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Proposta de zoneamento ambiental aplicado à microbacia do Rio Vargem dos Pinheiros em Angelina - Santa Catarina

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANDRÉ LUIZ SCHMITT

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL APLICADO À MICROBACIA DO RIO VARGEM DOS PINHEIROS EM ANGELINA – SANTA CATARINA

Palhoça 2014

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ANDRÉ LUIZ SCHMITT

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL APLICADO À MICROBACIA DO RIO DAS VARGENS EM ANGELINA – SANTA CATARINA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel.

Orientador: Prof. Marcelo Tavares de Souza Campos, Msc.

Palhoça 2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeira e primordialmente à minha família, à minha mãe Lúcia, meu pai Oscar, meus irmãos Ronaldo e Antônio e sua esposa Rosélia e seu filho Miguel, pelos cinco anos de apoio e compreensão nos momentos mais alegres e nos momentos mais difíceis que vivenciei durante esse tempo.

Em especial ao Profº Msc. Marcelo Tavares de Souza Campos, pela orientação, apoio, disposição e incentivos que aprimoraram meus conhecimentos ao longo da realização deste estudo.

Aos Doutores Wilian da Silva Ricce e Hugo José Braga do Centro Integrado de Informações de Recursos Ambientais de Santa Catarina (EPAGRI/CIRAM) pela oportunidade e apoio no desenvolvimento deste estudo.

Por fim, agradeço a todos os docentes da UNISUL que durante os cinco anos de duração do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária me proporcionaram uma evolução como ser humano e a possibilidade de almejar novos caminhos profissionais.

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“Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos” (FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE).

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RESUMO

A microbacia do rio Vargem dos Pinheiros, localizada no município de Angelina no Estado de Santa Catarina, possui atributos ambientais que são marcantes em seu território. Ao mesmo tempo, atividades antrópicas potencialmente degradantes à paisagem natural exercem uma pressão cada vez mais constante em tais atributos. Diante deste contexto, o objetivo do presente estudo é desenvolver uma proposta de zoneamento ambiental aplicado na referida microbacia, com objetivo de contribuir durante o processo de tomada de decisões dos gestores públicos em intervenções que visem o desenvolvimento do espaço territorial de forma sustentável e racional, respeitando as condicionantes ambientais e considerando os usos já consolidados. Para isto, a metodologia utilizada neste estudo baseou-se em Souza (2004), considerando a declividade, o uso e ocupação do solo e as restrições legais referentes às Áreas de Preservação Permanente (APPs) como fatores determinantes na delimitação das zonas. Realizaram-se, dessa forma, mapeamentos temáticos com o auxílio de técnicas de geoprocessamento e trabalhos de campo obtendo como principal resultado o delineamento de Zonas Especiais de Interesse Ambiental como proposta de zoneamento ambiental aplicado à microbacia do rio Vargem dos Pinheiros, sendo também inferidas algumas considerações e apontadas recomendações para cada objetivo proposto por este estudo.

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ABSTRACT

The watershed of the river Vargem dos Pinheiros, in the municipality of Angelina in the State of Santa Catarina, has environmental attributes that are striking in their territory. At the same time, anthropogenic activities potentially degrading the natural landscape exert an increasingly constant pressure in such attributes. Given this context, the objective of the present study is to develop a proposal for environmental zoning applied in that watershed, in order to contribute during the decision-making process of public managers in interventions aimed at the development of the territorial space of rational and sustainable manner, respecting the environmental restrictions and considering the uses already consolidated. For this, the methodology used in this study was based on Souza (2004), whereas the declivity, the use and occupation of the soil and the legal restrictions relating to Areas of permanent preservation (APPs) as determining factors in the delimitation of zones. There were, thus, thematic mapping with the aid of geoprocessing techniques and field work obtaining as main result the delineation of special areas of environmental interest such as environmental zoning proposal applied to the watershed of the river Vargem dos Pinheiros, and inferred some considerations and pointed recommendations for each objective proposed by this study.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização da microbacia do rio Vargem dos Pinheiros em Angelina, Estado de

Santa Catarina ... 15

Figura 2: Evolução populacional do município de Angelina ... 16

Figura 3: Principais técnicas ligadas ao geoprocessamento ... 19

Figura 4: SIG como ferramenta central para a análise e planejamento da paisagem ... 24

Figura 5: Representação do tratamento metodológico comumente adotado no diagnóstico ambiental ... 30

Figura 6: Representação dos procedimentos adotados em SIG na delimitação das ZEIA’s .... 49

Figura 7: Síntese da metodologia de estudo ... 50

Figura 8: Análise do uso e ocupação do solo da microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros entre os anos 1986 e 2000 ... 52

Figura 9: Análise do uso e ocupação do solo da microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros entre os anos 2000 e 2010 ... 53

Figura 10: Uso e ocupação do solo da microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 55

Figura 11: Comportamento da temperatura média anual no município de Angelina, com destaque a microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 58

Figura 12: Variação da precipitação total anual no município de Angelina, com destaque para a microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 59

Figura 13: hipsometria do município de Angelina, com destaque para a microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 60

Figura 14: Perfil topográfico entre o ponto mais baixo e mais alto da microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 61

Figura 15: Declividade do relevo do município de Angelina, com destaque para a microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 62

Figura 16: Rede hidrográfica do município de Angelina, com destaque para a microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 63

Figura 17: Caracterização dos solos do município de Angelina, com destaque para a microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 64

Figura 18: Tipos de vegetação encontrados no município de Angelina, com destaque para a microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 66

Figura 19: Áreas de Preservação Permanente dos recursos hídricos da microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 68

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Figura 20: Incompatibilidade legal das APPs de recursos hídricos na microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 69 Figura 21: Áreas de Preservação Permanentes das encostas acima de 45° de inclinação da microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 71 Figura 22: Incompatibilidade legal das APPs de encostas na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 72 Figura 23: Áreas de Preservação Permanente de topos de morro ... 73 Figura 24: Situação das APPs de topos de morro na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 74 Figura 25: Conflito de uso nas APPs na microbacia do rio da Vargem dos Pinheiros ... 75 Figura 26: Espacialização das ZEIAs na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros ... 76

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Características das imagens LANDSAT utilizadas no estudo ... 45

Tabela 2: Classes de declividade segundo EMBRAPA (1979) ... 47

Tabela 3: Representatividade das classes de uso e ocupação do solo ... 56

Tabela 4: Variações altimétricas e seus respectivos valores ... 61

Tabela 5: Classes de solos presentes no município de Angelina ... 65

Tabela 6: Representatividade das áreas ocupadas por APPs ... 67

LISTA DE QUADROS Quadro 1: Temas relacionados ao processo de avaliação no ordenamento territorial ... 30

Quadro 2: Legislação nacional referente ao bioma Mata Atlântica aplicáveis no Estado de Santa Catarina ... 32

Quadro 3: Faixa de APP em áreas não consolidadas (rurais ou urbanos) ... 34

Quadro 4: Faixa de APP em áreas rurais consolidadas ... 35

Quadro 5: Exemplos de tipos de zoneamentos previstos ou não na legislação brasileira ... 40

Quadro 6: Caracterização das Zonas Especiais de Interesse Ambiental ... 44

Quadro 7: APPs a serem mapeadas na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros... 48

Quadro 8: Conjunto de ações propostas ao desenvolvimento das Zonas Especiais de Interesse Ambiental ... 81

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 12 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA ... 12 1.2 OBJETIVOS ... 13 1.2.1 Objetivo geral ... 13 1.2.2 Objetivos específicos ... 13 1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ... 13 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 17 2.1 GEOPROCESSAMENTO ... 17 2.1.1 Técnicas de geoprocessamento ... 20

