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Boletim Macro IBRE Dezembro de 2012

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Boletim Macro IBRE

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Dezembro de 2012

Surpresas, Dúvidas, Mistérios e Esperanças

Os resultados do PIB do terceiro trimestre surpreenderam praticamente todos os analistas que acompanham a economia brasileira, contribuindo para reforçar as dúvidas que já se esboçavam há alguns meses sobre a recuperação do nível de atividade. De fato, o crescimento (tst) de 0,6% no terceiro trimestre, em seguida ao de 0,2% no segundo, segundo os dados revisados mostrados na última divulgação de resultados, foi de metade da média do previsto por um grande número de instituições que têm suas estimativas e projeções periodicamente divulgadas no Boletim FOCUS do Banco Central. Nossa própria estimativa, de 1,0%, foi bem acima do efetivamente registrado. Como tantos puderam errar tanto?

Passada a surpresa, a atenção se voltou para as possíveis explicações. O principal culpado foi imediatamente identificado: o PIB do setor Serviços, que crescera 0,5% no segundo trimestre — taxa revisada para baixo, dos 0,7% na divulgação anterior — ficou estagnado. Para quem, como nós, esperava 0,7%, o erro foi enorme.

Indo mais além, a busca por culpados voltou-se para as sete atividades que compõem os Serviços pesquisados pelo IBGE. Nessa fase houve quem pusesse a culpa principalmente na atividade de Intermediação Financeira e Seguros — que tem 10% do total do VA dos Serviços —, cuja taxa de crescimento dessazonalizada passou de +0,9% no segundo trimestre para -1,3% no terceiro. A queda das margens de intermediação no trimestre, que resultou da redução da SELIC, somada à maior pressão competitiva exercida pelos bancos públicos foi responsabilizada pela descontinuidade entre os trimestres, pelo seu impacto sobre os lucros do setor. Mas uma conta simples dá uma perspectiva mais apropriada a essa questão. Supondo que a Intermediação Financeira também tivesse estagnado no terceiro trimestre, como o PIB do setor, o crescimento dos Serviços teria se elevado dos 0,005% efetivamente observados para pouco menos de 0,2% — fazendo pouca diferença no total, portanto, ao elevar o PIB trimestral em pouco menos de 0,1 ponto percentual, tudo o mais constante.

Logo, a desaceleração nos Serviços não pode ser atribuída só a essa atividade. De fato, entre as demais, só em duas delas houve aceleração entre os trimestres relevantes: Comércio, em que a taxa passou de -0,2% no segundo para + 0,4% no terceiro trimestre; e Transporte, Armazenagem e Correios, onde a mudança foi de -1,2% para -0,1%. Todas as quatro atividades restantes experimentaram redução no ritmo de crescimento. Em particular, as duas mais importantes em termos de peso no total — Administrações, Educação e Saúde Públicas (24% dos Serviços) e Outros Serviços (23%, idem) — passaram por fortes desacelerações: de 0,8% para 0,1% no

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primeiro caso; de 1,0% para 0,3% no segundo. No fundo, a surpresa inicial transformou-se em outra: como podemos saber tão pouco do desempenho de atividades com peso tão alto no PIB? Como se isso não bastasse, a evolução da demanda ainda teve outro elemento negativo: o investimento fixo caiu 2%, configurando o quinto trimestre consecutivo de queda e lançando mais dúvidas sobre a geração de capacidade de produção no futuro. A salvação do nível de atividade agregado veio, como mais de uma vez no passado, do crescimento de 0,9% no consumo das famílias, maior, inclusive, que no segundo trimestre (0,7%). O consumo das administrações públicas decepcionou, do ponto de vista de elevação da demanda agregada (+0,1%, contra +1,0% no trimestre anterior). As exportações líquidas também contribuíram para o crescimento, visto que as exportações de bens e serviços cresceram 0,2% ao passo que as importações reduziram-se em 6,5%, em linha com o esperado, mas em taxa mais forte.

A decepção com o crescimento em 2012 — de apenas 0,9% na previsão do IBRE —, juntamente com outras características da nossa evolução recente, vem despertando outras preocupações. As principais referem-se: ao futuro do mercado de trabalho, onde condições aparentemente próximas ao pleno emprego vêm sendo a norma e colocam pressão sobre os custos; à evolução esperada para o investimento fixo, que teima em não se recuperar — e nossa previsão para o quarto trimestre é de nova queda, apesar dos incentivos e do anúncio de novas concessões na área de infraestrutura; a uma possível desaceleração brusca do produto potencial da economia; à inflação que, também teimosa, permanece bem acima da meta; à taxa cambial, que flutua, mas apenas dentro de uma (aparente) banda determinada pelo BC.

