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(1)MARIANA LIMA SOUSA CANAMARY. JORNALISMO: TRAJETÓRIA, CRISES E O FENÔMENO DO METRO. Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo - SP, 2010.

(2) MARIANA LIMA SOUSA CANAMARY. JORNALISMO: TRAJETÓRIA, CRISES E O FENÔMENO DO METRO Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências. do. Programa. de. Pós-Graduação. em. Comunicação Social, da UMESP-Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof.Dr. José Salvador Faro. Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo - SP, 2010.

(3) FOLHA DE APROVAÇÃO. A dissertação de mestrado sob o título “Jornalismo: trajetória, crises e o fenômeno do Metro”, elaborada por Mariana Lima Sousa Canamary foi apresentada e aprovada em 19 de abril de 2010, perante banca examinadora composta por José Salvador Faro (Presidente/UMESP), Daniel dos Santos Galindo (Titular/UMESP) e José Luiz Aidar Prado (Titular/PUC-SP).. __________________________________________ Prof. Dr. José Salvador Faro Orientador e Presidente da Banca Examinadora. __________________________________________ Prof. Dr. Sebastião Carlos de Morais Squirra Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Comunicação Área de Concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Processos Comunicacionais Midiáticos.

(4) Dedico este trabalho à minha família, em especial ao meu marido Ivo Canamary - fonte de amor, companheirismo, determinação e otimismo – e à minha filha Luiza – luz das nossas vidas..

(5) AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, “por guiar-me mansamente em águas tranquilas” (Salmo 23) e pela presença em minha vida.. Ao Ivo, companheiro exemplar, pelo amor dedicado, pela força para que eu concluísse esse trabalho e pelas noites em claro digitando parte do texto e ajudando nos cuidados da Luiza, nossa filha com apenas poucos meses de vida. Ivo, obrigada por você existir.. Agradeço à Luiza que ensinou-me a ser mãe, dando-me força para trilhar meu caminho enchendo meu coração de amor e alegria.. Ao professor Faro pelos valiosos e fundamentais ensinamentos.. Ao corpo docente da Metodista pela troca de conhecimentos e a toda a equipe de funcionários do Pós-Com pela atenção e carinho dispensados..

(6) RESUMO CANAMARY, Mariana Lima Sousa. Jornalismo: trajetória, crises e o fenômeno do Metro. 2010. 140f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2010.. Esta pesquisa tem o propósito de analisar a dupla crise do jornalismo – financeira e paradigmática - que têm refletido no processo de mutação jornalística observada em alguns veículos da atualidade, como é o caso do jornal gratuito Metro, nosso objeto de estudo. O que se buscou foi entender como as características dos tempos atuais, tais como superficialidade das notícias, a velocidade, a instantaneidade, a forte presença da publicidade e o apelo direto o consumo, estão presentes no jornalismo impresso atual. Em um primeiro momento realizou-se revisão bibliográfica sobre a trajetória do jornalismo, história e crise enfrentada nas últimas décadas. A seguir, fez-se uma pesquisa exploratória sobre o Metro, objeto estudado, avaliando a presença de características que o fazem um veículo da atualidade, reflexo da mutação jornalística. A análise revelou a existência de uma crise conceitual agravada pela crise econômica e marcada pelas leis do capital.. Palavras-chave: Jornalismo, Jornalismo Gratuito, Pós-Modernidade, Publicidade..

(7) ABSTRACT. CANAMARY, Mariana Lima Sousa. Journalistic: trajectory, crisis and the phenomenon of Metro. 2010. 140f. Dissertation (Master in Social Communication) - Methodist University of São Paulo, São Bernardo do Campo, 2010.. The purpose of this research was to analyze a double crisis in Journalism – both financial and paradigmatic – which has reflected on the process of journalistic mutation observed in some current vehicles, such as the free newspaper Metro, our object of study. We have sought to understand how current characteristics such as news superficiality, speed, instantaneousness, the remarkable presence of publicity and the straightforward appeal to consumption are present in current printed journalism. First, a literature review on Journalism path, history and crisis faced over the last decades has been done. Next, an exploratory research on Metro, the studied object, has been carried out in order to evaluate the presence of characteristics which make it a current vehicle, reflecting a journalistic mutation. The review has showed the existence of a conceptual crisis, aggravated by the economic disruption and marked by the crisis in capital laws.. Key words: Journalism, Free Journalism, Post-Modernity, Publicity..

(8) RESUMEN CANAMARY, Mariana Lima Sousa. Periodismo: trayectoria, crisis y el fenómeno del Metro. 2010. 140f. Dissertación (Maestría en Comunicación Social) – Universidad Metodista de Sao Paulo, Sao Bernardo do Campo, 2010.. Esta investigación objetiva analizar la dupla crisis del periodismo – financiera y paradigmática – que anda refletando en el proceso de mutación periodística observada en algunos vehículos de la actualidad, como es el caso del periódico gratuito Metro, nuestro objeto de estudio. Lo que se buscó fue la comprensión de cómo las características de los tiempos actuales, tales como superficialidad de las noticias, la velocidad, la instantaneidad, la fuerte presencia de la publicidad y el apelo directo al consumo, están presentes en el periodismo impreso actual. En un primero momento, se realizó revisión bibliográfica sobra la trayectoria del periodismo, historia y crisis enfrentada en las últimas décadas. En seguida, se hizo una investigación exploratoria sobre el Metro, objeto estudiado, evaluando la presencia de características que lo hacen un vehículo de la actualidad, reflejo de la mutación periodística. El análisis reveló la existencia de una crisis conceptual agravada por la crisis económica y marcada por las leyes del capital.. Palabras-clave: Periodismo, Periodismo Gratuito, Pos-Modernidad, Publicidad..

(9) LISTA DE FIGURAS. Figura 1. Capa da edição de 09 de novembro do jornal Metro. p.115. Figura 2. Capa da edição de 10 de novembro do jornal Metro. p.116. Figura 3. Capa da edição de 11 de novembro do jornal Metro. p.117. Figura 4. Capa falsa da edição de 12 de novembro do jornal Metro p.118. Figura 5. Capa da edição de 12 de novembro do jornal Metro. p.119. Figura 6. Capa da edição de 13 de novembro do jornal Metro. p.120. Figura 7. Editoria Economia. p.126. Figura 8. Editoria Em foco. p.127. Figura 9. www.metropoint.com em todas as páginas. p.127. Figura 10. Logomarca do Metro. p.128.

(10) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 12 1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ____________________________________________ 18 1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO _________________________________________________ 20. CAPÍTULO I - RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO JORNALISMO SOB UM OLHAR ECONÔMICO: DO PRIMEIRO JORNAL À ERA ELETRÔNICA__________________ 22 1.1 O COMEÇO _________________________________________________________________ 22 1.2 A FASE POLÍTICO LITERÁRIA ___________________________________________________ 23 1.3 A PRODUÇÃO DE JORNAIS EM MASSA ___________________________________________ 24 1.4 A ERA ELETRÔNICA __________________________________________________________ 25. CAPÍTULO II – O NOVO FAZER JORNALÍSTICO _____________________________ 27 1 O JORNALISMO NA ERA DAS NOVAS TECNOLOGIAS _________________________________ 27 2 A CRISE DOS NOVOS TEMPOS ___________________________________________________ 29 3 PÓS-MODERNIDADE: UM QUADRO DO INÍCIO DO SÉCULO XXI ________________________ 30 3.1 A Modernidade líquida de Bauman _____________________________________________________ 33 3.2 O mal-estar da Pós-Modernidade ______________________________________________________ 36. 4 O JORNALISMO NA ERA DAS NOVAS TECNOLOGIAS _________________________________ 37 4.1 O tempo real _______________________________________________________________________ 40. 5 A FRAGMENTAÇÃO NA ATUALIDADE _____________________________________________ 43. CAPÍTULO III- A CRISE DO JORNALISMO CONTEMPORÂNEO E A ERA DA PUBLICIDADE ___________________________________________________________ 47 1. A CRISE CONCEITUAL __________________________________________________________ 47 1.1 A rotina jornalística _________________________________________________________________ 48. 2 ALTOS E BAIXOS: DA EUFORIA À CRISE FINANCEIRA DOS IMPRESSOS ___________________ 50 2.1 Redução de publicidade ______________________________________________________________ 51. 3 REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES: AUDIÊNCIA E PUBLICIDADE ______________________ 53 3.1 Estratégias para fugir da crise financeira ________________________________________________ 54. 4. MURDOCH: OTIMISMO DIANTE DA CRISE _________________________________________ 56.