2.1.2 Fotointerpretação e imagens LANDSAT ... 21

2.1.3 Sistemas de informação geográfica ... 22

2.2 BACIA HIDROGRÁFICA E MICROBACIA... 25

2.2.1 Unidade de referência no planejamento ambiental ... 26

2.3 A PAISAGEM COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO ... 27

2.3.1 Temas utilizados no planejamento ambiental ... 29

2.4 LEGISLAÇÕES APLICADAS ... 31

2.4.1 Bioma mata atlântica ... 32

2.4.2 Código Florestal Brasileiro ... 34

2.4.3 Legislações locais ... 36

2.5 ZONEAMENTO ... 37

2.5.1 Tipos de zoneamento e distinções metodológicas ... 38

2.5.2 Zonas especiais de interesse ambiental ... 41

3. MÉTODOS E MATERIAIS ... 42

3.1 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ... 42

3.2 MATERIAIS E SOFTWARE UTILIZADOS ... 42

3.3 METODOLOGIA... 43

3.3.1 Procedimentos operacionais referentes à análise do uso e ocupação do solo ... 45

3.3.2 Identificação e espacialização dos temas referentes ao meio físico, natural e antrópico 46 3.3.3 Determinação das Áreas de Preservação Permanente ... 47

3.3.4 Delimitação das Zonas Especiais de Interesse Ambiental ... 48

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 51

4.1 ANÁLISE TEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ... 51

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4.1.2 Período entre os anos de 2000 e 2010 ... 53

4.1.3 Caracterização do uso e ocupação do solo a partir de imagem ortofotomosaico ... 54

4.2 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA MICROBACIA DO RIO VARGEM DOS PINHEIROS .. 57

4.2.1 Clima ... 57

4.2.2 Geomorfologia ... 60

4.2.3 Pedologia ... 64

4.2.4 Vegetação ... 65

4.3 ÁREAS COM RESTRIÇÕES LEGAIS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ... 66

4.3.1 Áreas de Preservação Permanente de recursos hídricos ... 67

4.3.2 Áreas de Preservação Permanente de encostas com inclinação acima de 45° ... 70

4.3.3 Áreas de Preservação Permanente de topo de morros ... 72

4.4 DELIMITAÇÃO DAS ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE AMBIENTAL... 75

4.4.1 Zona de Interesse de Proteção Ambiental ... 77

4.4.2 Zona de Interesse de Controle Ambiental ... 77

4.4.3 Zona de Interesse de Reabilitação Ambiental ... 77

4.4.4 Zona de Interesse de Adequação Ambiental ... 78

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ... 78

5.1 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES QUANTO A TRANSFORMAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO EM DIFERENTES PERÍODOS ... 78

5.2 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES QUANTO AOS PRINCIPAIS TEMAS CONSIDERADOS NO PLANEJAMENTO AMBIENTAL ... 79

5.3 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES REFERENTES ÀS ÁREAS COM RESTRIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ... 80

5.4 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES QUANTO AS ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE AMBIENTAL ... 81

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

Entender o planejamento como instrumento essencial no processo de construção de um espaço territorial igualmente disposto aos anseios humanos e à necessidade de preservação e conservação dos ecossistemas se torna, nos tempos atuais, um importante pré-requisito a se considerar no desenvolvimento sustentável, uma vez que permite uma visão holística de um território.

Num cenário global em que cada vez mais a humanidade busca a melhoria na qualidade de vida em seus espaços habitados e unidades territoriais, a integração de forma harmônica de fatores ambientais, culturais, econômicos e sociais precisam ser criteriosamente trabalhados e promovidos, como, por exemplo, as condições ambientais. Estas que são uma preocupação latente aos gestores públicos responsáveis pela implementação de políticas voltadas ao bem estar do homem e da natureza.

Nesse sentido, o planejamento ambiental vem ao encontro dos anseios dos mencionados gestores, uma vez que se torna um “processo contínuo de avaliação da integralidade dos diferentes aspectos que compõem a paisagem, visando ordenar o uso e ocupação do espaço territorial de maneira que a intervenção humana seja a menos impactante possível” (VIEIRA, 2004, p. 13).

A aquisição, sistematização e contextualização de diferentes tipos de dados e informações referentes ao meio físico, biológico e socioeconômico que compõem determinado território são a base para um planejamento ambiental, cujas técnicas permitem identificar, conhecer e interpretar potencialidades e vulnerabilidades tanto na área urbana quanto rural. Tem-se a partir disso a construção de cenários futuros com vistas a propor intervenções à ocupação e uso sustentável dos territórios.

A utilização, por exemplo, de técnicas de geoprocessamento permite que os dados e informações coletadas de um determinado território sejam mais bem representados por meio da espacialização dos componentes naturais e antrópicos. O que contribui, dessa forma, para os processos referentes à avaliação territorial e posterior intervenção em áreas consideradas críticas por meio de um zoneamento, sendo de suma importância na tomada de decisões.

Diante desse cenário, a aferição de um zoneamento ambiental torna-se uma eficiente e imprescindível ferramenta no planejamento do território, uma vez que possibilita aos seus gestores, uma tomada de decisão mais eficiente e baseada em critérios que adéquem

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os usos e ocupações antrópicas às características naturais do território, por exemplo, em munícipios de pequeno ou médio porte, como é o caso de Angelina.

O município de Angelina, integrante da mesorregião de Florianópolis, possui entre os limites físicos de seu território importantes elementos ligados a variáveis culturais, sociais e ambientais. Assim, torna-se relevante a implementação de ações no sentido de assegurar, por meio de práticas sustentáveis de uso e ocupação do solo, a conservação de tais elementos como aqueles que formam a paisagem natural a fim de permitir ao município galgar novas possibilidades de crescimento econômico, social e ambiental.

A metodologia aplicada neste estudo visa a espacialização por meio de técnicas de geoprocessamento de Zonas Especiais de Interesse Ambiental na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros em Angelina, Estado de Santa Catarina.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Espacializar, por meio de técnicas do geoprocessamento, zonas especiais de interesse ambiental na microbacia do Rio das Vargens, município de Angelina, Estado de Santa Catarina, de modo a auxiliar gestores públicos no processo de tomada de decisão.

1.2.2 Objetivos específicos

x Analisar a transformação ocupacional, em diferentes períodos, do território que forma a microbacia do rio Vargem dos Pinheiros.

x Identificar na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros os elementos relacionados aos principais temas que fazem parte do planejamento ambiental.

x Espacializar, depois de identificados, os elementos inerentes aos principais temas de planejamento ambiental.

x Mapear as áreas com restrições de uso e ocupação do solo na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros com base em legislações específicas.

1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

Restringir o desenvolvimento em áreas com algum tipo de limitação ambiental torna-se um impasse cada vez mais considerado no ordenamento territorial de um município. Dessa forma, o zoneamento ambiental torna-se um instrumento fundamental para avaliar e coibir o uso inadequado dos recursos naturais frente às atividades humanas, contribuindo,

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consequentemente, com uma melhor gestão territorial através de um planejamento íntegro e participativo.

A bacia hidrográfica como unidade ideal de planejamento de um território, de fato, ajuda a restringir o foco de atuação de um planejamento ambiental, sendo que ações propostas podem ser mais bem aplicadas em um espaço físico reduzido. Políticas ligadas à gestão de bacias e microbacias hidrográficas vêm sendo adotadas no Brasil nas últimas décadas e os resultados obtidos demonstram a evolução da qualidade ambiental aliado a processos produtivos mais adequados ao meio ambiente.

A escolha da microbacia do Rio Vargem dos Pinheiros no município de Angelina como área de estudo decorreu do fato de ser uma bacia geograficamente pequena, porém integradora de diferentes tipos de uso e ocupação do solo onde aspectos presentes tanto em área urbana quanto rural se confundem em meio à paisagem. Ressalta-se que o perímetro urbano do município está contido dentro dos limites da microbacia tornando-se um fator determinante no planejamento, uma vez que a expansão urbana, embora lenta se comparada com grandes metrópoles, acaba por impactar na conservação dos aspectos naturais presentes na microbacia.

Esse crescimento urbano, apesar de pouco expressivo, traz um alerta sobre o modo como são impactados as ações antrópicas no meio ambiente. Se em grandes centros urbanizados ocorre a quase totalidade da descaracterização do meio, em municípios ditos pequenos e de pouca infraestrutura esse impacto torna-se imperceptível, sendo decorrente de processos muitas vezes lentos. No entanto, são esses processos lentos que levam a falsa impressão de que os impactos ambientais gerados são de menor agressividade e menos abrangentes, o que, por consequência, traz na hierarquia de decisões a serem tomadas por gestores públicos municipais uma menor preocupação em observar as mudanças decorrentes de qualquer crescente na concentração populacional de um território.

