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LIVRO Psicologia social o homem em movimento LANE Silvia CODO Wanderley (Orgs)

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Academic year: 2019

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(1)

A lb e rto A . A n d e ry

A lfre d o N a ffa h N e to

A n to n io da C. C iam p a

Iray C aro ne

J o sé C. Libâneo

J o s é R. T. Reis

M a rília G. d e M ira n d a

S ilvia T. M . Lane (org.)

W a n d e rle y C o d o (o rg .)

PSICOLOGIA SOCIAL

o h o m e m e m m o v im e n to

8

?

e d iç ã o

(2)

Coleçào P rim eiros Passos

O Discurso da Homossexualidade Feminina

Dcnise Portinari

Evas, Marias, Liliths... As voltes do fem inino Vera Paiva

Filosofia e Comportamento Bento Prado Jr.

Freud, Pensador da.Cultura Renato Mczan

O Mínimo Eu Christopher Lasch

Sigmund Freud e o Gabinete do Dr. Lacan

Peter Gay e outros

Tempo do Desejo So ciologia e p sica n á lise Heloísa F ern an d es (org)

O que é Loucura Joio Frayzt" Pereira

O que é Psicanálise Fabio Herrmann

O que é Psicanálise 2 ? visão

Oscar Cesarotto/ Márcio P .S . Leite

O que é Psicologia Maria Luiza S . Teles

O que é Psicologia Comunitária Eduardo M. Vasconcelos

O que é Psicologia Social Silvia T. Maurer Lane

O que é Psicodrama Wilsçn Csutcljadc Almeida

O que é Psico terapia leda Porchac

(3)

SI LVI A T. M. LANE

WAND ERLEY CODO (ORGS.)

PSICOLOGIA SOCIAL

O H O M E M E M M O V I M E N T O

&? edição

(4)

Copyright © Dos Autores, 1984

Nenhum a parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem

autorização prévia do editor.

ISBN: 85-11-15023-4 Primeira edição, 1984

S? edição, 1989

Revisão: José W. S. Moraes e M ansueto Bem ardi Capa: Ettore Bottini

P

Rua da Consolação, 2697

01416 São Paulo SP

Fone (OU) 280-1222 - Telex: 1133271 DBLM BR

(5)

Indice

A presentação — S ilv ia T . M . L a n e ... 7

PARTE 1 INTRODUÇÃO

A Psicologia Social e um a nova concepção do homem para a Psicologia — S ilv ia T. M . L a n e ... 10 A dialética marxista: um a leitura epistem ológica — Ira y

C a r o n e ... 20

PARTE 2

AS CATEG ORIAS FU N D A M EN TA IS D A PSICOLOGIA SOCIAL

lin g u a g em , pensam ento e representações sociais — S ilv ia T. M . L a n e ... ... 32 C onsciência/alienação: a ideologia no nível individual —

(6)

6 INDICE

PARTE 3

O IN D IV ÍD U O E AS INSTITUIÇÕES

O processo grupai — S ilv ia T . M . L a n e ... 78 Fam ília, em oção e ideologia — J o sé R o b e r to T o z o n i R eis . . . 99 O processo de socialização na escola: a evolução da condição

social da criança — M a rília G o u v ea d e M ir a n d a ... 125 Relações de trabalho e transform ação social — W a n d e rle y

C o d o ... 136

PA RTE 4

A PRÂXIS D O PSICÓLOGO

Psicologia educacional: um a avaliação crítica — J o sé C a rlo s L ib â n e o ... 154 O psicólogo clinico — A lfr e d o N a ffa h N e to ... 181 O papel do psicólogo na organização industrial (notas sobre

(7)

Apresentação.

Q uando publicam os O q u e é P s ic o lo g ia S o c ia l o fizem os dentro das propostas da Coleção Primeiros Passos, procurando sintetizar a produção e discussão de tem as que o programa de pós-G raduação em Psicologia Social da PUC-SP vinha desen­ volvendo.

Para nossa surpresa, o livro passou a ser leitura constante de alunos de cursos universitários em todo o país, indicando a necessidade de um conhecim ento alternativo em Psicologia Social. Este livro se propõe a atender a essa necessidade com artigos de vários autores a b o n a n d o os tópicos que julgam os fundam ental serem discutidos em disciplinas de Psicologia Social que com põem o currículo de Form ação Geral do Psicólogo, assim com o de outros cursos que necessitem de conhecim entos nessa área.

A Introdução propõe uma outra concepção de hom em e suas im plicações epistem ológicas; a Parte 2 analisa as categorias fun­ dam entais para a Psicologia Social, enquanto a Parte 3 aprofunda a análise da relação indivíduo-sociedade, pela mediação grupai e institucional. N a Parte 4 os artigos analisam com o, a partir desta concepção de hom em , é possível rever a prática do psicólogo nas suas diversas especialidades

Esperam os assim contribuir para um a psicologia voltada para os problem as concretos de nossa realidade, tornando o profissional . um agente de transformação na sociedade brasileira.

(8)

1

Parte 1

(9)

A Psicologia Social

e uma nova concepção

do homem para

a Psicologia

S ilvia T a tia n a M a u rer L a n e

“Q u a se n e n h u m a ação h u m a n a te m p o r su jeito u m in d i­ víd u o isolado. 0 sujeito da ação é u m g r u p o , u m 'Nós', m e s m o se a e stru tu ra a tu a i da so c ie d a d e, p e lo fe n ô m e n o d a reifiçaçao, te n d e a en co b rir esse ‘N ó s ’ e a tra n sfo rm á -lo n u m a som a d e vãrias in d iv id u a lid a d e s d istin ta s e fe c h a d a s u m a s às outras. ” L ucien G o ld m an , 1947.

À relação entre Psicologia e Psicologia Social deve ser e n te n ­ d id a em sua perspectiva h istórica, quando^ n a d éca d a de 50 se iniciam sistem atizações em term os de Psicologia Social, d en tro de d u a s tendências p red o m in an te s: u m a, n a tra d iç ã o p ra g m á tic a dos E sta d o s U nidos, visando a lte ra r e /o u c ria r a titu d e s, in terferir nas relações grupais p a ra harm o n izá-las e assim g a ra n tir a p ro d u ti­ vid ad e d o g rupo — é u m a a tu ação que se c a ra c te riz a p ela euforia de u m a intervenção q ue m in im izaria conflitos, to rn a n d o os hom ens “felizes” recorstrutores d a h u m a n id a d e que acabava de sair da d e stru iç ã o de um a II G u e rra M u n d ial. A o u tra tendência, que ta m b é m p ro cu ra conhecim entos que evitem novas catástrofes m u n d ia is, segue a tra d iç ã o filosófica eu ro p éia, com raízes n a fenom enologia, b u sc a n d o m odelos científicos totalizan tes, com o Lew in e su a teoria de C am po.

(10)

INTRODUÇÃO 11

conseg u ia intervir nem explicar, m u ito m en o s prever co m p o rta­ m e n to s sociais. As réplicas de pesquisas e experim entos não p e rm i­ tia m fo rm u lar leis, os estudos in te rc u ltu ra is ap o n tav am p a ra u m a co m p lex id ad e de variáveis que desafiavam os pesquisadores e estatístico s — é o re to rn o às análises fa to ria is e novas técnicas de an álise de m u ltiv ariân cia, que afirm am so b re relações existentes, m as n a d a em term os de “ com o" e “ p o r q u ê” ,

N a F ra n ç a , a trad ição psicanalltica é re to m a d a com to d a a veem ência após o m ovim ento de 68, e sob sua ótica é feita u m a c rític a à psicologia social norte-am erican a com o um a ciência ideo­ lógica, re p ro d u to ra dos interesses da classe d o m in an te, e p ro d u to de condições históricas específicas, o que in v a lid a a transposição ta l e q u a l deste conhecim ento p a ra outros p aíses, em outras condições histórico-sociais. Esse m ovim ento tam bém tem suas repercussões na In g la te rra , onde Israel e T àjfell an alisam a “ crise1* sob o po n to de vista epistem ológico com os diferentes p ressupostos que em b a sa m o c o n h ecim en to científico — é a crítica ao positivism o, que em nom e d a objetividade p erde o ser hum ano.

