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AS MOBILIZAÇÕES DE JUNHO DE 2013 NO BRASIL E AS TEORIAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

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Nº 1, volume 10, artigo nº 4, Janeiro/Março 2015

D.O.I: 10.6020/1679-9844/v10n1a4

ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 103 de 243

AS MOBILIZAÇÕES DE JUNHO DE 2013 NO BRASIL E

AS TEORIAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

LAS MOVILIZACIONES DE JUNIO DEL 2013 EN

BRASIL Y LAS TEORIAS DE LOS MOVIMIENTOS

SOCIALES

Vanessa Cristhina Zorek Daniel1, Fernando José Martins2 1

Unioeste, Mestranda do Curso Interdisciplinar em Sociedade, Cultura e Fronteiras, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, email: vanessazorek@gmail.com

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Unioeste, Docente do Programa de Pós-Graduação Sociedade, Cultura e Fronteiras, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, email: fernandopedagogia2000@yahoo.com.br

Resumo – Este trabalho tem como foco analisar as Jornadas de Junho de

2013, evento social e político que chamou a atenção e gerou diversas expectativas tanto da população brasileira como internacional, sobre a brusca mudança no padrão geral do comportamento político dos brasileiros; que culminou em diversas mobilizações sociais no mês de junho de 2013. Para desenvolver tal estudo foram selecionadas como material analítico as categorias de mobilização social, frames e ciclos de protesto, conceitos que estão presentes no interior da teoria dos Novos Movimentos Sociais. Assim, as análises serão realizadas à luz das teorias produzidas sobre os movimentos sociais, localizando pontos de intersecções, confrontando o debate práxico contido nas manifestações com o fenômeno histórico mais amplo, dos movimentos sociais. Pretende-se ainda verificar o papel da mídia e das redes sociais na organização dos protestos e mobilizações. A metodologia deste trabalho ateve-se em fontes primárias, principalmente em jornais e publicações eletrônicas desenvolvidas por ativistas e movimentos sociais, fontes bibliográficas de publicação recente sobre mobilizações sociais contemporâneas, como também se utilizou do debate teórico dos

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 104 de 243 movimentos sociais e reflexões sobre as mobilizações de junho. Em relação a este cenário consideramos que os sites de redes sociais (SNS, Social Networking Sites) tiveram papel primordial nos processos de mobilização, como ferramenta de aproximação entre os ativistas, através de compartilhamento de ideias, discussões como também de práticas, atividades estas facilitadas pela quebra da barreira do espaço que a internet e os aparelhos sem fio permitem. Relacionamos ainda como parte deste processo a presença de frames e ciclos de protestos como meios de embasamento, fortalecimento e recriação dos processos de mobilizações.

Palavras-chave: Mobilizações sociais. Teoria dos Novos Movimentos

sociais. Manifestações de junho de 2013.

Resumen - Este trabajo se centra en el análisis de la Conferencia de junio

2013, un evento social y político que llamó la atención y generó muchas expectativas tanto de la población brasileña e internacional, sobre el repentino cambio en el estándar general de comportamiento político de los brasileños; culminando en varios movimientos sociales en junio de 2013. Para desarrollar este estudio fueron seleccionados como materiales analíticos las categorías de la movilización social, frames y ciclos de protesta, conceptos que están presentes en la teoría de los nuevos movimientos sociales. Por lo tanto, el análisis se realizará a las teorías producidas en los movimientos sociales, la localización de los puntos de intersecciones, la comparación de la discusión praxis contenida en las manifestaciones con el fenómeno histórico más amplio de los movimientos sociales. El objetivo es también verificar el papel de los medios de comunicación y las redes sociales en la organización de protestas y manifestaciones. La metodología de este trabajo se apoyó en fuentes primarias, principalmente periódicos y publicaciones electrónicas desarrolladas por activistas y movimientos sociales, las fuentes bibliográficas de publicación reciente sobre los movimientos sociales contemporáneos, como también se utilizó la discusión teórica de los movimientos sociales y reflexiones sobre la movilización de junio. En este escenario, creemos que los sitios de redes sociales (SNS, Sitios de Redes Sociales) tuvieron papel clave en los procesos de movilización, como una herramienta de proxy entre los activistas, a través de intercambio de ideas, debates, además de práctico, que facilitaron por la ruptura de la barrera de espacio que el Internet y dispositivos inalámbricos permiten. Relacionar incluso como parte de este proceso, la presencia de frames y ciclos de protesta como medio de fundamentación, el fortalecimiento y la reconstrucción de los procesos de movilización.

Palabras-clave: Movilizaciones sociales. Teoría de los Nuevos Movimientos

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 105 de 243

1.

