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Da execução da prestação alimentícia

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Academic year: 2021

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Da execução da prestação alimentícia

Robson Alves da Silva

Especialista em Direito Público - Unisal Coordenador do Curso de Pós-Graduação em

Direito Penal e Processual Penal da Faculdade Comunitária de Taubaté Professor da Faculdade Comunitária de Taubaté

posdireito.factau@unianhanguera.edu.br

Resumo

Por meio das regras do círculo concêntrico que norteia o mundo jurídico, em que os ditames legais estão sempre circundados pela justiça e pela moral, juntamente com o próprio direito natural, é precioso afirmar que estas vigas mestras devam guiar a relação alimentícia desde o seu início até seu deslinde. Enfim, nas mais diversas realidades que se diversificam pelas suas maiores ou menores complexidades, os cultores do bom direito devem primar sempre pela saída mais sadia e menos dolorosa para as partes envolvidas, traçando objetivos claros e solucionadores dos problemas em detrimento à mesquinhez que amiúde dirige tal relação.

Palavras-chave: alimentos; pensão; execução; prisão.

Abstract

For ad way rules i circulate it concentrical that it guides the legal world, where the legal ditams always are surrounded by justice and for the moral, together with the proper natural law, he is precious to affirm that these beams masters must guide the nourishing relation since its beginning until its clearing up. At last, in the most diverse realities that if diversify for its greaters or minors complexities, the operetion of the good right, must always see for the less painful exit healthiest and for the involved parts, tracing objective clear and solution of the problems in detriment the bad that very time drive such relation.

Key-words: foods; pension; execution; arrest.

Introdução

Sabe-se que o primeiro direito do ser humano é o de sobreviver. Para efetivar esse direito, o ser humano precisa de meios materiais para tanto, tais como: os alimentos, o vestuário, o abrigo etc.

Na organização social vigente, a pessoa obtém os bens materiais de que precisa por meio de seu trabalho ou da renda de seus capitais. Contudo, pode ocorrer que certas pessoas não tenham condições, recursos nem elementos para prover, por intermédio de sua atividade, à própria subsistência. Daí a necessidade de outros proverem os meios indispensáveis para a sua mantença.

Quando da impossibilidade dessas pessoas quanto a sua própria mantença, deve o Estado atuar, no socorro desses necessitados. Todavia, no intuito de aliviar-se

desse encargo, o Estado o transfere, por meio de determinação legal, aos parentes do necessitado, sempre que aqueles possam atender a tal incumbência. É o que se extrai da regra encontrada no art. 1.694 do Código Civil:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. O interesse do Estado, no cabal cumprimento dessa norma, é direto, pois a desobediência a seus termos aumenta o número dos desprotegidos, ou seja, das pessoas que o Poder Público deve socorrer.

Por esta e por outras razões, a não observância do dispositivo vem munido de uma violenta sanção para

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os que a descumprem, podendo mesmo chegar até a prisão do devedor de pensão alimentícia que, podendo prestá-la, simplesmente a descumpre.

Regra esta que encontra amparo legal no texto constitucional, art. 5º, inciso LXVII, assim descrito:

“não haverá prisão civil por dívidas, salvo a do

responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” (grifos

nossos).

O problema dos alimentos, na prática, propõe-se com enorme intensidade, milhares de ações ingressam anualmente em juízo, motivadas por filhos que reclamam pelo abandono de seus pais, ou por ex-mulher, pleiteando a fixação ou o aumento de pensão alimentícia e até mesmo pelos próprios pais que sofreram alguma mudança em sua fortuna e que querem ver retificados certos valores, propondo para tanto a chamada ação revisional de alimentos.

Conceito de alimentos

O dever de prestar alimentos fundamenta-se na solidariedade familiar, sendo uma obrigação personalíssima devida pelo alimentante em razão de parentesco que o liga ao alimentado, e no dever de assistência em relação a cônjuge ou companheiro necessitado (DINIZ, 2004, p. 1.257).

Conforme bem menciona Maria Helena Diniz em sua obra, Código Civil Anotado, o intuito maior do instituto alimentos é atender às necessidades do ser carente que se encontra do outro lado da lide. A ilustre doutrinadora nos traz que:

O instituto jurídico dos alimentos visa garantir a um parente, cônjuge ou convivente aquilo que lhe é necessário a sua manutenção, assegurando-lhe meios de subsistência, compatíveis com sua condição social. Como será difícil o atendimento da dicção legal de que será preciso manter o status social do alimentando, melhor seria que na outorga dos alimentos se considerasse o necessário para que se possa viver com dignidade. Dever-se-ia substituir a exigência de o alimento ser compatível com a condição social do devedor da prestação alimentícia, por ser conducente à interpretação de que seria impossível a diminuição de seu padrão de vida, pela preservação de uma vida digna. Abrange também recursos para atender às necessidades de sua educação, principalmente se o credor de alimentos for menor, ou maior, cursando estabelecimento superior, exceto se possuir

rendimento próprio. Terá direito a alimentos, o parente, cônjuge ou companheiro que, em virtude de idade avançada, doença, estudo, falta de trabalho ou qualquer incapacidade, estiver impossibilitado de produzir meios materiais com o próprio esforço. (DINIZ, 2004, p. 1.257). Alimentos, em direito, denomina-se a prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às necessidades da vida.

Diversos conceitos são encontrados, dados pelos mais diferentes doutrinadores, porém, Silvio Rodrigues foi muito feliz ao mencionar que os alimentos servem para que: “possa atender às necessidades da vida”. (Rodrigues, 2002, p. 418). A colocação tem abrangência muito mais ampla, do que os que dizem que alimentos servem para garantir o sustento.

O Ilustre doutrinador trata não só do sustento, como também do vestuário, habitação, assistência médica em caso de doença etc, enfim, de todo o necessário para atender às necessidades da vida.

Outros conceitos são encontrados na doutrina pátria, o insigne doutrinador Pontes de Miranda reza que:

Alimentos, conforme a melhor acepção técnica, e, conseguintemente, podada de conotações vulgares, possui o sentido amplo de compreender tudo quanto for imprescindível ao sustento, à habitação, ao vestuário, ao tratamento das enfermidades e às despesas de criação e de educação. (MIRANDA, apud ASSIS, 2001, p. 88).

A exemplo destes, valiosa a lição do doutrinador Sílvio de Salvo Venosa em mencionar que:

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita de amparo de seus semelhantes e de bens essenciais e necessários para a sua sobrevivência”. Nesse aspecto, realça-se a necessidade de alimentos. Desse modo, o termo alimentos pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo necessário para sua subsistência. Assim, alimentos, na linguagem jurídica, possuem significado bem mais amplo do que o sentido comum, compreendendo, além da alimentação, também o que for necessário para a moradia, vestuário, assistência médica e instrução. Os alimentos, assim, traduzem-se em prestações periódicas fornecidas a alguém para suprir essas necessidades e assegurar sua subsistência. (VENOSA, 2002, p. 357-8).

