-:
JUVENTUDE(S)
NOVAS
REALIDADES
NOVOS
OLHARES
Organização
Gitberta Pavão Nunes Rocha Rotando La[anda Gonçalves Pitar Damião de Medeiros
r tf...
lì¡lll¡ lr ttì tl rtt lttl ll¡ !t
r-INDICE
AVALIADORES CIENTíFICOS
Ana Cristina Palos
Centro lnterd isciplinar de Ciências Sociais
-
CICS. UAC/CICS. NOVA.UAcÁlvaro Borralho
Centro lnterd isciplinar de Ciências Sociais
-
CICS. UAc/ClCS. NOVA.UAc7
lntroduçãoRolando Gonçalves / Gílberta Pavão Nunes Rocha / Pilar Damião de Medeiros
19
iovens, trabalho e futuro: dilemas e desafiosJosé Machado Pais
43
lnserção no mercado de trabalho: percursos de emprego e de vidade jovens (lSEc-UL)
Ilona Kovócs
73
Acesso ao mercado de trabalho jovens com baixas qualificaçõesescolares e de contextos sociais desfavorecidos
Fernøndo Diogo / Patrícia Faria
103
Os desafios da reconversão profissional de jovens nas atividadesdo setor primário: o caso do projeto Terra Nostra
-
capacitaçãocom raízes
Francisco Simoes
/
Rui Drumonde123
Juventude(s) e escolhas de futuro: do risco ao arriscarMaria Manuel Vieira
149
Praxes académicas: jovens e desafios de integração no ensino superior.Suzana Nunes Caldeira / Osvaldo Silva / Maria Mendes / Susana Botelho
169
Perceção dos alunos universitários relativamente à adoção de crianças por famílias homossexuaisOsvaldo Silva / Áurea Sousa
183
A tutoria escolar como factor promotor do sucesso escolare do bem-estar de jovens: impactos de uma prática
Francisco Simões
209
A consciência geracional e continental nos jovens portugueses:entre media e consumos os desafios para uma nova economia
cultural europeia
Vania Baldi
223
Cidadania global e os novos movimentos juvenis: lutas por redistribuiçãoe reconhecimento
Paulo Vitorino Fontes
243
Notas biográficasAna Nunes de Almeida
lnstituto de Ciências Sociais
-
Universidade de Lisboallona Kovacs
Centro de lnvestigação em Sociologia Económica e das Organizaçöes
(socruS) - rSEG-uL
Jorge Ávila de Lima
Centro I nterd isciplinar de Ciências Sociais
-
ClC5. UAc/ClCS. NOVA. UAcJosé Machado Pais
Licínio M. Vicente Tomás
Centro lnterd isciplinar de Ciências Sociais
-
ClCS.UAc/CICS.NOVA.UAcManuel Carlos Silva
Centro lnterdisciplinar de Ciências Sociais
-
ClCS.NOVA.UMinhoManuel Lisboa
Centro lnterdisciplinar de Ciências Sociais
-
CICS.NOVA I Faculdade de CiênciasSociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Piedade Lalanda
Centro lnterd isciplinar de Ciências Sociais
-
CICS. UAc/ClC5. NOVA.UAcRolando Lalanda Gonçalves
Centro lnterd isciplinar de Ciências Sociais
-
CICS.UAc/CICS.NOVA.UAcRui Brites
l-JOVENS,
TRABALHO
EFUTURO: DILEMAS
E DESAFIOSJosé Machado Pais
INSTITUTO O¡ CIÊITICINS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA - ICS-UL
ESCOLARIZAÇAO: UM NOVO CICLO (REGRESSIVO)
Em plena segunda Guerra
Mundial,
pouco antes de falecer,Karl
Man-nheim (1893-1947) publicouum
estimulantelivro intitulado
Diagnós-ticoo
Nosso Tempo. Provavelmente,Mannheim
não presumiria que olivro
ficasse nahistória
como uma profecia. Porém, alguns achados do seu diagnósticonão
perderam validade. Escrevia, então, Mannheim: (1946 [1943): 41): 'A juventude pertence a essas forças latentes que cada sociedadetem
à sua disposição e de cuja mobilização depende a suavitalidade'i
O
queno
seu diagnósticoMannheim
nos sugere é que, em tempos de crise, os jovens podem desempenharum
papel relevante na revitalização da sociedade ena
descoberta de novosrumos
societais,desde logo
no
questionamento de dilemas e desafios que a sociedade eos próprios jovens enfrentam.
Assim aconteceu nos anos 60 do século passado, com uma avalanche de importantes movimentos juvenis em que os estudantes universitários assumiram
um
papel de liderança. Basta recordar as mobilizaçöes estu-dantis que se estenderam de Paris a Roma, passando por Varsóvia, Praga,Berlim,
Madrid
e muitas outras cidades, como Coimbra e Lisboa. Facto surpreendentefoi o
de esses movimentos teremocorrido,
espontanea-mente, em diferentes contextos políticos, económicos e sociais. Em finais
de Março de 1968, Edgar
Morin,
numa célebre conferência realizada em M1láo ("Protesta e Partecipazione nella Gioventuin
Europa") formulouuma hipótese interessante para explicar essa coincidência: traços comuns
de um devir histórico teriam provocado isomorfismos em nações tão dis-tintas. Entre esses traços comuns, um deles sobressaía. Esses movimentos tinham uma vasta presença
e
liderança de jovens universitários.JUVENTUDE(s): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
De facto,
Morin
chamava-nos a atenção para uma acentuada penin-sularização universitária, em que os jovens contestavam valores domi-nantes da sociedade, ao mesmo tempo que reivindicavamdireitos
departicipação política até então reservados aos
adultos.
Foi deste caldo decultura
-
queo mundo
estudantil então constituía-
queemergi-ram
importantes correntes juvenis contestatárias, com os jovens uni-versitários numa posição de liderança. Nãopor
acaso, a Ação Católica Portuguesa lançou na década 50 umimportante
e pioneiro Inquérito àluventude Universitária, coordenado pelo Prof. A. Sedas Nunes. Sob sua
direção surgiram na década 60 outras investigaçóes sobre a juventude portuguesa, designadamente a universitária:
um
novo Inquérito sobre a Situação e Opinião dos Universitório$um
conjunto de estudos sobre aUniversidade na Vida Portuguesa; e algumas importantes reflexões teó-ricas sobre a problemática das 'þerações" na sociedade de então.
Note-se que
a
geração dos jovensuniversitários
dos anos 60-70 (nascidos na década de 40/50) fazparte de uma geração que,por
toda a Europa, frequentou uma universidade em processo de democratiza-ção(OCDE,2011). O
crescente acesso ao ensino secundário esupe-rior
dos jovens portugueses, melhorou as suas condições de ingresso no mercado de trabalho,originando
uma significativa mobilidade social, de sentido ascensional.No
entanto, a crise de emprego que atualmenteafecta os jovens portugueses, mesmo os que têm elevadas qualiflcações
académicas, levanta imensos dilemas
e
desafros quando se discute ofuturo
dos jovens. É sobre estes dilemas e desafios que proponho algu-mas reflexões.Como
reagem os jovens à situação? Em que medida o desemprego e a precariedade detrabalho
os leva a inventar novasfor-mas de ganhar a vida? Surgirão novas culturas do trabalho? Coexistirão
estas com novas formas de exclusão social e de evasão ao trabalho? As
políticas públicas de combate ao desemprego são sensíveis a estas
reali-dades? Que respostas propöem?
Recentemente têm-se proclamado as chamadas engenharias da
sub-jetividade como estratégia de fuga ao desemprego (Pascual et al,2012). Elas radicam na vontade dos
indivíduos
para, autonomamente, forja-rem o seupróprio
destino. Nelas surge a crença de que quem em suas decisões demonstrauma
reflexividadede
ação (Adams, 2003, 2006; Threadgolde Nilan,
2009) estámuito mais
capacitadoa
fazer esco-lhas biográficas (Brannen e Nilsen, 2005) ou a gerir os riscos defuturo
(Elliott,
2002; Laughland-Booy et al, 201 5), Estas engenharias dø subje-JOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFIOS
üvidade poderão estar redundando em inesperadas oportunidades de vida, balizadas
por
novas culturas de trabalho, onde se destacamvalo-res de autonomia, improvisação, criatividade, exp ertise, expressividade
e
ludicidade (Almeida e
Pais, 2013).Um
sugestivo exemplo éo
dos chamados jovens trendsetters. Apostados emcriar
novos estilos eten-dências, principalmente no
domínio
das chamadas indústrias culturais(moda, design, novas tecnologias, música, etc'), muitos deles têm con-seguido esquivar-se aos dissabores do desemprego. E mais, capazes de
trilharem trajetórias de vida marcadas por escolhas biográficas, eles têm conseguido valorizar
o
trabalho comodomínio
de realização pessoal.Para eles a profissão é, sobretudo, uma vocação. A sua criatividade é um
trampolim
para transcenderemo
presente e se projetaremno
futuro,desse
modo tornando
presenteo futuro.