A área utilizada no presente estudo abrange os limites da microbacia hidrográfica do rio Vargem dos Pinheiros no município de Angelina, Estado de Santa Catarina. O município está localizado na mesorregião da Grande Florianópolis distante 70 quilômetros da capital do estado, pertencente à bacia hidrográfica do rio Tijucas, sendo a principal via de acesso a rodovia SC-407 via BR 282. Angelina possui uma área equivalente a 500,48 Km² tendo como limites geográficos o município de Rancho Queimado ao sul; Águas Mornas, Antônio Carlos e São Pedro de Alcântara à leste; Major Gercino ao norte e Leoberto Leal à oeste. A localização da área de estudo pode ser visualizada na figura 1.

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Figura 1: Localização da microbacia do rio Vargem dos Pinheiros em Angelina, Estado de Santa Catarina

Fonte: Elaborado pelo autor, 2014.

A área da microbacia corresponde a aproximadamente 9% do território angelinense, equivalente a 44,27 Km² (4.427,13 hectares).

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ϭϲ

Sendo a área de estudo relativamente pequena, a avaliação de um aspecto determinante no parcelamento, uso e ocupação do solo desta microbacia também pode ser mais bem analisada. Geograficamente a microbacia, assim como o município de Angelina, está localizada em uma região denominada de “encosta da serra geral”, sendo reconhecido pelo Ministério do Meio Ambiente como de elevada importância biológica (GUZATTI, TURNES e SAMPAIO, 2010), onde a declividade do relevo é característica marcante. As restrições legais impostas nesse tipo de condição natural são amparadas tanto em legislações federais quanto estaduais e municipais.

Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil de 2013 o município de Angelina vem apresentando uma taxa média de crescimento negativa na última década, ficando em -0,95% ao ano. Esse fato pode ser percebido na diminuição da população total do município ao longo dos últimos censos realizados pelo IBGE.

A figura 2 mostra a evolução populacional do município de Angelina considerando os censos demográficos de 1991, 2000 e 2010 realizados pelo IBGE.

Figura 2: Evolução populacional do município de Angelina

Fonte: Elaborado pelo autor (2014).

É possível identificar nessa figura que a população rural do município de Angelina diminuiu ao longo dos anos em contraposição à população urbana que teve um pequeno acréscimo. Esse crescimento é observado principalmente na sede do município, no entanto, não influencia de forma significativa na já baixa densidade demográfica, que no município é de apenas 10,49 habitantes por quilômetro quadrado. As aglomerações urbanas são observadas na sede e nos distritos do município (Garcia e Barra Clara), tendo a sede municipal a maior concentração populacional com 927 habitantes segundo o último censo do IBGE. Estando a sede do município presente na área de estudo.

0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000

censo 1991 censo 2000 censo 2010 pop. Total 6.268 5.776 5.250 pop. Rural 5.535 4.761 4.127 pop. Urbana 733 1.015 1.123 Po p u laç ão

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A presença de Mata Atlântica também é observada, porém com alto grau de fragmentação e degradação florestal. A partir disso tem-se a discussão de como conciliar o parcelamento e uso do solo em áreas declives e em remanescentes florestais. Grandes extensões dessas áreas são destinadas à pastagem, reflorestamento com espécies exóticas e cultivo agrícola no município (embora seja a atividade agrícola proporcionalmente pequena se comparada com as demais).

Em função disso, a realização deste estudo torna-se relevante no sentido de melhor ordenar o espaço territorial de parte do município de Angelina, mais precisamente na microbacia do rio Vargem dos Pinheiros, possibilitando a identificação de Zonas Especiais de Interesse Ambiental e seu uso sustentável baseados em um zoneamento que identifique os conflitos ocasionados pelo uso e ocupação do solo mal ordenado ao longo do tempo e, ao mesmo tempo, possibilite a projeção de novas perspectivas de desenvolvimento que garanta a inclusão de todos os aspectos ambientais, culturais, econômicos e sociais do território estudado.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 GEOPROCESSAMENTO

O Geoprocessamento é a disciplina do conhecimento humano que começou a ser estudada em meados do século 20, decorrente da necessidade de se obter um processamento de dados georreferenciados e da exigência de um avanço na avaliação de dados gráficos.

Segundo Câmara e Davis (1997, p.1), o termo geoprocessamento remete à

Disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e que vem influenciando de maneira crescente as áreas de cartografia, análise de recursos naturais, transportes, comunicações, energia e planejamento urbano e regional.

Piroli (2010) referindo-se ao geoprocessamento destaca que se utilizam aplicativos, equipamentos, dados de diversas fontes e profissionais especializados como um conjunto que permite a manipulação, avaliação e geração de produtos relacionados à localização de informações na superfície da Terra.

Dessa forma, com o advento de geotecnologias como o geoprocessamento tornou-se mais prático e preciso a aplicação de técnicas de avaliação do território. Os resultados obtidos por meio de análises mais confiáveis refletem, com maior exatidão, as reais condições ambientais presentes na natureza, o que, por sua vez, torna o planejamento ambiental um meio de se chegar às decisões ou escolhas de melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos disponíveis (SILVA e SANTOS, 2011).

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Entretanto, cabe destacar que é na otimização de recursos que faz das técnicas de geoprocessamento um avanço significativo no que diz respeito ao processo de rapidez na tomada de decisões a partir da geração de novas e eficientes relações entre o homem e seu espaço habitado. Limitar o estudo dessas relações também se torna uma vantagem no momento em que se utilizam tais técnicas, pois são a partir delas que se podem realizar investigações mais específicas sobre os reais fenômenos, naturais ou não, que atuam no espaço estudado.

A literatura sobre o tema ressalta a existência de diferentes tipos e usos de técnicas empregadas no geoprocessamento. Rosa (2004) destaca que o processamento digital de imagens, a cartografia digital, o sistema de informação geográfica e o banco de dados são atividades inter-relacionadas com o geoprocessamento.

Piroli (2010) define os principais elementos e fontes de dados do geoprocessamento como sendo:

ƒ Informática: Hardware (computadores e periféricos) e Software (aplicativos).

ƒ Sensoriamento Remoto: Orbital (imagens de satélite) e Sub-orbital (fotografias aéreas).

ƒ Sistema de Posicionamento Global (GPS): Calcula e informa a coordenada de qualquer ponto da superfície da terra.

ƒ Cartografia Digital: Mapas e cartas topográficas transformadas em imagem.

ƒ Topografia e Levantamentos de Campo: Complementação e confirmação das informações no campo.

ƒ Processamento Digital de Imagens: Transformações e adaptações realizadas para modificar uma imagem.

ƒ Sistemas de Informações Geográfica (SIG): Sistemas de informação que trabalham com dados referenciados à coordenadas espaciais.

ƒ Profissional Capacitado (Peopleware): Profissional que aplica os recursos tecnológicos, integra diferentes tecnologias e interpreta os resultados do trabalho.

Muitos dos componentes citados pelo autor podem ser definidos como de coleta de dados e informações acerca dos objetivos do estudo. A cartografia, o sensoriamento remoto, o GPS e a topografia constituem, por exemplo, os principais meios de acesso à base de dados que um profissional possui no momento de iniciar o seu trabalho. Os Sistemas de

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Informação geográfica podem, neste caso, serem enquadrados como sistemas integradores dos diferentes componentes da base de dados que um profissional possui.

Em muitos estudos realizados nos mais diferentes âmbitos da ciência e com os mais variados objetivos, percebe-se que o conceito de SIG se confunde com o próprio geoprocessamento, sendo considerados os dois um só sistema. Vieira (2004) observa exatamente esse pensamento, destacando que o termo geoprocessamento tem sido frequentemente utilizado como sinônimo de SIG e que no Brasil esse fato é constatado em quase todas as áreas envolvidas com a utilização dessa tecnologia.