Introdução

O fenômeno das aqui chamadas mobilizações de junho de 2013, surpreenderam até o mais otimista analista social no que tange sua abrangência, tanto no território atingido, quanto no número de participantes que as constituíram. Tal experiência torna relevante uma série de características próprias detida em sua dinâmica, tais como novas formas organizacionais, novos sujeitos que se inserem nesse tipo de espaço político, uma miscelânea de anseios, um escasso número de objetivos concretos. Em meio a essa ampla gama de possibilidades de análise, nos focaremos aqui na compreensão das categorias de análise: mobilização social, redes, frame, ação coletiva, ação social, ciclo de protestos, para a leitura do fenômeno escolhido, na tentativa de conferir uma certa originalidade na abordagem de um fato já bastante exposto e analisados no meio acadêmico.

Na busca para decifrar alguns pontos que envolvem as mobilizações de junho de 2013 no Brasil, e como ela se desenvolveu abordaremos em um primeiro momento o conceito de “mobilização social” que para Gohn (2012, p.65), é uma novidade no ponto de vista analítico que surgiu nos últimos anos na América Latina. Até o século XX o tratamento que esta categoria recebia no dicionário de sociologia organizado por Bobbio, Matteucci e Pasquino (1986), é a de que existiriam dois tipos de mobilização; a política e a social. A mobilização política concerne no processo de ativação de coletivos, o qual poderá ser feito tanto por governantes como por líderes civis. E a mobilização social, se refere a processos de ativação que buscam mudança de comportamento, apoio a projetos sociais, busca de novos valores, inclusão social entre outros pontos.

O conceito de mobilização social desenvolvimento pelo Latino Americano José Toro é definido como “o envolvimento ativo do cidadão, da organização social, da empresa nos rumos e acontecimentos em nossa sociedade. Ela se traduz em pequenas ou grandes ações e pode ser desempenhada de diferentes formas”. (TORO, 1996, p.13 apud GOHN, 2012, p. 66).

A Mobilização social seria uma forma de os grupos sociais adquirirem recursos e possibilitar a concretização da ação coletiva. O processo da organização da ação coletiva baseia-se principalmente na ação de seus produtores, que

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 106 de 243 desenvolvem processos de comunicação direta, em forma de redes; formulam e também difundem mensagens que passam a fazer parte do imaginário e a acordar desejos de participação, no sentido de buscar desenvolver ações coletivas não hierárquicas.

Ainda faz parte do processo de mobilização a criação de fóruns e redes. Gohn (2012, p.67) fala da preconização de uma engenharia social, que está baseado em modernas técnicas de comunicação. Possibilitando um processo de criação de identidade coletiva, que é criada de fora para dentro, que ocorre através da incorporação de projetos sociais, que contemplem identidades estratégicas que estão voltadas para certos objetivos.

Uma „mobilização social‟ remete a uma atividade, que se esgota em si mesma quando concluída. Mobilização pode ser uma ferramenta do movimento; também uma mobilização pode se transformar em outras até formar um movimento; mas em si, mobilização não significa necessariamente uma organização nem constitui um movimento social (Montaño e Duriguetto, 2011, p. 264).

Neste sentido o movimento social surge como fruto/resultado deste processo de mobilização, que reuni em si um aglomerado de atitudes e ações coesas e propositivas. No momento em que se desenvolve a mobilização social, não se percebe de imediato uma preocupação, nem uma elaboração sobre questões sociais, históricas e políticas que levaram justamente a este momento e a esta ação, ou seja, as causas dos problemas que levam a mobilização não são analisadas de forma aprofundada, muitas vezes nem questionada, parte-se da situação atual com o objetivo de mobilizar e buscar pessoas que venham a aderir à mobilização, nas palavras de Gohn (2012, p.67) substitui-se a “cultura da espera” pela “cultura da resolução”. O momento é marcado pela criatividade e ação dos atores coletivos.

Para executar a tarefa a que se propõem o presente artigo, é necessário partir do próprio fenômeno empírico, que será brevemente exposto no início do artigo. Ainda antes de expor as categorias analíticas em seus pormenores, se faz necessário também uma breve reflexão sobre a figura da tecnologia para a compreensão do fenômeno abordado, cujo papel organizativo fora crucial. Com o esclarecimento de tais pressupostos, o texto culmina com a análise proposta, que identifica nas manifestações de junho categorias das teorias dos movimentos sociais. Tal ordenamento é que estruturará o presente artigo como segue.

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2.

As Jornadas de Junho de 2013

Em meio as recentes e grandes mobilizações que aconteceram em vários países, como a “Primavera Árabe”, “Occupy Wall Street”, o movimento “os indignados” na Espanha, as várias greves na Grécia, ocorrem também no Brasil em 2013 mobilizações de grandes proporções, que passaram a chamar atenção dos noticiários mundiais.

