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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA. Terceira Câmara Cível

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA Terceira Câmara Cível

Processo: AGRAVO DE INSTRUMENTO n. 8027971-42.2019.8.05.0000

Órgão Julgador: Terceira Câmara Cível

AGRAVANTE: SVEA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA

Advogado(s): LEANDRO HENRIQUE MOSELLO LIMA, MARCELO SENA SANTOS AGRAVADO: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA e outros

Advogado(s): EMENTA 

Agravo de Instrumento. Ação Civil Pública. Decisão agravada que, por entender presentes os requisitos previstos no art. 300 e seguintes do novo CPC, deferiu o pedido de antecipação da tutela, determinando à agravante que suspendesse imediatamente a obra por ela realizada – Beach Bar – na praia do Resende no Município de Itacaré, bem como a interdição do estabelecimento, caso a obra já estivesse concluída. Efeito suspensivo indeferido. Agravo Interno interposto contra o indeferimento do efeito suspensivo julgado prejudicado, em razão do julgamento deste recurso.     Nos termos do art. 300 do CPC, "a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo". Na hipótese, afiguram-se presentes a probabilidade parcial do direito material invocado pelo agravante (fumus boni iuris) e o risco ao resultado útil do processo (periculum in mora). Por se tratar de ação civil pública com vistas a impedir possível dano ambiental, "[...] há que se privilegiar a cautela e, portanto, a preservação do provável bem ambiental, à luz dos princípios da prevenção e da precaução, a fim de evitar a consolidação da ocupação e dano irreversível a patrimônio da coletividade” (REsp 1237893/SP). Assim, com base nos princípios da precaução e da prevenção, devem ser adotadas medidas preventivas sempre que existirem motivos razoáveis de preocupação com a manutenção do ecossistema equilibrado, ensejando, pois, a paralisação imediata de qualquer atividade econômica tendente a degradar o meio ambiente sadio. O Plano Diretor de Itacaré estabeleceu, como zona de Proteção Visual, a Praia de Resende, proibindo a construção

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de edificações, exceto mirantes, quiosques, trilhas e vias de acesso local, sem pavimentação e integrados à paisagem. Localizada na Praia de Resende, a construção do estabelecimento da agravante não se enquadra, à primeira vista, como quiosque, o que violaria o aludido Plano Diretor. Além disso, a Lei Municipal 272/2015, que instituiu a Política Ambiental Integrada do Município de Itacaré, previu, em seu art. 30, a necessidade de exigência de estudo prévio de impacto ambiental e o relatório respectivo para os empreendimentos que, efetiva ou potencialmente, cause, significativo impacto ambiental, independentemente do porte, na fase de licença prévia, a que se dará publicidade, garantida a realização de audiência pública, tantas quantas forem necessárias, a expensas do empreendedor”. Ainda que o Município de Itacaré tenha autorizado a obra sem a realização de Estudos de Impacto Ambiental e Visual, tais procedimentos são exigências legais para construção na Praia de Resende, por se tratar de Zona de Proteção Visual em Área de Proteção Ambiental, o que não foi realizado na espécie. Logo, a continuação das obras pode gerar evidente risco de dano ambiental, o que se busca justamente evitar. A aplicação do princípio da precaução, na hipótese, mostra-se mais adequado, evitando assim a ocorrência do dano. Portanto, restam presentes elementos suficientes a autorizar a medida antecipatória, visando cessar a possível prática de atos prejudiciais à flora e fauna enquanto se apura a legitimidade e legalidade da obra realizada pelo agravante. Decisão agravada mantida. Agravo de Instrumento não provido. ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 8027971-42.2019.8.05.0000, em que figuram como agravante SVEA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA, e agravado, MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA. 

ACORDAM os Desembargadores integrantes da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia em julgar prejudicado o Agravo Interno n.º 8027971-42.2019.8.05.0000.1.Ag e em negar provimento ao presente Agravo de Instrumento, e assim o fazem pelos motivos a seguir expostos:  

PODER JUDICIÁRIO

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TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

DECISÃO PROCLAMADA

Não provido. Unânime. Realizou sustentação oral Dr. Leandro Henrique, Dr. Vicente Cerqueira e Dr. Achiles Siquara

Salvador, 5 de Agosto de 2020.

