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A FICÇÃO DE JOSÉ MAVIAEL MONTEIRO E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO INFANTOJUVENIL

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Academic year: 2020

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A FICÇÃO DE JOSÉ MAVIAEL

MONTEIRO E SUA

IMPORTÂNCIA NA

FORMAÇÃO DO LEITOR

LITERÁRIO

INFANTOJUVENIL

THE FICTION OF JOSÉ

MAVIAEL MONTEIRO AND ITS

IMPORTANCE IN THE

FORMATION OF THE

CHILDREN JUVENILE

LITERARY READER

Edinaldo Flauzino de Matos1

(UNIR)

1 Doutor em Letras com foco na área de Literaturas em Língua Portuguesa pela Unesp de São

José do Rio Preto. Mestre em Estudos Literários pela UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso. Professor efetivo da UNIR – Universidade Federal de Rondônia. E-mail: edinaldo.matos@unir.br.

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“O horizonte de expectativas para um trabalho, que pode ser reconstruído, torna-se possível determinar seu caráter artístico a partir do modo e grau de acordo com ele produz seu efeito em um suposto público”

(JAUSS, 1994, p. 31).

RESUMO: No presente artigo busca-se apresentar considerações sobre a literatura e o leitor literário infantojuvenil numa conjuntura temporal sincrônica, uma vez que trata-se de três livros, intitulados: “Os barcos de papel”, “O outro lado da ilha” e “O Ninho dos Gaviões”, de José Maviael Monteiro, cujo o conteúdo da ficção, do autor sergipano, tem como objetivo o incentivo à formação de leitores adolescentes, na década de 80, período em que as obras foram publicadas na série “Vaga-Lume”. Nesse sentido, recorremos às inúmeras proposições que incidem de/no conjunto do texto e o público adolescente, considerando os fatores de criação e temas promovidos nas narrativas que resultam em perspectivas positivas para a formação do leitor literário infantojuvenil.

PALAVRAS-CHAVE: Autor. Infantojuvenil. Leitura. Leitor. Literário. Texto.

ABSTRACT: In article, we look for considerations about litera-ture, the juvenile and literary reader in a synchronous temporal conjuncture, since it consists of three books, entitled: “The paper boats”, “The other side of the island.” and “The Hawk’s Nest”, by José Maviael Monteiro, whose the content of the works of the author born in Sergipe aims to the focuses of encouraging the training of readers of teenagers, in the 1980s, a period in which he launched these works through the “Firefly” series originated. In this sense, we resort to the innumerable propositions focused on / in the text and in the adolescent public, together with the creative factors and themes promoted in the narratives that result in positive per-spectives for the education of children and young literary readers. KEYWORDS: Author. Children-teenager. Reading. Reader. Lit-erary. Text.

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Considerações prévias: leitura, leitor literário e o público infantojuvenil

Uma análise da experiência literária do leitor inscreve-se no nível do letramento literário que se exerce pela recepção e pelo efeito de uma obra por meio de um sistema de referências que podem indicar as funções de expectativas que advêm dessa relação entre texto e leitor. Em nenhum momento histórico de exibição de cada obra literária, no contexto real e ficcional, apresentou tais dimensões de praticidade ao seu receptor. Assim, ao ajuizarmos hipóteses da efetiva inclusão do infantojuvenil, no que se refere ao aprendizado e ao desenvolvimento da prática de leitura, especificamente, na atuação do leitor literário e o efeito de fruição do texto, avalia-se que é de suma importância pensarmos no conceito básico de “Letramento literário” cujo processo envolve a perspectiva de apropriação da leitura pelo viés da linguagem literária como um caminho proposto para o desenvolvimento dessa prática. Kleiman, em seus estudos sobre a temática, parte da seguinte problemática: Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar ler e escrever? Diante desse impasse, o conceito de letramento surge numa concepção de amplitude, pois segundo a estudiosa, “O letramento também significa compreender o sentido, numa determinada situação, de um texto ou qualquer outro produto cultural escrito” (KLEIMAN, 2005, p. 10).

A ficção de José Maviael Monteiro, proposta nessa discussão, é analisada como uma hipótese moderna e libertária que rompe o paradigma da exigência de uma literatura subjetivada em demasia. Assim, os textos do autor sergipano, cujos enredos lançados, na década de 80, apresentavam novas luzes sobre as coisas que acontecem, sem abolir o equilíbrio entre o “universo ficcional” e o “mundo dos valores socioculturais”, uma vez que se estabelece o papel dominante das histórias narradas e seus personagens sobre o suceder dos eventos, no qual o leitor é tragado pelos fatos, em detrimento da sua instrução literária.

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Nesse sentido, a importância da literatura, considerando o seu teor ficcional, estético/lúdico pressupõe certo grau de subjetividade que, por sua vez, pode dificultar o efetivo papel do texto enquanto ensino-aprendizagem mediante seus múltiplos temas. Assim sendo, o texto se estabelece pela inter-relação com o leitor e seu aspecto de fruição estética e realística. “Este se constitui, ao mesmo tempo, como uma unidade e como uma multiplicidade: a unidade do “todo organizado” e a multiplicidade das variáveis que são os diferentes reflexos das relações do leitor, ocupando os “brancos”, os vazios do texto” (FLORY, 1997, p. 33, aspas da autora). Conforme a estudiosa, O dialogismo discursivo corrobora na presença do “Outro” inserido/representado na fala do narrador e, por outro lado, as falas das personagens estabelecem a pluralidade e a relativização da obra literária e a “expectativa” do leitor. De tal modo, as obras literárias estabelecem-se, conforme entrecho: “Denominando a distância estética aquela que mede entre o horizonte de expectativa preexistente e a aparência de uma nova obra” (JAUSS, 1994, p. 31, aspas do autor). O não pragmatismo que envolve a questão literária pode, aparentemente, nos transmitir a mensagem de que o texto literário, voltado para o infantojuvenil, advém em certa frivolidade no exercício efetivo da informação que corrobora no processo de letramento, isto é, a princípio, pressupõe certas inadequações às suas realidades. E, por isso, deixa de ser um material primordial na prática de ensino-aprendizagem que, na maioria das vezes, é reduzido ao estudo das regras gramaticais, ou seja, conteúdo da língua portuguesa que, consequentemente, torna mínima a sua proposição de múltiplas temáticas. Essa hipótese redutora não contribui para a pluralidade cultural no âmbito da formação do leitor literário.

É importante ressaltar que as práticas e necessidades da efetiva acepção de leitura precisa adequar-se às diferentes funções, pois o leitor literário encontra-se interligado à cultura do seu tempo. É nesse contexto que se apresenta as obras de José Maviael Monteiro, escritas na década de 80, cujo objetivo principal era alcançar, de

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forma positiva, o leitor infantojuvenil, por meio de uma estética literária menos rebuscada, cuja proposição ficcional encontra-se focada em múltiplos temas envoltos na realidade dos adolescentes da época. Assim, é interessante pensar que a relação que o escritor sergipano faz do texto e seu público leitor remete, basicamente, ao aspecto de como se desenvolvem as práticas de leitura na esfera do ensino-aprendizagem e os usos que se faz desse exercício literário na sociedade.

Dessa proposição, é concluso, nos textos do autor em destaque, a essência didática de que o exercício de leitura encontra-se ajustado à perspectiva do letramento, uma vez que o processo de ensino-aprendizagem, principalmente da leitura, envolve as questões culturais, ou seja, as situações sociais envoltas na realidade do final do século XX. A dinâmicas das obras em estudo, contempla um conjunto de relações sociocomunicativas que atende às necessidades de interação entre o conhecimento apresentado nas histórias e a identificação por cada infantojuvenil sobre o contexto narrado. “A leitura define-se como um processo dinâmico relacional, que possibilita diversos acessos ao texto, colocado sempre em uma nova perspectiva e presentificando uma configuração, um modelo organizado que é a situação global do texto.” (FLORY, 1997, p. 33). Assim, se desenvolve e resulta o processo de letramento mediante essa interação entre objeto estético atrelado ao conhecimento de mundo que resulta da pluralidade cultural e dos valores básicos de cidadania interpostos no texto.