N a A m érica L atin a, T erceiro M u n d o , d ep en d en te econôm ica e cu ltu ra lm e n te , a Psicologia Social oscila en tre o p rag m atism o n o rte-a m eric an o e a visão ab ran g en te de u m hom em q ue só e ra co m p re en d id o filosófica ou sociologicam ente — ou seja, um hom em a b s tra to . O s congressos in teram ericanos d e Psicologia são exce­ le n tes term ôm etros d e ssa oscilação e q u e culm inam em 1976 (M iam i), com críticas m ais sistem atizad as e novas p ropostas, p rin c ip a lm e n te pelo g ru p o da V enezuela, que se organiza n u m a A ssociação V enezuelana de Psicologia Sovial (A V E PSO ) coexistindo com a A ssociação L atino-A m ericana de Psicologia Social (A LA P- S O ). N essa ocasião, psicólogos brasileiro s ta m b é m faziam su as c rítica s, p ro c u ra n d o novos rum os p a ra u m a Psicologia Social q u e aten d esse à nossa realid ad e, Esses m ovim entos culm inam em 1979 (S IP — Lim a, Peru) com propostas co n cre tas de u m a Psicologia S ocial em bases m aterialista-h istó ricas e v o ltad as p a ra tra b a lh o s co m u n itário s, agora com a p articip a ção de psicólogos p eru an o s, m exicanos e outros.

(11)

12 SILVIA T . M . LANE

ocorre "dentro dele” , quando ele se defronta com estím ulos do m eio.

Porém o hom em fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza; o homem é cultura, é história. E ste hom em biológico não sobrevive por si e nem é um a espécie que se reproduz tal e qual, com variações decorrentes de clim a, alim entação, etc. O seu organism o é um a infra-estrutura que perm ite o desenvolvim ento de uma superes­ trutura que é social e , portanto, histórica. Esta desconsideração da Psicologia em geral, do ser hum ano com o produto histórico-social, é que a torna, se não inócua, um a ciência que reproduziu a id eologia dom inante de um a sociedade, quando descreve com por­ tam ento e baseada em freqüências tira conclusões sobre relações causais pela descrição pura e sim ples de com portam entos ocorrendo em situações dadas. N ão discutim os a validade das leis de aprendi­ zagem ; é indiscutível que o reforço aum enta a probabilidade da ocorrência do com portam ento, assim com o a punição extingue com portam entos, porém a questão que se coloca é por que se apreende certas coisas e outras são extintas, por que objetos são considerados reforçadores e outros punidores? Em outras palavras, em que condições sociais ocorre a aprendizagem e o que ela significa no conjunto das relações sociais que definem concretamente o indivíduo na sociedade em que ele vive.

O ser hum ano traz consigo um a dim ensão que não pode ser descartada, que é a sua condição social e histórica, sob o risco de term os um a visão distorcida (ideológica) de seu comportamento. U m outro ponto de desafio para a Psicologia Social se colocava diante dos conhecim entos desenvolvidos — sabíam os das deter­ m inações sociais e culturais de seu com portam ento, porém onde a criatividade, o poder de transform ação da sociedade por ele construída. Os determ inantes só nos ensinavam a reproduzir, com pequenas variações, as condições sociais nas quais o indivíduo vive.

A ideologia nas ciências humanas

(12)

INTRODUÇÃO

m

por um lado a psicanálise enfatizava a história do individiM^ a sociologia recuperava, através do m aterialism o histórico, a

espe­

cificidade de uma totalidade histórica concreta na análise de cadà sociedade. Portanto, caberia à Psicologia Social recuperar o indi-víduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade — apenas este conhecim ento nos permitiria com preender o hom em enquanto produtor da história.

Na m edida em que o conhecim ento positivista descrevia com portam entos restritos no espaço e no tem po, sem considerar a inter-relaçào infra e superestrutural, estes com portam entos, m e­ diados pelas instituições sociais, reproduziam a ideologia dom i­ nante, em termos de freqüência observada, levando a considerá-los com o “ naturais” e, m uitas rezes, "universais” . A ideologia, com o produto histórico que se cristaliza nas instituições, traz consigo um a concepção de homem necessária para reproduzir relações sociais, que por sua vez são fundam entais para a m anutenção das relações de produção da vida material da sociedade com o tal. Na m edida em que a história se produz dialeticam ente, cada sociedade, na organização da produção de sua vida m aterial, gera um a contra­ dição fundam ental, que ao ser superada produz um a nova socie­ dade, qualitativamente diferente da anterior. Porém , para que esta contradição não negue a todo mom ento a sociedade que se produz, é necessária a mediação ideológica, ou seja, valores, explicações tidas com o verdadeiras que reproduzam as relações sociais necessárias para a m anutenção das relações de produção.

D este modo, quando as ciências hum anas se atêm apenas na descrição, seja macro ou microssocial, das relações entre os hom ens e das instituições sociais, sem considerar a sociedade como produto histórico-dialético, elas não conseguem captar a m ediação ideo­ lógica e a reproduzem com o fatos inerentes à “natureza” do hom em . E a Psicologia não foi exceção, principalm ente, dada a sua origem biológica naturalista, onde o com portam ento hum ano decorre de um organism o fisiológico que responde a estím ulos. Lem bram os aqui W undt e seu laboratório, que, objetivando construir um a psicologia científica, que se diferenciasse da especu­ lação filosófica, se preocupa em descrever processos psicofisiológicos em term os de estím ulos e respostas, de causas-e-efeitos.

(13)

SILVIA T. M . LANE

sobftvivência da espécie, os psicólogos se esqueceram de que este hom em , junto com outros, ao transformar a natureza, se trans­ formava ao longo da história.

Com o exem plo, podem os citar Skinner, que, sem dúvida, causou um a revolução na Psicologia, m as as condições histórico-sociais que o cercam , im pediram -no de dar um outro salto quali­ tativo. A o superar o esquem a S-R, cham ando a atenção para a relação hom em -am biente, para o c o n tr o le que este ambiente exerce sobre o comportam ento; criticando o reducionism o biológico, perm itiu a Skinner ver o hom em com o produto das suas relações sociais, porém não chega a ver estas relações com o produzidas a partir da condição histórica de um a sociedade. Quando Skinner, através da análise experim ental do com portam ento, detecta os controles sutis que, através das instituições, os hom ens exercem uns sobre os outros, e define leis de aprendizagem — e não podem os negar que reforços e punições d e f a to controlam com portam entos — tem os um a descrição perfeita de um organism o que se transforma em função das conseqüências de sua ação, tam bém a análise do a u to c o n tr o le se aproxim a do que consideram os consciência de si e o c o n tr a c o n tr o le descreve ações de um indivíduo em processo de conscientização social. Skinner aponta para a com plexidade das relações sociais e as im plicações para a análise dos com portam entos envolvidos, desafiando os psicólogos para a elaboração de um a tecnologia de análise que dê conta desta com plexidade, enquanto contingências, presentes em com unidades. A história individual é considerada enquanto história social que antecede e sucede à história do Indivíduo. Nesta linha de raciocínio caberia questionar por que alguns com portam entos são reforçados e outros punidos dentro de um m esmo grupo social. Sem responder a estas questões, passam os a descrever o s ta tu s q u o com o im utável e, mesmo que­ rendo transformar o hom em , com o o próprio Skinner propõe, jam ais o conseguirem os num a dim ensão histórico-social.