As manifestações de Junho não foram planejadas nem discutidas, muitos dos que saíram as ruas jamais imaginariam que poderiam participar de tal ato. Tais ações tiveram inicio após o anúncio do aumento de passagens do transporte coletivo em São Paulo. Que desencadeou manifestações promovidas pelo Movimento Passe

Livre, o qual se faz presente em muitas cidades brasileiras e já convocou e

organizou inúmeros atos, principalmente a partir de 2003, como a Revolta do Buzu em Salvador e a Revolta da Catraca em Florianópolis nos anos de 2004 e 2005, com a bandeira do transporte público gratuito e de qualidade.

Os primeiros protestos ocorreram nos dias 6, 7 e 11 de junho,formado principalmente pela presença de estudantes defendendo o passe livre e a mobilidade como uma necessidade humana essencial, manifestações estas que foram reprimidas pelo uso da força policial, tendo as imagens de violência e repressão vinculadas a mídia como a luta do Estado contra vândalos que atrapalhavam o cotidiano normal da cidade , no entanto apesar da repressão o número de pessoas na rua participando dos protestos aumentava, no dia 13 de junho houve a presença de mais ou menos 20 mil pessoas nas ruas de São Paulo, carregando cartazes com os dizeres “não é só por 20 centavos”, com o número maior de manifestantes a repressão foi ainda mais severa e intensa.

As ações policiais que ocorreram até o dia 13 de junho foram uma tentativa do Estado de manter estagnada qualquer possibilidade de continuidade de mobilização. Ainda nesta data a polícia Militar prende vários manifestantes por porte de vinagre, que foi amplamente utilizado pelos manifestantes para minimizar o efeito das bombas de gás lacrimogênio, o que gerou a chamada Revolta da Salada, neste episódio alguns jornalistas também foram feridos e presos.

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 108 de 243 passaram a ser apoiadas por um número elevado de pessoas, apoio este que foi representado de forma ativa; milhares de brasileiros passaram a participar e a promover manifestações em várias cidades. O apoio ampliado foi recebido, após dias de manifestações, de divulgação através mídia e das redes sociais dos eventos. Até então muitos dos atos de indignação em relação as repressões sofridas pelos manifestantes, como também apoio a causa eram proferidas principalmente por meio do Facebook e Twitter, um tipo de ativismo on-line que exige pouco comprometimento de tempo e uma certa segurança por ser proferido utilizando-se de ferramentas eletrônicas.

O segundo momento destes episódios de mobilizações ocorrem entre os dias 17 a 29 de junho, com maior pico de participação popular entre os dias 19, 20, 21 e 22 de junho. A divisão em dois blocos em relação às mobilizações de junho se da principalmente pela diferenciação de pautas que esta sofre em relação a primeira. Neste momento as vozes de muitos cidadãos comuns estão nas ruas expondo as insatisfações de várias camadas da sociedade, que se somam e formam uma grande multidão, presente em mais de 350 cidades (Castells, 2013, p. 178). Uma multidão que resolveu levantar e falar sobre os descontentamentos que sentem em relação as instituições públicas e as organizações políticas partidárias, são corpos indignados, estarrecidos que clamam justiça, menos impunidade, mais saúde, educação pública de tantas pautas e tantas vontades que as mobilizações se apresentaram em forma de convulsão qualidade, eram.

Gohn (2014) divide as manifestações de junho em três momentos distintos. O primeiro “A desqualificação e o descaso”, marcada pela repressão dos atos pela polícia, Estado e mídia; a segunda “Violência, revolta popular e susto pelo movimento de massa”, marcado pelo grande número de pessoas feridas e detidas, que levaram a opinião pública a ficar do lado dos manifestantes. As manifestações passaram a ganhar amplo destaque na imprensa nacional e internacional, esta fase tem o seu ápice no dia de 20 de julho quando mais de um milhão de pessoas se juntam as manifestações em todo o país, o ativismo e a organização das mobilizações neste momento se dá principalmente pelo meio digital, com destaque para o grupo Anonymous. O terceiro momento “A vitória da demanda básica”, no dia 19 de junho foi vedado o aumento do preço das passagens em todo o país, em 21

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 109 de 243 de junho o MPL se coloca aquém das manifestações, no entanto elas continuam impulsionadas por outras queixas, a partir deste momento se percebe com grande intensidade a presença dos “Black Blocs” que tem suas manifestações marcadas por atos de vandalismo, violência e saques. Eles estiveram presente desde o inicios das manifestações, no entanto ao final deste processo se mostraram de forma muito mais intensa, afastando a população em geral.

