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As vulnerabilidades e as migrações internacionais no Brasil

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AS VULNERABILIDADES E AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL1

Regina Célia da Silva2

INTRODUÇÃO

O termo vulnerabilidade é utilizado por grupos e significados diversos, uma revisão na literatura sobre a questão é importante para compreendermos os diversos contextos em que o termo vulnerabilidade é utilizado e compreender como esse conceito não é estático. Roberts; Nadim e Kalsnes (2009) aponta a vulnerabilidade sob duas perspectivas, uma sob a ótica das ciências naturais e a outra sob a perspectiva das ciências sociais. Afirmando que não existe um único conceito de vulnerabilidade e por este fato é considerado instável e polissêmico. Diversas organizações internacionais ao estudar a vulnerabilidade apontam como indicadores: a taxa de inflação, a densidade populacional, a idade e a expectativa de vida e o analfabetismo. Consideram a capacidade de enfrentamento e a resiliência como fatores significativos, no entanto difíceis de dimensionar. O reconhecimento da vulnerabilidade segundo Roberts; Nadim e Kalsnes (2009) retrata que nas ciências sociais o conceito de vulnerabilidade perpassa por uma análise qualitativa, dada a sua complexidade, por isso não é facilmente expressa em números. Diferentemente, do conceito avaliado nas ciências naturais em que os dados quantitativos se sobrepõem. Ao abordar a questão do risco o autor coloca que a ciência natural concebe o risco como exposição e algo plausível de mensurar, enquanto nas ciências sociais o destaque é para a vulnerabilidade e a capacidade de enfrentamento como parte de um sistema complexo, daí se justifica a utilização de métodos qualitativos. Segundo Roberts; Nadim e Kalsnes (2009) a terminologia de risco ainda é fluida e resulta de diversos processos de interpretações. O autor define risco como sendo a possibilidade de ameaça, inerente a um período determinado. A exposição define como a confluência entre ameaça e elementos vulneráveis e,

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Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

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Regina Célia da Silva possui graduação em Serviço Social pela UNESP – Franca (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), Mestre em Serviço Social pela PUC-SP (Pontifícia Universidade de Católica de São Paulo) e Doutoranda do IPPUR – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Professora do curso de graduação em Serviço Social da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) em São Paulo,

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finalmente, conceitua vulnerabilidade como a propensão ao impacto de uma ameaça.

Para a discussão da nacionalidade como motivação da exclusão dos migrantes internacionais se faz necessária a discussão sobre a nacionalidade em função do migrante internacional, muitas vezes, cruzar a fronteira e incitar o sistema jurídico daquele local. A Declaração de Direitos Humanos no artigo 15º expõe e reconhece o direito à nacionalidade assim como a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948) garante, no artigo 19, “o direito a nacionalidade que lhe corresponda e de mudá-la se encontrar algum país para outorgá-la” Lopes (2009, p. 126). No entanto, a teoria tradicional do Direito atribui como competência exclusiva dos Estados a concessão da Nacionalidade. O termo nacionalidade, segundo dicionário indica “a qualidade do nacional, país de nascimento, condição própria do cidadão de um país, por naturalidade ou por naturalização” (FERREIRA, 2004). Sendo assim, apesar de as declarações internacionais reconhecerem o Direito à Nacionalidade, será sempre o Estado Nacional que, dentre as suas várias competências, atribuirá a nacionalidade às pessoas que estejam sob sua competência. Em decorrência deste vínculo jurídico, tanto as pessoas quanto o Estado terão direitos e deveres. Mesmo assim, o debate sobre a fundamentação legal do poder absoluto do Estado para outorgar a nacionalidade está presente questionando se este poder não se concretiza somente internamente, ou seja, dentro dos Estados Nacionais, em muitos momentos a nacionalidade pode envolver mais de um país. Apesar de haver este debate, cada Estado tem soberania sob aqueles que estão em seu território.

