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Educação para o trânsito: um estudo sobre o comportamento humano / Traffic education: a study on human behavior

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44548-44566, jul. 2020. ISSN 2525-8761

Educação para o trânsito: um estudo sobre o comportamento humano

Traffic education: a study on human behavior

DOI:10.34117/bjdv6n7-176

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 09/07/2020

André Pedrosa Bezerra de Macedo

Mestre em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales Instituição: Facultad Interamericana de Ciencias Sociales

Endereço: Rua Tomaz de Sena Filho, 1214, Santa Delmira 1, Mossoró-RN E-mail: andre.pedrosabm@hotmail.com

Pedro Ramon Pinheiro de Souza

Doutor em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales Instituição: Facultad Interamericana de Ciencias Sociales

Endereço: Av. Francisco Mota, 4492, Rincão, Condomínio Ecoville, Quadra J, Casa 105, Mossoró-RN

E-mail: hunter4you@gmail.com

RESUMO

Este artigo é um recorte objetivo da minha dissertação de mestrado intitulada Educação no Trânsito: Um estudo sobre o comportamento humano e o trânsito em Mossoró - Rio Grande do Norte, cujo objetivo geral foi analisar a educação no trânsito, promovendo um estudo sobre o comportamento humano e o trânsito em Mossoró/RN. Esta pesquisa pode ser caracterizada como uma pesquisa científica aplicada, pautada no pragmatismo da abordagem qualiquantitativa. O referencial teórico foi elaborado com o objetivo de inserir o leitor dentro do universo da pesquisa. Os resultados demonstram que os grupos com maior incidência de infrações ou acidentes de trânsito merecem uma atenção especial para que os riscos sejam minimizados. Na cidade de Mossoró as pessoas entre 18 e 40 anos são responsáveis pela maioria dos acidentes com veículos. A conscientização é uma tarefa árdua, pois para haver uma transformação na sociedade, é importante a participação, conscientização e o desejo de cada indivíduo nela inserido, começando pelos mais jovens em seu aprendizado escolar. É preciso, porém, que os pais, os professores e as autoridades competentes percebam como atitudes corretas no trânsito podem salvar vidas.

Palavras-chave: Educação para o Trânsito, comportamento humano, acidente de trânsito. ABSTRACT

This article is an objective cut of my master's dissertation entitled Education in traffic: a study on human behavior and traffic in Mossoró - Rio Grande do Norte, whose general objective was to analyze education in traffic, promoting a study on human behavior and traffic in Mossoró / RN. This research can be characterized as an applied scientific research, without pragmatism in the qualitative and quantitative approach. The theoretical framework was developed with the aim of inserting the reader within the research universe. The results show that groups with a higher incidence of traffic violations or accidents cause special attention to the minimized risks. In the city of Mossoró, people between 18 and 40 years old are responsible for most vehicle accidents. Awareness is an arduous task, because in order for

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there to be a transformation in society, the participation, awareness and desire of each individual who is inserted is important, starting with the youngest in their school learning. It is necessary, however, that parents, teachers and competent authorities realize how correct attitudes in traffic can save lives.

Keywords: Traffic Education, human behavior, traffic accident. 1 INTRODUÇÃO

O tema de interesse fundamental desse meu estudo é a Educação para o Trânsito. Educar as pessoas para viverem em sociedade é um desafio constante, especialmente quando se busca prevenir atitudes que ponham em risco a incolumidade das pessoas.

O acidente de trânsito é um dos problemas mais graves provenientes do tráfego rodoviário e destaca-se no Brasil por ser uma das principais causas de morte, apresentando índices de fatalidade entre seis e sete vezes maiores que os índices de países desenvolvidos, como Alemanha, Inglaterra e Holanda (INTERNATIONAL ROAD TRAFFIC ACCIDENT DATABASE – IRTAD, 1997).

Desde meados do século passado, quando o Brasil ainda trilhava rumo à utilização mais intensa de novas tecnologias, o país vive um momento dramático de não ter fortalecido políticas mais claras de informação e formação de pessoas sobre o uso adequado dos automóveis e dos sistemas por onde estes circulam. O tempo passou e o ambiente público, que deveria ser de ampla convivência entre os seres humanos, tornou- se bastante competitivo, um verdadeiro espaço de disputa desigual entre indivíduos e máquinas.

Nos últimos anos, observa-se que os acidentes de trânsito são responsáveis por um número cada vez maior de mortes, assim como pelo aumento da morbidade entre as suas vítimas, em praticamente todos os países do mundo (MELLO, JORGE, GAWRYSZEWSKI; LATORRE, 1997).

Neste sentido, este trabalho teve por objetivo geral, analisar a educação para o

trânsito, promovendo um estudo sobre o comportamento humano e o trânsito em Mossoró/RN.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa científica aplicada, pautada no pragmatismo da abordagem qualiquantitativa. A coleta de dados foi feita através de documentos públicos obtidos na internet. A partir disto, uma análise textual destes dados foi o caminho para a construção de um diagnóstico sobre a realidade dos fatos aqui investigados.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44548-44566, jul. 2020. ISSN 2525-8761 3 COMPORTAMENTO HUMANO NO TRÂNSITO

Nos dias atuais, nunca o termo composto “comportamento humano” foi tão debatido. O ser humano transita por uma série de mudanças psicológicas essenciais, desde a sua infância até a fase adulta, que vão demonstrando e criando o seu perfil de identidade, tais como: o caráter, a personalidade, as ações e reações dentro de um ciclo consensual de interações morais, espirituais e sociais. Devido ao fato de que o ser humano ter habilidades de conduta social, ele se torna capaz de reunir-se com outras pessoas, a fim de criar laços e emoções, independente dos seus anseios, dúvidas e traumas instintivos. A oportunidade de uma inclusão o conduz a assumir posturas e tomar decisões que produzam mudanças. A manipulação e desdobramento por projeções acabam funcionando e lhe dando certa “garantia” de sucesso relacional.