O legislador de 2002 é expresso em mencionar a educação do filho quando este for menor, como termo

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que engloba os alimentos, além daquelas outras necessidades destinadas a preservar a subsistência de modo compatível com a condição social do alimentado. Ao se mencionar alimentos, fala-se no direito de exigi-los e na obrigação de prestá-los, marcando, assim, o caráter assistencial do instituto. Trata-se de obrigação personalíssima, devida pelo alimentante em função do parentesco que o liga ao alimentado.

Frente à importância que a questão de alimentos tem perante o ordenamento jurídico, as regras que o disciplinam são de ordem pública, inderrogáveis por convenção entre as partes.

De modo que não se pode renunciar ao direito de exigir alimentos oriundos do parentesco, nem se pode ajustar que seu montante jamais será alterado, nem fazer qualquer espécie de convenção que possa, direta ou indiretamente, suspender a aplicação de uma das normas cogentes referentes ao assunto.

A prestação de alimentos tem um fim precípuo, isto é, atender à necessidade de uma pessoa que não pode prover à sua subsistência.

É entendimento pacífico na jurisprudência o chamado binômio da necessidade possibilidade, aplicação jurisprudencial que encontra respaldo legal no artigo 1.694, § 1º do Código Civil:

Necessidade e possibilidade - Orientação do art. 400 do CC (atual 1.694, § 1º). Os alimentos são devidos à filha na proporção de suas necessidades e da capacidade do alimentante. No caso, tendo-se presentes outros encargos do devedor, notadamente com outros dois filhos, arbitra-se a verba alimentar em percentual que atenda essa realidade (TJDF - AC 23.696 - DF - 2º T - Rel. Des. Deocleciano Queiroga DJU 16.09.92) (RJ 182/81).

Ação de Alimentos. Procedência. Fixação em quantia condizente às necessidades dos alimentários. Alimentos, na terminologia jurídica, têm significado próprio, abrangendo todo o necessário para o sustento, habitação, vestuário despesas com a saúde e a instrução. Entende-se, porém, que a fixação, em ação, de quantia certa, não exclui a obrigação dos pais de dar aos filhos, mormente em se tratando de assistência médica, se necessário, o que ultrapassar os limites de pensão fixada” (TJPR - Ac. 11433, 17-6-96, Rel. Des. Wilson Reback).

Tal entendimento também se mostra na doutrina. Bem menciona a doutrinadora Maria Helena Diniz quando fala da necessidade do alimentado e na possibilidade econômica do alimentante, senão vejamos:

Necessidade do alimentado - O credor de alimentos só poderá exigi-los do devedor se, além de não possuir bens, estiver impossibilitado de prover, pelo seu trabalho, à própria subsistência, por estar doente, velho, inválido ou desempregado. Só a prova do estado de penúria em que se encontra o autoriza a pleitear judicialmente alimentos. (DINIZ, 2004, p.1.259).

Possibilidade econômica do alimentante – O estado de necessidade do alimentado só poderá obrigar aquele que deve prestar alimentos reclamados se ele puder cumprir seu dever sem que haja desfalque do necessário ao seu próprio sustento, ou seja, será imprescindível verificar sua capacidade financeira, porque, se tiver apenas o indispensável para sua mantença, não será justo que passe privações ou faça sacrifícios para atender pessoa necessitada. (DINIZ, 2004, p.1.259).

Observa-se que as sentenças que fixam os alimentos são perfeitamente modificáveis, tais decisões trazem em seu bojo, a cláusula rebus sic stantibus, o que equivale a dizer que são modificáveis, dado que, na fixação da prestação alimentar, faz-se em atenção às necessidades do alimentando e às possibilidades do alimentante.

Daí tem-se que a sentença de alimentos não faz coisa julgada material, sendo possível sua futura alteração. No cenário jurisprudencial pátrio, é pacífico tal entendimento:

Coisa julgada “A decisão proferida em ação de alimentos não produz os efeitos da coisa julgada material, podendo ser revista sempre que a situação fática envolvendo as partes sofra alteração. Assim, deixando o alimentante de ter disponibilidade financeira deve ser exonerado da continuidade do pagamento da pensão” (7º Câm. Civ., TJSP, v.u., j. 2.3.1988, RT, 629:103). “A decisão judicial sobre alimentos nunca transita em julgado, pois essa é a disciplina legal (art. 15 da Lei nº 5.478/68); não só as sentenças finais, como as decisões provisionais; e não é somente quando a fortuna do alimentante sofrer alteração que a pensão pode ser reduzida, mas quando, em medida provisional, os credores de alimentos exagerarem os ganhos ou a riqueza do alimentante” (5º Câm. Civ. TJSP, v. u., j. 9.8.1984, RT, 591:89).

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O legislador trouxe para o Código Civil atual, Lei nº 10.406, de 10.01.2002 as principais afirmações existentes na jurisprudência de nosso ordenamento pátrio, codificando-as e adequando-as, assim, à realidade dos novos tempos, dando amparo a possíveis lacunas não preenchidas por parte do legislador de 1916.

As celeumas que envolvem os alimentos e seus reflexos são norteadas pela Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1.968 e pelo atual Código Civil, este último em específico, em seus artigos 1.694 até 1.710. No que tange à Lei de alimentos, embora antiga, provoca esta, freqüentes e destoadas interpretações, dada sua aplicação prática diária e constante.

Como se pode observar o tema possui respaldo jurídico amplo que possibilita aos operadores do direito a aplicação dessas leis em benefício dos que delas se socorrem, sem maiores entraves judiciais no que concerne ao direito material.