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA Terceira Câmara Cível

Processo: AGRAVO DE INSTRUMENTO n. 8027971-42.2019.8.05.0000

Órgão Julgador: Terceira Câmara Cível

AGRAVANTE: SVEA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA

Advogado(s): LEANDRO HENRIQUE MOSELLO LIMA, MARCELO SENA SANTOS AGRAVADO: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA e outros

Advogado(s): RELATÓRIO

O presente recurso de Agravo de Instrumento, com pedido de concessão de efeito suspensivo, foi interposto pela SVEA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA contra decisão do MM. Juiz de Direito da Vara dos Feitos Relativos às Relações de Consumo, Cível e Comercial da Comarca de Itacaré que, nos autos da Ação Civil Pública n.º 8001058-69.2019.8.05.0114, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, ora agravado, assim dispôs: “Ante o exposto, com fulcro no art. 300 do Código de Processo Civil, CONCEDO A MEDIDA LIMINAR, determinando: a) a SUSPENSÃO imediata da obra denominada "Beach Bar", na praia do Resende, neste município, sob pena de multa no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais), por dia de descumprimento; b) a INTERDIÇÃO do referido estabelecimento, se estiver concluída a construção, lacrando-se o local, o que deve ser certificado pelo oficial de justiça.” Em suas razões recursais, afirmou que “A obra denominada “Beach Bar” trata-se de um autêntico quiosque de praia, com área total de 152m² (cento e cinquenta e dois metros quadrados), construído com materiais (madeira) que o integram de forma incontroversa e harmonicamente à paisagem, utilizando madeira, inclusive em sua cobertura”.

Salientou que a área, onde está sendo construído o empreendimento, é considerada antropizada e que não há qualquer supressão de vegetação.

Asseverou que a construção será munida de tratamento de esgotamento sanitário e que possui conceito aberto, sem muros.

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Explicou que “buscou, previamente, todos os atos autorizativos pertinentes à construção da obra em referência, passando em seu processo de alvará de construção pela governança de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, obtendo o ato administrativo autorizativo para a construção – alvará” e que, “na manifestação da municipalidade, ainda no âmbito do Inquérito Civil – IDEA nº 371.9.191826/2019, através do Ofício nº 021/2019 – id. 41822899 – a municipalidade atesta de forma detalhada a regularidade ambiental do empreendimento, não se limitando, mas, sobretudo, em relação aos fundamentos que consolidam a causa de pedir desta lide: (i) ocupação da Zona de Proteção Visual – ZPV; e (ii) suposta exigibilidade de EIA/RIMA com audiência pública prévios, em ambos, sem prejuízo de tantos outros, terminou por reconhecer a regularidade integral do empreendimento”. 

Aduziu que “é incontroverso que a obra é absolutamente regular frente à Administração Pública, sendo albergada a SVEA pela manta objetiva da presunção de legitimidade do ato administrativo”.

Argumentou que a construção em questão se caracteriza como quiosque e está dentro dos parâmetros fixados no art. 61, VI da Lei Municipal 271/2014, ressaltando que tal entendimento se insere no âmbito do poder discricionário da Administração Pública, motivada tecnicamente por profissional habilitado na área.

Asseverou que “a construção não se caracteriza como provida de impacto visual. Não apenas por sua arquitetura, materiais e integração à paisagem, mas por expressa definição legal constante do Art. 80 do próprio Plano Diretor de Itacaré” e que, “na Seção que trata do Estudo Impacto Visual, no próprio Plano Diretor de Itacaré, no artigo específico que dispõe sobre o Estudo de Impacto Visual – EIVI, fica claro que a obra em referência não é considerada como “geradora de impacto visual”.

Alegou que o “estudo tem cabimento e exigibilidade para empreendimentos e atividades de porte relevante e alto potencial poluidor, o que em nada corresponde à construção em questão, como bem se colhe das imagens acima colacionadas e o porte de apenas 152m² (cento e cinquenta e dois metros quadrados)”  e que o “órgão ambiental competente” promoveu a análise do projeto da obra, inclusive requerendo a apresentação de projeto de esgotamento sanitário e avaliando o padrão arquitetônico, taxa de ocupação, se haveria supressão de vegetação (e não houve, nem haverá) e todos os feitos pertinentes, adimplindo assim à íntegra do exercício de sua competência, como se extrai da manifestação promovida pela municipalidade nos autos do Inquérito Civil - IDEA nº 371.9.191826/2019, através do Ofício nº 021/2019 – id. 41822899”..