O migrante internacional ao entrar no país é um “ser de fora” e isto está na gênese da discriminação entre os nacionais e os estrangeiros. Segundo Lopes (2009), essa diferenciação existe porque a terra está dividida em Estado Nação. Sob este raciocínio lógico, seria correto afirmar que o migrante internacional não pode ser tratado como igual, porque ele não estava presente quando celebrado o “contrato social”. Assim, é necessário rever os limites e as possibilidades do Estado Nacional para definir quem são os “seus” frente à cosmopolitização3

algo inevitável no século XXI. Um bom caminho seria facilitar os mecanismos de aquisição da

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Termo oriundo da Filosofia grega à época do Helenismo, é o processo que ocorre quando o homem deixa de ser um cidadão da polis e se torna um cidadão do mundo, passando a ser chamado "Cosmopolita".

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nacionalidade. A discussão a respeito de nacionalidade nos leva a debater a concepção de Estado.

A institucionalização do princípio de solidariedade ocorreu na Europa no final do século XIX com a instituição do sistema de Seguro Social na Alemanha por meio de Otto Von Bismark. Esse novo princípio ganhou efetividade mais simbólica após os trabalhos do economista Beveridge serem utilizados para criar o sistema de seguro na Inglaterra. O pensamento de Keynes colocou em questão a erradicação da pobreza e a melhoria da distribuição de renda como meio para impulsionar a economia.

A partir disso é possível conceber a posição dos migrantes internacionais. Embora, contribuam com a seguridade social, quando é possível, eles são vistos como usurpadores de um bem nacional. O migrante internacional, por ter vindo de fora não pode gozar dos benefícios do sistema.

Os países economicamente desenvolvidos receosos por terem de arcar sozinhos com os efeitos da migração internacional desordenada fazem com que as nações do sul global, mesmo os que possuem amplo amparo legal, como o caso do Brasil, adotem políticas migratórias pouco solidárias no plano jurídico e/ou no plano concreto da formulação das políticas públicas, por exemplo.

Atualmente, existem diferentes tipos de migrações as quais o instrumento internacional não oferece regulamentação que oriente os Estados Nacionais que são denominados: “Migração por sobrevivência” e/ou “Migrantes Ambientais”, na perspectiva do Direito Internacional, essas duas nomenclaturas não estão corretas. Alguns autores ainda as nomeiam de “fluxos mistos” para abranger a grande variedade de motivações que forçam os deslocamentos das pessoas.

Desde a criação dos parâmetros internacionais de proteção para refugiados, em 1951, dois cenários se destacaram as circunstâncias e as motivações que levam ao deslocamento das pessoas sofreram alterações significativas e os Estados não proporcionarem os direitos fundamentais a sua população. Os migrantes forçados que possuem um conjunto pleno de proteção são apenas os refugiados. O sistema jurídico traz a elucidação clara das pessoas nessa condição, assim como as regras que pertencem a essa situação.

Os deslocamentos por motivos de privações e ou por problemas climáticos estão fora do entendimento pactuado como perseguição. A proteção das pessoas que estão em risco de morte está fora da jurisprudência aceita de “temor de

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perseguição”, passando assim a estar subordinado não à legislação, orientada, mas sim à política. O autor Betts (2013) utiliza a denominação “Estado Frágil” para apontar a incapacidade que os Estados apresentam em assegurar os direitos fundamentais aos nacionais. Segundo Betts (2013) eles não fogem da perseguição do Estado, mas sim da incompetência do Estado e ainda esclarece que os deslocados não migram para aprimorar sua condição econômica e sim para se alimentar. Não há jurisprudência para essas pessoas e o que elas encontram são ações irregulares e inadequadas, tais como: detenção e deportação. Essa ausência de proteção também é uma questão de segurança, pois onde soluções inadequadas são oferecidas, os deslocamentos podem se intensificar, assim como os conflitos. A escassez de proteção pode ser desestabilizadora. A expressão “migrante por sobrevivência” decorre quando pessoas que estão fora de seu país de origem, devido a uma ameaça existencial, não possuem os direitos básicos garantidos tais como liberdade, segurança e subsistência. Para Betts (2013), existe uma série de rótulos para designar as pessoas que não se enquadram no estatuto de refúgio “pessoas em perigo”, “migração de aflição”, ou ainda “migrantes irregulares vulneráveis” Betts (2010).

