• Nenhum resultado encontrado

A atuação profissional do nutricionista no contexto da sustentabilidade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A atuação profissional do nutricionista no contexto da sustentabilidade"

Copied!
32
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

CAMILLA CEYLÃO DAHER NAVES –09/46192

A

ATUAÇÃO

PROFISSIONAL

DO

NUTRICIONISTA

NO

CONTEXTO

DA

SUSTENTABILIDADE

BRASÍLIA - DF 2012

(2)

CAMILLA CEYLÃO DAHER NAVES –09/46192

A

ATUAÇÃO

PROFISSIONAL

DO

NUTRICIONISTA

NO

CONTEXTO

DA

SUSTENTABILIDADE

PROFESSORA ORIENTADORA: ELISABETTA RECINE

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO COMO REQUISITO À OBTENÇÃO

DO GRAU DE BACHAREL EM NUTRIÇÃO, UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA.

BRASÍLIA - DF 2012

(3)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 5 2. OBJETIVOS ... 8 2.1. OBJETIVO GERAL ... 8 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 8 3. METODOLOGIA ... 8 3.1 AMOSTRA DA PESQUISA ... 8

3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ... 9

3.4 COLETA DE DADOS... 9

3.5 TABULAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 10

3.6. ASPECTOS ÉTICOS ... 10 4. RESULTADOS ... 11 5. DISCUSSÃO ... 18 6. CONCLUSÃO ... 22 7. REFERÊNCIAS ... 23 8. APÊNDICES...27 8.1 APÊNCICE A...27 8.2 APÊNDICE B...31 8.3 APÊNDICE C...32

(4)

RESUMO

O conceito de Desenvolvimento Sustentável surge em 1983 em meio às discussões da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento e se oficializa em 1987, com a publicação do relatório Nosso Futuro Comum, sendo definido como “O equilíbrio que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.” Para a Comissão, o conceito de desenvolvimento sustentável deve fundamentar as políticas públicas de forma que os objetivos do desenvolvimento econômico e social sejam definidos em termos de sustentabilidade. Dessa forma, percebe-se que o Desenvolvimento Sustentável está fundamentado em três dimensões: a econômica, a ambiental e a social; dimensões essas que também fundamentam os conceitos de Sustentabilidade e de Segurança Alimentar e Nutricional. Diversos autores apontam as dificuldades de se alinhar e alcançar a Segurança Alimentar e Nutricional e a sustentabilidade, no entanto, o consideram como um desafio possível. Tais dificuldades relacionam-se ao modelo de sistema alimentar vigente, à mesma medida que ao modelo de desenvolvimento econômico adotado pela maioria dos países, o qual apresenta foco na geração de lucro e crescimento econômico, que gera em proporções semelhantes, degradação ambiental e iniquidades sociais. Tendo isso em vista esclarecer as atribuições e contribuições do Nutricionista para o alcance do desenvolvimento sustentável, investigando as concepções, valoração, aplicabilidade e dificuldades percebidas acerca deste tema, possibilita fomentar o papel deste profissional na promoção de um futuro de qualidade social, ambiental e econômica. O objetivo deste estudo é caracterizar a atuação profissional do Nutricionista segundo aspectos relativos ao sistema alimentar e à sustentabilidade. O estudo tem natureza descritiva transversal, com abordagem quantitativa e foi realizado no período de março de 2011 a junho de 2012. Os resultados apontam que a atuação profissional do Nutricionista voltada para a sustentabilidade, ainda que declarada como importante, é pouco desenvolvida, indicando a necessidade de mudanças na formação e atuação profissional a fim de que este possa exercer com excelência seu papel-chave no alcance do modelo de desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Atuação Profissional; Nutricionista; Sustentabilidade; Nutrição e

(5)

1. INTRODUÇÃO

A importância e urgência das discussões acerca da sustentabilidade pautam-se sobre as evidências da insustentabilidade do modelo econômico e produtivo convencional. De acordo com Nascimento (2012) “o padrão de produção e consumo em expansão no mundo, principalmente nas últimas décadas, não tem possibilidade de perdurar” (NASCIMENTO, 2012). As evidências dos efeitos adversos provocados pela humanidade sobre o meio ambiente e os ecossistemas são preocupantes e, há décadas atrás, foram os desencadeantes das discussões sobre a necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável (NASCIMENTO, 2012). No entanto, o que se observa são poucos avanços em termos de resultados desde a Conferência ocorrida no Rio de Janeiro em 1992 até os dias de hoje. As propostas da Agenda 21 foram pouco ou nada cumpridas (HAINES et al, 2012) e os problemas a serem resolvidos em 2012 continuam os mesmo, mas com maiores proporções (THE LANCET, 2012).

O conceito de sustentabilidade começou a ser delineado em 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estolcomo, e partia do princípio de que o uso dos recursos naturais para a satisfação das necessidades presentes não deveriam comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. Já o conceito de Desenvolvimento Sustentável surge em 1983 em meio às discussões da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento e se oficializa em 1987, com a publicação do relatório Nosso Futuro Comum, sendo definido como “O equilíbrio que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.” (BRUNDTLAND, 1987). Para a Comissão, o conceito de desenvolvimento sustentável deve fundamentar as políticas públicas de forma que os objetivos do desenvolvimento econômico e social sejam definidos em termos de sustentabilidade (PEREIRA et al, 2011).

Dessa forma, percebe-se que o Desenvolvimento Sustentável está fundamentado em três dimensões: a econômica, a ambiental e a social (PEREIRA et al, 2011), dimensões essas que também fundamentam os conceitos de Sustentabilidade e de Segurança Alimentar e Nutricional (MALUF, 2000).

O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), a princípio, abordava apenas a dimensão alimentar e, portanto, Segurança Alimentar estava ligada ao conceito de segurança nacional e garantia de produção e estoque de alimentos. A dimensão nutricional foi inserida no conceito de Segurança Alimentar apenas a partir da percepção de que a produção de alimentos em massa além de não cumprir seu propósito de extinção da fome e desnutrição; criava novos problemas, tais como degradação ambiental, iniquidade social e problemas de saúde pública. Ou seja, é a partir deste ponto que se entende que a qualidade nutricional do alimento deve ter maior

(6)

importância que a quantidade de alimentos produzidos (MALUF, 2000). Por sua vez, a dimensão da sustentabilidade se insere no conceito de SAN com as crescentes evidências de que o desmatamento, a diminuição da biodiversidade, a erosão e perda da fertilidade dos solos, a contaminação da água, dos animais silvestres, dos agricultores e dos consumidores por agrotóxicos eram consequências do sistema alimentar convencional (BADUE, 2007; NETO et al, 2010; POUBEL, 2006).

