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Em um planejamento ambiental, definir zonas ou territórios para o manejo e proteção de valores naturais e/ou antrópicos torna-se uma forma de garantir a integração de aspectos relacionados à preservação do meio ambiente e aos usos humanos, uma vez que as intervenções humanas causam impactos ao meio ambiente, muitas vezes danosos e irreversíveis.

Silva e Santos (2011) definem que, de modo geral, a tomada de decisão sobre os melhores caminhos a serem seguidos no ordenamento territorial é antecedida pela etapa de zoneamento. Ainda segundo os autores, elaborar um zoneamento significa dividir uma área em zonas especificas através da interpretação das características estruturais e funcionais do meio, onde a partir da tomada de decisão podem-se destinar tais zonas a determinadas atividades, quer seja para uso humano ou na preservação e conservação de elementos naturais que compõem a paisagem do território.

Para isso, segundo Thomas (2012), no zoneamento deve-se considerar a importância ecológica, as potencialidades, limitações e fragilidades do espaço geográfico estudado na busca por uma “melhoria e recuperação da qualidade ambiental e, consequentemente, da qualidade de vida populacional”.

Santos (2004, p.132) define o zoneamento como

a compartimentação de uma região em porções territoriais, obtida pela avaliação dos atributos mais relevantes e de suas dinâmicas. Cada compartimento é apresentado



como uma “área homogênea”, ou seja, uma zona (ou uma unidade de zoneamento) delimitada no espaço, com estrutura e funcionamento uniforme.

Para a autora, cada unidade de zoneamento possui um alto grau de associação dentro de si, sendo que as variáveis que a compõem são solidamente ligadas, porém com significativa diferença. Desse modo, no processo de realização de um zoneamento tem-se o reconhecimento da organização do espaço em sua totalidade e suas similaridades, observando claras distinções entre grupos vizinhos, onde a integração das informações e o diagnóstico da região planejada se obtêm através do agrupamento e divisão dos elementos que compõem a paisagem, sendo então considerado um fenômeno interdisciplinar.

Em virtude de o zoneamento compor um trabalho interdisciplinar, Silva e Santos (2004) afirmam ser necessário um enfoque analítico e sistêmico para orientar a revisão e/ou formulação de políticas de pesquisa, conservação e manejo integrado de recursos naturais.

2.5.1 Tipos de zoneamento e distinções metodológicas

O art. 9º, inc. II da lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), define como um dos seus instrumentos o zoneamento ambiental. Os critérios mínimos que regulamentam o zoneamento são estabelecidos pelo decreto nº 4.297/2002, que define o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil (ZEE) como instrumento da PNMA. O art. 2º do referido decreto define o ZEE,

como instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelecendo medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população (BRASIL, 2002).

Observou-se, dessa forma, um crescente incentivo na elaboração do ZEE que inicialmente fora planejado para a Amazônia Legal frente à visibilidade da floresta nos organismos internacionais e à pressão de entidades ligadas ao meio ambiente em readequar as formas inadequadas de uso dos recursos naturais. Posteriormente o ZEE tornou-se um Programa de Plano Plurianual (PPA) de âmbito nacional (BRASIL, 2001). O art. 6º do decreto nº 4.297/2002 define a competência do Poder Público Federal na elaboração e execução do ZEE em âmbito nacional e/ou regional quando tiver por objeto biomas brasileiros ou quando de territórios abrangidos por planos e projetos prioritários estabelecidos pelo Governo Federal.

Campanharo, Hollanda e Cecílio (2012, p.70) citando Fritzons e Côrrea (2009) evidenciam que o Zoneamento Ecológico-Econômico tem como objetivo “diagnosticar



vulnerabilidades e potencialidades naturais e socioeconômicas, bem como fazer o arranjo jurídico institucional, prognosticar uso do território e tendências futuras e propor diretrizes de proteção, recuperação e de desenvolvimento com conservação”. Os mesmos autores citam que o zoneamento ambiental evolui para zoneamento ecológico-econômico com a prerrogativa de englobar as questões social e econômica à ambiental.

Diversos autores distinguem os Zoneamentos Ambiental e Ecológico-Econômico deixando clara a distinção existente entre algumas vertentes do zoneamento (MONTAÑO, 2002). Santos (2004) ao tratar do Zoneamento Ecológico-Econômico evidencia que este subsidia a formulação de políticas territoriais em todo o País voltadas para a proteção ambiental, na melhoria das condições de vida populacional e na redução do risco de perda de capital natural, tendo como um resultado esperado a “elaboração de normas de uso e ocupação da terra e de manejo dos recursos naturais sob uma perspectiva conservacionista e de desenvolvimento econômico e social” (SANTOS, 2004, p.135).

Já o zoneamento ambiental, segundo a autora, prevê a preservação, reabilitação e recuperação da qualidade ambiental, tendo como meta o desenvolvimento socioeconômico, condicionando, em longo prazo, a manutenção dos recursos naturais e melhoria da qualidade de vida do ser humano.

Montaño et al. (2007) destacando o zoneamento ambiental como instrumento estratégico de planejamento, o qualifica pela viabilização de inserção da variável ambiental em diferentes momentos no processo de tomada de decisão, partindo da formulação de estratégias de desenvolvimento setoriais até a decisão sobre a ocupação de uma determinada área para a implantação de uma atividade específica.

Santos e Ranieri (2013) discutem o contexto e aplicação do zoneamento ambiental destacando ser inquestionável o seu entendimento como instrumento de ordenamento territorial em que pesem as diferentes visões a respeito do seu papel como multi-instrumento de análise.