(11) 5. DUPLA CRISE: CAMPO FÉRTIL PARA O SURGIMENTO DE NOVOS JORNAIS? ______________ 57 6. JORNALISMO OU PUBLICIDADE? EIS A QUESTÃO. ___________________________________ 59 6.1 20% de publicidade e 80% de conteúdo jornalístico. Será? _________________________________ 62. 7. DO JORNAL POPULAR AO JORNAL GRATUITO: FORMAS DE NARRAR ___________________ 64 8 JORNALISMO E PUBLICIDADE: DOIS LADOS DA MESMA MOEDA _______________________ 65 9 A SOCIEDADE DE CONSUMO ____________________________________________________ 66 10 O MERCADO DA PUBLICIDADE _________________________________________________ 68. CAPÍTULO IV – OS GRATUITOS ___________________________________________ 71 1. O MUNDO DOS JORNAIS GRATUITOS ____________________________________________ 71 2. METRO: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS ______________________________________________ 75 2.1 O Metro no mundo __________________________________________________________________ 76. 3. O GRUPO BANDEIRANTES ______________________________________________________ 77 3.1 O Grupo __________________________________________________________________________ 77 3.2 História ___________________________________________________________________________ 78. 4 O METRO NO BRASIL __________________________________________________________ 78 4.1 A missão __________________________________________________________________________ 79 4.2 O Jornal __________________________________________________________________________ 81. CAPÍTULO V – METRO: O JORNAL DA NOVA ERA ___________________________ 83 1.1 ANÁLISE ___________________________________________________________________ 85 1.2 Categorias de Análise _______________________________________________________________ 86 1.2.1 Notícias superficiais (descontextualizadas) _____________________________________________ 86 1.2.2 Notícia apresentada com caráter de publicidade _________________________________________ 93 1.2.3 Apelo direto ao consumo ___________________________________________________________ 99 1.2.4 Discurso gráfico _________________________________________________________________ 108 1.2.4.1 Cores_________________________________________________________________________ 112 1.2.4.2 Fotos _________________________________________________________________________ 114 1.2.4.3 Anúncios publicitários ___________________________________________________________ 121. 1.2.5 Linguagem da internet/palavras em inglês/interface virtual------------------------- 124 1.2.5.1 Elementos da internet____________________________________________________________ 127. CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________________________ 130 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________________________ 136.

(12) 12. INTRODUÇÃO Cidade de São Paulo, manhã de quarta-feira. A publicitária Juliana Silveira caminha apressada rumo ao metrô, estação Paraíso. De olho no relógio ela corre para não chegar atrasada à agência onde trabalha. Logo nas escadas da estação Juliana é abordada por uma jovem moça em traje chamativo – uniforme verde limão – distribuindo jornais gratuitamente a todos que chegam ou saem da estação de metrô. Juliana recebe um exemplar do jornal, e durante o trajeto para o trabalho, vai lendo as principais notícias do dia. Nesse mesmo horário – por volta das 8 da manhã – em vários pontos da cidade, principalmente nos cruzamentos de ruas e avenidas, semáforos e pontos de ônibus, vários jovens, entre moças e rapazes também em trajes chamativos, distribuem esses jornais aos motoristas, motoboys, taxistas e transeuntes. Ouve-se buzinas e gritos. Todos querem receber gratuitamente um exemplar desse jornal, não só para se inteirar com o que está acontecendo no Brasil e no mundo, mas também para garantir o passatempo nos longos congestionamentos de São Paulo. Em poucos minutos os 150 mil exemplares do jornal já foram distribuídos. Esse jornal ao qual nos referimos nos dois parágrafos acima constitui um novo fenômeno da mídia impressa mundial. É o jornal gratuito, feito para ser lido em poucos minutos, geralmente no trajeto de casa ao trabalho ou vice-versa. Uma de suas principais características é a referência ao tempo, a velocidade e ao movimento – suas colunas e editorias recebem nomes como o mundo em 1 minuto ou notícias em 10 segundos. Entre os pioneiros destaca-se o Metro Londrino, que circula desde 1995 em Londres e o 20 minutos, que circula em Paris, França, desde 2002. Na Europa e nos EUA os jornais gratuitos são um sucesso. Existem vários, tanto em versões matutinas como vespertinas. Aqui no Brasil eles ainda constituem um fenômeno recente1. O pioneiro com esse perfil foi o Destak, que circula em Lisboa-Portugal com o mesmo nome. O Destak chegou a São Paulo em julho de 2006 e hoje também já é distribuído no Rio de Janeiro. Em maio de 2007 chegou à cidade de São Paulo o Metro, distribuído em 24 países e que tem como slogan o maior jornal do mundo. Tanto o Destak como o Metro têm como características principais o formato berliner (menor que o standard e maior que o tablóide), 16 páginas, boa diagramação, textos curtos no estilo drops, muitos infográficos, grandes anunciantes e uma linguagem que se assemelha à 1. Os jornais gratuitos aos quais nos referimos como um fenômeno recente no Brasil são os títulos com perfil urbano, bem diagramados, que trazem resumos com as principais notícias do dia..

(13) 13. on-line: o layout se parece à tela de um computador. Esses jornais têm como alvo um público jovem, ávido por informação rápida, gratuita, que não têm hábito de ler jornal e se informa pela internet. Esta pesquisa buscou entender e desvendar o fenômeno dos jornais gratuitos em meio à crise dos jornais impressos que existe há algumas décadas e que tem se agravado com a crise econômica mundial. Dessa forma, o objetivo foi relacionar o surgimento dos jornais gratuitos a uma dupla crise: momento de mutação do jornalismo (quebra dos seus paradigmas, fim das grandes narrativas, pós-modernidade) e a crise empresarial/econômica dos grandes jornais impressos no mundo todo (alto custo da redação, aumento do preço do papel de jornal, perda de leitores, influência da internet e queda das receitas publicitárias). Resgatamos ainda parte da trajetória do jornalismo em suas principais fases. Discutimos ao longo do trabalho o atual momento em que vive o jornal impresso marcado principalmente pela perda de leitores e de verbas publicitárias e pelo forte crescimento da internet. Dessa forma, o presente trabalho está dividido em duas partes: na primeira, Parte I, fizemos uma reflexão teórica em torno das transformações pelas quais o jornalismo passa no momento atual. Já na segunda parte, Parte II, realizamos um estudo do nosso objeto de estudo, o jornal gratuito Metro, mundialmente conhecido, distribuído de segunda à sexta na cidade de São Paulo. Avaliamos, entre outros aspectos, a informação circulando, o cumprimento dos princípios clássicos do jornalismo, os temas trabalhados, as formas de abordagem, a presença da publicidade. Quanto aos números dos gratuitos no mundo, em matéria intitulada Jornais Gratuitos, publicada no site do Clube de Criação de São Paulo (CCSP), em outubro de 2008, o especialista em jornais gratuitos, Piett Bakker, da Universidade de Amsterdã, afirma que existem hoje 230 jornais gratuitos em 50 países, com uma circulação diária total de 43 milhões. Somente a Europa apresenta 63% da circulação mundial desses jornais, com 120 títulos em 32 países, representando 23% da circulação de jornais da Europa. Os dados impressionam, o que nos leva a crer que esta é uma nova tendência da mídia impressa mundial. Alguns dos mais respeitados diários do mundo têm investido na criação de versões reduzidas, geralmente em formato tablóide e que são distribuídos em locais de grande circulação - como estações de trem e metrô - sem custos para os leitores. O primeiro a investir maciçamente na publicação desse tipo de diário foi o grupo de comunicação sueco Kinnevik, que edita o Metro, nosso objeto de estudo. Hoje, o Metro Internacional tem 59 edições em 83 cidades pelo mundo, entre elas Nova Iorque, Hong Kong, São Petersburgo e há quase três anos, também em São Paulo..