Porém,a nattteza
estruturaldo desemprego continua a ameaçar muitos jovens, originando o bada-lado fenómeno dos nem-nem,jovens que nem estudam nem trabalham. Aliás, se a vontade dos indivíduos é determinante para, com autonomia, forjarem o seu
próprio
destino, não podemos menosprezar as condições sociais que criam ou bloqueiam as estruturas de oportunidade-
sobre as quais as políticas de emprego não podem deixar de atuar. Tenha-se em conta que o desemprego tem duas faces: é uma realidadeindividual,
subjetivamente vivida, mas é também uma realidade com
determinan-tes sociais.
DESEMPREGO JUVENIL:
UM
BREVEBALANçO
Desde 2008, a Europa tem vindo a ser assolada por uma crise económica
e financeira que não deixa de se refletir nas difrculdades de inserção pro-fissional de muitos jovens (Cochard, 2010; Scarpetta et aI,2010). Entre
2008 e 2010 a Europa perdeu 5 milhões de empregos, tendo-se agravado
a situação de pobreza e exclusäo social entre muitas famílias. A crise que
se vive na Europa não é conjuntural, ela é de natureza estrutural e
por
isso mesmo persistente. Em Portugal, no ano de 2004 registou-se uma
inflexão na chamada curva de Beveridge, que nos dá a evolução da taxa de desemprego em relação à oferta de trabalho. O crescimento paralelo
de ambas as variáveis que a
partir
de então se registou foi um claro sinaldos reais desajustamentos no mercado de trabalho (Dornelas: 201
l:
40),JUVENTUDE(s): NOVAS REALTDADES. NOVOS OLHARES
O
emprego precário aumentou significativamente entre os jovens europeus, em paralelo com as taxas de desempregojuvenil. O
desem-prego de longa duração também aumentou, ainda que subavaliado pelasestatísticas
do
desemprego.No
seutodo,
nãoé
fácil quantificaro
realvolume
do
desempregojuvenil,
frequentemente mascarado pelo facto de uma parte dos jovens desempregados se encontrar submergida na população não ativa. Como se sabe, da população ativa faz apenas partea população empregada e desempregada com mais de 15 anos. Contudo,
os desempregados invisíveis acabam por ser registados como população
não ativa. Estão neste caso jovens que se arrastam pelo sistema de ensino,
sem o levarem
muito
a sério. Outros, tendo-o abandonado, continuam a não ser apanhados pelas estatísticasdo
desemprego. Estes últimos, eoutros mais, fazem parte da controversa categoria, como adiante
vere-rnos,
dos chamadosnem-nem
(jovens que nem estudam nemtraba-tham)
e que,em
2070,jâ
representavam l2o/o dos jovens portugueses (L5-24 anos),ligeiramente abaixo (1370) da média europeia(U827).
A
taxa de atividade da população jovem portuguesa(Ii-z4anos)
-que,
aliás,
veio
decrescendo ao longo daprimeira
década do presente século-
situava-se, em 2010, em37o/o, enquanto que na EU era de 43o/o.Em contrapartida, a taxa de emprego dos jovens portugueses era apenas de 29o/o contra 34o/o da
EU
(dados do Eurostat). Considerando a redu-zida percentagem que em Portugal assume a população ativa juvenil,as taxas de desemprego
juvenil
ganhamum
significado acrescido. Nãofosse o refúgio de alguns jovens no sistema educativo; não fossem os
flu-xos crescentes de emigração; não fosse o desemprego camuflado a que
as estatísticas não dão
visibilidade...
certamente que as taxas dedesem-prego
juvenil
seriam muito mais expressivas. Na viragem do século erajá notório o
misterioso desaparecimento de jovens das estatísticas do desemprego (Pais, 2001:30-50).
Hoje, alguns jovens esquivam-se delaspor
simplesmente terem emigrado.Por outro lado, o desemprego
juvenil
aparece associado a umacres-cente precariedade de emprego, também indiciada por algumas
estraté-gias de fuga ao desemprego que vão além dos ganchos e biscates (pais,
2001).
Alguns
jovens arriscam pequenos negócios masnem
semprecom sucesso.
ou
seja, a crescente percentagem de jovens trabalhadorespor
conta própria nem sempre se traduz numa desejada independência económica. Aliás, não por acaso, Portugal é dos países europeus(U827)
com mais trabalhadorespor
conta própria. Em 2009 eram 23o/o contraJOVENS, TRABALHO E FUTURoj DILEIVIAS E DESAFIOS
I5o/o aníveleuropeu (Dornelas: 2011: 35). O fenómenodos "recibos
ver-des'l instituídos em 1978, não é alheio a uma precariedade que aparece
reforçada se levarmos em
linha
de conta o peso dos contratos a prazoque em 2010 representavam, em Portugal, 23o/o do emprego total, contra
I2o/o da média da
OCDE
(Pernot,20ll:75).
Em
2013,o
desempregojuvenil ultrapassava os 40%, atingindo jovens de elevadas qualificações académicas. Se
outrora
se questionavaa
inadequaçãodo
sistema de ensino ao mercado de trabalho, agora é pertinente questionar em que medida o mercado de trabalho estará apto a satisfazer uma procura de emprego francamente excedentária em relação às exigências do sistemaprodutivo. E não é certo que a posse de
um
diploma universitário sejaum passaporte de imediato acesso ao mercado de trabalho, embora os jovens diplomados não sejam dos mais desarmados. O certo é que nem sempre encontram uma colocação profissional correspondente às suas
qualifr caçöes ou expectativas.
Os percursos de inserção profissional dos jovens do ensino superior
têm sido crescentemente problematizados.l Entre alguns licenciados o fenómeno
da
sobrequalificação, não sendo avassalador,não
deixa de ser significativo, tendo em de conta o seu crescimento.Com
efeito, seem 2000 apenâs 11% dos licenciados dos 25 aos 34 se encontravam a
trabalhar em proflssões menos qualificadas, em 2009 eta
jâ de
l8o/o apercentagem de licenciados inseridos em profissões pouco ou nada qua-lificadas
no
sistema de Classificação Nacional de Profissões: operários, artífices e trabalhadores similares; operadores de instalaçóes e máquinas e trabalhadores da montagem; trabalhadores não qualificados (Dorne-Ias,2011: 32).No
entanto, considerando a taxa de emprego dapopula-ção dos 20 aos 64 anos, constata-se que ela é tanto mais elevada quanto
mais elevado o nível de habilitações académicas. Em Portugal, como na Europa (ErJ 27),ao longo da primeira década do presente século sempre
O Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPERAI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior tem publicado vários relatórios sobre
a procura de emprego dos diplomados com habilitação superior, explorando não apenas os recenseados inventariados anualmente pelas instituições de ensino superior, mas também
os inscritos nos Centros de Emprego pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional' No ICS-Ulisboa realizou-se recentemente um projeto de pesquisa sobre "Empregabilidade
e ensino superior em Portugal" (Cardoso et al,2012), que Procurou averiguar o modo como os graduados e diplomados obtêm ou consolidam as suas posições no mercado de
trabalho. Um outro projeto de investigação sobre "Percursos de inserção dos licenciados",
JUVENTUDE(s): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
a taxa de emprego ultrapassou os 80% entre os detentores de diploma do
ensino superior. Todavia, a taxa de desemprego dos jovens portugueses licenciados (15-24 anos) é superior em relação à média dos jovens licen-ciados europeus.2
Como quer
que seja, entre os jovens portugueses (15-24 anos) o desemprego sofridopor
aqueles que detêm habilitaçoes superiores e osque detêm habilitaçöes básicas é qualitativamente
distinto. O
desem-prego de longa duração concentra-se, sobretudo,
em
sectores de tra-balho menos qualificado:"indústrias transformadoras",'tomércio por
grosso e a retalho'l "reparação de veículos automóveis e motociclos" e'tonstrução'
(Dornelas: 201 1: 40). As teses'tatastrofistas" que apontamas dificuldades de inserção profissional dos diplomados do ensino
supe-rior
têm sido largamente discutidas e criticadas (Portugal, 2004; Chaves eta\,2009;
Marques e Alves,2010). Estas críticas são justas sempre equando tais teses incorrem
num
equívoco metonímico, isto é, quando generalizam as reais dificuldades de inserção profissional de uma partede alguns jovens licenciados a todo o seu universo. Porém, esse
necessá-rio
sentido crítico, não nos autoriza aeliminar
a parte da realidade que em alguns discursos mediáticos aparece empolada.A
arte de persuadir que encontramos em alguns meios jornalísticos e académicos levanta recorrentementeum
paradoxoidentificado por
Schopenhauer (1997) em alguns dos estratagemasda
sua dialética erística. Refiro-me, desde logo, ao estratagema da ampliaçao indevida.A
refutaçãodo
exagero deuma
generalizaçã,o não pode, contudo, negar a realidade que lhe dá origem. Assim, se o desemprego e a pre-cariedade são fenómenos que efetivamente afetam alguns jovens licen-ciados não podemos negar essa realidade,muito
embora,no
seu todo, os jovens licenciados vivam uma situação menos desprotegidado
que os não licenciados. Desde logo porque os seus níveis de rendimento são superiores, o que também não justifica os baixos salários que uma boa parte deles aufere. Daí resulta a sua frustração, suportada por evidências estatísticas. Por exemplo, 630/o d,os jovens licenciados pela FCSH-UNL (Chaveset al,
2009:89)
não aufere mais demil
euros, transcorridos2
Tenha-se em atenção a complexidade de algumas correlações. Por exemplo, o número total de inscritos com habilitação superior nos centros de emprego em Portugal Conti-nental aumentou l6olo entre Dezembro de 2008 e Dezembro de 2009 (GPEARI, 2010).No entanto, essa variação pode, em parte, ser determinada pelo aumento do número de
licenciados e não apenas por condições adversas do mercado de trabalho.