Ressaltou que “se mostra de forma robusta e tranquila que a alegada exigibilidade de EIA/RIMA é imprópria e dissonante do quanto disposto na legislação de regência, cabendo um último destaque neste ponto, quanto ao fato de que até mesmo o item 6 do Anexo II3 citado no caput do Art. 61 do Plano Diretor de Itacaré não se refere ao EIA/RIMA para tão somente a estudos de impacto ambiental e visual, o que fora igualmente demonstrado descabimento acima” e que “a determinação do referido item 6 do Anexo II foi regularmente cumprida, tendo sido promovida a íntegra das análises ambientais pertinentes pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.”   

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Sustentou, assim, que presentes estão os pressupostos necessários para concessão do efeito suspensivo pretendido.

Por tais razões, requereu, inicialmente, a concessão de efeito suspensivo “com fito de sustar a obrigatoriedade de cumprimento da liminar, concedida pelo Juízo de piso, até o julgamento final deste Agravo de Instrumento”.

Ao final, pleiteou o provimento deste Agravo de Instrumento “para reformar integralmente a decisão de piso, revogando a antecipação da tutela recursal concedida”.

Juntou os documentos indispensáveis à composição do instrumento.

O pedido de concessão de efeito suspensivo foi indeferido, conforme Id 5799765.

Irresignada, a agravante interpôs o Agravo Interno n.º

8027971-42.2019.8.05.0000.1.Ag.

O agravado apresentou contrarrazões, refutando as alegações do agravante e pugnando pela manutenção integral da decisão agravada.

Encaminhado os autos à Procuradoria de Justiça, esta se manifestou pelo não provimento do recurso.

O agravante se manifestou sobre o Parecer da Procuradoria de Justiça, conforme Id 6893366.

Desta feita, com fulcro no art. 931 do CPC/2015, restituo os autos, com o presente relatório, à Secretaria para inclusão em pauta de julgamento do presente Agravo de Instrumento em conjunto com o Agravo Interno nº 8027971-42.2019.8.05.0000.1.Ag, oportunidade na qual será facultada às partes a sustentação oral, na forma prevista no art. 937, do CPC.

Salvador, 01 de junho de 2020.  

DES. JOSÉ CÍCERO LANDIN NETO RELATOR

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA Terceira Câmara Cível

Processo: AGRAVO DE INSTRUMENTO n. 8027971-42.2019.8.05.0000

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AGRAVANTE: SVEA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA

Advogado(s): LEANDRO HENRIQUE MOSELLO LIMA, MARCELO SENA SANTOS AGRAVADO: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA e outros

Advogado(s): VOTO

Inicialmente, consigna-se que prejudicado fica o Agravo Interno n.º 8027971-42.2019.8.05.0000.1.Ag com o julgamento do mérito deste Agravo de Instrumento.

Do exame dos autos, verifica-se que cinge a controvérsia à análise da decisão que deferiu o pedido de tutela antecipada, determinando à agravante que suspendesse imediatamente a obra por ela realizada – Beach Bar – na praia do Resende no Município de Itacaré, bem como a interdição do estabelecimento, caso a obra já estivesse concluída.  

Observa-se, portanto, que o cerne da questão ora em debate consiste em saber se estão presentes os requisitos necessários à concessão da tutela provisória deferida de modo a ensejar a reforma da decisão agravada.   Em relação à tutela provisória de urgência, insta salientar estar ela disciplinada no art. 300 e seguintes do CPC/2015:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.”  

“Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.”  

“Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:

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II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.

Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.”  

Sobre os pressupostos das medidas provisórias de urgência, sejam satisfativas, sejam cautelares, leciona Humberto Theodoro Júnior:  

“As tutelas de urgência - cautelares e satisfativas - fundam-se nos requisitos comuns do fumus boni iuris e do periculum in mora. Não há mais exigências particulares para obtenção da antecipação de efeitos da tutela definitiva (de mérito). Não se faz mais a distinção do pedido cautelar amparado na aparência de bom direito e pedido antecipatório amparado em prova inequívoca. (...)