Santos e Ranieri (2013) fazem em seu estudo sobre os critérios de análise do Zoneamento Ambiental como instrumento de planejamento e ordenamento territorial uma avaliação de casos de zoneamentos aplicados no Estado de São Paulo. Os resultados obtidos, segundo as considerações dos autores, evidenciaram que nem todos os zoneamentos considerados na pesquisa tiveram seus objetivos específicos alcançados. Porém serviram de base à tomada de decisão em campos e planejamentos não previstos como o Plano Diretor, licenciamento ambiental, avaliação de impactos ambientais e criação de espaços territoriais especialmente protegidos. Sendo assim, os objetivos de preservar, melhorar e recuperar a



qualidade ambiental proposto pela PNMA torna-se um meio de atuação de métodos de zoneamento, especialmente o Zoneamento Ambiental.

Silva e Santos (2004) citam outros tipos de zoneamentos que são previstos ou não na legislação brasileira, visualizadas no quadro 5, embora legislações estaduais considerem em seus planos de ações zoneamentos mais específicos às realidades locais, como o zoneamento agrícola, por exemplo.

Quadro 5: Exemplos de tipos de zoneamentos previstos ou não na legislação brasileira

Previstos na legislação brasileira Não previstos na legislação brasileira

Urbano Geoambiental

Industrial Ecológico

Ruído Agrícola

Estatuto da terra Agropedoclimático

Agroecológico Climático

Unidades de Conservação (UC) Edafoclimático por cultura agrícola Uso e atividades (Gerco) Locação de empreendimentos

Fonte: Adaptado de Silva e Santos (2004).

Sob o ponto de vista metodológico, pode-se generalizar que o zoneamento geoambiental é baseado na teoria de sistema, definido como a setorização do espaço geográfico, de acordo com as suas potencialidades, restrições e problemas (SILVA, 2003). O zoneamento ecológico é desenvolvido a partir do conceito de unidades homogêneas da paisagem; o zoneamento agrícola define as zonas a partir da determinação das limitações das culturas, exigências bioclimáticas e riscos na perda de produção agrícola; o zoneamento agropedoclimático trabalha sobre a abordagem integrada entre as variáveis climáticas, pedológicas e de manutenção da biodiversidade; o zoneamento agroecológico trabalha na aptidão agrícola e limitações ambientais tanto no meio rural quanto florestal. O zoneamento destinado à localização de empreendimentos define zonas de acordo com a viabilidade técnica, econômica e ambiental de obras civis. O zoneamento urbano e industrial define suas zonas em função da potencialidade ou fragilidade do meio para suportar usos e tipos específicos de atividades ou empreendimentos. A proposta metodológica para Unidades de Conservação, criada pela lei 9982/2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), define as unidades ambientais basicamente em função dos atributos físicos e da biodiversidade, sempre com vistas à preservação ou conservação ambiental.

No entanto, independente da sua adjetivação, o zoneamento define as zonas homogêneas dentro de uma determinada região, segundo critérios de agrupamentos pré- estabelecidos, cujos resultados podem ser apresentados na forma de mapas temáticos, matrizes ou índices técnicos (SILVA, 2003, p.20).



O zoneamento ambiental, adotado neste estudo, é uma metodologia de trabalho baseada na compreensão das características e da dinâmica do ambiente natural, sendo este o objeto de estudo, e do meio socioeconômico (SILVA, 2003). Dessa forma, ao distribuir espacialmente as potencialidades, limitações e fragilidades dos ecossistemas, o zoneamento ambiental pode estabelecer restrições e alternativas de exploração do território com vistas ao desenvolvimento social e econômico aliado à preservação do meio ambiente.

2.5.2 Zonas especiais de interesse ambiental

Também denominadas de Zonas de Especial Interesse Ambiental (ZEIA’s), configuram áreas específicas dentro do território destinado a preservar, conservar e proteger aspectos fundamentais relacionados ao meio ambiente, aliado ao uso sustentável de tais aspectos por parte do ser humano. Ao lado de interesses como o social, institucional, histórico e cultural, a delimitação de áreas de interesse ambiental está, quase sempre, presente na redação de Planos Diretores Municipais, como forma de definir zonas com características que exigem um tratamento especial.

Esta definição de zonas especiais está, na maioria das vezes, ligada a aspectos inerentes aos usos e costumes do ser humano, onde se vê a necessidade de valorização de ambientes naturais ou antrópicos. No caso do interesse ambiental, a definição de zonas está intimamente ligada à manutenção de áreas ainda não antropizadas, ou seja, áreas muito declivosas, florestas primárias existentes e remanescentes pouco alterados, por exemplo.

Nesse sentido, tem-se a falta de estudos mais eficazes e específicos no âmbito de definir Zonas Especiais de Interesse Ambiental nos municípios, sendo esse um dos propósitos do Plano Diretor, que avalie o território em termos ambientais com vistas ao desenvolvimento sustentável e, por consequência, a melhoria da qualidade ambiental.

Na pesquisa por temas que explorem a temática do interesse ambiental no ordenamento territorial encontraram-se poucos trabalhos desenvolvidos, destacando-se Sobreira (1995 e 2000) com um estudo geoambiental aplicado à regiões portuguesas e à área urbana do município de Mariana/MG, respectivamente, onde tem-se a descrição de uma base metodológica para a definição de Zonas Especiais de Interesse Ambiental que utilizam informações ambientais contidas em mapas de uso de solo, de bacias hidrográficas, geomorfológico e de cobertura vegetal (SOUZA, 2004).

Posteriormente, estudos derivados desta metodologia foram desenvolvidos por Souza (2004) e Thomas (2012), ambas definindo as Zonas Especiais de Interesse Ambiental



como uma proposta de zoneamento ambiental aplicado aos municípios de Mariana/MG e Arroio do Meio/RS, respectivamente.

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