JOVENS, TRABALHo E FUTURo: DILEMAS E DESAFIOS
cinco anos após a obtenção da sua licenciatura Por outro lado, quando
se constata que Portugal é dos países europeus onde se verifica um maior
benefício remuneratório dos licenciados em relação aos não
licencia-dos, não significa, necessariamente, que os licenciados ganhem demais;
pode simplesmente acontecer que os não licenciados ganhem de menos.
À boleia das teses catastrofistas surge a ideia de que não vale a pena
frequentar
a
universidadee
de que poucoou
nada se ganhoucom
ademocratização de acesso ao ensino universitário. É uma ideia falaciosa.
Porém, não podemos menosprezar as diflculdades de inserção
profissio-nal sentidas por alguns jovens licenciados e doutorados. Entre eles existe
um sentimento de grande frustração. Foi esse desencanto que despertou
uma consciência social que esteve na origem das várias manifestaçóes que
ocorreram em várias cidades portuguesas a 12 de Março de 201
I,
e outros mais protestos se seguiram,com uma
grande participação de jovens.Cartazes empunhados pelos manifestantes davam conta
da
desvalori-zaçäo das titulações académicas: "Qualificado e desempregado"; "Curso
superior em escravatura"; "Licenciada
=
desempregadd'; "Com licencia-tura, com mestrado, com namorado/ Sem emprego, sem casamento, semfuturo'. Os cartazes também ecoavam sentimentos de revolta em relação ao trabalho precário:
'A
minha
crise é a precariedadd'; "Queroo
meu contrato'; "Precariedade não nos dá estabilidadd'; 'Abaixo a precariedade e toda a exploração'; "Precários não são otários"; "Precariedade não éfuturo';
"Precários nos querem, rebeldes nos têm"; "Deixa passar, deixapassar, eu sou precário e o mundo vou mudar" (Pais, 2014: 83).
Desencadeadas por sentimentos de indignação, estas manifestações
de protesto, como também aconteceu em Espanha, não podem disso-ciar-se da crise de desemprego e da precariedade
vivida
pelos jovens do sul da Europa. Nemo
sistema educativo nemo
mercado de traba-lho parecem capazes de garantir a realização das aspiraçoes de muitos jovens. Com dificuldades de inserção profissional, são então acossadospor
sentimentosde
desilusãoe
descrença,traídos na
capacidade deimaginar
um futuro
com esperança (Pais, 2012). Entre os jovens gera--se entãoum
sentimento de frustração relativa, conceito desenvolvidopor Gurr
(1970) para designarum
estado de tensão associado a uma satisfação esperada e denegada,um
descompasso entre expectativas erecompensas. Provavelmente, estamos perante a
primeira
geração do pós-guerra (1939-45)com
expectativasde mobilidade
descendenteJUVENTUDEG): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
Embora desencadeadas
por
sentimentos de indignação em relaçãoao
desempregoe à
precariedade laboral, estas manifestações juvenis reivindicam novas atitudes de vida e novos valores sociais, desafiando os marcos de participaçãopolítica
convencionale
institucionalizada.Na
acampadas de Lisboa (Pais,2014) e deMadrid (Dagnaud,20ll),
em Maio de
2011,eram
abundantes osfolhetos,
cartazese
cânticos reclamando uma nova ordem social, novas éticas devida,
novassen-sibilidades culturais: apelos à defesa
do meio
ambiente e dos produ-tos biológicos, com mostras de produtos naturais, hortas biológicas emateriais reciclados; reivindicação do
"direito
à semente", do cuidar daterra, de uma vida em comunidade; defesa de uma cultura da partilha, mesmo
no
campo gastronómico, com workshops e bancas multicultu-rais de sabores; apologia dosdireitos
dos animais; murais commen-sagens transformando
o
espaçopúblico numa
arena de comunicação;apelos à defesa dos direitos dos imigrantes; defesa da liberdade sexual e
das minorias estigmatizadas; apelos aos valores do amor e da espiritu-alidade. Como é que na emergência destas novas correntes sociocultu-rais se posicionam os jovens quando se confrontam com os dilemas do desemprego? Em que medida os
múltiplos
rearranjosno domínio
das profissões se associam a novos horizontes de realização pessoal eprofis-sional? Será que as trajetórias profissionais dos jovens, fragmentadas e
nem sempre sintonizadas com os capitais escolares adquiridos, suscitam
uma individualizaçã,o das estratégias de inserção no mercado de traba-lho? Estaremos perante novas culturas
do
trabalho? Coexistirão estas com formas de exclusão social que, em alguns casos, se traduzem numaevasão ao trabalho? Em que medida as políticas públicas de combate ao
desemprego são sensíveis a estas novas realidades?
NOVAS CULTURAS DE TRABALHO: O CASO DOS JOVENS
TR¿NDSETTERS
Nos
últimos
anos reacendeu-se o debate sobre ofuturo
do trabalho, o seu sentido e valor, as suas transformações possíveis, a sua centralidade ou não na vida das pessoas. Mas o que está em jogo é o próprio conceito de trabalho (Jung, 2000:1l).
Ao discutirem-se as novas culturas e traba-lho não podemos deixar de questionar, entre os jovens de hoje, o surgi-mento deum
novo ethoscriativo
(Florida: 2002), outrora associado aoJOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFIOS
rnundo das artes mas que agora marca presença em amplos segmentos
juvenis (Almeida e Pais,
2013; Canclini
eMaritza,
2012). Estes jovens "criativos" laboram no campo das artes, dos livros, da música e das tec-nologias digitais, explorando redes de cooperação que prevalecem naschamadas indústrias culturais. São jovens que fazem parte de uma
cate-goria
particular
de trabalhadores, nem permanentemente assalariadosnem plenamente independentes.
Muitos
deles trabalham em projetos de curta duração, frequentemente mal pagos, intermitentes, sem con-tratos de trabalho, sem chegarem a estruturar as suas carreiras. Os limi-tados ganhos que auferem,por
falta de encomendas e de contratos deffabalho, obrigam-os a combinar, de forma intermitente, tarefas
criati-vas com atividades secundárias, como constatei numa pesquisa sobre
jovens criadores de banda desenhada (Pais,20l3). Os seus ganhos
espo-rádicos
têm
de ser escrupulosamente administrados para garantirem uma sobrevivência económica.Noutros
casos, contudo, asdificulda-des inicialmente experimentadas vão sendo ultrapassadas, revertendo em estimulantes
e
recompensadoras carreiras profissionais. Standing (2011) dá-noso
exemplo dos jovens proftécnicos-
isto é, jovens que,combinando capacidades profissionais e técnicas, atuam preferencial-mente como trabalhadores liberais, fazendo valer a sua expertise.
