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O papel do bem-estar psicológico e do perfeccionismo no desenvolvimento das perturbações alimentares

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1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Educação e Psicologia Clínica

2º Ciclo em Psicologia Clínica

O papel do bem-estar psicológico e do perfeccionismo no desenvolvimento

das perturbações alimentares

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Cláudia Daniela Mota Silva

Dr. Prof Catedrático: José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

Vila Real, 2013

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3 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Educação e Psicologia Clínica

2º Ciclo em Psicologia Clínica

O papel do bem-estar psicológico e do perfeccionismo no desenvolvimento

das perturbações alimentares

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Vila Real, 2013

Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e Psicologia, sob a orientação do Professor Catedrático José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo.

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5 Agradecimentos

O alcance desta etapa é o concretizar de um sonho percorrido durante cinco longos anos, os quais são relembrados agora com nostalgia. O seu alcance é assim o fim para o início à profissão que desde sempre desejei. Claro que o seu alcance só foi possível graças ao meu ciclo social a quem ressalto agora uma pequena forma de agradecimento, perante os seus grandes feitos:

Ao meu ídolo, o meu pai, que sempre acreditou na minha vitória, transmitindo-me calma e segurança, estando sempre ao meu lado e transmitindo as suas maiores virtudes: perfeccionismo, responsabilidade, força de vontade e determinação.

À minha mãe, o meu grande apoio emocional, transmitindo-me amor, carinho, partilha e calma.

Aos meus irmãos pela sua presença constante, ajuda significativa, pelas gargalhadas e pelos momentos únicos e insubstituíveis.

Ao meu namorado, pela ajuda única, pelo carinho, pela calma, pela paciência comigo. Para ti um agradecimento especial pois sem ti esta dissertação não teria sido realizada tão rápida. Por isso, ela também tem um lado teu.

Ao meu amigo, Luís simplesmente pela amizade, ajuda e presença constante.

Há minha falecida avó que foi quem mais me ensinou e que esteja onde estiver, sei que todos os dias, torceu por mim.

À família de Psicologia, porque com vocês aprendi, cresci e vivenciei cinco anos únicos e deliciosos. Falando da família de Psicologia tenho de falar da minha Cátia, da minha Diana e da minha Cristina; agradecendo a amizade, o apoio e o carinho.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, instituição que permitiu a construção deste trabalho e um processo de crescimento.

A todos os adolescentes da amostra pela disponibilidade e recetividade significativa, pois sem vocês a execução deste trabalho não era possível.

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6 À minha orientadora de estágio Dr. Marisa Borges pelo conhecimento que me transmitiu que permitiu um processo de enriquecimento elevadíssimo.

Ao meu Orientador Professor Catedrático José Vasconcelos-Raposo pela presença constante, pelos conhecimentos transmitidos, pela calma que me transferiu, sempre afirmando que o sucesso era garantido.

E, a todos aqueles que de forma direta ou indireta, cruzaram o meu caminho.

A todos vocês, muito obrigada!

Obrigada pelas experiências, pelos conhecimentos, pela partilha, pelas gargalhadas, pela confiança, pelas críticas construtivas, pelos elogios reforçadores.

Obrigada pelo crescimento…

Obrigada por estes cinco anos…

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7 Resumo

A excessiva valorização da magreza e estigmatização da obesidade, na sociedade Ocidental contemporânea, leva um vasto número de indivíduos a procurar, exaustiva e impacientemente, o corpo magro e tonificado (Jorge & Vitalle, 2008) efetuando, para tal, comportamentos alimentares desajustados e práticas não saudáveis para o controlo do peso (Matos, 2006; Matos & Arriaga, 2010; Souza, Souza, Magna, & Magna, 2011). Estas práticas podem, muitas vezes, culminar no desenvolvimento de distúrbios alimentares (Matos, 2006; Oliveira, 2009).

Tendo em conta que atualmente estas psicopatologias ainda constituem um desafio pela “pela sua natureza sindrômica, não completamente esclarecida do ponto de vista etiológico” (Appolinário, Cordás, & Claudino, 2002, p. 1), este estudo visa o conhecimento dos fatores epidemiológicos de risco para o desenvolvimento destas psicopatologias. Trata-se de uma investigação do tipo quantitativo, quasi-experimental, transversal, descritiva e comparativa, que compreendeu 282 adolescentes, sendo 142 do sexo masculino e 140 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos de idade. Este estudo utiliza como instrumentos psicológicos o Teste de atitudes alimentares – 26 (TAA-26), a Escala Multidimensional do Perfeccionismo (EMP) e o Teste do Bem-Estar Psicológico (BEP). Os dados foram tratados e analisados através do programa informático Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 21.

A investigação realizada permitiu identificar os seguintes fatores epidemiológicos de risco dos distúrbios alimentares: IMC elevado, escolaridade, nomeadamente a pertença ao ensino superior, comentários depreciativos acerca da imagem corporal, pressão social para emagrecer, existência de histórico familiar de perturbação alimentar, realização de dietas pelo próprio adolescente e pela família, preocupação com o peso, insatisfação corporal, perfeccionismo elevado e reduzido bem-estar psicológico.

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9 Abstract

The overvaluation of thinness and stigmatization of obesity in contemporary Western society, it takes a large number of individuals to seek thorough and impatiently, the lean and toned body (Jorge & Vitalle, 2008) making, for such maladaptive eating behaviors and practices for unhealthy weight control (Matos, 2006; Matos & Arriaga, 2010; Souza, Souza, Magna & Magna, 2011). These practices can often culminate in the development of eating disorders (Matos, 2006; Oliveira, 2009).

Given that these psychopathologies currently still constitute a challenge by "syndromic in nature, not fully elucidated the etiological point of view" (Appolinário, Cordás, & Claudino, 2002, p. 1), this study aims at understanding the epidemiological fators risk for the development of these psychopathologies.

This is an investigation of the quantitative, quasi-experimental, cross-sectional, descriptive and comparative, which comprised 282 adolescents, 140 males and 142 females, aged between 12 and 18 years old. This study uses as instruments of psychological the Eating Attitudes Test - 26 (SAT-26), the Multidimensional Perfectionism Scale (EMP) and the Test of the Psychological Well-Being (BEP). Data were processed and analyzed using the computer program Statistical Package for Social Science (SPSS), version 21.

The research identified the following epidemiological risk fators of eating disorders: high BMI, education, derogatory comments about body image, social pressure to lose weight, there is a family history of eating disorder, performing diets by the teen and the family, preoccupation with weight, body dissatisfaction, perfectionism high and low psychological well-being.

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10 Índice

Introdução ………...………..18

Parte I - Abordagem conceptual 1. Comportamentos alimentares ………21

2. Enquadramento histórico dos transtornos alimentares ………...22

3. Definição dos transtornos alimentares ………...27

4.Epidemiologia ……….………...29

5. Adolescência ………..………..…….30

6. Fatores epidemiológicos de risco de desenvolvimento dos distúrbios alimentares ………...……….32

6.1. Fatores socioculturais ………..………34

6.1.1. Mídia ………..………..35

6.1.2. Ciclo social envolvente ………....36

7. Realização de dietas ………..………..…..38

8. Imagem corporal ………..……….38

9. Perfeccionismo ………..………….…...39

10. Bem-estar psicológico ……….…….42

Parte II – Estudo empírico 1. Tipo de estudo ………...…49

2. Amostra ………...…..49

3. Instrumentos ………...…………...50

3.1. Questionário sociodemográfico ………...50

3.2. Teste de Atitudes Alimentares – 26 (TAA – 26)………..…….51

3.3. Escala Multidimensional do Perfeccionismo (EMP) ………...52

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11 4. Procedimentos ………...……….54 5. Resultados ……….….…………....57 6. Discussão ………...105 Conclusão ……….……...129 Referências Bibliográficas ………...132

