidade, estanão
poderia ser histórica, poiscomo
se explicariam as inúmeras transformaçõesque
nela seengendraram?
Entretanto,como
indica Duayer:
Quando
analisadas (...), desdeuma
perspectiva ontológica,historicidade e legalidade
deixam
de ser pólos irreconciliáveis, e revelam-se determinações da realidade (formas de ser, determinaçõesdo
existente) constituída “por várioscomplexos
heterogêneos eheterogeneamente moventes,
combinados
numa
unidadecom
leisPara
uma
concepção
dialéticada
história,o
agirdo
ser consciente imprimeao
objetode
suas intervenções - a realidade -
o
caráterde
sua manifestação causal. Entretanto, acausalidade
que emerge
daínão
pode
sero
simples reflexodo
agirdo
sujeito singular,mas
simdo engendramento
'determinanteda
totalidade dos pôr-teleológicosempreendidos na
objetividade.
Ou
seja, a causalidade inerente à efetividadenão
.guardanenhuma
relaçãoL-:ta
com
as diversas teleologias nela postas.A
lógica constituinte' de sua dinâmica é independenteda
ideaçãoque
os vários sujeitosfaçam
eempreendam
nela. Isto é, é independenteno que
dizrespeito à sua
autonomia
ante a práxisdo
sujeito singular. Pois,como
indica Lukács, “...enquanto a causalidade éum
princípio demovimento
em
sua própria base,mantendo
este caráter aindaque
uma
série causal tenha seu ponto de partidaem
um
ato da consciência, ateleologia é
em
sua própria naturalidade,uma
categoria posta.” (Lukács, l980:O5)Isto não significa, porém, a inexistência de
uma
relação de determinação entre causalidade e teleologia,mas
simque
ambas,ao
se determinarem, constroem sua independência.Ou
melhor,que
o processo de determinação da causalidadena
teleologiado
sujeito singular e desta, na causalidade da efetividade,
não
subsume
a especificidadeda
dimensão inerente a cada
uma
delas. Indivíduo e realidadenão
seconfundem
apesar de sedeterminarem.
O
que
significa dizer que, se porum
lado “...numa sociedade tornada realmentesocial, a maior parte das atividades cujo conjunto
põe
a totalidadeem
movimento
é certamente de origem teleológica...(Lukács, 1978106), por outro, “o processo globalda
sociedade éum
processo causal,
que
possui suas próprias normatividades...”(Ibid:10). Aqui reside ofundamento
da unidade contraditória de teleologia e causalidade.Sem
estamesma
substânciacomum
- o caráter causal - tal unidade seria irrealizável. Haveria tãosomente
oposição.
Sendo
assim, para estabelecer e pôr finalidades,o
sujeito singular necessita conhecer as conexões causaisque determinam
a efetividade.A
apreensãodos
complexos
e da gênesedos
complexos que
a constituem, é condição sinequa non
para a intervençãono
que está posto,uma
vezque
a realização de teleologiasna
materialidade imprescindeda compreensão da
estrutura e da dinâmica
do
real. Contudo, a despeitoda
teleologianão
ser “...umavaga
aspiraçãoou
simples desejo, sóguardando
a identidade namedida
em
quecomporta
possibilidades efetivas de realização”(Chasin, 19951419),
o
indivíduonão
éimpedido
de manifestar suas ideaçõesno
mundo
objetivo.No
que
diz respeito ao trabalho -momento
específicode
manifestaçãodo
caráterteleológico
do
agirhumano
- a relação teleologia-causalidade. émediada
pelo conhecimentoque o
'trabalhador adquire das causalidades naturaisque detemiinam
seu fazer,bem como
das causalidades postasque
definem
as condiçõesde
seu objeto na natureza edo
processoda
transformação' deste
em
um
novo
valor de uso.Aqui
se faz necessário fazer a seguintedistinção.