Portanto, de acordo com Maluf (2000) a Segurança Alimentar e Nutricional não depende apenas da existência de um sistema alimentar que garanta produção, distribuição e consumo de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas que também não venha a comprometer a capacidade futura de produção, distribuição, consumo e condições ambientais favoráveis à vida (MALUF, 2000; POUBEL, 2006). Desta forma, a sustentabilidade insere-se oficialmente no conceito de SAN, que seria construído com complexidade e definido como lei em 2006. De acordo com a Lei Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006 que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN:

“A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.”

Diversos autores (BADUE, 2007; MALUF, 2000; KIPERSTOK & MARINHO, 2001) apontam as dificuldades de se alinhar e alcançar a Segurança Alimentar e Nutricional e a sustentabilidade, no entanto, o consideram como um desafio possível. Tais dificuldades relacionam-se ao modelo de sistema alimentar vigente, à mesma medida que ao modelo de desenvolvimento econômico adotado pela maioria dos países, o qual apresenta foco na geração de lucro e crescimento econômico, que gera em proporções semelhantes, degradação ambiental e iniquidades sociais. É o que Sachs (2007) chama de “crescimento socialmente perverso” (SACHS, 2007).

O sistema alimentar é definido como uma cadeia de atividades que podem ser divididas em cinco etapas: a produção, o processamento, a distribuição, o consumo e a disposição de resíduos. A produção diz respeito ao cultivo dos alimentos e criação de animais; o processamento se refere ao processo de transformação dos alimentos em produtos; a distribuição trata do armazenamento e transporte dos alimentos do local de produção aos mercados; o consumo é a fase na qual o alimento adquirido, utilizado e consumido; e, por fim, a disposição de resíduos é referente ao descarte final dos alimentos e seus subprodutos (CENTER FOR SUSTAINABLE SYSTEMS, 2010; KAUFMAN & KAMESHWARI, 2000).

(7)

Está cada vez mais claro que, em termos globais, este sistema se dá de forma ambientalmente insustentável, visto que todas suas etapas podem impactar de alguma forma o meio ambiente, seja por meio da utilização excessiva de insumos químicos, de recursos elétricos e hídricos, de combustíveis fósseis ou da deterioração do solo, indo em direção contrária à proposta para o alcance da sustentabilidade (CENTER FOR SUSTAINABLE SYSTEMS, 2010; KAUFMAN& KAMESHWARI, 2000; PREUSS, 2009).

Wilkins (2009) propõe em seu trabalho o termo “civic dietetics” (tradução livre: “Nutrição Cívica”), sugerindo que a prática nutricional deve promover um novo sistema alimentar; sustentável, justo, economicamente viável e baseado na comunidade. De acordo com a autora, o conhecimento do Nutricionista, quando aliado às dimensões ambiental, social e econômica, enriquece a análise crítica sobre o sistema alimentar convencional, bem como a avaliação da qualidade dos alimentos. Em suma, a Nutrição Cívica assume que as externalidades que permeiam as escolhas alimentares e as forças políticas e econômicas que moldam o sistema alimentar são tão legítimos à prática nutricional quanto os conhecimentos sobre nutrientes e a relação entre alimentação e saúde (WILKINS, 2009).

Em seu trabalho, Preuss (2009) destaca algumas formas de intervenção do Nutricionista, em cada uma das áreas de atuação, em prol da sustentabilidade. De acordo com a autora, no âmbito da Alimentação Coletiva o profissional pode influenciar os fornecedores de gêneros alimentícios à produção sustentável; atentar-se à utilização racional de alimentos, evitando comprar alimentos congelados e fora de época; dar preferência à compra de alimentos produzidos regionalmente, frescos e da estação; utilizar equipamentos que sejam econômicos em gasto de energia e água; elaborar projetos voltados à diminuição do desperdício de alimentos, água e energia; realizar coleta seletiva e reciclagem do lixo. O Nutricionista que atua em Nutrição Clínica pode contribuir dando orientações individuais a cada paciente, abordando não somente a questão nutricional, mas esclarecendo a importância e motivando o paciente ao consumo consciente e sustentável. Enquanto na área de Saúde Coletiva, além das atribuições em comum com a área da Nutrição Clínica, o profissional pode atuar desenvolvendo pesquisas, promovendo eventos, feiras e congressos que incentivem o debate sobre o Desenvolvimento Sustentável e da criação de Sistemas Alimentares Sustentáveis; criando, apoiando e participando de programas, políticas e planos governamentais – e não governamentais – ligados ao fomento e à sensibilização ao Desenvolvimento Sustentável (PREUSS, 2009).

Tendo isso em vista, esclarecer as atribuições e contribuições do Nutricionista para o alcance do desenvolvimento sustentável, investigando as concepções, valoração, aplicabilidade e dificuldades percebidas acerca deste tema, possibilita fomentar o papel deste profissional na promoção de um futuro de qualidade social, ambiental e econômica. O estudo baseou-se na

(8)

hipótese de que a atuação profissional do Nutricionista voltada para a sustentabilidade, ainda que declarada como importante, é pouco desenvolvida, indicando a necessidade de mudanças na formação e atuação profissional.

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Caracterizar a atuação profissional do Nutricionista segundo aspectos relativos ao sistema alimentar e à sustentabilidade.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar o conhecimento dos nutricionistas em relação a diferentes aspectos do sistema alimentar e da sustentabilidade;

 Identificar valores, práticas e desafios em relação a ações sustentáveis nos diferentes campos de atuação profissional.

3. METODOLOGIA

O estudo é de natureza descritiva transversal, com abordagem quantitativa e foi realizado no período de março de 2011 a junho de 2012.

3.1 AMOSTRA DA PESQUISA

Trata-se de uma amostra de conveniência composta por 192 Nutricionistas residentes em 16 estados do Brasil que responderam a todas as perguntas do questionário online. O critério de inclusão estabelecido foi: ser Nutricionista formado; estar trabalhando atualmente na área de Nutrição; e, responder a todas as perguntas do questionário da pesquisa. Por sua vez, os critérios de exclusão foram: não ter graduação em Nutrição; não estar trabalhando na área de Nutrição atualmente; e, não responder corretamente o questionário.