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12 Lista de tabelas

Tabela 1: Estatísticas descritivas dos fatores do TAA-26……….………58 Tabela 2: Comparação do sexo ao nível das atitudes e comportamentos alimentar……….……….61 Tabela 3: Comparação da zona geográfica ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………62 Tabela 4: Comparação dos grupos etários ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ……….63 Tabela 5: Comparação do IMC ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ……….64 Tabela 6: Comparação dos graus de escolaridade ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………65 Tabela 7: Comparação dos comentários depreciativos acerca da imagem corporal ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………66 Tabela 8: Comparação da pressão social para emagrecer ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………..66 Tabela 9: Elementos do ciclo social que exercem maior pressão de emagrecimento ……….67 Tabela 10: Comparação da existência de PA na família ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ……….……….…68 Tabela 11: Especificação da PA na família que exerce maior impacto produz nas atitudes e comportamentos alimentares ………....…………...70 Tabela 12: Comparação dos sujeitos praticantes e não praticantes de dietas ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………...………70

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13 Tabela 13: Comparação dos adolescentes com histórico de patologia alimentar ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………..….………71 Tabela 14: Comparação da preocupação com o peso ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ……….……….………73 Tabela 15: Comparação da satisfação com a imagem corporal ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………...………74 Tabela 16: Comparação do sexo ao nível do perfeccionismo ………...………75 Tabela 17: Comparação da idade ao nível do perfeccionismo ……….……….76 Tabela 18: Comparação da satisfação com imagem corporal ao nível do perfeccionismo……….77 Tabela 19: Comparação com a preocupação com o peso ao nível do perfeccionismo.………77 Tabela 20: Comparação dos comentários depreciativos acerca da imagem corporal ao nível do perfeccionismo ……….………..……….78 Tabela 21: Comparação do IMC e da realização de dietas ao nível do perfeccionismo ……….……79 Tabela 22: Comparação do histórico de PA na família ao nível do perfeccionismo ……….79 Tabela 23: Comparação da pressão social para emagrecer ao nível do perfeccionismo………..80 Tabela 24: Estatísticas descritivas dos fatores do EMP ……….……….81 Tabela 25: Correlações entre as atitudes e comportamentos alimentares ao nível do perfeccionismo ………81 Tabela 26: Comparação do perfeccionismo auto-orientado ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ……….………...82

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14 Tabela 27: Comparação do perfeccionismo orientado para os outros ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………...……83 Tabela 28: Comparação do perfeccionismo socialmente prescrito ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………...84 Tabela 29: Comparação do sexo ao nível do bem-estar psicológico ……….…………...85 Tabela 30: Comparação da satisfação corporal ao nível do bem-estar psicológico………...………86 Tabela 31: Comparação da preocupação com o peso ao nível do bem-estar psicológico ……….………87 Tabela 32: Comparação entre os comentários depreciativos e a idade ao nível do bem-estar psicológico ………..88 Tabela 33: Comparação entre a pressão para emagrecer e a idade ao nível do bem-estar psicológico ………..90 Tabela 34: Comparação do PA na família dos adolescentes ao nível do bem-estar psicológico ……….91 Tabela 35: Especificação da PA na família que exerce maior impacto no BEP dos adolescentes ……….…………....92 Tabela 36: Comparação com a realização de dietas pelo adolescente ao nível do bem-estar psicológico ………..…93 Tabela 37: Comparação com a realização de dietas pela família ao nível do bem-estar psicológico ……….94 Tabela 38: Comparação do IMC ao nível do bem-estar psicológico ………...95 Tabela 39: Correlação entre o BEP e as atitudes e comportamentos alimentares ………...96

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15 Tabela 40: Comparação da autonomia com as atitudes e comportamentos alimentares

……….………97

Tabela 41: Comparação do crescimento pessoal ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………..………98

Tabela 42: Comparação das relações positivas com os outros com as atitudes e comportamentos alimentares ………..………99

Tabela 43: Comparação do domínio do meio ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ..……….100

Tabela 44: Comparação do estabelecimento dos objetivos de vida ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ……….101

Tabela 45: Comparação da aceitação de si ao nível das atitudes e comportamentos alimentares ………...………102

Tabela 46: Comparação da aceitação de si ao nível da atitudes e comportamentos alimentares...103

Lista de quadros Quadro 1: Média dos itens do TAA_26 ……….……….60

Lista de gráficos Gráfico 1: Frequência descritiva dos resultados do TAA-26 ………..58

Gráfico 2: Risco de desenvolvimento de distúrbios alimentares por sexo ………61

Gráfico 3: Risco de desenvolvimento de distúrbios alimentares por idade ………..63

Gráfico 4: Sexo ao nível da preocupação com o peso ……….72

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16 Glossário:

AN - Anorexia Nervosa BN - Bulimia Nervosa

TA SOE - Transtorno Alimentar Sem Outra Especificação TAA - Teste de atitudes alimentares

EMP - Escala Multidimensional do Perfecionismo BEP - Bem-Estar Psicológico

PA - Perturbação Alimentar

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18 Introdução

O comportamento alimentar desempenha, em simultâneo, duas funções, especificamente a manutenção da quantidade de ingredientes necessários para a sobrevivência do sujeito e o prazer que a ingestão alimentar proporciona (Sousa et al., 2011). O padrão alimentar dos sujeitos reflete-se na sua saúde física e mental (Teixeira, 2008). E é influenciado por inúmeros determinantes, nomeadamente influências psicológicas, socioeconómicas, culturais e ambientais (Rossi, Moreira & Rauen, 2008).

Atualmente vigora nas sociedades industrializadas enorme contradição no que concerne à alimentação; por um lado um estímulo ao consumo de alimentos com enorme valor calórico e, por outro lado a enfâse atribuída ao corpo magro e tonificado; sendo que ambos são promovidos por interesses comerciais das indústrias alimentar e de beleza (Matos, 2006). Perante este panorama contraditório observa-se cada vez mais pessoas a realizar comportamentos alimentares desajustados e práticas não saudáveis para controlo do peso (Matos, 2006) que podem, muitas vezes, culminar no desenvolvimento de distúrbios alimentares (Matos, 2006; Oliveira, 2009).

Os distúrbios alimentares pela sua elevada incidência são considerados por Oliveira (2009) como epidemias das últimas décadas. Estas psicopatologias são originadas por uma multiplicidade de fatores, que interagem entre si de modo complexo (Silveira, Moreira, Barreto, Barros-Marcellini, Marcellini, 2009). Este estudo recai sobre o conhecimento dos fatores epidemiológicos de risco para o desenvolvimento destes distúrbios, uma vez que representam, atualmente, um desafio “pela sua natureza sindrômica, não completamente esclarecida do ponto de vista etiológico” (Appolinário, Cordás & Claudino, 2002, p. 1). Conseguir enumerar estes fatores é importantíssimo, uma vez que permitirá focar os esforços para a prevenção e intervenção, na categoria jovem (Mendes, 2009)

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Parte I: Enquadramento Teórico

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21 1. Comportamentos alimentares

O comportamento alimentar desempenha, em simultâneo, duas funções, especificamente a manutenção da quantidade de ingredientes necessários para a sobrevivência do sujeito (processos fisiológicos) e o prazer que a ingestão alimentar proporciona (Sousa et al., 2011). O padrão alimentar dos sujeitos reflete-se na sua saúde física e mental (Teixeira, 2008). O grau e os tipos de alteração do padrão alimentar podem variam muito. Sendo que a exclusão de algum alimento, de refeições no decorrer do dia e a realização frequente de dietas podem aparecer isoladamente ou como parte de um tipo de doença psiquiátrica (Teixeira, 2008).

Os comportamentos alimentares dos sujeitos são influenciados por inúmeros determinantes, nomeadamente as influências psicológicas, socioeconómicas, culturais e o ambiente onde vivem, que na maioria das vezes, é constituído pelo ambiente familiar (Rossi, Moreira, & Rauen, 2008). Sendo assim de apontar a responsabilidade também da família, neste âmbito (Fernandes & Moreira, 2007). As atitudes e comportamentos alimentares dos adolescentes são o reflexo deste conjunto de circunstâncias. Quando este conjunto é considerado de risco poderá contribuir de forma significativa para atitudes e comportamentos disfuncionais e culminar no desenvolvimento de distúrbios alimentares (Rossi, Moreira, & Rauen, 2008). Deste modo, quando o sistema do sujeito se encontra em desequilíbrio pode culminar no desenvolvimento de distúrbios como a anorexia, bulimia e obesidade (Sousa et al., 2011). Todavia, é importante frisar que os indivíduos têm conhecimentos significativos acerca das diretrizes de uma alimentação saudável, porém continuam a perseguir um padrão alimentar disfuncional e justificam tal ingestão pela ausência de tempo e/ou desnecessidade de seguimento de uma alimentação saudável (Fernandes & Moreira, 2007; Viana, Santos, & Guimarães, 2008).

