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GESOEL ERNESTO RIBEIRO MENDES JUNIOR A QUESTÃO DAS VOGAIS NASAIS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

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(1)

GESOEL ERNESTO RIBEIRO MENDES JUNIOR

A QUEST ˜

AO DAS VOGAIS NASAIS NO PORTUGUˆ

ES

BRASILEIRO

CURITIBA 2008

(2)

GESOEL ERNESTO RIBEIRO MENDES JUNIOR

A QUEST ˜

AO DAS VOGAIS NASAIS NO PORTUGUˆ

ES

BRASILEIRO

Monografia apresentada `a disciplina Ori-enta¸c˜ao Monogr´afica II como requisito par-cial `a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Bacharel em Ling¨u´ıstica, Setor de Ciˆencias Humanas Le-tras e Artes, Universidade Federal do Paran´a.

Orientadora:Profa. Dra. Adelaide H. P. Silva

CURITIBA 2008

(3)

Agradecimentos

Aos meus pais ` A Ana ` A minha fam´ılia ` A Adelaide

Ao Cnpq pela bolsa de inicia¸c˜ao cient´ıfica.

(4)

Sum´

ario

Lista de Figuras . . . v

Lista de Tabelas . . . vii

1 Introdu¸c˜ao . . . 1

2 Entre a Fon´etica e a Fonologia . . . 2

2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais . . . 3

2.2 Vogais Nasais . . . 9

2.2.1 Um pouco de anatomia . . . 9

2.2.2 Modelando os Sons Nasais . . . 10

2.3 Algumas Considera¸c˜oes a Respeito das Rela¸c˜oes Ac´usticas e Articulat´orias . . . 12

2.4 As Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro . . . 14

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro . . . 19

2.5.1 An´alises Tradicionais . . . 19

2.5.2 Representa¸c˜ao Dinˆamica . . . 22

3 Experimento 1: Estudo Piloto . . . 25

3.1 Metodologia . . . 25 3.1.1 Desenho do Experimento . . . 25 3.2 Resultados . . . 27 4 Experimento 2 . . . 33 4.1 Metodologia . . . 33 iii

(5)

4.1.1 Desenho do Experimento . . . 33

4.1.2 Coleta e An´alise dos Dados . . . 35

4.2 Inspe¸c˜ao Visual . . . 36

4.3 Configura¸c˜ao dos Formantes . . . 39

4.3.1 Formantes Orais . . . 39

4.3.2 Formantes nasais . . . 44

4.4 Dura¸c˜ao das Vogais Nasais . . . 46

5 Considera¸c˜oes Finais . . . 48

Referˆencias . . . 50

Anexo A -- Tabelas de Formantes (Experimento 1) . . . 52

Anexo B -- Tabelas de Formantes e Dura¸c˜ao - Informante GA (Experimento 2) . . . 55

Anexo C -- Tabelas de Formantes e Dura¸c˜ao - Informante AU (Experimento 2) . . . 61

(6)

Lista de Figuras

Figura 1 Distribui¸c˜ao espacial dos trˆes primeiros formantes no tubo uniforme . . 5

Figura 2 Desenho do trato vocal mostrando a distribui¸c˜ao dos n´os e antin´os . . . 8

Figura 3 Modelo simplificado da produ¸c˜ao dos Murm´urios Nasais . . . 11

Figura 4 Modelo simplificado da produ¸c˜ao das Vogais Nasais . . . 12

Figura 5 Trˆes fases articulat´orias das vogais nasais (IMR das vogais [iN aN uN]) 17 Figura 6 Pauta Gestual Adaptada da palavra canta . . . 23

Figura 7 Espectrograma da palavra fundir . . . 28

Figura 8 Espectrograma da palavra atum . . . 29

Figura 9 Gr´afico F1 X F2 referentes as vogais orais. . . 30

Figura 10 Gr´afico F1 X F2 - Contexto tˆonico parox´ıtono (Informante JO) . . . 30

Figura 11 Gr´afico F1 X F2 - Contexto p´os-tˆonico (Informante JO) . . . 31

Figura 12 Gr´afico F1 X F2 - Contexto tˆonico ox´ıtono (Informante JO) . . . 31

Figura 13 Gr´afico F1 X F2 - Contexto pr´e-tˆonico (Informante JO) . . . 32 v

(7)

Figura 14 Espectrograma do logatoma p´ınki (Informante GA) . . . 37

Figura 15 Espectrograma do logatoma p´anka(Informante AU) . . . 38

Figura 16 Gr´afico F1 X F2 - Contexto tˆonico parox´ıtono (Informante GA) . . . 39

Figura 17 Gr´afico F1 X F2 - Contexto pr´e-tˆonico (Informante GA) . . . 40

Figura 18 Gr´afico F1 X F2 - Contexto tˆonico ox´ıtono (Informante GA) . . . 40

Figura 19 Gr´afico F1 X F2 - Contexto p´os-tˆonico (Informante GA) . . . 41

Figura 20 Gr´afico F1 X F2 - Contexto tˆonico parox´ıtono (Informante AU) . . . 41

Figura 21 Gr´afico F1 X F2 - Contexto pr´e-tˆonico (Informante AU) . . . 42

Figura 22 Gr´afico F1 X F2 - Contexto tˆonico ox´ıtono (Informante AU) . . . 42

Figura 23 Gr´afico F1 X F2 - Contexto p´os-tˆonico (Informante AU) . . . 43

Figura 24 Gr´afico referente ao formante nasal de [iN] e [uN] (Informante AU) . . . 44

Figura 25 Gr´afico referente ao formante nasal de [iN] e [uN] (Informante GA) . . . 45

Figura 26 Gr´afico referente ao formante nasal de [aN] (Informantes GA e AU) . . . 45

Figura 27 Gr´afico referente `as m´edias de dura¸c˜ao das vogais (Informante AU) . . . 46

Figura 28 Gr´afico referente `as m´edias de dura¸c˜ao das vogais (Informante GA) . . . 47

(8)

Lista de Tabelas

Tabela 1 An´alises e Previs˜oes . . . 22

Tabela 2 Corpus de Palavras-Alvo (Experimento 1) . . . 26

Tabela 3 Corpus de Distratores (Experimento 1) . . . 26

Tabela 4 Corpus de Palavras-Alvo - Vogais Nasais (Experimento 2) . . . 34

Tabela 5 Corpus de Palavras-Alvo - Vogais Orais (Experimento 2) . . . 34

Tabela 6 Corpus de Distratores (Experimento 2) . . . 35

(9)

1

1

Introdu¸

ao

Com este trabalho, pretendo expor o leitor a um problema ling¨u´ıstico espec´ıfico, tentando oferecer-lhe uma compreens˜ao dos fatores envolvidos, mais que apresentar uma solu¸c˜ao. O tema abordado ´e as vogais nasais do portuguˆes brasileiro, mais especificamente, as vogais nasais ditas “fonˆemicas”, que s˜ao aquelas para as quais ´e poss´ıvel encontrar pares m´ınimos do tipo lida/ linda, cata/ canta e mudo/ mundo.

Apresento, no segundo cap´ıtulo, tanto uma revis˜ao bibliogr´afica do assunto quanto o embasamento te´orico que guiou a constru¸c˜ao e interpreta¸c˜ao dos experimentos rodados, que ser˜ao apresentados nos cap´ıtulos trˆes e quatro.1

Esses experimentos pretendem oferecer, num certo sentido, fatos adicionais que nos ajudem atender o funcionamento das vogais nasais no portuguˆes brasileiro. Para isso, elaborei dois experimentos em que se manipula o contexto acentual em que as vogais nasais s˜ao inseridas dentro da palavras. O Experimento 1 ´e um estudo piloto, com o objetivo de me familiarizar-me com o assunto e com a metodologia utilizada. O Experimento 2, mesmo ainda limitado em rela¸c˜ao ao n´umero de sujeitos e abordando somente as trˆe vogais extremas do triˆangulo voc´alico [iN aN uN], ´e um expermento mais refinado.

O corpus de palavras-alvo do Experimento 1 foi constru´ıdo com palavras da l´ıngua. Entretanto, foi necess´ario, para o Experimento 2, a constru¸c˜ao de logatomas para controlar de forma r´ıgida os fatores que poderiam influenciar nas medidas executadas me fazendo olhar mais diretamente para o fenˆomeno estudado.

At´e onde foi poss´ıvel ent˜ao, a nasalidade voc´alica, neste trabalho, foi abordada tanto do ponto de vista fon´etico, quanto do ponto de vista fonol´ogico, para assim oferecer ao leitor uma vis˜ao geral de como esses sons s˜ao integrados no sistema ling¨u´ıstico do portuguˆes.

1A percep¸ao dessas vogais n˜ao foi aboradada integralmente neste trabalho. Entretanto est´a intima-mente ligada as quest˜oes levantadas aqui.

(10)

2

2

Entre a Fon´

etica e a Fonologia

Independente do estatuto fonol´ogico que se dˆe as vogais nasalizadas de uma de-terminada l´ıngua, o fenˆomeno ac´ustico da nasalidade voc´alica n˜ao ´e trivial. O output dos sons nasais n˜ao ´e somente o resultado da soma das ressonˆancias da cavidade oral e da cavidade nasal, mas um ´unico sistema complexo de ressonˆancias resultado da intera¸c˜ao das duas cavidades. Al´em disso, para o estudo das vogais nasais, deve-se levar em conta: (1) a varia¸c˜ao do trato nasal de pessoa para pessoa (SERRUIRER e BADIN, 2005); (2) a influˆencia do gesto velar na articula¸c˜ao do trato oral; e (3) fatores dialetais.

Dois problemas surgem a partir desses fatos. O primeiro ´e a dificuldade de enten-der as rela¸c˜oes ac´ustico-articulat´orias envolvidas na produ¸c˜ao dessas vogais. O segundo ´e a dificuldade da tarefa de depreender do sinal da fala quais as pistas ac´usticas que os falantes utilizam na terefa de reconhecer uma dada vogal como [+nasal] para, assim, co-locarem esse tra¸co a servi¸co de um sistema ling¨u´ıstico. Problema que tamb´em se vincula `

a aquisi¸c˜ao de linguagem, dado que pode ser relacionado aos mecanismos de abstra¸c˜ao dos dados ac´usticos utilizados pelas crian¸cas em fase de aquisi¸c˜ao1.