Na atualidade, é recorrente a classificação de que o aprendizado do “letramento” efetiva-se, de modo positivo, pela prática da leitura. A sua eficácia encontra-se pautada numa experiência letrada. Logo, é comum a ideia conclusiva de que o infantojuvenil, como participante ativo da cultura em ascensão, de indivíduos letrados, tenha essa potência confir mada pela oportunidade de ter tido contato com diferentes materiais escritos sob tipologias textuais diversas. Dessa assertiva, pode-se pressupor

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que o aprendizado e o desenvolvimento da formação de um leitor literário advêm no cotidiano, isto é, se apreende no dia a dia. Por outro lado, é através de atividades sistemáticas desenvolvidas através do ensino e aprendizagem que a utilização de reflexões sobre as práticas de nossa cultura e de outras civilizações corroboram para a formação do leitor adolescente.

Trabalhar a leitura de forma eficiente depende do desenvolvimento de atividades que nos levem a praticar e refletir sobre as diferentes situações sociocomunicativas que coadumem aos gêneros, às técnicas de inferências para atrair o leitor infantojuvenil. Quando ensinamos, desde de Tomás de Aquino, século XIII, no que se refere ao modelo “escolástico”, ocorre a reciprocidade, isto é, também aprendemos! Dessa forma, desenvolve-se diferentes olhares sobre a literatura para infantos, caso haja segurança didático-pedagógica no desenvolvimento das competências de leitura que depende da intervenção criativa, crítica e funcional do professor que planeja atividades que resultam em práticas didáticas prazerosas (no sentido estético/lúdico).

O ato de ler é definido, essencialmente, como uma atividade produtora de sentido, consistindo das atividades complementares de seleção e organização, de antecipação e retrospectiva, de formulação e modificação das expectativas durante o processo da leitura” (FLORY, 1997, p. 28).

A estudiosa confirma, nessa citação, que as reflexões contemporâneas, a respeito do assunto contextualiza a construção de sentidos, seja pela leitura, fala e escrita e pode estar, diretamente relacionada às atividades discursivas e às práticas sociais pelas quais os sujeitos têm acesso ao longo de seu processo de socialização com o mundo.

Mas, além dessa perspectiva, os textos literários de José Maviael Monteiro adquirem um lugar privilegiado de organização no que se refere ao conhecimento sobre a cultura, a comunicação e os processos

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de interação e de mediação para a elaboração de novos conhecimentos, inclusive, alusivos aos grupos sociais. Os processos de leitura e noções de pesquisa, das obras em leitura, apresentam ferramentas, cujo diferentes gêneros textuais, alcançam diferentes infantos, sob a perspicácia de variados assuntos. É importante ressaltar que, ao final de cada livro, o autor, insere notas sobre reais informações científicas, orientações sobre esporte, por exemplo, Alpinismo em O Ninho dos gaviões, em conjunto ao glossário de palavras usadas pelo grupo.

Ao longo de toda a unidade, de três livros de histórias resumidas, nos próximos tópicos, pois os textos encontram-se em acordo aos temas indicados e, podem ser considerados como referências positivas para o processo de formação do leitor literário. Por outro lado, desmistifica a ideia de que é complexo o ato de ler. O autor sergipano, através de suas histórias, envolve o público leitor num processo de interação em que remetem a (mimese) histórias de vida, contextos de comunicação, propósitos e expectativas, épocas, espaços e assuntos que podem ser muitíssimo diferentes e complexos. Entretanto, o escritor apresenta os assuntos com leveza e maestria. “Quando se lê um texto trabalha-se com hipóteses prévias, que vão se confirmando ou não. na leitura. A leitura configura-se, pois, como um ato interativo, onde se trabalha por ensaio e erro” (FLORY, 1997, p.14). Revela-se, assim, a preocupação básica do autor contemporâneo em se vincular à esfera dos valores socioculturais, através da sobreposição e inter-relacionamento de diferentes visões de mundo, centrados nas personagens e fatos narrados.

O processo de formação do leitor literário apresenta-se como uma faceta importante da própria linguagem e nos interessa, nessa discussão, em detrimento a tantas teorias e ciências. Por isso, o conceito de letramento varia tanto, como a própria transformação dos enfoques conteudistas e das áreas. “Em suma, a leitura é o desdobramento do texto sobre o modelo de um processo de realização, determinando o real como ‘aquilo que ele se torna’ no decurso da leitura” (FLORY, 1997, p. 34, aspas da autora). Dessa

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assertiva, os desenvolvimentos no processo de leitura dependem da função ativa que um texto promove, isto é, da interação autor, texto e leitor mediante uma realidade sociocultural brasileira, cujo princípio básico seja a integração com o mundo.

Assim, tanto os temas, quanto as formas de organização das histórias, recortes dessa análise, visam explorar o vocabulário (gírias) infantos, adolescentes e jovens. Essa dinâmica textual pode, por si só, justificar uma classificação literária que fez e, ainda faz muito sucesso em meio ao público leitor, na sua maioria, adolescentes. Depois de três décadas, os livros em estudos figuram como os mais vendidos em “Estantes Virtuais”. Os textos de José Maviael Monteiro podem ser avaliados como literários, se considerados os planos de expressões, isto é, a linguagem e a realidade. Mas é importante salientar que a definição do que seja texto literário, ou poético, pode variar, segundo as escolas literárias. Logo, é possível deparar-se com a crítica, de cunho acadêmico, a classificar as obras, desse escritor, como textos não-literários e negar a sua estética de fruição por conta do seu papel didático funcional e utilitário. Entretanto, salienta-se que os livros destacados para nossa leitura têm como finalidade maior a informação pautada na realidade cotidiana, mas também é sensível aos aspectos estéticos da linguagem cuja exploração do plano da linguagem figurada encontra-se de forma recorrente nas obras em conjunto ao efeito catártico alcançado. É correto afirmar que qualquer experiência do infantojuvenil no processo de leitura literária resulta positivamente quanto incide nos objetivos claros e verdadeiros para quem os vivencia. Isso acontece, especialmente, quando se trata de um público leitor adolescente, ou seja, em fase de construção de si e, envolto nas múltiplas dúvidas e descobertas. Entretanto, o processo de formação do leitor literário não é diferente, pois pondera-se que o termo “letramento” não se resume, apenas, a ideia de alfabetização. “O letramento abrange o processo de desenvolvimento e o uso dos sistemas da escrita nas sociedades, ou seja, o desenvolvimento histórico refletindo outras mudanças sociais e tecnológicas”

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(KLEIMAN, 2005, p. 22). Observa-se que ao falar do processo de leitura literária somos obrigados a recorrer ao conceito de “letramento”, no sentido de nos mostrar “amplamente” que, ao ensinar uma criança, um jovem ou adulto a ler, realiza-se essa prática mediante o processo dinâmico do uso da literatura. Assim, o aprendiz infanto, no seu artificio de leitor literário, passa a conhecer o mundo no sentido amplo e não restrito ao ambiente escolar.

Nas obras de José Maviael Monteiro o conceito de letramento pode ser usado para explicar/compreender o impacto da escrita do autor em todas as esferas do universo infantojuvenil que, por ventura, os adolescentes e jovens, em suas idiossincrasias, encontram-se inencontram-seridos nas histórias narradas, considerando, claramente, o encontram-seu momento histórico. “A complexidade da sociedade moderna exige conceitos também complexos para escrever e entender seus aspectos relevantes” (KLEIMAN, 2005, p. 6). Desse modo, quanto mais adequado for as obras literárias ao mundo do leitor, certamente esse infantojuvenil vai ler com mais disposição o que lhe é oferecido, e com mais facilidade vai compreendê-lo integralmente. “Assim sendo, as estruturas de apelo e o horizonte de espera do texto, através de seu potencial de atuação, tanto no plano ético, como no estético, vão conduzir o leitor à construção de um horizonte de expectativas” (FLORY, 1997, p. 118). Nesse sentido, o texto pela leitura, se torna o meio de representação construída de uma realidade múltipla em contínua dialética transformacional. É, sob essa acepção valorativa que apresenta-se, nos tópicos a seguir, os livros em proposição, nos quais os textos encontram-se inseridos na representação constituída de uma perspectiva ficcional e certa realidade histórica.