Estudos realizados nos países não ocidentais divulgam que a prevalência das atitudes e comportamentos alimentares disfuncionais variam entre 4.6% e 20%; por sua vez, os resultados encontrados nos países ocidentais, oscilam entre 7.5% e 30% (Bento, Saraiva, Pereira, Azevedo,

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22 & Santos, 2011). Em Portugal, é de frisar o consumo diário elevado de alimentos ricos em gordura e açúcar, pelas faixas etárias adolescente e adulta (Paulino, 2007). Abraham (2010) profere que o comportamento alimentar disfuncional, emerge usualmente, entre os 14 anos e os 18 anos de idade. A adolescência e o início da idade adulta são as faixas etárias nas quais existe uma maior prevalência de comportamentos alimentares desadequados (Bento, Saraiva, Pereira, Azevedo, & Santos, 2011).

2. Enquadramento histórico dos transtornos alimentares

Os transtornos alimentares são considerados patologias da atualidade, porém, existem inúmeros relatos históricos de Perturbações Alimentares, o que deixa patente que os transtornos alimentares não são patologias recentes (Ferreira & Da Veiga, 2010; Oliveira & Hutz, 2010).

O termo anorexia deriva do grego an (privação, ausência) e orexis (apetite), ou seja, negação do apetite (Sicchieri, 2005). Entre os séculos V a XVIII a fraqueza autoimposta era compreendida como uma milagre celestial ou uma possessão demoníaca.

Entre os anos 600 a 700 d.c., a literatura frisa o caso de uma princesa portuguesa, de seu nome Santa Willgefortis, cuja patologia se começou a desenvolver quando o pai a prometeu em casamento, o que proporcionou recusa alimentar e frequentes rezas, visando assim a perda dos seus atributos femininos, de modo a que o pretendente rescindisse o pedido de casamento (Teixeira, 2008).

Já entre o século XIII e XVI, na Europa Medieval algumas mulheres jejuavam, objetivando com isso, aproximarem-se espiritualmente a Deus. Eram denominadas de santas anoréxicas (Teixeira, 2008). Estas mulheres demonstravam perfeccionismo significativo, comportamento excessivamente ríspido, descontentamento e cognições disfuncionais acerca do seu próprio corpo (Ferreira, 2011). Nos séculos XVII e XVIII alguns médicos começaram a interessar-se cientificamente por estas mulheres e denominaram tal fenómeno de anorexia mirabilis (Teixeira,

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23 2008). Santa Catarina de Siena (1347-1380) é o caso mais famoso da literatura (Teixeira, 2008). “Aos 6 anos abdica da carne e inicia uma restrição alimentar progressiva” (Teixeira, 2008, p. 16). Quando tinha 16 anos, recusou o casamento planeado pelos pais e resguardou-se num convento. A sua alimentação baseava-se a pão e vegetais, auto flagelava-se e provocava o vómito através da ingestão de plantas e o auxílio de galhos, quando era obrigada a alimentar-se (Ferreira, 2011). Tais comportamentos culminaram numa debilidade física e no consequente falecimento com 32 anos de idade (Teixeira, 2008) ficando conhecida como “a santa protetora da garganta” (Sicchieri, 2005, p. 8).

No ano de 1694, Richard Morton fez pela primeira vez, uma descrição de dois casos de “consumpção de origem nervosa”, uma jovem de 16 anos e um adolescente de 18 anos, cujos principais sintomas eram o decréscimo do apetite, amenorreia, repulsão à comida, obstipação, emagrecimento severo e hiperatividade (Ferreira & Da Veiga, 2010; Pascoal, 2003), sendo que em ambos os casos excluiu a hipótese de etiologia orgânica (Teixeira, 2008).

A primeira descrição de anorexia, propriamente dita, qualificava por um emagrecimento severo, ausência de apetite originário de um estado mental mórbido (Ferreira, 2011), amenorreia, energia excessiva (Pascoal, 2003) e considerada como predominante no sexo feminino (Ferreira, 2011) fora descrita quase que em simultâneo, por Ernest Charles Lasègue na França e William Gull na Inglaterra, no decorrer da segunda metade do século XIX (Sicchieri, 2005).

Em 1889, um neuropsiquiatra de nacionalidade francesa, de seu nome Charcot, constatou que o conceito de idée fixe d`obésité constituía a motivação primordial para o desenvolvimento da AN (Teixeira, 2008). No princípio do séc. XX, Pierre Janet definiu dois subtipos da AN, sendo eles: o subtipo obsessivo no qual os indivíduos tinham de facto fome, mas recusavam alimentar-se pelo medo mórbido de engordar ou alcance da maturação alimentar-sexual; e o subtipo histérico, em que existia de facto perca do apetite (Teixeira, 2008).

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24 No ano de 1914, o patologista de nacionalidade alemã Simmonds, constatou numa jovem falecida, a falta da glândula pituitária, e proferiu que esta ausência era uma consequência da AN, sendo que atribui uma etiologia orgânica ao desenvolvimento e manutenção da doença. Silverman acrescenta posteriormente que a insuficiência pituitária constituía um efeito e não a causa da patologia (Teixeira, 2008).

Nos anos quarenta do século passado, esta patologia sofreu influência psicanalítica e passou a ser vista como sendo proporcionada por questões orais reprimidas (Teixeira, 2008). Porém, nas duas décadas posteriores, a psicanálise tradicional mostrou-se insuficiente no tratamento da patologia em causa, dando-se assim lugar às abordagens que entendiam a AN num modelo multifatorial, especificamente biológico, psicológico e social (Teixeira, 2008).

A partir da década de 70, os trabalhos dos autores Hilde Bruch, Artur Crisp e Gerald Russel são cruciais na evolução desta área (Teixeira, 2008). Hilde Bruch frisa que a restrição alimentar encontrasse associada a uma “conquista da autonomia, competência, controlo e autorrespeito” (Teixeira, 2008, p. 18). Esta autora acrescentou ainda que na AN existem três áreas afetadas de forma significativa, sendo elas: 1) Distúrbio da imagem corporal, existindo uma tendência para percecionar o aumento do tamanho ou forma corporal; 2) Distúrbio interoceptivo, em que se verifica incapacidade de reconhecer e responder às sensações básicas como a “fome, saciedade, estados afetivos e sexuais” (Teixeira, 2008, p. 18); 3) e, sentimentos de ineficiência relacionados com o medo considerável de perda do controle (Teixeira, 2008). Por sua vez, Artur Crisp, acrescenta que na AN há uma “fobia ao peso”, que se associa com dificuldades psicológicas de enfrentar as mutações maturativas inerentes da adolescência e puberdade (Teixeira, 2008). Por último, Gerald Russel define algumas características desta patologia, atualmente ainda consideradas, de frisar: 1) condutas perseverantes que visam a perda de peso; 2) significativo receio de engordar; 3) alterações a nível endócrino, exprimidas pela perda de interesse sexual no sexo masculino e amenorreia no sexo feminino (Teixeira, 2008).

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25 Os primeiros critérios de diagnóstico desta patologia emergiram na terceira edição do

Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. As versões seguintes apresentam

alterações pouco significativas, “especialmente na objetivação da perda de peso”, a amenorreia e o abandono da ideia acerca da definição de uma idade cronológica a partir da qual se diagnosticava AN” (Teixeira, 2008, p. 18).

O termo Bulimia Nervosa nasce em 1743, quando James cita o termo True Boulimos para descrever episódios de enorme ingestão alimentar, aos quais se seguiam preocupação significativa e desmaios. O termo bulimia deriva do grego bous (boi) e limos (fome) (Pascoal, 2003; Teixeira, 2008) que utilizados cumulativamente indicam “fome de boi ou de alguém que é capaz de comer um boi” (Teixeira, 2008, p. 18), expressão bastante usual na população portuguesa (Teixeira, 2008).