(14)

INTRODUÇÃO

íê

criativo e produtivo, propõe uma “liderança democrática fefttt** com o form a de se chegar a esta relação grupai...

Tam bém a psicanálise, em suas várias tendências, enfrenta este problem a, desde as criticas de Politzer a Freud até as análises atuais dos franceses, que procuram fazer um a releitura da obra de Freud num a perspectiva histórico-social do ser hum ano.

Não negam os a psicobiologia nem as grandes contribuições da psiconeurologia. Afinal, elas descrevem a m aterialidade do orga­ nism o hum ano que se transforma através de sua própria atividade, m as elas pouco contribuem para entenderm os o pensam ento hu­ m ano e que se desenvolve através das relações entre os hom ens, para com preendermos o hom em criativo, transformador — sujeito da história social do seu grupo.

Se a Psicologia apenas descrever o que -é observado ou enfocar o Indivíduo com o causa e efeito de sua individualidade, ela terá um a ação conservadora, estatizante — ideológica — quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o homem não for visto com o produto e produtor, não só de sua história pessoal m as da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para im pedir a em ergência das contradições e a trans­ form ação social.

Á psicologia social

e

o materialismo histórico

Se o positivismo, ao enfrentar a contradição entre objetividade e subjetividade, perdeu o ser hum ano, produto e produtor da H istória, se tornou necessário recuperar o s u b je tiv is m o enquanto m a te r ia lid a d e p s ic o ló g ic a . A dualidade físico X psíquico im plica um a concepção idealista do ser hum ano, n a velha tradição animíp-tica da psicologia, ou então caímos num organicism o onde hom em e com putador são im agem e semelhança um do outro. Nenhum a das duas tendências dá conta de explicar o hom em criativo e trans­ form ador. T om ouse necessária um a nova dim ensão espaçotem -poral para se apreender o Indivíduo com o um ser concreto, m anifestação de um a totalidade histórico-social — daí a procura de um a psicologia social que partisse da m aterialidade histórica produzida por e produtora de homens.

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16 SILVIA T . M . LANE

trução dç um conhecim ento que atenda à realidade social e ao cotidiano de cada indivíduo e que perm ita um a intervenção efetiva na rede de relações sociais que define cada indivíduo — objeto da Psicologia Social.

D as críticas feitas detectam os que definições, conceitos cons-tructos que geram teorias abstratas em nada contribuíram para um a prática psicossocial. Se nossa m eta é atingir o indivíduo concreto, m anifestação de um a totalidade histórico-social, tem os de partir do em pírico (que o positivism o tão bem nos ensinou a descrever) e, através de análises sucessivas nos aprofundarm os, além do apa­ rente, em direção a esse concreto, e para tanto necessitam os de c a te g o ria s que a partir do em pírico (im obilizado pela descrição) nos levem ao processo subjacente e à real com preensão do Indivíduo estudado.

Tam bém a partir de críticas à psicologia social “tradicional" pudem os perceber dois fatos fundam entais para o conhecim ento do Indivíduo: 1) o hom em não sobrevive a não ser em relação com outros hom ens, portanto a d ic o to m ia Indivíduo X Grupo é falsa — desde o seu nascim ento (m esm o antes) o hom em está inserido num grupo social — ; 2) a sua participação, as suas ações, por estar em grupo, dependem fundam entalm ente da aquisição da lin g u a g e m que preexiste ao indivíduo com o código produzido historicamente pela sua sociedade (la n g u e ), mas que ele apreende na sua relação específica com outros indivíduos (p a r o le ), Se a língua traz em seu código significados, para o indivíduo as palavras terão um sentido pessoal decorrente da relação entre pensam ento e ação, m ediadas pelos outros significativos.

O resgate destes dois fatos em píricos perm ite ao psicólogo social se aprofundar n a análise do Indivíduo concreto, considerando a im bricação entre relações grupais, linguagem , pensam ento e ações na definição de características fundam entais para a análise psicos­ social.

A ssim , a a tiv id a d e im plica ações encadeadas, junto com outros indivíduos, para a satisfação de um a necessidade comum. Para haver este encadeam ento é necessária a com unicação (linguagem ) assim com o um plano de ação (pensam ento), que por sua vez decorre de atividades anteriormente desenvolvidas.

(16)

INTRODUÇÃO 17

social, e nesta reflexão se processa a c o n sc iê n c ia do indivíduo, que é indissociável enquanto de si e social.

Leontiev inclui ainda a p e r s o n a lid a d e com o categoria, decor­ rente do princípio de que o hom em , ao agir, transform ando o seu m eio se transforma, criando características próprias que se tornam esperadas pelo seu grupo no desenvolver de suas atividades e de suas relações com outros indivíduos.

Caberia ainda, n a especificidade psicossocial, um a análise das r e la ç õ e s g r u p a is enquanto mediadas pelas in s titu iç õ e s s o c ia is e com o tal exercendo um a mediação ideológica na atribuição de papéis sociais e representações decorrentes de atividades e relações sociais tidas com o “ adequadas, corretas, esperadas” , etc.

A consciência da reprodução ideológica inerente aos papéis socialm ente definidos p e r m i te aos indivíduos no grupo superarem suas individualidades e se conscientizarem das condições históricas com uns aos mem bros do grupo, levando-os a um processo de identificação e de atividades conjuntas que caracterizam o grupo com o unidade. Este processo pode ocorrer individualm ente e cons­ tataríam os o desenvolvim ento de um a consciência de si idêntica à consciência social. Na m edida em que o processo é grupai, ou seja, ocorre com todos os m em bros, ele tende a caracterizar o desen­ volvimento de um a consciência de classe, quando o grupo se percebe inserido no processo de produção material de sua vida e percebe as contradições geradas historicam ente, levando-o a atividades que visam à superação das contradições presentes no seu cotidiano, tom a-se um grupo-sujeito da transform ação histórico-social.

D esta forma, a análise do processo grupai nos perm ite captar a dialética indivíduo-grupo, onde a dupla negação caracteriza a superação da contradição existente e quando o indivíduo e grupo se tornam agentes da história social, m em bros indissociáveis da totalidade histórica que os produziu e a qual eles transformam pôr suas atividades tam bém indissociáveis.

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18 SILVIA T. M . LANE

indivíduo, d o g ru p o , d a sociedade e da p ro d u ç ã o de s u a existência m a te ria l e c o n c re ta .

Decorrências metodológicas:

a pesqufea-ação enquanto práxis

A p a r tir de u m enfoque fu n d a m e n ta lm e n te interdisciplinary o p e sq u isa d o r-p ro d u to -h istó ric o p a rte de u m a visão de m u n d o e do ho m em n ece ssariam en te c o m p ro m e tid a e n e ste sen tid o n ão h á p o ssib ilid ad e de se g e ra r u m co n h ec im e n to “ n e u tro ” , n em u m co n h ec im e n to do o u tro qu e n ão in te rfira n a s u a existência. P esq u i­ sa d o r e p e sq u isa d o se definem p o r relações sociais q u e ta n to podem ser re p ro d u to ra s com o p o d e m ser tra n sfo rm a d o ra s d a s condições sociais o n d e am b o s se in serem ; d esta fo rm a, conscien tes ou n ão , sem pre a p e sq u isa im p lica intervenção, açã o de u n s so b re outros* A p esq u isa em si é u m a p rá tic a social o n d e p e sq u isa d o r e pesq u isad o se a p re s e n ta m e n q u a n to subjetividades q u e se m a terializam n as relações desenvolvidas, e o n d e os p apéis se confundem e se a lte rn a m , am b o s objetos de análises e p o rta n to descritos e m p iri­ c a m e n te . E s ta rela ção — ob jeto de análise — é c a p ta d a em seu m ovim ento, o q u e im plica, n ece ssariam en te, p esq u isa-aç ão .

