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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DO ESTRESSE EM CONTEXTO ORGANIZACIONAL: INTERLOCUÇÕES A PARTIR DO RELATO DE EXPERIENCIA 1

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Academic year: 2021

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DO ESTRESSE EM CONTEXTO

ORGANIZACIONAL: INTERLOCUÇÕES A PARTIR DO RELATO DE

EXPERIENCIA

1

SILVEIRA, Juliana Freitas da²; NOAL, Letícia³

1

Trabalho de Pesquisa _UNIFRA

2

Acadêmica Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil

3

Docente Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil

E-mail: julianafs_1@hotmail.com; lnoal@yahoo.com.br RESUMO

O presente artigo tem como objetivo descrever uma experiência de avaliação psicológica em contexto organizacional acerca do estresse. Foram utilizados como instrumentos de coleta dos dados, observações, registros em diário de campo, entrevistas semi-estruturadas e a EVENT (SISTO, 2007). Participaram da avaliação 14 sujeitos de uma instituição da cidade de Santa Maria-RS pertencentes a níveis hierárquicos diferentes. De modo geral o nível de estresse dos colaboradores foi abaixo da média com exceção dos resultados apresentados por três colaboradores. Identificou-se a influência da cultura organizacional como um dos fatores desencadeantes do sofrimento por estresse em funcionários de níveis hierárquicos mais baixos em relação aos demais hierarquicamente superiores. A metodologia de trabalho e a repetição da chefia quanto à impossibilidade de errar configuraram aspectos chaves da compreensão do sofrimento apresentado. As estratégias utilizadas pelos funcionários para lidar com o sofrimento faziam menção a tais aspectos como causadores de mal estar no trabalho.

Palavras-chave: Avaliação psicológica; Estresse; Cultura Organizacional.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo refere-se a prática de avaliação psicológica em contexto organizacional tendo como foco o estresse, com duração de três meses, totalizando 17 horas de prática no local. Durante o processo de avaliação psicológica do estresse foram utilizados como instrumentos de coleta dos dados, observações livres, registros em diário de campo, entrevistas semi-estruturadas e a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho – EVENT (SISTO, 2007). Objetivou-se a partir destes instrumentos desenvolver o

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processo de avaliação psicológica em contexto organizacional acerca do estresse tecendo interlocuções com o conceito de cultura organizacional.

Participaram voluntariamente da avaliação 14 sujeitos de uma instituição da cidade de Santa Maria-RS pertencentes a níveis hierárquicos diferentes que foram apontados pelas lideranças como colaboradores que desempenhavam funções estressantes no local. Assim, fez-se relevante a atenção da Psicologia frente a esta demanda em contexto organizacional para o aprofundamento da compreensão acerca da possibilidade dos sujeitos apresentarem-se com elevado nível de estresapresentarem-se bem como compreender a aplicabilidade de diferentes ferramentas avaliativas deste tema.

A partir da compreensão do estresse, da forma como se apresentou no contexto organizacional e da interlocução destas informações junto à cultura organizacional é possível que sejam desenvolvidas estratégias de prevenção junto às organizações. Assim a avaliação psicológica em contexto organizacional revela-se uma etapa importante para o desenvolvimento da atuação do psicólogo inserido em contexto organizacional, em especial reafirma-se a importância da avaliação psicológica em contexto organizacional para aspectos subjetivos tal qual o estresse de trabalhadores e sua relação com a cultura organizacional.

O stress teve seus primeiros estudos relacionados à Biologia, que indicava o estado de um individuo que responde a interação do organismo aos estímulos e as circunstâncias incomuns do ambiente. Para esta mesma autora, podemos fazer uma ligação com a física, onde stress significa esforço ou tensão, resultando em deformidade (WALLAU, 2003).

Na avaliação do estresse a maneira que o indivíduo percebe o evento estressante e como responde a este, muitas vezes é mais importante que a presença deste evento. Outro fator relevante são as estratégias de enfrentamento utilizadas, sendo o foco aqui a maneira como o individuo responde ao evento estressante (CRUZ, 2002).