(14) 14. Nos Estados Unidos, o grupo New Times Media comprou a companhia que edita o prestigiado The Village Voice, com o objetivo de criar uma rede de 17 jornais gratuitos semanais espalhados por todo o país. No Brasil os jornais gratuitos no formato diário ainda estão em fase inicial. O que existe, em sua grande maioria, são edições semanais ou mesmo mensais que valorizam a cobertura de variedades - como o Jornal da Comunidade, em Brasília. Em São Paulo, há alguns anos, existem gratuitos exercendo a função de um guia de compras, como o Shopping News, muitos com o perfil de bairro e outros com conteúdos religiosos, produzidos e editados por algumas igrejas e distribuídos nos faróis. O mais antigo jornal gratuito que circula em São Paulo é o MetroNews, há três décadas produzido em Guarulhos e distribuído nas estações de trem, metrô e pontos de ônibus da capital paulista. Até bem pouco tempo (antes da chegada do Destak e do Metro aqui no Brasil) o MetroNews possuía um layout denso, sem muitos atrativos, poucas fotos, textos longos e muitas páginas destinadas aos classificados. Agora ele vem sofrendo algumas mudanças; está mais leve, com mais fotos e um novo design. Com o perfil urbano, circulam na cidade de São Paulo há pouco mais de dois anos os jornais Destak e Metro, facilmente encontrados nos pontos de ônibus, estações de metrô e cruzamentos das principais ruas e avenidas. O Destak pertence a um grupo português; o Metro, no Brasil, é do Grupo Bandeirantes de Comunicação, que já atua nas áreas de TV e Rádio. Cada um possui uma tiragem diária de 150 mil exemplares que se esgotam rapidamente nos pontos de distribuição. Os dois jornais são gratuitos (custo zero para o leitor e bancados 100% pela publicidade) e trazem nas suas 16 páginas um resumo das principais notícias do dia em suas editorias de economia, em foco, esportes, mundo, lazer e diversão. Sem dúvida é a informação circulando. Mas nesse momento atual de forte influência da internet como grande meio de circulação de notícias, do jornalismo em mutação e tendo que se reinventar, de recessão econômica mundial agravando a crise dos impressos e alto preço do papel de jornal, esses jornais gratuitos vêm responder a quê? O que está por trás desses jornais? Como são produzidos seus conteúdos e o que esconde esse fenômeno marcado pela cultura do minuto, da velocidade? Qual o papel da publicidade nesse processo todo? Foram esses questionamentos instigantes que nos levaram a querer desvendar esse fenômeno, entendendo as peças que formam esse novo produto cultural da mídia impressa brasileira. Ao analisarmos esse momento atual da mídia impressa mundial, onde grandes jornais bem consolidados e tradicionais optam por lançar jornaizinhos em versões reduzidas, que têm um custo bem menor às empresas de comunicação, poderíamos crer que todo esse processo pode ser reflexo da crise empresarial/financeira que vem se instalando nos grandes jornais há.

(15) 15. alguns anos. Existem pesquisas que apontam uma forte queda nas receitas, aumento do custo de papel, do suporte redacional, diminuição do número de assinaturas e vendas nas bancas. Philip Meyer (2007) acredita que os jornais impressos pararam de crescer não só porque o público se cansou deles e prefere os novos substitutos eletrônicos.. Os jornais já tinham um limite natural de crescimento, imposto pela estrutura de custos variáveis altos. A nova competição [internet] está livre dessa restrição, e o resultado é uma grande flexibilidade financeira. Com a chegada do novo século, ela era um gigante adormecido pronto para assumir mais e mais funções tradicionais do jornal. Então porque alguém investiria hoje num jornal? (MEYER, 2007, p. 221).. Mas o surgimento dos jornais gratuitos pode sim estar relacionado a uma mudança de comportamento por parte do público, principalmente dos jovens, que são da chamada geração internet. Esse público tem uma dinâmica própria, não tem tempo a perder, não têm hábito de ler jornal e se informa quase que completamente pela rede mundial de computadores, onde tem acesso a um conteúdo variado, gratuito e disponível 24h do dia. É o tempo real cada vez mais presente e indispensável.. (...) a velocidade acaba se transformando num fetiche: a valorização da urgência na transmissão de informações cria um fluxo contínuo que tem como efeito principal “alimentar o sistema”, de modo que se consome, sobretudo, velocidade, e não notícias. Trata-se de demonstrar que a máquina comunica e não que ela informa. O que levou o escritor Luís Fernando Veríssimo a um precioso comentário sobre a irracionalidade contemporânea: „Vivemos num tempo maluco em que informação é tão rápida que exige explicação instantânea e tão superficial que qualquer explicação serve‟. (MORETZSOHN, 2007, p.239). E se os grandes jornais ao lançarem versões reduzidas, marcadas pela velocidade, estiverem visando suprir a queda das receitas e também obter lucros, eles acabam reiterando esse novo modelo de jornal, mais compacto, de conteúdo esvaziado e instantâneo. Isso pode descumprir a premissa iluminista do jornalismo que não é só informar os cidadãos, mas também formá-los, contribuindo assim para que o leitor possa ter uma visão mais crítica do mundo em que vive. Para isso, os meios jornalísticos deveriam oferecer ao leitor elementos de reflexão, mais contextualizados, para que o mesmo possa tirar suas próprias conclusões a respeito da notícia. Em se tratando dos jornais gratuitos, de tamanho reduzido, com seus textos curtíssimos, feitos para serem lidos em poucos minutos, fica difícil oferecer ao leitor elementos críticos mais aprofundados. Isso se deve a vários fatores, dentre os quais.