Tendo o termo geoprocessamento um sentido mais amplo, abrangendo a construção do processo decisório como um todo, desde a coleta de dados até a obtenção do produto gráfico final, as técnicas aplicadas no desenvolvimento de estudos relacionadas a esse ramo da ciência objetiva o melhor aproveitamento dos recursos tecnológicos oferecidos, além de proporcionar uma maior economia de tempo e de recursos financeiros na análise dos diferentes componentes presentes no meio ambiente.

A figura 3 representa um esquema que ilustra as principais técnicas de geoprocessamento utilizadas nas mais diferentes questões ligadas às informações espaciais. Figura 3: Principais técnicas ligadas ao geoprocessamento

Fonte: Adaptado de Sistema Estadual de Geoinformação/Goiás, 2014.

Analisar tais técnicas torna-se essencial no processo de construção de estudos de avaliação de um território, pois são a partir delas que se podem vislumbrar novos caminhos no

GEOPROCESSAMENTO SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRAFICA (SIG) CARTOGRAFIA GEODÉSIA FOTOGRAMETRIA SENSORIAMENTO REMOTO

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ordenamento territorial e possibilitar melhores condições ao meio ambiente ocupado pelo Homem.

2.1.1 Técnicas de geoprocessamento

O presente estudo tem como base a utilização de diferentes produtos, gerados a partir de um conjunto de técnicas de geoprocessamento, como a fotogrametria, Sensoriamento Remoto, Cartografia Digital e Sistemas de Informação Geográfica.

Nesse contexto, o sensoriamento remoto é definido como o “conjunto de processos e técnicas usados para medir propriedades eletromagnéticas de uma superfície, ou de um objeto, sem que haja o contato entre o objeto e o equipamento sensor” (CÂMARA et al. 1996, p. 27). “[...] O sensoriamento remoto também pode incluir o estudo das técnicas de aerofogrametria e fotointerpretação, uma vez que fotografias aéreas são remotamente captadas” (FRANCELINO, 2003, p.19).

Segundo Francelino (2003), citando Rodriguez e Quintanilha (1991), salienta que as imagens de sensoriamento remoto constituem uma forma rápida de se obter informações espaciais em formato digital, permitindo que essas fontes sejam combinadas a outras informações, o que pode constituir um banco de dados sobre o espaço estudado.

O processo cartográfico, segundo IBGE (1998), envolve o estudo, a análise, a composição e representação de observações, de fatos, fenômenos e dados pertinentes a diversos campos científicos associados à superfície terrestre. Para que esse processo seja feito de forma plena pela cartografia, há a necessidade de se fazer uso de técnicas e estudos auxiliares como a geodésia, a fotogrametria e o sensoriamento remoto.

Zanetti (2007, p.5) citando a definição clássica de geodésia feita por Helbert (1880) define a geodésia como sendo a “ciência de medida e mapeamento da superfície da Terra”. A autora ressalta ainda que uma definição mais moderna contemplaria a determinação do campo da gravidade da Terra além de variações temporais da superfície. Sendo assim, os levantamentos geodésicos constituem a base para o estabelecimento do referencial físico e geométrico necessário ao posicionamento dos elementos que compõem a paisagem territorial (IBGE, 1998).

Os aerolevantamentos são baseados na utilização de equipamentos aero ou espacialmente transportados, seja por câmeras fotográficas ou sensores, prestando-se a descrição geométrica da superfície topográfica, em relação a uma determinada superfície de referencia (IBGE, 1998). O levantamento Aerofotogramétrico do Estado de Santa Catarina

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constitui, dessa forma, um importante banco de dados referente ao território catarinense, tendo como base a realização de aerolevantamentos realizados entre os anos de 2010 e 2012.

2.1.2 Fotointerpretação e imagens LANDSAT

Filho (2000, p.18) define a fotointerpretação como um “processo que utiliza o raciocínio lógico dedutivo e indutivo para compreender os princípios e processos que criaram as feições e objetos identificados”. Loch (2008) complementa este conceito dizendo que quando não se pode caracterizar um objeto diretamente na imagem, usa-se o processo de fotointerpretação para extrair ou deduzir o que representa o objeto em questão, precisando para isso, apoiar-se em dados conhecidos.

Ainda segundo o autor, quando o uso de técnicas de fotointerpretação passa a exigir medições sobre a fotografia aérea, tem-se a necessidade de uso da fotogrametria, sendo esta fundamental no embasamento e deduções matemáticas para a obtenção de dados rigorosos e ajustes da fotografia.

Dessa forma, a fotointerpretação depende de alguns fatores, como:

x A pessoa que faz a interpretação;

x O objetivo para o qual é feita a fotointerpretação; x A qualidade das fotografias disponíveis;

x A disponibilidade de instrumentos para a análise das fotos; x As exigências do trabalho em questão;

x [...]. (LOCH, 2008, p. 20).

Sendo a qualidade das fotografias um fator importante no processo de fotointerpretação de uma imagem, a decisão da escolha pela melhor fonte de dados deve refletir a qualidade à que se pretende trabalhar, a fim de obter os melhores resultados possíveis. Nesse sentido, o sensor LANDSAT, de tecnologia norte-americana, oferece imagens amplamente usadas no mundo como aquisição de dados da superfície da Terra.

As imagens obtidas pelo sistema LANDSAT são constituídas, principalmente, por dois sensores, o MSS e o TM. Segundo Loch (2008), o sensor MSS é um imageador multiespectral que usa um espelho oscilante para imagear continuamente a superfície da Terra, numa direção perpendicular ao voo, sendo esta tecnologia utilizada nos satélites LANDSAT 1, 2 e 3. A partir do lançamento do satélite LANDSAT 4 tem-se o uso dos sensores MSS e TM simultaneamente, tendo o sensor TM uma melhor qualidade das imagens devido ao aumento da resolução espacial propiciada pela varredura nos dois sentidos de um espelho oscilante (LOCH, 2008).

Portanto, percebe-se que as imagens LANDSAT são facilmente adaptadas para a análise digital via computador, sendo possível a sua interpretação através de softwares

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especializados como os SIGs. As vantagens proporcionadas por esses sensores são ressaltados pelos 12 canais espectrais diferentes de imagens, disponibilidade de novas imagens a cada 8 dias, recobrimento uniforme de todo o território nacional (exceto em regiões com nuvens) e são de fácil acesso e aquisição no portal específico desenvolvido pelo INPE, detentor do controle dessas imagens.

2.1.3 Sistemas de informação geográfica

Câmara et al. (1996, p.34) definem os sistemas de informação geográfica como sendo

Sistemas de informação construídos especialmente para armazenar, analisar e manipular dados geográficos, ou seja, dados que representam objetos e fenômenos em que a localização geográfica é uma característica inerente e indispensável para tratá-los. Dados geográficos são coletados a partir de diversas fontes e armazenados via de regra nos chamados bancos de dados geográficos.

Analisando o contexto de que os bancos de dados são essenciais à correta operacionalidade dos dados geográficos coletados, faz-se necessário o uso de equipamentos e programas capazes de integrar tais dados e formar um novo entendimento da (s) variável (eis) que se busca equacionar.

O software, nesse caso, torna-se fundamental no processamento dos dados geográficos coletados, uma vez que com a evolução tecnológica percebida nas últimas décadas, tais programas conseguem realizar de forma mais rápida e eficiente a manipulação dos dados e informações de interesse. Piroli (2010, p. 6) reitera esse pensamento, considerando que

os SIGs são sistemas de informações destinados a trabalhar com dados referenciados a coordenadas espaciais. São normalmente constituídos por programas e processos de análise, que tem como característica principal relacionar uma informação de interesse com sua localização espacial. Estes aplicativos permitem a manipulação de dados geograficamente referenciados e seus respectivos atributos e a integração desses dados em diversas operações de análise geográfica.

Percebe-se por meio das citações anteriores que a conceituação e a forma de utilização dos SIGs vêm se aperfeiçoando ao longo do tempo. Essa evolução está intimamente ligada à aquisição e consolidação de banco de dados confiáveis e adaptados ao proposito de uso por parte do usuário.