O objetivo deste cap´ıtulo, assim, ´e tanto apresentar um resumo da litaratura que norteou este trabalho quanto tentar situar esta pesquisa num quadro mais amplo dos estudos da fala.

Para inici´a-lo, apresento, com o aux´ılio de Ladefoged (1996) e Maia (1985), os aspectos principais da Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala como descrita em Kent e Read (1992, cap.2). Fa¸co, ent˜ao, uma breve incurs˜ao pela anatomia do trato nasal para entendermos melhor a natureza fisiol´ogica do fenˆomeno estudado e comento as propostas de Fujimura (1960, 1962) para o modelamento ac´ustico dos sons nasais.

Em seguida, relato brevemente alguns estudos sobre as rela¸c˜oes ac´usticas e ar-ticulat´orias da nasalidade voc´alica em geral e em outras l´ınguas, mostrando, no final da

1Esse problema n˜ao se limita as vogais nasais. De modo que qualquer teoria ling¨u´ıstica que pretenda explicar o funcionamento e a aquisi¸c˜ao dos sistemas fˆonicos pelo ser humano tem que lidar com quest˜oes dessa natureza.

(11)

2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais 3

se¸c˜ao, uma discuss˜ao representacional das vogais nasais do espanhol e do inglˆes a partir das rela¸c˜oes articulat´orias (SOL´E, 1995). Depois comento alguns trabalhos sobre as vogais nasais especificamente do portuguˆes brasileiro. E, por ´ultimo, discuto algumas propostas de representa¸c˜ao dessas vogais nessa l´ıngua.

2.1

Teoria Ac´

ustica da Produ¸

ao da Fala: modelando

as vogais orais

A Teoria Ac´ustica de Produ¸c˜ao da Fala ´e uma ferramenta essencial aos estu-dos fˆonicos por oferecer os primeiros passos para a compreens˜ao das rela¸c˜oes ac´ ustico-articulat´orias2. Vou esclarecer alguns conceitos dos quais ela parte.

Assume-se que o som ´e um fenˆomeno essencialmente mecˆanico, e, portanto, ne-cessita de um suporte mateiral para se propagar. O que chamamos cotidianamente de som ´e a interpreta¸c˜ao que o c´erebro faz das vibra¸c˜oes do t´ımpano que resultam do movi-mento das part´ıculas de ar que com ele se chocam. A produ¸c˜ao dos sons da fala envolve ent˜ao, primeiramente, uma fonte sonora, algum fenˆomeno que provoque os movimentos nas part´ıculas de ar. No caso das vogais, que ´e o que nos interessa neste trabalho, a fonte sonora ´e a vibra¸c˜ao das pregas vocais3.

Para entender como isso se d´a, no entanto, ´e necess´ario compreeender o fenˆomeno que se convencionou chamar de Fona¸c˜ao, que consiste nas seguintes etapas: (1) o ar egresso dos pulm˜oes encontra na glote, a sa´ıda da traqu´eia, uma barreira: as pregas vocais; (2) a for¸ca que o ar exerce nesse obst´aculo aumenta a press˜ao subglotal at´e as pregas cederem e o ar escapar pela lar´ınge; (3) a medida que, com essa abertura, a press˜ao do ar no local diminui, as pregas voltam a se fechar formando outra vez a barreira; (4) novamente, a press˜ao subglotal aumenta fazendo as pregas cederem, que por sua vez voltam a se fechar quando a press˜ao diminui, e assim sucessivamente. As lufadas de ar geradas por esse sistema, dessa forma, fazem as colunas de ar no inteior da lar´ınge vibrarem, formando o que chamamos de voz (MAIA, 1985, cap.4, p.36).

Segundo Maia (1985), ´e necess´ario ainda perceber que a voz n˜ao ´e um tom puro

2Na verdade, as rela¸oes ac´ustico-articulat´orias n˜ao s˜ao lineares, mas aparentam ser de natureza quˆantica. H´a certas estabilidades ac´usticas em instabilidades articulat´orias, e certas estabilidades auditi-vas em certas instabilidades ac´usticas (STEVENS, 1972, 1989, apud ALBANO, 2001). Entretanto, para a proposta deste trabalho n˜ao ´e necess´ario entrar nessa discuss˜ao.

3Outros sons da fala envolvem tamb´em outras fontes sonoras. No caso das fricativas, por exemplo, h´a o ru´ıdo que resulta de uma redu¸c˜ao do diˆametro do trato vocal numa determinada regi˜ao. Essa redu¸c˜ao faz com que as part´ıculas de ar se comprimam causando uma turbulˆencia que d´a origem ao ru´ıdo.

(12)

2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais 4

(normalmente representado por uma sen´oide), mas uma onda complexa formada pela freq¨uˆencia fundamental (F0), freq¨uˆencia em que as pregas vocais bombeiam o ar, somada a in´umeras ondas denominadas harmˆonicos, que nada mais s˜ao que m´ultiplos inteiros da frequˆencia fundamental. Esses harmˆonicos s˜ao formados da seguinte maneira: a coluna de ar no interior da lar´ınge, como qualquer corpo submetido `a vibra¸c˜oes harmˆonicas, vibra a uma frequˆencia x (frequˆencia de vibra¸c˜ao das pregas), as metades dessa coluna de vibrar˜ao a uma frequˆencia 2x, os ter¸cos a uma frequˆencia 3x e assim por diante (MAIA, 1985, cap.4, p.45).

Segundo a Teoria Ac´ustica de Produ¸c˜ao da Fala, o trato vocal se comporta apro-ximadamente como um tubo de ressonˆancia uniforme com uma membrana vibrat´oria, representando as pregas vocais, em uma das extremidades e aberto na outra extremidade, o que representa a abertura bucal. As paredes de um tubo de ressonˆancia operam como um filtro para o espectro da fonte sonora, amplificando, por um lado, certos harmˆonicos e, por outro lado, inibindo outros. Isso ocorre por que as paredes do tubo fazem com que o som seja refletido no sentido oposto formando uma onda estacion´aria, que resulta da soma da onda propagada e da onda refletida. As ondas estacion´arias resultantes que promovem maior agita¸c˜ao das part´ıculas de ar na extremidade aberta do tubo ser˜ao amplificadas. Dentre essas ondas, a que tem somente uma regi˜ao de m´axima agita¸c˜ao das part´ıculas de ar, um n´o, ´e denominada primeira ressonˆancia, primeiro formante ou F1. A onda com duas regi˜oes de m´axima agita¸c˜ao das part´ıculas de ar ´e denominada segunda ressonˆancia, segundo formante ou F2. A onda com trˆes regi˜oes de m´axima agita¸c˜ao ´e denominada terceira ressonˆancia, terceiro formante ou F3, e assim por diante, como mostra a Figura 1 em que U representa as regi˜oes de m´axima agita¸c˜ao das mol´eculas de ar. As regi˜oes de m´ınima agita¸c˜ao das part´ıculas de ar s˜ao denominadas antin´os e correspondem na Figura 1 ao cruzamento das linhas que representam a onda.

(13)

2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais 5

Figura 1: Distribui¸c˜ao espacial dos trˆes primeiros formantes no tubo uniforme

Fonte: KENT e READ (1992)

Como agora determinar os valores dos formantes? Sabe-se que: (1) a velocidade do som ´e em m´edia 35.000 cm por segundo; (2) a freq¨uˆencia ´e dada pela quantidade de ciclos completados pela onda dentro de um segundo; e (3) em determinados espa¸cos de propaga¸c˜ao da onda, formar-se-˜ao picos de m´axima ampiltude, ou seja, regi˜oes em que as part´ıculas de ar tˆem m´axima agita¸c˜ao (a distˆancia entre cada pico ´e denominada compri-mento da onda e ´e representada pela letra grega λ). N˜ao ´e dif´ıcil perceber, ent˜ao, que se a velocidade permanece constante, a rela¸c˜ao entre a frequˆencia e o comprimento de onda (λ) ´e inversamente proporcional. Ou seja, se a freq¨uˆencia aumentar, aumentar´a tamb´em a quantidade de picos dentro do deslocamento x percorrido por uma onda, e, portanto, o comprimento de onda diminuir´a. ´E como se os ciclos estivessem mais comprimidos dentro desse deslocamento. Essa rela¸c˜ao pode ser representada pela seguinte express˜ao, em que f representa a frequˆencia, c representa a velocidade do som e λ representa comprimento da onda:

f =

λ

c

(14)

res-2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais 6

sonˆancia uniforme nada mais ´e que uma adapta¸c˜ao dessa express˜ao para as condi¸c˜oes de propaga¸c˜ao dentro do tubo.

Sabendo-se que uma onda completa um ciclo quando alcan¸ca seu valor m´aximo e seu valor m´ınimo no eixo y do plano cartesiano, voltando a posi¸c˜ao inicial, o que cor-responde na onda estacion´aria a dois n´os e trˆes antin´os, podemos, junto com a express˜ao acima, determinar o valores dos formantes.