(16) 16. poderíamos destacar aqui o próprio tamanho do jornal (formato berliner, poucas páginas) e pelo importante espaço reservado à publicidade. Publicidade essa que exerce grande importância nesses veículos, já que por serem gratuitos, dependem em sua maioria de verba dos anunciantes para se manterem. Isso nos levou à hipótese – comprovada ao longo da pesquisa - de que o que está por trás desse fenômeno chamado jornal gratuito são, em primeiro lugar, os interesses mercantis, a publicidade e a conquista de grandes anunciantes e que viria responder a essa crise econômica instalada nos grandes jornais; e em segundo lugar vem o compromisso jornalístico com o leitor. Há quem acredite que esses modelos gratuitos representam o último suspiro dos jornais impressos pagos tradicionais. É o caso do jornalista Ricardo Anderáos, primeiro editor do Metro no Brasil. Durante palestra no Café Intercom, ele afirmou que muito em breve os jornais impressos tradicionais não terão mais espaço.. Há pesquisas que mostram a queda vertiginosa tanto no número de anúncios como de venda nas bancas dos jornais tradicionais. Ninguém vai querer pagar por um calhamaço de notícias requentadas de ontem se tem notícias disponíveis na internet, em tempo real, gratuitas e disponíveis 24h. Se os jornais impressos quiserem continuar existindo terão de ser gratuitos e em formato mais leve. (informação verbal)2. Portanto, dentro dessa linha de pensamento, o fenômeno gratuito surge com a proposta de captar, conquistar esse público jovem, da geração internet, que não tem hábito de ler jornal e que não quer pagar pela informação, já que tem acesso ao mais variado conteúdo gratuito disponível na rede mundial de computadores. Ao longo do trabalho, um estudo exploratório do jornal Metro – textos, fotos, formas de abordagem, design, anúncios – nos permitiu conhecer a real dimensão do jornalismo gratuito, um fenômeno mundial, mas que ainda é recente no Brasil. No que concerne aos objetivos - partindo da concepção de que o surgimento do jornal gratuito é em parte resultado de uma dupla crise – crise conceitual do jornalismo e, principalmente, crise econômica/empresarial dos jornais impressos – esta pesquisa tem como objetivo:. 2. Informação fornecida por Ricardo Anderáos, durante o Café Intercom realizado no dia 08 outubro de 2008..

(17) 17. a) Geral a.1) analisar o momento de mutação do jornalismo que tem que se reinventar para continuar existindo, acompanhando a mudança de comportamento do público em tempos pós-modernos, onde reina a velocidade e o imediatismo; a.2) Discutir a crise financeira que os grandes jornais impressos estão vivendo, resgatando a trajetória da história do jornalismo e avaliando o atual momento de recessão econômica mundial, de perda dos recursos publicitários, queda de venda nas bancas de revistas e o grande crescimento da internet como importante veículo de comunicação.. b) Específicos b.1) Desvendar o fenômeno do jornal gratuito Metro na cidade de São Paulo, caracterizando-o e analisando-o criticamente sob os aspectos da informação circulando, do jornalismo, da publicidade, da superficialidade das notícias, do apelo direto ao consumo e influencia da internet no seu conteúdo.. Justifica-se a escolha do tema de pesquisa por uma série de motivos. Há em vários países estudos que reúnem dicas e reflexões colhidas junto a profissionais de todo o mundo sobre a crise econômica instaurada em alguns dos mais conceituados jornais impressos e essa forte tendência do surgimento de suas versões reduzidas, seus novos formatos, os chamados gratuitos. Afinal, jornal não é um produto qualquer. Ele é consumido por sua capacidade de informar, formar opinião, construir cidadania e tudo o mais que está relacionado ao desejo das pessoas de saber o que está acontecendo no mundo em que vivem e se posicionarem nele. No Brasil, como o fenômeno dos gratuitos é recente, ainda não existem aqui estudos aprofundados que busquem entendê-lo sob vários aspectos, entre eles, sob a ótica da informação circulando, do jornalismo, da publicidade e do hábito de leitura nos jovens que esses veículos acreditam criar. Esse trabalho é relevante na medida em que trará contribuições para o avanço da área de conhecimento desse novo produto cultural da mídia brasileira, ao mesmo tempo em que mostrará nos rumos do jornalismo gratuito no Brasil uma tendência mundial, marcada pela velocidade e pelo tempo. A pesquisa fornecerá um estudo sobre o surgimento desses jornais que pode estar relacionado a uma dupla crise do jornalismo: conceitual e financeira..

(18) 18. 1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. Os paradigmas teórico-metodológicos norteadores desta pesquisa giram em torno da discussão sobre a dupla crise do jornalismo – conceitual e empresarial dos jornais impressos – que estariam contribuindo para o surgimento dos produtos culturais da nova era marcada, cada vez mais, pela velocidade, imediatismo e superficialidade. Abordaremos ainda o papel do jornalismo segundo sua premissa iluminista, que defende sua função na formação do cidadão saindo do senso comum ao senso crítico. O problema desta pesquisa se enquadra em uma situação indutiva, cuja observação envolve tema e objetos que, possivelmente, permitem uma generalização sobre o tema estudado. Sobre o método indutivo, Gil (2007) afirma que nessas situações parte-se da observação ou fenômenos, cujas causas se desejam conhecer; em seguida, procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles. “Por fim, procede-se à generalização, com base na relação verificada entre os fatos ou fenômenos”. (pp. 28-29). No que concerne ao nível da pesquisa, destaca-se a realização de um estudo exploratório, com a utilização de algumas técnicas utilizadas em estudos de caso, como levantamento bibliográfico e documental, entrevista qualitativa e análise de conteúdo. Gil (2007) afirma que em pesquisas exploratórias o tema escolhido é bastante genérico. Dessa forma, é preciso trabalhar com a perspectiva de esclarecimento ou delimitação, sendo necessária a realização de revisão de literatura, discussão com especialistas, entre outros procedimentos. O autor afirma também que os estudos exploratórios buscam proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo, de determinado fato. “Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado” (p.43). Nesta fase exploratória, fez-se um levantamento de edições do veículo selecionado, Jornal Metro, e verificou-se como as mudanças do jornalismo da nova era se manifestavam nesse meio. Procurou-se selecionar uma semana corrida, de segunda a sexta, dias em que o jornal circula. Consideramos ser suficiente a amostragem citada por observarmos – nesses quase três anos do Metro no Brasil – uma homogeneização do jornal sem nenhuma mudança e/ou variação dos padrões que seja relevante. Tem-se aqui a proposta de apresentar algumas características dos tempos atuais, tais como notícias superficiais, caráter publicitário das informações jornalísticas, apelo direto ao consumo, presença de infográficos, entre outras. Assim, configura-se uma temática genérica.

(19) 19. que justifica a realização dessa pesquisa exploratória, permitindo ainda o uso de diferentes técnicas incorporadas. Uma delas é a realização de levantamento bibliográfico detalhado, parte inerente a toda pesquisa de cunho científico. A revisão da literatura disponível, embora escassa, principalmente quando se trata de referências brasileiras, é norteadora para a construção de ideias e conceitos que envolvem a temática. A realização de entrevista em profundidade ou qualitativa é outra etapa importante da pesquisa. Segundo Duarte (In: DUARTE, 2006, p.66), esse tipo de pesquisa se caracteriza como: “modelo de entrevista que tem origem em uma matriz, um roteiro de questões-guia que dão cobertura ao interesse a pesquisa”. Como se pretende explorar o tema e, consequentemente, descrevê-lo, acredita-se que a técnica de entrevista em profundidade permite a aproximação com a situação em que se busca uma resposta.. A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer (DUARTE In: DUARTE, 2006, p.62).. Ruótolo (1996) explica que a entrevista qualitativa configura-se como uma forma fidedigna de aproximação com o público-alvo. Selecionou-se um profissional que respondesse em nome do veículo de forma geral; assim, as entrevistas seriam realizadas com os seguintes profissionais:. 1.. Editora- geral: Noelly Russo. 2.. Editora executiva: Célia Almudena. Infelizmente não foi possível sua realização. Tentamos, por várias vezes, um contato com as editoras citadas acima. Foi explicado a elas o tipo de entrevista que seria realizada, objetivos e ainda que seriam destinadas à complementação de um trabalho acadêmico. Ambas alegaram, por telefone, que o Metro não fornece informações sobre sua produção, estratégias, metas, objetivos, dinâmica. Com esse percalço no meio do caminho, utilizei apenas uma entrevista com o exeditor geral do Metro, jornalista Ricardo Anderáos. A referida entrevista foi concedida durante uma palestra proferida por ele no evento chamado Café Intercom, na livraria Saraiva.