Rossi e organizadores (2010) inferem que o estresse organizacional tornou-se uma importante preocupação perante a sociedade, pois é reconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem-estar psicossocial do indivíduo. O estresse no trabalho coloca em risco a saúde dos membros da organização, sendo que, para o autor supracitado, de 50 a 80% de todas as doenças têm fundo psicossomático ou estão relacionadas ao nível de estresse.

A cultura organizacional retrata a vida da organização e o comportamento dos colaboradores que dela fazem parte, através de sua historia, normas e regras, uma maneira própria de agir e interagir, de ser e de se fazer. As empresas assim como as pessoas são diferentes, e essa diferença é marcada pela cultura organizacional (BANOV, 2011).

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A avaliação do estresse neste contexto organizacional é de extrema relevância devido ao alto risco físico e psíquico dos colaboradores, que muitas vezes acabam por sofrer diversas exigências com relação a perfeição na execução de suas tarefas, impossibilitando o erro.

2. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A cultura organizacional é o retrato das organizações de trabalho, e a modelagem do comportamento de seus colaboradores. Cada organização apresenta uma cultura diferente de acordo com a sua história, sua estrutura, ambiente, suas políticas e as práticas de recursos humanos. Tais elementos irão determinar o comportamento dos colaboradores no ambiente de trabalho, suas reações frente aos arranjos do ambiente (BANOV, 2011).

A escala EVENT foi aplicada em 14 colaboradores de uma empresa pertencentes à três níveis hierárquicos diferentes, ao qual chamaremos de 1, 2 e 3, conforme ordem crescente de hierarquia, estando divididos em: dois no nível 1, seis no nível 2 e seis no nível 3. Com a tabulação dos dados obtidos na escala, três dos 14 colaboradores apresentaram-se vulneráveis ao estresapresentaram-se no trabalho. Um dado de extrema relevância é o fato de que os dois colaboradores que estavam no nível 1 no momento que responderam ao teste, apresentaram classificação acima da média, ou seja, estando vulneráveis ao estresse no trabalho, o que foi confirmado com outros dados do diário de campo a exemplo da fala ” eu sou o maior estresse deles, pois o decorrer vai depender das instruções deste momento. Questiona-se o “sofrimento” que estes colaboradores vivenciam neste momento profissional já que é pressionado pelo Chefe, é pressionado pela organização, é pressionado por ele mesmo e muitas vezes pode estar sendo pressionado também pela família.

Os cargos exigem colaboradores com o perfis de auto-exigência, que se cobrem muito, pois as reuniões diárias servem como um espaço de troca de experiências que caracteriza-se em expor para os demais erros que os funcionários possam ter cometido em alguma tarefa, fato que o gestor considera como uma troca, onde um aprende com o erro do outro, apesar de ser cobrado, neste momento, que esses erros não se tornem motivos de humilhações ou brincadeiras.

O terceiro colaborador que apresentou estar vulnerável ao estresse no trabalho compõe o mais alto nível hierárquico (3), porém ocupa um dos mais importantes cargos administrativos, a seção de pessoal, e no momento que respondeu a escala estava assumindo um nível hierárquico maior na organização.

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A escala EVENT divide-se em três fatores: Clima e funcionamento Organizacional, Pressão no Trabalho e Infra-estrutura e Rotina, e o fator que apresentou uma maior freqüência entre os participantes foi o de Pressão no Trabalho. Para alguns colaboradores este foi o único fator que apresentou classificação superior a média, o que não surpreende, pois estes sofrem uma forte pressão sobre o “errar”, o colaborador neste contexto “tem que ser o mais perfeito possível na execução da sua tarefa, não tem direito de errar”, como disse o Chefe do setor de Pessoal.

A impossibilidade quanto aos erros torna a prática profissional sofrida e até mesmo impossível, uma vez que são seres humanos e estão sujeitos naturalmente ao erro. O que remete a alguns questionamentos: até que ponto a organização não aceitar o erro faz com que errem menos? Será que estes colaboradores têm algum outro prazer senão a remuneração? Quais as estratégias utilizadas frente ao medo de errar e que lugar ocupa o sofrimento diário neste contexto profissional?

O fator que menos teve destaque na escala foi o de Clima e funcionamento Organizacional, o que está coerente com o ambiente percebido enquanto avaliadora e com o relato da instituição em um primeiro contato com a organização em que o clima sempre se mostrou harmônico, ao menos no nível das relações interpessoais.

