• Nenhum resultado encontrado

Como é a trajetória ocupacional dos estrangeiros no mercado de trabalho formal brasileiro?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Como é a trajetória ocupacional dos estrangeiros no mercado de trabalho formal brasileiro?"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Título: Como é a trajetória ocupacional dos estrangeiros no mercado de trabalho formal brasileiro?

1. Resumo

Essa pesquisa tem como objetivo realizar uma análise longitudinal de painel da mobilidade ocupacional de imigrantes internacionais inseridos no mercado de trabalho formal brasileiro, entre 1995 a 2015. O intuito é identificar se existem padrões na trajetória ocupacional dos estrangeiros empregados formalmente no Brasil. Pesquisadores explicam que a imigração é caracterizada por um declínio inicial do status sócio profissional do imigrante, na sua transição do último emprego no país de origem para o primeiro emprego no país de acolhimento (destino), seguido de um período de ascensão na carreira em função do tempo de permanência no novo país de residência. A este percurso foi dado o nome de ‘Curva-U’, fazendo alusão a queda inicial e subseqüente melhora do status do trabalhador estrangeiro no país de acolhimento. Para a análise, são utilizados os dados da Relação Anual de Informação Social (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego de 1995 até 2015, única base de dados brasileira pública que torna possível a análise longitudinal de painel sobre os indivíduos no mercado de trabalho formal. É construída uma subamostra da RAIS, por meio da seleção dos homens estrangeiros e com esses dados são realizadas tabelas de mobilidade.

(2)

2. Introdução

Essa pesquisa tem como objetivo realizar uma análise longitudinal de painel da mobilidade ocupacional de imigrantes internacionais1 inseridos no mercado de trabalho formal brasileiro, entre 1995 a 2015. O intuito é identificar se existem padrões na trajetória ocupacional dos estrangeiros empregados formalmente no Brasil. Esse tema de investigação se insere no contexto das pesquisas que analisam a inserção de imigrantes no mercado de trabalho, linha de estudo que vem apresentando um crescente interesse entre pesquisadores, sobretudo em razão das tendências de internacionalização do capital e da mobilidade da força de trabalho.

Dos estudos já realizados, vários autores são adeptos do modelo clássico elaborado pela Teoria da Assimilação (Chiswick, 1977; Chiswick e Wang, 2016; Basilio et al., 2017; Cohen‐Goldner e Eckstein, 2017). Chiswick e seus parceiros foram pioneiros nesta área, admitindo que o processo de imigração é caracterizado por um declínio inicial do status sócio profissional do imigrante, na sua transição do último emprego no país de origem para o primeiro emprego no país de acolhimento (destino), seguido de um período de ascensão na carreira em função do tempo de permanência no novo país de residência. A este percurso foi dado o nome de ‘Curva-U’, fazendo alusão a queda inicial e subseqüente melhora do status do trabalhador estrangeiro no país de acolhimento. Em média, quanto mais acentuado o declínio inicial, também será mais acentuada a ascensão subseqüente (Chiswick, Miler, 2014).

De acordo com os pesquisadores, os problemas enfrentados pelos imigrantes na sociedade de destino, tais como as dificuldades com o idioma, o reconhecimento dos títulos universitários e das experiências anteriores no mercado de trabalho são fatores que explicam a queda inicial no status ocupacional do imigrante. O aumento do tempo de residência no país hospedeiro, unido à consolidação das redes sociais, à aquisição de capitais social, além de possível regularização das autorizações de residência e trabalho, são fatores decisivos para que os imigrantes possam completar a curva em U e ter mobilidade social ascendente em relação à posição na sociedade de origem (Chiswick et al., 2005; Ruef, 2017).

1Nesse trabalho utilizamos o termo imigrantes internacionais nos referindo somente aos indivíduos

que nasceram em outro país e que se inseriram no território brasileiro, isto é, os estrangeiros. Não estão incluídos aqui os brasileiros que deixaram o Brasil e depois retornaram.