Historicamente, a forma mais antiga de processamento e apresentação das informações contidas em um banco de dados geográficos é feita através de mapas (CÂMARA et al., 1996). As tentativas de automatizar o processamento de dados georreferenciados ocorreram inicialmente na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Nas décadas seguintes com a popularização e barateamento das estações de trabalho,

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computadores pessoais e bancos de dados, o uso de SIG foi difundido com incorporação de muitas funções de análise espacial.

No Brasil, a introdução de técnicas de geoprocessamento iniciou-se a partir da divulgação e formação de pessoal feita pelo professor Jorge Xavier da Silva da Universidade Federal do Rio de Janeiro no inicio da década de 1980.

Uma integralidade entre as ações de impacto do ser humano no ambiente e a manutenção dos ecossistemas em seu estágio mais natural, remete a aplicabilidade e uso do geoprocessamento como “ferramenta computacional pode ser bastante útil na abordagem integrada, essencial ao gerenciamento dos recursos naturais” (GONÇALVES e HAMADA, 2007).

O uso de Sistemas de Informação Geográfica, ainda segundo os autores (p. 13-14), possui vantagens de utilização em que

os dados, uma vez inseridos no sistema, são manipulados com rapidez; além disso, o sistema permite diferentes análises dos dados de forma mais eficiente, utilizando ferramentas matemáticas e estatísticas sofisticadas e também com menor subjetividade que se fossem realizadas de forma manual, [...] o SIG também possibilita processos de tomada de decisão, facilita a atualização dos dados e produz mapas com rapidez.

Segundo Pinto (2009) as definições relacionadas ao uso de SIG estão condicionadas pelo ambiente em que surgem e pela realidade dos problemas que ajudam a resolver. Para a autora, os Sistemas de Informação Geográfica constituem a união entre a informação geográfica, o software e o hardware, sendo essa união capaz de manipular, consultar, visualizar, arquivar e modelar os dados coletados.

As definições de SIG refletem, portanto, a multiplicidade de usos e visões possíveis desta tecnologia, sempre apontando uma perspectiva interdisciplinar na sua utilização.

Com a ajuda de um SIG, podemos explicar e visualizar relações espaciais, podemos representá-las e apresentá-las em forma de mapas. Podemos também desenvolver cenários espaciais e avaliar intervenções. [...] A utilização de Sistemas de Informação Geográfica tem uma longa tradição, especialmente no planejamento da paisagem e do meio ambiente [...] (LANG e BLASCHKE, 2009, p.42 - 45).

Ao analisar a necessidade do uso de Sistemas de Informação Geográfica, Lang e Blaschke (2009), ressaltam a sua importância como uma ferramenta holística de análise, planejamento e gestão da paisagem. Para os autores, os SIGs podem fornecer valiosas contribuições no apoio às tarefas e aos projetos de planejamento que cada vez mais tornam-se complexos. Os autores destacam ainda as possibilidades de aplicações de SIG no planejamento da paisagem, sendo demonstrado pela figura 4.

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Figura 4: SIG como ferramenta central para a análise e planejamento da paisagem

Fonte: LANG e BLASCHKE (2009, p.43).

Com isso, têm-se o uso e a aplicação de SIG no desenvolvimento e pesquisa de estudos nos mais variados âmbitos ligados à avaliação da paisagem. Contudo, há que se considerar também as dimensões dos problemas referentes ao estudo do meio ambiente, ou seja, a utilização dos SIGs deve objetivar a melhor análise de tais problemas, uma vez que, estão relacionados com o modo como a paisagem é modificada pelo Homem.

Medeiros e Câmara (2001) apontam pelo menos quatro grandes dimensões dos problemas ligados aos estudos ambientais, sendo eles o mapeamento temático, diagnóstico ambiental, avaliação de impacto ambiental e o ordenamento territorial, onde é grande o impacto do uso da tecnologia de Sistemas de Informação Geográfica.

Nesse sentido, diversos estudos e trabalhos vêm sendo desenvolvidos no Brasil e no mundo cuja metodologia utiliza o apoio de SIGs. Destacam-se alguns trabalhos como o desenvolvido por Donha, Sousa e Sugamosto (2003), cujo tema de investigação fora a determinação da fragilidade ambiental utilizando técnicas de suporte à decisão e SIG aplicado na região metropolitana de Curitiba, onde a metodologia de análise da paisagem se baseou na classificação por múltiplos critérios, denominada combinação linear ponderada presente no

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Franco e Rosa (1998) aplicaram técnicas de geoprocessamento como o SIG no zoneamento agrícola do município de Campina Verde em Minas Gerais. Foram considerados componentes como formações geológicas, declividade, uso da terra e cobertura vegetal. Os autores utilizaram técnicas de interpretação de imagem de sensoriamento remoto e análises em Sistemas de Informação Geográfica, obtendo como resultado o mapa de zoneamento agrícola da cidade, a qual pôde ser utilizada no processo de decisões sobre o planejamento do município.

2.2 BACIA HIDROGRÁFICA E MICROBACIA

Considerar uma unidade espacial de referência torna-se um meio eficaz no planejamento ambiental em que pese à aplicação de políticas voltadas à preservação e conservação da natureza, ao ordenamento territorial e manejo integrado e sustentável do território. Considera-se assim, limites municipais, regionais e estaduais, bacias e microbacias hidrográficas como unidades territoriais de planejamento. O critério de uso de tais unidades está intimamente ligado aos objetivos á que se almeja pelo planejamento, sendo na prática a escolha por áreas mais regionalizadas e que integrem aspectos sociais, econômicos e ambientais de forma mais homogênea e de fácil identificação dos elementos que compõem o território.

Nesse sentido, observa-se cada vez mais o uso de bacias e microbacias hidrográficas como unidades de planejamento aplicados em políticas multivariadas no país, configurando amplas possibilidades de inserção de programas voltados ao desenvolvimento agrícola, agropecuário, florestal e social sustentáveis.

Do ponto de vista técnico, Santos (2004, p. 85) define que “uma bacia hidrográfica circunscreve um território drenado por um rio principal, seus afluentes e subafluentes permanentes ou intermitentes. Seu conceito está associado à noção de sistema, nascentes, divisores de águas, cursos de águas hierarquizados e foz”.

No sentido de analisar o espaço ocupado, Hespanhol (2006) define que as microbacias normalmente abrangem superfícies territoriais que variam de 3 a 10 mil hectares compreendidos entre os fundos de vale e os divisores de água formada pelas partes altas das serras.

Dessa forma, Attanasio (2004, p. 29) considera que a microbacia é a unidade básica de planejamento para a compatibilização da preservação dos recursos naturais e da produção agropecuária, sendo que “constitui a manifestação bem definida de um sistema

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natural aberto e pode ser vista como uma unidade ecossistêmica da paisagem, em termos da integração dos ciclos naturais de energia, de nutrientes e, principalmente, da água”.

Portanto, a adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento é justificada por que “constitui um sistema natural bem delimitado no espaço, composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d’água e seus afluentes, onde as interações, pelo menos físicas, são integradas e, assim, mais facilmente interpretadas” (SANTOS, 2004, p. 40).

O tamanho da bacia hidrográfica, ainda segundo a autora, possui influência nos resultados onde bacias hidrográficas menores facilitam o planejamento tornando mais simples e efetiva a espacialização dos dados, limitando ou centralizando os problemas principais existentes.

2.2.1 Unidade de referência no planejamento ambiental

Tendo a abordagem de temas ligados ao ordenamento do território, os impactos humanos e o estado de conservação e preservação do meio ambiente uma importância cada vez mais considerada em planejamentos, cabe uma visão maior sobre os problemas que afetam tanto populações quanto a natureza, focada nos espaços territoriais diretamente afetados pelo uso e ocupação humanos.

Santos (2004, p.42) conclui que “o espaço de trabalho é diverso e o planejamento ambiental deve flexibilizar seus limites, de forma a considerar as inter-relações nos seus diversos níveis. Deve, assim, definir a área de estudo em função de suas características e objetivos pretendidos”.