O prazer do texto: sociedade e literatura versus leitura e fruição

A proposição da formação do leitor literário resvala na conjuntura de que a acepção pode ser denominada literária pela reação positiva que a legitima. Ou seja, pela ação do leitor que, por

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conseguinte, constitui-se pela influência dominante de uma prática cultural cuja natureza estética estabelecida com o texto lido, conduz a interação prazerosa que se realiza entre texto e leitor. Assim, quando se considera relevante essa atenção ao ato de ler, referimo-nos a ideia de leitura literária. E, para discorrer sobre essa definição, atemo-nos aos pressupostos teóricos e filosóficos de Roland Barthes em “O Prazer do texto” (1973), no qual o estudioso ressalta que a sua admiração por um texto incide diretamente das esfoladelas que advêm do belo invólucro textual. Desse metafórico “casulo” textual, expurga-se a sua fruição em contíguo à sua estrutura e conteúdo. Ademais, a perspectiva barthesiana salienta que não há uma metodologia exata, ou seja, uma receita pronta, na qual podemos qualificar um texto de eufórico/bom ou disfórico/ruim, no sentido de atrair a figura do leitor literário. Desse modo, a crítica encontra-se afinada a certa intenção didática, na qual o texto, mediante encontra-seu arcabouço social político, quase sempre, encontra-se inter-relacionado à conjuntura ficcional.

Os jogos de recursos normativos que buscam equilibrar os elementos didáticos e literários que tornam um texto, dito perfeito, terminam por ofuscar à sua vontade de fruição. Nesse sentido, é necessário perguntar: o texto tem uma forma humana? É um emaranhado de figuras de palavras e pensamentos que mimetiza (imita) certa realidade? Disso, Barthes observa categoricamente: “O prazer do texto não tem referência por ideologia. No entanto, essa impertinência não se dá por liberalismo, mas por perversão: o texto, a sua leitura é clivada” (BARTHES, 1973, p. 71). Desse aspecto, infere-se que a unidade moral exigida do produto humano, descrito no texto, como representação ideológica do sujeito sociocultural, advêm de seus fantasmas estéticos e psicológicos sob o predomínio da fala como um instrumento de expressão do pensamento que ganha no ato de leitura. Assim, “O prazer do texto é isto: o valor passado para a categoria sumptuosa de significante” (BARTHES, 1973, p. 115). A inferência de Barthes, na elaboração desse artigo, corrobora com a proposição temática envolta na busca pela

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formação do leitor literário infantojuvenil, pois em tempos de avanços tecnológicos, tais como os meios de comunicação: internet, redes sociais, onde a busca pela informação e leitura, diretamente, é influenciada pelas páginas de amizades, twiter, facebook e WatssApp e outros, possivelmente têm contribuído para a pouca efetivação da prática de literária dos infantojuvenis. Nesse sentido, estamos diante de um desafio: o que fazer para incentivar a prática de leitura dos infantojuvenis? Que tipo de texto/literatura consegue deslumbrar os adolescentes para a fruição da história narrada, propriamente dita? Qual texto literário se ajusta como representação da materialidade excepcional e lúdica? Como induzir os jovens ao interesse da prática de leitura literária? Sem dúvidas, em pleno século XXI, encontramos-nos diante de um grande desafio que insurge de múltiplas problemáticas que inviabilizam a prática da leitura.

Nessa conjuntura, baseamo-nos em Góes para instigar a discussão através de dois problemas fundamentais: Existe uma literatura infantil e infantojuvenil propriamente dita? Como conceituá-la? A estudiosa busca responder essas questões por meio de um levantamento histórico a respeito do papel didático-pedagógico da literatura desde os primórdios. Dessa pesquisa, a autora chegou a alguns pressupostos de que a literatura específica para jovens leitores permite a fruição da emoção estética que, consequentemente, estimula o desenvolvimento gradual, do ser infanto, postulado na seguinte tríade: mental, emocional e cultural.

Nessa proposição, pensar a literatura como fruição estética, mediante ideia histórica conservadora, seria negar o seu papel didático, pois a concepção do belo efetivada, se faz necessário relacioná-los à evolução psicológica dos infantojuvenis. No que se refere à sua formação ética pode-se ponderar que esse paradoxo é corroborado no ajustamento e na integração da personalidade. “É evidente que, dependendo das circunstâncias que cercam o leitor, tais como suas características individuais (escolaridade, região, estímulos recebidos, acesso ou não aos livros, ambiente familiar etc.)”

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(GÓES, 1973, p. 16). Ainda, é possível acrescentar, a esses postulados socioculturais, a saber: a questão temporal e histórica pelas quais os infantojuvenis se oportunizam suas reflexões por meio de sua ponderação a respeito dos problemas da vida social que enfrentam ou ainda terão que enfrentar. Logo, discutir o papel do letramento literário torna-se de suma importância nos tempos atuais. “Assim, seria se a humanidade fosse apenas uma fase histórica, pois achamos que a criança sempre existiu e existirá, independente do espaço que o adulto reservará ou reservou para ela’ (GÓES, 1973, p. 18). É concluso, então, que promover a formação de um leitor literário configura-se, pelas estratégias que advêm do repertório ficcional do escritor, logo, ocorre a relação de reciprocidade entre o “autor implícito” e o “leitor implícito”, cujas construções textuais encontram-se inseridas nas obras em destaque.

Discorrer sobre a importância da leitura para a aquisição do conhecimento e da própria estética textual necessita ser uma constante preocupação de pais e educadores nos tempos atuais, por isso os livros: intitulados: “Os barcos de papel”, “O outro lado da ilha” e “O ninho dos gaviões” fazem parte de uma proposta de incentivo à leitura, na década de 80. É importante lembrar que, há quase meio século, a série: “Vaga-Lume” foi criada sob o objetivo de incentivo à leitura. Essa coleção, cuja intenção foi apresentar, ao jovem adolescente, uma literatura que, além de representar a sociedade, também ajustasse à conjuntura ficcional que, por conseguinte, inter-relaciona duas instâncias que às vezes parecem inconciliáveis: fruição estética e imitação da realidade em conjunto ao seu arcabouço temporal e histórico.

Nessa acepção, é necessário pensar sob a perspectiva descrita em “Literatura e Sociedade”, no qual Candido observa que no passado se buscava pensar a obra literária no seu esboço valorativo que, por via de regra, necessitava representar aspectos da realidade. Essas exterioridades, por outro lado, buscam definir, mediante operações formais e estéticas, os elementos socioculturais históricos que

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independem dos condicionamentos autor, texto e leitor. “Hoje, sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas; e que só podemos fundindo texto e contexto numa interpretação dialética integra [...]” (CANDIDO, 2000, p. 5-6). Assim, a literatura contemporânea tem como tendência a proposição de que a arte é social e, por assim dizer, expressa graus diversos de sublimação estética e sociológica que promove efeitos práticos que se dialetizam na conduta de concepções de mundo. Ao que tudo indica, a proposta agenciada pela série “Vaga-Lume”, a princípio, se estabelece da tarefa de investigar as influências concretas exercidas pelos fatores socioculturais no universo infantojuvenil. Desse modo, a escolha dos tópicos se encontra referendada sob quatro eixos: os padrões da época; as escolhas de temáticas; o uso de formas; e, por último: a síntese determinante do meio. Dessas temáticas, conforme o pensamento de Candido, a série “Vaga-Lume” encontra-se pautada na comunicação expressiva de noções e de conceitos sociais que, em conjunto à intuição criadora, objetiva trabalhar na busca pela recepção entre texto e leitor, especialmente, no que se refere ao público adolescente.

As influências socioculturais, no que se alude à linguagem dos livros supracitados, exprimem bem o fato referencial de que a literatura produzida para o público infantojuvenil possa estar ajustada em elementos sociais e estéticos que, por conseguinte, prioriza os subsídios principais aliados ao tempo e espaço (lugar), pois o texto, em si, promove uma série de sinais que, de algum modo, buscam representar o universo adolescente. Nesse contexto, a coleção, em destaque, resulta de uma proposição literária que não está condicionada na realidade única do autor e, por outro lado, enxerga o leitor infantojuvenil como parte integrante do objeto físico aliados à consciência estética literária.