O
agir teleológicodo
serhumano
opera exclusivamenteno
campo
dasconexões
causais por
meio da
qual as legalidades se manifestam.Os
princípios (as legalidades)que
organizam a natureza
não
podem
ser alterados pelo agirdo
indivíduo.Quando
um
ou
mais pôr-teleológicos interferem na manifestação deuma
legalidade natural, as implicações para a vidahumana
são nefastas. Entretanto,quando
se tratade
legalidades sociais a consideraçãonão
pode
ser amesma,
vistoque
tais legalidades são instituídas mediante as relações sociaisde
produção.
A
sinonimização da analogia implicaria na tese da impossibilidade e da ausênciade
sentido para superação (Auƒhebzmg) da alienação capitalista.
Retomando
a análise sobre a teleologiano
trabalho,lembramos que quando
aprodução
de
um
valor de usonão
pode
ser desenvolvida apenas porum
trabalhador exigindo, assim,um
conjunto deles para a realizaçãoda
finalidade estabelecida, a relação teleologia-causalidade pressupõetambém
amediação da
cooperação entre os trabalhadores. Esta cooperação fazo
intercâmbio entre as finalidades
que
orientam o fazer de cadaum
deles. Desta forma, a transformaçãoque
cada trabalhador opera sobre seu objeto de' trabalho éem
funçãodo
elemento construtor da cooperação. Este elementotem
assim a funçãode
“...influenciar a posição teleológica de outras pessoas, de talforma que
as séries causaisque
estas últimaspõem
em
movimento
estejam coordenadas e, assim,possam
realizar a finalidadeposta.”(Duayer, l995:l25)
Segundo
Lukacs, este elemento construtorda
cooperação,chamado
por ele de posição teleológica secundária“não é mais
alguma
coisapuramente
natural mas,ao
contrário, a consciência deum
grupo humano;
a finalidade postanão
é mais projetada diretamente paramudar
um
objeto natural,mas
para induziruma
posição teleológica esta sim realmente orientada para objetosnaturais, os meios igualmente
não
maisatuam
diretamente sobre objetos naturais,mas
enquanto taisprocuram
induzir outras pessoas a tal ação.°(Lukácsapud
Duayer, ibid: 125)Mas
o que
são as causalidades naturais?As
causalidades naturais existem independentementedo
agirhumano,
e são responsáveis pelos elementos,fenômenos
e processosque
estruturam edinamizam o
mundo
natural.Contudo, quando
setem o
objetivode
compreender
a naturezaem
sua totalidade,toma-se
imprescindível a apreensão das práticasque
nela' se desenrolam,-bem como
das inúmeras interações e confrontos entre os sujeitos singulares- eda
estmtura socialna
qual estas relações são engendradas. Todavia, a consideração destesçaspectosnão
implica - é óbvio -que
a existênciada
natureza seriauma
consequência direta e simples
da
existênciado
serhumano.
O
que
estamosquerendo
dizer, éque
a sociabilidadeda
natureza decorre das interações e confrontos dos sujeitos singulares sobre a realidade fisica.Sendo
assim, a natureza para-si sópode
ser concebida pressupondo-se a
produção do
ser social. Pois,como
afirma
Marx,
ela foi humanizada. Entretanto, ébom
enfatizar
que
a natureza fisica, material,não
resulta evidentementedo
pensarde
homens
e mulheres,nem
tampouco
as transformaçõesque
nela se desenvolvem, sãosempre
decorrentes de seu agir.Como
diz Lukács:Os
objetos materiais, (...) continuam a serem
si aquiloque eram
pornatureza, na
medida
em
que
suas propriedades, relações, vínculos etc,existem objetivamente independentemente da '
consciência
do
h‹›mem...(Lukâ‹zs, 19s1z92)
Enfim, seres orgânicos e inorgânicos são engendrados
em
um
complexo de
determinações reproduzindo a natureza por força de leis
que
agem
inexoravelmente
sobre eles- exceto é claro sobre o ser
humano,
visto o caráter consciente de sua mediação.No
entanto, a intervenção deste na natureza, pode, ao
modificar
certas conexões naturais, e assim criarnova(s) causalidade(s) - causalidade(s) posta(s) - gerar
uma
outra causalidade que, apesarde
ser consequência de
uma
finalidade posta, constitui-se, aomesmo
tempo, em'uma
causalidadenatural, na
medida
em
que
não derivou diretamente deuma
finalidade estabelecida,motivadora
do
agir transformadordo
serhumano
na natureza.Como
exemplo, o caso deuma
usinahidrelétrica -
uma
causalidade posta -que
ao ser efetivada, criaum
lago. Apesar destenão
decorrer de
um
pôr-teleológico estabelecido, é resultante da intervençãodo
ser consciente. Este Iago criado, apesarde
decorrente deum
agir teleológico, logo posto, torna-se para a população ribeirinhaque
ali se instala,uma
causalidade natural,uma
vezque
é semelhante aos demais lagos não criados pelasmãos
do
serhumano.