Para primeiro formante, dado que, na extens˜ao do tubo, a onda ter´a somente uma regi˜ao de m´axima propaga¸c˜ao, se segue que o comprimento de onda resultante ser´a quatro vezes o comprimento do tubo (cf. LADEFOGED, 1996, cap.8, p.119). Colocando essa rela¸c˜ao na espress˜ao acima chegamos ao seguinte resultado, em que L representa o comprimento do tubo:

f =

λ

c

=

4L

c

´

E poss´ıvel aplicar esse mesmo racioc´ınio para os outros formantes. Para o se-gundo formante, se na extens˜ao do tubo a onda ter´a duas regi˜oes de m´axima propaga¸c˜ao, uma correpespondendo ao valor m´aximo positivo no eixo y e outra correspondendo ao valor m´aximo negativo correspondentes a amplitude, ent˜ao o comprimento total da onda resultante ser´a quatro ter¸cos do comprimento do tubo. Teremos, ent˜ao:

f =

λ

c

=

4L

c

3

=

4L

3c

Para o terceiro formante, dado que, dentro do tubo, a onda ter´a uma regi˜ao de m´axima amplitude positiva, uma regi˜ao de m´axima amplitude negativa e uma segunda regi˜ao de m´axima amplitude positiva consecutivamente, se segue, do mesmo modo que para F1 e F2, que a onda total resultante completar´a um ciclo ainda dentro do tubo e corresponder´a a quatro quintos do seu comprimento. Resultando em:

f =

λ

c

=

4L

c

5

=

4L

5c

Essas rela¸c˜oes podem ser generalizadas e colocadas dentro da express˜ao anterior, resultando na formula a seguir, onde n representa o n´umero do formante a ser encontra-tado:

(15)

2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais 7

Fn =

c(2n−1)

4L

Assumindo, agora, que o tubo tem 17.5 cm, tamanho m´edio do trato de um ser humano adulto, ´e poss´ıvel a partir dessa f´ormula determinar as frequˆencias dos for-mantes dentro do tubo uniforme. Subistitu´ımos c por 35000 cm/s, velocidade do som; substitu´ımos L por 17,5 cm, e n pelo n´umero do formante que se pretende encontrar. Encontraremos ent˜ao os valores de 500Hz para F1, 1500Hz para F2 e 2500Hz para F3. Essas medidas correspondem a uma vogal neutra, Schwa, para a qual podemos dizer que os articuladores est˜ao em posi¸c˜ao de repouso. E ´e a partir da´ı que as outras vogais ser˜ao determinadas4.

A produ¸c˜ao de diferentes vogais ´e o resultado de diferentes configura¸c˜oes assumi-das pelo trato vocal que alteram, as condi¸c˜oes de propaga¸c˜ao dentro do tubo uniforme, e conseq¨uentemente as freq¨uˆencias salientadas. As altera¸c˜oes na freq¨uˆencia dos formantes depender˜ao basicamente do local e do grau de constri¸c˜ao. Constri¸c˜oes pr´oximas aos n´os (cf. Figura 1) de modo geral abaixam a freq¨uˆencia do formante; constri¸c˜oes pr´oximas aos antin´os, por outro lado, levantam (KENT e READ, 1992, cap.2, p.25).

Adaptando agora a Figura 1 para algo mais pr´oximo de um trato vocal, chegare-mos a Figura 2, em que A, B, C e D circulados, indicam poss´ıveis locais de constri¸c˜ao, N e A indicam n´os e antin´os respectivamente, e os n´umeros subscritos indicam o n´umero dos formantes afetados por constri¸c˜oes nestas ´areas.

4Outra considera¸ao a respeito dessa f´ormula ´e que ela nos permite dar conta das varia¸oes entre as m´edias dos formantes de um ser humano adulto e de uma crian¸ca, j´a que as frequˆencias dos formantes ser˜ao inversamente proporcionais ao comprimento do tubo de ressonˆancia que representa o trato. Portanto, j´a que crian¸cas tem o trato vocal menor que um ser humano adulto, as frequˆencias dos formantes de suas vogais ser˜ao mais altas, ou seja, a voz mais aguda.

(16)

2.1 Teoria Ac´ustica da Produ¸c˜ao da Fala: modelando as vogais orais 8

Figura 2: Desenho do trato vocal mostrando a distribui¸c˜ao dos n´os e antin´os

Fonte: KENT e READ (1992, p.26)

Para a vogal [i], por exemplo, j´a que o dorso de l´ıngua faz uma constri¸c˜ao na regi˜ao palatal, ou seja, na regi˜ao B da Figura 2, o F2 ser´a alto. Assim, quanto mais retra´ıda estiver a l´ıngua, maior ser´a o valor de F2. Por outro lado, a articula¸c˜ao de [u] envolve constri¸c˜ao labial, o que faz com que ambos os valores de F1 e F2 sejam reduzidos. Na regi˜ao C, h´a constri¸c˜ao, por exemplo, na articula¸c˜ao da vogal [A], presente no inglˆes, fazendo com que haja uma redu¸c˜ao no valor de F2.

Com rela¸c˜ao a altura da mand´ıbula, o correlato ac´ustico ´e o valor de F1. As vogais abertas ter˜ao valores mais altos desse formante e as vogais fechadas valores mais baixos.

Finalmente, para compreender o funcionamento completo do sistema f´ısico que estamos idealizando para a produ¸c˜ao das vogais, a Teoria Ac´ustica de Produ¸c˜ao da Fala faz uso do que se chama fun¸c˜ao de transferˆencia. Uma fun¸c˜ao de transferˆencia, atrav´es de uma ferramenta matem´atica chamada Transformada de Laplace, representa o compor-tamento de um sistema f´ısico atrav´es do sinal de entrada e o sinal de sa´ıda. A fun¸c˜ao de transferˆencia que representa nosso sistema ´e dada a seguir, onde U(s) ´e espectro

(17)

la-2.2 Vogais Nasais 9

ringal, T(s) ´e fun¸c˜ao transferˆencia do trato, R(s) ´e fun¸c˜ao de radia¸c˜ao, que representa a mudan¸cas causadas pelas condi¸c˜oes de espraiamento do som na atmosfera no espectro da sa´ıda do som pela boca5, e P(s) ´e o espectro resultante do sistema:

P(s) = U(s) T(s) R(s)

Essa express˜ao diz basicamente que o espectro laringal, U(s), ´e filtrado pelo trato vocal, T(s), e pela condi¸c˜ao de radia¸c˜ao do som na atmosfera, R(s), resultando no espectro P(s), resultado do sistema. “Matematicamente, P(s) ´e coproduto de U(s), T(s) e R(s) onde s = freq¨uˆencia”(KENT e READ, 1992, p.19).

2.2

Vogais Nasais

2.2.1

Um pouco de anatomia

O trato nasal est´a mais para um labirinto de cavidades e passagens de ar que para um tubo uniforme. As diferen¸cas s˜ao grandes entre os tratos oral e nasal. Iniciarei essa breve descri¸c˜ao anatˆomica do trato nasal a partir da regi˜ao onde se encontra o v´eu palatino, a nasofar´ınge.

Segundo Teixeira et al. (2001), a nasofar´ınge se estende at´e uma regi˜ao chamada coana, onde se encontra uma bifurca¸c˜ao que d´a origem a dois canais separados pelo septo nasal que terminam nas narinas. As cavidades nasais s˜ao tubos cobertos por mucosa preenchidos parcialmente por conchas, estruturas ´osseas que aumentam a superf´ıcie da mucosa. Entre as conchas, h´a trˆes passagens denominadas meatos inferior, m´edio e su-perior. A principal fun¸c˜ao das cavidades nasais ´e filtrar, aquecer e emudecer o ar, sendo considerada tamb´em uma cavidade de ressonˆancia para os sons da fala, respons´avel pelo amortecimento da voz. (GREGIO, 2006)

Na estrutura ´ossea, h´a ainda os seios paranasais que s˜ao cavidades que se ligam `

as cavidades nasais com a fun¸c˜ao de tornar os ossos do crˆanio mais leves e fornecer muco para a cavidade nasal. Ainda n˜ao h´a consenso a respeito de sua fun¸c˜ao como ressoador para os sons da fala. Os seios paranasais se dividem em quatro: seios maxilares, seios frontais, seios esfen´oides e seios etmoidais.

5Segundo Kent e Read (1992), por aproxima¸ao, assume-se que o efeito da fun¸ao de radia¸ao faz com que o espectro output do trato oral aumente 6dB por oitava. Al´em disso, essa caracter´ıstica ´e algumas vezes combinada com a queda de 12dB por oitava do espectro laringal, resultando em uma queda de 6dB por oitava para o output total

(18)

2.2 Vogais Nasais 10

Os seios maxilares est˜ao localizados abaixo dos olhos e est˜ao conectados ao meato inferior. Os seios frontais, por outro lado, encontram-se acima dos olhos e se relacionam com o meato m´edio. Os seios esfen´oides est˜ao localizados no osso esfen´oide perto da parte central do crˆanio e se conectam diretamente ao meato superior. As seios etmoidais, por sua vez, s˜ao numerosas e pequenas cavidades que se ligam aos meatos m´edio e superior (GREGIO, 2006).

O v´eu palatino, a continua¸c˜ao do palato duro, ´e uma estrutura m´ovel com a fun¸c˜ao de separar a cavidade oral e a cavidade nasal. Ele ´e o respons´avel pelo acoplamento do trato nasal ao trato oral na produ¸c˜ao dos sons nasalizados por permitir a passagem do ar pelas cavidades nasais quando est´a abaixado. Os movimentos do v´eu s˜ao controlados por cinco m´usculos: o levantador do palato mole, o constritor superior da far´ınge, o tensor do palato mole, o palatoglosso e o palatofar´ıngeo.

A subida do v´eu ´e atingida pela eleva¸c˜ao e retra¸c˜ao do v´eu causada pelo levantador do palato mole, e pode ser auxiliada pela contra¸c˜ao do constritor superior da far´ınge, que tem como principal fun¸c˜ao empurrar a comida em dire¸c˜ao ao esˆofago. A descida, por outro lado, ´e obtida: (1) pela a¸c˜ao do palatoglosso, que se estende do v´eu e, dividindo-se em dois, liga-se `as por¸c˜oes laterais posteriores da l´ıngua, podendo baixar o v´eu e elevar a parte posterior da l´ıngua6; (2) pela a¸c˜ao do constritor superior da far´ınge; (3) pelo aux´ılio

do relaxamento dos m´usculos respons´aveis pela subida e a for¸ca da gravidade (TEIXEIRA et al., 2001).

Obviamente, nos estudos fonol´ogicos dos sons nasais, ´e nescess´ario fazer algumas simplifica¸c˜oes desse sistema. Entretanto, o acoplamento do trato nasal ´e normalmente abordado somente pelo abaixamento ou n˜ao abaixamento do v´eu palatino. A nasaliza¸c˜ao ´e vista, dessa forma, como um tra¸co categ´orico, que pode se ligar a vogais ou consoantes. Contudo, como veremos, representa¸c˜oes radicalmente categ´oricas dos sons nasalizados podem esbarrar em algumas dificuldades. Ao contr´ario, o estudo da dinˆamica dos arti-culadores pode revelar facetas interessantes de como a nasalidade ´e incorporada por um sistema ling¨u´ıstico como veremos na se¸c˜ao 2.3.