Os requisitos, portanto, para alcançar-se uma providência de urgência de natureza cautelar ou satisfativa são, basicamente, dois:

(a) Um dano potencial, um risco que corre o processo de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte, em razão do periculum in mora, risco esse que deve ser objetivamente apurável.

(b) A probabilidade do direito substancial invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o fumus boni iuris. (...) (in Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil..., vol. I, 56, ed., rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 609)  

Assim, é admissível a concessão de tutela provisória de urgência diante da presença dos requisitos elencados no art. 300 do CPC, devendo ser deferida a medida quando restar evidenciada a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. E, com base em tal premissa, foi assim deferida a tutela antecipada.

Registre-se que o Direito Ambiental não pode ser visto com o mesmo enfoque das matérias tradicionais do Direito. É ramo importantíssimo para a garantia da qualidade de vida da sociedade, bem como para a proteção das diversas formas de vida, recursos minerais, florestais e hídricos. Os prejuízos são muito mais dramáticos, pois o rejuvenescimento da natureza é lento e, muitas vezes, tardio.

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Nosso ordenamento jurídico consagra o princípio da prevenção, associado, constitucionalmente, aos conceitos fundamentais de equilíbrio ecológico e desenvolvimento sustentável; o primeiro significa a interação do homem com a natureza, sem danificar-lhe os elementos essenciais. O segundo prende-se à preservação dos recursos naturais para as gerações futuras.  

Os riscos por danos ambientais põem em relevo a necessidade de não flexibilizar as exigências de respeito às leis ambientais, em nome de interesses econômicos e/ou financeiros, que, por mais respeitáveis que sejam, não se podem sobrepor ao interesse público.

 

Outrossim, para a concessão de tutela antecipada em matéria ambiental, é dispensável a comprovação efetiva do dano ambiental, bastando haver elementos que revelem a probabilidade de o meio ambiente restar afetado, notadamente em virtude dos princípios da prevenção e da precaução.

 

Na hipótese, a área, onde se está construindo o empreendimento em questão, se insere Zona de Proteção Visual (ZPV), nos termos do art. 61 da  Lei Municipal n. 271/2014:  

 

“Art. 61. Fica aprovado o zoneamento da Sede Municipal, comas seguintes zonas urbanas, representadas na Planta Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo da Sede, do Anexo I e respectivos parâmetros urbanísticos, sem prejuízo dos demais estabelecidos no Quadro Parâmetros Urbanísticos, do Anexo II, desta Lei: (…) VI - Zonas submetidas a regime especifico de proteção ambiental: (...)  c)_ZPV - Zonas de Proteção Visual, compreendendo o morro da Concha, na encosta do Farol, as encostas da Praia do Resende, a encosta entre a Praia da Tiririca e a Praia do Costa, a encosta entre a Praia do Costa e a Praia da Ribeira e as encostas entre a Praia da Ribeira e a Praia do Siríaco, e ainda o Morro ao lado da ladeira do Cemitério, adjacências do Cemitério e a parte da Sede do Centro Cultural Porto de Traz, em que é proibido o parcelamento do solo e construção de quaisquer edificações, admitidos somente equipamentos para apoio à visitação, como mirantes, quiosques e trilhas e vias de acesso de acesso local, sem pavimentação,devidamente integrados à paisagem (...)”

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Outrossim, a Lei Municipal 272/2015, que instituiu a Política Ambiental Integrada do Município de Itacaré, previu, em seu art. 30, a necessidade de exigência de estudo prévio de impacto ambiental e o relatório respectivo para os empreendimentos que, efetiva ou potencialmente, cause, significativo impacto ambiental, independentemente do porte, na fase de licença prévia, a que se dará publicidade, garantida a realização de audiência pública, tantas quantas forem necessárias, a expensas do empreendedor.”

 

Neste sentido, como bem pontuou o magistrado de 1º grau, “a construção do bar/restaurante “Beach Bar” viola o disposto no Plano Diretor, porquanto a estrutura dotada de 152 m², onde serão dispostas mesas e cadeiras para acomodação do público, contando com cozinha e banheiros, não pode ser considerada mero ponto de apoio à visitação.