Grande parte da população que se concentrou a partir de 17 de junho não estavam ali especificamente pelo preço do transporte, mas reconhecendo que o seu aumento causaria implicações na vida do trabalhador que usa obrigatoriamente o transporte público para se deslocar nas grandes cidades, não só pelo orçamento domestico que ficaria mais apertado, mas aparece também a indignação pela má qualidade do serviço prestado. O que foi um motivador para manifestar outras insatisfações em relação aos serviços públicos, e que tal ineficiência estava ligada principalmente a corrupção política, ao desvio de dinheiro e a falta de comprometimento dos representantes com a população.

Na década recente o Brasil observou uma diminuição no nível da pobreza e indigência, muitas pessoas adquiriram casas próprias através de programas federais, como “Minha casa minha vida”, e também puderam adquirir automóveis de forma facilitada por diminuição em alguns impostos específicos. Mas estas mudanças não acabaram com alguns problemas antigos, como também se abriu precedente para que a população prestasse atenção em outros. Como o péssimo planejamento urbano das grandes cidades, um reflexo que aparece nas longas filas de congestionamento, a especulação imobiliária que obriga o trabalhador a morar cada vez mais longe da “cidade formal”, e do seu lugar de trabalho, desperdiçando mais tempo da sua vida com o transporte, falhas no sistema educacional e na saúde. Fatos tais que na era digital são mais facilmente compartilhados.

Todas estas queixas deixaram transparecer a crise que na qual se encontra a democracia representativa e o modelo de partidos que se têm hoje no Brasil, o descontentamento com as falhas atingiu tal proporção jamais vista neste país em relação a este modelo político. No entanto o que se observou foram inúmeros descontentamentos, mas nenhuma proposta de solução, e uma nítida sensação de um esgotamento do status quo.

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3.

As tecnologias e as mobilizações no século XXI

Nesta seção vamos explorar as características das manifestações que ocorreram principalmente a partir de 2010, modelos de mobilizações que passaram a apresentar algumas propriedades específicas diferente das que ocorriam até então.

As mobilizações e manifestações contemporâneas se articulam por meio das redes sociais, acessadas através das novas tecnologias sociais digitais na internet, e que tem como principal ferramenta de acesso os celulares. Os ativistas são recrutados no estilo ad hoc, ou seja, neste caso os ativistas são diferentes dos militantes que fazem parte dos movimentos sociais, nem sempre partilham de ideologias políticas, e não estão ligados ou conectados a grupos determinados. Os grupos que compõe estas ações possuem grande visibilidade e divulgação midiática, no entanto são organizados por pessoas que não possuem conhecimento aprofundado da política tradicional, nem enraizamento ideológico. As marchas ou mobilizações que são organizadas passam a atrair vários tipos de protestos sociais.

Marchas, manifestações e ocupações na atualidade são promovidas por coletivos organizados que estruturam, convocam/convidam e organizam-se on-line, por meio das redes sociais. A participação nos eventos via agregação ad hoc. De simpatizantes da causa, os sujeitos que atendem às chamadas para os atos de protesto poderão se tornar ativistas de um novo movimento social. A sensibilização inicial é uma causa, vista como um problema social [...]. As manifestações e os atos são o chamariz que poderá transformar-se em motivação prioritária na vida dos sujeitos mobilizados. E o movimento ganha novos ativistas (Gohn, 2014, p.21).

Essas mobilizações e outras atividades que venham a ocorrer pode ser o inicio de um novo movimento social, ou a oportunidade de se adquirir o interesse para um entendimento político mais profundo. Tais atos tem a tendência de ocorrerem em lugares como avenidas, ruas, praças e parques. David Harvey (2012, p. 61) chama esses episódios de “união dos corpos em espaço público”, para Gohn (2014, p.23) essa junção de corpos no mesmo espaço é muito parecida com a internet, pois estas ações se desenvolvem sem um líder, e de forma imprevisível.

Dentro destes movimentos não é possível notar a presença de estratégias, programas, ou teorias definidas, como também as estruturas político-partidárias ainda que presente têm pouca influência, e muitas das vezes passam até mesmo a

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 111 de 243 serem rejeitadas (Gohn,2014, p. 75)

Já em relação aos movimentos sociais que surgiram nos últimos anos, Castells (2013) os classifica como “conectados em redes”, principalmente pelo uso que fazem das redes de comunicação como a internet. Tendo em si algumas características em comum. Estão conectados em redes de múltiplas maneiras, utilizando a internet e os celulares; através de redes on-line e off-line, utilizando redes já existentes internas ao movimento, redes com outros movimentos, e estão em contato com a mídia e também com a sociedade como um todo. A tecnologia se instala como “plataforma para essa prática continuada” (Castells, 2013, p.160), que está apta a seguir os rumos das possíveis mudanças do movimento. Castells define que além do espaço já definido em ocupações e manifestações existe ainda o “espaço livre da internet”, no sentido em que por estarem conectados em redes, os indivíduos que compõem tais movimentos, não precisam ter um lugar físico para coordenar ou deliberar, nem mesmo ter um representante em específico, demonstrando um forma de organização descentralizada. Este tipo de conexão ainda permite a maior segurança em relação ao tipo de organização totalmente física, pois as chances de ameaça e repressão são diminuídas. “A conexão em rede como modo de vida do movimento protege-o tanto dos adversários quanto dos próprios perigos internos representados pela burocratização e pela manipulação” (Castells, 2013, p.160).