2.2.2

Modelando os Sons Nasais

Os murm´urios nasais s˜ao, em princ´ıpio, caracter´ısticos das consoantes nasais. Entretanto veremos que eles tˆem participa¸c˜ao na produ¸c˜ao das vogais nasais do portuguˆes

6Teixeira et al. (2001) salientam que alguns indiv´ıduos podem n˜ao acionar o palatoglosso para a descida do v´eu.

(19)

2.2 Vogais Nasais 11

brasileiro, sem que isso necessariamente implique a presen¸ca de uma consoante nasal p´ os-voc´alica.

Segundo Fujimura (1960), os murm´urios nasais tˆem duas caracter´ısticas essenci-ais: a participa¸c˜ao das passagens nasais na caracteriza¸c˜ao espectral e a influˆencia do trato vocal. O sistema ac´ustico completo de produ¸c˜ao desses murm´urios envolve trˆes subsis-temas: (1) Far´ıngeo, que corresponde a extens˜ao que vai da glote ao v´eu; (2) Oral, com oclus˜ao total; e (3) Nasal, que inclui a nasofar´ınge e as passagens nasais (Figura 3).

Figura 3: Modelo simplificado da produ¸c˜ao dos Murm´urios Nasais

A output ac´ustico dos sons nasais n˜ao ´e simplesmente uma soma das ressonˆancia de cada um desses tubos, mas resultado da intera¸c˜ao entre eles formando um ´unico sistema complexo.

O autor argumenta que a estrutura espectral dos murm´urios nasais pode ser descrita de um modo unificado e compacto em termos de distribui¸c˜ao de formantes e antiformantes. E comenta que o amortecimento dos formantes ou antiformantes ´e um importante fator na caracteriza¸c˜ao dos sons nasais quando comparados aos sons orais.

Para as vogais nasais, Fujimura (1960) apresenta um sistema semelhante, no qual, ao contr´ario dos murm´urios, a cavidade oral aparece aberta na extremidade em que se encontra a boca (Figura 4).

(20)

2.3 Algumas Considera¸c˜oes a Respeito das Rela¸c˜oes Ac´usticas e Articulat´orias 12

Figura 4: Modelo simplificado da produ¸c˜ao das Vogais Nasais

Entretanto, nesse sistema, como diz Fujimura (1960) as ressonˆancias do trato oral s˜ao resultado somente da soma do sistema oral e far´ıngeo, n˜ao sendo ele adequado para representar a influˆencia do abaixamento do v´eu palatino no trato oral em vogais fortemente nasalizadas, necessitando assim de um sistema mais complexo de intera¸c˜ao das duas cavidades.

Entre os resultados obtidos pelo autor est˜ao: (1) as ressonˆancias nasais, s˜ao pareadas com antiressonˆancias, “antiformantes”; (2) a ressonˆancia mais baixa de uma vogal nasal pode ser um formante nasal ou um formante oral dependendo do primeiro formante da vogal oral correspondente; e (3) ´e improv´avel encontrar um formante nasal entre 1000 e 1500 Hz para as vogais n˜ao fechadas.

2.3

Algumas Considera¸

oes a Respeito das Rela¸

oes

Ac´

usticas e Articulat´

orias

Do ponto de vista articulat´orio as vogais nasais s˜ao produzidas com o abaixa-mento do v´eu palatino que conecta o trato nasal ao trato oral. Entretanto, um simples abaixamento do v´eu palatino somado `a cavidade oral n˜ao ´e condi¸c˜ao suficiente para que o output ac´ustico seja interpretado como [+nasal] por um ouvinte (ROSSATO, TEIXEIRA e FERREIRA, 2007). A rela¸c˜ao entre abaixamente do v´eu e nasaliza¸c˜ao ´e um pouco mais complexa.

(21)

2.3 Algumas Considera¸c˜oes a Respeito das Rela¸c˜oes Ac´usticas e Articulat´orias 13

Segundo o trabalho de Maeda (1993)(apud ROSSATO, FERREIRA e TEIXEIRA, 2007), um leve abaixamento do v´eu n˜ao ´e suficiente para que a vogal [a] seja percebida como nasal. Ao contr´ario, esse mesmo leve abaixamento ´e suficiente para que a vogal [i] seja interpretada como nasal. Rossato, Teixeira e Ferreira (2007) ainda comentam outros dois trabalhos a esse respeito: o trabalho de Warren (1993), que nota que a abertura velo-far´ıngea tem que ser maior que 0,2 cm2 para que um som seja percebido como nasal; e o trabalho de Clumek (1976), que, trabalhando com falantes de inglˆes americano, sueco, hindi7, amoy8 e portuguˆes brasileiro, foi, segundo eles, o primeiro a propor o papel da

dinˆamica articulat´oria na percep¸c˜ao da nasalidade. Para esse ´ultimo autor a percep¸c˜ao da nasalidade depende mais do timing do abaixamento do v´eu palatino que da extens˜ao do abaixamento.

Rossato, Teixeira e Ferreira (2007) tamb´em argumentam que tanto a produ¸c˜ao das vogais orais quanto a produ¸c˜ao das consoantes orais apresentam um pequeno abaixamento do v´eu. O trabalho deles mostrou que para um falante de portuguˆes europeu e um falante de francˆes a altura do v´eu obedece a seguinte distribui¸c˜ao hier´arquica entre os fones, do que apresenta menor abaixamento para o que apresenta maior abaixamento: consoante oral, vogal oral, consoante nasal e vogal nasal.

No mesmo estudo, os autores apresentam um experimento a respeito do alvo ar-ticulat´orio do v´eu palatino em vogais orais e nasais no francˆes e no portuguˆes europeu. Os resultados indicam que para o sujeito francˆes as vogais orais e nasais tˆem alvos arti-culat´orios muito distintos entre s´ı ao contr´ario do sujeito portuguˆes. Por outro lado, os alvos das vogais orais e nasais do sujeito portuguˆes apresentaram uma maior variabilidade que as do francˆes, que apresentaram grande variabilidade somente para a vogal [aN].

A velocidade de abaixamento e levantamento do v´eu tamb´em foi medida. Para o sujeito francˆes as velocidades foram similares, ao passo que para o sujeito portuguˆes a velocidade do abaixamento foi maior que o levantamento.

A quest˜ao da dinˆamica dos articuladores tamb´em foi estudada por Sol´e (1995), por´em em rela¸c˜ao `a nasaliza¸c˜ao das vogais em inglˆes e espanhol. A autora comparou, atrav´es de um estudo experimental, o timing dos articuladores envolvidos na produ¸c˜ao das vogais seguidas de consoante nasal em posi¸c˜ao de coda nessas duas l´ınguas, configura¸c˜ao essa que resultada em vogais nasalizadas. A quest˜ao para ela foi determinar qual a natureza dos processos de nasaliza¸c˜ao das vogais nas duas l´ınguas.

7L´ıngua falada na ´India 8Dialeto falado na China

(22)

2.4 As Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 14

O trabalho da autora parte da assun¸c˜ao que a nasaliza¸c˜ao das vogais, no contexto vogal oral + consoante nasal, pode n˜ao ser somente de natureza implementacional, ou seja, meramente mecˆanica, como queriam trabalhos anteriores (CHOMSKY e HALLE, 1968, apud SOL´E, 1995), e sim espec´ıficos de l´ıngua. A autora se vale de trabalhos que mostram que a extens˜ao temporal da nasaliza¸c˜ao das vogais varia entre l´ınguas.

Os resultados do seu experimento mostram, basicamente, que: (1) a abertura velar no inglˆes, ao contr´ario do espanhol, coincide com o onset de vozeamento da vogal independentemente da velocidade da fala; (2) a abertura velar em inglˆes, ao contr´ario do espanhol, ´e completada durante a dura¸c˜ao ac´ustica da vogal; (3) a velocidade da abertura velar, em espanhol, ao contr´ario do inglˆes, n˜ao ´e afetada pela velocidade da fala, se mantendo constante; e (4) em espanhol, a dura¸c˜ao da nasaliza¸c˜ao da vogal permanece constante nas falas lenta, normal e r´apida.

A autora argumenta que, a partir desses resultados, em espanhol, j´a que varia¸c˜oes da velocidade de fala n˜ao afetam a implementa¸c˜ao da nasalidade, a nasaliza¸c˜ao das vogais seriam um processo mecˆanico, sendo elas especificadas como [-nasal] no contexto VN e nasalizadas como resultado da implementa¸c˜ao fon´etica autom´atica. Entretanto, se assim for, resta o problema de explicar os fatos da nasaliza¸c˜ao das vogais em inglˆes, que parecem ser espec´ıficos de l´ıngua, como a reestrutura¸c˜ao das fun¸c˜oes de velocidade relativas ao timing dos articuladores para cada varia¸c˜ao de velocidade de fala.

A solu¸c˜ao, para ela, foi considerar que as vogais do inglˆes n˜ao s˜ao especificadas quanto `a nasalidade, mas que se nasalizam por interpola¸c˜ao fon´etica. Isso quer dizer que a nasaliza¸c˜ao das vogais em espanhol ´e um processo implementacional, ao passo que em inglˆes o processo ´e fonol´ogico.

2.4

As Vogais Nasais no Portuguˆ

es Brasileiro

Nesta se¸c˜ao, descreverei os principais resultados de trˆes trabalhos experimentais que abordam as vogais nasais do portuguˆes brasileiro: Sousa (1994), Seara (2000) e Gregio (2006). Os dois primeiros s˜ao estudos fon´etico-ac´usticos da nasalidade, abordando tanto quest˜oes referentes a vogais nasais quanto a consoantes nasais. O terceiro ´e um estudo referente `a configura¸c˜ao do trato supragl´otico tanto de vogais orais quanto de vogais nasais usando imagens de ressonˆancia magn´etica (IMR)9.