As práticas purgativas são enunciadas desde a Antiguidade. No Antigo Egipto acreditava-se que espíritos maldosos podiam habitar o corpo, e o vómito era uma das formas de eliminar tais espíritos (Ferreira, 2011). No tempo de César (700 A.C.) foram criados locais próprios para o ato de vomitar, denominados Vomitoriums. Eram usados durante os grandes banquetes, para que depois de se alimentar, pudessem desobstruir o ingerido e continuar a usufruir da refeição (Ferreira, 2011; Pascoal, 2003). Entretanto, outro método compensatório utilizado eram os fármacos que começaram a ser bastante populares e prescritos, na Idade Média, pelos médicos da época (Ferreira, 2011).

Nos séculos XVII, XVIII e XIX, registam-se alguns casos com sintomatologia similar à atual BN, caracterizados pela típica voracidade alimentar prosseguida do vómito (Teixeira, 2008). Apesar da suspeita da existência de certas condutas do género bulímico em algumas “santas anoréticas”; a bulimia tal como hoje é conhecida, caracterizada por uma impulsão de elevada ingestão alimentar, seguida de uma sensação de perca do controle, significativa preocupação com a imagem corporal e o peso, receio patológico de engordar e episódios de purgação como vómitos

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26 autoinduzidos, foi apenas descrita em 1979, em Londres, por Gerals Russel (Ferreira, 2011; Pascoal, 2003; Teixeira, 2008). Inicialmente conceptualizada como uma variante da anorexia nervosa, esta perturbação autonomiza-se como quadro diagnóstico com características próprias na terceira edição do Diagnostic and Statisc Manual for Mental Disorders (Pascoal, 2003).

Atualmente, os dois sistemas classificatórios, o DSM - IV- TR e o CID – 10, quantificam a AN como a rejeição em manter o peso na faixa mínima adequada à idade e à altura; e a BN como frequentes episódios de veracidade alimentar, prosseguidos de condutas compensatórias disfuncionais. Em ambas, vigora uma preocupação significativa com o aspeto físico, o peso corporal (Moser, 2011) e um julgamento pessoal baseado no seu aspeto corporal, com o qual demostram insatisfação e descontentamento (Mascarenhas, Almeida, & Prisco, 2011).

Porém quando os pacientes não preenchem os critérios de diagnóstico da AN ou BN, ou então quando os casos não são significativamente graves para alcançar o limiar diagnóstico estamos perante uma outra psicopatologia alimentar que se denomina Perturbação do Comportamento Alimentar Sem Outra Especificação (PCASOE). Esta psicopatologia emergiu, mais recentemente que as anteriormente descritas, nomeadamente na quarta versão do Diagnostic and Statisc

Manual for Mental Disorders (Teixeira, 2008).

Por fim, a obesidade consiste numa doença crónica e multifatorial. “É um distúrbio metabólico, traduzido por um aumento persistente do balanço positivo entre o consumo e o gasto de energia” (Amaral & Pereira, s.d., p.1). Denota-se um aumento da ingestão calórica (input de energia) em simultâneo com um decréscimo de atividade física (output de energia), o que culmina num balanço energético positivo, com acumulação de gordura corporal (Amaral & Pereira, s. d.). A obesidade é quantitativamente medida pelo IMC, resultante da razão entre o peso em quilogramas e o quadrado da altura em metros (Kg/m2). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (1998) o IMC é qualificado em quatro categorias: até 18,5Kg/m² abaixo do peso, entre

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27 18,5 e 24,9Kg/m² como peso ideal ou normal, entre 25 e 29,9Kg/m² acima do peso ou sobrepeso e acima de 30Kg/m² como obesidade.

3. Definição dos Transtornos Alimentares

O corpo parece apenas um objeto físico cujo Homem é condenado a conviver. Contudo, mais do que isto, o corpo manifesta-se como um sistema de ação, uma forma de práxis, em que sua interação na vida quotidiana torna-se essencial ao sentido de autoidentidade. Neste sentido, a imagem corporal pode ser concebida como a experiência singular e subjetiva que o corpo é percebido pelo sujeito. Esta perceção constrói-se e reconstrói-se não só a partir do processo cognitivo, mas também através da reflexão dos desejos, emoções e interação com os pares, ou seja, é uma experiência de troca e, portanto, um fenómeno social (Garcia, Milagres, Mourão, Assis, & Palma, 2010, p. 25).

O termo “transtornos alimentares” refere-se a problemas de ordem psicológica, que se qualificam por problemas significativos na ingestão alimentar. O alicerce de funcionamento de tais patologias assenta em modificações psicológicas (Silva, 2009). Atualmente, “de acordo com o modelo sociocultural, o ideal de beleza feminino na cultura ocidental é ser-se alta e magra” (Matos & Arriaga, 2010, p. 135). Este padrão exerce tamanha influência que de acordo com Louro, Felipe e Goellner (2010), vivenciasse o culto do corpo.

Nas sociedades industrializadas vigora uma enorme contradição no que concerne à alimentação; por um lado, um estímulo ao consumo de alimentos com enorme valor calórico e, por outro lado a enfâse atribuída ao corpo magro e tonificado, sendo que ambos são promovidos por interesses comerciais das indústrias alimentar e de beleza (Jorge & Vitalle, 2008; Landeiro, 2012; Matos, 2006). O corpo torna-se, deste modo, um “objeto de consumo, símbolo de valor, beleza e realização” (Jorge & Vitalle, 2008, p. 58). Os sujeitos sentem-se, por tal facto, pressionados a integrar-se no padrão de beleza instituído pela cultura, consecutivamente citado

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28 pelos mídia (Jorge & Vitalle, 2008). Para muitas mulheres, particularmente as mais jovens, encaixar-se no padrão de beleza instituído no Ocidente significa possuir autocontrolo, competência, atratividade sexual (Silveira, Moreira, Barreto, Barros-Marcellini, & Marcellini, 2009) sucesso e perfeição (Oliveira, 2009), em detrimento de se encaixar no padrão da obesidade, que se encontra associada ao estigma e ao preconceito (Jorge & Vitalle, 2008; Silveira et al., 2009).

Este preconceito é incutido nas crianças desde a pré-escola (Oliveira, 2009; Oliveira & Hutz, 2010) e tende a agravar-se gradualmente, de tal modo que as mulheres que ostentam sobrepeso têm mais dificuldade em alcançar um emprego e auferir de salários mais elevados, quando compradas com as mulheres que demonstram o corpo idealizado pela sociedade (Oliveira & Hutz, 2010). Perante a valorização da magreza e estigmatização da obesidade, um vasto número de indivíduos procura, exaustiva e impacientemente, o corpo idealizado (Jorge & Vitalle, 2008) efetuando, para tal, comportamentos alimentares desajustados e práticas não saudáveis para o controlo do peso (Matos, 2006; Matos & Arriaga, 2010; Souza, Souza, Magna, & Magna, 2011). Os distúrbios alimentares são “síndromes comportamentais” (Abreu, 2008, p. 4) de carácter psiquiátrico (Carvalho, Amaral, & Ferreira, 2009; Leonidas, 2012), que adotam um decurso de carácter crónico e incapacitante, podendo originar elevados prejuízos de carácter biológico, psicológico, académico e social, suscitar uma retardação na maturação sexual, no desenvolvimento neuropsicomotor e aumentar a morbilidade e mortalidade (Carvalho, Amaral, & Ferreira, 2009; Leonidas, 2012; Souza, Souza, Magna, & Magna, 2011). O prognóstico das patologias alimentares é individualizado e, geralmente tende a envolver a família do sujeito (Abreu & Magalhães, 2009).

Numa sociedade que exacerba de tal forma a magreza, o excesso de peso pode além de problemas físicos, promover inúmeros problemas emocionais (Sousa et al., 2011). Os transtornos alimentares apresentam maior prejuízo emocional e social quando comparadas com o prejuízo

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29 físico (Moser, 2011) sendo que “quanto mais grave é a sintomatologia alimentar, pior a qualidade de vida” (Moser, 2011, p. 22).Frisam-se como perturbações emocionais as perturbações ansiosas e depressivas, pois as pessoas que ostentam peso superior podem nutrir sentimentos de exclusão dos padrões da sociedade. Estas patologias afetam também o funcionamento psicossocial. A excessiva valorização do aspeto corporal influência a capacidade dos indivíduos em conviver e desencadear relacionamentos íntimos. Para além disso, tais inquietações constantes com a alimentação influenciam os estados emocionais, a atividade cognitiva e os relacionamentos familiares (Sousa, et al., 2011).

