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Currículo na educação infantil: reflexões necessárias / Curriculum in childhood education: necessary reflections

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761

Currículo na educação infantil: reflexões necessárias

Curriculum in childhood education: necessary reflections

DOI:10.34117/bjdv6n5-224

Recebimento dos originais:20/04/2020 Aceitação para publicação:12/05/2020

Laíse de Souza Nascimento

Especialista em Educação Infantil e Ludopedagogia – Universidade Cândido Mendes Licenciatura em Pedagogia – Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Pedro Paulo Souza Rios

Doutor em Educação – Universidade Federal de Sergipe – UFS

Mestre em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos – Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Licenciado em Filosofia e Pedagogia E-mail: peudesouza@yahoo.com.br

RESUMO

Este estudo tem por objetivo apresentar a compreensão dos/das professores/as da Educação Infantil acerca do currículo e, como ele é pensado e estruturado nessa modalidade de ensino. Refletimos ainda sobre a formação dos/as profissionais que atuam e/ou atuarão nessa área educacional. Para a realização deste estudo utilizou-se das abordagens qualitativas, com ênfase na entrevista estruturada. As colaboradoras foram professoras de uma escola de Educação Infantil, situada no município de Senhor do Bonfim – Bahia. Compreendeu-se que o currículo, a partir das percepções das professoras, é considerado a base para o trabalho pedagógico e que sua estrutura deve levar em consideração a infância e suas particularidades, e que seja um currículo sensível a criança, seu contexto, as brincadeiras e que seja voltado para a construção da formação humana.

Palavras chave: Educação Infantil; Currículo; Formação de Professores/as

ABSTRACT

This study aims to present the understanding of preschool teachers about the curriculum and

how it is thought and structured in this teaching modality. We also reflect on the training of professionals who work and / or will work in this educational area. For this study we used qualitative approaches, with emphasis on structured interview. The collaborators were teachers at a preschool, located in the municipality of Senhor do Bonfim - Bahia. It was

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 understood that the curriculum, from the teachers' perceptions, is considered the basis for the pedagogical work and that its structure must take into consideration childhood and its particularities, and that it is a curriculum sensitive to the child, its context, the games. and to be focused on the construction of human formation

Key words: Child education; Curriculum; Teacher Training

1 INTRODUÇÃO: O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A sociedade contemporânea tem se tornado cada vez mais exigente e complexa. Constituída sobra a égide do domínio e produção do conhecimento, questiona a escola no que se refere às suas atividades, ao tempo em que a desafia a estarem em permanente transformação, com o intuito de que seu papel social e cultural seja efetivado. Em contrapartida, tais exigências requerem professores/as cada vez mais preparados/as e capazes profissionalmente, para responderem a tais exigências.

Este contexto instiga os cursos de formação docente acerca da qualidade dos processos formativos desenvolvidos pelas instituições formadoras. Tais processos devem convergir com o perfil de professor/a que vem sendo exigido nos contextos atuais.

No exercício docente é preciso reconhecer a dinamicidade desse processo, bem como a diversidade de habilidades e saberes exigidos dos/as professores/es. Assim, o currículo se apresenta enquanto área do conhecimento que merece destaque, uma vez que aponta possibilidades acerca de um determinado modelo de formação profissional, caracterizado pelas articulações que se estabelecem, no seu interior, entre os saberes teóricos e os saberes práticos, necessários à atividade docente e ao desenvolvimento profissional (SILVA, 2015). Entendemos, portanto, que sua construção deve ser o objetivo de qualquer processo de formação.

No decorrer do processo formativo, a partir do curso de Licenciatura em Pedagogia, foi possível vislumbrar uma gama de temáticas e assuntos, a partir de distintas áreas do conhecimento, inerentes à formação e atuação docente, passíveis de serem investigadas, considerando suas complexidades e pertinências acadêmicas e sociais, além de aguçarem a curiosidade epistêmica, suscitando inquietações sobre as atribuições do/a profissional em pedagogia.

Contudo, foi ao me aproximar do currículo, enquanto área de conhecimento, percebi no desenvolvimento do curso que poderia encontrar, a partir desse componente curricular e de sua práxis, os porquês de algumas curiosidades e inquietações suscitadas durante esse decurso,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 principalmente no que se refere ao exercício da profissão do/a pedagogo/a na modalidade de ensino em Educação Infantil.

As origens do currículo como elemento vinculado ao processo educativo escolar nos direcionam às concepções do sistema capitalista, ao processo recente do comércio e da urbanização, e ao processo de formação do que serão os Estados Nacionais. O currículo tem caráter nacional nos seus primórdios atendendo a uma tendência internacional.

Já as origens do campo curricular se entrelaçam com as do processo de industrialização; e, finalmente, o processo mais acelerado da urbanização torna o processo de escolarização mais complexo, gerando os sistemas educacionais (SILVA, 2015).

O debruçar-se sobre essa área do conhecimento, por meio das discussões e definições conceituais, me permitiu constatar que durante minha trajetória de vida a escrita do currículo se deu em suas diferentes dimensões. Os saberes produzidos nas rodas de conversa em família, nas aprendizagens diárias sobre como agir ou, me comportar nos lugares, a partir dessas experiências de vida; as lições apreendidas durante os longos anos de educação básica, vividos na escola, inicialmente na zona rural e depois na sede do munícipio. Sem que tivesse consciência, tais experiências, tanto as do espaço informal, quanto as do espaço formal, iam se entrelaçando fio a fio tecendo minhas histórias vivenciais, traçando meu currículo de vida.