Considerar, portanto, a microbacia como uma unidade territorial de planejamento se torna necessária, pois segundo Silva (1994) relatando sobre a gestão ambiental do desenvolvimento em microbacias enfatiza que a sua abordagem diz respeito a um tratamento local e regional do desenvolvimento, buscando intervir na organização territorial em conformidade com as condições naturais existentes.

Vieira (2004) ressalta que a presença de atividades produtivas com grande impacto sobre o meio ambiente pode comprometer a integridade natural dos ecossistemas gerando graves consequências ambientais, como a fragmentação dos refúgios naturais pela supressão da cobertura vegetal e o manejo inadequado do solo, tornando-se um processo irreversível se não tomadas medidas preventivas no intuito de mitigar os impactos gerados.

É importante observar que além das peculiaridades descritas pelo autor é imprescindível a existência de material cartográfico que identifique e possibilite a análise das

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características que compõem o cenário de avaliação. Contudo, assim como em muitas regiões do país, muitas microbacias não possuem material cartográfico que caracterize seu meio físico-natural, sendo esta uma importante ferramenta necessária às analises de planejamento e ordenamento territorial e ambiental. O zoneamento ambiental vem, portanto, auxiliar no desenvolvimento sustentável e racional de uma microbacia, objetivando “proporcionar de forma eficaz a conservação da natureza e seus recursos em harmonia com o desenvolvimento das atividades socioeconômicas” (THOMAS, 2012, p. 202).

Promover, então, um desenvolvimento sustentável baseada em um zoneamento que descreva e exprima a realidade vivenciada por sua comunidade, torna-se uma intervenção a ser considerada na gestão. No entanto, definir Zonas de Interesse Ambiental em uma microbacia recai a uma situação muito mais ampla do que simplesmente a preservação do meio ambiente. SILVA (1994) remete a um caso hipotético para abordar o tema do desenvolvimento em microbacias:

[...] pensar o campo a partir da microbacia hidrográfica significa forjar uma nova identidade social para os atores: o seu “José das Couves” não é mais aquele pequeno arrendatário, o grande pecuarista ou aquele que é empresário na cidade; é um produtor que se situa em terras que devem ser reflorestadas, ou que planta feijão em um solo inapto para a cultura [...], um rio para o pequeno produtor não é o mesmo rio para o grande, e assim ocorre com a mata nativa, com a horta e com os animais.

O mesmo autor ressalta ainda que as intervenções em microbacias hidrográficas possuem limitações ao abordar o espaço social, o que pode ser deduzido da citação anterior; e isso se reflete em uma problemática na hora de enfrentar as realidades locais. O zoneamento pode ser encarado dessa forma como uma ferramenta de diagnóstico da realidade que cerca o ambiente territorial da microbacia, no entanto, desenvolver prognósticos de desenvolvimento em áreas de restrição torna-se uma maneira de criar novas perspectivas de uso e adequação ao meio ambiente sem perder de vista o desenvolvimento econômico e social, mas acima de tudo, de valorização cultural.

2.3 A PAISAGEM COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO

A forma de organização do espaço sempre esteve ligada aos anseios humanos de vivência em comunidades, sob objetivos e normas comuns. O planejamento historicamente vem a propor uma integralidade de ações voltadas ao bem estar coletivo de sociedades antigas e contemporâneas. As primeiras informações históricas sobre planejamento do espaço descrevem aldeias ligadas a prática da pesca ou agricultura, levando em consideração aspectos ambientais como topografia e microclima na Mesopotâmia em 4.000 A.C (SANTOS, 2004).

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Ainda segunda a autora, a história das ciências e os paradigmas que influenciaram as sociedades acabaram por refletir na forma de idealizar os processos de organização territorial, onde as cidades foram compostas e planejadas “por partes”, sem que houvesse a preocupação de torná-las interativas. Observa-se, portanto, uma aplicação histórica de planejamentos setoriais em temas voltados exclusivamente a problemáticas específicas como na área econômica e de recursos hídricos, por exemplo.

Segundo Lang e Blaschke (2009, p. 108-111)

As estruturas da paisagem são fortemente formadas e alteradas pelo homem. A paisagem, por isso, também é vista como um tipo de interface entre as esferas biótica, abiótica e humana [...]. Do ponto de vista da análise da estrutura da paisagem, são mais graves aquelas mudanças que ocorrem lentamente, ou seja, de modo gradual [...]. Portanto, ‘análise da paisagem’ significa o estudo analítico da configuração da paisagem e seu desenvolvimento e as implicações específicas resultantes dessa configuração para a integralidade, utilidade e valor da paisagem.

Cabe destacar que a configuração da paisagem como unidade territorial e, consequentemente, de planejamento, torna essencial a aplicação de métodos analíticos que permitam o diagnóstico, prognóstico e a tomada de decisão mais segura agregando valores ambientais e humanos, sendo que é preciso que se “delimite o sistema a ser estudado para que se possam estabelecer os elementos componentes e as relações existentes” (VIEIRA, 2004, p. 9). O mesmo autor ao analisar a abordagem metodológica da paisagem, cita que a sua análise tem sido realizada de três maneiras:

x As variáveis são codificadas e analisadas segundo uma hierarquia pré-definida, através de uma análise estatística multivariada, sendo a área de estudo dividida em quadrículas regulares. O zoneamento é posteriormente realizado agrupando-se as unidades que apresentam um comportamento semelhante em relação às variáveis analisadas.

x O comportamento das variáveis é analisado no contexto da área estudada. Utilizam-se, nesse caso, mapas temáticos referentes às variáveis analisadas sendo cruzados entre si em uma ordem preestabelecida seguindo os objetivos do estudo. O geoprocessamento é o instrumento cada vez mais usado na realização dos cruzamentos dos mapas temáticos tendo a possibilidade de análises mais complexas dos elementos que compõem a paisagem.

x As variáveis são analisadas sob uma forma mais sintética de representação da paisagem. Nesta perspectiva tem-se a elaboração de uma única carta onde são representadas todas as variáveis envolvidas e suas

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dinâmicas. No entanto, apresenta-se uma concentração elevada de informações que dificultam a interpretação das informações contidas. A utilização de mapas temáticos, referenciado pelo autor, configura-se, portanto, em uma forma eficaz de análise das variáveis que compõem a área de estudo e o cruzamento de dados e informações através de técnicas de geoprocessamento, como os SIGs, permite a criação de cenários de avaliação do território e uma análise integrada do meio ambiente.

Sendo a compreensão holística do meio ambiente uma tarefa difícil e que o processo de interdisciplinaridade dos agentes envolvidos enfrenta inúmeras barreiras, criou-se ao longo das últimas décadas a necessidade de englobar diferentes temáticas de planejamento sem deixar de lados opostos o desenvolvimento e o ambiente.

2.3.1 Temas utilizados no planejamento ambiental

Na visão holística necessária para compreender um território faz-se o uso das diversas disciplinas construídas ao longo da história da ciência. Os conceitos e métodos desenvolvidos a partir da necessidade humana em melhor conviver com aspectos relacionados ao seu espaço habitado são amplamente utilizados no planejamento ambiental.

A interpretação do meio em relação à sua composição, estrutura, processo e função deve estabelecer a relação dos seus múltiplos aspectos como um todo continuo no espaço. O diagnóstico vem, portanto, compreender o meio de forma global através do levantamento de dados ligados a diversas disciplinas, sendo que os temas relacionados são apresentados em uma sequência que represente a evolução das transformações e a velocidade de mudança no espaço estudado (SANTOS, 2004).

Ainda segundo Santos (2004, p. 73) “o estado do meio costuma ser avaliado por temas relacionados aos aspectos físicos (climatologia, geologia, geomorfologia, pedologia, hidrologia) e biológicos (vegetação e fauna)”. A autora destaca que as pressões exercidas no meio ambiente podem ser verificadas através da avaliação das atividades humanas, sociais e econômicas, como o uso e ocupação da terra.

O diagnóstico ambiental configura, dessa forma, um importante aspecto na representação da realidade que caracteriza o espaço estudado, levando à um planejamento mais integro e homogêneo, considerando todos os componentes (naturais ou antrópicos) presentes no meio ambiente.