(20) 20. do Shopping Ibirapuera em outubro de 2008. Atualmente o ex-editor assina a coluna Conexão, publicada às quintas-feiras no Metro. Apesar das entrevistas com a editora-geral Noelly Russo e com a editora executiva Célia Almudena não se realizarem, a pesquisa seguiu sem maiores problemas. Continuando na explicitação dos procedimentos metodológicos, segundo Yin (2005), as técnicas aplicadas ao estudo de caso permitem a descrição de uma situação no contexto em que ela ocorre, utilizando múltiplas fontes de evidências. “Você usaria o método de estudo de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condições contextuais, acreditando que elas poderiam ser altamente pertinentes ao seu fenômeno de estudo” (p.32). No caso desta pesquisa, as condições contextuais que envolvem a mutação vivida pelo jornalismo, bem como a quebra dos seus paradigmas e crise econômica da imprensa são relevantes no desenvolvimento e descrição do estudo. Acredita-se que o contexto em que a sociedade está inserida, principalmente nesta era da informação, contribui para a existência do jornalismo que acompanha o novo ritmo; um ritmo cada vez mais frenético, veloz e fugaz. Com relação à amostra, as edições selecionadas foram do mês de novembro de 2009. A amostragem incluiu cinco edições do Metro, como foi dito anteriormente, assim formando uma semana corrida.. 1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO. A dissertação encontra-se divida em duas partes e cinco capítulos: na primeira parte, consta a reflexão teórica. O capítulo I inclui um resgate da trajetória do jornalismo sob um olhar econômico. Foi mostrado como o jornalismo evoluiu chegando à fase da era eletrônica. No capítulo II, abordamos o novo fazer jornalístico, o jornalismo da era das novas tecnologias, bem como uma discussão sobre a pós-modernidade de acordo com os estudos de Zygmunt Baumam. Ainda na primeira parte da pesquisa, no capítulo III, apresenta-se a crise do jornalismo e a era da publicidade, marcada pelas leis do capital. E por fim, levanta-se a discussão sobre o mercado da publicidade e a sociedade de consumo. Na segunda parte fez-se um estudo do Metro, bem como se abordou seu histórico, sua situação no mundo, suas metas e perspectivas. No capítulo V, o último desta pesquisa, são apresentados os resultados da análise do conteúdo do Metro. Neste capítulo, as categorias de análise foram apresentadas e explicitadas..

(21) 21. Elas foram criadas com o objetivo de identificar no Metro algumas importantes marcas da nova era que o caracterizem com um veículo dos tempos atuais..

(22) 22. CAPÍTULO I - RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO JORNALISMO SOB UM OLHAR ECONÔMICO: DO PRIMEIRO JORNAL À ERA ELETRÔNICA 1.1 O COMEÇO. Não podemos fazer uma retrospectiva da história da mídia sem relacioná-la ao desenvolvimento da economia, das leis de mercado e da circulação econômica. O jornal surge com a necessidade do comércio em fazer circular informações sobre exportações, importações, circulação de mercadorias, enfim, para agilizar as relações comerciais. A impressão do primeiro jornal ocorre pouco mais de um século após o aparecimento dos tipos móveis. Contudo, ele iria atender com exclusividade alguns núcleos do poder político e financeiro da época mercantilista, interessados em fechar o círculo informativo sobre os fatos da vida econômica e política. O jornal surgiu e teve sua lógica associada à expansão da burguesia como classe e não como iniciativa da classe dominante, a nobreza feudal. (...) o trânsito de notícias desenvolve-se não somente no contexto de necessidades do trânsito de mercadorias; as próprias notícias transformam-se em mercadorias. A elaboração noticiosa comercial está sujeita, assim, às mesmas leis de mercado, a cujo surgimento ela deve sua própria existência (HABERMAS, apud MARCONDES FILHO, 1989, p.58). Inicialmente, porém, as formas de imprensa burguesa eram ainda artesanais, oriundas do sistema de correspondência privada e dotadas de técnicas elementares de produção de jornais. A imprensa aqui consistia numa atividade modesta, com um interesse puramente comercial, não visava tanto o lucro. Portanto, a chamada primeira fase do jornalismo é marcada pela ruptura com a forma segregada de armazenar informação. Antes a informação pertencia aos privilegiados, sacerdotes e catedráticos. Com a imprensa, a informação é aberta, disseminada com fins puramente comerciais. A disseminação do conhecimento operada pelos jornalistas é bem mercantil. Não se colocam pressupostos morais ou éticos. Tudo é vendável e passível de ser absorvido pelo público. Isso se deve ao fato de que o surgimento da imprensa burguesa atendeu interesses estritamente econômicos e só pôde expandir-se por ter sido vista por essa classe como um excelente meio de informação e comunicação dos negócios. Naquela época, o que fosse.

(23) 23. veiculado só interessaria na medida em que ajudasse a aumentar as vendas e os lucros dos comerciantes.. 1.2 A FASE POLÍTICO LITERÁRIA. A passagem da imprensa artesanal, das vendas de notícias para a segunda fase, político-literária, marca a revolução empreendida no final do século XVIII. É nessa fase que surge a redação como setor específico do jornal; época dos jornais eruditos, das revistas moralistas, época em que escritores e políticos escrevem em suas páginas.. No jornalismo literário os fins econômicos das empresas vão para o segundo plano. Os jornais são escritos com fins pedagógicos e políticos. É também característica dessa fase a imprensa partidária, na qual os próprios jornalistas eram políticos e o jornal, o seu porta-voz. A razão de sobrevivência dessas empresas totalmente deficitárias em termos econômicos deve-se à sua função no cenário das discussões políticas daquele século. Essa imprensa insere-se nos meios políticos europeus, nos cafés e salões burgueses e fornece material à burguesia para as suas discussões e seu entretenimento. É, portanto, um veículo interno da classe, no sentido de ser porta-voz dos setores e grupos políticos e econômicos da sociedade que se debatem por melhores postos no aparelho de Estado e na sociedade civil. Pouco tem a ver com a grande imprensa de massa do século XX. Serve ainda para satisfazer exclusivamente esses grupos de interesse (MARCONDES FILHO, 1989, p.61).. Nos jornais literários e políticos as funções de diretor e editor separam-se nitidamente e com isso a redação ganha autonomia. Os jornais são veículos de grande alcance, instrumentos puramente políticos de modo que o lucro jamais se impõe as intenções políticas dos redatores. O século XIX foi amplamente marcado por conflitos sociais e pela afirmação política da burguesia no poder. Destaque para o movimento cartista, que surgiu nos fins do século XVIII contra as oligarquias e pela recuperação dos pequenos produtores e propunha a substituição do modo de produção capitalista por estruturas cooperativas de divisão do trabalho. As formas de estruturação social sob as rédeas do capitalismo, em que imperavam a concorrência, o rendimento, a individualização do trabalho operário, são estranhas ao trabalhador que se originava de relações bem distintas no campo. Com a queda do movimento cartista aparecem sindicatos, cooperativas e demais organizações, representando o início do socialismo do século XIX..