Classificação da obrigação alimentar A obrigação alimentar classifica-se:

a) quanto a sua natureza. O primeiro corte nas obrigações alimentares distingue os alimentos naturais dos civis, os alimentos naturais compreendem as notas mínimas da obrigação: a alimentação, a cura, o vestuário e a habitação: equivalem às necessidades básicas do ser humano. Os alimentos civis, também chamados de côngruos, englobam, além desse conteúdo estrito, o atendimento às necessidades morais e intelectuais do ser humano.

b) quanto à causa. Nesta apreciação, os alimentos podem ser: legítimos, voluntários e indenizativos. Os alimentos legítimos são aqueles devidos por força de norma legal; os voluntários se constituem por negócio jurídico; e os indenizatórios que decorrem de atos ilícitos. c) quanto ao tempo de percepção. No que tange a essa classificação, podem ser alimentos futuros ou pretéritos. São futuros os que se apresentam em virtude de sentença, transitada em julgado e a partir da coisa julgada, ou em virtude de acordo e a partir deste. De outra monta, são pretéritos os alimentos anteriores a esses momentos.

d) quanto à finalidade. No concernente à finalidade, existem alimentos definitivos e provisionais. Os alimentos definitivos, também chamados de regulares, decorrem de acordo ou de ato decisório final do juiz, e ostentam caráter permanente, ainda que sujeitos a eventual revisão. Os alimentos provisionais são os fixados, prévia ou concomitantemente às ações de separação, de divórcio, de nulidade ou de anulação de

matrimônio, ou ainda da dissolução da união estável. Frise-se que os alimentos provisionais se distinguem dos provisórios. Temos que a expressão alimentos provisórios surgiu e foi empregada pela primeira vez em 1968, com a edição da Lei nº 5.478, que a utiliza em seus artigos 4º e 13, autorizando o juiz a concedê-los em caráter liminar.

O Código de Processo Civil, promulgado posteriormente à citada Lei de Alimentos criou a figura de alimentos provisionais de cunho cautelar, dedicando-lhes os artigos 852 e 854, do seu Livro III.

Andarão bem, no futuro, nossos legisladores se atentarem para essas minúcias, ao reformularem os códigos e as leis que lhe são paralelas, evitando a dubiedade e a falta de clareza que criam grandes dificuldades da exegese dos textos legais.

Conquanto demonstrado as várias possibilidades e desdobramento quanto aos alimentos e suas espécies é possível vislumbrarmos no caso concreto qual o caminho e quais as formas, bem como pedidos e espécies de pedidos teremos que fazer quando do ajuizamento de uma ação de alimentos.

Extinção da obrigação alimentar

A obrigação alimentar pode extinguir-se por duas causas: quando ocorrer a morte do alimentando, isto devido a sua natureza pessoal, trata-se de obrigação personalíssima; em caso de desaparecimento de um dos pressupostos do art 1.695 do Código Civil, ou seja, da necessidade do alimentário ou da capacidade econômico-financeiro do alimentante.

A primeira causa de extinção decorre da natureza estritamente pessoal dos alimentos. A segunda, tanto por motivo ligado à pessoa do alimentário como do alimentante.

Se o direito à prestação de alimentos é condicionado à necessidade do alimentado, é obvio que, cessando esse estado, se extingue, ipso facto, a obrigação da outra parte. Extingue-se tal obrigação, do mesmo modo, Extingue-se falta o outro pressuposto. Se, com efeito, o alimentante vem a se encontrar em uma situação que não pode continuar a prestar os alimentos, a obrigação não subsiste, justo porque uma das condições de sua exigibilidade é a capacidade econômica do devedor. Mas, na primeira hipótese, a dívida extingue-se em conseqüência da decadência do direito, não podendo surgir outra relação com devedor diverso; na segunda cessa, para o devedor, a obrigação de prestar os alimentos, mas uma nova relação obrigacional, com o mesmo

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conteúdo, pode surgir, tendo como devedor o parente que, na ordem sucessiva, deve prestá-los. A obrigação de prestar alimentos foi considerada dívida do falecido para efeito de tornar a herança responsável por seu pagamento, e, feita a partilha, os herdeiros, cada qual em proporção à sua quota hereditária. Prescreveu, com efeito, a lei do divórcio (art. 23) que a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor. Em se tratando de lei especial, que, na parte dos alimentos, regula um dos efeitos da separação judicial, a estes se limita, continuando em vigor o artigo do Código Civil (art. 402) segundo o qual a obrigação de prestar alimentos não se transmite aos herdeiros do devedor. Claro é que prestações vencidas são dívidas pelas quais responde o espólio. (GOMES, 1996, p. 423/424).

A doutrina pátria converge no sentido de que, perdendo o emprego, não está o cônjuge obrigado à prestação de alimentos, porém, não se trata de extinção da obrigação de prestá-la, mas tão só de situação inconveniente temporária, capaz de suspender a obrigação por um período indeterminado, até que se restabeleça financeiramente, momento então ao qual voltará a adimplir sua antiga obrigação.

Execução de prestação alimentícia

Por ser o processo o meio de que se vale o Estado para compor litígios, conflitos de interesses qualificados por pretensões resistidas, de maneira geral, pode-se dizer que o objeto do processo é a composição da lide, por meio da aplicação da norma jurídica abstrata ao fato concreto deduzido em juízo.

Execução da prestação alimentícia é o meio judicial pelo qual o credor de alimentos compele o devedor a pagá-lo sob pena de fazê-lo forçadamente, quer seja por meio de desconto em folha de pagamento, quer seja por meio de cobrança incidente sobre aluguéis ou outros rendimentos do devedor, quer seja expropriando os bens de quem deve ou mesmo utilizando a maneira mais radical que é a prisão civil.

Os artigos 732 a 735 do Código de Processo Civil tratam da execução de prestação alimentícia, observando-se de início, que a obrigação do alimentante em prover as necessidades vitais do alimentado decorre não só da lei, mas da própria moral.

O Estado, na outorga da prestação jurisdicional, preocupou-se em definir uma garantia processual que visasse ao recebimento das prestações de caráter

alimentar, em vista da própria peculiaridade de tal ação, que tem o escopo de propiciar recursos à sobrevivência de alguém.

O devedor inadimplente está sujeito a duas espécies de ações para compeli-lo a pagar alimentos:

A primeira prevista no art. 732 do Código de Processo Civil atinge os bens patrimoniais do devedor (CPC, art. 591) e tramitará nos moldes dos arts. 646 a 731 do citado diploma legal. Procedimento na forma de uma execução comum, a qual estará sujeita à citação, à penhora, à avaliação e à arrematação de bens patrimoniais do devedor para a satisfação dos alimentos reclamados, em que admitirá o oferecimento de embargos fundados em título judicial (CPC. Art. 741), desde que seguro o juízo (CPC, art. 737).

A segunda ação, prevista no art. 733 e parágrafos do Código de Processo Civil, é utilizada para requerer a prisão civil do devedor de alimentos, assegurada em sede Constitucional (art. 5º, LXVII), desde que ocorra o inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentar.

O Supremo Tribunal Federal entende que não se pode aquinar de ilegal ou abusiva a decisão que ameaça o devedor de alimentos de prisão, uma vez que é o meio coercitivo adequado para obrigar o devedor rebelde a seus deveres morais e legais a pagar, aquilo que, injustificadamente, se nega.