(9)

3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Para a coleta e análise dos dados definitivos elaborou-se um questionário online (apêndice A), a partir da revisão do questionário utilizado para o estudo-piloto. O questionário, estruturado e autoaplicável, continha quinze (15) perguntas do tipo fechadas sobre questões que permitiram caracterizar as percepções e práticas dos Nutricionistas a respeito da sustentabilidade e do sistema alimentar e uma (1) questão tipo aberta para comentários, críticas, elogios ou sugestões. Para sua estruturação, foi utilizado o programa online “SurveyMonkey”, plataforma que possibilita a criação de formulários para pesquisas de forma online e permite que os participantes respondam o questionário de forma anônima, protegendo sua identidade e garantindo, assim, sua participação livre e voluntária. Esse programa disponibiliza um link que permite o acesso ao questionário pela internet. O questionário foi elaborado a partir dos elementos indicados pela revisão bibliográfica, onde foram identificadas variáveis relativas ao conhecimento, valoração e aplicabilidade da sustentabilidade no contexto da Nutrição. As variáveis que compuseram o questionário foram: sexo, idade, cidade e estado de residência, área de atuação, tempo de formação, titulação, importância dada à sustentabilidade na atuação do Nutricionista, preocupação em praticar ações sustentáveis no trabalho, percepção do impacto das ações praticadas no meio ambiente e economia local, tipos de ações sustentáveis e frequência com que as pratica, fatores que dificultam a prática das ações e percepção da capacitação do Nutricionista em atuar a favor do sistema alimentar e do desenvolvimento sustentável.

3.4 COLETA DE DADOS

O estudo em questão foi precedido por um estudo-piloto realizado com uma amostra de doze (12) Nutricionistas que responderam a um questionário online semelhante ao utilizado para o estudo definitivo, no intuito de validar sua aplicabilidade e identificar possíveis falhas.

Para o estudo em questão, um convite contendo o link que permitia o acesso ao questionário online foi enviado por correio eletrônico e via mídias sociais online aos participantes da pesquisa no período de 11 de abril a 11 de maio de 2012. Os endereços eletrônicos foram obtidos por meio de indicações de Nutricionistas, que auxiliaram a divulgação do estudo utilizando suas redes de contatos. Na mídia social utilizada (facebook ©) o convite foi enviado em dois grupos que reúnem Nutricionistas do Brasil e de Brasília. O convite foi divulgado ainda na página principal do portal “Meu Nutricionista” (www.meunutricionista.com.br). Após 15 dias do início da coleta de dados, um alerta de lembrete foi enviado aos correios eletrônicos e aos grupos do facebook ©, reforçando o convite de participação no estudo. Para responder o questionário, o

(10)

participante deveria clicar no link, que o encaminharia para o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) da pesquisa (apêndice B), onde poderia concordar ou não em participar. Ao concordar, as perguntas do questionário eram disponibilizadas para serem respondidas.

3.5 TABULAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

O banco de dados foi organizado por meio do programa Microsoft Excel (2010) e analisado estatisticamente por meio do programa SPSS v. 20, utilizando-se o teste não paramétrico quiquadrado e a correlação de Spearman. Os dados foram considerados estatisticamente significativos quando ρ < 0,05.

3.6. ASPECTOS ÉTICOS

De acordo com o que recomenda a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos, este estudo foi submetido às normas e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade de Brasília, tendo sido aprovado pelo processo número 185/11(apêndice C).

(11)

4. RESULTADOS

Duzentas pessoas (200) completaram o questionário, no entanto, oito (8) foram excluídas por um dos motivos estabelecidos nos critérios de exclusão. A amostra final, portanto, foi composta por cento e noventa e dois (192) Nutricionistas que atenderam aos critérios de inclusão do estudo. A amostra contou com 98% de Nutricionistas do sexo feminino (n=188) e 2% do sexo masculino (n=4) com idade média de 30 anos (M: 30,2; DP: 8,3). Nutricionistas de 16 estados do Brasil participaram do estudo – DF, SP, RJ, MG, GO, PR, RS, ES, BA, CE, PA, SC, PE, PI, MS, MT – entretanto o Distrito Federal (n=70), seguido de São Paulo (n=57), Minas Gerais (n=11) e Goiás (n=11) foram os estados com maior contingente de participantes.

O tempo médio de formação variou entre 2 meses e 35 anos, com moda de 2 anos (M: 6,6; DP: 7,7). A figura 1 mostra a distribuição de Nutricionistas de acordo com o tempo de formação.

Figura 1. Distribuição dos Nutricionistas participantes do estudo em relação ao tempo de formação. Brasília, 2012.

Em relação à titulação, 30% (n=57) da amostra declarou não possuir nenhum outro tipo de titulação além da graduação, enquanto, daqueles que responderam positivamente (n=135), a maioria (66%; n=80) declarou ser especialista em Nutrição; 26% (n=32) disseram ter mestrado e 8% (n=10) declararam ter doutorado.

Quando perguntados sobre a principal área de atuação, a maioria dos respondentes indicou atuar em Nutrição Clínica (n=63). A segunda área de atuação mais citada foi Saúde Coletiva (n=43), seguida de Alimentação Coletiva (n=39). Na figura 2 pode-se observar a distribuição da amostra em relação à sua principal área de atuação.

41

77

29

20

15

(12)

Figura 2. Distribuição dos Nutricionistas participantes do estudo em relação à principal área de atuação. Brasília, 2012.

Os Nutricionistas que escolheram a opção “outro” citaram como área de atuação a alimentação escolar, consultoria, hotelaria, home care, gastronomia e gerência de restaurantes populares.

Os participantes responderam, utilizando uma escala de 5 pontos, sendo 1 nada importante e 5 importantíssimo, o quanto consideravam importante o tema “Desenvolvimento Sustentável” na atuação do Nutricionista. Os resultados estão dispostos na figura 3.

22% 35% 23% 11% 2% 5% 2% Alimentação Coletiva Nutrição Clínica Saúde Coletiva Docência Indústria de Alimentos Nutrição em Esportes Marketing na área de Alimentação e Nutrição

(13)

Figura 3. Importância do tema “Desenvolvimento Sustentável” na atuação do Nutricionista. Brasília, 2012.

Legenda: 1-nada importante; 2-pouco importante; 3-importante; 4-muito importante; 5-importantíssimo. Observa-se que os pontos 1 e 2 , menor importância, representaram 3% (n=4) do total de respostas, enquanto os pontos 4 e 5, maior importância, representaram 89% (n=172). A média dos pontos foi de 4,5 e o desvio padrão 0,7.