9“A aquisi¸ao da imagem na ressonˆancia magn´etica ´e um processo resultante da resposta dos pr´otons existentes nos n´ucleos do ´atomo de hidrogˆenio mediante a uma energia eletromagn´etica de radiofreq¨uˆencia espec´ıfica que ocorre quando o indiv´ıduo ´e posicionado dentro de um campo magn´etico. Isto ´e, o corpo

(23)

2.4 As Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 15

Sousa (1994) apresenta 3 experimentos fon´etico-ac´usticos com pares m´ınimos de vogais orais e vogais nasais. Como resultado dos dois primeiros experimentos, a autora levanta as seguintes hip´oteses: (1) as vogais nasais apresentariam trˆes fases distintas, uma fase oral, uma fase de transi¸c˜ao em que a nasalidade se sobrep˜oe a vogal e uma terceira fase em que haveria o predom´ınio de um murm´urio nasal; (2) as vogais nasais seriam mais longas que suas contrapartes orais; e (3) a intera¸c˜ao da nasalidade com as frequˆencias dos formantes voc´alicos se daria de modo complexo, resultado de efeitos de coarticula¸c˜ao de dif´ıcil separa¸c˜ao.

Ainda a respeito dos resultados dos primeiros experimentos, a autora aponta a dificuldade de medir o primeiro formante da vogal [aN] pelo fato se encontrar ressonˆancias na faixa de 320Hz a 600Hz para essa vogal. A existˆencia de tais ressonˆancias foi atribuida `

a presen¸ca de um formante nasal muito pr´oximo do F1 da vogal. Contudo, a autora afirma que mesmo assim ´e poss´ıvel perceber facilmente que o F1 de [a] ´e mais alto que o da sua contraparte nasalizada. Isso se deve n˜ao somente a adi¸c˜ao da nasalidade a essa vogal, mas a uma mudan¸ca na qualidade da vogal, que, quando nasalizada, ´e articulada com a mand´ıbula em posi¸c˜ao mais alta. Para a vogal [i], a autora comenta que nos dois experimentos a medi¸c˜ao dos formantes foi dif´ıcil devido `a complexidade da configura¸c˜ao espectrogr´afica, estando, por exemplo, F2 e F3 “juntos o bastante para comprometer a medi¸c˜ao”(SOUSA, 1994, p.43), indicando a possibildade de um padr˜ao.

Foi tamb´em confirmada uma tendˆencia de redu¸c˜ao da intensidade dos formantes das vogais nasais, com exce¸c˜oes significativas. O que poderia indicar que a nasalidade atua de maneira diferente em cada vogal. Foi indentificado, tamb´em, um formante nasal numa faixa de freq¨uˆencia entre 1120Hz e 1360Hz para todas as vogais com exce¸c˜ao de [aN] que teria um formante nasal muito pr´oximo de F2 se mesclando a ele. Al´em disso, tanto a dura¸c˜ao das vogais nasais quanto a dura¸c˜ao das s´ılabas em que elas estavam inseridas se mostraram mais logas que suas contrapartes orais.

O experimento final que autora apresenta, al´em de confirmar as hip´oteses e ca-racter´ısticas levantadas pelos primeiros experimentos, aponta outras caca-racter´ısticas das vogais nasais. Dentre elas: (1) as vogais nasais s˜ao articuladas em pelo menos duas fases:

humano ´e constitu´ıdo por aproximadamente dois ter¸cos de ´agua, sendo que cada mol´ecula de ´agua possui ´

atomos de oxigˆenio e hidrogˆenio. O n´ucleo do ´atomo de hidrogˆenio possui uma propriedade que, quando exposta a um campo magn´etico forte, alinha-se numa determinada posi¸c˜ao em rela¸c˜ao e este campo magn´etico externo e retorna a posi¸c˜ao inicial quando as ondas de radiofreq¨uˆencia do campo magn´etico cessam, funcionando semelhante a um im˜a. Durante esse processo, os n´ucleos absorvem e emitem uma certa energia que varia de acordo com cada tecido, o que gera uma freq¨uˆencia de ressonˆancia resultando posteriormente, por meio de um processo complexo, em uma imagem (BAER et al, 1991; HOMACK, 1996; STONE, 1997, apud GREGIO, 2006, p.29).”

(24)

2.4 As Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 16

fase nasal + murm´urio nasal ; (2) a presen¸ca de um formante nasal de grande intensi-dade pr´oximo a F1, que acarreta uma grande concentra¸c˜ao de energia nessa regi˜ao, (3) as vogais nasais extremas do sistema nasal, [aN], [iN] e [uN] apresentam murm´urios de maior dura¸c˜ao, fato que pode ter uma forte influˆencia distintiva entre essas vogais e as vogais orais correspondentes; ressaltando, tamb´em, que ´e praticamente imposs´ıvel de se-parar o primeiro formante oral e o primeiro formante nasal das vogais [i] e [u], fato que tamb´em pode ter forte influˆencia na indentifica¸c˜ao dessas vogais (p.129); (4) quanto ao comportamento dos formantes:

• eleva¸c˜ao de F2 e F3 para vogais nasais anteriores; • abaixamento de F2 para as vogais nasais posteriores;

• forte influˆencia da nasalidade em F3 e F4: queda de intensidade e bifurca¸c˜oes; • intensidade constante de F1 durante toda vogal;

e (5) influˆencias de caracter´ısticas idiossincr´aticas de cada falante na saliˆencia das pistas ac´usticas que permitiriam identificar as vogais nasais.

Seara (2000), apresenta tamb´em um experimento com pares m´ınimos de vogais nasais e vogais orais. O corpus do expermiento foi montado com logatomas10 para se

controlar acentua¸c˜ao e a consoante seguinte a vogal nasal. Em contexto tˆonico, a autora trabalhou com monoss´ılabos e diss´ılabos parox´ıtonos; e, em contexto ´atono, com as pr´ e-tˆonicas de triss´ılabos parox´ıtonos.

Com rela¸c˜ao a F1, a autora aponta uma eleva¸c˜ao estatisticamente significativa para as vogais [eN] e [oN]; e um abaixamento marginal para [aN] e [uN]. Para [iN], F1 se manteve constante. A amplitude desse formante foi maior para as vogais [iN] e [uN] em rela¸c˜ao a suas contrapartes orais devido, a presen¸ca, j´a apontado por Sousa, de um formante nasal na mesma regi˜ao.

A configura¸c˜ao de F2 foi bem irregular mostrando mudan¸cas significativas quanto ao contexto de tonicidade. A autora tamb´em aponta a eleva¸c˜ao de F2 para a vogal [iN] indicando anterioriza¸c˜ao na articula¸c˜ao e o abaixamento desse formante para [uN] indicando posterioriza¸c˜ao11.

10Chama-se logatoma uma sequˆencia de s´ılabas que pertencem `a fonotaxe de uma determinada l´ıngua, mas que n˜ao formam uma palavra ou um sintagma significativo.

(25)

2.4 As Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 17

Gregio (2006), ao estudar a produ¸c˜ao de vogais orais e vogais nasais por falan-tes do portuguˆes com o aux´ılio de imagens de ressonˆancia magn´etica constatou que a articula¸c˜ao das vogais nasais, ao contr´ario das vogais orais, que apresentam um per´ıodo estacion´ario, tamb´em se d´a em trˆes fases: fase oral + fase nasal + fase nasal com movi-mento de articuladores. Essas trˆes fases s˜ao mostradas na Figura 5.

Figura 5: Trˆes fases articulat´orias das vogais nasais (IMR das vogais [iN aN uN])

(26)

2.4 As Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 18

A fase oral ´e caracterizada pela eleva¸c˜ao do palato mole e o conseq¨uente fe-chamento da cavidade velofar´ıngea. Esse fefe-chamento, contudo, como a pr´opria autora comenta, que, em princ´ıpio, contraria a hip´otese de que a primeira fase seria um mo-vimento para abrir cavidade nasal pode ser resultado da metodologia utilizada, em que as vogais foram sustentadas pelos sujeitos (p.66), necessitando assim que tal monobra articulat´oria seja averiguada na produ¸c˜ao de voc´abulos.

Quanto ao movimento de dorso de l´ıngua, a vogal [aN] apresentou um confi-gura¸c˜ao mais anteriorizada que sua contraparte oral [a] e as vogais [oN] e [uN] apresenta-ram uma configura¸c˜ao mais posteriorizada que suas contrapartes orais [o] e [u]. Segundo a autora, esses dados v˜ao de encontro aos resultados de Sousa (1994) que relata a eleva¸c˜ao no valor de F2 para vogais anteriores e queda no valor de F2 para as vogais posteriores.

A fase nasal apresentou uma configura¸c˜ao de dorso de l´ıngua semelhante a fase oral, somada `a abertura velofar´ıngea para o acoplamento do trato nasal. As vogais [aN], [oN] e [uN] apresentaram maior proximidade entre o dorso de l´ıngua, o v´eu palatino e a ´

uvula que as outras vogais nasais.

A ´ultima fase, fase nasal com movimento de articuladores, apresentou, para todas as vogais, um movimento de dorso em dire¸c˜ao a regi˜ao palato-alveolar do palato duro. Esse movimento foi evidenciado pela compara¸c˜ao de quadros de imagens referentes as vogais nasais e vogais orais. Ainda a respeito dessa ´ultima fase, a autora salienta que:

Esta ´ultima fase evidenciou um movimento de l´ıngua n˜ao caracter´ıstico da produ¸c˜ao de segmento voc´alico, uma vez que ao adquirir tal postura, o espa¸co descrito para a produ¸c˜ao das vogais foi modificado apresentando mudan¸ca das cavidades ressoadoras. Este dado pode ser interpretado como uma pos-tura de l´ıngua em trajet´oria `a realiza¸c˜ao de um elemento consonˆantico, o que indicaria em ser a vogal nasal, uma vogal oral contaminada por ajustesde de uma consoante nasal, como apontada por Cˆamara Jr (1972). Ou, por outro lado, pode ser tratado como equivalente `a fase denominada por Sousa (1994), como murm´urio nasal. (GREGIO, 2006, p. 65)

(27)

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 19

2.5

A quest˜

ao da Representa¸

ao das Vogais Nasais

no Portuguˆ

es Brasileiro

2.5.1

An´

alises Tradicionais

A quest˜ao da representa¸c˜ao das vogais nasais no portuguˆes ´e controv´ersa. Grosso modo, podemos agrupar as an´alises mais tradicionais em dois grupos: an´alise mono-fonˆemica e an´alise bifonˆemica. A quest˜ao ´e saber se no n´ıvel representacional as vogais nasais s˜ao inerentemente nasais ou se s˜ao orais, posteriormente nasalizadas por algum processo fonol´ogico que assimila um elemento nasal em posi¸c˜ao de coda.