Os estudiosos vêm há muitas décadas analisando o comportamento das pessoas e os resultados de suas pesquisas tem contribuído satisfatoriamente para utilização em diversas áreas de interesse. Segundo Oliveira (2010), o comportamento humano só pode ser compreendido a partir de uma análise interdisciplinar, a qual reúna atributos de outras ciências, como a Física, Biologia, Filosofia, entre outras. No entanto, as contribuições da Psicologia foram as que mais possibilitaram aos homens o enquadramento de serem biológicos, psicológicos, sociais e históricos, ou seja, uma soma de associações que o próprio homem determina ao longo de sua vida, tornando-o um ser consciente e capaz de criar e perpetuar cultura e relações sociais a partir da racionalidade, diferenciando-o dos demais animais.

Nesse contexto, significa dizer que o comportamento humano não deve ter uma compreensão limitada, visualizando-o simplesmente como “uma ação isolada do sujeito, mas como uma interação entre o que o sujeito pratica e o ambiente onde ele executa suas ações. (BOCK, et al., 2008, p. 46).

Por volta de 1913, John B. Watson descreve pela primeira vez o que hoje é conhecido como behaviorismo. Esse termo nasceu a partir de uma reação às questões mentais, introspectivas e à psicanálise, que lidavam com o interior e não observável conteúdo da mente. O behaviorismo, também conhecido por comportamentismo, estuda o comportamento a partir de experimentações de laboratório utilizando animais, tendo como fundamentação, um conjunto de teorias psicológicas que objetivam descrever o comportamento como algo adequado aos estudos de psicologia, pois é totalmente observável. De acordo com o Behaviorismo, para Bock et al (2008), as ações do indivíduo são suas respostas (estimulações) ao ambiente.

Outra definição importante é a de Lucca (2004), onde ela afirma que o comportamento humano pode ser definido como a conduta de cada indivíduo, isto é, definido como um agregado de condicionantes e aprendizados que podem afetar sistemicamente as interações sociais.

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Por via de regra, a capacidade de comunicação e interação é uma habilidade típica do ser humano, e isso produz relações sociais, onde é dentro desse ambiente social que o comportamento de cada indivíduo pode se desenvolver. Contudo, essa interação somente alcançará sucesso, se o indivíduo desenvolver comportamentos verbais ou não verbais, a serem aceitos no meio em que está vivendo.

Nesse sentido, a interação social só se torna eficiente desde que seja realizada através de comportamentos desejáveis que possibilitem o individuo ser capaz de lidar com o outro, reduzindo ao menor número possível de problemas (LUCCA, 2004).

O Brasil se destaca negativamente no ranking mundial de acidentes de trânsito, de acordo com os dados mostrados há em média 6,8 mortes para cada 10 mil veículos, dado alarmante que se agrava quando comparado aos EUA que detém a média de 1,93 e na França 2,35. No final do decurso de 1 ano, são contabilizadas mais de 30 mil mortes nas estradas do Brasil. O que gera um custo de R$ 10 bilhões por ano (IPEA, 2003).

O fator humano desponta quando discutimos os motivos predominantes na relação com o acidente de trânsito, pois sem o homem o trânsito não existiria. No entanto o ser humano deve ser analisado num contexto, sistema onde está inserido na sociedade. Cada indivíduo carrega um relato, interesses diferentes, personalidade, desejos e frustrações, o que causa muitas vezes conflitos no trânsito, pois esse homem absorve as normas gerais da sociedade e interpreta conforme seus julgamentos e age como um reflexo desse processo de conhecimento e julgamento. Nesse sistema, alguns condutores seguem as normas e, outros não. Alguns não possuem a consciência que as normas visam à proteção da vida e principalmente a do próprio condutor.

Em meio às frustrações e problemas o indivíduo tem uma tendência a descarregar sentimentos através de ações e desse modo surge o comportamento agressivo, carregado de fúria e insensatez, que coloca em perigo a própria vida e a de outras pessoas. Os veículos são ferramentas utilizadas para demonstrar superioridade e imponência em ultrapassagens forçadas, excesso de velocidade, discussões e agressões, sendo uma verdadeira ameaça especialmente para os pedestres, que são o lado mais vulnerável nessa relação.

De acordo com Vasconcellos (1998), as condições do momento determinam o comportamento de cada indivíduo no trânsito. O conjunto situacional define as reações de determinado momento. Há uma ligação entre fatos, conectados aos sentimentos de necessidades e interesses, num determinado arranjo comportamental. Entender os motivos desses comportamentos é muito importante para adoção de medidas combativas e preventivas no trânsito.