Investigou-se também o grau de preocupação dos Nutricionistas em relação à prática de atividades sustentáveis no trabalho. A resposta baseava-se em uma escala de concordância de 5 pontos sendo as opções: concordo totalmente, concordo parcialmente, nem concordo nem discordo, discordo parcialmente e discordo totalmente, pontuados, respectivamente de 5 a 1. Nenhum Nutricionista (n=0) optou pelo primeiro ponto da tabela (discordo totalmente), enquanto 60% (n=115) optaram pelo último ponto (concordo totalmente), como demonstra a figura 4.

Figura 4. Grau de concordância dos Nutricionistas participantes do estudo em relação à preocupação em praticar ações sustentáveis no trabalho. Brasília, 2012.

2% 1% 8% 23% 66% 1 2 3 4 5 60% 35% 5% 0% 0% Concordo totalmente Concordo parcialmente Nem concordo, nem discordo Discordo parcialmente Discordo totalmente

(14)

A média observada foi de 4,5 e desvio padrão de 0,6. Ainda utilizando a escala de concordância de 5 pontos, os participantes indicaram suas percepções acerca do impacto positivo da prática de ações sustentáveis em seu trabalho no meio ambiente e na economia local de sua cidade. A figura 5 apresentam os resultados.

Figura 5. Percepção dos Nutricionistas participantes do estudo em relação ao impacto positivo da prática de ações sustentáveis realizadas no trabalho sobre a economia local e o meio ambiente. Brasília, 2012.

Levando-se em consideração as médias e desvio padrão obtidos da escala de 5 pontos, a questão que investiga as percepções dos Nutricionistas acerca do impacto positivo gerado no meio ambiente proveniente das ações sustentáveis praticadas no trabalho foi de 4,8 (DP: 0,4) e a média da questão relativa aos impactos positivos na economia local foi de 4,5 (DP: 0,7). Percebe-se, portanto que o percentual de concordância relativo ao impacto das ações no meio ambiente (98%) foi superior ao relativo à economia local (92%).

Solicitou-se que os participantes do estudo assinalassem a frequência com que praticaram ações sustentáveis em seu trabalho nos últimos 12 meses. Foram apresentadas quatorze (14) opções possíveis e uma (1) opção nomeada “outro”. Os participantes deveriam assinalar a frequência com que realizavam essas ações de acordo com as opções: sempre; às vezes; nunca; não se aplica. A figura 6 mostra os resultados dessa questão.

65% 27% 7% 1% 0% 83% 15% 2% 0% 0% Concordo totalmente Concordo parcialmente Nem concordo, nem discordo Discordo parcialmente Discordo totalmente Economia Local Meio Ambiente

(15)

Figura 6. Frequência com que os Nutricionistas participantes do estudo praticaram ações sustentáveis em seu trabalho nos últimos 12 meses. Brasília, 2012.

Legenda: 1-Coleta seletiva do lixo; 2-Reciclagem do lixo; 3-Conscientização de funcionários/ clientes/ pacientes/ alunos para a redução do desperdício de energia (utilização racional de luz e equipamentos eletrônicos); 4-Conscientização de funcionários/ clientes/ pacientes/ alunos para a redução do desperdício de água; 5-4-Conscientização de funcionários/ clientes/ pacientes/ alunos para a redução do desperdício de gêneros alimentícios; 6-Preferência ou incentivo pela compra de alimentos de produção regional e/ou familiar; 7-Preferência ou incentivo pela compra de alimentos de acordo com a sazonalidade; 8-Preferência ou incentivo pela compra de alimentos orgânicos; 9-Preferência ou incentivo pela compra de produtos que gerem menor resíduo de embalagem; 10-9-Preferência ou incentivo pela compra de produtos com embalagem reutilizável; 11-Destinação diferenciada para óleo de cozinha utilizado; 12-Desenvolvimento/ Incentivo de pesquisas que tratem do tema “desenvolvimento sustentável”; 13-Preparo de aulas/ palestras que tratem do tema “desenvolvimento sustentável”; 14-Promoção de eventos, feiras, congressos e/ou conferências que discutam o desenvolvimento sustentável e a Nutrição.

De acordo com os resultados pode-se verificar que a frequência das respostas “sempre” e “às vezes” (36% e 31%, respectivamente), foram maiores que a frequência de respostas “nunca” (23%) em relação ao total de respostas. As ações praticadas pelos participantes com maior frequência (sempre) foram, respectivamente, “Conscientização de funcionários/ clientes/ pacientes/ alunos para a redução do desperdício de gêneros alimentícios” (68%) e “Preferência ou incentivo pela compra de alimentos de acordo com a sazonalidade” (67%). Por outro lado, as ações praticadas com menor frequência (nunca) foram “Promoção de eventos, feiras, congressos e/ou conferências que discutam o desenvolvimento sustentável e a Nutrição” (45%) e “Preparo de aulas/ palestras que tratem do tema ‘desenvolvimento sustentável’” (42%).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 não se aplica 12 18 5 5 2 7 5 7 6 8 12 16 19 18 nunca 13 23 11 10 5 14 2 19 35 33 15 40 42 45 às vezes 31 32 37 36 26 35 26 47 34 34 24 26 25 29 sempre 45 28 47 48 68 44 67 28 24 25 50 18 14 8 0 20 40 60 80 100 120

(16)

Pode-se inferir que o baixo percentual de prática das ações relacionadas à área de docência (Desenvolvimento/ Incentivo de pesquisas que tratem do tema “desenvolvimento sustentável”; Preparo de aulas/ palestras que tratem do tema “desenvolvimento sustentável”; Promoção de eventos, feiras, congressos e/ou conferências que discutam o desenvolvimento sustentável e a Nutrição) está relacionada à baixa participação de profissionais dessa área de atuação no estudo (10%).

Analisando-se a correlação entre a preocupação em praticar ações sustentáveis no trabalho e as práticas, de fato, observou-se correlação significativa entre estar preocupado em praticar tais ações e dar preferência ou incentivo à compra de produtos que gerem menor resíduo de embalagem (ρ=0,0003), produtos com embalagem reutilizável (ρ=0,001), e alimentos de produção regional e/ou familiar (ρ=0,002); conscientização de funcionários/ clientes/ pacientes/ alunos para a redução do desperdício de energia (ρ=0,000), água (ρ=0,001) e gêneros alimentícios (ρ=0,000); bem como praticar a reciclagem do lixo (ρ=0,009).