P o r o u tro la d o , as condições histó ricas sociais d o pesqu isad o r e de p e sq u isa d o s q u e resp o n d em pelas relações sociais q u e os id e n tificam com o indivíduos p e rm ite m a a c u m u la ç ã o de conheci­ m e n to s n a m e d id a em q u e as condições são a s m e sm as, o n d e as especificidades in d iv id u ais ap o n ta m p a ra o co m u m g ru p a i e social, ou seja, p a r a o processo histórico, que, c a p ta d o , nos pro p icia a c o m p re e n sã o do indiv íd u o com o m a n ifestaç ão d a to ta lid a d e social, ou seja, 0 In d iv íd u o concreto.

(18)

IN TROD UÇÃO 19

Toda a psicologia é social

(19)

A dialética marxista:

uma leitura epistemológica*

j r a y Ç c fro n e

Introdução

H á algum as p ista s e indicações no p refácio da p rim eira edição a le m ã de O C a p ita lt bem com o no p osfácio d a seg u n d a ed ição ale m ã , qu e podem ser de ex tre m a u tilid a d e p a ra a com p reen são ep istem ológica do m éto d o dialético ou m é to d o de exposição ta l com o e stá objetivado n o desenvolvim ento d a o b ra m en cio n ad a.

P reten d em o s a ssin a la r essas p ista s a fim de e m p re en d er u m a le itu ra do m étodo de exposição no p rim e iro c a p ítu lo de O C a p ita l, qu e tr a ta da M ercadoria.

C om ecem os pelo p refácio da p rim e ira e d iç ã o alem à de 1867. M arx diz q u al é o objeto de investigação d a o b ra: " O regim e de p ro d u ç ã o ca p ita lista e as relações de p ro d u ç ã o e de circulação q u e a ele co rresp o n d em * ',1 ou m ais precisam ente» "as leis n a tu ra is d e p ro d u ç ã o c a p ita lista ... q u e o p e ra m e se im põem com fé rre a n ec e ssid a d e” .2

O universo de p e sq u isa , to m a d o com o ilu stração , é o c a p i­ ta lism o inglês do século p a ssa d o . O p o n to de p a rtid a d a investigação

{*) Algumas colocações teóricas deste artigo foram baseadas na análise de Marcos Muller sobre o método de exposição em 0 Capita/.

(1) M arx, K .( O C apitaif I, vol. 1, trad. porl. Reginaldo Sant'Anna, 6? ed. Rio de Janeiro, CivilÍ28o Brasileira, 1980, p. 5.

(20)

IN TROD UÇÃO 21

te ó ric a é a M e rcad o ria, qu e corresponde ao cap ítu lo p rim eiro de O C a p ita l, e x a ta m e n te o q u e oferece m a io r d ificuldade à c o m ­ p re e n sã o do leitor.

O m étodo ou m o d o de tra ta r o objeto» segundo M arx, tem a n a lo g ia s com o m éto d o de p ro ced e r do b io lo g ista, o u m elhor, do a n a to m ista , bem com o com o m étodo do fisico, M as n ão equivale a n e n h u m dos dois, p o r c a u s a do objeto — a s fo rm as — econôm icas. M a rx fa la em “ a n á lise ” e “ cap a c id a d e de a b stra ç ã o ” com o m odos a d e q u a d o s de tra ta r cien tificam e n te as fo rm as econôm icas, refra- tá ria s à observação d ire ta ou observação in d ire ta com a ju d a de in stru m e n to s, ou m esm o de ex p erim en tação .

V ejam os a an alo g ia com a m an eira de p ro ced e r do biologista. O p re ssu p o sto da a n a lo g ia é o de qu e a sociedade b u rg u e sa se a sse m e lh a a um o rg an ism o e a m ercadoria equivale a u m a célu la ou fo rm a ele m e n ta r desse o rg an ism o .

N a analogia co m os pro ced im en to s ad o ta d o s pelo físico na b u s c a d as leis que re g u la m os processos d a n a tu re z a , M arx diz: “ O físico observa os processos d a N atu reza q u a n d o se m a n ifestam na fo rm a m a is cara cterística e e stão m ais livres de influências p e rtu r­ b a d o ra s , o u , q u a n d o possível, faz ele exp erim en to s q u e assegurem a o c o rrê n c ia do processo em su a p u re z a" . 3

P e la p rim eira a n a lo g ia tem o s de c o n sid e ra r a sociedade com o u m a to ta lid a d e tal co m o a to ta lid a d e o rg â n ic a , d o ta d a de leis e s tru tu ra is , especificidade e so lid aried ad e fu n cio n a l e n tre as p arte s; além disso, tal com o os organ ism o s vivos, a sociedade é p e n sa d a com o to ta lid a d e d o ta d a de h istó ria , que n asce e c a d u c a com o os seres vivos, isto é, n ão é im u táv el, sofre tran sfo rm açõ es.

P e la segunda a n a lo g ia tem os a razão p eia q u al o cap italism o d a In g la te rra foi to m a d o co m o u niverso de p esq u isa e caso e x e m p la r. S egundo M arx , o regim e de p ro d u ç ã o cap italista inglês esta v a m ais desenvolvido q u e n a A le m a n h a e o u tro s países e u ­ ro p eu s; a existência de u m a legislação fa b ril ate sta v a o seu g ra u de desenvolvim ento; n a A le m a n h a , as relações sociais c a p ita lista s e stav a m em co n tra d iç ã o com relações sociais deriv ad as de m odos de p ro d u ç ã o anteriores, o u seja, “ p e rtu rb a d a s ” e a p resen tan d o m a io r c o m p lex id a d e p a ra a an álise e a b stra ç ã o do q u e o capitalism o ing lês. A lém disso, diz M a rx , “ c o m p a ra d a co m a inglesa, é p re c á ria

(21)

» IRAYC A R O N E

» estatística social da Alem anha e dos dem ais países da Europa O cidental” ,4 o que perm ite maior conhecim ento factual da situação concreta de vida dos trabalhadores através dos informes dos inspe­ tores de fábricas, dos m édicos da Saúde Pública bem com o dos com issários que investigam a situação das m ulheres e crianças nas fábricas. Por últim o, na Inglaterra, “é palpável o processo revo­ lucionário” . 5

Ê evidente que M arx não identificou os seus procedimentos com os do físico e do biologista. Podem os inferir, entretanto, que o autor parte de um a perspectiva totalizadora na qual a sociedade burguesa é com preendida com o um sistem a social sujeito a trans­ form ações. Podem os inferir tam bém que em bora o capitalism o inglês seja considerado um caso exem plar do regime de produção capitalista, o objetivo da obra transcende os limites do próprio universo de pesquisa. Trata-se de com preender teoricam ente o que é o capital e não o capitalism o inglês do século passado. Ou melhor, u m é o , na m edida em que se realiza um a leitura essencial do que é o capital através de um a de suas concreções históricas. O capitalism o inglês, na sua singularidade, m aterializa as características univer­ sais do regime de produção capitalista, ou seja, as suas leis. Passem os agora para o posfácio da segunda edição alem ã de O C a p ita l, de 1873. O autor diz: “ O m étodo em pregado nesta obra, conform e dem onstram as intérpretações contraditórias, não foi bem com preendido” .6 A R é v u e P o s itiv is te afirm a que Marx trata a econom ia m etafisicam ente e que, ao m esm o tem po, se lim ita à análise crítica de um a situação dada, sem previsões para o futuro. Sieber parece tê-lo com preendido de form a diferente dos positi-vistaá: “ O m étodo de M arx é o dedutivo de toda a escola inglesa” ; 7 M . B lock diz que o m étodo é analítico; os críticos alemães afirmam que se trata de spfística hegeliana; um resenhista russo do periódico de São Petersburgo M e n sa g e ir o E u ro p e u pondera que é o “ m étodo de pesquisas rigorosamente realista” ,8 m as que lam entavelm ente o m étodo de exposição é “ dialético-alem ão” .9