Assim como demonstra a figura 5, o diagnóstico está relacionado a três fases que compreendem desde a obtenção dos dados e a posterior geração de informação.

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Figura 5: Representação do tratamento metodológico comumente adotado no diagnóstico ambiental

Fonte: Santos (2004, p. 72).

A análise integrada dos dados proporciona o melhor processamento de informações e, consequentemente, na melhor compreensão do meio através da descrição de temas simples e agrupados.

No propósito de ordenamento territorial são considerados temas que auxiliem na compreensão do modo como o ser humano impacta o meio ambiente, buscando melhor adequar seus usos frente às imposições legais e novos padrões de ocupação mais arranjados ao ambiente. Nesse sentido, é apresentado no quadro 1 alguns temas e os dados relacionados que são utilizados no processo de avaliação de um território com o propósito de melhor ordená-lo.

Quadro 1: Temas relacionados ao processo de avaliação no ordenamento territorial

Tema Dados ou subtemas

Clima Precipitação Temperatura Geomorfologia Altitude Declividade Padrões de drenagem

Pedologia Classes de solos

Vegetação Tipos de vegetação

Uso e ocupação do solo Histórico e uso atual

Fonte: Adaptado de Santos (2004).

Em larga escala temporal, os dados coletados sobre o clima permitem reconhecer a sua influência sobre o solo, a fauna e a flora, o que, por sua vez, auxilia na compreensão do cenário atual de um território. Fatores climáticos estão relacionados com barreiras naturais que podem mudar ou gerar fenômenos, como a variação topográfica do relevo em encostas e vertentes que alteram a umidade e a temperatura (SANTOS, 2004).

A geomorfologia é um conhecimento especifico, sistematizado, que tem por objetivo analisar as formas do relevo, buscando compreender os processos decorrentes de variações ao longo do tempo (CASSETI, 2005). Para estudos integrados da paisagem, os dados de geomorfologia como a declividade, o padrão de drenagem (hidrografia) e a altimetria são considerados imprescindíveis. Dessa forma, a análise do terreno permite sintetizar a relação entre as dinâmicas geomorfológicas e as variações climáticas. Os dados

Obtenção de

dados de

entrada

Análise

integrada

Elaboração de

informações e

indicadores

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geomorfológicos permitem interpretar a relação entre as configurações superficiais do terreno, a ocupação humana e o uso do solo em função das limitações impostas pelo relevo (SANTOS, 2004). Ainda segundo Santos (2004), a vegetação possui um potencial como indicador das condições e tendências da paisagem. As mudanças ocorridas abruptamente, em curtos períodos de tempo e em pequenas distâncias permitem uma avaliação mais precisa das influências antrópicas recebidas no ambiente.

O uso e ocupação do solo é um tema básico para o planejamento ambiental, pois retrata as atividades humanas que podem significar pressão e impacto sobre os elementos naturais. No geral as formas de uso e ocupação são “identificadas, espacializadas, caracterizadas e quantificadas, sendo que as informações sobre esse tema devem descrever não somente a situação atual, mas também as mudanças recentes e o histórico de ocupação da área de estudo” (SANTOS, 2004, p. 97).

2.4 LEGISLAÇÕES APLICADAS

Informações divulgadas por órgãos oficiais do governo brasileiro como o Portal Brasil dão conta que as leis que tratam do meio ambiente no país estão entre as mais completas e avançadas do mundo.

Pereira e Bittencourt (2013) destacam que a Constituição Federal prevê que o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser defendido e protegido através da união de esforços entre a sociedade e o Estado, cabendo a este o papel de promover a participação popular com o objetivo de preservar os recursos ambientais disponíveis

Preconizar a legislação como instrumento de gestão ambiental vai além do regimento íntegro e irrefutável da lei, sendo necessário também um olhar crítico sobre a atuação desta como agente de desenvolvimento de um território. “[...] O fato de a gestão ambiental estar baseada essencialmente nos mecanismos fiscalizatórios e coibitivos, paradoxalmente, tem reflexos danosos para o desenvolvimento global da sociedade, em particular no meio rural (NEUMANN e LOCH, 2002, p. 04)”.

Nesse sentido, torna-se fundamental o conhecimento e análise das diversas legislações que tenham como objeto de proteção legal o meio ambiente e seu múltiplo uso por parte do ser humano. Entre elas destacam-se a Lei da Mata Atlântica e o Código Florestal brasileiro referenciados a seguir.

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2.4.1 Bioma mata atlântica

Estudos recentes do Ministério do Meio Ambiente apontam a existência de apenas 26,97% de áreas remanescentes com cobertura vegetal nativa no bioma Mata Atlântica em relação a sua área original, incluindo todos os estágios sucessionais de regeneração da vegetação e seus ecossistemas associados. Dados da fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que apenas 7% do que resta da Mata Atlântica são florestas primarias ou em estágio avançado de regeneração bem conservadas e com áreas acima de 100 hectares.

O Estado de Santa Catarina está totalmente inserido no bioma Mata Atlântica, sendo atualmente o terceiro com maior número de hectares de mata atlântica no país. No entanto, o equivalente a 1.662.000 hectares de mata atlântica presentes no território catarinense correspondem a apenas 17,46% da área original coberta por vegetação nativa, sendo que somente 280.000 hectares podem ser considerados florestas primárias (APREVI, 2014). São listadas no quadro 2, de acordo com seu aspecto de relevância e hierarquia, algumas leis e resoluções nacionais que tenham impacto direto no estado catarinense.

Quadro 2: Legislação nacional referente ao bioma Mata Atlântica aplicáveis no Estado de Santa Catarina Leis e resoluções nacionais aplicados no território catarinense Descrição Lei nº 11.428, de 22 de

dezembro de 2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. Decreto nº 6.660, de 21

de novembro de 2008. Regulamenta dispositivos da Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica.

RESOLUÇÃO CONAMA nº 388, de 23 de fevereiro de 2007.

Dispõe sobre a convalidação das resoluções que definem a vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da Mata Atlântica para fins do disposto no art. 4º § 1º da Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006. RESOLUÇÃO

CONAMA nº 4, de 4 de maio de 1994.

Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de licenciamento de atividades florestais no estado de Santa Catarina.

RESOLUÇÃO

CONAMA nº 10, de 1 de outubro de 1993.

Estabelece os parâmetros básicos para análise dos estágios de sucessão de Mata Atlântica.

RESOLUÇÃO CONAMA nº 261, de 30 de junho de 1999.

Aprova parâmetro básico para análise dos estágios sucessivos de vegetação de restinga para o Estado de Santa Catarina.

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A lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, mais conhecida como lei da Mata Atlântica, teve como propósito conciliar o desenvolvimento à proteção ambiental. Dessa forma, os objetivos e os princípios elencados pela lei visam o desenvolvimento sustentável através da proteção e utilização do bioma Mata Atlântica.

Varjabedian (2010, p. 3) destaca que 70% da população brasileira vive no domínio do bioma, sendo este fundamental na regulação dos mananciais hídricos, fertilidade do solo, controlador do clima e protetor de encostas e escarpas. Entretanto, o mesmo autor destaca ser um retrocesso da legislação brasileira o advento de tal lei – principalmente se comparada com o decreto federal nº 750/1993 – “[...] revelando graves vícios de ordem técnica e legal, bem como permissividades e flexibilizações incompatíveis com o atual nível de ameaça que paira sobre o equilíbrio ecológico”.

Consideração à parte cabe destacar que as exigências impostas pela lei nº 11.428/2006 e o decreto nº 6.660/2008 que a regulamenta são aplicáveis em todo o território de abrangência do bioma Mata Atlântica. Sendo assim, o corte, supressão e a exploração da vegetação presente no bioma são condicionados pelo art. 8º da referida lei, em que o manejo do bioma Mata Atlântica se dará de forma diferenciada, conforme se tratar de vegetação primária e secundária, nesta última levando em consideração os estágios de regeneração, sendo autorizada a supressão em caso de utilidade pública e/ou de interesse social (BRASIL, 2006).

