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PARECER ATESTADO DE ÓBITO PC/CFM/Nº 57/1999

ASSUNTO: Responsabilidade pela execução do atestado de óbito. RELATORES: Cons. Lúcio Mário da Cruz Bulhões

Cons. Léo Meyer Coutinho Cons. Rubens Santos Silva

EMENTA: O preenchimento e execução da declaração de óbito é ato médico, cuja responsabilidade preferencial é do médico que tenha pleno ou provável conhecimento das causas que produziram a morte – Resolução do CFM definirá normas hierárquicas de responsabilidade pelo preenchimento – proposta de revogação da Resolução CFM nº 1.290/89.

MOTIVAÇÃO

Em razão de não existirem normas específicas que tenham ampla abrangência na questão da responsabilidade do médico pelo atestado de óbito, a nosso pedido houve, em abril de 1999, manifestação favorável do plenário do CFM para a formação de comissão de estudos visando desenvolver conceitos inerentes ao documento, e que se verifique a necessidade de mudanças da normatização na área.

CONCEITOS

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Certamente, os valores relativos à vida se sobrepõem aos da morte. Por isso, há vasta regulamentação de garantias quanto à qualidade e zelo com o paciente vivo, todavia pouco há sobre o paciente morto.

O vínculo médico-paciente não se esvai no momento do desenlace vital, pois ainda faltará o último ato médico, que para sempre ficará escrito: o atestado de óbito (Declaração de Óbito – nome oficial).

O preenchimento da Declaração de Óbito é exclusivamente um ato médico. Em respeito à lei, podemos dizer que não é de dever absoluto do profissional médico, pois é garantido que na falta completa do médico, em situação especial, pessoas idôneas podem ser nomeadas para que verifiquem a morte de uma pessoa.

No entanto, no mais das vezes, o atestado é de obrigação expressa que seja preenchido e assinado por médico. A Declaração de Óbito é documento essencial, por que somente através dela se registra e é expedida a certidão de óbito em cartório oficial. É o único documento que comprova o evento morte para todos os fins que sobrevirão àquela data. Traz em seu corpo a gigantesca responsabilidade de compor dados estatísticos epidemiológico-sanitários, sendo o único documento de informação rápida aos órgãos responsáveis pelo controle sanitário em todas as instâncias governamentais. Tem, por isso, que ser considerado de maneira definitiva e inconteste como o ato final de um tratamento médico, e não, como muitas vezes ocorre, o instrumento conseguido às pressas em variadas condições, somente visando a mais breve inumação do corpo, sob responsabilidade e interesse único dos familiares em momento de dor, intermediado por empresas funerárias sem nenhum compromisso social.

A MORTE

A morte pode ter suas causas juridicamente subdivididas em natural, violenta ou suspeita.

As mortes de causas naturais compreendem os resultados de fenômenos biológicos quase sempre explicados e comprovados pela medicina. É o ciclo da natureza atestado pela ciência do homem. Através da morte é que a ciência avançou nos primórdios e ainda assim continua. Não é, pois, a morte um instante, um momento estanque. É e sempre será cada qual um exemplo pertencente à humanidade, no contexto presente e futuro, carreando conseqüências científicas e jurídicas, individuais e coletivas.

As mortes de causas violentas imediatas ou tardias (com causas supervenientes) estão bem definidas e ordenadas em lei, estando tutelado pelo Estado o corpo falecido, até que seja realizada a perícia médico-legal, quando então será o cadáver entregue ao familiares ou a quem de direito.

As mortes de causa suspeita compreendem parte da morte violenta, até que se prove em contrário, trazendo para a sua compreensão a dúvida quanto ao nexo causal. Para que exista a suspeição deve haver uma pergunta: suspeita de quê? Ou seja, para que haja a suspeição, há que existir o interesse ativo de quem suspeita, vinculado a uma justificativa. É o caso do familiar ou de terceiros que conhecem desvios do contexto social e comportamental do falecido, ou mesmo suspeitam de peculiaridades durante um tratamento médico e até de ação de terceiros. Em qualquer destes casos, o cidadão que protagoniza a suspeição tem a obrigação de comunicar a uma autoridade policial ou ao Ministério Público, que solicitarão, pelos procedimentos habituais, a perícia médico-legal.

A morte de causa suspeita é bem diferente da morte por causa desconhecida, mesmo que súbita. Esta é um tipo de morte natural que não compõe o rol de possibilidades com natureza jurídica para classificação como morte suspeita. A "causa mortis" para ser conhecida, merecerá avaliação necroscópica clínica e anátomo-patológica para a sua verificação e conclusão, porém nunca uma perícia médico-legal. A perícia oficial é desnecessária e somente será solicitada pela autoridade policial, nestes casos, por intuição ocasional, por desconhecimento de causa em sua função ou por falta de mecanismo administrativo institucional municipal de Serviço de Verificação de Óbitos.