(24) 24. 1.3 A PRODUÇÃO DE JORNAIS EM MASSA. É na chamada terceira fase que se dá a maior revolução da história do jornalismo. A inovação tecnológica transformará radicalmente os rumos e o caráter da imprensa política do século XVIII e XIX. Acompanhando a expansão industrial acelerada do início do século, a produção de bens em massa e consequente dilatação do mercado, a ampliação da exploração colonial e a afirmação política e econômica da nova classe dominante a imprensa começa a se transformar. Já é hora de se estender a conquista tecnológica para a produção de jornais em massa. O ponto de partida marcante desse desenvolvimento foi a introdução, animadamente festejada, da prensa rápida (em novembro de 1814 pelo Times londrino), descoberta por Friedrich Konig, que reduziu sensivelmente o tempo entre a ocorrência de um fato e sua divulgação em um grande território. (...) O que o jornal não transmitiu aos seus leitores foi o fato de que uma máquina tão impressionante não poderia ser utilizada sem um gasto financeiro considerável, e que os custos mal poderiam ser cobertos com o produto da venda, (JAENICK, apud MARCONDES FILHO, 1989, p.63).. A transformação tecnológica irá exigir da empresa jornalística a capacidade financeira de autossustentação com pesados pagamentos periódicos, irá transformar uma atividade praticamente livre de pensar e de fazer política que precisará vender e se autofinanciar. A fase em que o jornal não visava o lucro, marcado pelas intenções político-ideológicas dos seus redatores ficava pra trás, cedendo espaço às exigências do capital. Com isso, o jornalista, redator, perde sua autonomia dentro do jornal que passa a ser controlada pelo proprietário do jornal. Como consequência, o jornalismo vai deixando de ser livre manifestação de ideias, pensamentos e posições políticas para se curvar diante da ditadura do capital. É a partir da segunda metade do século XIX que a imprensa começa a definir-se como um negócio para o comércio de anúncios. O jornal burguês agora avança com toda a sua força para se transformar em veículo de massa, produzindo mercadorias, desenvolvendo melhores técnicas de aprimoramento do produto e conquistando o público leitor. O aparecimento dessas novas técnicas dá margem ao surgimento da imprensa de massa, decorrência das novas facilidades de produção em grandes quantidades, voltada também para entreter as massas urbanas sensibilizadas e deslocadas com a brusca mudança de vida, do campo para as cidades..

(25) 25. A notícia, como mercadoria, vai recebendo mais investimento para melhorar a sua aparência de valor de uso; surgem as manchetes, os destaques, as reportagens, trabalha-se e investe-se muito mais na capa, no logotipo, nas chamadas de primeira página.. A gradual implantação da imprensa de negócios, terceira fase da história do jornalismo, iniciava-se, assim, após 1830, especialmente na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos. A sua dominação plena dá-se a partir de 1875. A grande mudança que se opera nesse tipo de imprensa é a inversão de importância e de preocupação quanto ao caráter de mercadoria do jornal. O seu valor de troca, a venda dos espaços publicitários para assegurar a sustentação e a sobrevivência econômica, passa a ser prioritário em relação ao valor de uso, a parte puramente redacional-noticiosa dos jornais. A tendência é de fazer do jornal um amontoado de comunicações publicitárias permeado de notícias (MARCONDES FILHO, 1989, p.67).. A introdução dos novos aparelhos de impressão exigia maior investimento de capital, um aumento do risco comercial e a submissão da política ao ponto de vista empresarial. Dentro da própria estrutura redacional alteram-se as relações entre editor e redator. O redator perde a sua autonomia e o tratamento e elaboração de notícias sobrepõe-se à linha editorial. O surgimento dos grandes conglomerados jornalísticos ocorre no finalzinho do século XIX, acompanhando o processo geral de concentração econômica. Além da função e da centralização administrativa e financeira ocorre a sincronização com as agências noticiosas; pequenos jornais unem-se também aos complexos jornalísticos, significando o enorme poder da imprensa como forte conglomerado econômico, político e ideológico.. 1.4 A ERA ELETRÔNICA. É na segunda metade do século XX, mas precisamente de 1970 prá cá, que o jornalismo entra em sua quarta fase: a era eletrônica, que faz parte de toda uma revolução tecnológica dos meios de comunicação que atinge o sistema de rádio, de televisão, de telefonia em geral e as demais formas de comunicação a distância. E é essa fase da era eletrônica, marcada pela internet, principalmente de 1995 até os dias atuais, que passaremos a discutir neste trabalho. Abordaremos a crise dos paradigmas que o jornalismo vive hoje, associada à crise econômica dos impressos. Com o surgimento da televisão o jornalismo impresso, para continuar existindo, teve que se diferençar: passou a produzir notícias mais aprofundadas, contextualizadas, em oposição às notícias televisivas, curtas e superficiais. E hoje, em tempos de capitalismo desorganizado, de crise financeira mundial, de mundos on-line e virtuais, com notícias variadas e gratuitas 24 horas na rede.

(26) 26. mundial de computadores, o jornalismo impresso terá de continuar se reinventando para continuar existindo..

(27) 27. CAPÍTULO II – O NOVO FAZER JORNALÍSTICO 1 O JORNALISMO NA ERA DAS NOVAS TECNOLOGIAS. Philip Meyer (2007) acredita que para salvar as tradições e a prestação de serviço do jornalismo impresso sustentado principalmente pela publicidade, seja necessário olhar além dos jornais. “Temos de olhar para o mundo ponto.com ou algum híbrido” (p.222). Esse modelo híbrido ao qual Meyer (2007) sugere como forma dos jornais impressos cumprirem sua função na prestação de serviços e de quebra escapar da crise financeira poderiam ser os jornais gratuitos? Na era do virtual, do tempo real e da interconexão mundial através da rede mundial de computadores, quem poderia apostar no sucesso de jornais impressos, em formatos reduzidos, design compacto, textos curtos e instantâneos distribuídos gratuitamente nas estações de metrô, pontos de ônibus e semáforos? Essa é uma tendência mundial e também uma realidade no Brasil com a chegada dos jornais gratuitos Destak e Metro. O surgimento desse tipo de jornal pode estar relacionado a uma dupla crise: uma crise conceitual do Jornalismo e uma crise empresarial dos jornais impressos. Meyer (2007) acredita que para enfrentar o atual momento, os jornais impressos têm que aprender a lidar com a competição das novas formas de mídia, o que exigiria uma nova maneira de pensar. E, segundo ele, um sinal dessa nova maneira de pensar é a sacada das empresas da grande imprensa para publicações especializadas. Produtos com periodicidade menores que diária, direcionada às minorias étnicas ou aos jovens, vem sendo uma das grandes preocupações dos veículos impressos. Mala direta, distribuição gratuita e produtos web direcionados para públicos específicos foram implementados ou estudados.. O produto on-line atende à utilidade, é uma forma de ter acesso rápido a informação útil para a vida dos leitores. O uso mais impressionante de todos esses sites, mesmo nos mercados menores e mais locais, é a criação de uma rede de leitores. E, é claro, nessa rede de leitores há um número desproporcional de jovens, que são a fonte do tradicional declínio de longo prazo dos leitores do jornal tradicional. Quem quiser preservar a função de responsabilidade social da imprensa melhorando sua qualidade tem de parar de se queixar e começar a olhar o produto integrado, não só sua porção fabricada com papel e tinta (MEYER, 2007, pp. 232 e 233).. De fato, há mudanças importantes ocorrendo na produção da notícia que exigem maior agilidade e novas habilidades dos jornalistas. Novos meios, novos contextos de produção,.