(22)

INTRODUÇÃO 23

A distinção entre m é to d o d e p e s q u is a s e m é to d o d e e x p o s iç ã o feita pelo resenhista russo de O C a p ita l é retomada

por: Man:

“É m ister, sem dúvida, distinguir form alm ente o

método da

exposição do m étodo de pesquisa. A investigação tem de

apode­

rar-se da matéria em seus pormenores, de analisar suas diferentes form as de desenvolvim ento e de perquirir a conexão íntim a que h á entre elas. Só depois de concluído esse trabalho é que se pode descrever adequadam ente o movimento real. Se isto se consegue, ficará espelhada, no plano ideal, a vida da realidade pesquisada, o que pode dar a impressão de um a construção a p r i o r i ” . 10

É m uito im portante observar tal diferença. O m étodo de pesquisa é a investigação de ordem em pírica, a coleta dos dados, a sua classificação, o conjunto de técnicas e procedim entos adequados à apropriação analítica do material em pírico — é preciso não esquecer que Marx escolheu a Inglaterra, entre outras razões» porque nela o levantam ento estatístico a respeito da situação dos trabalhadores nas fábricas era menos precário que na Alem anha e dem ais países da Europa Ocidental. O m étodo de exposição é a reconstrução racional e teórica da realidade pesquisada, mas a exposição só é possível a p o s te r io r i da pesquisa em pírica. Ou seja, o fato de a pesquisa em pírica preceder a exposição teórica mostra que O C a p ita l não pretende ser um a construção apriorista e escolástica — em bora possa até se assemelhar à especulação metafísica, sob o ponto de vista m eram ente formal. Pelo seu caráter analítico e altam ente abstrato, o capítulo primeiro de O C a p ita l carrega consigo todas as dificuldades da exposição teórica que tenta espe­ lhar, pelo avesso, a realidade da mercadoria.

A mercadoria: aparência e essência

O capítulo primeiro do livro primeiro de O C a p ita l tem quatro partes distintas. Percebem os, nos diferentes níveis da exposição, pelo m enos três definições de Mercadoria.

À primeira vista, a mercadoria nos aparece como “um objeto externo, um a coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessi­ dades hum anas, seja qual for a natureza, a origem delas, pro­

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24 IR A Y C A R pN E

venham do estôm ago ou da fantasia” ;11 ou seja, a mercadoria é por nós representada com o um objeto útil, que atende às nossas necessidades, quer m ateriais quer espirituais. Em termos teóricos, ela é definida com o um valor-de-uso. E nquanto valor-de-uso eia é reconhecida, de m odo im ediato, pelos nossos sentidos, pelas suas propriedades materiais específicas e particulares.

N a sociedade burguesa capitalista, o s valores-de-uso são bens que com pram os ou vendem os, ou seja, são valores de troca. Em sum a, mercadoria é definida, num prim eiro nível, com o valor-de-uso e valor de troca. Tal definição deriva da prática social coti­ diana de venda e com pra de mercadorias.

N a terceira parte do capítulo prim eiro, após dilatar o universo do discurso com os conceitos teóricos de trabalho concreto e trabalho abstrato, valor e m agnitude de valor e outros, M arx redefine a mercadoria: “D e acordo com hábito consagrado, se disse, no com eço deste capítulo, que a m ercadoria é valor-de-uso e valor de troca. M a s is to , a rig o r, n ã o é v e r d a d e ir o . A m e rc a d o ria é v a lo r-d e -u so ou o b je to ú til e ‘v a lo r ’. Ela revela seu duplo caráter, o que ela é realmente, quando, com o valor, dispõe de uma form a de m anifestação própria, diferente da form a natural dela, a form a de valor de troca; e ela nunca possui essa form a, isoladam ente considerada, mas apenas na relação de valor ou de troca com um a segunda mercadoria diferente. Sabendo isto, não causa prejuízo aquela maneira de exprimir-se, servindo, antes, para poupar tem po” 12 (os grifos são meus).

N a segunda definição o autor nega a verdade da primeira definição, afirmando que ela é correta de um ponto de vista pragm ático, em bora não reflita a “essência” da mercadoria. A segunda definição não seria possível sem o processo da abstração: “valor” é um a propriedade concreta, mas impalpável aos sen tid o s,13 de toda e qualquer m ercadoria. O valor-de-uso, ao contrário, é constituído por m últiplas propriedades materiais, concretas e em píricas, im ediatam ente apreensiveis pelos sentidos. Isso quer dizer que a segunda definição revela a essência

contra-(11 ) Marx, K., idem , ibidem , p. 41. (12) Marx, K ., idem , ibidem , pp. 68-69.

(24)

INTRODUÇÃO

É

ditória do ser da m ercadoria,14 a contradição entre às in u # propriedades constitutivas.

A terceira definição, contida na quarta parte do capitulo sob o título “ O fetichism o da mercadoria: o seu segredo” , causa, per­ plexidade: M arx discorre sobre a mercadoria de maneira antro­ pom órfica, com o se ela tivesse pés, mãos, cabeça, idéias, iniciativa. Em outras palavras, com o objeto misterioso e fantasm agórico. Diz: “ À prim eira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, im edia­ tam ente com preensível. A nalisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheio de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas’*.15 M ais além: “o caráter misterioso que o produto do trabalho apresenta ao assumir a form a mercadoria, de onde provém? D essa própria forma, é claro” . 16

Ê preciso observar que a terceira definição com pleta um círculo dialético que tomou a mercadoria com o ponto de partida e ponto de chegada. M as é evidente que a terceira definição desm ente a prim eira de forma cabal. A mercadoria, tal com o é representada por nós, num a primeira instância, aparece com o mera utilidade ou m eio para atender a um a finalidade, ou seja, para atender às nossas necessidades materiais e espirituais. Ela reaparece, no final da análise, com o um objeto não-trivial, não com o um meio para atender a um fim: “cham o a isto de fetichism o, que está sempre grudado aos produtos d o trabalho, quando são gerados com o m ercadorias. £ inseparável da produção das mercadorias” . 17

D izer que a mercadoria é fetiche, ou melhor, dizer que a form a-mercadoria transform a os produtos do trabalho em fetiches, significa dizer que a mercadoria é um objeto não-trivial dotado de poder sobre as nossas necessidades materiais e espirituais. N ão é, pois, a mercadoria que está a serviço de nossas necessidades e sim , ás nossas necessidades é que estão subm etidas, controladas e m anipuladas pela vontade e inteligência do universo das merca­ dorias!

A terceira definição revela a essência da mercadoria pela negação de sua aparência de objeto* trivial a serviço de nossas

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26 IRAY CARONE

necessidades. O u seja, ela inverte as inversões co n tid as nas re p re ­ sentações im ediatas e p rim eiras das m erc ad o rias.

O esforço teórico que culm inou n a ap reen são do c a rá te r essencialm en te falso, fantasm agórico e ideológico do ser d a form a- m e rc a d o ria é» sem dú v id a, u m m ovim ento negativo de p en sam e n to que p e n sa o objeto pelo seu avesso.

E m sum a, a triv ialid ad e d a m e rc a d o ria é u m a falsa triv ia ­ lid a d e que esconde o seu c a rá te r m isterioso, a u tilid a d e d a m e rc a d o ria é u m a falsa u tilid a d e n a m e d id a em que as nossas necessid ad es é que são p o r ela utilizad as. A m e rc a d o ria é um fetiche ta n to q u a n to nossa v o n ta d e é p u ra h e tero n o m ia .