É importante que todo médico entenda que quando enganado em sua boa fé, tendo ele exarado a Declaração de Óbito e, após, surgir a descoberta de alguma causa violenta, ele, médico, não terá culpa por ter sido enganado. Até dentro de hospitais isto pode acontecer, conforme casos recentemente estampados em noticiário.

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O médico, quando responsável pelo paciente que falece, não deverá gratuitamente alegar suspeição distância, ou criar suspeita sem fundamentação.

Exemplos contumazes podem ser citados:

- Médico assiste há muitos meses paciente com doença crônica ou incurável, como neoplasias, vindo o doente a óbito longe das vistas do médico, geralmente no domicílio. O médico assistente, conhecedor de todo o histórico do paciente, não poderá se furtar a fornecer o atestado de óbito, pois se "suspeita" de alguma coisa tem a obrigação de pessoalmente avisar a autoridade policial do quê suspeita.

- No mesmo caso, situam-se pacientes de consultório e ambulatório hospitalar ou posto de saúde. Ninguém melhor do que o médico assistente para formular as hipóteses de "causa mortis". Não é porque o paciente não se encontra hospitalizado que o médico poderá classificar a morte como de causa suspeita.

Suspeita de quê ?

- O paciente chega a um Pronto-Socorro em tempo de serem verificadas as queixas e de se fazer um diagnóstico clínico ou através de exames complementares, um infarto agudo do miocárdio, por exemplo. O médico assistente é o único profissional que poderá atestar a veracidade dos fatos e é quem deverá fornecer o atestado de óbito, mesmo que o paciente tenha poucos minutos ou horas de hospital. Um infarto do miocárdio recente tem grande probabilidade de não ser macroscopicamente observado e ter um fácil diagnóstico clínico (gráfico mais laboratorial)..

- Idem no tocante à situação de paciente com patologias de evolução crônica ou subcrônica com tratamento internado, que recebe alta com fase terminal e falece em casa, dias após.

O PACIENTE

Existem pacientes quando há assistência médica. Em época de medicina realizada sob o regime de tênue vinculação com o direito de escolha do profissional, causada pela intermediação por operadoras de planos de saúde que referenciam locais ou profissionais, o paciente pode até confundir-se em meio ao emaranhado dos seus poucos direitos. O médico, todavia, não deve ser contaminado por essa estremecida organização administrativa. Igualmente, não existe o paciente do SUS. O paciente é do médico!

À medida que o profissional aceita, ou é obrigado por vínculo empregatício a atender um paciente, inicia-se o contrato tácito da relação médico-paciente, com deveres e responsabilidades ético-profissionais do início - a anamnese - até o fim - o atestado de óbito.

No entanto, sabe-se que, em especial, os serviços públicos de saúde, por razões de oferta profissional e demanda aumentada, organização precária de agendamento, dentre outras causas, culminam por formar a figura do paciente da instituição. A informação dá-se, então, através de prontuário hospitalar ou ambulatorial nas várias consultas. O paciente, por certo, será da instituição, sob responsabilidade de vários médicos, que conhecedores do paciente e de seus desvios da homeostase, bem como tendo acesso ao prontuário médico, serão os profissionais que melhor poderão preencher o atestado de óbito. Estes pacientes, obviamente, não pertencem a uma casa, mas estão sob responsabilidade de um ou mais médicos no conjunto do tratamento. A instituição deverá organizar-se administrativamente para que os médicos locais possam estar à disposição para o fornecimento do documento, provavelmente através de plantonistas em consulta a prontuários, e otimizar o desempenho do Serviço de Anatomia Patológica, caso exista no local.

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para a confecção do documento em tela, quando em caso de falecimento. Outrora, isto seria difícil de se realizar. Atualmente, na era da comunicação tecnologicamente avançada, o médico poderá ser localizado a qualquer tempo. Cada profissão tem diferente compromisso social e este pode ser considerado um elevado ônus, porém é essencial e indivisível da assistência médica, além de pré-requisito daquele que escolhe ser médico. É importante ressaltar que a constatação do óbito deverá ser sempre pessoal, qualquer que seja a sua natureza.