Concordo com Silva (2015, p.150), ao afirmar que “currículo é trajetória, viagem, percurso” e a minha trajetória educacional se constitui em uma das trajetórias mais significativas de nossas vidas. Quando adentramos na escola começamos uma viagem onde, inevitavelmente, nos encontraremos com pessoas conhecidas e desconhecidas, desvelaremos enigmas, percorremos lugares nunca antes visitados. Durante esse percurso é possível resinificar saberes anteriores, atribuindo aos mesmos novos sentidos. Essa trajetória não tem um fim em si, ela é feita de recomeços, fechamos um ciclo, iniciamos outro, sucessoriamente. E, ao nos aproximarmos, acadêmica e epistemologicamente, das concepções de currículo em seu percurso histórico, começamos a entender a importância do mesmo enquanto área do conhecimento relacionado aos processos educativos e, portanto, com um arcabouço teórico e, currículo enquanto fazer pedagógico, na práxis cotidiana em sala de aula e para além dela.

Concomitante aos estudos de currículo nos aproximamos das teorias de infância, a partir do componente curricular Pesquisa e Estágio em Educação Infantil, surgindo assim, a inquietação no sentido de compreender como é pensado o percurso curricular na Educação Infantil, considerando as especificidades inerentes à infância e a essa modalidade de ensino.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 Com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira – LDB 9394/96 a Educação Infantil passou a ser a primeira etapa da Educação Básica, sendo um direito da criança, ser atendida em creches e pré-escolas. E que seja oferecida para as crianças de 0 a 5 anos de idades uma educação de qualidade que respeite todas as nuances referentes a essa etapa da vida humana.

Porém, estudos tem sinalizado que tal direito ainda não é efetivamente assegurado. Ou seja, ainda não se configura enquanto preocupação efetiva com a qualificação, valorização no ensino, na estrutura, na formação de profissionais e no currículo escolar no âmbito da Educação Infantil. Mas esse campo vem sendo alvo de debates na contemporaneidade, profissionais e estudiosos/as como Silva (2015), Macedo e Azevedo (2013), preocupados/as com o ensino e o desenvolvimento das crianças.

Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo compreender a partir de que princípios o currículo é pensado e estruturado na Educação Infantil e como os/as professores/as dessa modalidade de ensino o compreendem. Além disso, pretendemos identificar de que maneira esse currículo é articulado, considerando os pressupostos de educar e cuidar para o desenvolvimento da criança, descritos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

A pertinência desse estudo consiste em suscitar a reflexão em torna da Educação Infantil a partir do currículo, considerando a importância de tal problematização para os/as distintos/as profissionais da educação, principalmente para o curso de pedagogia da UNEB, Campus VII, uma vez que se constitui enquanto instituição de maior expressividade na formação de professoras/es para trabalhar com a Educação Infantil nos Territórios de Identidade Piemonte Norte do Itapicuru e do Sisal.

2 A INFÂNCIA E OS PROCESSOS EDUCATIVOS: NOVOS OLHARES

A concepção de infância e Educação Infantil é um campo de estudo relativamente novo, pois historicamente a infância não existia enquanto categoria social reconhecida, “[...] da antiguidade à idade média -, não existia este objeto discursivo que hoje chamamos “infância”, nem essa figura social e cultural chamada “criança” (CORAZZA, 2002, p. 81). E na ausência de reconhecer a infância e o ser criança, não tinha necessidade de se pensar em Educação Infantil.

De acordo com Corazza (2002, p.81), não é que as crianças não existissem, mas a elas não era atribuída significações sociais. Então a criança era vista como não sujeito de direitos,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 sem significância, conforme afirma Ariés (1986, p. 51), ao relacionar o ser criança com o adulto, “apenas seu tamanho os distingue dos adultos”.

A criança era somente um adulto que iria crescer e que nada se tinha na sua essência do ser criança, tinha uma cabeça vazia, sendo necessário o adulto está ditando todas as regras e coisas que ela deveria aprender. Nesse contexto, a criança não tinha a capacidade de pensar e compreender nada sozinha.

Com essa concepção de criança, ela consequentemente não tinha direito a brincar, estudar e muito menos ser ouvida pelo o adulto, mas tinha que obedecer e trabalhar desde de muito cedo, principalmente as crianças de famílias pobres.

Aos poucos e com lutas lideradas por mulheres/mães, por meio dos movimentos sociais, essas concepções de infância e Educação Infantil começa a surgir e ganhar espaço, porém quando começou a falar sobre elas foi de forma de assistencialismo. Mas isso mudou e hoje temos outra realidade, pois a criança é considerada um ser pensante, com direitos e deveres, como a Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI, definem a criança como,

Sujeito histórico e de direito que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p.12).