A utilização de uma ou de outra espécie de execução cabe ao credor, observando-se que se o credor escolher a execução prevista no art. 732 do Código de Processo Civil, procedendo-se à penhora de bens do devedor, não lhe será lícito pleitear a prisão do devedor prevista no art. 733, do CPC.

A escolha de uma ação acarreta a renúncia da outra, admitindo-se, contudo, que se ajuíze a execução com cominação de prisão civil e após tal prisão ou apresentação de justificativa, pleiteie-se o prosseguimento na forma do art. 732 do Código de Processo Civil, persistindo o inadimplemento, procedendo-se à penhora em bens do devedor, porquanto a prisão em si não satisfará o direito do credor e a finalidade da ação, que é fornecer alimentos a quem deles necessita.

A 4º Câm. Cív. Do TJSC, aos 5-9-95, na Ap. Cív. 49.274, decidiu a respeito:

Cabe ao credor, na abertura da execução de alimentos optar entre requerer a citação com cominação de prisão – art. 733 – ou apenas de penhora - arts. 732 e 733. Mas a preferência pela primeira alternativa não lhe tira o direito de, após a prisão ou a justificativa do devedor,

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requerer o prosseguimento da execução por quantia certa, caso ainda persista o inadimplemento - art. 733, parágrafo 2º. (COAD 72290).

Não há dispositivo legal que determine que o credor de alimentos tenha de propor ação fundada no art. 732 do Código de Processo Civil, antes de propor ação fundada no art. 733, também do Código de Processo Civil, porquanto se trata de uma escolha colocada ao alcance do credor.

Nos termos do art. 585, II, do Código de Processo Civil, constitui título executivo extrajudicial a escritura pública ou outro documento público ou particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas, o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores, nos moldes exigidos, tem-se que a prestação alimentícia poderá ser cobrada via de execução, tratando-se, evidentemente, de dívida líquida, certa e exigível, sob pena de nulidade da execução (CPC, art. 618, I).

Ocorrendo o inadimplemento do devedor de obrigação alimentícia, existindo liquidez, certeza e exigibilidade do título do crédito judicial ou extrajudicial, além do interesse, a legitimidade e a possibilidade jurídica do pedido, será facultado ao credor o ingresso em juízo para a cobrança de seu crédito, adequando-se à petição inicial aos moldes de art. 282 do Código de Processo Civil.

A exigência de se instruir a inicial como título executivo e com prova de que se verificou a condição ou termo encontra-se prevista no art. 614, incisos I e II, do Código de Processo Civil; tratando-se de execução por quantia certa, o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação deve instruir a petição inicial.

“A execução de prestação alimentícia será proposta no domicílio do alimentado, não se aplicando a regra do art. 575, II, do Código de Processo Civil, mas sim, a regra especial do art. 100, II, do citado dispositivo.”(PARIZATTO, 1998, p 353).

O crédito de natureza alimentar não deixa de ser uma dívida pecuniária, ou seja, que se satisfaz, em regra, com a entrega de dinheiro. Perfeitamente aceitável, e não raro ocorre, a satisfação dessa espécie de crédito

in natura. Mas, basicamente, trata-se de obrigação que

se cumpre mediante pecúnia.

A solução por meio da execução mostra-se fácil quando o alimentante for funcionário público, militar ou assalariado de alguma empresa, pois é suficiente a

comunicação judicial para que o desconto seja efetuado na folha de pagamento.

Contudo, a situação é diferente nos casos em que o alimentante é comerciante, trabalhador autônomo ou profissional liberal. O controle dos seus ganhos já não é tarefa fácil, tanto para a fixação do quantum da pensão como para sua execução.

Se houver acordo ou se a pensão for fixada mediante sentença, é sempre conveniente que fique estabelecido que deva ser a quantia depositada em algum estabelecimento bancário em nome do alimentando, para melhor fiscalização de seu pagamento.

Tal providência beneficia ambas as partes: o alimentante que terá comprovante fácil do pagamento efetuado e o alimentando que terá a garantia de seu recebimento comprovada pelo extrato bancário. Tal procedimento evita ainda qualquer contato entre as partes.

O sistema processual dotou o credor de alimentos de outros mecanismos destinados à satisfação do crédito, mais ágeis do que os disponíveis para os créditos de outra natureza, porque os alimentos não se equiparam às dívidas comuns.

O inadimplemento da prestação alimentícia não ocasiona meramente diminuição patrimonial, mas sim, risco à própria sobrevivência do alimentando. Daí surgir a necessidade de meios mais eficazes para essa modalidade de execução.

Em regra geral, pode-se dizer não haver distinção, para a utilização da execução de prestação alimentícia, entre as espécies de alimentos. Sejam estes naturais, civis, definitivos, provisórios ou provisionais, a execução das prestações pode se dar pelos meios especiais que se seguem. Há, entretanto, na jurisprudência certa resistência quanto aos alimentos pretéritos.

A execução de prestação alimentícia está regulada tanto nos arts. 732 a 735 do Código de Processo Civil, como nos arts. 16 a 19 da Lei 5.478/68, que se completam.

Via de regra, o título que aparelha a execução de alimentos é o judicial, seja a sentença condenatória ou homologatória da transação efetuada em juízo, seja a decisão interlocutória que concede os alimentos provisórios, ou seja, a liminar.

Entretanto, nada obsta que a execução seja fundada em título extrajudicial. Ora, se tais títulos são hábeis a ensejar a execução de qualquer outra dívida, não há razão para que não possam também versar sobre alimentos, desde que reste expressamente mencionado que a obrigação assumida pelo devedor é de natureza alimentar, o exato valor da prestação e o tempo

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de sua duração.

Meios executórios da obrigação alimentar Questão relevante que a execução de alimentos suscita está na aplicabilidade ou não de todos os meios executórios.

A execução de alimentos pode ocorrer de quatro modos distintos: a) desconto em folha de pagamento; b) cobrança em aluguéis ou outros rendimentos do devedor; c) expropriação de bens do devedor; d) coerção (prisão civil).

A ordem de escolha do meio de execução a ser adotado não aparece nitidamente no Código, mas resta clara com a análise da seqüência dos arts. 16 a 18 da Lei de Alimentos.

Enxerga-se, portanto, certa gradação na preferência do legislador pelos modos de executar a prestação alimentícia, devendo os meios mais drásticos (expropriação ou prisão) serem reservados apenas para a hipótese de total frustração dos modos anteriores.

Assim, dispõe o art. 16 da Lei de Alimentos, ao fazer expressa remissão ao art. 734 e seu parágrafo único, do Código de Processo Civil, que o modo preferencial será o desconto em folha de pagamento.