Partindo do conceito de pacientes do médico e pacientes institucionais, chegaremos a uma seqüência de responsabilidade pela confecção do atestado, a seguir elencada, sempre considerando:

a) Conhecimento de causa sobre a doença; b) A legislação vigente;

c) A responsabilidade pela execução do último ato de um tratamento médico; d) O interesse científico;

e) O interesse sanitário-epidemiológico;

f) A necessidade de inumar o corpo do paciente.

Propositalmente, posicionamos em último lugar a necessidade de inumar o paciente falecido, por que assim mesmo deve ser entendido na qualidade de somenos importância, sendo que os outros itens, de "a" a "e", se: miscuem às peculiaridades dos casos individuais.

RESPONSABILIDADE

A cultura distorcida e nociva à responsabilidade relativa à execução de atestado de óbito traz a necessidade de serem estabelecidas regras que normatizem a priorização de execução do mesmo, para que o documento realmente cumpra toda a sua função, não somente a de oficializar a morte, possibilitando a inumação.

Dentro dessas características já descritas, a prioridade deverá, assim, ser disposta por ordem de preferência:

- Paciente assistido por um único médico: 1º - Médico assistente;

2º - Médico substituto;

3º - Outro médico, quando único na localidade em que falece o paciente.

- Paciente assistido em regime institucional 1º - Médico assistente ambulatorial;

2º - Médico substituto ambulatorial;

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documentação do paciente internado ou não;

4º - Médico do serviço de patologia do hospital, se este existir;

5º - Outro médico, quando único na localidade em que falece o paciente.

-Paciente de urgências

1º - Médico plantonista, quando com tempo hábil de estabelecer diagnóstico da "causa mortis";

2º - Médico do serviço de patologia do hospital, quando o paciente já tiver sido internado seja no Pronto-Socorro seja na enfermaria ou outros tipos de acomodações;

3º - Médico do Serviço de Verificação de Óbitos, quando o paciente não houver sido atendido em vida e não houver diagnóstico primário de causa da morte estabelecido.

-Pacientes sem assistência médica, em mortes de causa súbita, sem acompanhamento médico anterior: 1º - Médico do Serviço de Verificação de Óbito, onde este estiver normatizado e funcionante;

2º - Médico de Pronto-Socorro ou de posto de saúde plantonista, ou exercendo atividade pública onde não houver SVO;

3º - Outro médico, quando único na localidade em que falece o paciente.

-Pacientes com patologia consequente a atos de violência ou suspeita de violência, mesmo nos casos de concausa superveniente:

1º e único - conforme disposto em lei, compete única e exclusivamente ao perito médico-legista oficial ou nomeado "ad - hoc" pela autoridade policial ou judiciária local para execução do exame pericial e posterior elaboração da Declaração de Óbito.

- Paciente natimorto

1º - Médico assistente da mãe; 2º - Médico substituto;

3º - Outro médico, quando único na localidade em que falece o paciente.

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1ª - O Serviço de Anatomia Patológica do hospital, à exceção dos casos de morte violenta ou suspeita de violência, sempre justificado o interesse científico, poderá ser acionado a proceder ao exame necroscópico clínico e, após, exarar o atestado de óbito.

2ª - Os Serviços de Verificação de Óbito, ora funcionantes ou a serem instituídos pelo poder público municipal ou estadual, deverão, quando possível, contar com retaguarda laboratorial de patologia clínica e anatomia patológica, sem os quais as necrópsias clínicas reduzem enormemente a sua eficácia diagnóstica. É imperioso que pelo menos as capitais e cidades de igual densidade demográfica sejam dotadas de Serviços de Verificação de Óbito adequadamente instalados.

3ª - Resta ao poder público, nos termos deste parecer e da futura resolução normativa, prover condições de execução do trabalho médico para elaboração da Declaração de Óbito na forma de transporte para cadáveres, locais de execução dos exames, implantação de SVO, acionamento dos médicos, dentre outros.

4ª - É de grande importância que o CFM baixe resolução determinando que o médico sempre entreguer relatório médico ao seu paciente quando das altas hospitalares, e após diagnósticos em tratamentos ambulatoriais ou de consultório, facilitando todas as possibilidades consecutivas discutidas neste parecer.

Visando dar seqüência a este parecer, propomos ao plenário do CFM estabelecer normas nos termos aqui expostos, em forma de resolução normativa. Ato contínuo, propomos alteração no conceito de morte suspeita constante no artigo 4º, parágrafo 2º, da Resolução CFM nº 1.290/89, através da revogação desta Resolução.

Este é o nosso parecer, SMJ.

Brasília, 28 de setembro de 1999.

LÚCIO MÁRIO DA CRUZ BULHÕES

LÉO MEYER COUTINHO

RUBENS DOS SANTOS SILVA Aprovado em Sessão Plenária

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