E um dos direitos da criança é o acesso à educação. Contudo, é importante ressaltar que a garantia desse direito não aconteceu de um dia para o outro, e sim com passos lentos e com concepções diferente, começa com as creches e/ou pré-escolas sendo um espaço das crianças ter uma assistência social. Santana pontua que (2011, p.2),

Tradicionalmente, a Educação Infantil tem sido tratada com descaso pelo o poder público e vista pela a sociedade como uma fase na qual a criança vai para a escola para usufruir de uma assistência social (em creches) e para brincar ou para ser preparada para o ingresso no Ensino Fundamental (na pré-escolas).

Mas as concepções mudam, e nesse sentido, a criança passa a ter direito a atendimento em creches e pré-escolas assegurados a partir da Constituição Brasileira de 1988 e a Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira – LDB 9394/96, que integrou a Educação Infantil

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 como primeira etapa da educação básica, (BRASIL, 2010, p.7). É a partir desses dois marcos históricos, que a Educação Infantil começou a ser reconhecida enquanto direito, ampliando o campo de debate e os desafios, tanto do ponto de vista prático quanto teórico.

A criança de 0 a 5 anos de idade tem o direito ao acesso educacional de qualidade, sendo respeitado suas vivências, seu contexto e sua origem, podendo assim ter uma aprendizagem partindo das “interações e a brincadeiras” como define as DCNEI (2009), então pode ser desafiador, mas também prazerosos o pensar a educação da criança nesse sentido e que seja garantindo a formação desse sujeito.

A Educação Infantil é o início do processo educacional, é o primeiro contato da criança com a escola, onde ela vai adquirindo habilidades, dando continuidade do que ela já traz de casa. Por isso, a escola tem papel fundamental no seu desenvolvimento, como afirma Medel (2014, p.10) “a Educação Infantil é uma fase fundamental para o desenvolvimento global da criança nos aspectos sócio afetivo, cognitivo, psicomotor e psicológico”. A escola e a/o professora/o deve dá condições para que a crianças aprendam e possam construir significados de si e do mundo que a cerca.

A Educação Infantil é uma área educacional que precisa de um olhar especial, muitas concepções e práticas precisam mudar e acontecer, uma delas, que traz uma importância na sua essência, é a formação específicas de professoras/es, como afirma Macedo e Azevedo (2013, p.177), “muitos em função da mudança do âmbito de atuação das creches, a formação do educador infantil ainda carece de dispositivos institucionais voltados para a singularidades do trabalho pedagógico com crianças pequenas”. Nesse sentido, a educação para a crianças de 0 a 5 anos não pode acontece de qualquer forma e/ou por qualquer pessoa, a necessidade de formação específica, inicial e continuada para as/os profissionais da Educação Infantil.

E outra área, necessária para contribuir com a construção da educação para as crianças pequenas é pensar a partir do currículo, que sujeito se quer formar. E falando de formação de sujeito, educação de crianças pequenas e educação de qualidade, as/os professoras/es deve pensar em um currículo para a formação de sujeitos críticos, e nesse sentido, para alcançar a formação crítica, deve-se reconhecer a criança como sujeito de direito.

Assim, respeitando o ser criança e levando em conta as relações que ela tem com o mundo e suas vivências, vai fortalecer o ser criança e estimular o pensamento crítico dela. Quando a criança sente valorizada no meio social, isso estimula a ela o buscar, o conhecer e o descobrir, porque a descoberta a criança já tem na sua essência, e se isso não for podado, terá um cidadão crítico e com um caminho brilhante pela frente.

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3 TRAJETÓRIAS DE CURRÍCULOS: PROCESSOS HISTÓRICOS

O currículo escolar nasce para suprir uma necessidade da sociedade no início do século XX, pois alguns países estavam passando pelo processo de industrialização e imigração. De acordo com Silva (2015, p. 22), “foram talvez as condições associadas com a institucionalização da educação de massa que permitiram que o campo do currículo surgisse, nos Estados Unidos, como um campo profissional especializado”. Então era necessidade e interesse de alguém e/ou grupo, de uma educação massificada, e talvez tenho sido essa educação que se dá o surgimento do campo específico de currículo.

Percebe-se que não é explícito sobre o surgimento do currículo como campo específico de estudo, Silva (2015, p. 12), em suas falas apresenta isso, existe dúvidas em torno de quando e porque surgiu,

Provavelmente o currículo aparece pela primeira vez com um objeto específico de estudo e pesquisa nos Estados Unidos dos anos vinte. Em conexão com o processo de industrialização e os movimentos imigratórios, que intensificavam a massificação da escolarização, houve um impulso, por parte de pessoas ligadas sobretudo à administração de educação, para racionalizar o processo de construção, desenvolvimento e testagem de currículos.

Então, possivelmente o currículo nasce com essa concepção de educação de massa, que está diretamente ligada com a administração, as ideias do taylorismo que visava a produtividade, nesse sentido o currículo estava baseado na formação de massa, mecânica e produtiva.

E currículo como uma questão de interesse, suas concepções foi ampliando e modificando conforme o que queria se alcançar, assim surgem as teorias de currículos. Assim, o currículo é fundamentado pelas as teorias tradicionais, críticas e pós-críticas.

As teorias de currículo nascem na concepção tradicional, que visava a aceitação e a adaptação, uma padronização principalmente para a sociedade industrial, que tinha como objetivo uma educação técnica e mecânica para os corpos e com isso um aumento em uma determinada produção.