Nosso sistema processual garante a impenhorabilidade dos salários, mas abre exceção para o caso de a dívida ter caráter alimentar. O credor de alimentos, portanto, pode postular ter acesso a verbas que compõem o salário, desde que tenha em mão título que evidencie a natureza alimentar da prestação, artigo 649, inciso IV do Código de Processo Civil. (NERY JUNIOR, 2002, p.1037).

O art. 17 da Lei 5.478/68, a chamada “Lei de alimentos”, ao mencionar que: “quando não for possível a efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em folha”, dever-se-á, então, alcançar a execução, os aluguéis ou rendimentos de outros bens do devedor. Este dispositivo mostra que tal procedimento não deve ser primeiramente tentado, pois há uma determinada gradação imposta legalmente para se fazer valer os direitos do credor de alimentos.

E, finalmente, na hipótese de se mostrarem infrutíferos os meios anteriores para efetivação do crédito alimentar, somente então, como última possibilidade, poderá ocorrer a expropriação (arts. 732 e 735) ou a coerção (art. 733), todos do Código de Processo Civil. Essa gradação, na preferência entre os meios de execução, atende tanto ao interesse do credor, que tem em primeiro lugar o modo mais simples e ágil de

cobrança, como ao do devedor, que apenas terá sua prisão decretada em última hipótese.

Desconto em folha de pagamento

O desconto em folha de pagamento, mostra-se de notável eficiência, na medida em que evita o formalismo do procedimento de expropriação de bens. Trata-se, em verdade, de uma espécie de penhora sobre dinheiro, que excepciona a regra de impenhorabilidade de salários. É penhora diferenciada, porque sucessiva, assemelhando-se, nesse ponto, ao usufruto executivo, e porque, embora por ordem do juiz, realizada por um estranho à jurisdição, o empregador, que separa o montante e o entrega ao credor.

Outra considerável vantagem no desconto em folha de pagamento é a imposição de severa punição àquele, seja empregador, funcionário público ou qualquer outro que auxilia o devedor a eximir-se do adimplemento, seja omitindo informações ou não cumprindo a ordem de descontar. Dispõe o art 22 e seu parágrafo único, da Lei de Alimentos, que pratica crime, punível com detenção de seis meses a um ano, quem assim age. Esse expediente evita a possibilidade de fraude.

O desconto em folha de pagamento está regulado pelo art. 734 do Código de Processo Civil. O elenco ali constante, funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, empregado sujeito à legislação trabalhista, não é exaustivo.

“Pode o desconto ocorrer em qualquer situação em que o devedor aufira ganho periódico, fixo ou não, com ou sem vínculo empregatício. Basta que o ganho seja fruto do trabalho do devedor”. (WAMBIER, 2001, p. 399).

Assim, aquele que presta serviços a alguém, mesmo sem subordinação à legislação trabalhista, pode ser executado mediante desconto.

O desconto em folha de pagamento é uma ordem do juiz, de ofício, àquele que tem acesso aos pagamentos do devedor, devendo conter os nomes do credor e do devedor, a importância a ser descontada e o tempo de sua duração (art. 734, parágrafo único, do Código de Processo Civil), este último requisito na hipótese de ter sido fixado tempo certo, o que, ordinariamente, não ocorre, sendo mais comum a determinação do desconto por prazo indeterminado.

Se, porventura, sobrevier alteração na obrigação alimentar, novo ofício será emitido, com as alterações havidas.

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qual não é possível a caracterização do crime previsto no artigo 22 da Lei de Alimentos. Aliás o parágrafo único do art. 22 da mencionada lei faz clara alusão à ordem “expedida pelo juiz competente”.

A lei não explicita o modo com que o valor deve ser entregue ao alimentando, por isso, deve ocorrer da maneira que lhe seja mais cômoda, seja através de depósito bancário, seja por pagamento no escritório, ou repartição, ou similar, ou mesmo por outro meio que seja conveniente ao credor, não estando afastada a hipótese de recebimento por procurador.

O certo, porém, é que não pode acontecer retenção indevida do valor da prestação. Tão logo seja efetuado o desconto, deve o quantum estar à disposição do credor.

O desconto em folha de pagamento, é uma espécie de penhora, assim, enseja embargos, cujo prazo começa a partir do primeiro desconto, porque normalmente é o momento em que o devedor tem ciência da execução.

O artigo que trata do desconto em folha de pagamento funciona como verdadeira exceção à regra da CLT, em seu artigo 462. Está autorizada por lei essa espécie de desconto para quitação de dívida alimentar. É, também, autorizado pela Lei 8213/91 o desconto de pensão alimentar incidente sobre benefício previdenciário. (NERY JUNIOR, 2002, p. 1037). Cobrança em aluguéis ou outros rendimentos do

devedor

Na eventualidade de não ter o devedor recebimento de salários ou outra contraprestação por trabalho, pode o credor buscar outros valores pecuniários, pertencentes ao devedor. Esse modo de execução é outra espécie de penhora sobre dinheiro, prevista no art. 17 da Lei de Alimentos.

O art. 17 da Lei de Alimentos menciona “alugueres de prédios ou de quaisquer outros rendimentos do devedor”. Disso resulta ser alcançável por essa modalidade de penhora qualquer espécie de rendas: aplicações financeiras, recebimento de arrendamento, participação em lucro de empresas etc. (WAMBIER, 2001, p. 400).

Ainda que a Lei de Alimentos não trace especificamente o procedimento, tem-se que é similar ao desconto em folha de pagamento.

A cobrança será ordenada pelo juiz, por meio de ofício endereçado àquele que tem a obrigação de pagar o rendimento ao alimentante (locatário, empresa etc.),

devendo conter os mesmos requisitos previstos no art.734, parágrafo único, do Código de Processo Civil, ou seja, os nomes do credor e do devedor, a quantia a ser descontada e o tempo de sua duração.

No que tange a esta modalidade, deve o ofício conter “a assinatura do juiz, porque não está afastada a hipótese da prática do delito previsto no art. 22 da Lei de alimentos”. Assim expressa o parágrafo único do referido artigo: “nas mesmas penas incide quem, de qualquer modo, ajuda o devedor a eximir-se ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada”.

Similarmente ao que ocorre com o desconto em folha de pagamento, ao receber o ofício, aquele que tem a obrigação de pagar ao alimentante deve deduzir o valor equivalente aos alimentos, não efetuando o pagamento integral. A parcela referente a prestação alimentícia será entregue ao credor.