O nível alto de estresse se fez presente em poucos casos na avaliação, porém precisamos ficar alertas, pois:

Talvez mais importante do que a presença de um evento estressante, seja a forma como o individuo percebe este evento e como responde ao estresse. Partindo desse pressuposto, um outro aspecto relevante na avaliação do estresse é a identificação de estratégias de enfrentamento. Nessa outra especificidade, o foco da avaliação recai sobre a forma como o individuo responde ao evento estressante (CRUZ, 2002, p. 147).

Estratégias relevantes de enfrentamento sejam talvez o que está faltando à organização, principalmente aos colaboradores que estão no nível 1 de hierarquia, e que sofrem um nível de estresse considerável como confirmado ao longo da avaliação.

3. METODOLOGIA

Durante o processo de avaliação psicológica do estresse foram utilizados como instrumentos de coleta dos dados, observações livres, registros em diário de campo, entrevistas semi-estruturadas e a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho –

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nível de estresse dos colaboradores da organização encontra-se abaixo da média, com a exceção de três como mencionado anteriormente, 2 no nível 1 e 1 no nível 3, que apresentaram no momento da pesquisa estarem vulneráveis ao estresse no trabalho. Com base nesses dados, acredito que um trabalho de acompanhamento aos colaboradores que estão neste primeiro menor nível de hierarquia seria algo de extrema importância para a organização, pois teria caráter preventivo aos sujeitos e quiçá poderia ser estendido de forma mais ampla à organização, em especial reitera-se sentimentos de ansiedade e medo.

O exercício de avaliação psicológica no qual é constituído o estágio é de extrema relevância, uma vez que podemos perceber a demanda do local para uma possível intervenção. O conjunto de instrumentos utilizados para a obtenção dos resultados da avaliação, tais como as observações e os registros em diário de campo, foram de fundamental importância corroborados com a escala EVENT, pois a soma de diferentes dados contribuíram para a riqueza e fidedignidade da avaliação .

Assim, algumas vezes no decorrer do estágio, em função da organização ser extremamente rígida em sua hierarquia, ocorreram dificuldades em relação à disponibilidade dos colaboradores, assim como a discriminação e a desigualdade entre os mesmos, o que ocasionou mutio desconforto no avaliador, sentimento este, que certamente refere o que os próprios funcionários sentem diariamente, o que corrobora o conceito de cultura organizacional.

Se a mesma avaliação tivesse sido aplicada com os mesmos participantes em outra organização poder-se-ia obter outros resultados, uma vez que a cultura de uma organização corresponde a sua identidade, seus valores e a sua filosofia. A cultura organizacional caracteriza uma organização e molda o comportamento dos “atores” que dela fazem parte.

A avaliação referida ao longo deste trabalho ilustra o quanto a cultura de uma organização extremamente hierárquica influencia no nível de estresse principalmente dos colaboradores que se encontram no menor nível hierárquico e que almejam ascensão na medida em que convivem e são expostos diante dos outros.

Conclui-se reafirmando a prática avaliativa em contexto organizacional como sendo uma das principais ferramentas do psicólogo devido ao seu resultado estar sempre focado em uma possível intervenção psicológica com fins preventivos e de qualidade de vida dos envolvidos, para além dos resultados organizacionais. Nesta organização, esta prática

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contribuindo com um dado importante para a organização bem como com uma compreensão acerca da prática observada.

REFERÊNCIAS

BANOV, M. R. Psicologia no Gerenciamento de Pessoas. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2011. Cruz, Roberto Moraes (org). Avaliação e Medidas Psicológicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

DUBRIN, A. J. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. Ed. Atlas. São Paulo, 2006.

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 11.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

ROSSI, Ana Maria, PERREWÉ, Pamela L., SAUTER, Steven L.(org.). Stress e Qualidade

de Vida no Trabalho: Perspectivas atuais da saúde ocupacional. São Paulo: Atlas,

2010.

SISTO, F. F. et al. Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT).São Paulo: Vetor, 2007. 94 p.

ZANELLI, José Carlos. Estresse nas Organizações de Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2010.

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