No entanto além do espaço urbano e o cibernético, existe um terceiro espaço o qual Castells denomina de “espaço da autonomia”, pois a autonomia se faz presente no espaço das redes, facilitando a organização e a comunicação, com intuito transformador. Esses movimentos se apresentam ainda como locais e globais, pois além do seu espaço, problema e público específico, estão conectados ao mundo todo, e utilizam-se disso para observarem e se inspirarem em outras experiências. Ele também caracteriza esse tipo de movimentos como “virais”, pelo fato de que estas mobilizações estão ocorrendo em vários lugares, e que passam “de um país para outro, de uma cidade para outra, de uma instituição para outra” (Castells, 2013, p. 162). Essa contaminação seria a de esperança de mudança, pois observar a luta de outros cidadãos mesmo em contextos diferentes traz inspiração para lidar com problemas locais.

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 112 de 243 Outras características dessas mobilizações atuais, são ausência programática, apenas presentes em algumas exceções como em países que vivem sob ditaduras, mas em geral apresentam muitas e variadas demandas, e se apresentam por múltiplas razões, são pontos que inviabilizam uma liderança; pois o companheirismo deste grupo é conquistado para o protesto ou deliberação em momentos e com objetivos específicos, e não para elaborar projetos ou programas, sendo este ponto tanto positivo como negativo, pois ao mesmo momento que consegue reunir muitas pessoas, não se tem um objetivo determinado.

4.

Os novos movimentos sociais

A teoria dos Novos Movimentos Sociais (NMS) surge com o intuito de analisar os movimentos que passaram a ocorrer na Europa a partir da década de 1960. Fazem também uma crítica as teorias baseadas na lógica racional e estratégica dos atores. Os principais pensadores que participaram da criação das características gerais desta corrente são: Touraine, Offe, Melucci, Laclau e Mouffe, entre outros, que desenvolvem esquemas que buscam interpretar a cultura, a ideologia, as lutas sociais do cotidiano, a solidariedade e a identidade criadas pelos grupos (Gohn, 2000, p.121)

Um dos conceitos que nos interessa dentro desta teoria é o de “ação coletiva” construída a partir de dois níveis: uma dimensão manifesta e outra latente, a primeira dimensão estaria representada em greves, competições entre outros; e a segunda que se apresenta de forma menos visível, faz parte da comunicação entre os atores e grupos da vida cotidiana e são essenciais para a continuidade da participação destes. Esta corrente ainda traz a ideia de que os movimentos sociais buscam promover mudanças tanto institucionais como culturais, e considera a identidade coletiva como um dos pontos cruciais nesta análise (Gohn, 2000, p.80).

Na construção da ação coletiva, está presente o fenômeno denominado de

frame, em relação a este conceito dentro da análise dos movimentos sociais os

autores que mais contribuíram foram Snow (1986) e Snow e Benford (1988,1992), segundo Gohn estes autores desenvolveram o conceito de frame;

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 113 de 243 [...] como um esquema interpretativo desenvolvido por coletividades para entender o mundo, e o utilizaram para identificação das estratégias pelas quais os ativistas de uma organização de movimentos sociais vinculam seus esquemas de interpretação a existência de outros frames na sociedade, espécie de marcos referências e estratégicos e significativos (Gohn, 2000, p. 88).

Como exemplificação para o conceito Gohn cita o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, que ocorreram na década de 1960, e se pôs como um

frame, dos direitos dos negros, da discriminação dentro das instituições e das leis.

No entanto está já era uma luta histórica, mas só entre as décadas de 50 e 60 foram estabelecidas como frames, pois a partir desta época passou-se a articular dentre a realidade da comunidade negra americana aspectos culturais específicos, e aspectos da cultura americana em geral, como o desejo de liberdade, e um dos marcos do movimento foi a frase de Martin Luther King “Eu tenho um sonho”, que se liga a ideologia americana de “fazer” a América, da construção da nação democrática e igualitária como está especificado na constituição. (Gohn, 2000, p. 89).

Deste modo são considerados frames ações que passam a incorporar “crenças e símbolos preexistentes”, pois movimentos ou ações coletivas passam a se amparar, como também se legitimar por outros eventos. Os frames possuem três funções dentro da ação coletiva: a demarcação, a atribuição e a articulação. A demarcação seria a chamada de atenção para determinado problema ou injustiça; a atribuição seria a explicação das causas de tal injustiça e a propostas de soluções, e a articulação é a vinculação de várias experiências, dando uma visão mais ampla de determinado contexto.