Estabelece o art.17 da Lei de Alimentos que a prestação assim cobrada poderá ser recebida diretamente pelo credor ou por depositário nomeado pelo juiz. Da mesma forma quanto ao desconto em folha de pagamento, aqui, também deve ser feito o recebimento através do modo mais cômodo ao alimentando, e não se admite a retenção dos valores.

A cobrança de aluguéis ou outros rendimentos é forma de penhora. Por isso, também, enseja embargos, cujo prazo, igualmente deve fluir a partir do primeiro desconto.

Expropriação de bens do devedor

Não sendo possível a execução por desconto em folha de pagamento, pela cobrança de aluguéis ou outros rendimentos do devedor, poderá o credor de prestação alimentícia requerer a execução através da constrição de bens do devedor, para posterior arrematação.

Em verdade não há, no Código de Processo Civil, gradação dos meios de execução, tanto que a prisão do devedor, a forma mais severa das espécies de execução, está prevista no art. 733 e o desconto em folha de pagamento no art. 734, ambos do referido Código. (WAMBIER, 2001, p. 401-2).

Das decisões acerca de tal matéria, tem-se que não há por parte do Código de Processo Civil uma gradação específica como ocorre na Lei 5.478/68, culminando em decisões deste feito:

“O credor, para pedir a prisão civil do devedor inadimplente de alimentos, não está obrigado, antes, a promover uma possível execução por

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quantia certa contra devedor solvente” (Bol. AASP 1.670/315, maioria).

“Cabe à credora a escolha do rito processual a ser seguido para a execução de alimentos. Nada obsta que primeiramente tente a penhora de bens do executado, como na espécie, e, uma vez frustrada a execução pelo rito comum, valha-se a exeqüente da ameaça do decreto prisional” (STJ-4º Turma, Resp 216.560-SP, rel. Min. César Rocha, j. 28.11.00, deram provimento parcial, v.u., DJU 5.3.01, p. 169).

Na Lei de alimentos, está prevista a gradação, traçando ordem de preferência na seqüência dos artigos. 16, 17 e 18.

Diante de tais fontes legais, que norteiam o estudo da execução de prestação alimentícia, a expropriação forçada não deve ocorrer sem antes a tentativa do desconto em folha de pagamento e a cobrança de aluguéis ou outras rendas. Isso porque é mais interessante, sob a ótica do credor. No entanto, dado o princípio de que a execução deve se dar pelo meio menos gravoso ao devedor, não há óbice que o alimentante opte, desde logo, pela expropriação.

O Código de Processo Civil, em seu art. 732, faz expressa remissão ao Capítulo IV, ou seja, ao art. 646 e seguintes. Então, o procedimento é o mesmo adotado nas outras formas de execução, exceto em um ponto.

Por regra geral, a oposição de embargos suspende a execução. O parágrafo único do art 732 do Código de Processo Civil cria exceção, dispondo que, se a penhora recair em dinheiro, o credor está autorizado a levantar mensalmente a importância da prestação, independentemente da oposição de embargos.

Assim, ainda que embargada a execução, o credor pode, desde logo, receber a prestação alimentícia, do mesmo modo que receberia com o desconto em folha de pagamento. Frise-se que esse levantamento independe de caução ou qualquer outra garantia.

Por ocasião da penhora, respeitar-se-á os bens tidos como impenhoráveis (Código de Processo Civil, artigo 649), lembrando-se que por força do art. 3º, III, da Lei nº 8.009, de 29-3-90, a impenhorabilidade prevista em tal dispositivo legal, não se aplica a hipótese de ação movida pelo credor de pensão alimentícia, sob pena de se prestigiar as coisas materiais do devedor em prejuízo das necessidades pessoais de alimentos a quem deles necessita. Da mesma forma os vencimentos dos magistrados, dos professores e dos funcionários públicos, o soldo e os salários a rigor são impenhoráveis, exceto para pagamento de prestação alimentícia (Código de

Processo Civil, art. 749, IV), sendo, portanto, penhoráveis, inclusive os salários a qualquer título, ou seja, todo o dinheiro do empregado, presente, passado e futuro, pago ou não, na constância do emprego ou por despedida, salvo os direitos decorrentes de reclamação trabalhista do executado, que são impenhoráveis, porquanto ao que se parece, incertos. (PARIZATTO, 1998, p. 354).

Coerção (Prisão Civil)

A prisão civil não é propriamente meio de execução, mas meio coercitivo sobre o devedor, para forçá-lo ao adimplemento, porque, com a prisão em si mesma, não se obtém a satisfação do crédito alimentar. O que se almeja é que ante a ameaça de prisão ou mesmo a sua concretização, o devedor pague a prestação alimentícia, como forma de evitar ou suspender o cumprimento da prisão.

Tem-se por bem iniciar o tema frisando que se faculta ao credor requerer a execução de alimentos na forma estabelecida pelo art. 733 do Código de Processo Civil, em ação que tem rito completamente diferente da execução por quantia certa prevista no art. 732 do citado Dispositivo, pois que no caso da presente execução, o juiz mandará citar o devedor para, em três dias efetuar o pagamento do quantum devido, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Não sendo efetuado o pagamento dentro de tal prazo que se conta da juntada aos autos do mandado de citação cumprido (CPC, art. 241, II). Não sendo efetuado o pagamento dentro de tal prazo, não havendo escusa ou sendo esta recusada, ouvindo o Ministério Público, o juiz decretará a prisão civil do devedor pelo prazo de um (1) a três (3) meses (CPC, art. 733 e parágrafo 1º), independentemente de nova intimação ou oportunidade ao devedor. (PARIZATTO, 1998, p. 367).

Tal espécie de prisão tem caráter sempre excepcional, pois só é admitida ante o permissivo constitucional (art. 5º, inciso LXVII), visto que o ordenamento jurídico, de regra, repudia a prisão por dívida.

A decretação da prisão civil do devedor de alimentos é meio coercitivo de forma a obrigá-lo a adimplir a obrigação. Somente será legítima a decretação da prisão civil por dívida de alimentos se o responsável inadimplir voluntária e inescusavelmente a obrigação.

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Caso seja escusável ou involuntário o inadimplemento, não poderá ser decretada a prisão.

A prisão poderá ser decretada em qualquer caso de não pagamento de alimentos: provisórios, provisionais ou definitivos. A ordem de prisão tem eficácia imediata, devendo ser cumprida in continenti, e independentemente da interposição do Agravo. Pode ser dado efeito suspensivo ao Agravo, aplicando-se por extensão o CPC art. 588. O pagamento da prestação alimentícia devida implica a suspensão do cumprimento da ordem de prisão. (NERY JUNIOR, 2002, p. 1034).