Uma boa parte destes jovens insere-se
no
universo dos chamadostrendsetters, jovens que, com criatividade, lançam novas tendências no
campo da moda, das artes
ou do
marketing. Caçadores deoportuni-dades, deslocam-se continuamente de
um lado
parao outro,
sem seacomodarem a
um
emprego estável. Para alguns deles, a mobilidade profissional corresponde a uma escolha biográfica que não se circuns-creve à esfera profissional.A
mobilidade é encarada comoum
modo devida, principalmente
se nãotêm
responsabilidades familiares. Por serem detentores de importantes capitais escolares e culturais epor
seadaptarem bem à instabilidade
do
mercado de trabalho, alguns destesjovens fazem parte de uma nova categoria social, os precórios de elite. Estas novas
culturas de
trabalho, baseadasnum
ethoscriativo e
emnovas concepções do trabalho, podem significar uma chave de sucesso
para alguns jovens empreendedores e criativos ainda que, nos seus
per-cursos profissionais, possa também haver lugar a intermitências e a uma
indesejada precariedade. Mas eles valorizam a flexibilidade e a natureza do trabalho, o ganho que significa não dependerem de horários rígidos. Podem até sentir-se confortáveis com trabalhos temporários que
inter-JUVENTUDE(s): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
calam com viagens delazer, depois de algumas poupanças. Há mesmo quem apresente uma imagem romantizada destes jovens, tocados
por
um espírito aventureiro que recusa as normas do antigo operariado embusca de um emprego para toda a vida ou do materialismo burguês dos
'tolarinhos
brancos" orientadospor
umavida
acomodada (Standing,201 1). Esta rebeldia e inconformismo, tão presentes em amplos sectores
juvenis de hoje, constituem um traço cultural que não se pode desprezar, associado a valores pós-materialistas, onde avalorização da segurança
de emprego cede
em
relação à valorizaçãoda
realização profissional, da autonomia, da liberdade de exercício de uma atividade profissional liberta datirania
do trabalho subordinado. As chamadas classescriati-vas prezam estes valores (Florida, 2002).
Deste modo,
no
universo dos trabalhadores temporários e precá-rios há quedistinguir
entre os precáriospor
opçao e os precáriospor
exclusão, provavelmentea maioria
deles.No
entanto, mesmo entreestes
últimos,
a criatividade não deixa de serum
apelo àprofissionali-zação (Pais, 2013) e não só entre os jovens trendsetters, mais ligados às
indústrias culturais.
Tome-seo
exemplo deum jovem,
companheiro de uma doutoranda brasileira que há tempos orientei. Ela veio parâ oInstituto
de Ciências Sociais com uma bolsa decurta
duração (bolsa sqnduiche,como
sediz no Brasil).
Agorajá
é doutorada, professorauniversitária.
O
seu companheiro, Leonardo, também
sociólogo, sem bolsa de estudo,nem
estudava nemtinha
emprego. Poderia serlevianamente classificado como
um
nem-nem. Na verdade, ajudava acompanheira nas lides domésticas,
particularmente
na confecção das refeições.Como
bom
companheirovirou cozinheiro
etomou-lhe
o gosto. Não só da comida, mas das artes de afazer. Noperfil
traçado noseu blog,
Marido
Sanduiche,3 vemos como a sua passagempor
Portu-gal
foi
determinante para acalentar uma vocação.Foi
em Lisboa quedescobriu os sabores da
culinária
portuguesa e, apartir
daí, decidiuque o seu
futuro
profissional seria jogado no universo da gastronomia.Passado um ano
voltou
com sua companheirapara Porto Alegre, onderealizou
um
curso de cozinheiro. Depois seguiu-seum
estágio nores-taurante Chez Philippe,
um
dos mais conceituados restaurantesfran-ceses
do
suldo
Brasil. Agora viveno
Rio.Há
tempos enviei-lhe umamensagem, perguntando-lhe como ia a vida. Respondeu-me:
"Minha
3
http://mâridosanduiche.blogspot.pt/, última consulta em 14 e Novembro de 2015.JOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFIOS
formaçao acadêmica
facilitou muito minha inserção'no
mercado de trabalho. Meu blogfoi
fundamental para chegar onde cheguei. Atual-rnente estou trabalhandono melhor
restaurante portuguêsdo
Rio de laneiro, sou Subchefe lá.Além
disso dou aula de cozinha portuguesa também. Estou adorando."Uma mão na cozinha para ajudar a companheira abriu-lhe a porta
de acesso a uma inesperadarealização profissional. Provavelmente a arte
culinária acompanhá-lo-á para toda a
vida.
Estas estratégias de busca de emprego, aproveitando criativamente as oportunidadescontingen-ciais da vida, merecem reflexão quando debatemos as novas culturas do
trabalho.
A
enorme flexibilidade, instabilidade e imprevisibilidade do mercado de trabalho é propíciaao
desenvolvimento destas estratégias. Que significado têm, por exemplo, as políticas de formação contínua ao longo da vida? Seguramente, uma necessidade de ajustamento da oferta educativa às rápidas mutações do mercado de trabalho, às transições devida não lineares (Pais, 2001; Raffe, 2003). É neste cenário de jogo que também aterram as artes do desenrascanço
(Pais,200l;2014),
estraté-gias de atuação que permitem a superação de situações difíceis a
partir
da improvisação.a
FUGAS AO TRABALHO E EXCLUSOES SOCIAIS
Há jovens para os quais
o trabalho
deixou deter
a centralidade queoutrora tinha, embora continuem a valorizá-lo. Outros, porém, Parece viverem apartados do mundo do trabalho, fazendo parte dos chamados nem-nem (jovens que nem estudam nem trabalham). Esta categoria está armadilhada de equívocos. As estatísticas do emprego e do desemprego nem sempre são rigorosas
na
quantificação dos nem-nem.A
tendên-4
Não espanta, que os norte-americanos, sempre de olho nas mais prometedoras inovaçôes,tenham descoberto as potencialidades do desenrascanço. Recentemente, num site norte--americano [www.cracked.com] apareceu uma listagem de palavras estrangeiras que mais
falta fariam à língua inglesa. À cabeça da lista aparecia: "desenrascanço". Não consegui-ram encontrar nenhuma palavra equivalente em língua inglesa. Mas lá se desenrascaram, ao proporem a expressão: "To pull a MacGlwer". Se bem se recordam, MacGlver era o
herói de uma série televisiva que resolvia problemas de forma inusitada. É esse engenho que se descobre no desenrascanço: "a arte de encontrar a solução para um problema à
última da hora, sem planeamento nem meios [...]. Enquanto a maioria de nós
Inorte-ame-ricanosl crescemos sob o lema dos escuteiros'sempre preparados', os portugueses fazem exatamente o contrário" Ihttp://www.cracked.com; consulta em 30 Outubro de 2014].
JUVENTUDE(s): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
cia é para que o fenómeno seja empolado. Não apenas estatisticamente como, sobretudo, ideologicamente.
As
representações mediáticas que aparecem associadas aos nem-nem sugerem que os jovens resistem asair da chamada "zona de
conforto'familiar.
Deste modo, podegerar--se a representação de uma juventude alérgica aos estudos e ao trabalho
o
que não é certo, exceto para os que, deliberadamente, renunciam aandar na escola ou a procurar trabalho.
A
questão a debater é a de saber se são os jovens que renegam otrabalho ou
se são as estruturas de oportunidade-
ot
melhor, a faltadelas
-
que os empurram para formas de vida cuja precariedade tende aagravar-se
por
desânimo, frustração, ansiedade ou falta de motivação. Frequentemente, a categoria dos netn-nem dá acolhimento a jovens quenela não deveriam ser considerados: jovens que não trabalham porque não conseguem encontrar trabalho
por muito
que se esforcem; jovenscujos
problemasde
saúdeos incapacitam de trabalhar; jovens
que realizam trabalhos de voluntariado; jovens quecuidam
de familiares idososou
enfermos; jovens quetrabalham
nas lides domésticas, etc.Muitos destes jovens trabalham a valer mas nas malhas das estatísticas caem na categoria dos que não trabalham, como se fossem parasitas.