No grupo monofonˆemico (STEN, 1944; LUDKE, 1953; STEVENS, 1954; HAM-MARSTR ¨OM, 1962; HEAD, 1965; MATA MACHADO, 1981; apud MORAES e WET-ZELS, 1992), as vogais nasais s˜ao analisadas como inerentemente nasais. O principal argumento desse grupo ´e o fato de encontrarmos pares m´ınimos do tipo lida/ linda, cato/ canto, cadete/ cadente, boba/ bomba, mudo/ mundo para as vogais nasais. Fato que d´a su-porte a afirma¸c˜ao de que as vogais nasais em portuguˆes brasileiro tˆem estatuto fonˆemico, ou seja s˜ao representadas lexicalmente como vogais nasais.

Por outro lado, no grupo chamado bifonˆemico (TRAGER, 1943; MATTOSO-C ˆAMARA, 1953,1957; MORAIS BARBOSA, 1962; CAGLIARI 1970; LEMLE, 1965; PARKINSON, 1983, apud MORAES e WETZELS, 1992) as vogais nasais s˜ao analisadas como orais no n´ıvel da representa¸c˜ao. A nasaliza¸c˜ao, no n´ıvel mais superficial, viria de alguma regra de assimila¸c˜ao a um elemento nasal em posi¸c˜ao de coda. Os principais argu-mentos para essa an´alise s˜ao: (1) as s´ılabas contendo vogais nasais parecem se comportar como s´ılabas travadas, sendo elas normalmente tˆonicas (canto, batom, tumba, etc), exis-tindo poucos exemplos em que a vogal nasal n˜ao retˆem o acento (jovem, totem, ...); (2) ind´ıcios morfofonol´ogicos, como o fato de encontrarmos deriva¸c˜oes do tipo f˜a → fan´atico, tom → tˆonico, em que uma consoante nasal surge ap´os a vogal. Esse fato argumenta em favor de um elemento nasal depois da vogal na raiz da palavra, que, na presen¸ca de um sufixo iniciado por vogal, apareceria como uma consoante em onset sil´abico; e, na ausˆencia de um sufixo, ou, poder´ıamos dizer, na presen¸ca do morfema zero, nasaliza vogal.

Os dados da l´ıngua, assim, oferecem argumentos razo´aveis para as duas an´alises. Uma tentativa de superar esse impasse ´e o trabalho dos integrantes do Grupo de Estudos em Morfofonologia da UFPR, ao qual eu perten¸co. Apesar do trabalho estar ainda em andamento, um experimento piloto do grupo, descrito em Mendes (2007), que tem por

(28)

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 20

objetivo testar empiricamente essas an´alises, parece apontar para a an´alise bifonˆemica. O experimento fez uso de jogos de codifica¸c˜ao de linguagem do tipo L´ıngua do Pˆe para testar a intui¸c˜ao dos falantes a respeito dessas vogais. Jogos de linguagem desse tipo est˜ao presentes no mundo inteiro e exibem regras muito semelhantes as regras morfol´ogicas das l´ınguas do mundo, tais como infixa¸c˜ao, prefixa¸c˜ao, sufixa¸c˜ao e dele¸c˜ao e reduplica¸c˜ao. Al´em disso, os jogadores processam regras que afetam a estrutura sil´abica em tempo real. Dois jogos foram criados, um que manipula o n´ucleo sil´abico, Jogo-Voc´alico, e outro que manipula a coda sil´abica, Jogo-Consonantal. Esses jogos, em princ´ıpio, fariam com que as an´alises monofonˆemica e bifonˆemica fizessem previs˜oes opostas quanto ao resultado das codifica¸c˜oes, o que tornaria poss´ıvel o falseamento de uma das an´alises.

O Jogo-Voc´alico teve a seguinte regra:

• Para toda s´ılaba de toda palavra, substituir todas as vogais por [o].

E o Jogo-Consonantal teve a seguinte regra:

• Para toda s´ılaba de toda palavra, preencher a posi¸c˜ao de coda com [S], substituindo qualquer eventual segmento, se ouver.

As previs˜oes iniciais da an´alise bifonˆemica para os dois jogos podem ser exempli-ficadas com a palavra l˜a nas representa¸c˜oes gr´aficas da s´ılaba a seguir, onde σ representa s´ılaba, O representa onset, R representa rima, Nu representa n´ucleo sil´abico, C representa coda e os n´os terminais est˜ao preenchidos pelos fonemas:

• Jogo-Voc´alico: σ O l R Nu a C N ⇒ σ O l R Nu o C N • Jogo-Consonantal:

(29)

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 21 σ O l R Nu a C N ⇒ σ O l R Nu a C S

A an´alise bifonˆemica faria ent˜ao a previs˜ao de resultado [+nasal] para o Jogo-Voc´alico, j´a que a troca da vogal [a] por [o] n˜ao interferiria no elemento nasal em posi¸c˜ao de coda; e [-nasal] para o Jogo-Consonanatal j´a que a inser¸c˜ao do fone [S] na posi¸c˜ao de coda implicaria a retirada do elemento nasal.

Por outro lado, a an´alise monofonˆemica faria previs˜oes opostas como mostrado nas representa¸c˜oes gr´aficas a seguir com a mesma palavra l˜a:

• Jogo-Voc´alico: σ O l R Nu ˜ a ⇒ σ O l R Nu o • Jogo-Consonantal: σ O l R Nu ˜ a ⇒ σ O l R Nu ˜ a C S

Para o Jogo-Voc´alico, o resultado seria [-nasal] j´a que a troca do n´ucleo sil´abico acarretaria a sa´ıda da vogal inerentemente nasal. Ao contr´ario, para o Jogo-Consonantal,

(30)

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 22

o resultado seria [+nasal], j´a que a inser¸c˜ao do fone [S] na posi¸c˜ao de coda n˜ao interferiria na vogal nasal em posi¸c˜ao de n´ucleo sil´abico.

A Tabela 1 mostra o esquema das an´alises em rela¸c˜ao aos resultados previstos para cada jogo:

Tabela 1: An´alises e Previs˜oes

An´alise Monofonˆemica An´alise Bifonˆemica

Jogo Consonantal +nasal -nasal

Jogo Voc´alico -nasal +nasal

O experimento se dividiu em trˆes etapas. As duas primeiras etapas consitiram em fases de treinamento, em que os informantes aprenderam, praticaram e competiram entre s´ı com o objetivo de aumentar a fluˆencia e diminuir ao m´aximo a metalinguagem no momento das codifica¸c˜oes. Nessa etapa, os informantes eram solicitados que codificassem palavras e senten¸cas sem vogais nasais. A ´ultima etapa consistiu na grava¸c˜ao de palavras com vogais nasais, palavras-alvo, e distratores em cabine com tratamento ac´ustico.

Os resultados obtidos, entretanto, n˜ao foram os previstos incialmente, de nasa-liza¸c˜ao para um jogo e n˜ao nasaliza¸c˜ao para outro. Os resultados foram predominante-mente de nasaliza¸c˜ao para os dois jogos com algumas exce¸c˜oes.

Esse resultados s˜ao incompat´ıveis com a an´alise monofonˆemica, como vimos. En-tretanto, ele n˜ao ´e necessariamente incompat´ıvel com a an´alise bifonˆemica se assumirmos a possibilidade de a regra de nasaliza¸c˜ao voc´alica ser aplicada antes da regra do Jogo-Consonantal e depois do Jogo -Voc´alico. Contudo, apesar dos esfor¸cos, os resultados ainda s˜ao inconclusivos.

2.5.2

Representa¸

ao Dinˆ

amica

Outra proposta, ainda em desenvolvimento, de representa¸c˜ao das vogais nasais, seguindo outro programa de investiga¸c˜ao cient´ıfica ´e apresentada em Medeiros et.al (2006). A base te´orica da autora ´e a Fonologia Articulat´oria (BROWMAN e GOLDSTEIN, 1989, 1990, 1992), em que a ´unidade de an´alise ´e o gesto articulat´orio. Ao contr´ario das an´alises discutidas na se¸c˜ao anterior, monofonˆemica e bifonˆemica, em que a nasalidade ´e vista como um fenˆomeno essencialmente categ´orico, a Fonologia Articulat´oria permite uma representa¸c˜ao dinˆamica das unidades contrastivas. Isso porque o n´ucleo do programa n˜ao faz uma distin¸c˜ao radical entre o cognitivo e o f´ısico (ALBANO, 2001) como os modelos

(31)

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 23

ditos de tempo extr´ınseco, permitindo assim uma heur´ıstica que desevolva um modelo que de conta tanto da dinˆamica dos articuladores quanto dos contrastes fonol´ogicos.

Na Fonologia Articulat´oria, “Gestos s˜ao eventos que se desenvolvem na produ¸c˜ao da fala e cujas conseq¨uˆencias podem ser observadas nos movimentos dos articuladores. Esses eventos consistem da forma¸c˜ao e soltura de constri¸c˜oes no trato vocal”(BROWMAN e GOLDSTEIN: 1992, p.156; tradu¸c˜ao minha)12. Os gestos, assim, s˜ao dotados tempo

intr´ınseco, ou seja, tˆem especifica¸c˜ao temporal referente ao evento articulat´orio, podendo haver sobreposi¸c˜ao entre eles. Os gestos s˜ao especificados com rela¸c˜ao a 5 conjuntos de vari´aveis do trato: L´abios, Ponta de L´ıngua, Corpo de L´ıngua, V´eu e Glote.

Nesse programa, os itens lexicais s˜ao representados a partir de pautas gestuais, em que os contrastes fonol´ogicos podem se dar por exemplo por (1) presen¸ca ou ausˆencia de um determinado gesto, (2) o conjunto de articulatodores envolvidos em determinado gesto, e (3) o grau de constri¸c˜ao de um determinado gesto.

Seguindo esse paradigma, Medeiros (2006) apresenta a pauta gestual adaptada da Figura 6 para representar a palavra canta onde CL representa Corpo de L´ıngua, e PL representa Ponta de L´ıngua:

Figura 6: Pauta Gestual Adaptada da palavra canta

Fonte: MEDEIROS et al. (2007)

Essa pauta gestual mostra: (1) a sobreposi¸c˜ao do gesto de V´eu aos gestos re-ferentes a articula¸c˜ao da vogal: gesto complexo; (2) a possibilidade do gesto de V´eu se

12“Gestures are events that unfold during speech production and whose consequences can be obser-ved in the movements of the speech articulators. These events consist of the formation and release of constrictions in the vocal tract.”