Ademais, é deleque
sairá partedo
sustento de suas famílias e terá ele
também
a função de viade locomoção
e de lazer, entreoutras.
Aqui retomamos
uma
questão filndamentalque
indicamos anteriormente, qual seja, atese
de que
a transformação das causalidades naturaisem
causalidades postas - postas pelo agirtransformador,
porque
elaboradoem
correspondênciacom
a realidade - pressupõe primeiramenteque o
indivíduo desenvolvauma
coerente apreensãodo
mundo
objetivo, pois, “...paraque
possa haver dação sensívelde
forma,o
efetivadortem
primeiroque
dispor delaem
si
mesmo,
o que
sópode
ocorrer sobconfiguração
ideal...”,(Chasin, 19951397).Uma
vez
investigado os meios necessários e possíveis para efetivar a teleologia estabelecida,
pode o
indivíduo “...pôr a seu serviço,
sem
transgressão, a lógica especificado
objeto específico,ou
seja, a legalidade da
malha
causalide sua constitutividade material primária.”(Ibid:398/9)O
momento
específicono
qual isto se evidencia é a prática. Nela, “...a subjetividade proponente -teleologia, e a subjetividade receptora - capacidade cognitiva”(Ibid:399), atestam sua
correspondência
com
a efetividade e, assim,fundam
sua verdade ontológica.A
teleologia se manifesta, dessa forma,como uma
categoriada mediação
entre a subjetividade e a objetividade, namedida
em
que
o estabelecer eo
pôr finalidadespressupõem
o conhecimento das conexões causais
que
constituem omundo
objetivo.Por
outro lado, é mediante a realização de teleologiasque
o real constitui a sua causalidade.Sendo
assim, a importânciaque
cabe ao conhecimento namediação
da subjetividadecom
a objetividade é de fundamental importância.É
ele a matéria primacom
a qualo
indivíduo supera a passividade e torna-se sujeito ativo, é pelo conhecerque
ele torna-se conscientede
sua sociabilidade e da rede de determinações na qual é engendrado.
É
pelo conhecimentoque
ele torna-se
um
serque
estabelece finalidades ao seu agir e assimtem
a possibilidadede
transformar a natureza e a si próprio.
Sem
o conhecimento real, efetivo, o sujeitonão
transforma
nem
o
mundo
nem
a simesmo.