Os modelos tradicionais de currículo restringiam-se à atividade técnica de como fazer o currículo. [...]. As teorias tradicionais, eram teorias de aceitação, ajuste e adaptação. As teorias críticas são teorias de desconfianças, questionamento e

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transformação radical. Para as teorias críticas o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo faz (SILVA, 2015, p.30).

Porém, o currículo como campo de interesses, e eles mudam com o decorrer do tempo, começa a surgir novas ideias. E na década de 1960 foi marcado por movimentos que questionavam o que estava estabelecido na sociedade, assim as teorias críticas vai se constituindo, contestando o modelo tradicional de currículo.

A teoria crítica é voltada para as inquietações, passando a questionar e colocar que xeque o que estava estabelecido, não aceitando o que estava estabelecido como norma para a organização da sociedade. E, nesse sentido, as teorias críticas são pautadas em problematizar elementos acerca da compreensão do que o currículo faz, qual o intuito e, a quem vai favorecer. E nesse viés de contestação e não aceitação daquilo que estava posto como norma é que na década de 1970 vai emergir as teorias críticas. Nessa corrente teórica elementos como a cultura, identidade, diversidade, diferença, gênero, raça, etnia dentre outros ganham visibilidade, ao questionar qual o lugar das categorias historicamente excluídas no currículo.

Essa perspectiva, reconhece as mais variadas formas de culturas e identidades, entre as questões de debates atuais estão as relações de gêneros, feminismo, étnica, racial, geracional, dentre outras. E nessa concepção além da formação do pensamento crítico a respeito das mais variadas formas de vida e valorização das mesmas.

3.1 EDUCAÇÃO INFANTIL E CURRÍCULO: ELEMENTOS TEÓRICOS

Mesmo considerando todos os estudos em torno do currículo ao longo do processo histórico educacional no Brasil, ainda hoje falar em currículo para e na Educação Infantil provoca desconfortos. Embora o termo esteja cada vez mais presente nos textos, nas discussões e nas preocupações dos/as professores/as e pesquisadores/as no Brasil e, do mundo que tomam como temática central a Educação Infantil, o seu uso ainda é bastante controverso (NASCIMENTO; RIOS, 2020). Em algumas produções é criticado ou rejeitado a partir de uma compreensão restrita na qual a sua adoção implicaria a opção por processos educativos padronizados, pautados no elenco de disciplinas ou listagem de conteúdo.

Em outras, a expressão currículo é substituída por múltiplas expressões, por ser considerada inadequada para referir-se às especificidades da Educação Infantil. O estranhamento se amplia quando a abordagem inclui a discussão do trabalho pedagógico com

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 crianças de zero a três anos de idade (AMORIM; DIAS, 2011). O uso do termo parece induzir ao entendimento de uma práxis com viés prescritivo, afeita ao controle e à regulação.

Dessa forma, pensar em educação escolar, requer necessariamente que a pensemos em sua amplitude e complexidade. Um mundo de conhecimento, evolução, desafios, possibilidades e intencionalidade a ser descortinado. Quando se refere a complexidade, porque são muitas partes que faz uma junção, para assim formar um todo, e que esse todo resulte em uma educação de qualidade e significativa. E nesse sentido, tem uma parte desse todo que é muito importante nessa construção, isto é, como e para quem é pensando essa educação e todo o contexto escolar, e isso se dá pelo o currículo. Como destaca Macedo e Azevedo (2013, p. 117),

[...] Currículo é uma construção social incessante realizada por homens e mulheres com opções cultural e historicamente constituídas em termos de conhecimento eleitos como formativos, de alguma forma validados por uma comunidade de práticas, e organizados por uma opção político-formativo.

O currículo é, pois, construção social, é formado pelas vivências e conhecimentos de dada sociedade. E o currículo escolar é onde permeia opções e intencionalidades, pois é construindo por alguém e/ou grupos para uma comunidade específica, com finalidades bem definidas e, isso se dá por uma relação de conhecimento, cultura, história e poder, que se reverbera diretamente na educação e sujeito que se quer formar.

Com essa percepção de currículo ser “organizado por opções político-formativo”, Silva (2015, p.15), afirma que “o currículo é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimento e saberes seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currículo”.

Assim, o currículo direcionado a escola é algo construindo com finalidade e com uma seleção, onde trará um mundo de conhecimento, no qual alguém, e nesse caso o/a estudante terá que adentra e cumprir esse currículo que foi selecionado por outro alguém, geralmente professores/as. E aprofundando a concepção de currículo como seleção, Mello (2014, p. 01), salienta que “currículo é tudo aquilo que uma sociedade considera necessário que os alunos aprendam ao longo de sua escolaridade.” E essa seleção e necessidades deve ir além dos projetos pedagógicos, da escolha dos conteúdos, pois são muitas coisas envolvidas como por exemplo o sujeito, o contexto social e cultural e a escola.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 E, sabendo da importância do currículo para a educação de crianças, que possamos ampliar o olhar, no sentido de ampliar o nível de conhecimentos dos/as envolvidos/as, é necessário um compromisso com a formação e valorização das subjetividades que estão sendo construído. E nesse sentido Medel (2014, p. 167) afirma que, “hoje o currículo deve se voltar para a formação de cidadãos críticos, comprometidos com a valorização da diversidade cultural, da cidadania e aptos a se inserirem num mundo global e plural”. E se, assim, for construído, o currículo para a Educação Infantil, que compreenda e valorize o ser criança e sua formação, ela terá mais oportunidade de conhecer e valorizar os valores social e cultural, e certamente será uma pessoa com pensamentos e/ou atitudes críticas.

Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI, traz como definição para currículo na Educação Infantil

Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com o conhecimento que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, cientifico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010, p.12)

As/os profissionais que atuam na Educação Infantil devem buscar formas e metodologias para articulação entre as experiências e saberes das crianças que irão trabalhar. É preciso pensar no currículo que abarque os saberes prévios das crianças com a cultura local e regional, cidadania, as artes, o ambiente e a tecnologia, a língua materna e a matemática. Esses elementos são importantes para a conhecimento e formação da criança, nesse momento que é de descobrimento e encantamento para a criança.

O currículo na Educação Infantil deve ser compreendido como um conjunto de experiências culturais, pensando no educar e cuidar e assim as/os professoras/es possa organizar e selecionar com uma intencionalidade, ou seja, que seja na perspectiva da formação humana da criança, que esse currículo estabeleça relações com os saberes que desejam que a criança aprenda, com os conhecimentos que ela já tenha na sua vivência ((NASCIMENTO; RIOS, 2020).

O currículo na Educação Infantil é preciso estabelecer relações entre o conteúdo, a criança que se tem e seus conhecimentos e, que cidadão/ã queremos formar. Os/as profissionais devem ter em mente qual ser humano quer formar e que seja aquele e/ou aquela em que um dia possa ser produtor/a de novos saberes, capazes de mudar a história e

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 transformar o mundo, e isso pode se dar por meio do currículo pensado para a formação de ser crítico.

4 FORMAÇÃO DOCENTE E CURRÍCULO: INTERSECÇÕES NECESSÁRIAS

A identidade docente é construída e reconstruída constantemente, nunca é algo pronto, está em constante processo de formação, a cada dia são novos desafios, aprendizados e enfretamento de dificuldades, não é uma tarefa fácil, é preciso de dedicação. É necessário está em busca do seu desenvolvimento profissional. Como afirma Pimenta e Lima (2012, p. 90), “O desenvolvimento profissional envolve formações inicial e contínua articuladas a um processo de valorização identitária e profissional dos professores”

Ser professor/a é reconhecer a si e ao/a outro/a, é permanecer em busca de novos conhecimentos e depois compartilhar com os/as estudantes, e mediar os/as mesmos/as nesse aprendizado. E isso requer compromisso consigo e com o/a outro/a, pois ele/ela vai interferi diretamente na formação social do sujeito.

O professor é um profissional do humano que ajuda o desenvolvimento pessoal e intersubjetivo do aluno, sendo um facilitador de seu acesso ao conhecimento; é um ser de cultura que domina sua área de especialidade científica e pedagógico-educacional e seus aportes para compreender o mundo (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 88).

O/a professor/a como facilitador/a e mediador/a tem o dever de ajudar e indicar caminhos para o/a aluno/a compreender melhor a si mesmo e o mundo, dando oportunidade a eles/elas a trilhar por caminhos de conhecimentos, os quais proporcionaram uma formação de cidadãos/ãs críticos/as, que estejam sempre em busca novos caminhos e aprendizados e, que seja produtor/a, pesquisador/a de seu próprio conhecimento.

Nesse sentido, os/as professores/as além de estar buscando a formação inicial e continuada, tem que pensar-se na autoformação, avaliar-se, relacionar teorias e práticas e rever suas práticas no cotidiano escolar. Ao fazer isso, os/as professores/as terão e darão outro sentido na sua vida profissional, escolar e acadêmica, vai dando significado seu trabalho.

A formação precisa ser entendida como um processo contínuo de desenvolvimento pessoal e profissional. Dessa forma, salientamos a importância da qualidade da formação dos/as futuros/as profissionais envolvidos/as com a educação, para que lhes sejam possibilitadas novas reflexões sobre a sua ação. Ao confrontar suas ações cotidianas com as

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 produções teóricas, o/a professor/a precisa rever suas práticas e as teorias que as informam, pesquisando a prática e produzindo novos conhecimentos para transformá-la e aprimorá-la.

Entendemos que o currículo na formação de professor/a deve se constituir enquanto possibilidade que efetivamente contribui para que os/as professores/as em formação possam ampliar o senso crítico em relação às práticas educativas e pedagógicas. Assim, poderão expressar o que desejam e o que querem praticar, de modo que possam se perceber e perceber o que falta ou, o que é preciso fazer, para que aquilo que desejam como prática possa ser realizado.

Na contemporaneidade os desafios postos ao campo da formação de professores/as, a organização curricular precisa pensar em novas dinâmicas de construção da profissão como redes complexas, que nos levam a novas concepções sobre as disciplinas, as relações disciplinares e a formação de competências.

A escola necessita ressignificar conceitos relativos às metodologias, o que ensina e como ensina e debater sobre essas questões. São imperativos que se apresentam às realidades escolares, mas que se não forem refletidos, certamente trarão limitações à compreensão do verdadeiro papel da instituição escolar.