Como ressalta Candido: o mundo adolescente precisa ser representado de forma coerente no seu tempo histórico, pois, “Rosseau discerniu há mais de duzentos anos que o menino não é

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um adulto em miniatura, mas um ser com problemas peculiares, devendo o adulto esforçar-se por compreendê-lo em função de tais problemas, [...]” (CANDIDO, 2000, p. 37). Dessa definição, se faz necessário a compreensão sociológica, filosófica, política e psicanalítica do público adolescente, no sentido de corrigir os exageros das diferenças socioculturais entre infantojuvenis e adultos. O autor em estudo, em sua obra, não pressupõe o adolescente como ser reduzido que precisa ajustar-se ao modelo da gente adulta. Assim, o escritor encontra-se em acordo ao pensamento literário que funde estética literária e sua função social. “O que interessa de fato é a combinação da análise estrutural com a função social” (CANDIDO, 2000, p. 43). À medida que a coletividade infantojuvenil se reconhece no texto literário, o papel da literatura na sua função principal, envolve a perspicácia criativa, por assim dizer, consequentemente torna a estética da recepção uma espécie de psicologia literária crítica, considerando o autor, o texto e o leitor.

Os Barcos de papel: tecnologia de fábrica versus invenção manual

O livro: “Os barcos de papel” (1984), conta a história de quatro garotos que resolvem brincar num lago próximo de uma mata, onde, involuntariamente, terminam por encontrar uma caverna quase desconhecida. Ao adentarem essa gruta, os garotos ficam perdidos entre os paredões da caverna que mais parecem labirintos. Assim, ao se perderem, nesse local, os meninos só serão encontrados e resgatados depois de dois dias. O incidente, por conseguinte, promove uma série de acontecimentos curiosos, uma vez que a gruta era quase que desconhecida, mesmo que geograficamente próxima da cidade.

Essa aventura ocorre por meio de personagens adolescentes distintas. Trata-se Miguel e André, dois irmãos pertencentes à classe média da cidade, pois eram filhos do capitão-de-mar-e-guerra,

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conhecido como: Ramiro Gouveia que presenteia os filhos com uma miniatura do transatlântico e um porta-aviões, ambos os brinquedos são movidos à pilha. Um dia após ganharem os presentes, os irmãos resolvem brincar próximo a um rio que ficava a meio quilômetro de casa. Entretanto, no meio do caminho os garotos resolvem convidar um amiguinho chamado Josué, adolescente de (12 anos), para irem juntos brincarem e, por conseguinte, o amigo não tinha um navio, por isso levou seu caminhão à pilha. Josué é filho de um advogado, ou seja, também faz parte da classe média local.

No lago, ao iniciarem as brincadeiras, os amigos deparam-se com Quito, um garoto pobre, filho de uma lavadeira e um marceneiro que, apesar dos conflitos com os garotos, termina por se encantar com os brinquedos à pilha. Ao final, após várias confusões socioculturais, terminam em tom amigável, se divertindo e, então, Quito convida os garotos para combinarem de irem, em outro dia, até um lago afastado, no alto do morro, onde sua mãe lavava roupa, pois nesse local poderiam brincar com os brinquedos de Miguel e André no próprio lago. Conforme combinado, no sábado à tarde, os garotos vão até o lago e terminam por adentrar uma caverna desconhecida onde se perdem e, consequentemente, durante o período na gruta, deparam-se com dois fugitivos da prisão que se aproveitam da situação e simulam o sequestro dos garotos com objetivo de cobrarem um preço alto pelo resgate.

Apesar de ser um enredo simples, sem o rebuscamento literário, o livro: “Os barcos de papel” (1984), escrito com o objetivo de seduzir o público leitor adolescente encontra-se ajustado ao pensamento barthesiano, pois é inegável a promoção do prazer do texto tanto ao público infantojuvenil quanto ao leitor adulto. Pode-se dizer que a leitura da aventura encontra-se coerente com a seguinte proposição de que o texto, em si, revoga as barreiras envoltas em classes sociais. Os elementos que implicam na noção eufórica de inclusões sociais, a exemplo dos garotos de classe média e o garoto pobre, também incidem na disforia de exclusões por meio da contradição da lógica. “O prazer da leitura provém evidentemente de certas rupturas (ou

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de certas colisões)” (BARTHES, 1973, p. 39). Nesse sentido, pode-se afirmar que mediante um enredo, aparentemente simples, é possível o leitor infantojuvenil pensar, refletir e discutir várias questões sociais que terminam por promover o ultrarrealismo da obra, a saber: Classes sociais distintas – burguesia – dois garotos, filhos de alta patente militar da marinha, um filho de advogado e outro (proletariado – filho de uma lavadeira). Acresce também a acepção de arrogância dos garotos em relação à Quito, enquanto os irmãos são provocadores, Quito, por sua vez, se mostra pacificador e humilde. Também é importante destacar a oposição na descrição social e física: o garoto Josué opulento (rico) e a fragilidade de Quito (pobre).

Os paradoxos são recorrentes, a exemplificar a discrepância entre brinquedos de fábrica (comprados) e aqueles produzidos pela própria criança (artesanal), nesse caso, por Quito. No texto, José Maviael Monteiro dá ênfase ao contexto patriarcalista, uma vez que ordena, nos fatos narrados, a superioridade paterna e, por outro lado, ajusta, de forma negativa, o papel da mulher no contexto narrado, com exceções da lavadeira. Por outro lado, também pode-se obpode-servar a questão da figura masculina conferida na perspectiva profissionalmente reconhecida e afirmada na promoção do sustento da família, enquanto que as mulheres, pertencente à (burguesia) figuram, apenas, com o papel de mãe e donas de casa. No entanto, ao tratar da classe proletária, o escritor dá ênfase à mãe de Quito que assume função dupla de dona de casa e provedora, pois, no próprio rio, lava roupas de outras famílias abastadas para ajudar no sustento da casa.

O papel da imprensa em geral é evidenciado sob os pontos tanto positivo quanto negativos, no que compete avaliar a eficácia do jornalismo no Brasil dos anos 80, quase no final do período ditatorial brasileiro. Outro fator importante a ser destacado é a questão prisional, uma vez que dois presos perigosos fogem da prisão e se escondem na caverna, onde terminam por encontrar os

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garotos e, ocasionalmente, simulam um sequestro. Nesse contexto, há a parte negativa que envolve a mídia. É por meio das mídias Rádio, TV e Jornais que os dois bandidos têm as informações sobre as vítimas e, consequentemente, se aproveitam disso para simular o sequestro. Por outro lado, também é possível avaliar, de modo positivo, o papel das autoridades: Polícia Militar e Corpo de Bombeiros na busca e resgate dos garotos e também na prisão dos bandidos. Um fator que chama a atenção é a segurança, isto é, a acepção de confiabilidade do capitão-de-mar e guerra nas instituições, pois, mediante chantagem, decide confiar às autoridades, o pedido de resgate dos sequestradores. Assim, positivamente, a polícia age de modo a coibir informações sobre a procura dos garotos para não prejudicar a estratégia de prisão dos bandidos conhecidos como: Carlão e Setevidas.

Outro fator sociocultural importante advém no modo que os infantojuvenis qualificam-se socialmente, pois já no início do texto, quando se apresentam entre si, ambos autodefinem, conforme a máxima do universo social resultante dos seus conhecimentos históricos e populares, a exemplo: “Alexandre, Magno”, ou seja, “Alexandre, o Grande” referente aos seus grandes feitos em Roma. Dessa premissa, os garotos atribuem, depois do primeiro nome, a sua maior habilidade/desejo ou profissão preterida. André, o capitão; Miguel, o Comandante; Josué, o Cientista e, por outro lado, Quito, o menino pobre que gagueja e tem dificuldades para atribuir a si mesmo um adjetivo. No entanto, considerando os feitos inventivos, isto e, os brinquedos que o menino criava por meio de materiais recicláveis, André decide que ele seria nomeado: Quito, “o inventor”.