Desse modo, as estatísticas reforçam
um
estereótipojuvenil
(Moreno,2011), alimentando mais
teses catastrofistas.Em
que
medida
arepresentação estereotipada
em
relação aos jovens nem-nem
não estará a afetar,por um
efeito metonímico, a representação que se temdos jovens de hoje?
Como quer que seja, há jovens que efetivamente
vivem
apartadosdo mundo do
trabalho sem que, aparentemente, procurem formas deinserção profissional.
De
seguida apresentam-sedois
casos extremos que ilustram novas atitudes e novos modos de vida que se traduzem emfugas ao trabalho e em exclusões sociais: num caso, tipificado peloslazy
beggars, o que os jovens buscam é uma milagrosa independência
eco-nómica, sendo manifesta a sua alergia
ao
trabalho ou, pelo menos, aotrabalho considerado
num
sentidotradicional; noutro
caso renega-se o trabalho à sombra dos suportes familiares, numa persistente depen-dência económica. Estão nesteúltimo
caso os jovens YASP (Vagabun-dos Anónimos Sustentødos pelos Pøls). Como veremos, convirjam numa comum alergia ao trabalho, os modos de vida dos jovens tipificadospor
estes dois estudos de caso são distintos entre si, sobretudo do ponto de
vista das atitudes, dos valores sociais e das éticas de vida.
JOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEIVAS E DESAFIOS
Os lazy beggars (vagabundos vøgos)t integram
um
grupo de jovens adultos, de nacionalidades diversas, que deambulampor
váriascida-des da Europa, entre as quais Lisboa. Cultivando uma ociosidade
rela-tivamente
criativa,
eles descobriramuma forma original de
inventar dinheiro. Vejamos como se identificam:Basicamente somos unos vagabundos muy vagos; en el sentido tradicional
(vivimos en la calle y pedimos dinero) y tambien en el poco tradicional
(como para ser sinceros y hacer reir a la gente).
Oh si; tambien tenemos pagina web. Bienvenidos al siglo XXI
Pedimos para Comida,
Vino,
Porrosy
Cocaina(la
version original)?para Cerveza, Vino, Whisky y Resaca ( la version light ). Por lo menos
somos sinceros...
Hemos utilizado los carteles por mas de cinco años viajando por las calles
y haciendo reir a la gente.
Y despues de unos cuantos años tenemos website (recuerda Internet es Ia
calle mas larga). Esperamos hacerte reir. esperamos hacerte pensar.
espe-ramos fazer-te generoso.
Estaremos perante
uma nova cultura de
trabalho
ou
ante uma cultura de vida assente na negação do trabalho? Vagabundos pedintessempre os houve ao longo da história, mas estes são diferentes. Para já
apresentam-se como "vagabundos
muito
vagos". E embora também seafirmem vagabundos no sentido tradicional do termo ("vivemos na rua e
pedimos dinheiro") não deixam de reivindicar um estatuto diferente: são
"vagabundos num sentido pouco tradicional" pois são "sinceros","fazem
rir
a gente" e até possuem uma página web. E mais. Defendem uma éticade trabalho que,
por um
lado, se nega a si mesma,por
ser esquiva ao trabalho; e que,por
outro lado, se transcende a siprópria, por
se afir-mar, sobretudo, como uma ética de vida. Esta não se expressa apenas por valores individuais, como o da sinceridade pessoal.A
ética de vida que abraçam está alinhada com valores sociocêntricos: oriso
social, o questionamento davida,
a generosidade, a solidariedade: "esperamosfazer-le rir, esperamos fazer-te pensar; esperamos fazer-te generoso'.
Quando Dostoievsky (1960
[1864]), em
suas Nofesfrom
Under-ground,nos mostrou como algumas condutas de risco entre osvagabun-5
http://www.lazybeggers.com , última consulta em 30 de Outubro de 2015.JUVENTUDEG): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
dos apareciam associadas à libertinagem, ao impulso de transformar o previsível em
arbitrário,
ao desafio de desafiaro
risco, apontava uma associaçãoentre
vadiageme
delinquência,posta
aliásem
evidênciapor muitos
géneros de literatura, da clássica à de cordel. Parao
peri-odo doAntigo
Regime veja-se a obra de Roger Chartier (1987), dando--nos conta das representações literárias dos marginais, falsos mendigos, ladrões e vagabundos usurpadoresda
caridade pública.No
caso dos lazy beggars, a odisseia de desafiar o risco persiste, mas estes vagabun-dos pós;modernos não são necessariamente delinquentes. Eles apenasexploram,
à
sua maneira, algumas características da vagabundagem: inconsistência,instabilidade, errância
-
característicasque,
quando aplicadas aomundo do
trabalho, ganhamno
jargão sociológico, uma denominação: precariedade.Quem
são esteslazy
beggars?Só muito
vagamenteo
sabemos.Tome-se
o
autorretrato biográfico de Lyndon.
Confessater
trinta
e"picos anos", ainda que pense ter uns 15. Quando ainda jovem, ao
sen-tir-se
um
velho careta, decidiu viajarum
pouco, antes de ingressar na universidade que abandonaria logo que começou a aprendermalaba-res e a
tomar
o gosto de viajar à boleia. fá engenheiroinformático,
ouengenhocas
lunático, diz ter
trabalhado em bancos e multinacionais, viajando muito. Queixava-se então da carga de trabalho, das obrigações profrssionaisque
ofuscavamos horizontes culturais,
lamentando-se: 'das cidades só consegui ver táxis, hotéis, aviöes, etc. mas nada da formade ser dos povos e suas gentes". Depois decidiu viajar à sua maneira pela
Europa, com os seus malabares, até que em Granada encontrou outros vagabundos,
como
José eNemo
'b
cachorro mais preguiçoso jamais visto'. Vive com outros vagabundos há vários anos. Aparentemente, em busca deum modo
devida distinto
daqueleem
que avida
se perde quando se tenta ganhá-la.No
site dos lazy beggars, ao qual não falta a possibilidade de anga-riação de donativos por Pay Pall, dão-se ideias para se inventar dinheiro:por exemplo , a guitørrø de ør: "vai para uma rua concorrida (simulando
tocar numa guitarra
inexistente)com
um
cartaz dízendoipara
umaguitarra
nova".Outra
ideia, a fonte dos desejos:'Arranjaum
recipiente transparente (reciclaum,
cortando o gargalo deuma
garrafa de água)deita-lhe uma porção de água e algumas moedas e escreve num cartaz: reqliza um desejo". Enfim, um rol de ideias para inventar dinheiro, como
as baladas ou as artes circenses de rua, onde a ociosidade prevalece sobre
JOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEIVIAS E DESAFIOS
o trabalho. Que gente é esta com muitos picos de anos,'que envelhecem biologicamente mas persistem em não perder uma condição jovenil?
No
modelo laboral fordista,o
ciclo de vida estava estruturado emtorno do
trabalho.A
preparação para avida
profissional, através da formação e da escolarização, ocorria na juventude; o exercício de uma atividade profissional dava-se na vida adulta; o abandono da vida ativa sobrevinha na velhice. O trabalho normølizava as fases de vida, linear-nente sequenciadas. A centralidade do trabalho, como núcleo central davida humana, pressupunha uma contraposição entre trabalho e tempo
livre
-
isto é,livre
de trabalho. Hoje,o
trabalhojâ
não aparece como núcleo de socialização e estruturação dos cursos de vida de uma forma linear. Os cursos de vida segmentaram-se, flexibilizaram-se, desestrutu-raram-se. As trajetórias de vida inscrevem-se em processos de reversi-bilidade, volteios de vida que se traduzem nvma yoyogeneização dessasmesmas trajetórias (Pais, 2001). Por outro lado, a crise de desemprego
tem gerado formas atípicas de emprego, novas modalidades de trabalho independente e de trabalho clandestino. E também tem originado a
pro-liferação de vagabundos mais ou menos vagos, muitos deles com traba-lhos precários.
A
literatura sociológica começa a ecoar a representação dos jovens precários como uma "nova classe perigosa']título
de um dosúltimos livros de Guy Standing (2011), Perigosa em dois sentidos.
Num
caso porque há jovens precários que ousam indignar-se, ocupando as
ruas com manifestações e acampamentos, clamando por trabalho e por
uma nova ordem social. São os jovens indignados (Van de Velde, 2011;
Pais, 2014). Eles são olhados como perigosos
por
quem teme que assuas manifestações desemboquem
numa
alteraçãoda ordem
social.Noutro
caso,há
jovensque
são considerados perigososporque
sãovagos, muito vagos mesmo. Os lazy beggars são um curioso exemplo de
jovens aparentemente sem
rumo
que troçam de uma sociedade que os empurra para a exclusão.Passando agora aos chamados jovens YASP (Vagabundos Anónimos
Sustentados pelos País) eles não integram nenhum movimento social.