(32)

2.5 A quest˜ao da Representa¸c˜ao das Vogais Nasais no Portuguˆes Brasileiro 24

estender al´em do gesto voc´alico se sobrepondo ao gesto referente a articula¸c˜ao da conso-ante seguinte, indicando a presen¸ca de um murm´urio nasal sem que haja necessidade de atribuir um fase precisa a ele13.

13Para os dados de Gregio (2006), discutidos na se¸ao 2.4, seria necess´ario especificar o fechamento do v´eu palatino concomitante ao in´ıcio do gesto de Corpo de L´ıngua e sua abertura posterior. Entretanto como comentado anteriormente a autora assume que esse fechamento pode ser resultado da metodolo-gia utilizada, em que as vogais eram sustentadas por uma per´ıodo de tempo, nescessitando de estudos seguindo a mesma linha que averiguassem esse fechamento na produ¸c˜ao de voc´abulos.

(33)

25

3

Experimento 1: Estudo Piloto

Iniciei o cap´ıtulo anterior com a Teoria Ac´ustica de Produ¸c˜ao de Fala. Em se-guida, tratei da parte fisiol´ogica e f´ısica da produ¸c˜ao dos sons nasalizados. Depois busquei trabalhos que permitissem ampliar a compreens˜ao do objeto de estudo. E, por ´ultimo, discuti algumas propostas de como a nasalidade voc´alica ´e incorporada no portuguˆes bra-sileiro. Vou, nos pr´oximos cap´ıtulos, buscar mais fatos emp´ıricos para compreender o fenˆomeno estudado.

Os experimentos apresentados neste e no pr´oximo cap´ıtulos tˆem como objetivo averiguar como as vogais nasais se relacionam com as suas contrapartes orais em rela¸c˜ao ao contexto acentual em que s˜ao inseridas na palavra.

Neste cap´ıtulo, apresentarei um estudo auxiliou a formula¸c˜ao de um experimento mais controlado que apresentarei no pr´oximo cap´ıtulo. Nessa etapa, me concentrei no padr˜ao dos formantes orais.

3.1

Metodologia

3.1.1

Desenho do Experimento

Neste experimento, assim como no Experimento 2, me limitei a analisar somente as trˆes vogais extremas do triˆangulo voc´alico da nasais [iN aN uN]. Foi montado , com o aux´ılio do software Listas, um corpus de 13 palavras-alvo, todas diss´ılabos, variando a posi¸c˜ao do acento e da nasalidade entre a primeira e a segunda s´ılabas, o que resultou em quatro padr˜oes: (a) parox´ıtonos com vogal nasal em s´ılaba tˆonica, (b) parox´ıtonos com vogal nasal em s´ılaba p´os-tˆonica, (c) ox´ıtonos com vogal nasal em s´ılaba pr´e-tˆonica, e (d) parox´ıtonos com vogal nasal em s´ılaba tˆonica dando preferˆencia `as palavras em que a vogal nasal ´e seguida por oclusiva para uniformizar o contexto1:

1Note que o padr˜ao-b, em que a vogal nasal est´a em posi¸ao p´os-tˆonica, n˜ao ´e muito produtivo no portuguˆes brasileiro, limitando-se quase sempre a trˆes vogais, em contexto verbal. Contudo, resolvi mantˆe-lo para n˜ao quebrar o paradigma do experimento e por aparentemente n˜ao ferir a fonotaxe da

(34)

3.1 Metodologia 26

Tabela 2: Corpus de Palavras-Alvo (Experimento 1)

(a) pinta pampa pumba

(b) im˜a

(c) hindu hangar untar pintor cantor fundir

(d) cupim sat˜a atum

Al´em das palavras-alvo, foi montado tamb´em um corpus de distratores. Esses distratores tˆem como finalidade desviar a aten¸c˜ao dos sujeitos em rela¸c˜ao `as palavras-alvo. A consciˆencia dos sujeitos em rela¸c˜ao ao objeto de estudo poderia enviesar as produ¸c˜oes, causando, por exemplo, hiper-articula¸c˜ao e altera¸c˜ao na velocidade de produ¸c˜ao2, o que acarretaria a diminui¸c˜ao da naturalidade da fala. No corpus de distratores, mantive os mesmos padr˜oes: diss´ılabos, variando a posi¸c˜ao do acento entre a primeira e a segunda s´ılaba. Foram colocados dois distratores para cada palavra-alvo:

Tabela 3: Corpus de Distratores (Experimento 1) porta curva pista pauta carta toca palco corda dolar correr amor chuva pomar ator pote mola dedo l´apis

musgo pato fogo faca jato chapa

fita caixa

As palavras alvo e os distratores foram, ent˜ao, inseridos em uma senten¸ca ve´ıculo: Digo ... pra ele3. Para cada senten¸ca foi feito um cart˜ao de leitura que foi lido cincos

vezes por um informante masculino (JO) de 30 anos natural de Curitiba-PR em est´udio com tratamento ac´ustico. A cada se¸c˜ao de leitura, os cart˜oes eram aleatorizados para evitar qualquer vi´es de mem´oria e garantir que a leitura estevisse sendo processada em tempo real. O dados foram gravados a uma taxa de digitaliza¸c˜ao de 44 MHz por 24 bits com os seguintes equipamentos:

l´ıngua.

2A literatura relata v´arios experimentos em que se manipula a velocidade da produ¸ao, inclusive relacionados a vogais nasalizadas (SOL ´E, 1995), entretanto, manipular essa vari´avel foge do escopo deste trabalho

3As senten¸cas-ve´ıculo tˆem como objetivo dar mais naturalidade a produ¸ao das palavras alvo em experimentos deste tipo. Elas ajudam a evitar o chamado efeito de lista, que tem grande chance de ocorrer na leitura de palavras isoladas n˜ao inseridas em um contexto sint´atico, fenˆomeno que poderia inseir algum tipo de ru´ıdo nos dados. A mesma senten¸ca ´e usada para todas as palavras alvo para uniformizar o contexto sint´atico

(35)

3.2 Resultados 27

• Computador: Apple Power Mac G5 2.7 GHz, 2.5GB de mem´oria RAM com HD de 500GB

• Sistema operacional: MacOs 10.4 Tiger • Microfone: Neumann U87

• Pr´e-amplificador: Focusrite

• Placa de ´audio: M-Audio Fireware 410

• Software para capta¸c˜ao do sinal ac´ustico: Digital Performer 5.1

Em seguida, com o aux´ılio do software Praat4, as senten¸cas contendo palavras

alvo foram recortadas das grava¸c˜oes totais de cada rodada para an´alise.

Para terminar essa se¸c˜ao, cabe ressaltar que o informante JO possui desvio septo nasal, fato que n˜ao inviabilizou as an´alises mas as dificultou.

3.2

Resultados

Uma inspe¸c˜ao visual dos dados me permitiu reconhecer as trˆes fases ac´usticas da produ¸c˜ao das vogais nasais: fase oral + fase nasal + murm´urio nasal atestadas na literatura comentada no cap´ıtulo anterior assim como a possibilidade de somente duas fases fase nasal + murm´urio nasal e a grande variabilidade dessas fases.

Outra quest˜ao importante levantada a partir da inspe¸c˜ao visual ´e a existˆencia de per´ıodos diferentes de transi¸c˜ao dos formantes para a mesma vogal nasal. Como exemplos dessas transi¸c˜oes, temos a eleva¸c˜ao de F2 para vogal [uN] da palavra fundir, fato que n˜ao aconteceu na vogal [uN] da palavra atum, que apresentou uma trajet´oria descendente, como mostra as figuras 7 e 8.

(36)

3.2 Resultados 28

Figura 7: Espectrograma da palavra fundir

Nota: Presen¸ca de per´ıodo de transi¸c˜ao ascendente de F2.

No espectrograma acima, dentro do retˆangulo vermelho, que mostra a parte cen-tral da vogal [uN], ´e poss´ıvel ver a eleva¸c˜ao F2, que parte de 850Hz e sobe at´e aproxima-damente 1415Hz, dando in´ıcio a um per´ıodo de estabilidade formˆantica devido a presen¸ca murm´urio nasal.

Essa eleva¸c˜ao, em princ´ıpio, poderia ser resultado da nasaliza¸c˜ao da vogal, sim-plesmente por algum efeito ac´ustico da intera¸c˜ao dos tratos oral e nasal ou por influˆencia articulat´oria do gesto velar.

No entanto, ´e poss´ıvel ver no espectrograma da palavra atum na Figura 6 que dentro do retˆangulo vermelho h´a uma trajet´oria de F2 da vogal [uN] bem diferente. Esse F2 apresenta claramente uma trajet´oria descendente, dando lugar a um formante nasal pr´oximo a sua posi¸c˜ao inicial.

´

E poss´ıvel ent˜ao levantar a hip´otese se que a eleva¸c˜ao de F2 de [uN] para a palavra fundir n˜ao se trate de um efeito de nasaliza¸c˜ao e sim de uma coarticula¸c˜ao vogal-`

a-vogal em que h´a um movimento antecipat´orio referente a articula¸c˜ao da vogal [i] da s´ılaba seguinte. Como vimos na se¸c˜ao 2.1 (cf. p.8, o correlato ac´ustico da retra¸c˜ao da l´ıngua caracter´ıstica da vogal [i] ´e a eleva¸c˜ao de F2. A queda do valor de F2 de [iN] para

(37)

3.2 Resultados 29

a palavra atum seria nada mais que a posterioriza¸c˜ao relatada por Gregio(2005, p.17) estando de acordo com os dados de Sousa (1994) e Seara (2000).

Figura 8: Espectrograma da palavra atum

Nota: Presen¸ca de per´ıodo de transi¸c˜ao descendente de F2.

Fatos como esse podem ter causado altera¸c˜oes nas m´edias dos formantes, que n˜ao s˜ao devidas a vogal nasal em quest˜ao, obscurecendo o objeto do trabalho5.