Vejamos alguns julgados sobre o tema:

Pensão alimentícia - Prisão civil - Inadmis-sibilidade - Alimentante desempregado que vive de pensão alimentícia de um filho. A falta de pagamento de pensão alimentícia, não justifica pura e simplesmente, a medida extrema da prisão do devedor, havendo que se examinar os fatos apontados pelo alimentante em sua justificação. (TJAL - Sessão Plena; HC 9.050 - AL - Rel. Des. Marçal Cavalcanti - j. 26.09.95 - v.u.). Prisão por dívida alimentar - Constrangimento ilegal. Constitui constrangimento ilegal a decretação de prisão por dívida alimentar, quando decorrente de débito pretérito. Recurso provido. (STJ - 6º T.; Recurso de HC nº 3.071 - SP; Rel. Min. Anselmo Santiago; j. 04.12.95 - v.u.). Caso o devedor permaneça preso pelo tempo determinado pelo juiz, a prestação não desaparece, seja a que ensejou a prisão ou mesmo a vincenda, podendo ser executada por outro meio.

Outro aspecto que afasta o caráter punitivo da prisão civil é que, paga a prestação, fica vedada a prisão, se ainda não cumprida, ou é determinada imediata suspensão, se já havia sido iniciado o cumprimento.

Podem ocorrer sucessivos decretos de prisão, tantos quantos forem as prestações que eventualmente venham a ser inadimplidas no futuro. Não é o cumprimento da prisão decretada pelo descumprimento de uma prestação, que afasta a possibilidade de novo decreto frente a novo inadimplemento.

O caput do art. 733 do Código de Processo Civil estabelece esse meio coercitivo “na execução de sentença ou decisão, que fixa os alimentos provisionais”, o que tem levado alguns a entender que a prisão somente será cabível para os alimentos provisionais, e não para os definitivos ou, ainda, os provisórios.

Todavia, o art. 19 da Lei de Alimentos deixa claro

que pode o juiz tomar todas as providências necessárias para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação da prisão do devedor. Ademais, não parece coerente, admitir-se um meio tão severo para uma espécie de alimentos, e não para outras.

A jurisprudência tem se firmado no sentido de não ser possível a utilização desse meio para a cobrança de alimentos pretéritos, por duas ordens de razões: primeiro, porque os alimentos são consumíveis por excelência, se o credor não os recebeu, já não mais apresenta necessidade premente; segundo, porque a inclusão de prestações pretéritas pode tornar o quantum tão elevado que certamente o devedor não poderá prontamente pagá-lo, nem mesmo ante a ameaça de prisão.

“Daí tem-se entendido que apenas as três últimas prestações inadimplidas podem ser executadas pelo art.733 Código de Processo Civil, sendo que, as demais prestações pretéritas devem submeter-se à expropriação forçada.”(WAMBIER, 2001, p 405).

Este é o entendimento de nossa jurisprudência: Alimentos vencidos. Rito para a cobrança. A forma de pagamento de alimentos, estatuída no CPC art. 734, diz respeito somente a alimentos futuros. Inaplicável, pois, em se tratando de hipótese de alimentos pretéritos inadimplidos, cuja execução deverá submeter-se à quantia certa contra devedor solvente (STJ, 3º T., Ag. 89080-DF, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 3.5.1996, DJU 10.5.1996, p. 15218).

Alimentos - Prisão civil - Habeas Corpus. O posicionamento deste Tribunal é no sentido da possibilidade da prisão do alimentante apenas quando estiver em atraso, injustificado, das três últimas prestações alimentícias, que, como é currial, devem efetivamente significar a fonte de subsistência do alimentando. Os alimentos, pois, têm por objetivo prover o presente e não o passado. (TJPR, HC 51380 - 2, Ibaiti, Rel. Des. Ângelo Zattar, Julg. Em 25/09/96).

Alimentos - Prisão civil. Demonstrado, por outro lado, que o paciente está desempregado e sofre de enfermidade que o incapacita parcialmente para o trabalho, constitui constrangimento ilegal a imposição da coerção física, pelo descumprimento de pagar alimentos aos seus filhos, já agora quase todos maiores. (TJPR, HC 51083-8, Curitiba, Rel. Juiz Cordeiro Clove (conv.), Julg. Em 25/09/96

O roteiro do art. 282 do Código de Processo Civil é obrigatório, na inicial da demanda executória, cabendo ao credor de alimentos identificar a si e ao executado, descrever o título exeqüendo, explicar o valor do crédito

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e dos seus eventuais consectários, o que informa o valor da causa, imputar inadimplemento ao obrigado e, finalmente, pedir providências executivas correspondentes ao rito, requerendo a citação do devedor.

E, ainda, toca ao credor apresentar a memória de cálculo do seu crédito, consoante exige o art. 614, II, explicitando o principal, juros e correção monetária, de forma analítica e compreensível, a fim de que, citado o devedor, ele possa pagar.

A execução deve ser proposta por petição inicial, com os requisitos a esta inerente, nos próprios autos em que foi proferido o pronunciamento, seja sentença, decisão ou acordo.

Recebida a inicial, o juiz ordenará a citação do devedor, abrindo-se-lhe o prazo de três dias para uma de três hipóteses:

a) efetuar o pagamento. É o objetivo primordial desse meio coercitivo. Ante a ameaça de ter a prisão decretada, pode o devedor afastá-la mediante o pronto pagamento da prestação devida. O pagamento pode ser efetuado pelo próprio devedor, independentemente da presença de advogado, mediante depósito em cartório, ou por procurador. Embora a prisão civil, em si, não seja meio de coerção para compelir o devedor a adimplir, está ela inserida num meio de execução previsto em lei. Por isso, efetuado o pagamento, o processo de execução deve ser extinto;

b) provar que já pagou. Pode ocorrer de o devedor já ter efetuado o pagamento, e a execução ser indevida. Nessa circunstância, cabe ao devedor produzir a respectiva prova, através de advogado. Nessa hipótese, por se tratar de ato processual, não se admite a intervenção sem advogado. Se a dívida já estava paga, o próprio processo de execução não deveria ser instaurado, já que lhe faltava um de seus requisitos. Provado o pagamento, cumpre ao juiz extinguir o processo por sentença.

c) justificar a impossibilidade de pagamento. Como a prisão civil só pode ser decretada ante o inadimplemento voluntário e inescusável do devedor, tem ele a oportunidade de demonstrar estar impossibilitado de cumprir a obrigação. Cuida-se de um meio de defesa, excepcional, necessário ante a norma constitucional. Deve ser produzido por advogado por se tratar de um ato processual.