A
designação surgiu no Brasil, nas redes sociais, e o seu interesse
socioló-gico justifica-se
por
a jocosa rotulagem retratar, efetivamente,um tipo
de jovens que se esquivam ao desemprego - alguns esquivam-se,
sobre-tudo, ao trabalho
-
dado contarem com o suporte económico da famí-lia. Eles abraçam uma ética devida
que, em furaisdo
século passado, atraiu também os jovens slacker, retratados no filme e nolivro
deLinkla-JUVENTUDE(s): NOVAS REALIDADES. NoVoS oLHARES
ter (1992), com o mesmo nome. Os vagabundos anónimos sustentados pelos pais,
tal
como os slackers,têm
dificuldades em assumir respon-sabilidades e obrigaçoes, sejano
campo profissionalou
conjugal. Estesjovens são considerados indesejáveis não apenas
por
constituíremum
pesado fardo para os pais que os sustentam, frequentemente solicitados
a abonar as suas despesas lúdicas. dado que alguns deles vivem ociosida-des noctívagas associadas a vários vícios, são também vistos como uma
ameaça pública. O rapper brasileiro Gabriel, O Pensador, caracteriza-os
emRetrato de um Playboy: "[...] Sou
plaÈoy,filhinho
de papai / Eu tenho umpitbull,
e euimito
o que ele faz/
Souplaybo¡ filhinho
de papai / Eu era um debilóide, fiquei ainda mais / O papai e a mamãe me dão do bome do melhor
/
E quando eles viajam eu fico com a vovo'. Genericamente,são jovens que partilhando da apatia dos jovens da chamada Geração X, dos anos 90
(Holtz,
1995), vivemum
prolongado período de incerteza em relação aofuturo,
sem que sejam obrigados a penar em trabalhos precários e desqualificados (Ortner, 1998:429), dado o suporte familiar.CONCLUINDO
COM MAIS ALGUNS DILEMAS E DESAFIOSVimos que
o
desempregoe a
precariedadelaboral atingem
amplascamadas juvenis, independentemente dos seus capitais escolares ou
cul-turais.
O
fenómeno manifestava-sejá
a finaisdo
século passado (Pais,2001), tendo-se acentuado a
partir
da crise financeira de 2008.A
situa-ção de precariedade laboral que já se vivia a finais do século passado não
passou despercebida a
Bourdieu
(1998) quando em seulivro
Contre--feux, escreveuum
capítulo significativamenteintitulado
"La précarité est aujourd'hui partout".A
precariedade estavapor
todo o lado, é certo, masos
trabalhadores precáriosnão
revelavamuma
consciência declasse para si como nos
últimos
anos vem acontecendo entre os jovens.Por isso, os jovens precários passaram
a
ser vistoscomo uma
"novaclasse perigosa" ou por virem para a rua, em numerosas manifestações
de protesto, como aconteceu com os jovens indignados; ou por se entre-garem a uma ociosidade rebelde, como no caso dos lazy beggars; ou
por
se esquivarem ao desemprego, vivendo indolentemente à custa dos pais, como no caso jovens Vagøbundos Anónimos Sustentados pelos Pais.
Quer os jovens vagabundos vagos (lazy beggars), quer os
que
são sustentados pelos pais, quer ainda os jovens indignados, todos eles sãoJOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFTOS
olhados como potenciais perturbadores da ordem sociâI, gerando algum pânico social. Os
primeiros por
estarem fortemente conectados com amarginalidade e a toxicodependência; os segundos por, pretensamente, se acomodarem à chamada"zona do
conforto]
sustentados pelos pais.Porém, entre alguns jovens que
vivem na
dependência dospais
há também os que se afundam no desânimo por não conseguirem encontrar trabalho. Trabalho remunerado. Trabalho que lhes permita tornarem,se economicamente independentes. Trabalho que lhes dê sentido de vida.Estes últimos jovens, com toda a sua frustração, engrossam a fileira dos
jovens indignados, também
vistos com
suspeitapor
alguns sectores mais conservadores da sociedade.A
crença de que a sociedade pós-in-dustrial seriaum
oásis onde se trabalharia cada vez menos e de formacadavez mais qualificada e enriquecedora tem dado lugar, na realidade,
a desemprego, subemprego, e trabalho precário, especialmente entre os
jovens.
A
significativa participação de jovens universitários nasmani-festações dos chamados jovens indignados é um corolário da frustração
sentida
por
falta de reconhecimento dos investimentos realizados no percurso escolar.Existem outras várias possibilidades de resposta em relação ao des-compasso
entre
expectativase
recompensas(Melucci,
2001: 58-60).Uma delas é a resposta violenta, como aconteceu nos
motins
epilha-gens dos subúrbios de Londres e outras cidades, em Agosto de 2011,
com jovens encapuzados,
incendiando
carrose
edifícios, saqueandolojas
e
arremessandoà
polícia
garrafas, pedras,tijolos
e
cocktails molotov.Outra
resposta é a resignação, a desistência, a apatia, como aparentemente acontece com os jovens YASP (Vagøbundos AnónimosSustentødos pelos Pøis). Existe ainda
outra
resposta de naturezasubli-mar, conjugável com as anteriormente descritas. Ela consiste na mobi-lização de recursos simbólicos orientados para a produção celebrativa de uma identidade
(individual
ou grupal), como parece acontecer com os lazy beggars (vagabundos vagos). Entre estesúltimos,
a sacralização da celebração grupal é asseguradapor
consumos (bebidas e drogas) efachadas corporais (tatuagens, piercings, barbas, roupas), fenómenos
que dão razã,o a Peter Burke (2009: 198) quando nos sugere a
neces-sidade de uma "teoria
política
da moda" paramelhor
percebermos a natureza dos conflitos sociais,já
que as identidades sociais aparecem ritualizadas nos modosde
sere
aparentar,por
efeito de políticas de "submissão' ou de resistência'lJUVENTUDEG): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
Contudo, também
vimos que
estãoemergindo novas
culturas de trabalho, onde aintermitência
dos trabalhos não é vista de forma necessariamente negativa.É
o
que acontececom
os jovens trendset-ters aovalorizarem
a autonomia proporcionada pelos trabalhos oca-sionais.É
certo que a crise que vivemosorigina
riscos, mas também gera oportunidades.O próprio
empreendedorismo caminha de braço dado com o risco. Se o risco é um problema, uma ameaça, uma fonte deinsegurança, também pode proporcionar prazer e ganhos de liberdade, como vimos
no
caso dos precários elitistas, trendsetters e profitécnicos.Não
por
acaso,em
sociedades pré-modernasa imprevisibilidade
dofuturo
era equacionada em termos de aventura efortuna
(Reith, 2004).Contudo, algumas políticas de ativação de emprego
criam
a ilusão de queo
empreendedorismo está ao alcance de qualquerum,
exceto dosfracassados.
A
condição de desempregado seria dessemodo
culpa dopróprio.
A
questão adiscutir
é a de saber se os jovens conseguem ou não viver a crise com inovação e criatividade. Apartir
dos tipos analisa-dos poderíamos antecipar três possibilidades: há jovens que conseguem desenharo futuro na
derivada
sua instabilidade e imprevisibilidade (trendsetters);outros,
decididamente, falta-lhesespírito de
iniciativa, chegando mesmo a explorar os pais, quando estes se veem obrigadosa passar dificuldades para satisfazer as reivindicações consumistas dos
filhos
(jovens VASP); outros, finalmente, sobrevivemcom
estratégiasde desenrascanço, mesmo em rotas de exclusão social, assumidas como
uma opção de vida, assim parecendo acontecer com os lazy beggars.