Uma
coerente apreensão' da realidade possibilitaao
indivíduo nela intervir,
uma
vezque
ele apropriou-se da rede de determinaçõesque
a constitui;enfim, constmiu
uma
teoria sobre ela.Sua
explicaçãodo
mundo
material estáem
correspondência
com
a lógica a ele subjacente.Quando
a elaboraçãodo
sujeito singular e'real, visto
não
explicar as contradiçõesque
a este são inerentes.Uma
teoria quenão
justifica suas explicaçõesnão
tem
o
poder de determinaruma
qualificaçãoda
prática e, assim, fundaruma
(nova) práxis.Ou
melhor,sem
teorianão há
práxis, tãosomente
uma
prática, pois apráxis envolve a' apreensão
da
realidade, a elaboração
de
uma
ação, a própria ação e as consequências correspondentesda
ação. ~V '
'
Contudo,
é «preciso 'pontuar a necessidadedo
conhecimento.O
conhecer, éum
processo basilannente desencadeado pelo trabalho. Trabalhando,homens
e mulheres enfrentam-secom
o
imperativode
terque
conhecer parapoder
satisfazer suas necessidades.O
conhecimento possibilitaque
o trabalhohumano
sejaum
fazerque
transforma enão
apenas reproduz,um
fazerque não
apenas despende energia fisiológica,mas
compreende.Segundo
Lukács,...para se constituir
em
um
genuíno pôr deuma
finalidade, a investigação dos meios, i.e.,o
conhecimento da natureza,deve
já teralcançado
um
nível apropriado; se issonão
ocorreu, entãoo
pôrde
uma
finalidade'permanece
apenasum
projeto utópico,como
voar porexemplo, de Ícaro até
Leonardo
e parabem
depois deles.(Lukács, 19soz15)O
conhecimento, portanto, percorre todos osmomentos
de constituiçãoda
unidade -contraditória, é claro - entre teleologia e causalidade.
Desde
o estabelecimento da finalidade -que
deve ser necessária e possível de realizar -, passando pela definiçãodo
modus
operantiadequado
à alteração das conexões causais necessárias à efetivaçãoda
teleologia estabelecida, até ao própriomomento
de realizaçãodo
pôr teleológico,ou
seja, à prática.O
conhecimento
tece a dialética
do
trabalho, por maismdimentar
emenor
qualificaçãoque
este tenha.Para
trabalhar e, assim, produzir valor
de
uso,o
trabalhador precisa primeiramente decidiro que
produzir. lsto decidido, ele precisa planejar seu fazer. Tal planejamento pressupõe
que o
trabalhador estabeleça seus objetivos
em
relaçãoao
trabalhoque
pretende desempenhar. Paratanto, é preciso
que
conheça os “mistérios”do
oficio “escolhido”.Ou
seja, quedomine
osconhecimentos básicos necessários à sua intervenção
no
mundo
material,que
neste primeiromomento
se limita ao conhecimento das causalidadesque determinam o
objeto de seu fazer.Este conhecimento possibilita ao trabalhador estabelecer asfinalidades de seu trabalho. Tais
finalidades são a expressão da
forma
como
o trabalhador concebeiomundo
e do quanto eledefinição
da forma adequada
de intervir nessas causalidades afim
de que
a teleologiaestabelecida se efetive.
`
›
Resumidamente
podemos
assim apresentaro
movimento
dialéticodo
trabalhador para aprodução de
um
valor de uso: primeiramente ele investiga a realidade material,com
o
intentode
cornpreendê-la. Esta apreensãodo
mundo
objetivo possibilitaao
trabalhador estabelecer finalidadesao
'seu fazer que, para efetivar-seno
mundo
material, pressupõe a elaboraçãode
uma
forma adequada de
intervir nasconexões
causaisque o
determinam.Tanto
a apreensãodo
real
como
a elaboraçãoda forma de
intervir nasconexões
causais são conduzidas poruma
determinadacompreensão
da realidadeque
trásem
siuma
determinadaforma de
abordá-la.Neste
sentido,podemos
afirmarcom
Lukács
que:A
investigação, neste contexto, possuium
duplo papel.Por
um
lado descobreo que
ocorrecom
os objetosem
questão, independentemente de qualquer consciência.Por
outro, descobre nos objetosnovas
combinações
e novas possibilidades funcionaisque