Nas últimas décadas, um número significativo de pessoas foge de desastres climáticos e escassez de meios para manter a sobrevivência. Em síntese, o conceito de migração por sobrevivência se destaca pela impossibilidade da garantia dos direitos em seu país de origem, exigindo assim a procura dessas necessidades em outro país como uma saída extrema.

Para Jubilut e Apolinário (2010) esse tipo de migração, nominado até agora como migrantes por sobrevivência, é denominado por “negligência de direitos econômicos, sociais e culturais”. Esses autores analisam pelo viés do direito internacional e consideram esse tipo de migração complexa demais para ser classificada como refúgio. Os autores explicam que, nessa condição o refugiado não possui algo/alguém que caracteriza o agente perseguidor que coloque a sua vida sob ameaça por violação dos Direitos Humanos.

A Organização das Nações Unidas – ONU afirmou que quase cem milhões de pessoas serão atingidas por catástrofes diretamente associadas às condições climáticas, tais como ciclones, secas intensas, inundações, terremotos, rompimento de barragens e acidentes nucleares. A questão de delimitar os migrantes ambientais em refugiados surgiu na década de 80 com o pesquisador Essam El – Hinnawi, ao

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que ele concebe “que o maior impacto individual das alterações climáticas poderá ser sobre a migração humana” (TRAVESSIA, 2016, p. 57). Por sua vez, os migrantes ambientais, segundo a Organização Internacional para as Migrações – OIM, são definidos como “pessoas ou grupo de pessoas que, por motivo de mudança brusca ou progressiva no ambiente que afetam negativamente a sua vida ou condições de vida, são obrigadas a ter que deixar suas casas ou se deslocar para território estrangeiro” (TRAVESSIA, 2016, p. 55). No entanto o que mais agrava a situação dos migrantes ambientais é a ausência de proteção jurídica internacional

Para a realização deste trabalho fez-se uso de pesquisa bibliográfica, visita e observação institucional acrescidas de aplicação de formulários com questões semiestruturadas e estruturadas a oito sujeitos solicitantes de refúgio, sendo quatro de origem africana (Guiné Conacri) e os demais latinos, venezuelanos.

RESULTADOS

Serão apresentados os resultados da pesquisa na perspectiva das categorias: identificação; capacidade; exposição ao risco; acesso a serviços públicos; futuro e retorno. Os sujeitos identificados na entrevista, em sua grande maioria, são jovens e de sexo masculino. No Brasil, considera-se jovem a pessoa de 15 a 29 anos (BRASIL, 2013). Esses dados confirmam uma forte tendência de o Brasil receber migrantes internacionais de vários países da África. Outra característica da migração internacional para nosso país é de homens jovens que saem de seu país para melhorar as condições de vida. Trata-se, claramente, de uma questão de gênero, diretamente relacionada aos papéis transmitidos socialmente aos homens (liberdade) e às mulheres (reclusão).