Não podemos perder de vista o fato de que essa possibilidade de análise reflexiva, a nosso ver, encontra-se no currículo e na maneira como ele é pensado e concretizado. Dessa maneira, um aspecto que consideramos imprescindível discutir, refere-se à reinvenção do currículo escolar. Entendemos que reinventá-lo e repensá-lo exige reflexão acerca das demandas dos sujeitos, de suas vivências e sensibilidades (ONOFRE, 2008).

Compreender o currículo como espaço de disputa, intenções, tensões e conflitos é fundamental para que se tenha uma noção das possibilidades outras em que se pode, a partir de uma leitura crítica dos conteúdos trabalhados nas escolas, perceber as artimanhas das intencionalidades presentes nas ações curriculares.

5 CAMINHOS METODOLÓGICOS

Com o propósito de compreender como é pensado e estruturado o currículo pelas as professoras na Educação Infantil, nesse estudo utilizamos a abordagem qualitativa, que segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 269), “A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano.”

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 Por meio dessa metodologia, em busca de resposta para a investigação do tema proposto, optamos pela entrevista, enquanto instrumento de pesquisa, o que nos possibilitou coletar informações sobre o assunto. De acordo com Marconi e Lakatos (2011, p.280) “a entrevista permite o tratamento de assunto de caráter pessoal”.

Nesse sentido, a entrevista foi previamente pensada, algumas perguntas já estabelecidas para nortear a caminhada durante a entrevista, que Marconi e Lakatos (2011, p.281) denomina como entrevista “padronizada ou estruturada- quando o/a pesquisador/a segue um roteiro previamente estabelecido. As perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas”.

O lócus da pesquisa foi em uma instituição de Educação Infantil, situada em um bairro periférico no município de Senhor do Bonfim – Bahia. E os sujeitos da pesquisa foram quatro (04) professoras que trabalham nos turnos matutino e vespertino, as quais, duas (02) com formação em Pedagogia e especialização em Educação Infantil, uma (01) em Língua Portuguesa, uma (01) tem o curso técnico em magistério.

As entrevistas foram realizadas nos dias 24 e 29 de abril de 2019. E no decorrer do texto vamos utilizar codinomes para denominar as professoras, a partir dos seus sobrenomes, sendo: Professora Zeferino, Professora Moreira, Professora Castro e Professora Bispo.

6 CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRÁXIS VIVENCIAL

A Educação Infantil é o primeiro passo da criança na construção da vida escolar. Esse momento é crucial para o desenvolvimento e formação da mesma, como afirma Medel (2014, p.10): “a Educação Infantil é uma fase fundamental para o desenvolvimento global da criança nos aspectos sócio afetivo, cognitivo, psicomotor e psicológico.”

Na Educação Infantil a aprendizagem precisa necessariamente está associada às atividades lúdicas. A construção do conhecimento acontece por meio de um processo pautado em brincadeiras. Para que esse processo aconteça, é necessário que o/a professor/a compreenda a infância como uma etapa importante na formação do sujeito. Assim, a Educação Infantil se configura enquanto espaço importante na compreensão do que é ser criança e seus contextos, como afirma Macedo e Azevedo (2013, p. 121),

O ator/ autor social criança é um Ser que pensa e deseja, altera-se e autoriza-se em meio às possibilidades e limites da instituída e instituinte conviviabilidade social, é um sujeito contextualizado, portanto está inserido numa classe, numa família, numa

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cultura e, não raro, cultua uma religiosidade e, nesses contextos, produz seus etnométodos.

A criança é um ser social. Ela pensa e compreende o mundo, no qual está inserida, além de refletir sobre as experiências subjetivas no seio familiar e, isso dever ser levado em conta quando a criança chega no ambiente escolar.

A concepção de infância existe em diferentes contextos, sendo comumente caracterizada por um processo dialético de idas e vindas, avanços e retrocessos, não é uma construção linear, ou um momento estático, mas sinuosa.

Heywood (2004), enfatiza que fatores políticos, econômicos e sociais que já aconteceram e continuam a acontecer na sociedade acarretam transformações no modo de conceber a infância, levando ao entendimento de diferentes tipos de infância. Considerando que dentro de uma sociedade as crianças vivem em diferentes contextos, é mais eficaz que busquemos diferentes concepções sobre a infância em tempos e lugares distintos.

Para Kramer (2006, p. 13) “a infância é entendida como período da história de cada um, que se estende na nossa sociedade, do nascimento até aproximadamente dez anos de idade”. A autora ainda reconhece o que é específico da infância, que é o poder de imaginação, fantasia e criação. Contudo entende “[...] as crianças como cidadãs, pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, que possuem um olhar crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas subvertendo essa ordem” (KRAMER, 1999, p. 272).

Nesse sentido, a Professora Bispo (2019), compreende a infância como, “[...] base da personalidade do indivíduo. É na infância onde ele constrói tudo que ele vai viver no futuro dele. A primeira infância é onde ele aprende, onde ela se diverte”.

A partir da fala da Professora Bispo, uma das nossas entrevistadas, pode dizer que a infância é uma fase crucial na formação do sujeito e tem papel fundamental na formação da vida adulta, e para muitas, isso acontece sem muita preocupação, mas que se constrói como pessoa crítica e que produz história.