De mais a mais, ao perlustrar o processo de licenciamento, verifico que não houve prévia realização de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), tampouco o Estudo de Impacto Visual, malferindo, portanto, a legislação municipal vigorante”.  

E, com o mesmo entendimento, manifestou a Procuradoria de Justiça em seu parecer:

“Conforme se depreende do Plano de Manejo extraído do sítio eletrônico do INEMA5, a APA Itacaré-Serra Grande visa “proteger os remanescentes da Mata Atlântica e seus ecossistemas associados, garantindo a manutenção da biodiversidade e potencializando a atividade turística, valorizada ainda pela presença de falésias rochosas e um litoral espontaneamente belo”. Nesse cenário de salvaguarda ambiental é que o legislador municipal, através da Lei nº 271/2014, instituiu o Plano Diretor de Itacaré, atribuindo proteção especial à Praia do Resende:

Art. 61. Fica aprovado o zoneamento da Sede Municipal, com as seguintes zonas urbanas, representadas na Planta Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo da Sede, do Anexo I e respectivos parâmetros urbanísticos, sem prejuízo dos demais estabelecidos no Quadro Parâmetros Urbanísticos, do Anexo II, desta Lei: VI - Zonas submetidas a regime específico de proteção ambiental: c) ZPV - Zonas de Proteção Visual, compreendendo o morro da Concha, na encosta do Farol, as encostas da Praia do Resende, a encosta entre a Praia da Tiririca e a Praia do Costa, a encosta entre a Praia do Costa e a Praia da Ribeira e as encostas entre a Praia da Ribeira e a Praia do Siríaco, e ainda o Morro ao lado da ladeira do Cemitério, adjacências do

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Cemitério e a parte da Sede do Centro Cultural Porto de Traz, em que é proibido o parcelamento do solo e construção de quaisquer edificações, admitidos somente equipamentos para apoio à visitação, como mirantes, quiosques e trilhas e vias de acesso de acesso local, sem pavimentação, devidamente integrados à paisagem;

Nesta linha de intelecção, o Plano Diretor de Itacaré, ao incluir as encostas da praia de Resende dentre as Zonas de Proteção Visual, submetendo-a a regime específico de proteção ambiental, proíbe o parcelamento do solo e a construção de qualquer edificação, excepcionando apenas a existência de equipamentos de apoio à visitação, como mirantes, quiosques, trilhas e vias de acesso local, hipóteses que, neste juízo perfunctório, não guardam semelhança com a hipótese dos autos.

A construção do Beach Bar – frise-se empreendimento com fins lucrativos –, vai de encontro ao interesse de preservação ambiental a que se refere o Plano Diretor, na medida em que prevê a construção de banheiro, cozinha e a disposição de cadeiras para atender aos frequentadores do bar/restaurante, não se enquadrando, à primeira vista, na categoria “quiosque”.

A Lei Municipal nº 272/2015, por seu turno, institui a Política Ambiental Integrada do Município de Itacaré, dispondo, em seu art. 30, que:

Art. 30. A Secretaria de Meio Ambiente exigirá o Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA para os empreendimentos e atividades de impacto local, considerados efetiva ou

potencialmente causador de significativo impacto ambiental,

independentemente do seu porte, na fase de licença prévia, a que se dará publicidade, garantida a realização de audiência pública, tantas quantas forem necessárias, a expensas do empreendedor.

Conforme o dispositivo supratranscrito, conclui-se que a Secretaria de Meio Ambiente tem o dever de exigir o Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA para os empreendimentos considerados efetiva ou potencialmente causadores de impacto ambiental, independentemente do seu porte, garantida, ainda, a realização de tantas quantas forem as Audiências Públicas necessárias, às expensas do empreendedor.

No mesmo sentido, os arts. 37 e 38 da referida Lei dispõem sobre a necessidade de submissão do resultado do Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental à análise técnica da Secretaria de Meio Ambiente, bem assim a necessidade da realização de Audiência Pública para apresentação e discussão do EIA e do respectivo Relatório de

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Impacto Ambiental, sempre que necessária ou quando solicitada por entidade civil, pelo Ministério Público ou por 50 (cinquenta) ou mais cidadãos.