Sendo impossível o adimplemento, a execução não se extingue, uma vez que o crédito persiste e a impossibilidade pode ser apenas momentânea. Apenas o meio coercitivo está afastado, mas nada obsta que credor busque a satisfação do crédito por outro meio,

como a expropriação de bens atuais ou futuros, por exemplo.

Por isso, acatando a justificativa do devedor, o juiz não extingue o processo de execução, como nas circunstâncias anteriores, mas, consultado o credor, o transmuda em outro meio de execução, podendo, para tanto, suspender o processo até que o devedor se encontre em uma das situações capazes de viabilizar a execução, por exemplo, obtenha emprego, com salário passível de desconto; venha a adquirir bens penhoráveis etc.

Se o devedor não pagar nem se escusar, poderá o juiz decretar a prisão, se assim for requerido pelo credor. Não deve a prisão ser decretada de ofício, apesar dos termos do parágrafo 2º do art. 733 Código de Processo Civil, porque é o credor quem tem melhores condições de avaliar a oportunidade da prisão. Pode ocorrer de não ser interessante ao próprio credor a prisão imediata, como também não está afastada a hipótese de concessão de prazo maior para o devedor pagar.

Quanto ao prazo da prisão, em se tratando de alimentos provisórios ou definitivos, fixados com base na Lei de Alimentos, a prisão civil não poderá exceder a sessenta dias (Lei de Alimentos, artigo 19).

No caso de inadimplemento do pagamento de alimentos provisionais (CPC, art. 852), o prazo poderá variar de um a três meses (CPC, art. 733, § 1º). O prazo de sessenta dias é por parcela inadimplida. Sobrevindo novo inadimplemento, poderá ser decretada novamente a prisão civil, por outros sessenta dias.

Segundo o art. 733, caput, do CPC, a defesa adquire conteúdo sumário, restringida a dois tópicos: pagamento e impossibilidade do cumprimento.

O prazo para o cumprimento voluntário da obrigação pelo executado, ou por terceiro, interessado ou não, é de três dias. Elide a prisão somente o pagamento integral. Todavia, pagamentos parciais também inibem a privação da liberdade, porque denotam começo de prova de momentânea impossibilidade de satisfazer por inteiro a obrigação. Identicamente, a proposta de parcelamento efetivada no tríduo impede o encarceramento do executado.

De outra forma, tem o executado o ônus de alegar e o ônus de provar a impossibilidade temporária de cumprimento.

Enquanto não se esgotar o direito à prova, que se afigura amplo e ilimitado, observado, naturalmente, as regras quanto à proposição e a produção de cada prova em espécie; por exemplo, a prova documental deverá ser produzida com a defesa, nos termos do art. 396,

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do Código de Processo Civil, pois se admitem todos os meios lícitos. Na rica casuística da hipótese, a jurisprudência apontou os seguintes fatos como hábeis e eficazes para retratar a momentânea falta de recursos do obrigado: o desemprego total, a despedida de um dos dois empregos que mantinham o devedor, a repentina aparição de moléstia, e a pendência de paralela demanda exoneratória da obrigação alimentar. Conseqüentemente, havendo manifestação tempestiva do devedor de alimentos, acerca da impossibilidade de arcar com o ônus do débito, não pode o juiz decretar, desde logo, a custódia, sem apreciação da justificativa. (ASSIS, 2001, p.140).

Alimentos pretéritos

Mais recentemente, a jurisprudência repele os alimentos pretéritos, há muito acumulados, por vezes alvitrando hipotética mudança na sua natureza, que assumia conteúdo indenizatório.

Nos alimentos pretéritos, exceto quando o devedor se revela relapso e contumaz, apenas as três últimas prestações vencidas são admissíveis na demanda executiva regulada pelo art. 733 do Código Civil, fica relegada a execução das demais prestações pretéritas à expropriação comum disposta art. 732, do CPC.

Entretanto, a orientação comporta inúmeras exceções e distinções. Por óbvio, o pedido abrangerá as prestações vincendas, nos moldes do art. 290, e, portanto, o pagamento do executado talvez deva incluir prestações subseqüentes àquelas três já vencidas na abertura da execução.

Convém ressaltar que, tecnicamente, o envelhecimento da dívida não muda seu caráter alimentício, o decurso do tempo não retira o caráter alimentar da prestação que, não satisfeita oportunamente, repercute no padrão de subsistência do alimentado.

Erra a jurisprudência ao pressupor que o devedor, em atraso há muito tempo, jamais ostentará recursos para pagar toda a dívida de uma só vez. Se for este o caso, certamente sua defesa ilidirá o aprisionamento.

Mas, na hipótese de fracasso do executado na demonstração de que lhe falta dinheiro para solver a dívida, no todo ou em parte e patenteada suas amplas condições financeiras, constranger o alimentário a outros caminhos mais demorados e difíceis importa inversão dos valores que presidem a tutela executiva dos alimentos.

Na realidade, a jurisprudência restritiva torna justo quem não tem bens em seu nome, não tem

renda fixa e não paga a pensão. Este goza de toda a proteção jurídica. No máximo, será forçado a pagar os últimos três meses de pensão. Ante o desuso do crime de abandono material (art. 244, do Código Penal), o devedor também escapa à repressão penal. Esta privilegiada situação contrasta com a do alimentando, na hipótese de não receber o crédito, na medida em que ele não desfruta de qualquer proteção social, pois inexistem no país planos de assistência social que amparem condignamente à infância, à velhice e à invalidez. (ASSIS, 2001, p. 114). Ante toda essa problemática, está o operador do direito, que tenta da maneira mais justa possível, encontrar um meio hábil para satisfazer a pretensão daquele que precisa dos alimentos para sobreviver, contudo, jamais sem olvidar dos trâmites legais e princípios norteadores da justiça.

Referências Bibliográficas

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GOMES, O. Direito de família. 9. ed. Rio de Janeiro: LEUD, 1996.

NEGRÃO, T. Código de Processo Civil 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

NERY JUNIOR, N.; NERY, N.; ANDRADE, R. M. de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

PARIZATTO, J. R. Da execução e dos embargos 4. ed. São Paulo: LED, 1998.

RODRIGUES, S. Direito civil. direito de família. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, v.6.

SANTOS, M. A. Primeiras linhas de direito processual civil. 21. ed. Atual. por Aricê Moacyr Amaral Santos. São Paulo: Saraiva, 1999. v.1.

VENOSA, S. de S. Direito de família, 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. v. 6.

WALD, A. O novo direito de família, ed. 13. São Paulo: Saraiva, 2000.

WAMBIER, L. R.; ALMEIDA, F. R. C. de e TALAMINI, E. Curso de processo civil avançado. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. vol. 2.

Recebido em 22 de maio de 2007 e aprovado em 13 de junho de 2007.

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