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O equilíbrio entre fatores psicológicos e fisiológicos de homens e mulheres traz condições ideais para um indivíduo aceitar e respeitar as normas de trânsito. Se um indivíduo assume a direção de um veículo em condições instáveis de humor é muito provável que terá algum tipo de desentendimento no trânsito, e se estiver alterado fisiologicamente, como por exemplo, alcoolizado, as chances de causar um desastre são aumentadas consideravelmente.

Um comportamento agressivo refere-se a toda e qualquer ação que tenha por objetivo ferir o outro físico ou verbalmente. Uma agressão, constantemente é o resultado de sentimentos de desprazer e frustrações, quando o indivíduo não consegue lidar de forma assertiva com tal condição (MENEZES, 2003).

As pessoas possuem diferentes bagagens culturais, valores e projetos de vida, não é possível dissociar isso do comportamento no trânsito. O comportamento é alterado conforme as necessidades que determina e as condições de sua vida. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu art. 1º, parágrafo 1º, considera trânsito como a utilização das vias, por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzindo ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga. Entretanto é notório que o trânsito possui uma complexidade maior a ser analisada.

O veículo não deixa de ser o meio que muitas vezes reflete o estado de espírito do condutor, nesse contexto observamos um universo de sentimentos que pode influenciar diretamente a forma de agir de um indivíduo no trânsito. A personalidade do motorista ou piloto é avaliada no conjunto de regras de trânsito e também do tipo de veículo. Vasconcelos (1998, p. 19), define o trânsito da seguinte maneira: “uma disputa pelo espaço físico, que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos, – é uma negociação permanente do espaço, coletiva e conflituosa”.

Esse mundo de negociação é feito por pessoas com características distintas e envolve outras variáveis, como a forma como as pessoas se veem no mundo, suas ideologias e conceitos sócio-políticos, numa disputa por tempo e espaço. Nesse embate por espaço nascem as divergências de ideias, culturas e princípios. Ocorre que em momentos de conflito a negociação dessas variáveis não ocorre com a sensatez esperada, há um jogo de predominância, em que ninguém quer abrir mão do seu ponto de vista e sair “fracassado” dessa disputa. Então os ânimos se exaltam e surgem os comportamentos agressivos, ansiosos e estressados, iniciando uma receita com ingredientes perigosos no trânsito.

O modo pacífico de conviver num espaço de necessidades e disputas deve ser com urbanidade e paciência. Segundo Montagu (1978), as características do comportamento humano não são determinadas exclusivamente pela hereditariedade ou pelo meio ambiente ao qual fazem

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parte. Na realidade, o desenvolvimento de praticamente qualquer tipo de comportamento humano é resultado da interação entre fatores genéticos e ambientais.

A criança traz para si comportamentos que são aprovados pela maioria, sejam bons ou ruins, a depender do ambiente que ela está incluída. O adulto que se desenvolverá, certamente reproduzirá esses estímulos e reflexos de sua infância. Sendo assim, a criança deve ser orientada sob preceitos corretos de normas de trânsito e convivência social, para determinar sua conduta acertada no futuro diante de possíveis conflitos no trânsito.

O comportamento agressivo deve ser combatido desde a infância, quando se apresenta de modo menos ofensivo na criança. Naquele momento o indivíduo deve ser ensinado sobre o certo e errado nos padrões de convivência mútua. O acesso a condições que nos sobrepõem aos animais irracionais, como por exemplo, o uso de armas e outros meios de atingir o próximo, realça a necessidade de combater esse tipo de comportamento. Nossa racionalidade e poder de autocontrole também direcionam a resolução de conflitos de modo correto, conhecendo mais de si e adotando uma postura defensiva em relação aos demais.

Esse fenômeno da agressão no trânsito é definido em países como EUA, Austrália e Europa, como road rage, que significa: raiva ao volante, sendo muito preocupante e no atual panorama é um viés a ser explorado em busca de soluções eficazes para conter o fator humano agressão no trânsito. Uma pesquisa feita pela National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), agência de segurança veicular do governo dos Estados Unidos, mostrou que a raiva ao volante ultrapassou o número de ocorrências com pessoas bêbadas ao volante, trazendo números assustadores em acidentes graves de trânsito.

Analisando o trânsito local os índices apontam que o Brasil necessita melhorar em todos os quesitos. O cidadão urbano tem mais pressa e cada pessoa acha que suas prioridades precedem as dos demais. Essa relação de disputa de interesses aliada a um trânsito que carece de melhores condições de tráfego gera um trânsito caótico nos grandes centros urbanos do país, despertando a atenção das autoridades públicas na busca por soluções executáveis no trânsito, minimizando os reflexos do comportamento humano e melhorando as condições das vias públicas nos pontos mais críticos.

4 COMPORTAMENTO DE RISCO NO TRÂNSITO

O conhecimento acerca do comportamento humano no trânsito é, além de uma carência social, também uma carência científica, já que o trânsito é fator decisivo na qualidade de vida e no ambiente de trabalho da maior parte da população. Sendo assim, buscar formas de se explicar esse fenômeno é uma importante ferramenta para auxiliar na redução dos acidentes de trânsito.

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O esforço incansável de tentar compreender o comportamento de risco no trânsito tem sido um assunto historicamente controverso. Várias são as teorias e metodologias da psicologia para tentar desvendar as suas possíveis causas, que podem estar relacionadas a um contexto de variáveis individuais, comportamentais, sócio cognitivas, ambientais e sociais.