Ressalte-se que, das imagens colacionadas ao Inquérito Civil que originou a vertente Ação Civil Pública, podem ser observadas manifestações populares e abaixo-assinados com solicitações de embargo imediato da obra (ID. 5858324 – fls. 12 a 20), evidenciando a premente necessidade de realização da Audiência Pública a que faz referência o art. 38 da Lei Municipal nº 272/2015.

É sabido que o Município de Itacaré, por meio do processo administrativo de nº 13255/19, autorizou a construção do empreendimento, concedendo o alvará de nº 00059/2019 (ID. 5652409), sob a fundamentação de desnecessidade da realização de Estudo de Impacto Visual, haja vista o enquadramento do referido bar como “quiosque” para apoio à visitação (ID. 41822899 - fls. 4/5), como se constata da análise da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Município de Itacaré (Ofício nº 021/2019). Contudo, tratando-se de Zona de Proteção Visual em APA, há, evidentemente, regime específico de proteção ambiental, de modo que não se aplica o quanto disposto genericamente no art. 80 da Lei nº 271/2014.

Há de se ter em mente que o Direito Ambiental é regido pelo princípio da precaução, o qual, segundo leciona Paulo Affonso Leme Machado, “aconselha um posicionamento – ação ou omissão – quando haja sinais de risco significativo para as pessoas, animais e vegetais, mesmo que esses sinais não estejam perfeitamente demonstrados”.

Pelo exposto, em juízo perfunctório e não exauriente, típico desta fase processual, é possível inferir que não assiste razão ao Agravante, uma vez que não se vislumbra os requisitos indispensáveis do fumus boni iuris e do periculum in mora em seu favor, de forma que agiu acertadamente o Ilustre Relator ao indeferir o pleito de atribuição de efeito suspensivo ao recurso. Por oposto, observa-se, em favor do Recorrido, a existência concomitante da fumaça do bom direito, bem assim da probabilidade de risco ao meio ambiente e irreversibilidade dos potenciais danos.” 

Com efeito, na apuração de danos ambientais, "[...] há que se privilegiar a cautela e, portanto, a preservação do provável bem ambiental, à luz dos princípios da prevenção e da precaução, a fim de evitar a consolidação da ocupação e dano irreversível a patrimônio da coletividade. (REsp 1237893/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013, DJe 01/10/2013)" (TJSC, Agravo de Instrumento n.

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2014.018810-1, de Criciúma, rel. Des. Carlos Adilson Silva, Primeira Câmara de Direito Público, j. 7 Gabinete Desembargadora Sônia Maria Schmitz (hdl) 24-02-2015).

Logo, a continuação das obras poderia gerar evidente risco de dano ambiental, o que se busca justamente evitar. A aplicação do princípio da precaução, na hipótese, mostra-se a mais adequada, evitando assim a ocorrência do dano.

Assim, na atual conjuntura fático-probatória, restam presentes elementos suficientes a autorizar a medida antecipatória, visando cessar a possível prática de atos prejudiciais à flora e fauna enquanto se apura a legitimidade e legalidade da obra realizada pelo agravante.

Logo, ao examinar prudentemente todas a circunstâncias do caso concreto para aferir a necessidade da reforma da decisão agravada, balizando sua análise pelos critérios do fumus boni iuris e do periculum in mora, impõe-se a manutenção da decisão recorrida.

Diante do exposto, julga-se prejudicado o Agravo Interno n.º 8027971-42.2019.8.05.0000.1.Ag e nega-se provimento ao presente Agravo de Instrumento, mantendo-se a decisão recorrida em todos os seus termos. Sala das Sessões da 3ª Câmara Cível,       de       de  2020.

   

PRESIDENTE  

 

DES. JOSÉ CÍCERO LANDIN NETO        RELATOR       PROCURADOR  DE JUSTIÇA        

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Assinado eletronicamente por: JOSE CICERO LANDIN NETO 07/08/2020 22:04:57 https://pje2g.tjba.jus.br:443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam ID do documento: 20080722045759900000008993134 IMPRIMIR GERAR PDF

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