A fim de se identificar as dificuldades encontradas pelos Nutricionistas em praticar ações sustentáveis no local de trabalho, questionou-se quais seriam os três (3) fatores que mais dificultavam tal prática. Os resultados podem ser vistos na figura 7.

Figura 7. Percepção dos Nutricionistas participantes em relação aos três principais fatores que dificultam a prática de ações sustentáveis no trabalho. Brasília, 2012.

Os resultados mostram que, de acordo com a percepção dos Nutricionistas, os três principais fatores que dificultam a prática de ações sustentáveis no trabalho são falta de recursos financeiros, falta de tempo e pouco conhecimento a respeito do tema.

De acordo com as análises estatísticas, observou-se que os Nutricionistas que não consideraram a opção “pouco conhecimento a respeito do tema” como dificultante na prática de

8,9% 13,5% 26,0% 28,1% 32,3% 32,8% 35,4% 35,4%

Remuneração salarial insuficiente Não tenho nenhuma dificuldade Falta de motivação Incompatibilidade com a política da empresa na qual trabalho Falta de recursos humanos Pouco conhecimento a respeito do tema Falta de tempo Falta de recursos financeiros

(17)

ações sustentáveis no trabalho, tendiam a praticar mais a redução do desperdício de gêneros alimentícios (ρ=0,001), água (ρ=0,000) e energia (ρ=0,000) no trabalho.

Os participantes, utilizando a escala de concordância de 5 pontos, também opinaram sobre questões relativas à contribuição da atuação do Nutricionista para tornar o sistema alimentar sustentável e à capacidade do Nutricionista em contribuir de forma ativa para o alcance do desenvolvimento sustentável. As médias (4,8) e desvio padrão (0,4) das questões supracitadas apresentaram-se iguais. As figuras 8 e 9 mostram os percentuais de concordância dos Nutricionistas participantes do estudo.

Figura 8. Grau de concordância dos Nutricionistas participantes do estudo em relação à contribuição da atuação do Nutricionista para tornar o sistema alimentar sustentável. Brasília, 2012.

Figura 9. Grau de concordância dos Nutricionistas participantes do estudo em relação à capacidade do Nutricionista em contribuir de forma ativa para o alcance do desenvolvimento sustentável. Brasília, 2012.

84,4% 14,1% 1,6% 0,0% 0,0% Concordo totalmente Concordo parcialmente Nem concordo, nem discordo Discordo parcialmente Discordo totalmente 81,3% 17,7% 0,5% 0,5% 0,0% Concordo totalmente Concordo parcialmente Nem concordo, nem discordo Discordo parcialmente Discordo totalmente

(18)

Em suma, os Nutricionistas brasileiros reconhecem a importância de se inserir a sustentabilidade no contexto da Nutrição, percebem seus impactos positivos e acreditam na capacidade do profissional em contribuir para a modificação do sistema alimentar e para o alcance do desenvolvimento sustentável. No entanto, os profissionais ainda encontram entraves para praticar ações sustentáveis no trabalho, devido a fatores como falta de recursos financeiros, tempo e pouco conhecimento a respeito do tema.

5. DISCUSSÃO

De acordo com os resultados encontrados no estudo, os Nutricionistas compreendem a importância da inserção da sustentabilidade em sua atuação profissional (M: 4,5; DP: 0,7) e dizem se preocupar em praticar ações sustentáveis no trabalho (M: 4,5; DP: 0,6). Esses dados demonstram uma característica e um interesse, até então, não explorados dessa classe profissional. Além disso, os Nutricionistas alegaram perceber os impactos positivos das ações sustentáveis, praticadas em seu trabalho, no meio ambiente (M:4,8; DP: 0,4) e na economia local (M: 4,5; DP: 0,7). Observa-se que os Nutricionistas percebem mais facilmente os impactos positivos no meio ambiente (“concordo totalmente”=82,8%; “concordo parcialmente”=15,6%) do que os mesmo impactos na economia local (“concordo totalmente”=64,6%; “concordo parcialmente”=27,1%). Tais resultados podem estar relacionados à noção errônea de que sustentabilidade diz respeito somente à dimensão ambiental e que os impactos de ações sustentáveis afetarão apenas o meio ambiente. Pode-se inferir, portanto, que apesar de compreender a importância da sustentabilidade na atuação profissional, o Nutricionista apresenta uma falha de conhecimento a respeito das dimensões que englobam os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.

Nascimento (2012) e outros autores discursam sobre a já bem disseminada e conhecida noção das três dimensões que englobam o conceito de desenvolvimento sustentável - econômica, social e ambiental – que remetem à ideia de que a sustentabilidade no contexto do desenvolvimento não está relacionada somente à esfera ambiental, mas também às esferas econômica e social de forma conjunta. As dimensões econômica e ambiental dizem respeito à capacidade de produção e consumo eficientes, mas de forma a não alterar o equilíbrio ecológico, garantindo a utilização racional dos recursos naturais. Por sua vez, a dimensão social relaciona-se à ideia de que a sustentabilidade deve contemplar a equidade social e a qualidade de vida dessa geração e das próximas, trazendo a noção de ética e solidariedade (NASCIMENTO, 2012). É importante perceber que a dimensão social apresenta-se como fundamental no contexto do desenvolvimento sustentável, uma vez que representa sua própria finalidade – garantir aos indivíduos uma vida justa, saudável e em harmonia com a natureza (SACHS, 2009; HAINES et

(19)

al., 2012). Tendo isso em vista, pode-se vislumbrar o papel essencial da saúde, e dos profissionais dessa área, no contexto da sustentabilidade.

Estima-se que 24% da carga de doença global sejam decorrentes de fatores ambientais relacionados ao modelo econômico-produtivo hegemônico (HAINES et al., 2012). Tanto doenças infecciosas, quanto doenças crônicas não-transmissíveis estão contidas nessa estimativa, as primeiras relacionadas à poluição e má qualidade do ar, água e solo; e o segundo grupo relacionado ao estilo de vida não-sustentável (HAINES et al., 2012), alimentação de baixa qualidade nutricional e a insuficiência da prática de exercícios físicos.