Detecta-se com menor frequência em relação aos venezuelanos todos os sujeitos que chegaram ao Brasil há menos de um ano. Um dos venezuelanos reforça outra tendência ligada à conjuntura da América Latina, a grave crise que o país atravessa fez aumentar em 889% as solicitações de refúgio. A Venezuela é um país fronteiriço com o Brasil e a travessia da fronteira é realizada caminhando Comitê Nacional para Refugiados – CONARE. Dos sujeitos da pesquisa, 100% possuem acima de nove anos de estudo, portanto um bom nível escolar, sendo que dois desses sujeitos são graduados em Nível Superior. Essa é uma característica da migração forçada pela motivação da perseguição. Todos são solteiros, o que facilita os deslocamentos, inclusive alguns deles percorreram vários países antes de se

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instalarem no Brasil. Como ressaltam Delor e Hubert (2000) apud Bohle (1993) identificamos capacidades como uma condição de estar em um país, com hábitos, cultura e língua diferentes e todos apresentaram bastante otimismo ao relatar a situação atual e o futuro. Os sujeitos da pesquisa de origem africana (de mesmo país) se encontram no Brasil, instalados inicialmente nas Organizações não Governamentais – ONGs, que os acolheram e logo formaram um grupo social. Assim como os venezuelanos que também se agruparam e agregaram outros latinos do local nos grupos. Essa forma de associativismo é característica do migrante “criar laços de solidariedade e integração na sociedade de acolhida”. Os migrantes internacionais em grupo destroem o isolamento de que podem ser vítimas e que não é saudável para os seres humanos (LOPES, 2009).

Em relação à situação no país de origem, todos os sujeitos são oriundos de regiões urbanas, desses apenas dois sujeitos residiam sozinhos e os demais residiam com os familiares. Vale destacar um número grande de famílias monoparental feminina e com vários filhos de migrantes africanos. Considerou-se que os migrantes africanos apresentam maior propensão a exposição em função do contexto social Delor e Hubert (2000) apud Bohle (1993).

Quanto ao nível de profissionalização e renda no país de origem, apenas dois migrantes internacionais possuem nível escolar mais graduado, vínculo formal e condição salarial estabilizada. Esses dois sujeitos mais escolarizados e com experiência do exercício profissional na área estudada são do mesmo país de origem, Venezuela. Mais da metade dos sujeitos apresentaram trabalho informal e consequentemente renda muito variável.

As motivações para a escolha dos países e a migração para o Brasil apresenta algumas semelhanças entre os africanos: buscam uma vida melhor e distanciamento de situações de repressão em função do regime político do país; entre os venezuelanos as motivações são perseguição política; sujeitos com objetivo de melhorar a sua condição de vida, por meio do trabalho, aspiração a uma vida melhor através do aumento do nível escolar, e, por fim, trabalho e distanciamento de situações de discriminação devido à opção sexual. Percebeu-se que o trabalho é o grande desejo desses sujeitos.

Observa-se que o migrante internacional, com status de refugiado, ou não, aspira ao trabalho, como meio para garantir uma vida digna. Neste momento, observa-se que os vários conceitos de migrantes relacionam-se: migração para

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sobrevivência, indocumentados, refugiados clássicos pelo temor de perseguição, documentados e os migrantes econômicos, documentados, migrantes com visto humanitário, documentados, porque todos aspiram a uma vida melhor por meio do trabalho (BETTS, 2013).

Quanto à chegada ao Brasil, acolhimento e regularização, os sujeitos oriundos da África chegaram com passaporte e visto de turista, mas logo receberam orientação jurídica e solicitaram o pedido de refúgio. Estando a solicitação em processo, todos eles gozam do status de refugiado, sendo assim, a sua situação está regularizada no país. Chegaram ao país e fixaram acolhidas em uma ONG destinada a esse público.

Os venezuelanos chegaram ao país de modo complexo, utilizando o transporte rodoviário por longas travessias e se instalando em várias cidades para trabalho remunerado, antes de fixar residência na cidade de São Paulo. Percebe-se o alto grau de exposição ao risco dos venezuelanos conforme apontam Delor e Hubert (2000) apud Bohle (1993).

Quanto ao trabalho, estão em atividade laboral, dois sujeito da pesquisa: um africano, que tinha experiência na área de costura, e um venezuelano, que atua como ajudante de costura. O local de trabalho é administrado por outro migrante (peruano) e a atividade de trabalho apresenta longa jornada diária. Ambos queixam-se do valor baixo do salário.