Tais patologias constituem um enigma tanto para os clínicos, como para os investigadores (Matos, 2006) principalmente pelo enorme destaque que exercem no campo da saúde (Lima, Rosa, & Rosa, 2012). A importância destas psicopatologias tem aumentado, nas últimas décadas, devido ao predomínio global da mortalidade e morbilidade e pelo aumento de adolescentes de ambos os sexos, bem como indivíduos de outras faixas etárias (Jorge & Vitalle, 2008).

4. Epidemiologia

As perturbações alimentares são patologias psiquiátricas que afetam maioritariamente adolescentes e jovens adultos do sexo feminino (Jorge & Vitalle, 2008). Sendo superior no grupo etário dos 15 anos aos 18 anos comparativamente com os adolescentes dos 12 anos aos 14 anos, tendo início vulgarmente por volta dos 16 anos de idade (Oliveira, 2011). Um estudo recente aponta também a existência da frequência das patologias alimentares, na classe adulta, entre os 18 e os 30 anos de idade (Cordás, Queiroz, Figueira, & Didone, 2010). Vilela et al. (2004), objetivando conhecer a frequência de possíveis transtornos alimentares em 1807 estudantes, com idades compreendidas entre os 7 e 19 anos, verificaram, contrariamente ao que fora dito a priori que a maior frequência de patologias alimentares se situa entre os 11 e os 16 anos de idade.

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30 No que diz respeito à epidemiologia dos distúrbios alimentares, verifica-se que na anorexia nervosa, as taxas de prevalência variam entre 0,5% a 1% sendo que mais de 90% de casos acontece nas mulheres. Geralmente a anorexia compreende as faixas etárias dos 10 anos aos 25 anos, embora se encontrem, excecionalmente casos clínicos antes e após esse período de idades. Por sua vez, as taxas de predomínio da bulimia nervosa é entre o 1% e os 3%. Todavia, é de frisar a dificuldade em ser quantitativamente correto nos dados epidemiológicos, devido à recusa de participação dos indivíduos com distúrbios alimentares, em investigações epidemiológicas (Dixe, 2007).

Há autores que afirmam que a localização geográfica, nomeadamente a diferença entre o meio urbano ou meio rural, constitui um facto de risco para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos disfuncionais e consequentemente a possibilidade de originar distúrbios de comportamento alimentar (Pretti, Pinna, Nocco, Pilia, Mulliri, & Micheli, 2007). Todavia, ainda não é uma certeza consensual, uma vez que já foi negado por Teixeira (2008) o efeito da localização geográfica como potenciadora de atitudes e comportamentos alimentares disfuncionais.

As patologias alimentares merecem a devida atenção pelos sistemas de saúde, atendendo às consequências nefastas para a saúde dos indivíduos e para o seu funcionamento social (Gomes & Silva, 2010).

5. A adolescência

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a adolescência corresponde ao intervalo entre os 10 anos e os 19 anos, 11 meses e 29 dias (Abreu, 2008). A adolescência é vista como a fase ideal de vida, pois é qualificada, de acordo com a Cultura Ocidental, como a fase em que se desfruta sem restrições, usufrui da beleza da juventude, o ingresso na vida sexual e inexistência de encargos e responsabilidades inerentes da vida adulta (Lima, Rosa, & Rosa,

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31 2012). Esta fase de vida divide-se em três grandes momentos: inicial, intermédia e final. Sendo que na inicial, a particularidade relevante é a preocupação gradual com o corpo e a imagem corporal, na fase intermédia sobressai a influência que o grupo de pares exerce e, por último, na etapa final verifica-se o estabelecimento da imagem corporal própria (Amaral, Sena, Toledo, & Tavares, 2008).

Na adolescência ocorrem mutações a nível social, psicológico e biológico (Abreu, 2008). Do ponto de vista social observa-se o alcance de autonomia relativamente às figuras parentais e a receção de papéis e atitudes adultas; no que concerne ao nível psicológico, a constituição e a organização da identidade própria (Abreu, 2008). As modificações biológicas, conhecidas como puberdade, têm um tempo estipulado para ocorrerem, sendo contudo geralmente mais pequeno que a adolescência (Lourenço & Queiroz, 2010). A puberdade é caracterizada pelo acréscimo e depósito de gordura, especialmente no sexo feminino e modificações de carácter fisiológico e sexual, em função das modificações hormonais. No que concerne ao sexo masculino, o aumento de gordura cessa e/ou retrocede durante a adolescência, em detrimento do sexo feminino que chega alcançar um índice de gordura de 27%, por volta dos 16 anos de idade (Lima, Rosa, & Rosa, 2012).

No decorrer das duas últimas décadas, o corpo masculino preferido pelos indivíduos é o que possui e forma em “V”, que indica a ideia de audácia, coragem, competitividade e supremacia; particularidades expressivamente vangloriadas por este sexo. Tais aspetos demonstram os “estereótipos culturais do corpo masculino ideal enfatizados na comunicação social” (Teixeira, 2008, p. 45) que culminam na possibilidade de desenvolvimento dos distúrbios de carácter alimentar e, por vezes, de uma outra perturbação, que têm aumentado gradualmente no sexo masculino: a Dismorfia Muscular. De acordo com Teixeira (2008) há semelhanças entre esta última no sexo masculino e a Anorexia Nervosa, no sexo feminino, uma vez que se verifica a similaridade dos seguintes sintomas: perfeccionismo, obsessividade, anedonia e autoestima.

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32 A adolescência é uma faixa etária caracterizada pelo crescimento e desenvolvimento veloz (Dilly, 2009; Silva, Cruz, & Coelho, 2008), em que é requerido um maior consumo de calorias e de nutrientes (Dilly, 2009). As alterações físicas resultantes, originam frequentemente um pensamento baseado na conclusão que a sua imagem corporal é discrepante da imagem idealizada (Silva, Cruz, & Coelho, 2008). Emergem deste modo, as primeiras discrepâncias na eleição e ingestão dos alimentos; o sexo masculino ingere maior quantidade de calorias, quando comparado com o sexo feminino, provavelmente porque este último tende a evitar o aumento de peso ou pela existência de ideias acerca de imagens corporais distintas, o que estimula o sexo feminino para a magreza e o sexo masculino para a muscularidade (Oliveira, 2011). Desta forma, há evidência que o início da sintomatologia de carácter alimentar nutre as dificuldades de passagem da fase infantil para a fase adulta (Lima, Rosa, & Rosa, 2012).

O facto de a nossa cultura supervalorizar precocemente as crianças em alcançar e manter um corpo magro desencadeia uma maior vulnerabilidade nesta fase etária aos comportamentos relacionados com a magreza e o alcance de um corpo de acordo com o padrão de beleza do Ocidente (Ferreira & Da Veiga, 2010; Lima, Rosa, & Rosa, 2012), utilizando muitas vezes métodos inadequados para alcançar o corpo idealizado, como dietas disfuncionais e/ou exercício físico, sem qualquer tipo de orientação profissional (Lima, Rosa, & Rosa, 2012).

6. Fatores epidemiológicos de risco de desenvolvimento dos distúrbios alimentares De acordo com a literatura, os transtornos alimentares são originados por uma multiplicidade de fatores, que interagem entre si de modo complexo, quer para conceber, quer para perpetuar a patologia (Silveira, Moreira, Barreto, Barros-Marcellini, & Marcellini, 2009).

Estes fatores dividem-se em predisponentes, precipitantes e de manutenção (Ferreira, 2011). Os fatores predisponentes, ou fatores de risco (Jorge & Vitalle, 2008) são os que ampliam a possibilidade do sujeito desenvolver transtornos alimentares (Corrêa, 2010; Ferreira, 2011), os

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33 fatores precipitantes são os que assinalam o princípio da sintomatologia e os fatores de manutenção consistem nos fatores que determinam a perpetuação, ou não, a doença (Corrêa, 2010).