O título do livro “Os Barcos de papel” também promove certa euforia no leitor, pois é possível, até mesmo ao leitor infantojuvenil, pressupor que o título, praticamente ignorado durante toda a narrativa, fosse o elemento núcleo, por assim dizer, uma espécie de dêitico para a descoberta do local onde os quatro garotos estavam.

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O título também corrobora para a presunção de que “Quito, o inventor”, fosse aquele que, por ventura, alvitraria fazer os barcos de papel. Assim, o garoto utiliza-se dos jornais e revistas deixados pelos criminosos na caverna. E, de fato, ao fazerem os barcos de papel e jogarem na água, as dobraduras de barquinhos saíram dos limites da caverna, onde os bombeiros, consequentemente puderam ler os bilhetes enviados pelos garotos e, felizmente, eles foram resgatados.

Q uito, no final da narrativa termina por alcançar o status de

herói da trama e, apesar da sua condição social. E, mesmo sendo tímido, tem seus momentos de fama que envolve aparecer nos noticiários. Assim, o desfecho ainda remete à dicotomia social e política, considerando que o garoto ganha, de uma empresa a miniatura de uma fábrica de fazer brinquedos equiparada aos dos garotos burgueses. Esse ocorrido permite discutir os pontos positivos e negativos da história e os limites sociais entre riqueza e pobreza que se referem aos objetos infantis industrializados e aos brinquedos construídos pelas próprias crianças. Também ressalta-se que as trocas de experiências incididas do ressalta-seu meio social termina por concluir uma história, “spoiler” ínfimo, que remete aos clichês dos clássicos infantis: “Felizes para sempre”.

O outro lado da ilha: ficção científica versus o fantástico maravilhoso

O livro: “O outro lado da ilha” (1986), conta as aventuras e surpresas de um grupo de pessoas que resolvem acampar numa ilha. Os aventureiros são: Cirilo, um estudioso de aves marinhas, sua irmã Débora e o cunhado Róbson e os três sobrinhos: Ivan, Leda e Lia. Acresce ainda, a esse grupo um cão chamado Ralfe. A intenção da família seria explorar a natureza em meio a um ambiente tranquilo e isolado da cidade. Entretanto, a aventura começa a incidir num misto de medo e descobertas quando entram na ilha e terminam por

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deparar-se com uma figura monstruosa e extraordinária de um “caranguejo” que os desafiam. Esses fatos ocorrem por meio de uma composição de acontecimentos misteriosos, a princípio, fantásticos que no final implicou em explicações científicas conclusivas.

No início do texto, há uma descrição do espaço, que o grupo adentra, pelas perspectivas de personificação. “A luz brilhante do farol ia ficando cada vez mais longe. Era como se o continente estivesse acenando adeus” (MONTEIRO, 2000, p. 9). Nesse misto de adjetivos românticos e figurados, o espaço é denominado por elementos da natureza, animais e humanos, como: mar, sol, horizonte, vento, barco, gaivotas e Terra e, claro, a família. Na sequência do texto, a bússola é um objetivo evidenciado, uma vez que serve de ajuste à rota. Ainda com adjetivos descritivos é revelado, o local almejado, “Ilha da Cacaia”, um rochedo vulcânico perdido no meio do oceano. É interessante observar que Cirilo era o único que vinha à ilha a trabalho, uma vez que o seu cunhado Róbson, a irmã Débora e o filho Ivan e suas primas Leda e Lia filhas, de outra irmã do pesquisador tinham pretensões de passeio. A escolha do local se deu porque Cirilo falara maravilhas da ilha que, por conseguinte, convenceu o grupo a ir com ele naquela aventura. Uma fala direta do estudioso remete à uma informação contradita, isto é, de que a ilha era uma reserva natural isenta da invasão humana.

O próprio Cirilo (espécie de cientista) intenciona promover interferências destrutivas na ilha, pois levava dinamites para implodir um rochedo com o objetivo de ter acesso ao outro lado da ilha. Nesse contexto, a temática reflexiva que serve como núcleo de debates para infantojuvenis efetiva-se na questão da Fauna e Flora e o quanto a intervenção humana pode causar danos ao meio ambiente, a exemplificar: a explosão feita pelo grupo para adentar o outro lado da ilha. Também pode-se destacar a permanência do estudioso (cientista) Jean Clautel na ilha por dez anos que, por meio de suas

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experiências, termina por criar meia dúzia de caranguejos gigantes. O próprio cientista observa que o experimento, a princípio, parecia interessante. No entanto, os caranguejos gigantes precisavam se alimentarem e, por conseguinte, exigia muito mais do que havia no ambiente, logo passam a comer os outros animais que, consequentemente, quebra a harmonia da cadeia alimentar na ilha. Acidentalmente a interferência da família, na sua maioria, promove desastres involuntários na ilha que, por extensão, não coadunam com a perspectiva afim de aventuras de férias, a exemplificar, o incêndio, causado pelo fogo do lampião cujo incidente demonstra o quanto o homem pode ser nocivo, mesmo que involuntário, e promover danos à natureza.

Como temática menos abrangente pode-se discutir a questão familiar, e também o avanço das tecnologias e a busca por um local tranquilo e com menos recursos tecnológicos. Assim, em conjunto à Fauna e à Flora, sob a perspectiva de preservação, pode-se considerar o estudo de aves; o mistério, a implosão e o outro lado do mistério; espírito de grupo e colaboração pessoal. Desse modo, o cientista e a família, ao colocar em pratica o famoso dito latino: “fugere urbe”, como perspectiva de confrontar a vida urbana civilização versus à busca pela natureza ou seja, um avida tranquila longe da civilização.

Com efeito, a inserção de um Naturalista Francês, conhecido por Jean Clautel que, no passado, apresentara o local a Cirilo, dez anos antes, e depois desaparecera, uma vez que o sujeito agregava adjetivos socioculturais que compreende as habilidades de cientista, boêmio e artista. De modo preditivo, a migração das tartarugas verdes; o mapa da ilha, o incidente com o caranguejo surge como um elemento dêitico para os acontecimentos e desfecho da história. Outro assunto que novamente chama a atenção na história refere-se à uma questão de gênero, ou seja, a forma como a figura feminina é retratada na década de oitenta. É recorrente no texto, alusões às figuras femininas como ser do sexo frágil, pois às mulheres:

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Débora, Leda e Lia é reservado o papel de serviços domésticos e também impõem-se, no texto, o descrédito da personagem jovem, a primeira a ver um caranguejo gigante, uma vez que a jovem sofre todo tipo de deboche ao afirmar que tinha visto tão grande bicho. Em todo o texto pode-se observar as cíclicas situações de choramingas das personagens femininas, principalmente as jovens. Por outro lado, as figuras masculinas são descritas como aventureiros, corajosos e durões, ou seja, o arquétipo do macho alfa.

Em referência ao público adolescentes e jovens, da história narrada, é interessante observar o quanto é evidenciado os conflitos de dois jovens primos: Ivan e Leda que experimentam a primeira paixão. O envolvimento amoroso dos jovens faz parte do imaginário coletivo: “A primeira paixão entre primos”. Também é importante observar que a história segue a usual perspectiva social da época, na qual o jovem rapaz exerce o papel de conquista e, assim, busca seduzir a jovem. Em nenhum momento a figura feminina surge como protagonista da relação, pois é sempre Ivan que faz as investidas de conquista amorosa. À jovem coube o papel de não se deixar seduzir nas primeiras investidas do moço. Esses códigos sociais podem servir de parâmetros para uma análise dos padrões de exigências conservadoras a respeito do gênero na década de 80, quase no final de uma ditadura civil militar no Brasil.

É interessante ressaltar que algumas informações cientificas são de cunho real, cujas perspectivas didáticas incidem de fatores como: fenômenos biológicos, muda, mutação genética, ajustada à perspectiva da hereditariedade. Também se alude à questão do tempo cronológico e físico, sem contar as figuras de linguagens, de fácil compreensão do público leitor, inclusive, as inúmeras personificações da natureza. Por outro lado, quando se pensa num público leitor infantojuvenil, há que considerar o aspecto da ficção cientifica, temática vista como sedutora ao público leitor adolescente. Dessa conjuntura, André Carneiro, estudioso da ficção cientifica, salienta que essa modalidade ficcional é uma literatura inspirada e

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baseada na ciência, apesar de que o próprio teórico considere essa visão simplista demais.