O pr´oximo passo, foi extrair os trˆes primeiros formantes da s´ılaba tˆonica das palavras fita, pato e chuva presentes no corpus de distratores dada a necessidade de um parˆametro de compara¸c˜ao para as vogais nasais do corpus de palavras-alvo. Em seguida foi tirada a m´edia aritm´etica desses valores (valores brutos encontram-se no Anexo A). Foi ent˜ao constru´ıdo um gr´afico de dispers˜ao com F2 na abscissa (eixo x ) e F1 na ordenada (eixo y). Os gr´aficos que se seguem at´e o fim do trabalho referentes aos valores de F1 e F2 foram constru´ıdos de modo que o zero esteja no canto direito superior para que se mantivesse o triˆangulo voc´alico padr˜ao.

5A grau de transparˆencia das vogais nasais a efeitos coarticulat´orios ´e intrigante, entretanto, como esse trabalho se prende a quest˜oes mais gerais das vogais nasais, no pr´oximo experimento os contextos ser˜ao controlados afim de evitar esse tipo de fenˆomeno.

(38)

3.2 Resultados 30

Figura 9: Gr´afico F1 X F2 referentes as vogais orais.

Em seguida, foram extra´ıdos os valores F1, F2 e F3 de todas as palavras-alvo (valores brutos encontram-se no Anexo A). Depois de extra´ıdos os valores totais, foi tirada a m´edia aritm´etica das cinco repeti¸c˜oes de cada palavra. Agrupei ent˜ao essas m´edias segundo os padr˜oes do corpus de palavras-alvo e tirei outra m´edia, referente a cada grupo. Os gr´aficos das figuras 10-13 mostram os triˆangulos voc´alicos formados pelas vogais nasais de cada padr˜ao.

(39)

3.2 Resultados 31

Figura 11: Gr´afico F1 X F2 - Contexto p´os-tˆonico (Informante JO)

(40)

3.2 Resultados 32

Figura 13: Gr´afico F1 X F2 - Contexto pr´e-tˆonico (Informante JO)

A queda do valor de F1 para a vogal [aN] j´a era esperada (SOUSA, 1994; Gregio, 2000), dado que, como vimos na se¸c˜ao 2.4, a vogal [a] quando nasalizada ´e articulada com a mand´ıbula mais elevada, mudando a qualidade da vogal6. Al´em disso, nos padr˜oes em

que as vogais nasais est˜ao em posi¸c˜ao tˆonica, figuras 10 e 12, h´a uma eleva¸c˜ao do F2 de [iN] e uma queda do F2 de [uN] em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao formˆantica das vogais orais, o que os mant´em mais separados, fenˆomeno tamb´em j´a relatado em Sousa (1994)(cf. se¸c˜ao 2.4). Ao contr´ario, na Figura 13, em que a vogal nasal aparece em uma s´ılaba ´atona, a rela¸c˜ao se inverte. H´a uma leve centraliza¸c˜ao das vogais. O F2 de [iN] cai e o F2 de [uN] sobe, mantendo-os mais unidos. Nesse padr˜ao, entretanto, n˜ao temos um parˆamentro seguro de compara¸c˜ao, pelo fato de que no corpus n˜ao havia contrapartes orais exatamente no mesmo contexto. A partir da´ı podemos ent˜ao nos perguntar se as rela¸c˜oes de eleva¸c˜ao de F2 para a vogal [iN] e abaixamento de F2 para a vogal [uN] em contexto tˆonico se mant´em nos contextos pr´e-tˆonicos e p´os-tˆonicos. Hip´otese a ser avaliada no pr´oximo experimento.

(41)

33

4

Experimento 2

O experimento que apresento neste cap´ıtulo ´e semelhante ao anterior mas com alguns refinamentos. Primeiramente apresento a metodologia, em que mostro a com-posi¸c˜ao das palavras-alvo e distratores, e descrevo a fase de coleta e an´alise dos dados. Em seguida, comento a inspe¸c˜ao visual feita para determinar as principais caracteristi-cas visuais das vogais nasais. Nas ´utimas se¸c˜oes, apresento os resultados das an´alises da configura¸c˜ao dos formantes orais, do formante nasal e do padr˜ao duracional. N˜ao me interessa aqui cruzar todas as vai´aveis dependentes que foram controladas, trabalho que demandaria mais dados, mais sujeitos e an´alises estat´ısticas refinadas, mas averiguar que configura¸c˜oes das vogais nasais, quando variamos o contexto acentual, em rela¸c˜ao as suas contrapartes orais exatamente no mesmo contexto. Tendo tamb´em em mente que estou trabalhando no n´ıvel idiossincr´atico dado a pouca quantidade de informantes.

4.1

Metodologia

4.1.1

Desenho do Experimento

O experimento realizado envolveu a composi¸c˜ao de dois corpora. Um de palavras-alvo, palavras contendo vogais nasais e orais para serem analisadas, e outro de distratores. Assim como no Experimento 1, me limitei a analisar as trˆes vogais extremas do triˆangulo voc´alico das nasais [iN aN uN].

Assim como Sousa(1994) e Seara(2000), decidi trabalhar com pares m´ınimos para ter um parˆametro de compara¸c˜ao dos efeitos da adi¸c˜ao do tra¸co nasal nas vogais. Com-parar medidas referentes a produ¸c˜oes de vogais nasais de um sujeito com medidas de vogais orais oriundas de um outro estudo n˜ao levaria em conta fatores idiossicr´aticos, como tamanho do trato, que interferem na output ac´ustico. Esse tipo de compara¸c˜ao, ent˜ao, poderia me levar a conclus˜oes equivocadas.

(42)

4.1 Metodologia 34

mais r´ıgido do contexto fˆonico, evitando que coarticula¸c˜oes naturais da produ¸c˜ao da fala pudessem interferir no espectro encobrindo o objeto desta pesquisa como as transi¸c˜oes que ocorreram no experimento anterior. Dessa forma, foi poss´ıvel, na etapa de an´alise dos dados, depreender com mais rigor a rela¸c˜ao entre as medidas realizadas (padr˜ao formˆantico, formante nasal e dura¸c˜ao) e as vari´aveis do experimento (padr˜ao sil´abico e localiza¸c˜ao sil´abica da vogal nasal).

A constru¸c˜ao dos logatomas seguiu basicamente o seguinte esqueleto: C1V.C2V,

C1 correspondendo `a oclusiva bilabial surda [p]; C2 correspondendo `a oclusiva velar surda

[k]1; e V correspondendo `as vogais [i a u] orais ou nasais, mantendo a mesma vogal tanto

na primeira quanto na segunda s´ılaba. Al´em disso, variei: (1) a s´ılaba tˆonica, construindo logatomas tanto ox´ıtonos quanto parox´ıtonos, (2) a posi¸c˜ao da vogal nasal, colocando-a na primeira ou na segunda s´ılaba, sendo que, se uma determinada vogal nasal foi inserida na primeira s´ılaba, a sua contraparte oral estar´a na segunda, e, se uma determinada vogal nasal foi inserida na segunda s´ılaba, a sua contraparte oral estar´a na primeira. A combina¸c˜ao destes dois fatores dentro do esqueleto C1V.C2V resulta em quatro padr˜oes2:

Tabela 4: Corpus de Palavras-Alvo - Vogais Nasais (Experimento 2) p´ıN.ki p´aN.ka p´uN.ku

piN.k´ı paN.k´a puN.k´u p´ı.kiN p´a.kaN p´u.kuN pi.k´ıN pa.k´aN pu.k´uN

Al´em desses logatomas, precisamos de um par m´ınimo para cada um deles com a vogal oral correspondente de cada vogal nasal mantendo o mesmo contexto fˆonico. Para isso, apenas seguimos o mesmo esquelto C1V.C2V, variando somente a posi¸c˜ao do acento.

Conseguindo, assim, pares m´ınimos para todos os logatomas da Tabela 5: Tabela 5: Corpus de Palavras-Alvo - Vogais Orais (Experimento 2)

p´ı.ki p´a.ka p´u.ku pi.k´ı pa.k´a pu.k´u

Perceba que os itens da primeira linha da Tabela 5 fazem pares m´ınimos tanto

1Para C

1e C2foram escolhidas consoantes oclusivas surdas para alcan¸car uma melhor visualiza¸c˜ao do murm´urio nasal no esprectrograma no per´ıodo de transi¸c˜ao, o que n˜ao aconteceria no caso das fricativas, por exemplo, em que o ru´ıdo parece se sobrepor ao murm´urio nasal (Kelm, 1989). O ponto de articula¸c˜ao foi escolhido aleatoriamente, pois parece n˜ao causar nenhuma interferˆencia significativa.

(43)

4.1 Metodologia 35

com a primeira quanto com a terceira linha da Tabela 4 e os itens da segunda linha da Tabela 5 fazem pares m´ınimos tanto com a segunda quanto com a quarta linha da Tabela 4.

Para compor o corpus de distratores segui um esqueleto muito semelhante ao que utilizei para compor o corpus de palavras-alvo, C1V.C2V. Mantive as mesmas consoantes

[p] e [k] e as mesmas vogais [i a u], variando tamb´em a posi¸c˜ao do acento. Al´em disso, inseri as codas [r] e [s] na primeira s´ılaba ou na segunda. Resultando na tabela a seguir:

Tabela 6: Corpus de Distratores (Experimento 2) p´ır.ki p´ar.ka p´ur.ku

pir.k´ı par.k´a pur.k´u p´ı.kir p´a.kar p´a.kur pi.k´ır pa.k´ar pu.k´ur p´ıs.ki p´as.ka p´us.ku pis.k´ı pas.k´a pus.k´u p´ı.kis p´a.kas p´u.kus pi.k´ıs pa.k´as pu.k´us

O que me fez conseguir um distrator para cada par m´ınimo.

4.1.2

Coleta e An´

alise dos Dados

Assim como no experimento piloto, os dados foram gravados em est´udio com tratamento ac´ustico a uma taxa de digitalisa¸c˜ao de 44.1MHz por 24 bits com os seguintes equipamentos:

• Computador: Apple Power Mac G5 2.7 GHz, 2.5GB de mem´oria RAM com HD de 500GB

• Sistema operacional: MacOs 10.4 Tiger • Microfone: Neumann U87

• Pr´e-amplificador: Focusrite

• Placa de ´audio: M-Audio Fireware 410

Referências

Outline

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