É de realçar que a preocupação com o corpo é a ligação central entre eles, por vezes desenrolada por um descontentamento com o seu peso e a sua forma física (Carvalho, Amaral, & Ferreira, 2009). Os fatores predisponentes subdividem-se em três grandes grupos: os individuais, os sociais e os ambientais (Abreu, 2008; Corrêa, 2010; Ferreira, 2011). No que concerne aos fatores individuais, destaca-se:

1) Características gerais, nomeadamente a pertença aos seguintes grupos: adolescência ou adultícia jovem, sexo feminino (Abreu, 2008) e habitação no Ocidente (Teixeira, 2008).

2) Traços da personalidade, especialmente perfeccionismo, ansiedade, diminuta autoestima, comportamentos obsessivos, elevada impulsividade, instabilidade afetiva, autoavaliação negativa e oscilações de humor (Abreu, 2008).

3) Histórico de comportamentos alimentares disfuncionais, como a prática frequente de dietas (Ferreira & Da Veiga, 2010; Oliveira, 2009), maioritariamente restritivas (Abreu, 2008), jejuns, seletividade na escolha de produtos alimentares e modismos dietéticos, particularmente vegetarismo e/ou consumo de produtos Light (Abreu, 2008), Índice de Massa Corporal (IMC) elevado (Oliveira, 2011), ingestão de chás ou fármacos para emagrecer e recursos compensatórios para a ingestão alimentar, especificamente a utilização de laxantes, diuréticos e o vómito autoinduzido (Ferreira & Da Veiga, 2010).

4) Situações emocionalmente stressoras, particularmente abuso físico ou sexual (Corrêa, 2010), fatalidades na infância (Abreu, 2008) e outros eventos geradores de stress (Olival, Cuntim, & Silvares, 2008).

5) Menarca precoce (Teixeira, 2008) e tendência para a obesidade (Matos, 2007). 6) E, por fim, a alteração de neurotransmissores (Matos, 2007).

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34 Já no que diz respeito aos fatores sociais, evidencia-se:

1) Histórico de transtornos psiquiátricos, particularmente histórico familiar de patologias alimentares, dependência química, alcoolismo e depressões (Abreu, 2008).

2) Dinâmica familiar, caracterizada por rigidez, ausência de afeto e cuidados básicos, falta ou mínima sintonia na relação entre pais e filhos, mãe do adolescente demonstrar insatisfação com o próprio corpo, reforço centrado no corpo magro e críticas dos familiares relativamente ao peso e hábitos alimentares dos filhos (Matos, 2007).

Por fim, no que alude aos fatores ambientais, destaca-se:

1) Aspetos socioculturais, nomeadamente a exacerbada valorização da magreza pelos mídia; difusão e consequente procura de cirurgias plásticas, tratamentos estéticos e busca de técnicas para o controlo do peso (Abreu, 2008; Oliveira, 2011).

2) Insatisfação corporal com o todo, forma ou partes do corpo, que pode proporcionar excessiva prática de exercício físico e outras estratégias de diminuição do peso e das medidas corporais (Abreu, 2008; Oliveira, 2011).

3) Grupos de risco, ou seja, estar incluído em classes profissionais consideradas de risco, como atletas, bailarinas, modelos, nutricionistas e professores de educação física (Abreu, 2008). Seguidamente, será realizada uma descrição de alguns dos fatores epidemiológicos de risco para o desenvolvimento dos distúrbios alimentares.

6.1. Fatores socioculturais

Dentro dos fatores socioculturais, destaca-se principalmente a pressão dos pares, pais, outros elementos do ambiente social e dos mídia como possíveis deformadores da perceção dos indivíduos relativamente ao seu peso (Olival, Cuntim, & Silvares, 2008).

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35 Um estudo elaborado com jovens do sexo feminino, situados entre os 9 e os 14 anos de idade, verificou que a família e os mídia são as fontes de pressão mais significativas (Field, Camargo, Taylor, Berkey, Roberts, & Colditz, 2009).

6.1.1. Mídia

Os mídia ocupam um papel bastante significativo, uma vez que grande parte das informações inadequadas acerca do peso e do corpo chegam ao universo feminino pelos meios de comunicação e rapidamente são seguidas, em massa (Oliveira, 2009). O avanço da tecnologia da beleza, através dos mídia, modela subjetividades e impulsiona a indústria da magreza (Oliveira & Hutz, 2010).

Nas últimas décadas, o conceito de magreza adquiriu uma particularidade surreal e destrutiva. As indústrias de moda, cinema, alimentos dietéticos, bem como as academias e spas reforçam, a todo momento, que beleza, sucesso, autoestima e felicidade estão baseados num contorno magro. Todos esses veículos são responsáveis por promover a visão de que a pessoa só será amada e respeitada se for esbelta. Desta forma, muitas vezes, a insatisfação com o corpo e a decisão de fazer dieta, especialmente na população feminina, podem ser atribuídas, em grande parte, à nossa cultura (Faria & Shinohara, 1998, p. 52 - 53).

A publicidade apresenta e valoriza, um corpo esbelto, o que amplia o desejo dos sujeitos em querer apresentar um corpo semelhante e transformar o seu próprio corpo (Oliveira & Hutz, 2010) ou seja, os sujeitos “vêm o corpo como instrumento que deve ser perfeito e passível de constante remodelagem” (Oliveira & Hutz, 2010, p. 577). Isto é comprovado pelo atual aumento do número de cirurgias plásticas (Oliveira & Hutz, 2010).

O que também cresce são os sites na internet que estimulam as adolescentes a desenvolver ou preservar distúrbios alimentares, instruindo práticas de purgação e técnicas milagrosas para alcançar um estado de emagrecimento severo (Oliveira, 2009; Oliveira & Hutz, 2010).

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36 Um estudo realizado nas ilhas Fiji visava avaliar o impacto que a exposição à televisão tinha nos comportamentos alimentares dos jovens. O estudo foi concretizado em dois momentos, em 1995 e em 1998, havendo assim, 3 anos de exibição da TV. Os resultados denotam que passados três anos, os indícios de distúrbio alimentar e a preocupação com o peso eram muito mais elevados (Becker, Burwell, Gilman, Herzog, & Hamburg, 2002). Neste sentido, Kim e Lennon (2007), denotaram que quanto maior a exibição de revistas de moda e de beleza, maior insatisfação com a aparência corporal e maior a probabilidade de desenvolvimento de distúrbios alimentares. Uma meta-analise, fundamentada em estudos experimentais, denotaram resultados semelhantes a este último, proferindo que o efeito mais acentuado se comprova em jovens com idades inferiores a 19 anos e com maior propensão à ativação de esquemas acerca da magreza (Groesz, Levine, e Murnen, 2001)

Um outro estudo elaborado na Tanzânia, com 214 mulheres, com idades compreendidas entre os 13 e os 30 anos demonstra que as que apresentam maior severidade dos sintomas eram as que tinham maior contacto com meios de comunicação (Eddy, Hennessey & Thompson-Brenner, 2007). Deste modo, os meios de comunicação corroboram para o mal-estar de muitos indivíduos, principalmente, o sexo feminino, no que concerne ao aspeto físico em particular e, a si próprias, em geral (Matos & Arriaga, 2010).

6.1.2. Ciclo social

A pressão divulgada pelos meios de comunicação torna-se mais concreta quando relacionada com outras fontes de pressão do quotidiano, como a família e os amigos (Oliveira, 2009). O hábito de fazer dietas extremamente restritivas não é apenas inculcado pelos mídia, mas também podem ser transmitidos pelos pais. Há elevada probabilidade do padrão alimentar dos pais, especialmente, o padrão alimentar materno, persuadir o comportamento alimentar dos filhos (Ferreira & Da Veiga, 2010).

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37 Uma investigação denotou que a preocupação significativa com o aspeto físico e/ou excesso de peso, pela figura materna, constitui um fator precipitante para o desenvolvimento dos transtornos alimentares nas filhas. Além disso, verificou-se ainda que as adolescentes com PCA têm frequentemente pais e irmãos extremamente críticos (Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica, 1993).