Nesse contexto, os caranguejos gigantes não se enquadram no mote literário que implica no sobrenatural ou fantástico, logo, no mínimo, pode apresentar similaridade, porém as superstições não coadunam com o desenrolar dos fatos. “O ‘maravilhoso’ da (boa) ficção cientifica moderna pode ser uma extrapolação de realidades reveladas pela ciência, uma criação imaginária de um mundo futuro, ou diferente [...]” (CARNEIRO, 1968, p.7). Dessa proposição, o texto em leitura apresenta elementos que agradam o público leitor infantojuvenil. Entretanto, a proposição do estranho e maravilhoso se apresenta com certa naturalidade e não implica na profundidade de uma acepção filosófica e psicológica que se encontram nos textos de cunho puramente hiperbólico das narrativas fantásticas. Assim, destaco a tentação de mais um “spoiler” científico do livro, pois o tamanho desproporcional dos caranguejos, encontrados na ilha, pode ser explicado/compreendido pela competência de uma experiência cientifica.

O Ninho dos Gaviões: Alpinismo, mistério, suspense e uma trama policial

O livro: “O Ninho dos gaviões” (1988), conta a história de um grupo de jovens Alpinistas intitulado: “Clube Amigos da Montanha” que pretendiam escalar o pico na serra do mar, conhecido pelo “O ninho dos gaviões”, isto é, uma montanha de difícil acesso, situada na fronteira entre o Rio de Janeiro e São Paulo, onde havia uma enorme pedra plantada no alto da serra completamente arborizada. Assim, numa reunião, na qual estavam presentes os sócios do Clube: excursionistas, ecologistas, esportistas, todos com objetivo de saber mais sobre alpinismo e, especialmente, para a escolha de quem iria fazer a escalada. A ideia era que tal aventura fosse transmitida, pela TV Panorama, para todo o Brasil. Assim, o presidente do Clube,

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de modo efusivo e unilateral, comunica quem serão os integrantes da escalada: Cesarone, Élzer, Ângela e o próprio Ronaldo, uma espécie de panelinha do Clube, conforme sugestionava, outra sócia do Associação, chamada Márcia. Ao ser questionado sobre a legalidade da escolha, Ronaldo se mostra um líder truculento e autoritário.

Na reunião, a decisão de Ronaldo deixou Márcia irritada, pois se tratava de uma escalada super importante e o sócio Dagomir, o melhor Alpinista do Clube fora descartado, porém, ele era um tipo que não gosta de confusão e manteve-se calado. Enquanto que Oswaldo, primo irmão de Márcia, assegura em voz alta que fora uma escolha de cartas marcadas. Ainda mais, acresce a presença de curiosos (pessoas estranhas) na reunião. O presidente do Clube, encerra a discussão e, juntamente com Marco Antônio, jornalista da TV Panorama, apresentam slides da montanha que vão escalar e, por conseguinte, no final são aplaudidos.

Na sequência da história, o autor insere mais uma informação estranha, pois se trata de uma escalada que, por sua vez, apresenta toda uma carga significativa de aventura ao público juvenil que, pela idade, tem a predição em gostar de experiências arriscadas. Além de a montanha nunca ter sido escalada pelo fato de ser um pico maldito por conta de fantasmas, conforme versão dos moradores vizinhos na “Vila Paramim”. O coletivo da Vila relatava que dois Alpinistas mineiros tentaram a chegada ao pico da montanha e caíram do alto, como se tivessem sido empurrados por alguém, e seus corpos nunca foram encontrados. Esse incidente estranho termina por autenticar o mito sobrenatural de que o local seria amaldiçoado. Essa perspectiva de assombração pode ter sua função creditada no texto, pois, Ernest Cassirer observa que essas induções míticas são meios de preservação, logo torna possível a permanência e vida do homem na comunidade, ou seja, por intermédio de forças sobrenaturais a natureza reivindica a necessidade de preservação e desenvolvimento da espécie humana. “Tão logo a faísca haja saltado,

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tão logo a tensão e a emoção do momento tenham se descarregado na palavra ou na imagem mítica [...]” (CASSIRER, 2013, p. 55). Disso, tal falácia não é gratuita, porque, no texto em resumo, as almas penadas surgem do imaginário coletivo como modo de vazão às peripécias dos espíritos que, por sua vez, promove a formação do ideal mítico fantasioso na linguagem da comunidade.

No desenrolar da narrativa, são apresentados dados sociais que implicam ainda mais na desconfiança de todos na trama e, isso, por sua vez, aumentará os conflitos. A sócia Márcia fora namorada de Ronaldo, essa informação, por si só, contribui para o aumento nos burburinhos entre os Alpinistas. Assim, Márcia, em conjunto aos colegas Alfredo, Oswaldo e Dagomir, decidem que vão escalar a montanha por conta própria, antes do grupo de Ronaldo. É interessante observar que na reunião havia a presença de curiosos em meio às pessoas e, consequentemente, o narrador observa que Márcia foi seguida por alguém até sua casa.

Outra informação que aguça a curiosidade do público leitor ocorre através dos bilhetes enviados à Márcia e Ronaldo de um certo “Gavião Negro” que dizia a eles que desistissem da escalada, pois a montanha era maldita. Esses bilhetes levam as personagens às suposições de quem seriam, o que torna o texto instigador. Acusações, conflitos e equívocos vão ocorrer por conta dos tais bilhetes. Dessa feita, numa reunião entre Márcia e seu grupo, os componentes buscam examinar detalhes do bilhete. Observa-se que autor insere um elemento, de repente um tanto machista, sobre às diferenças de gênero entre homem e mulher, pois enquanto Ronaldo descarta a curiosidade sobre o bilhete, Márcia, por outro lado, estava se descabelando em curiosidade.

Outro elemento que chama a atenção no texto, se refere à linguagem coloquial entre os jovens, considerando a década de 80. O texto apresenta certo tipo de linguagem coloquial da época que, por si só, chama a tenção do público infantojuvenil, a saber: “broto, gatinha, anjo”. Acresce também as tipologias textuais dentro da

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história, a exemplo dos bilhetes, e mais na sequência, também é inserido um artigo, de uma suposta ONG: “Sociedade Ecológica Sul Americana”, na qual alertava que um grupo de Alpinistas, falsos ecologistas, pretendiam escalar uma montanha para fins de exploração e isso ameaçava a natureza. Essa notícia caluniosa seria o oposto da proposta dos Alpinistas, o que causa certa indignação ao grupo. A nota é importante, pois é similar às “Fakes News” da atualidade, o que pode render uma boa discussão entre o público adolescente.

Em meados da narrativa pode-se evidenciar certa intertextualidade com o clássico de Sherlock Holmes. O assalto no Clube torna a história mais curiosa, pois os investigadores e os personagens envolvidos passam a desconfiar de todos. Ou seja, a partir desse momento da história, todos são suspeitos. Logo, é inserido nos fatos contados, uma investigação policial que torna a trama mais eufórica. Na investigação os depoimentos foram tomados individualmente, no sentido de o Delegado Santini intentar na contradição dos sujeitos intimados: Ronaldo, Argeu, Oswaldo e Dagomir. Nesse caso, os elementos de análise do discurso são preponderantes, pois é evidente que o delegado busca pistas, ou seja, linguisticamente dêiticos/elipses que o leve a concluir a investigação. “O ninho dos gaviões” passa a ser a linha de investigação. Assim, por tratar de uma averiguação, as perguntas são incisivas e propositivas o que, possivelmente, agrada o público juvenil.