O circ u ito dialético, p o rta n to , re p re se n to u a subversão to ta l do senso co m u m , dos conceitos p rag m á tic o s, das verdades cotid ian as. O m é to d o de exposição n ão rep ro d u ziu racio n a lm e n te a re a lid a d e c o n c re ta n a sua p ositividade im ed iata. O p e n sa r n ão seguiu o ser, e sim , o inverteu. Se houve rep ro d u ção do real, foi rep ro d u ção pelo seu avesso. O concreto -p en sad o pelo m é to d o d a exposição é e x a ta m e n te o co n trá rio do concreto ta l com o é vivido e rep resen tad o p o r nós.

D o p o n to de vista do m étodo, houve u m m ovim ento de reg res­ são ao p o n to de p a rtid a (m ercad o ria) m as, evidentem ente, no p o n to de c h e g a d a (m ercad o ria) au m en to u o nível de co m preensão do o b jeto . Isso q u er dizer que n ão h á eq u iv alên cia en tre o p o n to de p a rtid a e o ponto de ch eg a d a, m esm o q u e o objeto seja único, a m e rc a d o ria . N a fo rm a de d ia g ra m a, o p e rc u rso realizad o foi o de u m a esp iral. As rep resen taçõ es im ed iatas do objeto “ m e rc ad o ria" fo ram m e d iatizad as p e la teoria.

V oltan d o à d istin ção e n tre m étodo d e p esq u isa e m éto d o de exposição, ficou-nos claro que sem p e sq u isa em p írica não h á exposição teórica, d a d o q u e a exposição n à o é e n ã o pode ser m e ra c o n stru ç ã o a p rio ri. Ê preciso, agora, acre sce n tar: a p esq u isa e m p íric a n ão é auto-suficiente, do p o n to de vista d a dialética de M a rx . O s dados em p írico s, p o r m ais rig o ro sam é n te que sejam co letad o s, perm an ecem presos às ilusões e inversões ideológicas das rep resen taçõ es im ed iatas dos objetos sociais. E les necessitam , p o r­ ta n to , ser in te rp re ta d o s e convertidos pela m e d iaçã o teórica, ou seja, os d a d o s im ediatos devem ser m ed iatizad o s p e la teoria.

(26)

ta m p o u c o advoga o p rin c íp io em p irista d a au to-inteligibilidade do em pírico.

O capita] em sua generalidade

O objetivo d a o b ra O C apital é sa b e r o que é o cap ital em g eral. A pós os capítulos sobre a M ercadoria, o Processo de T ro ca e o D in h e iro , o cap ital é definido com o valor em progressão oü valor que g era m ais valor: “ O valor se to rn a valor em progressão, din h eiro em p rogressão e, com o tal» capital. Sai d a circulação, e n tra nov am en te nela, m a n tém -se e m u ltiplica-se nela, reto rn a dela acrescido e recom eça incessantem ente o m esm o circuito. D - D \ d in h e iro que se d ila ta , dinheiro que gera dinheiro, conform e a d efinição de cap ital que sai d a boca dos seus prim eiro s in térp retes, os m e rc a n tilista s” . 18

A seqüência dos capítulos tem sua razão de ser lógica. O m é to d o de exposição é u m m ovim ento de p en sam en to que p assa p o r várias d eterm inações do conceito de c a p ita l, das m ais sim ples e im e d ia ta s às m ais com plexas e p ro fu n d as. P rogressivam ente, o p e n sa m e n to se a p ro p ria das determ inações d a esfera d a circulação e d a tro c a p a ra a lc a n ç a r as determ inações m a is com plexas e ricas da esfera d a pro d u ção , ou seja, d a m ercadoria, fo rm a de valor sim ples, fo rm a de valor total, fo rm a de valor u niversal, form a dinh eiro , d eterm in açõ es do d in h eiro — que p ertencem à esfera im ed iata d as tro ca s m ercan tis — às do valor, m ais-valia, m ais-valia ab so lu ta, m ais-vali a relativa, tra b a lh o assalariado, ex ploração, d a esfera d a p ro d u ção .

É u m m ovim ento progressivo-regressivo. Ê progressivo p o rq u e as determ inações d a e sfera d a circulação n ão nos dão a p le n a riq u e z a das determ inações do c a p ita l,19 de form a que as d e te rm i­ nações essenciais são as da produção, que não são im ediatas. Ê regressivo p o rque o p o n to de p a rtid a d a exposição é o cap ital em geral e o p o n to de c h e g a d a tam bém . M as é evidente que só com as d eterm in açõ es m ais su perficiais, a p ro p ria d a s sucessivam ente, não se a lc a n ç a a essência do co ncreto “ c a p ita l” .

INTRODUÇÃO 27

(18) Marx, K .,id e m , ibidem , pp. 174-175.

(27)

20 IRÁY CARONE

N a p rá tic a social nós adquirim os u m a vivência do q u e é o c a p ita l e com ele ap ren d e m o s a lid ar, às vezes, com êxito. No en ta n to , a vivência do cap ital, o que o ,cap ital é p a ra nós, não coincide com o que ele realm en te é. O u seja, tem os u m a p rá tic a ou conhecim ento p rag m ático do c ap ital que n ã o coincide com a ciência do c a p ita l, d a m esm a m a n e ira que o conhecim ento prático d a m e rc ad o ria n ã o equivale ao co nhecim ento de su a essência.

N o tópico relativo ao m étodo d a E co n o m ia P olítica d a o b ra Para a Crítica da E c o n o m ia P olítica (1857), M a rx diz: “ O concreto é concreto porque é síntese de m u itas d eterm in a çõ es, isto é, u n id a d e do diverso. P or isso o concreto a p a re c e n o p en sam e n to co m o o processo da síntese, com o resu ltad o , n ã o com o p o n to de p a rtid a , ain d a que seja o p o n to de p a rtid a efetivo e, p o rta n to , o p o n to de p a rtid a ta m b ém da intu ição e da re p re se n ta ç ã o ” , 20 O concreto p e n sa d o é, de fato, u m p ro d u to do m ovim ento do pensam ento, do esforço racional que m e d iatiza as rep resen taçõ es im ediatas do con creto efetivo, ou seja, tran sfo rm a as representações em con­ ceitos*21

D a í se segue q u e o m ovim ento de p e n sa m e n to q ue se a p ro p ria do concreto com o con creto p en sad o “ n ã o é, d e m o d o n e n h u m , o processo de gênese do p ró p rio co n creto ” ,22 o u seja, não reconstrói a h istó ria do regim e de p ro d u ç ã o cap italista; o seu c a rá te r p ro g res­ sivo (d a s determ inações sim ples às com plexas), e n tre ta n to , m o stra que ele reconstrói ra c io n a l e te o ricam en te o processo de g ê n e se ca íeg o ria l do capital e n q u a n to concreto p en sad o .

Algumas conclusões relativas

ao método dialético em

O Capital

D as pistas e indicações co n tid as n a o b ra m encionada, p o d e ­ mos tira r, a titu lo provisório e sem a p ro fu n d a m e n to , algum as conclusões sobre o m é to d o dialético: 1) ele aparece, antes de m a is n a d a , com o u m m é to d o de exposição, teó rico , especulativo,

ra-(20} Marx, K.r Para a Crítica da Economia Política, trad. port, Edgard Malagodi e colaboração de J. Arthur Giannotti, São Paulo, Abril Cultural, 1982, p. 14.

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i n t r o d u ç ã o 39

cional, m as não ap rio rista, u m a vez que p ressupõe a p esq u isa e m p írica ; 2) u m m étodo crítico, na m e d id a em que a conversão d ia lética, q ue tra n sfo rm a o im ediato em m e d iato , a rep resen tação e m conceito, é negação d as aparên cias sociais, d as ilusões ideológi­ cas do concreto estu d ad o ; 3) u m m étodo progressivo-regressivo, p a te n te n a espiral dialética em que p o n to de p a rtid a e po n to de c h e g a d a coincidem m a s não se identificam .