A área da costura constitui a ponta precária da indústria têxtil é onde predominam os baixos salários, a inexistência de direitos trabalhistas, os prejuízos à saúde e às longas e exaustivas jornadas de trabalho. Identificou-se outra situação de

exposição ao risco ao trabalho preconizado, como explica Delor e Hubert (2000) apud Bohle (1993) frequentemente oferecido ao migrante estrangeiro. Villen (2015) apud Basso (2013, p. 35), explica que é preciso entender como o racismo já

estruturado, no, e pelo trabalho se reproduz por inúmeros processos que têm como alvo o migrante. O trabalhador flexível, que tem sua força de trabalho utilizada em escala mundial, na atual fase do regime de acumulação, está sujeito a todas as formas de exploração: piores horários, ritmos pesados, péssimas condições de trabalho e baixa remuneração. Os demais sujeitos, 80%, não atuam profissionalmente o que reflete a situação reversa, ou seja, a exposição ao risco pela ausência de trabalho.

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Todos os sujeitos tiveram acesso a serviços públicos básicos como o cartão que acessa o Sistema Único de Saúde – SUS, o CPF (exigido pela Policia Federal) e a grande maioria possui carteira de trabalho. Quase todos relatam facilidade em providenciar os documentos, somente um sujeito da pesquisa observou que essa facilidade se restringe às grandes capitais do país. Nas cidades médias e pequenas, os equipamentos públicos apresentam adversidades para providenciar a documentação e impedimentos em permitir que o migrante internacional acesse os serviços básicos.

O Brasil abriga menos de 1% da população estrangeira e apenas os locais destinados preferencialmente aos migrantes internacionais estão preparados para recebê-los. Espera-se que com a Lei de Migração, que está para ser sancionada, essa orientação nacional se propague e se altere.

Quanto ao futuro e retorno, a maioria dos migrantes internacionais verbalizaram o desejo de trabalhar e de adquirir bens materiais com expressões como “viver bem” ou “viver uma nova vida” ou, ainda, “conseguir dinheiro para ajudar a família no país de origem” (SIC – Conforme Informações Colhidas).

No que se refere ao arcabouço teórico sobre a vulnerabilidade, identificou-se as potencialidades, enquanto consequência resultante da crise. Mesmo sem trabalho ou trabalhando, todos aspiram à melhoria na qualidade de vida de seus familiares; todos os sujeitos da pesquisa relataram o desejo de não retornar ao país de origem; um deles colocou que “talvez a passeio”. Esse fato contraria a perspectiva de Sayad (1998) que coloca que a ideia ou projeto de retorno está presente na maioria migrantes, numa perspectiva a curto ou longo prazo. Em vários fluxos migratórios, de curta ou longa distância, de trabalhadores desqualificados ou altamente qualificados, homens ou mulheres, o desejo do retorno concreto está presente, seja ele um retorno para visita ou com a intenção de permanência.

CONCLUSÃO

O Brasil é um dos poucos países que possui uma das legislações mais avançadas do mundo sobre as migrações internacionais, especificamente, ao que se refere à proteção aos refugiados. No entanto, o resultado da pesquisa apresenta que, apesar das proteções legais, os solicitantes de refúgio que gozam dos mesmos direitos que os nacionais, estão em situação de vulnerabilidade provocadas pela ausência de programas e serviços governamentais que concretizem esses direitos.

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Essas vulnerabilidades são tanto institucionais de materialização das proteções descritas nos artigos legais, quanto às vulnerabilidades pessoais dos imigrantes. A condição de imigrante por si é uma situação de fragilidades, para os imigrantes negros essa questão se potencializa, pois enfrentam a questão do duplo preconceito (cor e origem) o que recai diretamente em suas condições, já que é extremamente difícil a inserção no mercado de trabalho, permanecendo no trabalho informal, incompatível com a escolaridade que apresentam.

REFERÊNCIAS

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