Ferraz (2010) afirma que a legislação definiu as prescrições sobre a supressão da vegetação não apenas em função do estágio sucessional da mata, mas também em relação à localização urbana ou rural do empreendimento ou propriedade. A descrição anteriormente citada reflete as exigências legais quanto à supressão da vegetação em áreas rurais. Tratando-se de áreas urbanas, a competência para supressão da vegetação é do ente estadual do meio ambiente, que pode necessitar da autorização do órgão federal ou municipal detalhados no decreto nº 6.660/2008, segundo o mesmo autor.

Sendo assim, considerar a integralidade do bioma Mata Atlântica com legislações que regem seu uso sustentável configura um potencial de desenvolvimento socioeconômico e ambiental de territórios que dependem essencialmente do grau de preservação a que se encontra o bioma. Embora seja o bioma Mata Atlântica o único com legislação específica no país, há que considerar outras normas e leis relacionadas ao meio ambiente aplicáveis em qualquer território, assim como legislações que enquadrem tanto o Estado quanto o município de Angelina.

(35)



2.4.2 Código Florestal Brasileiro

O novo código florestal brasileiro, instituído pela lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012 estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal, além de estabelecer restrições quanto à exploração e controle de matéria-prima florestal, prevendo instrumentos econômicos e financeiros no alcance do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012).

Vale observar que o primeiro código florestal do país foi instituído pelo decreto 23.793, de 23 de janeiro de 1934, sendo substituído pela lei 4.771, de 15 de setembro de 1965 que vigorou até a aprovação no congresso federal e sanção presidencial do novo código florestal brasileiro em 2012.

Um dos pontos considerados como retrocesso por especialistas nessa última versão é a introdução do conceito de área rural consolidada como instrumento de legalização das áreas que já foram descaracterizadas, de forma ilegal, até 22 de Julho de 2008 (art. 61-A). Considerando essas áreas, a nova legislação prevê uma redução dos limites mínimos estabelecidos nas Áreas de Preservação Permanentes (APPs) a partir da calha regular do rio, o que configura uma “anistia” aos produtores rurais frente ao uso e ocupação do solo sendo permitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou turismo rural. Isso significa que em mais de 90% dos imóveis rurais, que ocupam 24% da área do país, não necessitam recompor a vegetação nativa (ANTUNES, 2014).

A definição das faixas de APP, bem como os requisitos mínimos para enquadramento em áreas não consolidadas é apresentada de forma resumida no quadro 3. Quadro 3: Faixa de APP em áreas não consolidadas (rurais ou urbanos)

APP Condicionantes Faixa de APP

Curso d’água perene (em relação à largura da calha do

rio) <10 metros 30 metros 10 – 50 metros 50 metros 50 – 200 metros 100 metros 200 – 600 metros 200 metros >600 metros 500 metros Lagos e lagoas

Corpo d’água até 20 ha 50 metros Corpo d’água >20 ha 100 metros

Em zonas urbanas 30 metros Nascentes Em qualquer situação Raio de 50 metros

Encostas Em qualquer situação Declividade >45° Topo de morro Altura mínima de 100 metros

e Inclinação média >25°

A partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação

em relação à base.

(36)



Já em áreas rurais consideradas consolidadas pelo novo código florestal brasileiro a definição das faixas de APP segue o descrito no quadro 4, considerando o módulo fiscal do imóvel rural, que no caso do município de Angelina, 1 modulo fiscal equivale à 18 hectares. Quadro 4: Faixa de APP em áreas rurais consolidadas

APP Condicionantes Faixa de APP

Curso d’água perene (em relação ao módulo fiscal do

imóvel rural)

Imóveis rurais com até 1

módulo fiscal 5 metros

Imóveis rurais de 1 a 2

módulos fiscais 8 metros

Imóveis rurais de 2 a 4

módulos fiscais 15 metros

Imóveis rurais de 4 a 10

módulos fiscais 20 metros

Lagos e lagoas

Imóveis rurais com área de

até 1 modulo fiscal 5 metros

Imóveis rurais com área entre

1 e 2 módulos fiscal 8 metros Imóveis rurais com área entre

2 e 4 módulos fiscal 15 metros Imóveis rurais com área

superior a 4 módulos fiscal 30 metros Nascentes No entorno de nascentes e

olhos d’água perenes 15 metros

Fonte: Adaptado de BRASIL (2012).

Percebe-se, portanto, uma grande diferença na definição das faixas de APP entre áreas consolidadas e não consolidadas. Essa definição ainda encontra resistência por parte dos legisladores e proprietários rurais, onde cada qual defende seu posicionamento, sendo a definição de áreas consolidadas um ponto de discussão.

No que se refere ao Código Estadual de Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina, instituído pela lei nº 14.675/2009, sendo alterado pela lei nº 16.342 de 21 de Janeiro de 2014, observa-se exatas condicionantes também impostas pelo Código Florestal Brasileiro. Uma das poucas novidades encontradas no código florestal catarinense é evidenciado no capitulo V-A, subseção IV, arts. 122A-122B, em que a determinação dos parâmetros e metragens de APPs em áreas urbanas consolidadas é disciplinada pelo município através do Plano Diretor e legislações especificas. Na ausência de legislações municipais as formas de ocupação do solo poderão ser regularizadas através de regularização fundiária, aprovado pelo conselho de meio ambiente municipal ou órgão ambiental capacitado (SANTA CATARINA, 2014).

As restrições quanto ao grau de inclinação do terreno, evidenciadas pelas duas legislações, citam que entre 25º e 45º de inclinação, é permitido o manejo florestal

(37)



sustentável, atividades agrossilvipastoris e atividades de ecoturismo ou turismo rural, ficando permissíveis atividades em áreas com inclinação inferior à 25º.

2.4.3 Legislações locais

As legislações locais conferem a um município as especificidades necessárias em aferir normas e regulamentações dispostas a melhorar as condições ambientais, do ser humano e de seu espaço habitado. A lei complementar nº 1.076 de 2008 dispõe sobre o Plano Diretor Participativo do município de Angelina, identificando no artigo 72, inciso I, sobre os instrumentos de indução do desenvolvimento urbano, o zoneamento como uma das formas de se alcançar o desenvolvimento do município, sendo que o desenvolvimento sustentável está elencado como um dos princípios gerais da politica de desenvolvimento municipal.

Para tal, o Plano Diretor Municipal identifica, dentre outras estratégias, a qualificação e preservação do meio ambiente como forma de desenvolvimento e qualificação territorial e urbanístico do município. Os objetivos específicos a serem alcançados e firmados no art. 30 da lei visam à promoção da qualificação e preservação do meio ambiente em:

I - desenvolver o sistema de informações municipais ambientais para melhorar o acesso à informação e fortalecimento da gestão territorial;

II - incentivar a recuperação de área degradada para a comercialização de crédito de carbono;

III - promover ações e implantar as medidas de redução de desmatamento das vegetações nativas, dando atenção especial ao agricultor, na elaboração de planos de manejo florestal e de corte licenciado;

IV - promover as ações de preservação de recursos hídricos;

V - garantir a proteção e recuperação das áreas de preservação permanente definidas no Mapa de Macrozoneamento constante do Anexo 04;

VI - qualificar o meio ambiente urbano através da preservação das matas ciliares e das vegetações secundárias, formando um sistema de áreas verdes urbanas;

VII - promover as ações de conscientização e educação ambiental (ANGELINA, 2008, p. 6).

Percebe-se que os objetivos ao qual o Plano Diretor propõe em fomentar o desenvolvimento sustentável estão de acordo com o propósito de assegurar a melhoria da qualidade ambiental através de ações que minimizem ou atenuem os impactos já recorrentes e futuros causados pelo mau uso e ocupação do território.

Sendo assim, o zoneamento consiste, segundo art. 76, no procedimento de divisão do território em Macrozonas, Zonas e Áreas Especiais de Interesse, criando condições para pôr em prática os objetivos e estratégias do desenvolvimento urbano, sendo que as regras de uso e ocupação do solo são definidas da menor para a maior unidade espacial, ou seja, partindo-se de Áreas Especiais de Interesse, passando pela definição de Zonas e, finalmente, chegando ao Macrozoneamento.

Referências

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