A primeira teoria que se tem registro remete a meados do século XX, onde temos acesso à teoria conhecida como Accident Proneness (apud MCKENNA, 1983). Esta teoria fundamenta-se a partir de resultados obtidos de um trabalho realizado com funcionárias de uma fábrica, e resguarda-se na informação de que um pequeno número de indivíduos é quem são os verdadeiros agentes causadores de acidentes.

Assumindo esta teoria como verdadeira, Farmer e Chamber (apud ULLEBERG, 2002) propuseram que alguns condutores estavam mais propensos a acidentes devido a determinadas características de suas personalidades. Esta teoria sugere que apenas um número pequeno de condutores é quem são os responsáveis pela maioria dos acidentes, porém, essa afirmação tem sido considerada inadequada pela maioria dos estudiosos. Na década de 80, McKenna (1983) fez uma advertência quanto ao uso do termo “proneness” que seria inadequado, pois pode vir a ter muitas interpretações contraditórias, contudo, ela sugere a importância de ressaltar as diferenças de cada individuo na possibilidade de ocasionar acidentes de trânsito.

Diante desse contexto histórico, é possível considerar alguns pontos relacionados com o comportamento humano e que são decisivos para a severidade dos acidentes de trânsito. Dentre eles, citam-se: a falta de atenção, o desrespeito às leis de trânsito, o consumo de bebidas alcoólicas e o excesso de velocidade.

Assim sendo, observa-se que o estudo do comportamento humano é de grande importância para esse contexto, pois estudando como ele acontece é possível planejar estratégias para aumentar os níveis de tolerância no trânsito. Ressalta-se ainda, que o comportamento não é algo inflexível, ele é passível de mudanças, então, é possível transformá- lo e melhorá-lo.

5 EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO

Educar o cidadão para uma vida social livre e responsável nem sempre é tarefa fácil. Sabe-se que os organismos se adaptam ao meio ambiente através da interação biossocial. Na maioria das espécies vivas, o biológico prevalece sobre o social e, em alguns casos, parece mesmo haver hereditariedade de informações dentro da mesma espécie. Os pássaros constroem ninhos, posicionando-os de acordo com a luz, vento, calor, chuva e segurança, mesmo sem nunca terem tido um tempo de aprendizagem formal. As abelhas também nascem com uma linguagem complexa que as possibilita seguir rotas sem desvio em busca de néctar. Já com os seres

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humanos, a realidade parece ser outra, tendo em vista que eles parecem ter perdido parte de sua capacidade biológica de adaptação ao meio.

Os seres humanos tornaram-se um projeto social, aberto e livre, pronto para ser preenchido com a educação. A primeira de suas habilidades sociais é a linguagem. A comunicação através de um sistema de conceitos, expressos por um sistema de símbolos é própria dos seres humanos. Mas nem tudo se torna efetivo, apenas por ter o uso da linguagem, a formação dos valores e sua integração na conduta dos seres humanos exigem mais tempo de exposição cultural. Os valores ligam-se a conceitos que recebem um adicional afetivo-emotivo por parte do indivíduo. E é nesse momento em que entram os conhecimentos adquiridos para o trânsito.

A Legislação de Trânsito, assim como as normas que zelam pela vida, são mais do que apenas determinações conceituais, são valores que se somam e se adaptam a conduta no trânsito. A aquisição desses valores não se restringe apenas aos processos ineficazes de intercâmbio cultural, mas na verdade, na conduta e nos hábitos enraizados que são criados e sustentados mais pela razão prática (KANT 1980).

Sendo assim, os hábitos juntamente com valores se tornam muito mais difíceis de serem solidificados na conduta de um determinado indivíduo. O ato de dirigir com responsabilidade no trânsito requer a utilização de um conjunto de normas e valores, fixados nas atitudes sociais adequadas, que reprimam a pressa, a competitividade e a agressividade, garantindo que os perigos da estrada e da via pública sejam prevenidos. Contudo, a segurança no trânsito está além da simples conduta do motorista. As estradas quando estão devidamente sinalizadas conforme as normas tornam os riscos menores para todos. Contudo, como o Brasil é um país de grandes extensões territoriais, os condutores acabam circulando por vias que muitas vezes desconhecem, e que não possuem a sinalização adequada, conduzindo de forma perigosa, e provocando ou participando de acidentes de trânsito com óbitos. A cautela e o cuidado ao dirigir por onde se desconhece nem sempre estão presentes e isso gera impactos negativos para as estatísticas de trânsito.

Outro contexto importante de ser abordado é em se tratando da Educação de trânsito nas escolas. O Art. 76 da Lei 9.503 estabelece que a educação para o trânsito seja uma tarefa da Escola de Educação Básica. Sendo que, infelizmente, essa determinação da Lei não foi inserida no cotidiano dessas escolas. Uma pesquisa realizada em algumas cidades brasileiras relata que a Lei 9.503 determinou apenas o que o governo cumpre, o que as escolas tentam realizar, o que as auto-escolas realizam efetivamente e o que as funerárias executam, ou seja, geram bastantes multas e o mínimo de educação (BRASIL, 1997).