Um outro estudo, de carácter longitudinal, realizado na Austrália, sugere que o comportamento alimentar dos filhos é mais influenciado pela mãe, do que pelo pai, independentemente do sexo do filho. Este estudo revelou ainda que o sexo feminino é mais influenciado pelas mães, no que concerne à preocupação com o peso e à satisfação corporal, quando comparados com o sexo masculino. Apesar de ambos serem influenciados à realização de dietas e a perda de peso, por ambos os pais (Wertheim et al., 2002).

Um outro estudo evidência que as mães das jovens que apresentam problemas no comportamento alimentar exibem descontentamento corporal, fazem dietas e têm sintomas bulímicos, quando comparadas com as mães das jovens sem qualquer problema alimentar (Mendes, 2009).

A influência dos pares, na adolescência é também bastante saliente, sendo assim natural que este grupo exerça um papel preponderante no comportamento alimentar e na satisfação com a imagem corporal (Mendes, 2009). Verifica-se entre os pares a ridicularização de quem ostenta excesso de peso, o que culmina no entendimento de muitos que o ideal estético e agradável é ser magro. Por vezes, o sujeito nem apresenta um IMC acima da média, porém pode ser mais frágil e sensível e automaticamente ser afetado de forma negativa, por tais observações (Dilly, 2009). Observa-se, ainda, uma cópia das condutas alimentares dos pares, da inquietação com a imagem corporal e dos episódios compensatórios, no grupo onde se encontram inseridos (Teixeira, 2008).

Dohnt e Tiggemann (2006), objetivando conhecer a influência dos pares e dos mídia, numa amostra de 128 crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 8 anos de idade, do sexo

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38 feminino, verificaram que estas por volta dos 6 anos de idade, já ambicionam ser magras, que o seu grupo de pares influência de forma proeminente a imagem que estas pretendem obter, e que já possuem determinados conhecimentos acerca da prática de dietas.

7. Realização de dietas

As dietas, tão comuns nas mulheres contemporâneas, são também um fator de risco para as patologias alimentares; segundo a literatura há um risco maior de oito a dezoito vezes dos sujeitos que realizam dietas desenvolverem um distúrbio alimentar, quando comparados com os sujeitos que se alimentam normalmente (Oliveira, 2009). Segundo Simas e Guimarães (2002), a supremacia dos distúrbios de carácter alimentar, tende a aumentar na mesma dimensão que o predomínio dos comportamentos associados às dietas. De acordo com Carvalho, Amaral e Ferreira (2009) a dieta é um comportamento antecedente à instalação de um distúrbio alimentar.

8. Imagem corporal

A imagem corporal diz respeito à experiência individual do próprio corpo, ou seja, a imagem mental que a pessoa tem do corpo, bem como cognições, sentimentos, avaliações, sensações, perceções e comportamentos acerca do mesmo. O desenvolvimento da imagem corporal contém um carácter dinâmico, sendo gerado através das relações interpessoais, ao longo da vida, como resposta ao feedback mutável do ambiente. A imagem corporal é determinada por múltiplos fatores, particularmente apreciações ou observações dos outros e/ou modificações físicas do próprio corpo, no decorrer da puberdade, ou na existência de doenças ou incapacidades (Landeiro, 2012). Como o ideal de beleza instituído é quase uma impossibilidade biológica e, mesmo psicológica, a insatisfação corporal torna-se mais comum (Alves, Pinto, Alves, Mota, Leirós, 2009).

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39 Um estudo realizado por Pelican et al. (2005) constatou que a forma como os envolventes perceciona o corpo e os feedbacks atribuídos, condiciona a imagem que o próprio tem de si, a sua autoestima, a sua procura, ou não, de estilos de vida mais saudáveis e adequados, que por conseguinte resultará num peso e imagem corporal mais satisfatório no âmbito pessoal e social. Nos sujeitos com propensão para o desenvolvimento de perturbações alimentares e nos diagnosticados com tal patologia, a imagem corporal fica significativamente distorcida. Sendo que creem que o seu corpo, ou parte dele, é excessivamente maior do que é na realidade. Tal visão impulsiva a realização de comportamentos alimentares redutores, objetivando alcançar uma magreza acentuada (Ferreira & Da Veiga, 2010).

Um estudo de Vilela et al. (2004), que objetiva conhecer a frequência de possíveis transtornos alimentares em 1807 estudantes, com idades compreendidas entre os 7 e 19 anos, concluíram que 59% dos estudantes se encontravam insatisfeitos com a sua imagem corporal. Deste modo, torna-se evidente que a perceção e satisfação com a imagem corporal tem uma significativa influência nas atitudes e comportamentos dos sujeitos. Nunes, Olimpo, Barros e Camey (2001), numa investigação realizada apenas no sexo feminino, com idades compreendidas entre os 12 e os 29 anos de idade, concluíram que a perceção da imagem corporal (sentir-se gorda) condiciona mais os comportamentos e atitudes alimentares, que um IMC elevado. Ou seja, as mulheres que apresentavam uma imagem corporal distorcida desempenhavam mais comportamentos alimentares de risco.

9. Perfeccionismo

As primeiras enunciações relativas ao perfeccionismo são de etiologia psicodinâmica, dizendo respeito a uma componente neurótica da personalidade relacionada com um Superego severo. Os sujeitos perfeccionistas adotam um estilo de vida demarcado por um esforço intensivo, persistente e compulsivo para atingir metas dificilmente acessíveis, acompanhado por avaliações

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40 pessoais críticas, excessivas e severas, sendo que apenas se consideram serem dignos de mérito pelas suas ações ou sobreprodução. Regem-se por um estilo de pensamento dicotómico, que origina um elevado receio de errar e caso o erro efetivamente surja, valorizam-no excessivamente. São também indivíduos que ostentam expectativas elevadas acerca de um desempenho superior (Oliveira, 2011). Tais expectativas altíssimas desencadeiam uma “sensação crónica de fracasso, progressiva insegurança e vergonha” (Teixeira, 2008, p. 47). O perfeccionismo é considerado clínico, quando possui significância clínica, consistindo na procura e concretização de expectativas de realização extremamente exigentes, sem prestar importância às possíveis consequências resultantes (Vaz, Conceição, & Machado, 2009).

Existem dois tipos de perfeccionismo, o normal e o neurótico (Gomes & Silva; 2010; Oliveira, 2011). Apesar da justaposição parcial de sintomas, diferenciam-se na intensidade e duração, sendo superiores na condição de perfeccionismo neurótico (Oliveira, 2011). O perfeccionismo considerado normal nutre elevada satisfação pelos esforços exacerbados que efetivam, porém admitem falhas ou incorreções em certas circunstâncias. Em detrimento, dos perfeccionistas neuróticos que requerem de si próprios desempenhos inatingíveis, nutrindo sentimentos de insatisfação e incapacidade, perante tais esforços (Gomes & Silva; 2010; Oliveira, 2011). Deste modo, considera-se o perfeccionismo normal como saudável, funcional e adaptativo e o perfeccionismo neurótico como uma propensão para o neuroticismo, para a doença e desajustamento pessoal (Gomes & Silva, 2010).

O perfeccionismo é apontado como um fator de risco para o desenvolvimento dos distúrbios alimentares (Oliveira, 2011). Esta característica é uma das causas mais citadas pelas pacientes diagnosticadas com AN (Gomes & Silva, 2010; Nilsson, Abrahamsson, Torbionsson & Hägglöf, 2007), BN e nos indivíduos que têm comportamentos de risco, nomeadamente praticantes de dietas restritivas, os que nutrem preocupação significativa com o peso e/ou aspeto corporal e os que ambicionam atingir o patamar da magreza (Gomes & Silva, 2010).

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41 O perfeccionismo é a característica central das perturbações alimentares, uma vez que em processos de autoavaliação, geralmente os indivíduos atribuem importância considerável à forma corporal e ao peso. Os indivíduos com maiores níveis de perfeccionismo têm necessidade de apresentar uma imagem corporal perfeita perante os envolventes, fomentando deste modo, uma aparência física ideal ou perfeita e evitando qualquer imperfeição percebida na sua imagem. Têm necessidade de se apresentarem perfeitos aos outros e como tal preocupam-se excessivamente com o peso que ostentam, pois consideram ser uma forma de avaliação por parte dos outros (Lopes, 2012; Ornelas, 2012).