As informações geográficas sobre o “Pico Everest” se tornam importante no texto, uma vez que pode induzir o leitor a pesquisar sobre o local no sentido de compreender o comentário dos Alpinistas. Também as suposições e acusações, de cunho pessoal, são elementos que podem ser usados na discussão sobre comportamentos. Nesse sentido, Ronaldo age com ética e evita especulações, pois acredita que o caso deve ser investigado pela polícia e também descarta conclusões óbvias demais. No entanto,

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uma confusão ocorrida entre dois homens, aparentemente embriagados, num bar, chama a atenção dos personagens, pois um dos bêbados, ao jogar a garrafa na direção de Ronaldo, cria certa desconfiança em todos que estavam no bar.

Assim, em meio às ameaças e conflitos, roubos e impasses com a suposta “Sociedade Ecológica” termina por levar Marco Antonio a reafirmar a perspectiva de que tudo que estava acontecendo seria o resultado da maldição do morro dos gaviões. Ainda mais, ocorre um acidente com Dagomir e a noiva Tânia, com a qual discute questões afetivas, isto é, a intimidade dos noivos e a capacidade de namorarem. Segundo o narrador, numa espécie de divagação com juízo de valor: “Coisas que vai desaparecendo nas grandes cidades” (MONTEIRO,1995, p. 31). O acidente ocorre mediante um fusca desgovernado que bate no casal machucando Dagomir, o motorista foge e o casal é socorrido por um homem de meia idade. Disso, é importante frisar a questão da solidariedade e empatia pelo outro. A noiva acreditava em premonição de que as coisas não iriam dar certo. Dagomir não mais iria na escalada por conta do acidente e, desse modo, surge a referência ao clássico livro: Os três Mosqueteiros, de Dumas que parece encaixar-se na situação dos quatro colegas, considerando a baixa de Dagomir por conta do acidente.

Também, uma notícia do jornal, chama a atenção de Marco Antonio, outro elemento importante e para desenrolar do enredo, pois termina por revelar a morte de um traficante em um fusca (acidente) cujas fotografias e slides são encontrados pela polícia. Ronaldo e Marco Antonio vão até Guarulhos reconhecer os objetos e junto com o delegado Santini buscam inter-relações entre os fatos para as investigações. Assim, a história transita para segunda fase, na qual os acontecimentos, a lógica e o mistério provocam questões embaraçosas, isto é, o autor compõe ligações entre o “Clube de Amigos da montanha” e os traficantes de drogas da região.

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deslocam à Vila de Paramim, lugarejo perdido no alto da serra do Mar, local estabelecido como ponto final da estrada de rodagem e totalmente destituída de pavimentação. O lugarejo, em torno da serra, encontra-se cercado por uma mata virgem. Na localidade o contato com a civilização se dava através do rádio. Nesse entrecho, é importante ressaltar que parece um lugar comum, conforme a visão do autor sobre o conceito de civilização. O local tem um bar, espécie de estabelecimento misto: armazém, restaurante etc. assim, o diálogo entre o dono do armazém e sua esposa Lina com os Alpinistas surge como estética linguística coloquial. Com efeito, há que ressaltar também o diálogo dos Alpinistas com os moradores referente à questão das luzes que muitas pessoas chegaram ver, à noite, no alto do morro. Ademais, sob à perspectiva da população local, essas informações estavam relacionadas às almas penadas, isto é, confirma a versão do imaginário coletivo de que a montanha fosse amaldiçoada.

Bem ao gosto do público adolescentes, o aspecto romântico ganha força à medida que Alfredo, Oswaldo e Márcia adentram a mata. Também autentica o termo latino: “fugere urbe”, ou seja, consolida a ideia retorno e harmonia com a natureza. A beleza do morro, em contraste com a avenida Paulista, onde só se enxerga poeira e poluição. O clima romantizado da noite e a intertextualidade que autor faz com Olavo Bilac e sua poesia caracteriza a aventura, pois Alfredo chama Márcia de “Musa” em referência à poesia parnasiana. Assim, na escalada do pico do Ninho dos Gaviões, Oswaldo demonstra total conhecimento das técnicas de alpinismo e, depois de muitas dificuldades, os três Alpinistas conquistam o Pico dos Gaviões. Foi um êxtase. “Por muito tempo ficaram ali de pé, com o vento da manhã a bater-lhes no rosto, contemplando a grandeza da paisagem, gozando a sensação de liberdade, a alegria da conquista” (MONTEIRO, 1995, p.71). Entretanto, o clima de felicidade dura pouco tempo, pois os três amigos percebem bitucas de cigarros no local, o que denunciava que outras pessoas frequentavam o pico do morro.

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Ambos estranham tal descoberta, mesmo assim, os três se dividem e, enquanto Márcia busca deixar o escrito, ou seja, a sua marca de que estivera no local ouve o grito de Alfredo e, consequentemente são atacados. Márcia e Oswaldo são amarrados por dois bandidos chamados: Duca e Roy, enquanto que Alfredo desaparecera logo que atiraram nele. Em seguida, um helicóptero com o delegado Santini chega no local e, esse tenta negociar a rendição dos bandidos: Roy e Duca, porém os mesmos não se entregam e ainda tentaram contra a vida de Oswaldo e Márcia. No desfecho, o autor cria certo clima novelesco, ao descrever a situação: “Quando já estavam bem próximos do solo, Roy apontou o revólver para Oswaldo e Duca fez mira na cabeça de Márcia. Dois tiros explodiram no ar” (MONTEIRO, 1995, p. 82). No desfecho da narrativa, Duca e Roy são presos, enquanto que Alfredo reaparece e, então, há uma cena emocionante de abraços e lágrimas entre os três amigos. Em seguida surge um helicóptero da TV Bom Sucesso, rival da TV Panorama para o furo de reportagem. (rivalidades entre os meios de comunicações, isto é, a briga por audiências).

É interessante observar que depois de esclarecidos os fatos, por extensão, desmistifica-se a ideia de interferência sobrenatural. Entretanto, essa explicação não provocou o convencimento do velho morador, uma vez confrontado por Márcia, responde: “– Que nada mocinha. Gente é gente, alma é alma. Conheço uma e outra. (MONTEIRO, 1995, p. 86). Essa aferição demonstra que o pensamento mítico, na sua conjuntura básica mais primitiva, se mantém inabalável em detrimento da seu contradito. Como observa Cassirer, “[...] está muito longe de apresentar semelhante caráter, que até mesmo contradiz a sua própria essência” (CASSIRER, 2013, p. 52). Nessa acepção, a ideia do sobrenatural e suas inferências no mundo são formas de visões arraigadas em oposição a percepção contrária. De tal modo, perante qualquer explicação plausível, a exemplo do velho morador de Paramim, avaliando que o mito, mesmo subjugado, os mantém aprisionados. No outro dia, no depoimento, os amigos descobrem que o “Ninho dos Gaviões” era

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usado como laboratório de refinar cocaína vinda da Bolívia e entrava pela fronteira de Mato Grosso.

Resgata-se, no texto, um outro contexto histórico, um casarão de uma velha fazenda de café que era usado como ponto de referência para passar os finais de semana. Esclarecidos todos os fatos, considerando que a polícia suspeitava do grupo como supostos bandidos. Oswaldo, Márcia, Alfredo, Dagomir e Tânia se reúnem para comemorar o feito quando é revelado que foram Tânia e Dagomir que indicaram o furo de reportagem para a “TV Bom Sucesso” com objetivo de sacanear com o grupo oposto. Por outro lado, durante o programa, em outro local, Ronaldo e Marco Antônio assistem a tudo estarrecidos e têm a triste constatação de foram passados para trás quando o desfecho é exibido. O “spoiler” revelado não encerra a necessidade da leitura completa do livro: “A reportagem encerrava-se como os três amigos abraçados diante de uma pedra, na qual estava escrito com letras bem grandes: MÁRCIA, OSWALDO E ALFREDO ESTIVERAM AQUI” (MONTEIRO, 1995, p. 90).