A forma como se estrutura o sistema alimentar global compromete a saúde e qualidade da alimentação, fomentando hábitos de consumo não saudáveis, além de endossar e reafirmar a dieta ocidental padrão, constituída por alimentos sabidamente contaminados por diversos tipos de agrotóxicos prejudiciais à saúde e em níveis acima do recomendado (CARNEIRO et al, 2012; NETO et al, 2010; POUBEL, 2006; SIQUEIRA & KRUSE, 2011; TOASSA et al, 2009), cereais altamente refinados, grandes quantidades de proteína animal e gorduras e poucos alimentos fontes de vitaminas, minerais e fibras (CONSEA, 2007). Segundo Poubel (2006) essa situação é mantida por uma força homogeneizadora dos hábitos alimentares, característica do mundo globalizado, onde os países detentores das tecnologias de produção disseminam sua cultura alimentar por meio de mecanismos mercadológicos (POUBEL, 2006). O padrão de dieta ocidental é preocupantemente insustentável decorrente do sistema alimentar atual marcado pela desenfreada utilização de combustíveis fósseis, energia e recursos hídricos em todas suas etapas. De acordo com Haines et al (2006), a produção agrícola é responsável por 10 a 12% do total de emissões de gases estufa mundial, enquanto a pecuária contribui com 80% das emissões (HAINES et al, 2006

in HAINES et al, 2012). Ademais, as evidências apontam que as mudanças climáticas e o aumento

do preço dos alimentos, devido à variação do preço do petróleo, aumentarão o número de pessoas em países em desenvolvimento que passam por algum tipo de privação alimentar (PARRY et al; FAO, 2009). De acordo com a FAO (2009), há aproximadamente 1 bilhão de pessoas que passam por essa situação atualmente no mundo (PARRY et al; FAO, 2009). Ou seja, trata-se de um grande e insustentável sistema global que traz danos não só ao meio ambiente, mas à sociedade e à saúde.

Vislumbrando tal cenário, entende-se a questão central: como repensar o modelo de desenvolvimento econômico e o sistema alimentar tornando-os sustentáveis? E, consequentemente, como o Nutricionista pode se envolver nas articulações no âmbito da saúde com vistas à sustentabilidade?

Sessenta e seis (66) participantes do estudo utilizaram o campo de comentários, elogios e críticas contido na última questão do questionário e uma parcela destes parabenizaram a iniciativa

(20)

do trabalho dizendo ser a sustentabilidade um tema atual, importante, mas ainda pouco explorado pelo Nutricionista.

“Parabenizo a iniciativa deste trabalho. O nutricionista precisa se inserir e atuar neste contexto da sustentabilidade, pois é nítido o papel que temos na contribuição do meio-ambiente em todo o mundo em diversos aspectos”

Comentário de um Nutricionista participante do estudo. No estudo a maioria dos participantes (67%) alegou praticar ações sustentáveis em seu trabalho “sempre” ou “às vezes”, enquanto apenas 22% alegaram “nunca” praticá-las. No entanto, percebe-se que as ações já postas como usuais na atuação do Nutricionista, como a conscientização para a redução do desperdício de gêneros alimentícios (“sempre”=68%) e a preferência ou incentivo pela compra de alimentos de acordo com a sazonalidade (“sempre”=67%), apresentaram frequência de prática maior que aquelas ainda não consideradas como tal, a exemplo da preferência ou incentivo pela compra de produtos que gerem menor resíduo de embalagem (“sempre”=24%) e a promoção de eventos, feiras, congressos e/ou conferências que discutam o desenvolvimento sustentável e a Nutrição (“sempre”=8%). Ainda não há outros estudos que pesquisem a atuação do Nutricionista em relação às praticas sustentáveis realizadas no trabalho, portanto, apesar de alguns comentários criticarem a falta de participação do Nutricionista em prol do desenvolvimento sustentável, o estudo demonstra que a maioria tem interesse pelo tema e consegue inserir em seu contexto de trabalho a sustentabilidade, ainda que de forma superficial.

As ações sustentáveis mencionadas no estudo não esgotam o elenco de ações possíveis e necessárias. Elas representam apenas algumas opções e servem para auxiliar e instigar os Nutricionistas a buscarem novas formas para uma atuação profissional voltada à sustentabilidade. A maioria das ações propostas contemplam todas as áreas de atuação dos Nutricionistas, há algumas ações mais específicas para certas áreas, mas é importante perceber que a prática de ações sustentáveis no trabalho não está restrita a apenas algumas áreas de atuação e que não significa somente reciclar o lixo ou economizar água. Como exemplos de outras possíveis ações, tem-se o apoio à agroecologia e produção orgânica e à regulamentação da publicidade de alimentos e bebidas não alcoólicas para crianças. A primeira ação diz respeito à extinção dos agrotóxicos e transgênicos da alimentação e o fim da monocultura e dos latifundiários, dando oportunidade a pequenos produtores agrícolas participarem do sistema alimentar, gerando sustentabilidade e justiça social (BADUE; CONSEA, 2007); e a segunda diz respeito a prevenir que as crianças sejam expostas aos mecanismos de mercado evitando o desenvolvimento precoce da cultura

(21)

consumista e, portanto, auxiliando na formação de indivíduos mais conscientes e pautados pela sustentabilidade.

Os resultados do estudo demonstram que os participantes concordam com a capacidade do Nutricionista em transformar o sistema alimentar convencional em um sistema sustentável (M: 4,8; DP: 0,4), bem como contribuir de forma ativa para o alcance de um modelo de desenvolvimento igualmente sustentável (M: 4,8; DP: 0,4). Wilkins e Preuss (2009), apontam a atuação do Nutricionista como chave para a o alcance do desenvolvimento sustentável, uma vez que este profissional representa o elo entre sociedade e sistema alimentar. Maluf (2012), cita o abismo, cada vez mais visível, existente entre as etapas de produção e consumo do sistema alimentar, alertando que esta pode ser a causa de muitos problemas alimentares atuais (MALUF, 2012). Portanto, estreitar tal abismo, expondo à sociedade suas causas e consequências, e impulsionando-a a agir de forma incisiva no processo de mudança da configuração deste sistema é função do Nutricionista, profissional capacitado a compreender o alimento em relação à sua composição nutricional, bem como todo o arcabouço contextual socioeconômico no qual este está inserido, considerando que o comer é, antes de tudo, um ato político e ideológico (PORTILHO et al, 2011; WILKINS, 2009).

Alguns autores propõe que a concretização do modelo de desenvolvimento sustentável só será possível quando demandado pela sociedade, num movimento “da base para o topo”, a exemplo do processo de criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o qual contou com forte participação social (FALEIROS et al, 2006). Tendo isso em vista, percebe-se a essencialidade de profissionais que cumpram seu papel social de atenção à saúde e empoderamento populacional, impulsionando a mobilização social e auxiliando a construção do desenvolvimento sustentável.