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44548-44566, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Ainda sobre a Educação no trânsito, ressalva-se que nem tudo está totalmente perdido, tendo em vista que, o papel da educação voltada para o comportamento seguro no trânsito, teve sua importância renovada no último Código de Trânsito Brasileiro (CTB) de 1997, que trata o trânsito seguro como um direito de todo cidadão e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito” (CTB, Capítulo VI, art. 74).

A escola nesse contexto torna-se responsável pela transmissão da cultura e do saber acumulados pela sociedade, e possui o objetivo de formar e capacitar os indivíduos para participarem como agentes na construção dessa sociedade. Somente a educação é quem poderá oferecer as ferramentas necessárias para a construção da cidadania, incorporando novos valores, atitudes, direitos e deveres.

Mesmo não sendo um tema eleito para compor os temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, o assunto “trânsito” pode ser abordado pela escola de maneira transversal e interdisciplinar, ou até mesmo ser inserido e abordado dentro dos temas transversais: Ética e Meio Ambiente.

Abordar o tema Trânsito de forma interdisciplinar nas escolas requer a integração das diversas áreas de conhecimento. Ou seja, cada professor em sua matéria não deve apenas abordar o tema de forma dissociada das outras áreas do conhecimento, ele deve discutir e executar um planejamento conjunto com todos os professores.

Em se tratando da educação básica nas escolas, a orientação teórico- metodológica para as capacitações docentes, deve priorizar a apresentação de novos conceitos, tendo como base o nível de maturidade em que a criança/jovem se encontra atualmente, e a vivência prática dos conhecimentos adquiridos pelo aluno e professor.

Ainda mais do que apenas um produto criado a partir do projeto de educação para o trânsito, o mais importante é o caminho percorrido pela criança para assimilar o conceito. Sendo assim, a capacitação dos professores para respeitar o nível de maturidade do público-alvo, reitera o importante papel do lúdico na educação, ou seja, a utilização de brincadeiras e da arte como recursos para pensar e agir sobre a realidade ajuda a dar um significado e sentido para os conteúdos acerca desse tema, pois engloba o cognitivo e o afetivo na construção dos conceitos de comportamento seguro e ético nos espaços públicos e em especial no trânsito.

Sendo assim, a ideia a ser refletida é a de que o papel do educador não seja

apenas repassar informações ao público-alvo de maneira sucinta sobre as regras de segurança no trânsito, mas a de realizar um projeto de educação eficiente e lúdico para o tema nas escolas.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44548-44566, jul. 2020. ISSN 2525-8761 a Educação para o Trânsito não deve limitar-se ao conhecimento, compreensão e respeito às normas de circulação, com vistas à formação do cidadão responsável; mas, como parte da educação ético-social, deve facilitar a compreensão e respeito ativo às normas e aos princípios que as regem.

Os autores destacam que atitudes que impliquem na convivência harmônica das pessoas e grupos são advindas de uma educação social completa e principalmente acerca das normas e princípios que norteiam o trânsito.

Acrescentam ainda que a Educação para o Trânsito deve ser um instrumento de socialização do indivíduo e de construção de valores sociais. “Para isso, o aluno tem de aprender a construir uma visão de mundo que lhe permita orientar-se teórica e praticamente no seu contexto e na sociedade” (HOFFMANN; LUZ FILHO, 2003, p.109).

No Brasil a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº

9.394) de 1996, esclarece em seu segundo artigo que “a educação [...] tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania [...] e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). A referida lei mostra no artigo 27, inciso I, que a educação básica deve observar em suas diretrizes “a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática” (BRASIL, 1996).

Também defendem que o sistema educacional deve abranger o estudo do comportamento humano no trânsito, levando em consideração sempre o contexto social dos envolvidos, pois o sistema educacional não pode ser omisso nas questões de trânsito e cidadania. O conhecimento escolar não pode se furtar a essas questões, pelo contrario, deve englobar esse tema nas grades escolares do ensino fundamental, e não se limitar a “[...] conhecimentos enciclopédicos e as questões de vida fiquem ao livre arbítrio de grupos ou interesses determinados” (HOFFMANN e LUZ FILHO, 2003, p. 9).

Sob esse enfoque, foi realizada uma pesquisa com crianças e adolescentes de uma escola pública da cidade do Rio de Janeiro que teve como resultados a constatação de que a consciência que as mesmas exibiram sobre segurança urbana e o trânsito era correspondente às experiências observadas e vivenciadas por elas no cotidiano. Isso marca a ideia de que as crianças absorvem o que presenciam e por isso é importante que elas tenham contato com esse tipo de educação, para que possam julgar situações do dia a dia conforme as orientações que obtiveram, de maneira a contribuir para o comportamento do futuro cidadão no trânsito (FARIA; BRAGA, 2000-2006).

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Desse modo, a ideia a ser refletida é a de que o papel do educador não seja apenas repassar informações ao público-alvo de maneira sucinta sobre as regras de segurança no trânsito, mas a de realizar um projeto de educação eficiente e lúdico para o tema nas escolas.

O próprio Código de Trânsito Brasileiro traz em seu Art. 76 a seguinte redação: “a educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1°, 2° e 3° graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação” (BRASIL, 2006).