Essa trama, além dos elementos socioculturais, a questão real humana remete aos conflitos de relacionamentos entre jovens, a difícil relação em grupo se desloca do setor urbano para o rural sob a discrepância desses dois mundos. No entanto, acresce, além da trama policial, e a escalada têm-se, além disso, a questão dos mitos criados pela comunidade de Paramim. Mircea Eliade salienta que “Mito” e “Realidade” são importantes, apesar das oposições para preservação da espécie. No compete pensar o ser humano e a natureza. “Pelo fato de relatar as gesta dos entes Sobrenaturais e a manifestação de seus poderes sagrados, o mito se torna o modelo exemplar de todas as atividades humanas significativas” (ELIADE, 2016, p. 12). Os mitos, por assim dizer, corroboram para a preservação e manutenção da ordem mediante um suposto poder mágico. “Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime, enaltece e codifica a crença;

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salvaguarda e impõe os princípios morais [...], e oferece regras práticas para a orientação do homem” (ELIADE, 2016, p. 23). Logo, o Mito, portanto, é considerando vital para as civilizações humanas. Essa relação expressa é fundamental para o esquema de lógicas míticas advindas do imaginário coletivo cuja representação remonta a origem mítico-religiosa.

Considerações finais: o texto literário e a sua eficácia na formação do leitor literário

Quando pondera-se a perspectiva de leitor literário, isto é, as circunstâncias de vida que geram motivações para que alguém goste de literatura, ou seja, de ler, escrever e até se torne escritor, é preciso considerar as práticas de ensino-aprendizagem, a exemplo dos livros de José Maviael Monteiro que apresenta elementos motivadores, criativos e processuais, nos quais, os infantojuvenis, mesmo sendo diferentes, quanto ao domínio de habilidades e competências, possam aprender e tornar-se um leitor literário. Dessa proposição de interação entre autor, texto e leitor referimo-nos à criança e ao adolescente que experimentam com a leitura, sobremaneira, o desenvolvimento dessa competência de inserção social. Assim, no pressuposto de que todos possam tomar gosto pela leitura, uma vez que a predileção para se tornar leitor literário precisa ser despertada e desenvolvida com a contribuição da prática ensino-aprendizagem.

Ao tratar-se de outras tantas relações estabelecidas entre as teorias que estudamos, as crenças que adquirimos em nossas comunidades e as práticas de ensino-aprendizagem que utilizamos ou observamos ao longo de anos de experiência. Nesse artigo, pondera-se, no entanto, que, no momento da história de nossa sociedade, não há ainda instrumentos metodológicos para determinar se as pessoas nascem com dons específicos para desempenhar a prática da leitura literária, caso ocorra, são exceções

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e não regra. Pensar o leitor literário no que permite observar ao pensamento de Flory que sublinha importante ajuizamento, a respeito da atitude de visão do belo e da natureza de fruição do texto, como princípios do incentivo ao leitor. “Aliam-se um efeito de ordem intelectual e um efeito sensível, para compor o caráter estético inerente à recepção do texto, sublinhando-se a idéia aristotélica de que a natureza catártica é que determina a eficácia da obra literária” (FLORY, 199, p. 18, grifo nosso). O enunciado grifado, remete aos textos apresentados, nesse estudo, pois corrobora com a proposta simples de José Maviael Monteiro que, sem rebuscamentos literários, consegue mover potência imaginativa em conjunto à realidade do leitor infantojuvenil.

O autor em destaque reafirma seu ato criativo em caráter sincrônico, considerando a década de 80, ao pensamento: “Cada época possui seus próprios sistemas de sentido que organizam a cercadura, o quadro de referências do texto, segundo decisões seletivas, e sua pertinência nunca poderia englobar a totalidade do mundo” (FLORY, 1997, p. 37). A aparente simplificação e imobilização dos livros do escritor sergipano representa a realidade dos sistemas que, de algum modo, propicia aspectos perceptivos de interpretações da realidade, valores socioculturais, isto é, de formas determinadas de elaboração da experiência literária ajustada ao contexto histórico do leitor, em especial, infantojuvenil.

Os resumos dos livros, apreciados, buscam enfatizar, ainda, a necessidade de comunicação entre os três polos da relação: autor, texto e leitor, no que compete pensar o efeito catártico e a relação do adolescente condicionada pelo texto, ou seja, a recepção positiva que advém do leitor. Essas nuances possibilitam a concretização do sentido de troca de experiências. “[...] como duplo horizonte: o literário, implicado pela obra (interno) e a visão de mundo, trazida pelo leitor de uma determinada sociedade” (FLORY, 1997, p. 21). É certo, que por mais que se tenha em mente a necessidade de proporcionar a simplicidade da leitura aos infantos, não se pode,

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por outro lado, subestimar a capacidade dos adolescentes em interessar-se por “literaturas”, seja essas, um tanto quanto mais rebuscadas. “Há Adolescentes e adolescentes leitores”! Mesmo considerando que a maioria dos infantos vão começar seu processo de leitura pautado numa literatura como essa apresentada, é certo que há leitores infantos que se deparam com textos de complexidade

criativa, como: “A Metamorfose”, de Franz Kafka, “Gato gato gato” de

Otto Lara Resende e “Lua crescente em Amsterdã” de Lygia Fagundes Telles, para ficarmos, apenas com três exemplos, e não encontrar a menor dificuldade na relação leitor e texto literário.

Como ressalta Zilberman, a literatura infantil e infantojuvenil é uma modalidade de expressão que não apresenta fronteiras demarcadas, logo é bastante complexo estabelecer seu principal papel e suas linhas de ações pedagógicas e, por isso, corre-se o risco de separar o que é lógico e aproximar o que é incoerente. “Ela pode englobar histórias veristas ou fantásticas, miscigenar gente e animais antropormofizados, simbolizar ou simplificar situações humanas existenciais, misturando até todas as possibilidades num único texto” (ZILBERMAN, 1987, p. 70). Disso, José Maviael Monteiro, por meio de seus escritos, demonstra que a sua literatura define-se, antes de tudo, pelo caráter literário. Mas, por outro lado, não se submete ao imperialismo rebuscado que resgata uma cultura textual subjetivada ao extremo, o que dificulta a assimilação dos seus leitores.

Os objetivos de leitura e a formação do leitor literário pode surgir mediantes múltiplas facetas e, para cada objetivo dessa proposição, pode-se eleger materiais de diferentes tipologias textuais. Embora certos textos sejam mais próprios e usados para se conseguir determinado objetivo, como pode-se comprovar na coletânea da série: “Vaga-lume”, uma vez que a correlação entre objetivo da proposta de formação do leitor não é absolutamente rigorosa. Por isso, mesmo que os objetivos e a seleção de material de leitura produzam significados diferentes. Com efeito, é evidente

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que o escritor em destaque, pressupôs o conhecimento prévio constituído por todos os saberes infantos, adolescentes e jovens, inclui-se valores socioculturais como fatores decisivos no interesse pelo texto e na sua compreensão. “A história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos literários” (JAUSS, 1994. p. 40). Esse procedimento de troca mútua, por parte do leitor que os recebe, do escritor que se faz novamente produtor, e do crítico que sobre eles reflete, no que permite ponderar que a tradição da arte literária pressupõe uma relação dialógica que, por conseguinte, nos apresenta alguma coisa de importante.

Assim, a ação criativa de José Maviael Monteiro incide no conhecimento prévio que, de algum modo, é fundamental para possibilitar a leitura, como também na abertura de horizontes do leitor, até porque quando tratamos do alcance aos objetivos da leitura, há que ressaltar o desafio que é e será nos tempos atuais, considerando as mídias (redes sociais) que nos desafiam. Não percamos de vista que colaborar/ajudar os infantojuvenis na sua formação como leitor literário necessita pautar numa busca prioritária pela literatura que prediz uma leitura como ato que transformam em experiência significativa, o que implica ao texto aguçar, a cada momento, a curiosidade do leitor pelo seu mundo.

Referências

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FLORY, Suely Fadul Villibor. O leitor e o labirinto. São Paulo: Arte & Ciência, 1997.

GÓES, Lúcia Pimentel. Introdução à literatura infanto e juvenil. São Paulo: Pioneira, 1973.

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MONTEIRO, José Maviael. Os Barcos de papel. 8. ed. São Paulo: Ática, 1992. MONTEIRO, José Maviael. O Ninho dos Gaviões. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995.

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Recebido em 06/05/2020 Aceito em 22/07/2020

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