£ evidente que, e n q u an to m ovim ento de pensam ento, e stá reg id o p o r leis ou categorias d a ordem do p en sa m e n to . T om em os com o exem plo a m anifestação do valor, en q u a n to p ro p ried a d e o c u lta d as m ercadorias, na c h a m a d a “ rela ç ã o de valor*1 que é a e q u a ç ã o geral das tro c a s m ercantis. P a ra q u e u m a m ercadoria, o u m elh o r, o seu valor-de-uso sirva de espelho p a ra o valor de o u tra m e rc a d o ria , é preciso q u e haja u m a conversào dos contrários um n o o u tro . P o r m eio d a conversão dos co n trário s, o valor-de-uso se to m a a fo rm a de m anifestação do seu c o n trá rio , isto é, do v alo r;23 o tra b a lh o concreto se to rn a fo rm a de m a n ifestaç ão do seu co n trário , tra b a lh o h u m a n o a b s tra to ;14 o tra b a lh o p riv ad o se to rn a a fo rm a d c seu c o n trá rio , o tra b a lh o em fo rm a d ire ta m e n te so cial.25 Em o u tra s p a la v ra s, n a m anifestação do valor, u m a p ro p rie d a d e m e d iata se im e d ia tiz a e m p ro p rie d a d e visível, concreta.

O u tro exem plo é a relação u n iv e rsal-p articu lar p en sad a pela c ateg o ria da M ediação {V e rm ittlu n g ). A analogia “ organism o- cé lu la ” , m encionada n o prefácio da p rim e ira edição alem ã, nos diz que a sociedade b u rg u e sa é organism o e a m e rc a d o ria é célula, o u seja, estab elece u m a rela ção todo-parte, u n iv e rsal-p articu lar e n tre u m a e o u tra . T al rela ç ã o é de id e n tid a d e e diferença: a p a rte m a te ria liz a o todo m a s o todo n ã o é o c o n ju n to de p arte s, nem é a p a rte , o todo.

E n q u a n to reflexo do sistem a social c a p ita lista , a m e rc ad o ria co n tém contradições in eren tes a ele:

— a m ercadoria é um ser co n tra d itó rio , n a m edida em q u e é co n stitu íd a p o r p ro p ried a d es o postas do valor-de-uso e valor; a su a c o n tra d iç ã o in te rn a re p ro d u z a c o n tra d iç ã o e x tern a en tre tra b a lh o co n cre to e tra b a lh o ab strato p ró p ria d o regim e de p ro d u ção c a p ita lista ;

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30 IRÀY CARONE

— a fo rm a-m ercad o ria é u m a fo rm a fa n ta sm ag ó rica, m istifi- c a d o ra , que esconde o seu p o d e r sobre as necessidades h u m a n a s, ta l com o são fan ta sm ag ó rica s as relações sociais b u rg u e sa s que, a nível im ed iato e su perficial, se ap resen tam com o relações sim étricas, ig u alitárias, e não relações de po d er. As características m acro- e stru tu ra is estão, pois, refletidas e re p ro d u z id a s em suas m icro- u nidades.

O u tra s observações p o d eria m a in d a ser feitas sobre a m a n e ira de p ro ced e r do p e n sam e n to objetivado em O C a p ita l, F icarem os, no e n ta n to , restritos a essa le itu ra p relim in ar.

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Cardoso, F. H .t ÇapitafismQ e Escravidão no Brasil Meridional, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.

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Parte 2

(31)

Linguagem, pensamento

e representações sociais

S ilv ia T a tia n a M a u r e r L a n e

Skinner inicia o seu V e rb a l B e h a v io r com a seguinte frase: “Os hom ens agem sobre o m undo e o transformam» e são, por sua vez» transformados pelas conseqüências de suas ações” . E mais adiante define com portam ento verbal com o todo aquele mediado por outra pessoa, e assim inclui, no verbal, gestos, sinais, ritos e, obviamente, a linguagem . Assim, podem os dizer que o homem ao falar transforma o outro e, por sua vez, é transformado pelas conseqüências de sua fala.

Porém é necessário, para uma com preensão m ais profunda do comportam ento verbal, analisá-lo em um contexto mais amplo considerando-se o ser hum ano com o m anifestação de uma totali­ dade histórico-social, produto e produtor de história.

D este modo partim os do pressuposto que a linguagem se originou na espécie hum ana com o conseqüência da necessidade de transformar a natureza, através da cooperação entre os homens, por m eio de atividades produtivas que garantissem a sobrevivência do grupo social. O trabalho cooperativo exigindo planejamento, divisão de trabalho, exigiu tam bém um desenvolvim ento da linguagem que perm itisse ao hom em agir» am pliando as dim ensões de espaço e tem po.

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AS CATEGORIAS FUNDAM ENTAIS D A PSICOLOGIA SOCIAL »

um a visão de mundo, produto das relações que se desenvolveram a partir do trabalho produtivo para a sobrevivência do grupo social« Sob esta perspectiva, qualquer análise da linguagem im plica coft siderá-la còtno produto histórico de umA coletividade* (Skinner define “ tato” com o sendo os significados das palavras, e seriam variáveis independentem ente produzidas pelo grupo social ao qual o indivíduo pertence.) Desta forma a aprendizagem da língua m aterna insere a criança na história de sua sociedade, fazendo com que ela reproduza em poucos anos o processo de “hom inização” pelo qual a humanidade se produziu, tom ando-a produto e produ­ tora da história de seu grupo social*

A últim a frase do livro de Vygotski sintetiza todo este processo ao afirmar que "Um a palavra é um microcosm o da consciência humana"* D aí a importância fundamental que tem a aquisição m aterna para a compreensão de qualquer com portam ento do ser hum ano — e esta só pode ser analisada num a abordagem inter- disciplinar. O que não significa que a Psicologia deixe de ter a sua especificidade na contribuição do conhecim ento deste processo.

Seja Skinner, Piaget, Vygotski, M alrieu ou Leontiev, todos são concordes em afirmar que a função prim ária da linguagem é a com unicação e o intercâmbio social, através da qual a criança representa o mundo que a cerca e que influenciará seu pensam ento e suas ações no seu processo de desenvolvimento e de hom inização. Cada um destes autores traz a sua contribuição para um conhecim ento psicológico da aprendizagem da linguagem: Skinner, pela análise empírica que faz, demonstra a materialidade de falar e pensar; Piaget e Malrieu apontam para a gênese social das representações da criança e com o ela desenvolve sua visão de m undo; Vygotski e Leontiev, concebendo o ser hum ano com o m anifestação de uma totalidade histórico-social, vêem a linguagem com o fundam ental para o desenvolvimento da consciência de si e social de indivíduo, a qual se processa através da linguagem, do pensam ento e das ações que o hom em realiza ao se relacionar com outros hom ens.

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34 SILVIA T . M , LANE

indivíduos concretos e assim se in d iv id u alizam , se "subjetivam ” , n a m e d id a em que “ re to m a m ” p a ra a objetiv id ad e sensorial do m u n d o que os cerca, através d a s ações q ue eles desenvolvem co ncretam ente.

D esta fo rm a os significados produzJdos historicam ente pelo g ru p o social a d q u ire m , n o âm b ito do indivíduo, u m “ sentido pessoal” , ou seja, a p a la v ra se relaciona com a realid ad e, co m a p ró p ria vida e com os m otivos de c a d a indivíduo.