No universo dos
trabalhos temporáriose
precárioshá pois
quedistinguir
entre os precáriospor
opçao e os precários por exclusão, os desempregados sem esperança.Ao
trabalhar
o
conceito de
anomia,Durkheim
referia-se justamente a uma passividade decorrente da faltade esperança, associada à perda de identidade que, no caso dos
desem-pregados, se intensifica com buscas de
trabalho
fracassadas.A
apatiaaparece associada à desistência, a uma existência afetada
por
derrotassucessivas e frustrantes, onde a sobrevivência aparece ancorada a
traba-lhos eventuais e mal pagos. Neste caso podemos falar de precários
por
exclusão. E,no
entanto, sobre eles recaem também os estereótipos da preguiça, da irresponsabilidade, da desmotivação, da indolência, comono
caso dos falsos nem-nem. Convémno
entanto não esquecer que'b
fenómeno da precariedade laboral não pode entender-se apenas como
uma
disfunção,uma
regularidade resultantede
desajustamentos noJOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFIOS
novo cenário pós-fordista: pelo contrário, é
um
fator'essencial para oseu funcionamento
ótimo'
(Alonso e Férnandez, 2013: 120). Os precá-rios constituem um novo exército de reserva que assegura formas subtis de exploração'No
estudo das transiçõesjuvenis
é frequente questionarem-se osseus destinos. Para onde apontam essas trajetórias? Mas
sociologica-mente é também relevante saber de onde elas partem.
A
metáfora dositinerários reflete o discurso individualista dos debates políticos e cien-tíficos atuais, desvalorizando-se, frequentemente, a estrutura social de oportunidades e as desigualdades sociais (Raffe, 2003). As escolhas
bio-gráfrcas não deixam de estar condicionadas pelas estruturas de
oportu-nidade.
A
retórica centrada nas incapacidades individuais, se levada aoextremo, isenta de responsabilidade as políticas falhadas de criação de
emprego. Em que medida é que as políticas públicas poderão explorar o
domínio das subjetividades, alavancando-as para a busca de emprego?
Nas políticas de emprego,
continua
a ser bastante questionado o "paradigma da ativação' (Dean, 1995, Born e Jensen2}l},Pascual
et al, 2012), orientado para a formação, a orientação profissional e os incen-tivos à contratação. Neste paradigma, os desempregados de longadura-ção tendem a ser vistos como padecendo de uma "patologia da vontade"
(Pascual et
al,20l2i
33). Neste modelo, as políticas de emprego deixamde se centrar no mercado de trabalho para valorizarem tudo o que possa
contribuir
para o favorecimento da adaptabilidade e da autonomia dostrabalhadores e desempregados. Considera-se também que as
políti-cas de proteção social engendram uma dependência aditiva, potencial
armadilha
para
trabalhadores precáriose
desempregados.O
Estado,emvez de defender a dependência, deveria combate-la, deixando-se de atitudes paternalistas, passando a promover buscas autónomas de tra-balho. Nesta filosofia,
o
combate contraa
pobreza e a exclusão social deveria transformar-se numaluta
contra a dependência em relação ao Estado Social.A
função deste passaria assim a ser não tanto a proteção contra o risco inerente a uma economia de mercado, como a criação de condições e atitudes adequadas para a adaptação dos trabalhadores a uma economia de fluxos indeterminados (Pascual etal,20l2i
46). Neste paradigma, a aposta passaria pela promoção da adaptabilidade daspes-soas a
um.mercado
detrabalho
fortemente flexibilizado,de forma
ajUVENTUDE(s)r NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
Eis-nos perante mais
um
dilema.Qual o melhor
caminho?O
daproteçao social dos desempregados devido à sua condição de
mlnerabi-lidade ou
o
das políticas ativas que reforcem a autonomia dos trabalha-dores e desempregados, bem como a sua empregabilidade? Ou haverá uma terceira via no quadro da qual emergem,por
exemplo, as políticas de emprego orientadas pela flexisegurança? Neste caso, as políticas deativação seriam acompanhadas por políticas de proteçao dirigidas a
pes-soas
-
principalmente no desemprego-
com dificuldades de adaptaçãoà mudança: não uma proteção contra o risco mas, antes, uma proteção para, ativamente, se enfrentar
o
risco.A
noção de segurança passariaentão a ser
definida
comouma
capacidade de adaptação à mudança, alicerçada na autonomia e nas "engenharias da subjetividade" (Pascual et al,2012). Estas construçoes da subjetividade são possíveis apartir
da reflexividøde dos sujeitos, isto é, de uma capacidade de aprendizagem, apartir
das experiências vividas, que seprojetariam
na descoberta de novos rumos de existência. É nesta reflexividade que assentao
empo-deramento (empowerment):o
poder de atuar sobre si, o poder de atuarsobre a realidade, o poder de adaptação às mudanças sociais, o poder de
afirmar uma autonomia numa teia de heteronomias que ora funcionam como constrangimentos ora como oportunidades. De qualquer forma,
as engenhariøs dø subjetividøde operam
num
complexo social sobre o qual as políticas de emprego não podem deixar de atuar. De que modo? Fomentando a ativação nos domínios das subjetividades mas, ao mesmo tempo, atuando sobre as estruturas sociais quecriam
ou bloqueiam asoportunidades. O desemprego tem duas faces: ele é uma realidade
indi-vidual, subjetivamente vivida, mas também é uma realidade social.As políticas de emprego têm sido, regra geral, políticas de remen-dagem.
Ora
sedirigem ao funcionamento do
mercadode
trabalho, promovendo,por
exemplo,uma maior flexibilização contratual,
ora se orientam para uma formação compensatória cujos reais efeitos não têm sido devidamente avaliados. Faltam políticas criativas que tomemos jovens
como
agentes de inovação e mudança social, políticas que não selimitem
a fr,car amarradas às persistênciasdo
mercado de tra-balho mas que atuem fora dele para que nelemelhor
se possamreper-cutir.
Refiro-me a políticas económicas eculturais
que, articuladas àsciências
e
às tecnologias, seorientem por
desafiosde criatividade
eque, se bem-sucedidas, acabarão
por impulsionar
novos rumossocie-tais e
novoshorizontes
profissionais.É
nestecampo
que os jovensJOVENS. TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFIOS
poderão ter
um
papel relevante, como parecejá estar
acontecer comos jovens trendsetters.
Voltando
a Mannheim
eao
seu estimulantelivro
Diagnóstico daNosso Tempo. Para
Mannheim,
especialmente em tempos de crise, osjovens são potenciais agentes da mudança social. Eles desafiam-nos a
questionar a realidade muito para além do que a pressupomos. No con-texto de uma crise económica e social que tanto tem afetado os jovens, estaremos
na
sendade uma
nova geração eþtiva?Não
estamos em condiçoes dedar uma
resposta conclusiva, embora os jovens de hojepareçam liderar novas correntes socioculturais e abraçar novas culturas
de trabalho, principalmente os mais qualificados. Para
Mannheim,
há um fator determinante na transformação de uma geração potencial emgeração efetiva: a participação no destino comum de uma unidade
his-torica e social. Para o efeito, não basta que os jovens
partilhem
de uma mesma situação de geração. Nessa situação, eles apenas conseguiriamser tragados pelo redemoinho das transformações sociais.
Como
querque seja, é em resultado de uma aceleração
no ritmo
dastransforma-ções sociais e culturais que se
criam
condiçoes de possibilidade paraque surja o que
Mannheim
(1982: 92) designou de nova entelequia degeração, tomando
o
conceito de entelequiano
sentido aristotélico dotermo, isto é, com
um
estado de ser em ato, e não apenas em potência, distinção que era cara a Leibniz. Será que estamos perante uma geração em potência capaz de se transformar numa entelequia de geração?BIBLIOGRAFIA
Aoeus, Matthew (2003). "The reflexive self and culture: a critique'l British lournal
of S ociology, 5 4(2): 221 -238.
Aoeus, Matthew (2006). "Hybridizing habitus and reflexivity: Towards an
under-standing ofcontemporary identity?'l Sociology,40 (3): 5l l-528.
Ariraetoa, Maria Isabel Mendes de e Pais, José Machado (Eds.) (2013). Criatfuidøde
6
Profissionalizaçõo. Jovens, Subjectividades e Horizontes Profssionais. Lisboa:Imprensa de Ciências Sociais.
AroNso, Luis Henrique e Rodríguez, Carlos J. Fernández (2013). Los Discursos del
Presente. Madrid: Siglo XXI.
Beuue¡¡, Zygmtnt e Mazzeo, Ricardo (2012). On Education, Conversations with
JUVENTUDE(s): NOVAS REALIDADES. NOVOS OLHARES
Bon¡¡, Asmund W. e Jensen, Per H. (2010). "Dialogued-based Activation: a New
'Tispositif"?'i International lournal of Sociology and Social
Policy,30,516:326-336.