Discussões com abordagens holísticas em relação à Nutrição, o sistema alimentar e a sustentabilidade vêm sendo feitas em âmbito governamental e em eventos voltados a profissionais da saúde. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar Nutricional – CONSEA, o Ministério da Saúde e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome há tempos vêm discutindo a necessidade da promoção da segurança alimentar e nutricional com soberania e pautada na sustentabilidade. Exemplos palpáveis disso são o relatório da III Conferência Nacional de SAN (CONSEA, 2007), o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN, 2011) e, entre outros, a atualização do texto da Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN (BRASIL, 2012), que traz como um de seus princípios a segurança alimentar e nutricional com soberania.

“A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é estabelecida no Brasil como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas

(22)

alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. A Soberania Alimentar se refere ao direito dos povos de decidir seu próprio sistema alimentar e de produzir alimentos saudáveis e culturalmente adequados, acessíveis, de forma sustentável e ecológica, colocando aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências de mercado.”

Política Nacional de Alimentação e Nutrição – Brasil, 2012.

Tais evidências demonstram que a atuação profissional do Nutricionista voltada à sustentabilidade já possui reconhecimento e subsídio político legal, fator que suporta e facilita este enfoque de atuação profissional. Contudo os resultados demonstram que para atuar profissionalmente de forma sustentável o Nutricionista percebe como entraves a falta de tempo (35%), de recursos financeiros (35%) e de conhecimento acerca de sustentabilidade (32%). Os dois primeiros entraves podem ser explicados pela relação entre a carga-horária de trabalho exigida do Nutricionista (em um contrato convencional 40h/semana) e a remuneração salarial média (R$ 1,600), raramente considerada como justa por estes profissionais (AKUTSU, 2008). O terceiro entrave, pouco conhecimento acerca de sustentabilidade, pode ser entendido como uma falha ainda na formação profissional e/ou na pós-graduação. Diversos estudos que investigam a formação profissional do Nutricionista demonstram falhas na estrutura da graduação em termos de conteúdo e metodologia (CECCIM et al, 2004), além disso, não há no Brasil nenhum curso de pós-graduação em Nutrição que trate especificamente de sustentabilidade. Ainda de acordo com os resultados, 30% dos Nutricionistas participantes do estudo alegaram não ter nenhuma outra titulação além da graduação e apenas 18% disseram desenvolver ou incentivar pesquisas que tratem do tema desenvolvimento sustentável, fatores que incitam a falta de insumos teóricos sobre este tema dentro do contexto da Nutrição. As opções “falta de motivação” e “remuneração salarial insuficiente” foram citadas com menor frequência (26% e 8%, respectivamente), no entanto possuem relação direta com as três opções tidas como as mais dificultantes das práticas sustentáveis no trabalho do Nutricionista. Apesar das possíveis justificativas supracitadas, sabe-se que a maioria das ações sustentáveis expostas no estudo, e muitas das demais ações, não demandam necessariamente muitos recursos financeiros ou tempo para serem realizadas, sugerindo ser a falta de conhecimento acerca do tema o maior fator dificultante para a completa inserção da sustentabilidade na atuação do Nutricionista.

6. CONCLUSÃO

Por meio do estudo foi possível caracterizar, a atuação profissional do Nutricionista segundo aspectos relativos ao sistema alimentar e à sustentabilidade. A hipótese do estudo – a atuação profissional do Nutricionista voltada para a sustentabilidade, ainda que declarada como

(23)

importante, é pouco desenvolvida, indicando a necessidade de mudanças na formação e atuação profissional – foi validada de acordo com os resultados encontrados. A prática de ações sustentáveis no trabalho do Nutricionista demonstrou-se satisfatória, no entanto os dados obtidos não permitem uma análise mais aprofundada sobre a forma com que as ações são executadas e a representatividade dessas à atuação desse profissional.

Os problemas que concernem o alcance do desenvolvimento sustentável são sistêmicos, incitando a necessidade de soluções igualmente sistêmicas, portanto, em tempos de crises econômica e ambiental, já não é mais suficiente atuar individual e isoladamente. Tendo isso em vista, o Nutricionista deve construir seus conhecimentos de forma integrada e holística, a fim de trabalhar a alimentação, nutrição, saúde e sustentabilidade em prol da sociedade e em termos de inter e transdisciplinaridade e, ainda, de forma multiprofissional, dado que os desafios que permeiam a concretização do desenvolvimento sustentável são grandiosos, demandando esforços multilaterais, empoderamento e mobilização social.

Em termos de limitações, o estudo não é completamente capaz de identificar os conhecimentos dos Nutricionistas em relação ao sistema alimentar e à sustentabilidade, dado que foi realizado por meio de um questionário estruturado e com perguntas fechadas, estreitando as possibilidades de respostas e reflexões sobre o tema. Além disso, trata-se de uma amostra de conveniência, que confere dados para a geração de hipóteses, mas não de dados conclusivos. Portanto, sugere-se a reformulação da formação e atuação profissional do nutricionista em termos de sustentabilidade e a elaboração de mais estudos que investiguem os conhecimentos e práticas desses profissionais acerca da sustentabilidade, a fim de se esclarecer a atuação e possíveis contribuições do Nutricionista para o alcance do desenvolvimento sustentável.

7. REFERÊNCIAS

AKUTSU, R. C.C. A. Valores e bem-estar dos Nutricionistas brasileiros. 166 p. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2008.

BADUE, A. F. B. Inserção de hortaliças e frutas orgânicas na merenda escolar: as

potencialidades da participação e as representações sociais de agricultores de

Parelheiros. 265p. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública,

Universidade de São Paulo, São Paulo – SP, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

(24)

BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – Sisan com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Disponível

<http://www.planalto.gov.br/consea/static/eventos/losan.htm>. Acesso em 17 de maio de 2011

BRUNDTLAND, Gro. (Ed.) Our Common Future. Oxford: Oxford Press, 1987.

CAISAN - Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Plano Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional: 2012/2015. Brasília, DF: CAISAN, 2011.

CARNEIRO, F F; PIGNATI, W; RIGOTTO, R M; AUGUSTO, L G S. RIZOLLO, A; MULLER, N M; ALEXANDRE, V P. FRIEDRICH, K; Mello, M S C. Dossiê ABRASCO –

Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. ABRASCO, Rio de Janeiro, abril de

2012. 1ª Parte. 98p.