O mesmo dispositivo mostra que o Ministério da Educação e do Desporto é responsável por promover, mediante proposta do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), “I - a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito; II – a adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores; III – a criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e análise de dados estatísticos relativos ao trânsito; IV – a elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade na área de trânsito”.

É sabido que a maior parte das vítimas dos acidentes de trânsito é composta por adolescentes e adultos jovens, esse fato reforça ainda mais a intenção de promover a educação nesse público sobre questões relacionadas ao trânsito. Observa-se que o grupo de maior envolvimento nos acidentes de trânsito fatais são os jovens, com predominância do sexo masculino (MARÍN-LEÓN; VIZZOTTO, 2003; TAPIA GRANADOS, 1998).

No Brasil, cerca de 70% das vítimas de acidentes de trânsito têm idade entre 10 e 39 anos (ANDRADE; JORGE, 2000; BASTOS; ANDRADE; SOARES, 2005). Os

Estados Unidos, registram por sua vez, as lesões como principal causa de perdas de anos de vida produtiva, notoriamente as que decorrem dos acidentes de trânsito (TAPIA GRANADOS, 1998).

Um levantamento de MALAQUIAS et al. (2002-2006) mostrou que no Brasil, especificamente no ano de 1999 a faixa etária de 20 a 39 anos apresentou a maior taxa de mortalidade proporcional em acidentes de trânsito (cerca de 45%), considerando qualquer tamanho populacional, com um risco de morte por colisão de 17,42/100 mil habitantes, para a referida faixa etária.

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Essas pesquisas e aferições mostram a fragilidade desse grupo não somente quando vítimas, mas também como responsáveis por causar acidentes de trânsito (MALAQUIAS et. al., 2002-2006). Dentre tantos fatores relevantes destacam-se a inexperiência, o limitado poder de decisão, o abuso da velocidade, a busca pela adrenalina, intransigência, o consumo de álcool e demais drogas, entre outros comportamentos que quando estão associados aumentam ainda mais os riscos de acidentes de natureza grave por parte de jovens e adultos dessa faixa etária.

A educação não pode ser confundida com a formação de habilidades. O homem responde pelo que faz. O agir humano não é um processo bioquímico ou mecânico; o homem não é um computador programado para se comportar de determinada maneira. É um ser livre e responsável pelas suas ações (COSTA et al., 2004).

6 OLHAR ATUAL SOBRE OS ACIDENTES DE TRÂNSITO NO BRASIL E EM MOSSORÓ-RN

Acidente de trânsito é considerado todo o evento que ocasione danos e envolva pelo menos dois dos três pilares a seguir: o veículo, o condutor e a via. Existem ainda dois tipos de acidentes: o evitável, onde o condutor deixa de realizar tudo o possível para evitá-lo, e o não evitável, onde o condutor assume todas as medidas para impedimento do acidente e mesmo assim, ele acontece.

Os acidentes de trânsito no Brasil geram milhares de vítimas anualmente. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, em 2013 foram registradas aproximadamente 44 mil mortes no trânsito. Já em 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma estimativa de aproximadamente 23,4 mortes a cada 100 mil habitantes, inserindo o Brasil no ranking do 4º país do mundo com maior número de mortes no trânsito, ficando atrás somente Belize (situado na América Central), República Dominicana e a recordista Venezuela, que possui uma taxa de 45,1 mortes por 100 mil habitantes.

A OMS faz ainda uma projeção de cerca de 1 milhão de mortes por ano em todo mundo até 2030. Essa projeção de acidentes, em longo prazo, refletirá de forma mais impetuosa nos países em desenvolvimento, como o Brasil e a OMS julga como culpados: a ineficaz regulamentação, o aumento da frota de veículos, as más qualidades das vias, a faixa etária dos condutores e os veículos frágeis fabricados atualmente no país.

Através de uma análise mais cuidadosa, é possível perceber que esses índices também estão ligados ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que tem como alicerce a educação, a longevidade e a renda per capita. Este fato corrobora-se ainda em outras pesquisas, revelando que os maiores acidentes ocorrem devido às imprudências do condutor do

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veículo, onde cerca de 75% são causados por falha humana (condutor), 12% devido às falhas no veículo, 6% devido às vias de péssima qualidade e 7% ocorrem por causas diversas, ou seja, direta ou indiretamente, o ser humano chega a ser responsável por cerca de 90% dos acidentes de trânsito.

Em Mossoró/RN, o trânsito é uma constante em crescimento. Segundo dados divulgados pelo DENATRAN (2015), o município possui uma frota de 145.308 veículos e dentre esses veículos tem-se: 53.171 automóveis; 71.376 motocicletas, motonetas e ciclomotores, e sendo o restante da frota, cerca de 68.561, constituído por caminhões, caminhonetes, reboques, ônibus etc. Com base nessas informações, é possível perceber a grande variedade de veículos em Mossoró-RN, especialmente em se tratando de veículos sob 2 rodas, na formação do tráfego viário (49,1%), enquanto que os carros de passeio correspondem a 36,6%.

Com base nos dados obtidos através de documentos e arquivos da Polícia Rodoviária Estadual do Rio Grande do Norte, foi possível analisar a trajetória, de 2011 a 2016, dos índices de acidentes de trânsito de acordo com algumas variáveis, tais como: natureza da ocorrência, tipo de veículo, bairros de Mossoró, gênero dos condutores, faixa etária por gênero, habilitação por gênero e tipos de danos provocados.