Os frames possuem uma natureza dual: os indivíduos de um grupo são orientados por eles, que dão e extraem sentido dos eventos ocorridos. Mas fornecem também instrumentais para a mobilização de outros indivíduos e para o planejamento de outros eventos (Gohn, 2000, p.91).

Deste modo pode entender-se o conceito de frame também como parte de um processo cíclico, sendo “Ele o produto desta realidade, é criado e recriado sistematicamente e estrategicamente” (Gohn, 2000, p. 91).

Ainda outro conceito que existe a partir do frame, e que nos é interessante é o de “ciclos de protesto” desenvolvido por Tarrow; que se mostra relevante no sentido em que traz uma compreensão para análise do processo político, caracterizado

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 114 de 243 como conflitos e protestos que se difundem dos grandes centros para as áreas pequenas, como áreas rurais e periféricas. “Eles produzem e transformam símbolos,

frames de significados e ideologias para justificar e dignificar ações coletivas e

ajudar os movimentos a mobilizar os seguidores”. (Tarrow, 1994, p. 17 apud Gohn, 2000, p. 97).

Dentre os momentos de ciclos de protestos, o controle sobre ele não esta em uma organização apenas, mas distribuída entre várias estratégias, e possui várias mobilizações sociais espontâneas. Este momento também influência o surgimento de novas organizações e movimentos sociais. Em meio as várias organizações e mobilizações presentes os resultados e estratégias são articulados em meio à antigas e novas organizações que surgem neste período, seus discursos sofrem então um certo ajuste; sem ressaltar as diferenças entre si. Após o momento de ápice esses grupos divergentes podem competir entre si por recursos, e por defesas de posição entre outas coisas.

Ainda na corrente de NMS, Melucci (1996) reelabora a teoria da ação social, que parte da teoria da ação coletiva, pois a considera como uma das principais bases para o estudo dos movimentos sociais. Deste modo ele a define como “um conjunto de práticas sociais que envolvem simultaneamente certo número de indivíduos ou grupos que apresentam características morfológicas similares em contiguidade de tempo e espaço, implicando um campo de relacionamentos sociais e capacidade das pessoas de incluir o sentido do que estão fazendo” (Melucci, 1996, p. 20; apud Gohn, 2000, p.154). Para Melucci a ação coletiva seria a união de vários tipos de conflitos, e que se baseiam no comportamento de seus atores, exemplos destas ações, seriam as revoluções, o comportamento das multidões entre outros.

Outro ponto a ser ressaltado na teoria desenvolvida por Melucci é em relação aos iniciadores das ações, que para ele não seriam em si os marginalizados, mas sim atores com uma experiência anterior. Ou seja, os primeiros a levantarem-se em uma situação de opressão não são os oprimidos, “mas os que experimentam uma contradição intolerável entre a identidade coletiva existente e as novas relações sociais impostas pela mudança.” (Gohn, 2000, p. 156). Para Melucci a participação destes atores se da principalmente pela experiência que carregam, pois já conhecem na prática modelos de luta, já possuem líderes e organização, também

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 115 de 243 partilham de redes de comunicação que utilizam para veicular informações.

Deste modo os atores coletivos, vão sendo criados ao longo do processo de atividades, a sua formação se da a partir de características que incorporam como definidores de suas ações, o ator individual passa a ser um ator coletivo; dentro do processo de mobilização social passa à ter uma nova identidade que não pertence apenas a si, mas ao coletivo em que está inserido.

5.

A participação massiva nas Manifestações de Junho: frames,

ciclo de protesto e redes de mobilização

Nesta parte do texto retomaremos alguns conceitos discutidos na secção acima. O primeiro deles seria o frame, que funciona como um meio interpretativo construído pela coletividade, para desenvolver estratégias, através das quais os ativistas pautem suas interpretações de outros frames dentro da sociedade, servindo como quadros de referência, através de experiências passadas, que passam a fornecer estratégias, que fazer parte de um conjunto de representações que expressem determinado significado.

Traçamos uma relação de frames entre as jornadas de junho principalmente a partir do segundo momento, no qual as manifestações que se iniciaram pela tarifa do transporte passam a dividir o espaço com inúmeras pautas, e questões como a corrupção tomam o foco, as manifestações passam a ter um número exorbitante de pessoas é a partir deste momento que observamos a relação com o movimento “caras pintadas”, que pediu o impeachment do Presidente Collor em 1992, tal movimento foi marcado pelo repudio a corrupção e o apartidarismo. Foi composto principalmente por jovens e estudantes de classe média. Esse episódio teve importância como um modelo de ação, de como a população mobilizada conseguiu obter os resultados desejados, após expressar suas vontades nas ruas.