C reio ser o p o rtu n o , a esta a ltu ra , re to m a r u m a análise fe ita p o r T erw illiger q u a n d o a firm a ser a p a la v ra u m a a rm a de p o d e r, d em o n stran d o o q u a n to a im posição de u m significado único e a b so lu to à palavra é u m a fo rm a de d o m in ação do indivíduo, com o o co rre em situações de hipnose, de co m an d o m ilitar e de lavagem c e re b ra l. T o da s, situações o nde a am b ig u id a d e ou alternativas de significados levam à negociação de q u a lq u e r u m destes processos,

E s ta a rm a de p o d er só é d o m in a d a pelo confronto q u e o in d iv íd u o possa fa z e r en tre diferentes significados possíveis e a re a lid a d e que o c erc a — aliás, este é o princípio p roposto e defen d id o p o r P a u lo F reire — co n d ição p a ra um pensam ento crítico , p a ra o desenvolvim ento da consciência social e, conseqüen­ te m e n te , p a ra a criativ id ad e q ue tra n sfo rm a as relações entre os h om ens.

E sta análise no s perm ite a p o n ta r p a r a u m a função da lin ­ guagem que é a m ediação ideológica in e re n te nos significados das p a la v ra s, pro d u zid as p o r u m a classe d o m in a n te q ue detém o p o d e r de p e n sa r e “ co nhecer” a realidade, ex p lican d o -a através de “ v erd ad e s” inquestionáveis e atrib u in d o valores absolutos de ta l fo rm a q u e as co n tradições g erad as pela d o m in ação e vividas no c o tid ia n o dos ho m en s são cam u flad as e escam o tead as por ex p li­ cações tid as com o verdades “ universais” ou “ n a tu ra is ” , ou. sim ­ p le sm en te, com o “ im perativos categóricos" em term os de “ é assim que deve ser” .

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AS CATEG ORIAS FUNDAM ENTAIS DA PSICOLOGIA SOCIAL 34

um pen sam e n to crítico e de atividades significativas, d esem penha co m p o rtam e n to s inaceitáveis pelo seu g ru p o social.

P o r o u tro lado, observações de c ria n ç a s em fam ílias b e m e s tru tu ra d a s “ nos m o stra ra m que o p a p e l de filho é, desde os p rim eiro s anos de vida, inculcado em te rm o s de “ ob ed ien te, bem -co m p o rtad o , resp eitad o r dos m ais velhos’*, a po n to de, q u a n d o q u e stio n a d a sobre u m fato ocorrido no d ia an terio r, que fo ra rela tad o p ela m ãe com o desobediência e b irra d a criança, este é descrito p o r ela ap en a s considerando o fin al do episódio, isto é, ela obedeceu a m ãe, com o convêm a um bom filho.

E ssas observações foram feitas a p a r tir de u m a indagação d e com o a cria n ç a sen tia e reagia às punições de seus pais, e, depois, nfto en ten d em o s com o e por q ue as c ria n ç a s se subm etem ás violências do a d u lto ....

E ste fato m o stra ◦ q u an to a a u to rid a d e é cercada de valores e de em oções que a to rn a m inquestionável e a b so lu ta , rep ro d u zin d o relações sociais e sp erad as pelo grupo.

T o d o este processo de repro d u ção d a s relações sociais e stá baseado em com o a crian ça' ao fala r constrói suas representações sociais, en te n d id a s com o um a rede de relações que ela estabelece, a p a rtir de su a situação social, en tre significados e situações que lh e interessam p a ra su a sobrevivência.

S egundo M alrieu, “ a rep resen tação social se constrói no processo de com unicação, no q u a l o sujeito p õ e à prova, através de suas ações, o valor — vantagens e d esv an tag en s — do posicio­ n a m e n to dos que se com unicam com ele, o b jetiv an d o e selecionando íeu s com p o rtam en to s e coordenando-os em fu n ção de u m a p ro c u ra de personalização*’. D e sta fo rm a, a rep re se n ta ç ã o social se e s tru tu ra ta n to pelos objetivos d a ação do sujeito social com o pelos d ados q u e concordam ou que se opõem a eles.

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36 SILVIA T. M . LANE

agora» “ *bò* é perigosa, é ruim, m am ãe não gosta...'*. E assim a criança cria a sua representação de bola que perm itirá que ela se com unique com os outros, planejando o seu jogo ou narrando fatos já ocorridos.

E neste processo de com unicação, a criança vai estruturando o seu inundo que, inicialm ente, se encontra em um estado nebuloso, através de um sistem a de significantes proporcionado pelos que a rodeiam , e também vai encontrando form as de se autodefinir, “às custas de um a esquem atização e de um a deform ação inevitáveis e sempre superáveis” ,

M alrieu mostra com o a com unicação e a personalização (enquanto identificação e diferenciação) determinam e são deter­ m inadas pelas representações, que im plicam objetivação, seleção, coordenação das posições dos outros e de si m esm o. À s repre­ sentações, por sua vez, também estão duplam ente vinculadas com a atividade sem iótica que se caracteriza pela elaboração dos signi­ ficantes, decorrentes do processo de com unicação.

O autor conclui mostrando as form as c o m o a linguagem participa na elaboração das representações, ou seja, como tomada de consciência de um a realidade através de com unicações com adultos que levam a práticas e a diálogos sobre elas, as quais vão se estruturando.

Por outro lado, as práticas, as percepções, os conhecimentos se transformam quando são falados e a própria representação de si m esm o só ocorre através da linguagem interiorizada das recordações e dos projetos.

E , por últim o, na m edida em que toda representação im plica uma com paração, ela propicia um a "objetivação que é um a das bases do controle que se pode exercer sobre as ações e em oções. À construção de um motivo organizador das próprias ações irá permitir tanto a com preensão destas ações por m eio das informações dos dem ais como o acesso às confrontações das possibilidades que estão na base das operações” (p. 97).

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£ François Flahault quem nos dá algum as pistas para esta análise m ais concreta das representações sociais. Ele parte da análise de a to s ilo c u tó r io s, ou seja, as laias que caracterizam as posições ocupadas pelos interlocutores, de form a explicita ou im plícita. N o primeiro caso teríamos as ordens, os pedidos, os insultos que explicitam ente definem a relação existente entre os Interlocutores: um manda, o outro obedece, um pede, o outro concede. O s atos ilocutórios implícitos, por sua vez, só são com ­ preendidos em relação às posições que os interlocutores ocupam e ao m esm o tem po definem as respectivas posições, toda palavra, por m ais importante que seja seu valor referenciai e informativo, é formulada também a partir de um ‘o que sou para você, o que você 6 para mim ' e é operante neste campo; a ação que ela representa a título destas trocas se m anifesta através do que se pode chamar de ‘atos ilocutórios’ ou 'efeitos de posição’” (p. 50).

Por outro lado, o s atos ilocutórios im plícitos decorrem do fato de que “os indivíduos não são donos de operar seus posicio­ nam entos, pois, pelo contrário, este posicionam ento è que esta­ belece suas identidades1' (p. 52),

D este modo Flahault mostra como a ação de falar im plica relações de posições e a língua se apresenta como resultado e com o matéria-prima do processo discursivo. À. relação da linguagem com o real necessariam ente sofre a mediação das posições sociais de grupo e /o u classe social e portanto um discurso está sempre em confronto com um m undo já repleto de significações sempre já ordenado, sempre já socialmente arrumado; um mundo que é o efeito de "uma produção social dos sentidos, que reproduz inevi­ tavelm ente a produção material, e pela inserção de cada indivíduo, corpo e alm a, neste universo sem iológico” (p . 85). Entendendo-se por universo sem iológico o conjunto de signos socialmente criados — seria a natureza socialm ente recriada e transformada. Neste sentido, este universo traz em si toda a ideologia de uma sociedade que se reproduzirá na linguagem e nos discursos situados.

Compreender representações sociais im plica então conhecer nfio só o discurso mais am plo, mas a situação que define o indivícfuo que as produz. Para tanto Flahault desenvolve a noç&o de Espaço de Realização do Sujeito (ERS).

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