(28) 28. novas linguagens estão alterando acentuadamente o fazer jornalístico. Como resultado desse desenvolvimento tecnológico, as notícias estão se tornando um produto superabundante, barato e instantâneo. Reduz-se cada vez mais a interferência do jornalista, e as pessoas estão se acostumando a ver o acontecimento no momento de sua ocorrência, sem a necessidade de intermediações, sem necessidade de palavras. Como afirmou o professor e jornalista Luiz Gonzaga Motta (2009) em um artigo publicado na home page da Universidade de Brasília. O espetáculo do 11 de setembro em Nova York, transmitido ao vivo para todo o mundo, foi um marco nessa experiência de visualidade e instantaneidade na transmissão de eventos: muito imediatismo, profusão de imagens, poucas palavras, profunda perplexidade e incompreensão. (MOTTA, 2009).. Os novos produtores assimilaram a cultura profissional anterior e os novos meios, como a internet, utilizaram estruturas comerciais e industriais já existentes, fazendo convergir processos de produção cultural ainda mais centralizados e com uma rentabilidade financeira maior. A maioria das empresas que operam o jornalismo on-line são as mesmas que operavam outras formas de jornalismo anteriormente. Com o advento do jornalismo on-line, foi sacramentada a retórica da objetividade, da síntese e do imediato com sua linguagem telegráfica, a publicação de textos curtos, resumidos, poucas reportagens. E em meio ao mundo on-line, o jornalismo impresso vem se adaptando. Mas também não fez nenhuma ruptura radical nas maneiras de produzir a notícia. Fez sim uma readaptação de suas rotinas e linguagens para fazer frente às exigências da instantaneidade, da visualidade, da imagem. Os jornais mudaram o layout, tornaram-se mais leves, mais coloridos e mais didáticos com muitos infográficos, um recurso de design que lhes assegurou adesão às novas exigências do público leitor, ávido por informações rápidas, bonitas e superficialmente instrutivas. Tudo rápido, ligeiro, superficial, sem aprofundamento, bem ao encontro do ritmo de vida corrido, pós-moderno. Da mesma forma, o telejornalismo e o radiojornalismo também vêm se adaptando ao contexto do virtual. As transmissões estão mais diretas, em tempo real, houve um ajuste às novas circunstâncias industriais da produção cultural. Está tudo mais rápido, desconexo e fragmentado. As grandes estórias, as grandes reportagens estão em declínio em detrimento do breve, do rápido, do prático. O que parece interessar agora é transmitir o maior número de informações em menos tempo possível..

(29) 29. 2 A CRISE DOS NOVOS TEMPOS A crise econômica/empresarial dos veículos impressos – sentida sensivelmente pelo jornalismo - está sendo agravada pela recente recessão financeira internacional. Recessão esta que está arrastando consigo boa parte da credibilidade e do poder dos grupos midiáticos, particularmente da imprensa escrita, em função da estreita aliança entre mídia e poder econômico. Ignácio Ramonet3, em artigo publicado em outubro passado, questiona:. O que é que agrava tão letalmente a velha decadência da imprensa escrita quotidiana? Um fator conjuntural: a crise econômica global que provoca a redução da publicidade e a restrição do crédito. E que, no momento mais inoportuno, se veio somar aos males estruturais do setor: a mercantilização da informação, o apego à publicidade, a perda de credibilidade, a queda de subscritores, a competência da imprensa gratuita, o envelhecimento dos leitores... Dezenas de diários estão em queda. Nos Estados Unidos já fecharam pelo menos cento e vinte. E o tsunami golpeia agora a Europa. (RAMONET, 2009). O tratamento dado pela mídia à crise não teria sido mais do que o reflexo de seu próprio desespero, pois toda crise capitalista tende a se refletir como uma crise nos meios de comunicação. Particularmente em relação à América Latina, como destacou Ignácio Ramonet4, onde o contexto político não é mais o mesmo, o que tem influído no tratamento dispensado à mídia hegemônica e fortalecido as mídias livres, ou alternativas. Para Pascual Serrano5, a mídia é um dos responsáveis pela recente crise internacional porque faz parte da estrutura financeira do modo de produção capitalista.. A sociedade civil organizada sempre defendeu meios de controle sobre a economia, mas teria sido solenemente ignorada pela mídia tradicional, que estranhamente não ofereceu explicações satisfatórias diante da crise, muito embora seus especialistas tenham estado sempre de prontidão quando o caso era legitimar a economia capitalista. (SERRANO, 2009). 3. Artigo disponível em http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_ id=16175&boletim_id=599&componente_id=10070. Acessado em 18 de novembro de 2009, às 20h12. 4 Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, durante palestra em Belém-Pará, no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), no primeiro Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML), em janeiro de 2009. O evento integra as atividades do Fórum Social Mundial 2009. Informação retirada do site www. cartamaior.com.br, em 12 de março às 15h. 5 Pascual Serrano, do site Rebelion, durante palestra em janeiro de 2009, em Belém-Pará, no Primeiro Fórum Mundial de Mídia Livre. Trecho retirado do site www.cartamaior.com.br em 12 de março, às 15h16..

(30) 30. A estratégia escolhida pela mídia diante da crise, afirma Serrano, foi a de vitimização, como se não existisse responsável algum pela bancarrota capitalista, mas somente vítimas. Após avaliar a atual crise econômica dos jornais impressos no mundo, Ramonet6 afirma que Para cortar despesas, muitas publicações estão reduzindo o número de páginas; o Washington Post fechou o seu prestigiado suplemento literário Bookworld; o Christian Science Monitor decidiu suprimir a sua edição em papel e existir só na Internet; o Financial Times propõe semanas de três dias aos seus redatores e reduziu drasticamente o número de trabalhadores. As demissões são em massa. Desde janeiro de 2008 foram suprimidos 21.000 empregos nos jornais norte-americanos. Na Espanha, "entre junho de 2008 e abril de 2009, 2.221 jornalistas perderam o seu posto de trabalho". (...) A imprensa diária escrita encontra-se à beira do precipício e procura desesperadamente fórmulas para sobreviver. Alguns analistas consideram obsoleto esse modo de informação. Michael Wolf, da Newser, prevê que 80% dos diários norte-americanos desaparecerão. (RAMONET, 2009). 3 PÓS-MODERNIDADE: UM QUADRO DO INÍCIO DO SÉCULO XXI E “tudo o que é sólido se desfaz no ar”. Essa expressão foi usada no Manifesto Comunista de 1848 por Marx e Engels com o objetivo de caracterizar o caráter revolucionário das transformações operadas pela modernidade e pelo capitalismo nos mais diferentes setores da vida social. “Marx estava plenamente consciente de que, ao mesmo tempo que a solidez antiga, pré-capitalista, se desfazia no ar, uma outra solidez se instalava, instantaneamente rígida e resistente, a lei de ferro das relações de produção capitalista” (SANTOS, Boaventura de Sousa, 2003, pp. 23-24). Essa expressão de Marx e Engels se aplica muito bem hoje, nessa fase do capitalismo desorganizado, nessa nova era, marcada pela velocidade, imediatismo e superficialidade. Para discutir essa questão recorremos a alguns autores que contribuiram de alguma maneira para entedermos esse momento atual. Como vamos discutir o jornalismo na nova era, não poderia deixar de mencionar ou ignorar o termo pós-moderno, bastante controverso e utilizado para definir tudo o que é diferente, novo e/ou foge aos padrões. Quem nunca ouviu frases do tipo “ela é uma garota pós-moderna, usa piercing e tem tatuagens”, ou “essa arquitetura é pós-moderna, veja o design arrojado”. Não queremos aqui aprofundar-nos em pós-modernidade, apenas levantar. 6. Artigo disponível em http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm? 16175&boletim_id=599&componente_id=10070. Acessado em 18 de novembro de 2009 às 20h17. materia_id=.