A criança é um ser social que pensa e deseja, ela faz parte de um contexto familiar e social, e, portanto, conhece o universo que a cerca, a partir daquilo que sua cognição pode captar. Contudo, ainda há muitas descobertas a serem feitas e esse processo é gradativo.

Por isso, é tão comum as perguntas e curiosidades. A criança é naturalmente curiosa, quer conhecer cada vez mais, conforme salientou a Professora Castro (2019) ao relatar a

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 infância, como sendo o “momento de descobrir”. Compreendemos, portanto, que a infância se apresenta como o momento de importantes descobertas para a formação do indivíduo.

O Parecer 022/1998, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil – DCNEI, ao referir-se à concepção de criança descortina um novo olhar e nos mostra as especificidades do ser criança ao afirmar que elas “são seres humanos portadores de todas as melhores potencialidades da espécie”: “inteligentes, curiosas, animadas, brincalhonas em busca de relacionamentos gratificantes, pois descobertos entendimento, afeto, amor, brincadeira, bom humor e segurança trazem bem-estar e felicidade (BRASIL, 1998, p. 69).

Sob esse prisma, a Educação Infantil tem papel indispensável na formação do sujeito. De acordo com a Professora Bispo (2019):

Na Educação Infantil é onde a gente planta uma semente e, se essa semente for bem plantada, ela vai germinar frondosa e bonita [...]. Então para mim, Educação Infantil é a base de tudo, a base, o alicerce para o futuro, para um aprendizado melhor.

Concordamos com a Professora Bispo (2019) ao ressaltar que a Educação Infantil é base e o alicerce da formação. Assim, a Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, possui um papel indispensável na formação da criança. Contudo, é pertinente ressaltar que muitas instituições escolares, a família e tantos outras instituições ainda não compreendem a grande contribuição que a Educação Infantil propicia para o desenvolvimento físico, mental, social da criança.

Não podemos perder de vista que a Educação Infantil tem por finalidade desenvolver a potencialidade da criança através de atividades lúdicas. Entendemos que o brincar proporciona a criança uma melhor compreensão de si e do mundo,

A partir de todas contribuições, podemos considerar o brincar como importante espaço de expressão e de aprendizagem sobre o mundo físico e social. Ao mesmo tempo, é necessário enxerga-lo como possibilidade de a criança transformar essa realidade, desenvolvendo sua capacidade de imaginar, de “ir além” (FARIA; SALLES, 2012, p.121).

O brincar possibilita a criança um mundo de aprendizado, pois ao brincar ela estabelece relação com os/as colegas, expressam sentimentos, imaginação, desenvolvimento de habilidade e interação com a realidade social.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 Como afirma Faria e Salles (2012, p.121), “assim, no brincar, as crianças aprendem a interagir, a construir e a reconstruir as relações sociais como sujeitos competentes [...]”. Portanto, a brincadeira é crucial no desenvolvimento das crianças, então a educação delas deve acontecer pela a brincadeira, para assim ser uma educação para a formação e transformação.

A brincadeira é um elemento essencial na realização do trabalho pedagógico na Educação Infantil, como é definido nas DCNEI (2009), que as interações e as brincadeiras devem ser como eixos norteadores a proposta curricular. O âmbito educacional para a Educação Infantil deve ser lúdico, onde proporciona a criança uma aprendizagem por meio das brincadeiras.

Para a Professora Moreira (2019), ao definir a Educação Infantil como um espaço da mágica e da brincadeira para que a aprendizagem aconteça:

Educação Infantil é a magia mesmo do brincar, da criança vim para a escola não para brincar por brincar, mas um brincar para aprender, porque um brincar por brincar eles brincam em casa, mas na educação infantil não, ela é, eu acho importante porque ela aprende mesmo brincando.

Compreendendo a relevância das brincadeiras na Educação Infantil para o desenvolvimento da criança, os/as professores/as tem que planejar/organizar o currículo na perspectiva das brincadeiras e também levando em consideração o sujeito, o contexto e as especificidades da comunidade escolar.

Macedo e Azevedo (2013), refere-se ao currículo voltada para aprendizagem das crianças, como “currículo da educação infantil sensível”, que possa favorecer meios eficazes e lúdicos que favoreçam os processos de ensino-aprendizagem e valorização de si e do contexto que está inserido.

Nessa perspectiva a Professora Bispo (2019), defende essa sensibilidade, não só em relação a aprendizagem, mas também situação econômica das crianças, que interfere no desenvolvimento das mesmas. Afirma ela que:

O currículo ele é sensível a realidade que a escola e/ou a comunidade se encontra, se eu tenho por exemplo, uma escola, onde tem criança carente, que não são na maioria delas assistidas pelos os pais, a escola tem que ter um currículo voltado para essa sensibilidade.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 Os/as professores/as da Educação Infantil, juntamente com a comunidade escolar ao planejar/organizar o currículo, deve ter essa sensibilidade de conhecer a realidade dos/as estudantes, e isso ser levado em conta no momento do planejamento e também durante todo o percurso do ano letivo, porque as coisas mudam, as necessidades vão ficando explícitas com a convivência em sala de aula.