Algumas questões ainda que em contextos diferentes foram as mesmas, como o apartidarismo e a busca de punição para políticos corruptos, nas mobilizações de junho houve a expulsão de pessoas que foram identificados como pertencentes a partidos de esquerda, sindicatos entre outros. Observa-se também

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 116 de 243 pedido de ética na política, um basta à corrupção, ao desvio de verbas públicas que acabam prejudicando muitos serviços públicos como a saúde e a educação.

Em ambas as manifestações descritas houve o reconhecimento da população como um “nós” e sobre a classe política como “eles”, e se instaurou uma posição de “nós” sofremos por causa “deles” e não vamos mais participar passivamente deste quadro político.

Snow e Benford descrevem três funções dos frames presentes nas ações coletivas que são: demarcação, que seria a chamada de atenção para as injustiças cometidas contra uma classe, que nas jornadas são representadas pelos exemplos de má gestão dos governos federais, estaduais e municipais que atingem tanto as classes baixas, como também a classe média. O segundo ponto a atribuição; que seria a explicação das causas dos problemas em questão e a proposta de solução, as causas estariam principalmente na corrupção da classe política e a falta de seriedade em relação aos problemas públicos, e a solução seria o combate sério a eficiente a esses dois pontos. O terceiro é a articulação, a conexão de várias experiências formando uma visão ampla e externa, neste ponto tem-se a retomada da experiência descrita acima entre outras, e passam a incorporar símbolos e crenças que já foram utilizados anteriormente. Como por exemplo as cores verde e amarelo, em 1992 foram usadas nos rostos pintados, e em 2013 tanto nos rostos, na vestimenta, cartazes e a bandeira nacional, como meio de se diferenciar dos “Black Bloc”, ou das bandeiras partidárias, e se colocar como o “povo”.

Houve também o processo em que as manifestações de Junho alcançaram várias cidades do país; a partir desta característica podemos retomar o conceito de “Ciclos de protesto”. O qual defende que as manifestações ocorrem em um primeiro momento em grandes centros e depois se espalham para as regiões com menos densidade de pessoas. Como ocorreu nestas mobilizações, tiveram seu início em São Paulo, logo em seguida no Rio de Janeiro, Porto Alegre entre outras capitais e instantaneamente passaram a ocorrer em cidades de médio e pequeno porte em todo o país.

Como ocorreu no decorrer das manifestações de junho, estas depois de seu inicio não estavam sob o comando de um movimento específico, ou organização, passou-se a organizar-se coletivamente através dos meios digitais, como criação de

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 117 de 243 eventos no Facebook, e mensagens de celular. Mesmo sem um controle específico sobre as manifestações, tanto os grupos que iniciaram como os outros que tiveram sua entrada mais recente tentam participar deste momento articuladamente. No entanto quando o pico da mobilização se passa, é mais fácil observar as discrepâncias entre os grupos que a compunham, e estes passam a disputar a legitimidade das ações anteriores, como também atores e recursos para as causas que defendem.

Já abordado anteriormente o processo de comunicação em redes que atualmente faz parte do processo de constituição das mobilizações e movimentos sociais, trazemos aqui algumas das redes de conexão que fizeram parte e contribuíram para com as jornadas de junho no Brasil. Um dos mais notados é o movimento “Anonymous”, um grupo que iniciou suas atividades em 2003, o qual tinha como meio de debate um Chat on-line, em meio aos militantes deste movimento se destacam alguns Hackers com conhecimentos avançados em programação. Entre as suas ações mais conhecidas estão as de 2010, quando se reuniram on-line para derrubar sistemas da Mastercard, Visa e PayPal pois estas empresas teriam aderido a pressão contra a WikiLeaks e ao seu criador. (Gohn, 2014, p. 35). Estiveram também como apoiadores e atuantes dentro das mobilizações intituladas “Occupy Wall Street” que ocorreram em vários cidades dos Estados Unidos e se espalharam para países da América Latina e Europa no ano de 2011 e 2012, e que tinham como slogans “ Injustiças perpetradas por 1% da população, afetam os outros 99%, nós”; se colocavam contra as elites políticas e econômicas, não precisamente contra as instituições. Protestaram também a favor da Primavera Árabe, suas atividades foram marcadas em sites como o da Bolsa de Valores da Tunísia.

No Brasil diante das manifestações de 2013, o que mais ficou conhecido e relacionando ao grupo, foi a utilização de mascaras que remetem à personagem do romance “V de Vingança”, no qual o herói mascarado pretende explodir o parlamento inglês. No entanto o movimento Anonymous teve uma participação fundamental nesse processo, participando como ativistas nas mídias sociais, divulgando informações e articulando círculos de solidariedade a elas, por mais que os manifestantes que estivessem nas ruas não percebessem a sua importância.

