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O psicólogo clínico

A PRÀXIS DO PSICÓLOGO

questionáveis, com o o rechaço talvez p re m a tu ro d a dialética; isso na m edida em que se apóiam no p e n sam e n to de N ietzsche e h e rd a m , nesse sentido, a su a crítica a filosofias do negativo.15 N ão seria necessário levar a dialética às últim as co nseqüências p a ra po d er, de fato, rep en sá-la com m aior vigor ou a té cheg ar à conclusão de que, e n q u a n to filosofia e visão de m u n d o , ela e s tá u ltra p a s s a d a ? 16 M as voltem os ao psico d ram a, p a ra te n ta r m o strar q u e , na idéia m o re n ia n a de um C o - I n c o n s c ie n te ou I n c o n s c ie n te C o m u m talvez esteja um elo possível p a ra a fo rm u lação desse I n c o n s c ie n te S o c i a l e P o l í ti c o de que falávam os- O que M oreno m o stra é sim ples: que o p sico d ram a com fam ílias e com outros grupos e stre ita m e n te vinculados têm revelado situações em que a p ro d u ção inconsciente de u m m em bro do g ru p o vincula-se esp o n tan eam en te à p ro d u ç ã o inconsciente de o u tro m em bro do g rupo, fo rm an d o u m só elo de significação; m ais que isso, ele o b serva q u e m arid o e m u lh er, in vertendo papéis num a d ra m a tiz ação , conseguem , m uitas vezes, tra z e r à to n a conteúdos inconscientes q u e su p o stam e n te seriam do parceiro . E conclui pela necessidade de se p e n sa r em e s t a d o s in c o n s c i e n te s c o m u n s a vários sujeitos, um a espécie de C o - I n c o n s - c i e n t e t que desem p en h aria, segundo elç, pap el im p o rtan te n a vida

de pessoas in tim a m en te associadas, com o p a i e filho, m a rid o e m u lh er, gêm eos, e tc ,, e em grupos e stre ita m e n te vinculados, tais com o: equipes de trab a lh o , grupos de c o m b ate em guerras, cam p o s de co n cen tração , grupos religiosos carism ático s, e t c .17 T am b ém em m eu tra b a lh o com o psico d ram atista, ten h o observado fenôm enos in teressa n tes nesse sentido: sessões p sico d ram áticas de g rupos já relativ am en te antigos (en q u a n to processo terapêutico) m o stram ,

(15) Sobre as críticas de Nietzsche à dialética, ver Deleuse, G .(

Nietzsche e a Filosofia, Rio de Janeiro, Ed. Rio, 1976.

(16) Levar a dialética às últimas conseqüências significa, num certo sentido, produzindo a si mesmo enquanto subjetividade. Nessa perspectiva, nâo hegeliano-marxista. Ou seja, recuperar o seu sentido etimológico originário, expresso no grego diaJégesthai, que significa o processo pelo qual o eu recolhe o múftiplo para dentro de si, perpassando-o na sua representabilidade e, nesse sentido, produzindo a sí mesmo enquanto subjetividade. Nessa perpectiva, não se poderia pensara dialética como um processo infinito, nunca acabado, onde cada síntese é sempre fragmentária, parcial, onde a totalidade designa o fantasma do impossível? E onde a multiplicidade permanece sempre como irredutibilidadedú Ser à consciência?

{17) Ver: Moreno, J. L., "La terapia interpersonal, la psicoterapia de grupo y la funcíón dei inconsciente" in Las bases de /a psicoterapia, Buenos Aires, Ed. Hormè S. A . E., 1967.

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m u ita s vezes* o g ru p o com o uni to d o a n tecip a n d o (n a fase de aq u ecim en to d a sessão) trechos de cenas que seriam encenadas, em seguida, pelo p ro ta g o n ista , ain d a não d e te c ta d o . O u seja, o g rupo fu n cio n a aí com o u m a espécie de coro de tra g é d ia g rega e, através de lapsos, atos falhos, deslizes transferenciais, consegue an u n ciar fra g ­ m entos do d ra m a que a in d a está p o r ser encenado; com o entender esse tipo de fenôm eno sen ão supondo u m C o-Inconsciente grupai? T a m b é m já m ostrei e m trab alh o s a n te rio re s 1® que, m u itas vezes, vai-se en co n trar o elo de significação que e s tru tu ra certas crista­ lizações de papéis em personagens de d u as gerações a trá s (com o avós, p o r exem plo).O u seja, certos sin to m as (com o alguns m edos n ã o com preensíveis) só en co n tram seu sen tid o q u a n d o o p ro tag o ­ n ista consegue e n c a rn a r, em cena, esses fa n ta sm a s de antepassados qu e, através da sua h istó ria de vida, explicam a origem do m edo que o p ac ie n te vive e cuja ra z ã o de ser p e rm a n e c e ra , até en tão , incons­ cien te. Com o, pois, en te n d e r esse fen ô m en o senão supondo u m C o-Inconsciente fam iliar, estru tu ra d o atrav és de gerações e ge­ ra ç õ e s? 1^

E ssas observações p erm item -nos g en era liza r e am p liar o conceito p a ra aplicá-lo a todo o corpo social. O u seja, propõem u m a nova visão das relações sociais, n ã o m ais com o relações objetivas e im ed iatas (essa é a ó p tic a p ro p o sta p o r um certo tip o de Sociologia) n em m esm o com o relações m ed iad as u n ic a m e n te pelo fetiche do c a p ita l (óptica do m arxism o), m as com o relações m ediadas por um n ú m e ro incalculável de fa n ta sm a s in c o n sc ie n te s. O u seja, o fa n ­ ta sm a inconsciente, an tes definido p e la p sican á lise com o represen­ ta ç ã o m ental, in tra p síq u ic a , desloca-se dessa caix a p re ta ch am ad a “ m e n te ” p a ra o c u p a r o lu g a r q ue se m p re lhe foi de direito: as relações en tre os h o m en s, a e s tru tu ra social n a s su as produções e transform ações* T om e-se, p o r exem plo, o caso de H iroshim a: q u a n ta s gerações viveram e ain d a vivem o seu cotidiano com o p e rm e a d o pelos fa n ta sm a s daqueles q ue m o rre ra m , fantasm as das casas destru íd as, d as doenças» d a m orte, do ' ogum elo avassalador

(18) Ver: Naffah Neto, A ., "O Drama na família pequeno burguesa",

op. cit.

(19) Também os psicanalistas conhecem fenômenos desse tipo. Maud M an no ni, por exemplo (cf. L 'e nfan t, sa "m a la d ie ” e t les a utyes, Paris, Ed. de Seuil, 1967) nos mostra como certas produções inconscientes da criança nada mais fazem do que pôr às claras certos conflitos inconscientes que estruturam a relação dos pais e da famfl ia como um tod o .

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