Em resumo, os acidentes de trânsito, quanto à natureza da ocorrência, são em sua maioria provocados a partir de colisões do tipo: Transversal, Posteriores e Laterais.

Os índices obtidos revelam, que os acidentes de trânsito em sua grande parte são ocasionados decorrentes de veículos como Carros e Motos. Alguns estudos já apontam o Brasil como o segundo país do mundo com as mais elevadas taxas de mortalidade advinda de carros e motos. E esses números permitem o questionamento acerca do real motivo para esses acontecimentos, e a explicação mais plausível é de que os acidentes ocorrem, em sua maioria, decorrentes de imprudências dos motoristas ou pedestres.

Acerca dos dados apresentados para Mossoró/RN, percebe-se um elevado índice de pessoas, com faixa etária entre 26 e 40 anos, envolvidas em acidentes de trânsito. Uma possível justificativa poderia ser o pensamento de autoconfiança excessiva, onde os condutores nesse intervalo de idade acreditam que são sábios o bastante e passam a conduzir sem os cuidados indispensáveis para a segurança do trânsito. Já o fato das mulheres comporem os maiores índices, podemos atribuir à falta de reflexo ou de práticas de direção defensiva.

Entretanto, pôde-se realizar também um comparativo dos dados de Mossoró/RN com outra pesquisa, realizada durante o II Encontro Anual de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Paraná Campus Paranavaí, no período de 25 a 27 de outubro de 2016, no que diz respeito ao crescente número de jovens entre 18 e 25 anos envolvidos com acidentes de trânsito. Nessa

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pesquisa, constatou-se que o público pertencente à faixa etária entre 15 e 29 anos constituiam os maiores índices de acidentes fatais de trânsito, e que possivelmente, os principais motivos para esses dados sejam as causas externas.

Para o Ministério da Saúde, os jovens envolvidos com acidentes de trânsito

constituem um decréscimo no número de anos de vida dessa parcela da população em decorrência das fatalidades (BRASIL, 2001). Já para LIBERATTI et al (2003), esses acidentes relacionam-se também com a falta de consciência e imprudência por parte dos jovens menores de idade que não possuem a devida documentação de habilitação (CNH), não seguem as leis de trânsito e nem utilizam os equipamentos de segurança (LIBERATTI et al., 2003).

A análise dos fatores que interferem na ocorrência dos acidentes de trânsito é um procedimento complexo porque são numerosos e não são independentes. Os resultados do presente estudo permitem a ampliação do olhar sobre o fenômeno acidente de trânsito a partir da análise de suas características de vias, indivíduos e veículos envolvidos.

O baixo custo e as facilidades de financiamento do veículo são responsáveis pelo expressivo aumento das motocicletas. A problemática da gravidade desse tipo de acidente evidenciada por este e outros estudos suscita necessidade de pensar na segurança desse usuário. Acidentes envolvendo apenas um veículo apresentam maior risco de óbito quando comparados com acidentes com dois veículos. Conflitos no trânsito com veículos mais suscetíveis, como motos e bicicletas, acabam levando o condutor à queda.

A velocidade é o mais importante produtor dessa energia. A gravidade e incidência dos acidentes elevam-se no período noturno e nos finais de semana, o que remete ao trânsito livre, sem congestionamentos e ao uso de bebidas alcoólicas, haja vista ser conhecido o efeito devastador da combinação de uso de bebidas alcoólicas e alta velocidade. Foi observada diferença na distribuição da ocorrência de acordo com mês, dia da semana e horário. Fatores sócio demográficos como sexo, idade e escolaridade estão relacionados com a gravidade e ocorrência de acidentes.

Isso sinaliza para a necessidade de investimentos em prevenção de acidentes e promoção do trânsito seguro por meio de estratégias educativas, estabelecendo a cultura de paz no trânsito. As ações de promoção e prevenção de acidentes no trânsito devem prioritariamente focar os acidentes com veículos de duas rodas que com frequência envolvem uma única pessoa, não habilitada, do sexo masculino, em horários noturnos, em finais de semana e nas vias onde se desenvolvem maiores velocidades.

O município de Mossoró é o segundo maior do Estado do Rio Grande do Norte em termos populacionais e merece uma atenção especial na questão do trânsito, pois verificou-se que há

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necessidade de maior conscientização da população em relação às normas de segurança previstas na legislação atual. Um trânsito seguro é alcançável através do diálogo franco com o condutor, afim de dar o esclarecimento necessário acerca da necessidade de segurança e não apenas implementar medidas punitivas.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se na presente pesquisa que a falta de atenção em relação às normas de trânsito prejudica gradativamente a redução dos acidentes. Para que possa haver uma melhora significativa no setor é necessária uma atenção maior em relação à obrigatoriedade da indicação e localização de radares, uma maior eficiência no trabalho de fiscalização de trânsito, melhorias na sinalização e implantação de programas de educação para o trânsito.

Podemos aferir que os pontos relevantes, em relação à conduta humana são respeito, cortesia, cooperação, solidariedade e responsabilidade para que haja de fato uma transformação do atual cenário no trânsito. E, desse modo, devem ser passados para posterioridade.