Tudo isso tem levado a que às surpresas e dúvidas somem-se mistérios. Entre estes, a profissão não conseguiu ainda dar resposta para pelo menos três, de suma importância para nossas perspectivas de crescimento em 2013 e mais à frente. O primeiro mistério é o da aparente contradição entre uma inflação que insiste em permanecer elevada, apesar do lento crescimento do nível de atividade. O segundo, em linha semelhante, aparece na pergunta: por que o mercado de trabalho continua pressionado, com baixas taxas de desemprego, apesar da desaceleração da economia? O terceiro refere-se a por que a miríade de estímulos e incentivos econômicos que têm sido postos em prática não tem sido capaz de pelo menos impedir a desaceleração do crescimento — para não dizer estimulá-lo mais?

Como todo mistério, os da tríade acima não são totalmente incompreensíveis, mas revelam nossa ignorância em relação a fatores e variáveis que não temos sido capazes de explicitar adequadamente. Gargalos e desequilíbrios setoriais possivelmente não têm sido levados em devida conta, o mesmo ocorrendo com fatores extra mercado, como a perda de confiança nos formuladores de política econômica, fatores que são, por natureza, de difícil quantificação.

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Nessas condições, restam as esperanças, muitas das quais fora do nosso controle, como uma melhoria do contexto internacional. Mas, domesticamente, o espectro de esperanças, embora opaco, também existe. Ele inclui, com destaque: as concessões na área de infraestrutura; uma tão esperada recuperação do investimento público, de preferência não exclusivamente centrado em subsídios para programas habitacionais; e uma decidida atuação na direção de melhorias nas condições de governança, as quais passam, necessariamente, pelo fortalecimento e profissionalização das agências regulatórias.

A seguir apresenta-se um resumo de alguns destaques analisados neste Boletim:

• Nosso cenário de atividade econômica indica melhoria no quarto trimestre. A média móvel do Indicador de Atividade Econômica (IAE) do IBRE subiu para 0,9% no trimestre findo em outubro, embora estimativas preliminares para novembro impliquem redução dessa taxa para 0,5%. Nossa previsão para o crescimento do PIB para o quarto trimestre é de 0,7% (tst). Para o ano ela é de 0,9%.

• No que diz respeito à indústria, nossa previsão para novembro aponta para o mesmo nível de produção de outubro, que foi relativamente bom. Para o último trimestre como um todo espera-se crescimento em torno de 0,5% — ou espera-seja, uma taxa inferior à registrada no terceiro trimestre, de 1,1%. Com relação à indústria de transformação, a estimativa sinaliza o mesmo valor da indústria geral. Logo, estimamos que a indústria de transformação também crescerá menos no último trimestre (tst), no conceito das Contas Nacionais.

• O indicador ajustado do nível de atividade do comércio medido pelo Serasa diminuiu 2% na margem em novembro. Com este resultado, a taxa acumulada em três meses caiu de 2,7% em outubro para 0,8% em novembro. Estes dados indicam que o comércio varejista ampliado arrefeceu com relação ao terceiro trimestre, e, consequentemente, é razoável esperar-se uma acomodação no ritmo de crescimento do consumo das famílias no período.

• Os índices de confiança empresarial do IBRE ganharam força no bimestre outubro-novembro, sinalizando aceleração do ritmo de atividade no quarto trimestre para os segmentos de serviços, comércio e construção. A indústria destoa mais uma vez, ao registrar acomodação após avanços da confiança no trimestre anterior. A sustentação de um ritmo de atividade mais intenso na indústria daqui por diante dependerá cada vez mais da retomada de investimentos produtivos (que continua lenta), uma vez que o endividamento das famílias mantém-se elevado, levando à moderação do ímpeto de compras do consumidor.

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• No setor de serviços, a confiança voltou a subir em novembro, reforçando o cenário de aceleração no quarto trimestre, após forte desaceleração no trimestre anterior. O ICS registrou um terceiro mês de avanço em novembro, após cinco meses em queda, de março a agosto.

• Os resultados da PME mostram que o mercado de trabalho continuou estável em outubro, com a taxa de desemprego dessazonalizada repetindo a de setembro (5,5%). Nossa previsão para novembro é que essa taxa se mantenha nesse nível, confirmando a estabilidade. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) e o Indicador Coincidente da Taxa de Desemprego (ICD), ambos do IBRE, também sinalizam que o nível de emprego se manterá praticamente estável.

• O estoque de crédito atingiu 51,9% do PIB em outubro, com crescimento anual de 16,6%. Apesar disso, o volume de concessões do crédito livre continua fraco: as concessões às pessoas físicas se recuperaram apenas parcialmente da queda de setembro. Destacamos a evolução nas linhas de crédito pessoal – com alta real de 10,0% no mês, na série livre de efeitos sazonais – e de aquisição de outros bens – com crescimento de 8,6% na mesma métrica. As linhas mais dispendiosas, como cheque especial e cartão de crédito, apresentaram queda. A composição ligeiramente mais favorável para as pessoas físicas não contribuiu para a queda da inadimplência, que se manteve em patamar elevado: 7,9%.