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 118 de 243 Entre as redes dos movimentos locais pode-se perceber a presença de movimentos sociais de esquerda que participaram de início pela causa levantada pelo MPL em relação a tarifa do transporte público, essas conexões se deram de várias formas, mas principalmente pelos meios tecnológicos, relações que proporcionaram o grande número de pessoas principalmente no dia 13 de junho, a partir deste dia, observa-se mudança no discurso da mídia, deste modo as redes que conectaram e levaram pessoas as ruas por essas pautas, estavam sendo sobrepostas por outros meios mobilizadores que não faziam parte deste contexto até então, como o discurso midiático através da televisão, rádio, meio impresso e digital, como também por outros atores que não faziam parte do MPL e de nenhum outro movimento social, mas que também se utilizaram do Facebook e Twitter para organizar atos de manifestação.

6.

Considerações

Pode-se observar ao longo deste trabalho que as Manifestações de Junho de 2013 no Brasil, em sua curta trajetória apresentou grandes divergências de pautas e estratégias de protestos, mas ao mesmo tempo, conseguiu influenciar parte dos brasileiros a se posicionarem sobre questões sociais e políticas, ainda que em muitos casos de forma superficial.

Entre os principais meios impulsionadores das grandes proporções destas mobilizações sociais estiveram os meios de comunicação, como a televisão e a internet, através da imprensa tradicional e da sua mudança discursiva ao longo dos protestos, que depois de atacar os manifestantes, passou a romantizar e popularizar suas ações. A recorrência como pauta dentro dos noticiários fez crescer o interesse do público rapidamente, esse processo se deu em conjunto com os meios digitais, como Facebook e Twitter que divulgavam fotos, informações e chamadas para a participação dos protestos, e em pouco tempo os observadores passaram rapidamente a agentes dos processos de mobilizações em várias localidades dentro e fora do país.

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 119 de 243 fortalecedores deste processo são os frames que junto com as redes proporcionaram modelos e métodos de ação, e através das redes se formou os ciclos de protestos, mobilizações que passaram a acontecer no interior de várias cidades do país, engrossando as mobilizações e aumentando seu poder perante o Estado. Ainda que atrapalhado pelo turbilhão de vozes dissonantes, a população que por muito tempo passou a impressão de que suas vozes eram praticamente imperceptíveis e desinteressadas se mostrou impulsionada pela esperança de mudança.

O debate sobre o fenômeno empírico e a teoria produzida sobre os movimentos sociais sinaliza, mesmo que timidamente, possibilidades de avanço, tanto das teorias, quando dos movimentos analisados. As relações estabelecidas no presente artigo pretendem esgotar as categorias analíticas do debate, mas detém indicativos significativos a partir do trabalho realizado. Foram sinalizados limites das manifestações de junho, tais como a diversidade de demandas, a ausência de um objetivo concreto em tal diversidade. A resposta imediata do Estado para a manifestação se deu na reversão do aumento da passagem em diversas localidades brasileiras e ainda implantação de políticas de saúde, como o Programa Mais Médicos. Tal fato sinaliza que a organização popular massiva, ainda que detenha os limites apresentados, é um fato social que detém capacidade de alterar a condução do processo político.

Do ponto de vista teórico, é emblemática a ausência de uma categoria analítica tanto nos debates teóricos realizados, aqui e na maioria das análises utilizadas como referência, e também na prática das manifestações observadas, tal categoria é “classe”. Não houve qualquer elemento catalisador no processo das manifestações, uma identificação unificadora dos sujeitos envolvidos nos atos. Ao contrário, como demonstrado no texto, houve a prática de categorias como a mobilização social, ou ainda, o protagonismo de ferramentas de articulação, como a tecnologia, as redes sociais e outros aparatos de comunicação. A questão que fica a ser desvendada, tanto para analistas quando para os sujeitos envolvidos em mobilização sociais, são essas as “novas categorias” para os movimentos sociais? Esperamos que não, pois as mesmas não são suficientes para a manutenção de um movimento social. O que não significa que os movimentos sociais não necessitam

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ISSN: 16799844 - InterSciencePlace - Revista Científica Internacional Páginas 120 de 243 incorporá-las em suas estratégias de organização.

Referências

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Sobre os autores:

Vanessa Cristhina Zorek Daniel - Possui graduação em Letras Português/Italiano pela Unioeste e Ciência Política e Sociologia pela Unila, mestranda em Sociedade, Cultura e Fronteiras.

Fernando José Martins - Possui graduação em pedagogia e mestrado e doutorado em Educação, Docente do Programa de Pós-Graduação Sociedade, Cultura e Fronteiras, membro do grupo de pesquisa Estado, Sociedade, Trabalho e Educação da Unioeste.

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