A conscientização é uma tarefa árdua, pois para haver uma transformação na

sociedade, é importante a participação, conscientização e o desejo de cada indivíduo nela inserido, começando pelos mais jovens em seu aprendizado escolar. É preciso que os pais, os professores e as autoridades competentes percebam como atitudes corretas no trânsito podem salvar vidas.

A informação é primordial nesse processo de educação no trânsito em busca dessa consciência, comprometidos com a valorização da vida. E nesse sentido, campanhas educativas de trânsito são excelentes meios para disseminar conhecimento e contextualizar situações do cotidiano aos condutores, que muitas vezes mais temem a legislação do que entendem que o verdadeiro sentido da existência das leis é visar à segurança da sociedade.

Para que tenhamos liberdade e para que haja igualdade de oportunidades, necessitamos adotar regras de convivência compatíveis com esses ideais. A maioria delas opera informalmente através de nossos usos e costumes. E uma parte é formalmente explicitada em instrumentos legais estabelecidos a partir da lei maior: a Constituição.

Essa tarefa evidentemente começa com a capacitação de educadores e multiplicadores reestruturando a visão psicossocial do jovem e a importância da prevenção nos seus diversos segmentos, a fim de favorecer maiores condições de crescimento e formas mais adaptativas de inserção social dos adolescentes e jovens adultos no nosso contexto.

O Estado, em seus diferentes níveis, abrangendo os poderes executivo, judiciário e legislativo, terá de mudar suas formas de atuação, demonstrando claramente sua disposição em

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cumprir os dispositivos constitucionais aprovados a fim de que não permaneçam no papel. Para que isso aconteça é imprescindível, porém, que a sociedade civil se organize em grupos de pressão e colabore nesse árduo trabalho de mudança de valores e comportamento.

O processo de globalização tem como consequências a rapidez no processo de transmissão de informações. A internet é uma excelente ferramenta para os órgãos competentes expandirem sua atuação e alcançarem um público maior, principalmente o jovem.

Os grupos com maior incidência de infrações ou acidentes de trânsito merecem uma atenção especial para que os riscos sejam minimizados. Na cidade de Mossoró pessoas entre 18 e 40 anos são responsáveis pela maioria dos acidentes com veículos. A prevenção do risco na condução se faz mediante, evidentemente, a participação da família na vida do indivíduo, com orientações e direcionamentos para uma conduta urbana e correta.

As taxas de mortalidade por acidentes de trânsito entre adolescentes e jovens adultos parece muito mais um sintoma social. Analisando desse modo, fica evidente a necessidade de medidas preventivas voltadas a esse público e suas famílias, principalmente, em termos de ações que resgatem a competência familiar e, no mesmo caminho, o bem-estar e saúde emocional do jovem. Uma vez que essas variáveis se encontram altamente associadas.

Nosso comportamento é primordialmente o resultado da educação informal que recebemos no seio da família, principalmente por meio dos exemplos daqueles que nos cercam. Ele está, portanto, enraizado em nossa cultura, que não só preserva e desenvolve valores, como os traduz em ensinamentos práticos para a vida. As variações regionais e entre estratos sociais não conseguem anular certas semelhanças de comportamento que nos caracterizam como brasileiros. Afinal, somos uma nação.

Espera-se, portanto, que todas essas ações fomentem o desenvolvimento de medidas de intervenção no sentido de reduzir os índices das ocorrências de violências e acidentes, sobretudo das suas consequências mais graves como os elevados índices de morbidade e mortalidade entre a população de Mossoró que utiliza os meios de transporte terrestres motorizados.

Mudar certos valores e comportamentos prevalecentes em nossa sociedade é um objetivo desejado por todos, mas pouco, ou nenhum esforço, tem sido feito por nós para mudarmos nosso comportamento como indivíduos. Não é de se estranhar que o desejo de mudança acabe se frustrando, já que os outros, para os outros, somos nós.

Podemos sugerir a implantação de oficinas psicoeducativas direcionadas à conscientização e sensibilização para a condução segura, a realização de mais campanhas de conscientização durante operações de trânsito; a realização nas escolas públicas, de maneira transversal, de práticas pedagógicas de educação para o trânsito; e o fiel cumprimento da legislação em vigor por

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parte dos agentes de trânsito, com vistas a coibir a prática de condutas nocivas à comunidade local analisada.

Não existe uma solução tão precisa e imediata para redução dos acidentes de trânsito. Conduzir um veículo é uma responsabilidade dupla, com a própria vida e a de outras pessoas, por isso a atenção dispensada no tráfego de veículos deve ser redobrada. A conservação das vias e a sinalização de trânsito é um dever do Estado, a incumbência do cidadão está na conduta pacífica e consciente diante da legislação aplicável e do bem-estar de toda a comunidade.

A realização da manutenção nos veículos, obediência à velocidade máxima permitida e dos sinais de trânsito, como também o não uso de qualquer substância que altere o estado do condutor são medidas básicas a serem adotadas por qualquer indivíduo que se proponha a trafegar nas vias públicas.

É fundamental que não só os motoristas, mas os pedestres também conheçam a legislação de trânsito. Enquanto a população considerar a sua vida e saúde, e a do próximo, sem a devida importância, de nada vai adiantar demonstrar-lhe o risco de perdê-las. Um movimento de cortesia e fraternidade trazem resultados mais duradouros que simples apelos a comportamentos específicos no trânsito.

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