precisam ser ~g ativadas para
realizar a finalidade teleologicamente posta. (Ibid:1 1/2)
No
entanto, por melhorque
seja a apreensãoda
realidade pelo sujeito singular e, consequentemente, seu poderde
intervir nasconexões
causaisque
definem
seu objetode
interesse, as consequências
do
seu pôr-teleológicono
realnão
guardam
uma
correspondência biunívocacom
a ideação feita a despeito de se ter conseguido realizá-la.O
sujeito singularnão
tem
o dominio absoluto da efetividade, seu conhecimento ésempre
relativo, delimitado. Pois arealidade
não
é a expressão de nossa subjetividade, tal qual pensava Hegel,mas
sim, o solo determinante e determinado da ontologia dos individuos singulares.E
como
“essa discrepânciainterior entre as posições teleológicas e os seus efeitos causais
aumenta
com
o crescimento das sociedades,com
a intensificaçãoda
participação sócio-humanaem
tais sociedades” (Lukács,1978: I 1), a independência da realidade
do
ser social é cada vez maisum
dado
concreto.Este
dado
social, qual seja,o da
complexificação das relações sociais, enfatizao
caráter relativodo
conhecimentoque
homens
e mulherespodem
ter da realidade.A
apreensãoda
efetividade e'
sempre
relativa
em
função de sua infinita riqueza,uma
vezque
ela é “síntese demúltiplas determinações”._Logo, a gênese de
novos complexos
e decomplexos
cada vez mais enriquecidosem
seu conteúdo ontológicobem como
as transformações nas quais osdinâmica
da
efetividade. Ademais, a relação cotidiana dos sujeitos singularescom
a efetividade ésempre
definida, determinada, específica; isto j é, ele determina e é determinado pelauniversalidade
em
um
contexto particular. Consequentemente, a teleologia estabelecida eempreendida
na realidade concreta étambém
condicionada. Isto significadizerque
elaemerge
- fruto
da
elaboraçãodo
sujeito singular, é claro -,'de
um
determinado solo histórico-social,de
um
sujeito'que ocupa
uma
posição específica na estrutura social, cujo olhar está condicionado pelos desafios impostosporsua
realidade contextual.É
impossívelao
sujeito singular, ante atotalidade histórica e à própria riqueza de cada particularidade, apreender a infinita síntese
de
determinações
que
as constituem:...o conhecimento das
conexões
causais naturais [e dasconexões
causais postas/
LB]
pressuposto nesse caso relaciona-se apenas àqueles aspectosque
têm alguma
relevância para a posição teleolÓgica.(Duayer,1995; 19)
Com
tais conhecimentos o sujeito singular é capaz de construiruma
elaboraçãoda
realidade
que
lhe possibilita nela intervir,porque tem
correspondênciacom
o
seu conteúdo. Esta correspondêncianão
significa, porém,uma
fiel identidadecom
a realidade, caso contrárioesta seria apenas
uma
produção do
pensamento.Mas
sim,uma
“representação” da realidadeno
pensamento, que, quanto mais ocorrer ecom
maior propriedade onto-metodológica, mais conteúdo dela apreenderá e, assim, mais consistência e coerênciacom
a efetividade terá.A
realidade interpretada
não
éhomogênea
em
relação à própria realidade,mas
sim heterogênea.Não
no
sentido de ser outra realidade,mas
sim, interpretada porum
ser socialengendrado
num
universo de determinações, logo condicionado. Isto
porque
a consciênciahumana
não
é passiva na apreensãoque
fazdo
real.A
realidade reproduzidano pensamento
estamarcada
pela condiçãodo
sujeito singular nesta relação de determinação..Condição
estaque
expressa seu vínculo de classe e seu poder de apreensãoda
gênesedo
real.Isto posto, faz-se necessário indicar o conteúdo determinante
do fenômeno da
ideologia,
uma
vezque
a condiçãodo
sujeito singularnuma
sociedade de classes exigeque
sua posição na apreensão da efetividade seja assumida enquanto tal, pois “...nos conflitossuscitados pelas contradições das modalidades de