(3)

No Brasil, dentre as pesquisas que se têm notícia, esse tema foi pouco abordado, tanto em estudos sobre estratificação e mobilidade social, quanto sobre imigração internacional. Com intuito de avançar nessa temática no Brasil, essa pesquisa pretende investigar os padrões de mobilidade ocupacional dos imigrantes inseridos no mercado brasileiro.

3. Métodos

Para a análise, são utilizados os dados da Relação Anual de Informação Social (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego de 1995 até 2015, única base de dados brasileira pública que torna possível a análise longitudinal de painel sobre os indivíduos no mercado de trabalho formal, na medida em que dispõe de informações sobre o número de inscrição no Programa de Integração Social (PIS) de que identifica os indivíduos e as empresas a cada ano, respectivamente. Isto é, tratada isoladamente, a RAIS é também uma base de tipo cross-section, mas associando os diversos anos por meio do PIS do indivíduo, torna-se possível a construção de um censo dos trabalhadores inseridos no mercado de trabalho formal em formato longitudinal de painel.

É construída uma subamostra da RAIS, por meio da seleção dos homens estrangeiros. Com esses dados são realizadas tabelas de mobilidade e analisadas as seguintes medidas: a Taxa de Mobilidade Total que se refere à porcentagem de casos que se encontram fora da diagonal principal da tabela de mobilidade, representando os imigrantes que não permaneceram na mesma classe ocupacional no início e no final da sua trajetória no mercado de trabalho. Em seguida, é possível obter a Taxa de Mobilidade Ascendente, definida como um componente da mobilidade total. Por meio desse indicador é possível verificar o número de estrangeiros que obtiveram movimento vertical ascendente no esquema de classes. Em contraposição ao item anterior, a mobilidade descendente é aquela na qual o trabalhador imigrante obteve diminuição no status ocupacional comparado o início da carreira e o último ano analisado de sua trajetória no mercado.

4. Resultado

A tabela abaixo apresenta os níveis de mobilidade entre os estrangeiros, por meio da análise das taxas absolutas de mobilidade.

(4)

Tabela 1 – Resultados da Tabela de Mobilidade

Resultado Resultado

Taxa de Mobilidade Total 36%

Taxa de Imobilidade 64%

Taxa de Mobilidade Ascendente 22%

Taxa de Mobilidade Descendente 14%

Fonte: Dados trabalhados pelas autoras a partir da RAIS 1995 a 2015.

Em relação à mobilidade total, nota-se que 36% dos casos entre homens encontram fora da diagonal principal da tabela de mobilidade, representando os imigrantes que não permaneceram na mesma classe ocupacional no início e no final da sua trajetória no mercado de trabalho. Dentre esses trabalhadores estrangeiros, é maior a parcela de imigrantes que realizaram um movimento vertical ascendente do que descendente no esquema de classe, ou seja, melhoraram a posição ocupacional comparado o início da trajetória e o final, sendo 22% para homens. Em contrapartida, 14% dos estrangeiros tiverem uma trajetória de mobilidade descendente, aquela na qual o trabalhador obtém diminuição no status ocupacional comparado o início da carreira e o último ano analisado de sua trajetória no mercado.

Entretanto, predominam os casos de imobilidade no mercado de trabalho formal brasileiro, entendido como os estrangeiros que não realizaram movimento de mudança na posição ocupacional. Notam-se altas taxas (64%), sendo correspondente a mais da metade dos casos. Entretanto, esse resultado deve ser analisado com mais detalhe, pois como observado, há uma parcela de estrangeiros se inserem em ocupações de alto status ocupacional no mercado formal brasileiro, representando 27,9% em média da inserção em posições de “I Profissionais de alto nível”. Nota-se que os casos de imobilidade predominarem entre esses profissionais e, portanto, esse fenômeno não deve ser entendido como uma trajetória de fracasso do estrangeiros no mercado formal brasileiro. Dessa forma, as taxas de imobilidade podem ser influenciadas pelos casos de trabalhadores que já se encontram no topo da hierarquia ocupacional e permanecem nessa posição. 83% dos estrangeiros que entraram no mercado formal como “I Profissionais de alto nível” permaneceram em tal posição e para as mulheres são 77%.