CECCIM, R.B., FEUERWERKER, L.C.M. Mudanças na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cad Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2004.

CENTER FOR SUSTAINABLE SYSTEMS, University of Michigan. “U.S. Food System

Factsheet.”. 2010.

CONSEA - Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional. III Conferência Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional: por um desenvolvimento sustentável com soberania e segurança alimentar e nutricional – Documento-base. 2007.

FALEIROS, V. P.; SILVA, J. F. S.; VASCONCELLOS, L.C .F.; SILVEIRA, R. M. G. A

construção do SUS: história da reforma sanitária e do processo participativo. Brasília:

Ministério da Saúde, 2006. 298 p.

FAO. 1.02 billion people hungry. News release, 19 June. 2009. Disponível em:

<http://www.fao.org/news/story/en/item/20568/icode/> Acesso em: 15 de junho de 2012.

HAINES, A.; ALLEYNE, G.; KICKBUSCH, I.; DORA, C. From the Earth Summit to

Rio+20: integration of health and sustainable development. Lancet, vol 379. 2189–97 p. 2012.

KAUFMAN, J.; KAMESHWARI, P.The food system: A stranger to the planning field. Journal of the American Planning Association .2000. 113–124p.

KIPERSTOK, A.; MARINHO, M. O Desafio Desse Tal de Desenvolvimento Sustentável : O Programa de Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis da Holanda. Revista Análise e

(25)

MALUF, R.; BELIK, W. Abastecimento e segurança alimentar: Os limites da

liberalização. Campinas: Unicamp, 2000.

MALUF, R. Recursos naturais e soberania alimentar. [vídeo] Congresso Virtual Internacional- Economia verde e Inclusão Socioprodutiva: o papel da agricultura familiar. 2012. Disponível em: <http://www.congressorio20.org.br/sitio/seguridad-alimentaria.html>. Acesso em: 16 de Abril de 2012.

MADURO-ABREU, A. Valores, consumo e sustentabilidade. 224p. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentável. Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2010. NASCIMENTO, E. P. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao econômico. Rev. Estudos Avançados. vol 26 (74), 51-64 p. 2012.

NETO, N. C; DENUZI, V.; RINALDI, R.; STADUTO, J. Produção Orgânica: Uma

Potencialidade Estratégica Para a Agricultura Familiar. Revista Percurso, Brasil, 2 dez. 2010. Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Percurso/article/view/10582/6398>. Acesso em: 21 abr. 2011.

PARRY, M.; EVANS, A.; ROSEGRANT, M. W.; WHEELER, T. Climate change and

hunger: responding to the challenge. Itália: World Food Programme. 2009. 104p.

PEREIRA, A. C.; DA SILVA, G. Z.; CARBONARI, M. E. E. Sustentabilidade,

responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011. 216p.

PORTILHO, F.; CASTAÑEDA, M.; CASTRO, I. R.R. Alimentação no contexto contemporâneo: consumo, ação política e sustentabilidade. Ciência & Saúde Coletiva, 16(1):99-106, 2011.

POUBEL, R. O. Hábitos alimentares, nutrição e sustentabilidade: Agro florestas

sucessionais como estratégia na agricultura familiar. Dissertação de Mestrado. Centro de

Desenvolvimento Sustentável. Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2006. 142p.

PREUSS, K. Sistema de produção de alimentos e meio ambiente. Polônia, 2009. Disponível em:

<http://www.webartigos.com/articles/27435/1/Impacto-do-sistema-de-producao-de-alimentos-no-meio-ambiente/pagina1.html#ixzz1LDzz3vOn> Acesso em: 28/4/2011

PREUSS, K. Integrando Nutrição e Desenvolvimento Sustentável: Atribuições e ações do

nutricionista. Polônia, 2009. Disponível

em: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_19289/artigo_sobre_integrando_nutricao_e _desenvolvimento_sustentavel:_atribuicoes_e_acoes_do_nutricionista> Acesso em: 5 de março de 2011.

(26)

SACHS, I. Primeiras Intervenções. In: NASCIMENTO E VIANNA (org.). Dilemas e desafios

do desenvolvimento sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Gramond, 2007. Pág. 27.

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Gramond, 2009.

SACHS, J. D. From Millennium Development Goals to Sustainable Development Goals.

Lancet, vol. 379. Pág. 2206-11. 2012.

SIQUEIRA, S. L.; KRUSE, M. H. L. Agrotóxicos e saúde humana: contribuição dos profissionais do campo da saúde. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 42, n. 3, Sept. 2008 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342008000300024&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 de Abril de 2011.

THE LANCET. Sustainable development for health: Rio and beyond. Lancet, vol. 379. Pág. 2117 p. 2012.

TOASSA, E. C.; MACHADO, E. H. S.; SZARFARC, S. C.; PHILIPPI, S. T.; LEAL, G. V. S. Organic food and environment. Nutrire: Rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. São Paulo, SP, v. 34, n. 1, p. 175-184. 2009.

WILKINS, J. L. Civic dietetics: opportunities for integrating civic agriculture concepts into dietetic practice. Agric. Hum. Values. 26:57–66. 2009

(27)

8. APÊNDICES

(28)
(29)
(30)
(31)
(32)

8.3 APÊNDICE C – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos CEP/FS/UnB

Referências

Documentos relacionados

Os prováveis resultados desta experiência são: na amostra de solo arenoso ou areia, a água irá se infiltrar mais rapidamente e terá maior gotejamento que na amostra de solo

Verificar a efetividade da técnica do clareamento dentário caseiro com peróxido de carbamida a 10% através da avaliação da alteração da cor determinada pela comparação com

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

na situação dada, estar excluído do trabalho também significa mutilação, tanto para os desempregados, quanto para os que estão no polo social oposto.. Os mecanismos

A avaliação da atual matriz produtiva do território Sul Sergipano com o uso de indicadores dará elementos para a construção de um estilo de produção familiar de base ecológica,

Todavia, mesmo tendo em perspectiva que, a visão que aponta os índices de criminalidade como inversamente proporcionais ao aumento dos mecanismos coercitivos do Estado,

Se os personagens não intervierem com DuBois, provavelmente irão direto ver Karin, que se encontra em companhia de Alfred: ela acaba de se levantar, e Lucille está preparando seus

- Alguns medicamentos que podem aumentar os efeitos de Fluticasona Nasofan, o seu médico pode querer monitorizá-lo cuidadosamente se estiver a tomar estes medicamentos