É um trabalho complexo, precisa dessa sensibilidade, pois é um trabalho que vai de certa forma incluir todos/as, e ao fazer isso tem vários tipos de sujeito, e cada criança tem sua personalidade e, cada uma tem seu contexto diferente.

Para Macedo e Azevedo (2013, p.122), “o que é, mais uma vez, importante se recolocar é que a inserção social da infância se dá em contexto diferenciados; desta forma, não se podem homogeneizar os diversos grupos infantis”. Portanto, ao reconhecer que o grupo de crianças não são homogênea, ao pensar na escola e no seu currículo, necessariamente esse currículo deve ser na perspectiva heterogênea.

Nesse sentido, a Professora Bispo, salienta que “[...] em primeiro lugar a gente (professores/as) está lidando com pessoas, e as pessoas quando fala em currículo as vezes esquece, trata o currículo de forma homogênea, sendo que ele tem que ser heterogêneo.”. Então, pensar o currículo a partir das diferenças é fundamental no trabalho pedagógico e no desenvolvimento das crianças.

A comunidade escolar de Educação Infantil ao organizar o currículo se depara frente a um desafio enorme, pois, requer compromisso com o trabalho pedagógico e clareza no objetivo de formação que quer para as crianças, pensando no seu aprendizado e desenvolvimento. Além disso, um currículo que respeite as especificidades, como afirma Moreira (2019), “ter o currículo como base e que respeite as particularidades.”

Entretanto, não é um trabalho fácil. Faria e Salles (2012,) argumenta, “sabemos que, na prática pedagógica, todas as dimensões humanas se integram e que qualquer forma de organização de um currículo corre o risco de fragmentar a integralidade do processo de formação das crianças (p. 79)”. É tarefa delicada, após essa organização e execução do currículo, deve ter a sensibilidade da observação como está ocorrendo esse processo de formação.

O currículo deve ser reorganizado sempre, e está caminhada com as outras partes que formam a proposta pedagógica, e que articule uma interação da criança e suas experiências com o mundo. As DCNEI (2009) define currículo como “conjunto de práticas que buscam

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico [...] (p. 12)”.

Portanto, o currículo deve articular as vivências com os conhecimentos que fazem parte da nossa sociedade como um todo e, que se faz necessário para o aprendizado da criança, como afirma a Professora Zeferino, “currículo é a base para o trabalho [...] currículo tem que visar o ser criança e o que traz de casa.”

Nessa perspectiva, o currículo se constitui enquanto ferramenta crucial no fazer pedagógico escolar, podendo assim, valorizar o ser criança e visando o ensino significativo e formação de cidadão crítico.

7 CONSIDERAÇÕES: CURRÍCULO PARA A FORMAÇÃO HUMANA

A discussões feitas no decorrer desse texto, trazendo como proposta a reflexão a partir da compreensão que as professoras da Educação Infantil têm sobre a partir de quais princípios o currículo é pensando e estruturado, além de refletir a formação da criança e dos/as profissionais da Educação Infantil, sinalizam que passos consideráveis já foram feitos, mas que ainda estamos longe daquilo que podemos considerar como um currículo que atenda às reais necessidades das distintas infâncias.

Nessa percepção, constatou-se a partir das percepções das professoras, que o currículo é a base para o trabalho pedagógico com as crianças de 0 a 5 anos. Dessa maneira, acreditamos que o currículo, precisa ser pensando e planejando a partir de contextos escolares específicos e que respeite as particularidades, a realidade no qual se está inserido e as experiências vivenciadas dentro nos grupos sociais que antecedem sua vida escolar. Ademais, entendemos que é necessário trabalhar um currículo na perceptiva das diferenças, uma vez que estamos lidando com seres humanos, e cada um tem suas diversas maneiras de viver, se relacionar e conhecer o mundo.

Outro elemento importante para a construção do currículo para a crianças pequenas, é o lúdico, pois não podemos pensar a infância separada do lúdico, uma vez que a brincadeira faz parte do ser criança, e tem papel fundamental no desenvolvimento da mesma. É através do brincar que ela aprende, descobre e vive as mais bonitas imaginações e fantasias, além de desperta as curiosidades. Então, o brincar tem que ser parte integral do trabalho pedagógico do/a professor/a de Educação Infantil.

Nesse sentido, entendemos que a Educação Infantil e se constitui enquanto momento crucial na formação humana, sendo esse um momento de crucial e de extrema importância na

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26881-26901 may. 2020. ISSN 2525-8761 infância, pois as crianças dependem muito de como todos esses conhecimentos são trabalhados, compreendendo a complexidade nas quais elas estão inseridas. Por isso, é importante pensar no currículo e seus pressupostos a partir da formação inicial e continuada dos/as profissionais e que tipo de sujeito queremos formar.

Tem sido notório que nas últimas décadas houve avanços no que se refere à matriz curricular para a Educação Infantil, contudo, acreditamos que ainda estamos distantes daquilo que podemos considerar uma proposta curricular que atenda às distintas infâncias em seus diferentes contextos. Os/as professores/as tem que se construir e reconstruir todos os dias, pois as crianças de hoje não serão as mesmas de amanhã, estão em processo. Por isso, a necessidade de planejar currículos específicos, partindo do princípio de que os mesmos devem permanecer atento as mudanças sociais e culturais, para assim contribuir na trajetória escolar das crianças.

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