(31) 31. alguns aspectos sobre o termo com o intuito de esclarecer esse momento atual para então entrarmos na discussão da crise conceitual do jornalismo hoje. O termo pós-moderno se tornou corrente, embora haja muitas controvérsias quanto ao seu significado e pertinência. Tais controvérsias possivelmente resultem da dificuldade de se examinarem processos em curso com suficiente distanciamento e, principalmente, de se perceber com clareza os limites ou os sinais de ruptura entre tradicional, moderno e pósmoderno Em A cultura da mídia, Douglas Kellner chama atenção para o fato do termo pósmoderno vir sendo utilizado de maneira indiscriminada e confusa e que acabou virando um chavão popular: tudo que é diferente, reacionário, foge dos padrões é pós-moderno.. Com efeito, a designação “pós-moderno” talvez seja uma das que foram usadas de modo mais indiscriminado e confuso no léxico da teoria crítica contemporânea. Os termos “moderno” e “pós-moderno” são usados para abarcar uma espantosa diversidade de produtos culturais, fenômenos sociais e discursos teóricos, e o conceito de pós-modernidade exige constante exame, aclaramento e crítica. (...)De um ponto de vista negativo, o termo frequentemente é um significante vazio a indicar que se está evitando uma teorização mais concreta necessária. Tal uso vazio do discurso é sinal de teoria preguiçosa, de fuga ao pensamento e à análise difíceis e de substituição da análise teórica por um chavão popular ( KELLNER, 2001, p.64, 65 e 69).. Mas, por outro lado, toda essa discussão em torno do termo é sinal de que algo é novo e precisa ser estudado. Rotulamos de pós-moderno algo que está nos incomodando, ao surgimento de fenômenos novos e intrigantes que não conseguimos apreender adequadamente ou na sua plenitude. É no campo da cultura que a discussão contemporênea sobre o pós-moderno ganha força. De uma maneira mais geral, o termo corresponde a uma nova configuração da cultura e é usado para substituir os dogmas da modernidade, propondo novos valores, mais abrangentes e acompanhando a revolução de várias áreas do conhecimento, como a comunicação, ciência, tecnologia, entre outras. Tudo isso, claro, acompanhando o desenvolvimento do capitalismo e industrialização avançada.. (...) o discurso contemporâneo sobre o pós-moderno surgiu nos campos da cultura, e a febre pós-moderna da atualidade também começou nesse domínio. Nos anos 1960, apareceu uma “nova sensibilidade” que se definia contra a abstração e o elitismo da arte moderrnista e das formas modernas de crítica literária. Essa nova sensibilidade propugnava as práticas culturais emergentes que se caracterizavam por, entre outras coisas, desfazer a.

(32) 32. distinção entre arte nobre e não nobre, ao incorporarem nas formas estéticas uma vasta gama de símbolos e imagens da cultura da mídia e ao porem em cheque as barreiras convencionais entre artista e espectador. Essas novas formas estéticas – como as pinturas de Andy Warhol ou os romances de John Barth e Thomas Pynchon – acabaram sendo conhecidas como exemplos de pós-modernismo, como parte das novas configurações culturais que rejeitavam as características do modernismo clássico (KELLNER, 2001, p. 70). E o processo de uma cultura global, em escala mundial, que marcaria para sempre o século XX estava se desenvolvendo. A Pós-Modernidade, que é o aspecto cultural dessa nova sociedade, inscreve-se neste contexto como conjunto de valores que norteiam a produção cultural que estaria por vir. Entre estes, a multiplicidade, a fragmentação, a desreferencialização, o desenraizamento e a inclusão de todas as culturas como mercados consumidores. Nesse novo modelo de mundo, que privilegia a informação, a comunicação passa a exercer papel fundamental na difusão de valores e ideias pós-modernos. Na batalha por capital cultural, sem dúvida, a mídia exerce papel fundamental ao fazer uso, ou mesmo se apropriar do conceito pós-moderno.. (...) os jornalistas, os empresários culturais e os teóricos inventam e divulgam discursos como o do pós-moderno para aumentar o capital cultural, distinguir-se, fazer propaganda de determinados produtos ou práticas como coisas que estão na crista da onda, e difundir novos significados e ideias. O discurso em torno do pós-moderno, em especial, atrai sobretudo jovens à cata de prestígio ou pessoas que queiram distinguir-se como vanguarda, embora também tenha atraído muita gente interessada em ressuscitar a carreira ou a libido exangue com o discurso novo e sensual (MIKE FEATHERSTONE apud KELLNER, 2001, p. 72). E nesse bojo da pós-modernidade, ao disseminar uma enorme gama de novos valores, novos padrões de cultura, ao criar papéis e disponibilizar materiais sociais e simbólicos, a mídia acaba por criar uma ansiedade no indíviduo contemporâneo, tamanha diversidade de materiais despejado por ela diariamente. E isso acaba por gerar uma crise de identidade, pois nunca estamos certos de que fizemos a escolha certa e mais, de que seremos reconhecidos por nossos pares, por nossa tribo. Nas sociedades tradicionais, pré-modernas, o indivíduo pertencia a um grupo e ali ficava por toda a vida, possuía uma única identidade fixa, estável. Na modernidade, a identidade já ganha uma mobilidade, uma certa instabilidade. O indíviduo já passa a ter mais consciência de si e passa a refletir sobre seu papel no grupo, suas possibilidades de mudança e acaba por distanciar-se da tradição. Ele tem a consciência de que sua identidade pode ser construída e mudada sempre que preciso ao longo da vida..

(33) 33. Hoje, o que podemos observar é que, em meio a tantos mateirais disponíveis, a todo esse excesso de informação, o indíviduo acaba por ficar meio perdido, desenraizado, a medida que o ritmo, as dimensões e a complexidade das sociedades aumentam, a identidade vai se tornando cada vez mais frágil e instável. Alguns teóricos como Baudrillard, acreditam que o sujeito autoconstruído e autônomo está se fragmentando e desaparecendo na sociedade racionalizada, burocrática e consumista dominada pela mídia. Afirma-se, pois, que na cultura pós-moderna o sujeito se desintegrou num fluxo de euforia intensa, fragmentada e desconexa, e que o eu pós-moderno descentrado já não sente ansiedade (a histeria torna-se a típica doença psíquica pós-moderna e já não possui a profundidade, a substancialidade e a coerência que eram os ideais e às vezes a realização do eu-moderno (BAUDRILLARD; JAMERSON apud KELLNER, 2001, p. 298). 3.1 A Modernidade líquida de Bauman. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, depois de trabalhar bem o termo PósModernidade, prefere usar a expressão "modernidade líquida" , se referindo à realidade confusa, desconexa que vivemos hoje. No seu livro Modernidade Líquida, Bauman propõe uma nova visão sobre a modernidade, voltada à fluidez das relações, ao individualismo pregando o dinamismo. Inicia seu estudo discutindo a ideia de liquidez e fluidez. Por se tratar de um conceito voltado à mudança de formas para acomodação nos mais diversos encaixes, é inevitável a analogia à nossa atual e imediatista sociedade pois, “assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas „por um momento‟ [grifo do autor]” (BAUMAN, 2001, p. 8). Para Bauman (2001), os tempos modernos encontraram sólidos pré-modernos em estado avançado de desintegração; e um dos motivos mais fortes por trás da urgência de derretê-los era o desejo de, por uma vez, “descobrir ou inventar sólidos de solidez duradoura, solidez em que de pudesse confiar e que tornaria o mundo previsível e, portanto, administrável” (p.10). Bauman acredita que a pós-modernidade é o resultado de se soltar o freio: da desregulamentação, da liberalização, da flexibilização, da fluidez crescente, do descontrole dos mercados financeiro, imobiliário e de trabalho. E segue, afirmando que o derretimento dos sólidos, traço permanente da modernidade, adquiriu, portanto, um novo sentido e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo; e dos.

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