O perfeccionismo é assim, tal como se pode constatar, uma particularidade frequentemente correlacionada com as PA; sendo que estas duas configurações psicopatológicas interagem de tal modo que o funcionamento perfeccionista do paciente opõe-se à tentativa de operacionalização de controlo da alimentação, peso, forma corporal e outros aspetos de vida. Consequentemente, o receio de fracassar, tão patente no perfeccionismo, é vivido na forma de engordar, nas PA (Vaz, Conceição, & Machado, 2009).

Os perfeccionistas orientam, seletivamente, a atenção para o desempenho relativo à alimentação e envolvem-se em condutas como a enumeração de calorias, verificação corporal repetida, emergência de autocrítica severa, oriunda das consecutivas avaliações negativas acerca do seu desempenho, das tentativas de controlo do peso, forma corporal e alimentação. Novamente, esta autoavaliação é preservada, sendo alargada as tentativas de controlo. Este mecanismo acaba por sustentar a manutenção dos sintomas (Vaz, Conceição, & Machado, 2009). O perfeccionismo é deste modo, uma particularidade que pode predeterminar, precipitar ou preservar tais patologias (Oliveira, 2011), colabora ainda na manutenção do distúrbio, na redução da adesão ao tratamento e aumenta a dificuldade de recuperação (Teixeira, 2008).

Um estudo de Forbush et al., (2007), com amostra populacional de 2482 sujeitos evidenciou uma relação significativa entre o perfeccionismo e os comportamentos alimentares disfuncionais,

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42 especialmente a AN e a BN. Outros autores (Bento et al., 2010; Macedo et al., 2007) acrescentam que esta relação significativa se encontra patente em ambos os sexos.

Um estudo de Teixeira (2008) com 1465 adolescentes e jovens adultos, com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos que pretendia avaliar a relação entre perfeccionismo e as atitudes e comportamentos alimentares demonstrou que os adolescentes que apresentavam resultados mais elevados no Teste de Atitudes Alimentares eram também os que apresentavam pontuações mais altas, nos níveis mais elevados do perfeccionismo.

Como se pode observar, todos estes estudos sugerem relação entre o perfeccionismo e as atitudes alimentares disfuncionais, fortificando, deste modo, a ideia que o perfeccionismo constitui efetivamente um fator de risco para os distúrbios alimentares, na população em geral (Teixeira, 2008).

10. Bem-estar Psicológico

O estudo do bem-estar psicológico é extremamente importante, uma vez que a literatura atual desconhece a relação entre esta e os transtornos alimentares.

No ano de 1980 ocorre uma divisão conceptual que desvincula o bem-estar psicológico do bem-estar subjetivo (Fernandes, 2007). Tal desarticulação emerge das críticas que eram apontadas ao bem-estar subjetivo, especificamente o facto de ser significativamente restritivo, limitando-se à exploração da satisfação com a vida, os afetos positivos e a ausência dos afetos negativos (Remédios, 2010) e ainda o facto de o modelo considerar que o sofrimento psicológico e as desordens psicopatológicas não permitiam sobressair a etiologia e a consequência do funcionamento psicológico positivo (Fernandes, 2007). Desta forma, o bem-estar psicológico passa a ser um constructo investigado por inúmeros autores (Remédios, 2010). Inicialmente introduzido por Carol Ryff, no ano de 1989 e, posteriormente expandido por Ryff e Keyes, no ano de 1995 (Remédios, 2010).

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43 A perspetiva do bem-estar psicológico tem como base uma perspetiva teórica, nomeadamente nas conceções de Aristóteles acerca da natureza humana, potencial e virtude do ser humano; orientações teóricas de cariz psicodinâmico e humanista, especificamente nos fenómenos de individuação de Jung, autorrealização de Maslow, maturidade de Allport, funcionamento pleno de Rogers e desenvolvimento humano de Erickson (Remédios, 2010). Todavia, é de ressaltar que este modelo é criticado por apresentar medidas associadas, única e exclusivamente, ao funcionamento psicológico positivo e pela ausência da inclusão de domínios relacionados com o funcionamento positivo e aos índices de sintomatologia, no bem-estar (Remédios, 2010).

Ryff introduz, um modelo multidimensional, em que o BEP estaria incluído no âmbito da saúde mental como indicador do desenvolvimento psicológico normal (Guerreiro, 2011). Este modelo abarca conceções de crescimento pessoal, desenvolvimento humano e autorrealização, em que agrega seis conceções que define e descreve em seis componentes: a autoaceitação (nível de autoconhecimento do indivíduo, o seu funcionamento e a sua maturidade), a autonomia (locus pessoal de avaliação e na gestão das aprovações externas), o controlo sobre o meio (escolha e criação de ambientes ajustados à sua personalidade e à capacidade de gestão dos meios mais exigentes) as relações positivas (capacidade de estabelecimento e manutenção de relações interpessoais), propósito de vida (estabelecimento de objetivos pessoais, atribuindo significado à vida) e, por fim o desenvolvimento pessoal (necessidade particular de vivenciar diferentes e novas experiências e desafios) (Remédios, 2010).

O modelo do BEP é compreendido como o resultado de processos cognitivos, afetivos e emocionais, que permite a descrição das dimensões de vivência psicológica subjetiva, especificamente a relação consigo própria e com o meio circundante, no passado e no presente, a aptidão para definir e orientar a vida em função dos objetivos estabelecidos para a vida e a qualidade de relação com o meio social. O BEP constata-se de uma forma relativa, sendo entendida conforme as idiossincrasias do sujeito, em termos de intensidade (Guerreiro, 2011).

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44 Apesar de não existir literatura da relação direta entre bem-estar psicológico e psicopatologia alimentar, é referido na literatura que perante a existência de problemas particulares, como o

stress, a ansiedade e a vivência de momentos problemáticos, existe maior tendência de

desenvolvimento de transtornos alimentares comparativamente com as pessoas que se apresentam bem-estar psicológico (Sousa et al., 2011).

Por outro lado, é apontado que o apoio social é um fator protetor na faixa adolescente, contribuindo deste modo, para o seu funcionamento adaptativo (Remédios, 2010). Porém, considerando que o ciclo social do indivíduo não constituía uma proteção, mas sim uma crítica constante ao corpo e à forma de alimentação poderá desencadear a diminuição do BEP e, por último, culminar em patologias do foro alimentar?

Após a conclusão da revisão de literatura, serão enunciados os objetivos específicos deste estudo, que passo seguidamente a citar:

1- Comparar por sexo, localização geográfica, idade, IMC, escolaridade, comentários depreciativos acerca da imagem corporal, pressão social para emagrecer, existência de patologia alimentar na família, realização de dietas pelo próprio adolescente e pela família do adolescente, preocupação com o peso e satisfação com a imagem corporal ao nível dos comportamentos alimentares.

2- Comparar por sexo, idade, satisfação com a imagem corporal, comentários depreciativos acerca da imagem corporal, realização de dietas pelo próprio, IMC e perturbação alimentar na família ao nível do perfeccionismo.

3- Comparar por sexo, satisfação com a imagem corporal, preocupação com o peso, comentários depreciativos acerca da imagem corporal, idade, pressão para emagrecer, perturbação alimentar na família, realização de dietas pelo próprio e pela família e IMC ao nível do Bem-Estar Psicológico.

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45 4- Compara por nível de bem-estar a predisposição para o desenvolvimento de perturbação alimentar.

5- Comparar pelo nível de perfeccionismo a predisposição para o desenvolvimento de perturbação alimentar.

6- Correlacionar sexo e localização geográfica com a predisposição de desenvolvimento de transtornos alimentares.

7- Correlacionar a preocupação com o corpo com o género.

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Parte II: Estudo Empírico

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Tabela 1: Estatísticas descritivas dos fatores do TAA-26
Tabela 2: Comparação do sexo ao nível das atitudes e comportamentos alimentares   Feminino  M ± DP     Masculino M ± DP  F  P  η p 2 P.O
Tabela 3: Comparação da zona geográfica ao nível das atitudes e comportamentos alimentares  Rural  M ± DP     Urbano  M ± DP  F  P  η p 2 P.O
Tabela 4: Comparação dos grupos etários ao nível das atitudes e comportamentos alimentares  12-14  M ± DP  15-18  M ± DP  F  P  η p 2 P.O
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Referências

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