5. Discussão

Os resultados dessa pesquisa mostram-se peculiares na medida em que estão sendo analisados apenas os estrangeiros do mercado formal de trabalho.

(5)

Nesse sentido, tal como Simón, Ramos e Sanromá (2014) argumentam os estudos sobre mobilidade ocupacional dos estrangeiros são, em geral, realizadas em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Suécia, sendo necessária a investigação em outros contextos com estrutura de emprego diferenciados. Simón, Ramos e Sanromá (2014) análisam da mobilidade ocupacional dos estrangeiros na Espanha, também, pela análise do ISEI e identifica uma imobilidade ou pequenos movimentos de mobilidade ascendente ao longo do tempo de permanência do estrangeiro no mercado espanhol. Esses resultados se aproximam dos encontrados por nós. Entretanto, os dados do mercado espanhol sugerem que um dos elementos que impedem a mobilidade ocupacional dos imigrantes durante a permanência na Espanha é o tamanho significativo de ocupações desqualificadas no mercado local, que restringe as oportunidades dos imigrantes principalmente para ocupações de baixo status. Essa situação parece ser distinta da encontrada por nós, visto que a princípio os altos níveis de imobilidade dos estrangeiros são explicados pela inserção desses trabalhadores no topo da hierarquia sócio ocupacional.

6. Referência bibliográfica

CAVALCANTI, L. et al. A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro.Cadernos do Observatório das Migrações Internacionais. Brasília 2014.

CHISWICK, B. Longitudinal Analysis of the Occupational Mobility of Immigrants Proceedings of the 30th Annual Winter Meetings, Industrial Relations Research Association, p. 20- 27 1977. CHISWICK, B. R.; LEE, Y. L.; MILLER, P. W. A longitudinal analysis of immigrant occupational mobility: A test of the immigrant assimilation hypothesis. International Migration Review, v. 39, n. 2, p. 332-353, 2005. ISSN 1747-7379.

CHISWICK, B. R.; MILLER, P. W. International migration and the economics of language. 2014. CHISWICK, B. R.; WANG, Z. Social Contacts, Dutch Language Proficiency and Immigrant Economic Performance in the Netherlands: A Longitudinal Study. IZA Discussion Paper, v. No. 9760, 2016. COHEN‐GOLDNER, S.; ECKSTEIN, Z. LABOR MOBILITY OF IMMIGRANTS: TRAINING, EXPERIENCE, LANGUAGE, AND OPPORTUNITIES. International Economic Review, v. 49, n. 3, p. 837-872, 2017. ISSN 1468-2354.

RUEF, M. Occupational Mobility among U.S. Blacks, 1880-1940s. GRIGORYEVA, A. Duke University: Working Paper, Department of Sociology 2017.

Referências

Documentos relacionados

Aplicação dos princípios humanitários, étnico- raciais, ambientais e científicos em áreas relacionadas a produção, controle de qualidade e distribuição de

As pontas de contato retas e retificadas em paralelo ajustam o micrômetro mais rápida e precisamente do que as pontas de contato esféricas encontradas em micrômetros disponíveis

- os termos contratuais do ativo financeiro dão origem, em datas específicas, aos fluxos de caixa que são apenas pagamentos de principal e de juros sobre o valor principal em

a) Aplicação das provas objetivas. b) Divulgação dos gabaritos oficiais do Concurso Público. c) Listas de resultados do Concurso Público. Os recursos interpostos que não se

Os roedores (Rattus norvergicus, Rattus rattus e Mus musculus) são os principais responsáveis pela contaminação do ambiente por leptospiras, pois são portadores

As ideias de descentralização da educação, gratuidade, obrigatoriedade, sistema nacional de educação, escola normal, formação de professores, financiamento da educação,

Para a emissão do certificado de Especialização, os candidatos deverão cursar obrigatoriamente todas as disciplinas do programa de oftalmologia oferecido pela

O presente regulamento é elaborado ao abrigo do disposto nos arti- gos 112.º e 241.º da Constituição da Republica Portuguesa, artigo 117.º e 118.º do Código do