BounoItu, Pierre (1998). Contre-feux: Propos pour servir à la résistance contre
I'invasion néo-libérale. Paris: Raisons dägir: 95-101'
BnanNEN, f. e Nilsen, A. (2005). Individualization: Institutionalized Individualism and its Social and Political Consequences. Cambridge: Polity Press.
Bunxr, Peter (2009). O Historiador como Colunista: Ensaios para a Folha. Rio de
)aneiro: Civilização Brasileira.
Ca¡rcuur, Néstor García e Urteaga, Marilza (Coords.) (2012). Cultura y Desarrollo.
Una Visión Crítica desde los Jóvenes. Buenos Aires: Paidós.
Cen¡oso, J. L., Escária, V., Ferreira, V. S., Madruga, Paulo, Raimundo, Alexandra,
Varanda, M. (2012). Empregabilidade e Ensino Superior em Portugal. Lisboa: A3ES (http://hdl.handle.net/l04sl/7888).
CHenuBn, Roger (1987). "Figures littéraires et expériences sociales: la littérature de
la gueuserie dans la Bibliothèque bleue >, ín Lectures et Lecteurs dans Ia France
de lAncien Régime. Paris: Éditions du Seuil :271-351.
CnevEs, Miguel, Paula Reis, Filipe Piteira e César Morais (2012). Caraterização dos
percursos de inserção profrssional dos graduados do 1." ciclo da UL e UNL:
Relatório do inquérito realizado aos diplomados que concluíram os cursos no
ano ìetivo de 200412005. Lisboa: Cesnova. E-book [ISBN: 978-989 -97344-l-B]
C¡revEs, Miguel; Morais, César e Nunes, J. Sedas (2009). "Os diplomados do ensino
superior perante o mercado de trabalho: velhas teses catastrofistas, aquisiçoes
recentes'l Fórum Sociológico, n" 19 (II Série, 2009), 83-98.
Cocueno M., Cornilleau G. e Heyer, E. (2010). "Les marches du travail dans la
cr ise", Ec o n omi e et St at i st i qu e, n" 438 - 440, lunho: 1 8 1 - 204.
DecNeuo, M. (2011). "Qui sont les Indignés de la Puerta del Sol?'l Telos, 13 de
lunho.
D¡¡¡¡,
Mitchell (1995), "Governing the Ubemployed Selfin
an Active Society", Economy and Society,24 (4): 229- 583.DEI,N, Mitchell (1995). "Governing the Ubemployed Self
in
an Active Society'lEconomy and Society,24 (4):229- 583.
DonNnr¡s, António (Coordenação) (201 1). Emprego, Contrataçao Colectiva de
Tra-balho e Protecçao da Mobilidade ProfssionøI em Portugal Lisboa: Cent¡o de
Informação e Documentação do Gabinete de Estratégia e Planeamento (CID/
GEP) do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do
Traba-lho e da Solidariedade Social (MTSS).
JOVENS, TRABALHO E FUTURO: DILEMAS E DESAFIOS
DosrorrvsK! Fyodor (1960 [1864]). "Notes from Undergroûnd'l
in
Three ShortNoy¿ls. Darden City (New York): Anchor Books.
ELLrorr, A.(2002)."Beck'ssociologyofrisk:acriticalassessment", Sociology,36(2): 293:315.
Fronro¡, Richard (2002). The Rße of the Creative Class.London, Basic Books. Gr¡r.rstnNer, J. A. (1983). Ernst Bloch. Utopía y Esperanza.Maðrid: Cátedra.
GPEARI (zoro). ,4 Procura de Emprego dos Diplomados com Habilitaçao Superior
(6" Relatório). Lisboa: Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Rela-ções Internacionais (GPERAI) do Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior.
Gunn, Ted Robert (1970). Why Men Rebel? Princeton: Princeton University Press.
Howz, Geoffrey T. (1995). Welcome to the Jungle: The Why Behind Generation X. New York: St. Martin's Griffin.
Jurc, /oël (2000). Le Travail. Flammarion : Paris
L¡ucnr.¡No-Booy, Jacqueline; Mayall, Margery e Skrbis, Zlatko (2015). "Whose
choice? Young people, career choices and reflexivity re-examined", Current
Sociolo gy,
$
I a): 586 -603).LrNxlarr¡n, Richard (1992). Slacker. New York: St. Martin's Press.
MeNNunrrt, Karl (1946 [1943j). Diagnostico deNuestro Tiempo, México: Fondo de
Cultura Económica.
M¡¡¡Nr¡BIrr¡, Karl (1982) "O problema sociológico das gerações'l in: Marialice M.
Foracchi (org.). Mannheim, Col. Grandes Cientistas Sociais 25, São Paulo,
Ãtica,pp.67-95.
Meneu¡s, A. P. e Alves, M. G. (Org.) (2010).Inserçao Profssional de Graduados em
Portugal: (Re)configuraçoes Teóricas e Empíricas. Braga: Húmus.
MBruccI, A. (2001). A Invençao do Presente. Movimentos Sociais nas Sociedades
Complexas.Petrópolis: EditoraVozes.
Monnxo, Lorenzo Navarrete (Coord.) (2011). Desmontando a ni-ni. Un estereotipo
juveníl en tiempos de crisis. Madrid: Instituto de la Juventud.
OCDE (zorr). Education at Glance 2011: OECD Indicators, OECD Publishing
Onrurn, Sherry B. (1998). "Generation X: Anthropology
in
a Media-SaturatedWorld'l CuIt ural Anthro p olo gy, 13 (3) : 41 4- 440.
Pets, José Machado (2A0I). Ganchos, Tachos e Biscates: Jovens, Trabalho e Futuro. Po¡to: Ambar.
PeIs, José Machado (2012)."A esperança em gerações de futuro sombrio', Estudos
Av ançados, USP, São Paulo, vol. 26, n. 7 5, 2012, pp. 267 -280.
Pers, fosé Machado (2013). "O mundo em quadradinhos: o agir da obliquidade'i in
Criatí-JUVENTUDE(s): NOVAS REALTDADES. NOVOS OLHARES
vidade dt Profssionalízação. lovens, subjectividades e Horizontes proJìssionais.
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, pp. 125_161.
Pars, fosé Machado (201a). "De uma geração rasca a uma geração à rasca: jovens
em contexto de crise'l in paulo carrano e osmar Fávero (coordenadores)
Nar-rativas luvenis e Espaços públicos: olhares de pesquisas em Educaçao, Mídia e Ciências Sociais, Rio de faneiro: EdUFF: 7l_96.
Pascuar, Amparo serrano er ar (2012). "Ingenierías de la subjetividad: el caso de la
orientación para el empleo'l RËIS- Revista Española de Investigaciones Socioló_
gicas,138, Abril-funho de 2012, pp.4I_62.
PonNo:r, Jea'-Marie (20r 1). "portugai. Du précariat à la Tentation
de lèxil,l
chroni-que Internationøle de I'IRES, n" 133, Novembro de 2011,74_84.
Ponrucar, P. (2004). "Mitos e factos sobre o mercado de trabalho português: a
trá-gica fortuna dos licenciado s", Boletim Económico rJo Banco de portugal, Março:
73-80.
RarrE (Devro) (zoo3). "pathways linking education and work: a review ofconcepts,
research and policy debates", lournal ofyouth Studies,6 (l): 3_19.
Rnrru, G. (2004). "uncertain Times. The Notion of 'Risk and the Development of
Modernity", Time and Society, t3 (213),2004, pp.383_402.
scennerru, S.' son'et, A. e Manfredi, T. (2010). "Montée du chômage des jeunes dans la crise: comment éviter un impact négatif à long terme sur toute
une
génération?'l Documents de Travail de I'ocDE, euestions Sociales, Emploi et
Migrations, n" 106.
scsopexH¡u¡n, Arthur (1997). como vencer um Debate sem precisar de ter Razao
em 38 Estragemas (Dialética Erística), Introdução, Notas e Comentários
de Olavo de Carvalho, Topbooks Editora: Rio de )aneiro.
starorNc, Guy (201 1)' The precariat. The New Dangerous class. London: Blooms-bury.
THnseocoro, steven e Nilan, pam (2009). "Reflexiviry of contemporary youth, risk
and cultural capital'l Current Sociology, 57 (l): 47 _68.
VeNorVrlos,C.(2011)."Indignés:lesraisonsdelacolère,l RevueCités,n,4T_48.
LINKS
http://maridosanduiche.blogspot.pt
http : I I ww w.lazybeggers.corn