• A inflação esperada para 2012 pouco se modificou nos últimos meses. A mediana do Boletim Focus de novembro estava em 5,43%, revelando praticamente repetição em relação a outubro de 2012 (5,45%). A surpresa de novembro, quando o IPCA elevou-se 0,6%, superando a previsão do mercado de 0,5%, pode fazer com que a inflação anual atinja 5,6% (neste começo de dezembro a mediana do Boletim Focus atingiu 5,58%). Para 2013, os analistas desenham um cenário não muito diferente do de 2012. Apesar da semelhança, as fontes de pressão serão distintas.

• A gradativa desaceleração da arrecadação das receitas administradas pela Receita Federal — a taxa de crescimento anual caiu de 7,3% no primeiro trimestre para 3,7% no semestre, na comparação anual —, reduziu bastante as previsões para as receitas primárias da União em 2012. Com a crescente frustração de receitas, o orçamento anual e a reprogramação orçamentária se descolaram das estatísticas oficiais divulgadas pela RFB e pela STN. Em função das disparidades, e face ao cumprimento à determinação da Lei de Responsabilidade Fiscal, a União passou a compensar a queda da arrecadação recorrendo a receitas não administradas e previdenciárias, em particular com os dividendos de empresas estatais como o BNDES e a Caixa Econômica Federal. • No setor externo, o saldo da balança comercial caiu entre outubro e novembro de um superávit US$ 1,6 bilhões para um déficit de US$ 186 milhões, daí resultando um saldo acumulado no ano de

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US$ 17,2 bilhões até novembro. No entanto, queda do saldo em novembro e recuperação em dezembro vem sendo uma norma desde 2009.

• No que diz respeito à conta corrente, o déficit acumulado até outubro na conta de serviços foi de US$ 33,5 bilhões. Já na conta de rendas o saldo negativo (US$ 25,9 bilhões) foi bem inferior ao de igual período de 2011. Logo, o menor superávit comercial de 2012 será compensado pela queda do déficit na conta de rendas e um crescimento modesto do déficit de serviços. O saldo em conta corrente atingirá um valor próximo ao de 2011: entre US$ 51 e 53 bilhões.

• O regime não oficialmente declarado de banda cambial administrado pelas intervenções no fluxo de capitais pelo Banco Central sinaliza que fortes desvalorizações da moeda estão descartadas em função do risco inflacionário, assim como valorizações que prejudiquem a competitividade do setor externo. Pode-se partir, portanto, de um cenário “neutro, sem mudanças” na tendência cambial. Logo a perspectiva de uma pequena melhora na demanda externa e um crescimento mais elevado da economia brasileira na comparação entre 2012 e 2013 sugerem um superávit comercial ligeiramente inferior ao do ano em curso.

• O Panorama Internacional avalia dois temas de inegável importância na agenda mundial contemporânea: as consequências para o crescimento da economia dos EUA advindas do chamado “abismo fiscal”; e o ajuste recente nos países da área monetária do Euro, destacando os ajustes fiscais e as mudanças na competitividade dos países da zona.

• Já o Observatório Político dedica-se a lançar luz sobre o fascinante tema da dificuldade que o Brasil tem enfrentado para atrair investimentos privados para a infraestrutura. Os dados mostram que os retornos das concessões em infraestrutura no Brasil não têm sido suficientes para compensar os custos de oportunidade e de capital e, como se sabe, baixos retornos de investimento em infraestrutura são fortemente associados a altos e arriscados custos de oportunidade. Parte da responsabilidade está em que os governos dos últimos dez anos não têm sido capazes de entender a importância das salvaguardas institucionais em uma sociedade de mercado aberto e competitiva.

• Finalmente, a seção Em Foco, de autoria de Silvia Matos, apresenta o cenário do IBRE para 2012 e 2013, baseado no modelo macroeconométrico desenvolvido no Instituto.

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Instituto Brasileiro de Economia Diretor: Luiz Guilherme Schymura de Oliveira

Vice-Diretor: Vagner Laerte Ardeo

Superintendente de Estudos Econômicos: Marcio Lago Couto

Coordenador de Economia Aplicada: Armando Castelar Pinheiro Pesquisadores

Daniela de Paula Rocha

Fernando Augusto Adeodato Veloso Fernando de Holanda Barbosa Filho Gabriel Leal de Barros

Ignez Guatimosim Vidigal Lopes Lia Valls Pereira

Luiza Niemeyer

Mauricio Canêdo Pinheiro Mauro de Rezende Lopes Regis Bonelli

Rodrigo Leandro de Moura Samuel Pessôa

Silvia Matos

Boletim Macro IBRE Coordenação Geral: Regis Bonelli

Coordenação Técnica: Silvia Matos

Advertência

Este Boletim foi elaborado com base em estudos internos e utilizando dados e análises produzidos pelo IBRE e outros de conhecimento público com informações atualizadas até 13 de Dezembro de 2012. O Boletim é direcionado para clientes e investidores profissionais, não podendo o IBRE ser responsabilizado por qualquer perda direta ou indiretamente derivada do seu uso ou do seu conteúdo. Não pode ser reproduzido, distribuído ou publicado por qualquer pessoa, para quaisquer fins.

Referências

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